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Transplante de fígado no Brasil

O primeiro transplante de fígado do mundo ocorreu em 1o de março de 1963. No Brasil, os primeiros transplantes foram realizados no Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), em 1968. Na década de 70, observou-se o desenvolvimento da imunossupressão e, em 1984, o transplante de fígado passou a ser reconhecido como uma terapêutica médica, saindo do campo experimental.

Em 1985, o programa de transplante hepático da USP foi reiniciado, sob comando do professor Silvano Raia e apenas quatro anos depois, em 1989, o Brasil entra na vanguarda de transplantes mundial após a publicação, na Lancet, da primeira descrição de transplante hepático utilizando enxertos provenientes de doadores vivos realizados pelos professores Sérgio Mies e Silvano Raia.

O que observamos nos anos seguintes foi um grande desenvolvimento do transplante de fígado no Brasil, com um aumento significativo do número de centros transplantadores e o consequente aumento no número dos transplantes. O gráfico abaixo mostra o crescimento do número de transplantes hepáticos no Brasil

Atualmente, o Brasil ocupa a segunda posição mundial em números absolutos de transplantes hepáticos realizados por ano, ficando atrás apenas dos Estados Unidos da América. Este aumento do número de transplantes reflete o aumento do número de doadores falecidos no país. Saímos de 6,3 doadores por milhão de população (pmp) por ano em 2007 para 14,2 doadores pmp em 2015. Ainda temos muito que melhorar. Na Espanha, a taxa de doadores falecidos está acima de 30 doadores pmp. Nos Estados Unidos, em torno de 25 doadores pmp. Ainda temos muito que melhorar...


A Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) fez um planejamento para o Brasil atingir 20 doadores pmp por ano em 2017, mas nos últimos dois anos, ficamos abaixo do crescimento proposto e não iremos atingir esta meta. Preocupa muito a ABTO a queda no número de transplantes observados em vários estados do Brasil no primeiro trimestre de 2016, que pode ser um reflexo da grande crise em que o país se encontra.

Uma outra vertente que temos que desenvolver no cenário do transplante hepático no Brasil é a preocupação com segurança, tema central de várias discussões médicas atuais. Para tal, além de discussões de protocolos operacionais padrão (POP) é fundamental o conhecimento de resultados em transplante de fígado no Brasil. Em vários países o resultado de cada equipe de transplante é público. A equipe tem seu resultado divulgado e analisado como superior, dentro ou inferior ao esperado pela gravidade dos pacientes transplantados. Neste contexto, um sistema de governança clínica competente é fundamental.

Finalizando, cabe um questionamento. É inconcebível o transplante hepático, que é aceito como procedimento terapêutico desde os primórdios dos anos 80, não fazer parte do rol de procedimentos a serem cobertos pelos planos de saúde no Brasil. Por que fazem parte do rol de procedimentos da ANS procedimentos apenas paliativos no tratamento de pacientes cirróticos e o transplante, único tratamento curativo, está fora?

Poderia resumir este editorial como: muito já foi feito em relação ao transplante hepático no país, mas ainda temos muito para evoluir, principalmente no que diz respeito à segurança, análise de resultados e aumento do número de doadores falecidos no país.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Aug 2016
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