Acessibilidade / Reportar erro

Estudo epidemiológico do câncer de pênis em um estado do Nordeste - Brasil

RESUMO

Objetivo:

traçar o perfil clínico e epidemiológico do câncer de pênis no Rio Grande do Norte/Brazil e relacioná-los com dados publicados na literatura.

Métodos:

realizou-se estudo transversal de 94 pacientes diagnosticados com câncer de pênis no período de 2011-2018, tratados na Liga Norte Riograndense Contra o Câncer.

Resultados:

todos os pacientes foram diagnosticados com carcinoma espinocelular, principalmente com idade acima dos 50 anos, provenientes do interior do estado, pardos, analfabetos ou com ensino fundamental incompleto. Ao diagnóstico, 68% dos pacientes foram classificados com tumores =T2 e 30% possuiam envolvimento linfonodal. Metástases à distância foram detectadas em 2,1% dos pacientes ao diagnóstico. A maioria dos pacientes recebeu o diagnóstico na fase inicial da doença, mas 20,2% foram diagnosticados em estádio IV. Penectomia parcial foi a cirurgia mais realizada e 10% dos pacientes recidivaram, principalmente para linfonodos (87,5%). A média de seguimento dos pacientes foi de 18 meses, apresentando estimativa de sobrevida global em 5 anos de 59,1%. No entanto, 25% dos pacientes foram acompanhados por até 3 meses, perdendo o seguimento.

Conclusão:

o Estado do Rio Grande do Norte apresenta elevada incidência de câncer de pênis com alta frequência de tumores localmente avançados ao diagnóstico, assim como em pacientes mais jovens, menores que 50 anos de idade. Outrossim, o fator socioeconômico interfere no diagnóstico precoce e dificulta o acesso a serviços especializados. .

Palavras-chave:
Neoplasias Penianas; Carcinoma de Células Escamosas; Epidemiologia; Doenças do Pênis; Oncologia Cirúrgica

ABSTRACT

Objective:

to trace the clinical and epidemiological profile of penile cancer in Rio Grande do Norte/Brazil and relate them to data published in the literature.

Methods:

a cross-sectional study was conducted with 94 patients diagnosed with penile cancer in 2011-2018, treated at the Liga Norte Riograndense Contra o Cancer.

Results:

all patients were diagnosed with squamous cell carcinoma, mainly aged over 50 years, from the states interior, brown, illiterate, or with incomplete primary education. At diagnosis, 68% of patients were classified as having tumors =T2, and 30% had lymph node involvement. Distant metastases were detected in 2.1% of patients at diagnosis. Most patients received the diagnosis in the initial phase of the disease, but 20.2% were diagnosed in stage IV. Partial penectomy was the most performed surgery, and 10% of patients relapsed, mainly in the lymph nodes (87.5%). The mean follow-up of the patients was 18 months, with an estimated overall survival at five years of 59.1%. However, 25% of patients were followed up for up to 3 months, losing follow-up.

Conclusion:

the State of Rio Grande do Norte has a high incidence of penile cancer with a high frequency of locally advanced tumors at diagnosis and in younger patients younger than 50. Furthermore, socioeconomic factors interfere with early diagnosis and hinder access to specialized services.

Keywords:
Penile Neoplasms; Carcinoma, Squamous Cell; Epidemiology; Penile Diseases; Surgical Oncology

INTRODUÇÃO

O câncer de pênis é uma neoplasia rara nos Estados Unidos e na Europa, representando menos de 1% dos cânceres em homens. Contudo, é mais frequente em áreas menos desenvolvidas, correspondendo a 10-20% de todas as malignidades masculinas11 Chaux A, Netto GJ, Rodríguez IM, Barreto JE, Oertell J, Ocampos S, et al. Epidemiological profile, sexual history, pathological features and human papillomavirus status of 103 patients with penile carcinoma. World J Urol. 2013;31(4):861-7. doi: 10.1007/s00345-011-0802-0.
https://doi.org/10.1007/s00345-011-0802-...
,22 Christodoulidou M, Sahdev V, Houssein S, Muneer A. Epidemiology of penile cancer. Curr Probl Cancer. 2015;39(3):126-36. doi: 10.1016/j.currproblcancer.2015.03.010.
https://doi.org/10.1016/j.currproblcance...
, indicando claramente a associação da patologia com as condições econômicas locais33 Oliveira MVB, Morais WBS, Oliveira FBM, Silva WC, Lemos LMS. Risk factors associated with the development of penile neoplasms. Res Soc Dev. 2020;9(2):e37921937. doi: 10.33448/rsd-v9i2.1937.
https://doi.org/10.33448/rsd-v9i2.1937...
,44 Soares A, Carvalho IT, Fonseca AG, Alencar AM, Jr Leite C, Bastos DA, et al. Penile cancer: a Brazilian consensus statement for low- and middle-income countries. J Cancer Res Clin Oncol. 2020;146(12):3281-96. doi: 10.1007/s00432-020-03417-1.
https://doi.org/10.1007/s00432-020-03417...
.

O Brasil é um dos países com maior incidência de câncer de pênis no mundo55 Reis AA, Paula LB, Paula AA, Saddi VA, Cruz AD. Aspectos clínico-epidemiológicos associados ao câncer de pênis. Cien & Saúde Coletiva. 2010;15 Suppl 1:1105-11. doi: 10.1590/s1413-81232010000700018.
https://doi.org/10.1590/s1413-8123201000...
,66 Coelho R, Pinho JD, Moreno JS, Garbis D, Nascimento A, Larges JS, et al. Penile cancer in Maranhão, Northeast Brazil: the highest incidence globally? BMC Urol. 2018;18(1):50. doi: 10.1186/s12894-018-0365-0.
https://doi.org/10.1186/s12894-018-0365-...
, o que pode corresponder a 2,1% de todas as neoplasias em homens, sendo cinco vezes mais prevalente nas regiões Norte e Nordeste77 Favorito LA, Nardi AC, Ronalsa M, Zequi SC, Sampaio FJ, Glina S. Epidemiologic study on penile cancer in Brazil. Int Braz J Urol. 2008;34(5):587-93. doi: 10.1590/s1677-55382008000500007.
https://doi.org/10.1590/s1677-5538200800...
, onde ocorre a maior parte das amputações penianas66 Coelho R, Pinho JD, Moreno JS, Garbis D, Nascimento A, Larges JS, et al. Penile cancer in Maranhão, Northeast Brazil: the highest incidence globally? BMC Urol. 2018;18(1):50. doi: 10.1186/s12894-018-0365-0.
https://doi.org/10.1186/s12894-018-0365-...
.

O câncer de pênis é uma doença agressiva e mutiladora, que afeta a autoestima, com repercussões psicológicas e funcionais, que dificultam a reabilitação e a reinserção social77 Favorito LA, Nardi AC, Ronalsa M, Zequi SC, Sampaio FJ, Glina S. Epidemiologic study on penile cancer in Brazil. Int Braz J Urol. 2008;34(5):587-93. doi: 10.1590/s1677-55382008000500007.
https://doi.org/10.1590/s1677-5538200800...
. Apesar de ser uma cirurgia complexa, estudos mostram que a reconstrução peniana (faloplastia) é possível após penectomia quando o comprimento funcional do pênis é inadequado para o homem urinar em pé ou ter relações sexuais88 Maddineni SB, Lau MM, Sangar VK. Identifying the needs of penile cancer sufferers: a systematic review of the quality of life, psychosexual and psychosocial literature in penile cancer. BMC Urol. 2009;9:8. doi: 10.1186/1471-2490-9-8.
https://doi.org/10.1186/1471-2490-9-8...

9 Lee WG, Christopher AN, Ralph DJ. Phalloplasty following penectomy for penile cancer. Asian J Urol. 2022;9(4):460-6. doi: 10.1016/j.ajur.2022.05.005.
https://doi.org/10.1016/j.ajur.2022.05.0...
-1010 Whyte E, Sutcliffe A, Keegan P, Clifford T, Matu J, Shannon OM, et al. Effects of partial penectomy for penile cancer on sexual function: A systematic review. PloS One. 2022;17(9):e0274914. doi: 10.1371/journal.pone.0274914.
https://doi.org/10.1371/journal.pone.027...
.

Seus fatores de risco são múltiplos, mas sua carcinogênese não está totalmente elucidada77 Favorito LA, Nardi AC, Ronalsa M, Zequi SC, Sampaio FJ, Glina S. Epidemiologic study on penile cancer in Brazil. Int Braz J Urol. 2008;34(5):587-93. doi: 10.1590/s1677-55382008000500007.
https://doi.org/10.1590/s1677-5538200800...
,1111 Solsona E, Algaba F, Horenblas S, Pizzocaro G, Windahl T, European Association of Urology. EAU Guidelines on Penile Cancer. Eur Urol. 2004;46(1):1-8. doi: 10.1016/j.eururo.2004.03.007.
https://doi.org/10.1016/j.eururo.2004.03...
. Idade superior a 60 anos, fimose, maus hábitos de higiene pessoal, tabagismo, histórico de doenças sexualmente transmissíveis, principalmente papilomavírus humano (HPV), são os fatores mais descritos na literatura, além do baixo nível educacional e acesso limitado aos serviços de saúde33 Oliveira MVB, Morais WBS, Oliveira FBM, Silva WC, Lemos LMS. Risk factors associated with the development of penile neoplasms. Res Soc Dev. 2020;9(2):e37921937. doi: 10.33448/rsd-v9i2.1937.
https://doi.org/10.33448/rsd-v9i2.1937...
,44 Soares A, Carvalho IT, Fonseca AG, Alencar AM, Jr Leite C, Bastos DA, et al. Penile cancer: a Brazilian consensus statement for low- and middle-income countries. J Cancer Res Clin Oncol. 2020;146(12):3281-96. doi: 10.1007/s00432-020-03417-1.
https://doi.org/10.1007/s00432-020-03417...
,77 Favorito LA, Nardi AC, Ronalsa M, Zequi SC, Sampaio FJ, Glina S. Epidemiologic study on penile cancer in Brazil. Int Braz J Urol. 2008;34(5):587-93. doi: 10.1590/s1677-55382008000500007.
https://doi.org/10.1590/s1677-5538200800...
,1212 Elst L, Albersen M. HPV Vaccination: Does It Have a Role in Preventing Penile Cancer and Other Preneoplastic Lesions? Semin Oncol Nurs. 2022;38(3):151284. doi: 10.1016/j.soncn.2022.151284.
https://doi.org/10.1016/j.soncn.2022.151...
.

Portanto, o Consenso Brasileiro sobre Câncer de Pênis defende que a redução da incidência desse câncer é possível através do incentivo à educação sobre higiene íntima, à circuncisão neonatal, à cessação do tabagismo, à vacinação contra o HPV entre os jovens e ao uso de preservativos44 Soares A, Carvalho IT, Fonseca AG, Alencar AM, Jr Leite C, Bastos DA, et al. Penile cancer: a Brazilian consensus statement for low- and middle-income countries. J Cancer Res Clin Oncol. 2020;146(12):3281-96. doi: 10.1007/s00432-020-03417-1.
https://doi.org/10.1007/s00432-020-03417...
.

Os diagnósticos tardios baseiam-se na cultura machista de que o autocuidado com a saúde do homem configura um papel de passividade, dependência e fragilidade masculina, principalmente quando relacionado ao órgão genital. Esse pensamento é predominante no Nordeste brasileiro33 Oliveira MVB, Morais WBS, Oliveira FBM, Silva WC, Lemos LMS. Risk factors associated with the development of penile neoplasms. Res Soc Dev. 2020;9(2):e37921937. doi: 10.33448/rsd-v9i2.1937.
https://doi.org/10.33448/rsd-v9i2.1937...
,1313 Nogueira LR, Nogueira RMR, Pacheco MAB, Monteiro CB, Loyola CMD. O tamanho importa: narrativas de homens que foram amputados em decorrência de câncer de pênis. Res Soc Dev. 2021;10(13):e398101321454. doi: 10.33448/rsd-v10i13.21454.
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i13.2145...
.

Diferentemente das mulheres, o estigma social geralmente faz com que os homens procurem menos os serviços de saúde ou o façam em situações de doenças, acidentes ou lesões já manifestas, o que gera subnotificação de casos. Além disso, existe o medo de ser diagnosticado com câncer, comumente associado à morte, a tratamentos dolorosos e a mutilações33 Oliveira MVB, Morais WBS, Oliveira FBM, Silva WC, Lemos LMS. Risk factors associated with the development of penile neoplasms. Res Soc Dev. 2020;9(2):e37921937. doi: 10.33448/rsd-v9i2.1937.
https://doi.org/10.33448/rsd-v9i2.1937...
,1313 Nogueira LR, Nogueira RMR, Pacheco MAB, Monteiro CB, Loyola CMD. O tamanho importa: narrativas de homens que foram amputados em decorrência de câncer de pênis. Res Soc Dev. 2021;10(13):e398101321454. doi: 10.33448/rsd-v10i13.21454.
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i13.2145...
.

A enfermagem tem participação crucial no cuidado direto dos indivíduos e na educação em saúde de uma comunidade, principalmente por meio da Estratégia Saúde da Família, instituída pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da qual pode atuar ativamente na promoção, prevenção e autocuidado da Saúde do Homem, ou ainda aproximá-la da estratégia, com apoio familiar para orientar como prevenir o câncer de pênis, diagnosticá-lo precocemente e ter melhores prognósticos1414 Souza JZS, Almeida MCS, Ribeiro WA, Fonseca RA, Cunha VSB, Alcoforado GKSM, et al. Atuação do enfermeiro em relação à prevenção do câncer de pênis na Atenção Primária à Saúde: Uma revisão do escopo da literatura. Res Soc Dev. 2021;10(9):e36710912662. doi: 10.33448/rsd-v10i9.12662.
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i9.12662...
.

A neoplasia peniana geralmente se apresenta como uma lesão cutânea verrucosa, plana ou ulcerada na região genital. Seu diagnóstico é feito por meio de biópsia ampla e profunda da lesão, para avaliação da histologia e do grau de diferenciação celular44 Soares A, Carvalho IT, Fonseca AG, Alencar AM, Jr Leite C, Bastos DA, et al. Penile cancer: a Brazilian consensus statement for low- and middle-income countries. J Cancer Res Clin Oncol. 2020;146(12):3281-96. doi: 10.1007/s00432-020-03417-1.
https://doi.org/10.1007/s00432-020-03417...
,1515 American Cancer Society. Penile Cancer Stages [internet]. 2018 [acessado em 22 fev. 2023]. Disponível em: https://www.cancer.org/cancer/penile-cancer/detection-diagnosis-staging/staging.html
https://www.cancer.org/cancer/penile-can...
,1616 Instituto Nacional de Câncer (INCA). Tipos de câncer: pênis [internet]. 2022 [acessado em 22 fev. 2023]. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-penis
https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/...
.

Os tipos histológicos predominantes são carcinoma espinocelular (CEC), melanoma, linfoma, sarcoma e carcinoma basocelular. O prognóstico da doença depende do estágio da neoplasia (favorável < T1), do volume da lesão (favorável <2cm), do grau de diferenciação celular e da presença de invasão vascular/linfática na lesão primária (metástases são mais frequentes quando há invasão microvascular)44 Soares A, Carvalho IT, Fonseca AG, Alencar AM, Jr Leite C, Bastos DA, et al. Penile cancer: a Brazilian consensus statement for low- and middle-income countries. J Cancer Res Clin Oncol. 2020;146(12):3281-96. doi: 10.1007/s00432-020-03417-1.
https://doi.org/10.1007/s00432-020-03417...
,1515 American Cancer Society. Penile Cancer Stages [internet]. 2018 [acessado em 22 fev. 2023]. Disponível em: https://www.cancer.org/cancer/penile-cancer/detection-diagnosis-staging/staging.html
https://www.cancer.org/cancer/penile-can...
,1616 Instituto Nacional de Câncer (INCA). Tipos de câncer: pênis [internet]. 2022 [acessado em 22 fev. 2023]. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-penis
https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/...
.

Estudos epidemiológicos prospectivos sobre o câncer de pênis são escassos e pequenos. E apesar da alta incidência, o Brasil possui poucos estudos sobre o assunto. Surgiu então o problema norteador do estudo: Qual o perfil epidemiológico e clínico do carcinoma de pênis no território potiguar?

Nesse sentido, ao considerar o tabu relacionado às doenças que envolvem o órgão genital masculino, é fundamental que cada estado trace o perfil epidemiológico do câncer de pênis para que o tema seja mais discutido na sociedade, os homens percebam a importância do diagnóstico precoce e, assim, sejam obtidos dados próximos à real prevalência da doença no estado e no país e a população masculina seja beneficiada.

O objetivo principal do presente estudo foi traçar o perfil clínico e epidemiológico do câncer de pênis no território potiguar e relacioná-los com dados publicados na literatura.

MÉTODOS

Realizamos um estudo transversal retrospectivo, seguindo as verificações das Diretrizes STROBE1717 Strengthening the Reporting of Observational studies in Epidemiology (STROBE). STROBE Statement-Checklist of items that should be included in reports of cohort studies [internet]. 2023 [acessado em 19 fev. 2023] Disponível em https://www.strobe-statement.org/
https://www.strobe-statement.org...
. A amostra do estudo foi composta por 94 pacientes com diagnóstico de câncer de pênis no período de janeiro de 2011 a dezembro de 2018 e atendidos na Liga Norte Riograndense Contra o Câncer. É um centro oncológico de alta complexidade do Rio Grande do Norte e principal centro de referência para tratamento do câncer de pênis no estado, cuja população é de 3.168.027 habitantes, segundo dados do último censo, realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados foram obtidos a partir da coleta de dados dos prontuários físicos e eletrônicos de todos os pacientes com diagnóstico anatomopatológico de câncer de pênis. As variáveis estudadas foram idade, cor, escolaridade, procedência, tipo histológico, grau tumoral, estadiamento do sistema TMN AJCC 8ª Edição, tipo de cirurgia, linfadenectomia, quimioterapia, radioterapia e tratamento paliativo. Os dados foram armazenados no editor de planilhas Microsoft Excel. Utilizamos o programa SPSS 24 para Windows (Statistical Package for Social Sciences; IBM, EUA) nas análises exploratórias dos dados, testes de associação entre variáveis e análise de sobrevida global. Usamos o Teste Exato de Fisher para verificar associações entre as variáveis. Realizamos as análises de sobrevivência por meio do método de Kaplan-Meier e do teste Log-Rank, para verificar a existência de diferenças significativas nas curvas estimadas. O limite de significância foi p≤0,05, com intervalo de confiança de 95%. A incidência padronizada por idade foi calculada utilizando a população mundial padrão proposta por Segi e modificada por Doll et al.1818 Forman D, Bray F, Brewster DH, Gombe MC, Kohler B, Piñeros M, et al. Cancer Incidence in Five Continents, vol X. Lyon: IARC Scientific Publication No. 164, International Agency for Research on Cancer. 2014.. Também foi aplicado o método Cancer Incidence in the Five Continents da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), no qual o número de casos em cada faixa etária de cinco anos foi dividido pelo tamanho da população em cada faixa etária. Como outros centros oncológicos menores recebem pacientes com câncer de pênis no Rio Grande do Norte, a incidência estimada a partir dos dados aqui apresentados fornece uma estimativa aproximada da realidade. O estudo aderiu aos princípios da Declaração de Helsinque e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Liga Norte Riograndense Contra o Câncer (processo número 02089218.6.0000.5293), sendo dispensado o consentimento informado.

RESULTADOS

De 2011 a 2018, 94 pacientes foram diagnosticados com câncer de pênis, resultando em uma média de 11,7 novos casos por ano. A incidência padronizada por idade registrada neste estudo foi de 6,38 casos/100 mil habitantes (Tabela 1), superando taxas publicadas anteriormente.

Tabela 1
Incidência padronizada por idade dos pacientes diagnosticados na Liga Norte Riograndense Contra o Câncer.

Segundo a análise, 72,2% dos pacientes eram procedentes do interior do estado, enquanto 27,8% eram procedentes da capital (Tabela 2). A maioria, 67,8%, era parda (Tabela 2).

Tabela 2
Distribuição dos casos segundo procedência, faixa etária, cor da pele, escolaridade, classificação TNM, estadiamento clínico, tratamento cirúrgico, tratamento quimioterápico e radioterápico e recidiva (%) dos pacientes diagnosticados na Liga Norte Riograndense Contra o Câncer.

De maneira semelhante aos dados da literatura mundial, a maioria dos pacientes (84,1%) era analfabeta ou tinha ensino fundamental incompleto, e 81,4% foram diagnosticados com câncer de pênis aos 50 anos ou mais (Tabela 2). A idade média ao diagnóstico foi de 63 anos.

Todos os pacientes foram diagnosticados com carcinoma espinocelular, sendo 80,9% deles com grau histológico 2. A invasão angiolinfática e a invasão perineural, fatores sabidamente de pior prognóstico1919 Jayaratna IS, Mitra AP, Schwartz RL, Dorff TB, Schuckman AK. Clinicopathologic characteristics and outcomes of penile cancer treated at tertiary care centers in the Western United States. Clin Genitourin Cancer. 2014;12(2):138-42. doi: 10.1016/j.clgc.2013.09.006.
https://doi.org/10.1016/j.clgc.2013.09.0...
, estiveram presentes em 87,7% e 83% dos casos, respectivamente.

Fatores de risco relacionados ao câncer de pênis, como fimose, tabagismo, alcoolismo, histórico de doenças sexualmente transmissíveis, infecção pelo papilomavírus humano (HPV) e presença de doenças pré-neoplásicas, não puderam ser avaliados no estudo devido a preenchimentos incompletos dos prontuários médicos.

Pelo sistema de classificação TNM da 8ª edição do AJCC, 68% dos pacientes foram classificados como ≥ T2 (Tabela 2). O comprometimento linfonodal ao diagnóstico esteve presente em 30% dos pacientes e distribuído da seguinte forma: N1 em 7,4%, N2 em 4,3% e N3 em 18,1% (Tabela 2), e metástases à distância foram detectadas em 2,1% dos pacientes no momento do diagnóstico, sendo os ossos e os pulmões os principais locais afetados.

A maioria dos pacientes foi diagnosticada nos estágios iniciais da doença, nos estágios clínicos I (21,3%), IIA (27,7%) e IIB (19,1%); 20,2% foram diagnosticados no estágio IV (Tabela 2).

Em relação aos procedimentos cirúrgicos, aproximadamente metade dos pacientes (48,9%) foi submetida exclusivamente à penectomia parcial, 20,2% à penectomia parcial com linfadenectomia inguinal radical e 9,6% à penectomia total. Entre os pacientes submetidos à linfadenectomia, 76,4% foram submetidos à linfadenectomia bilateral e 23,6% à linfadenectomia unilateral (Tabela 2).

Cerca de 5,4% receberam apenas quimioterapia adjuvante e 3,3% receberam apenas radioterapia adjuvante, enquanto 2,1% foram submetidos a quimioterapia e radioterapia adjuvantes. Além disso, 10% dos pacientes tiveram recidivas, principalmente em gânglios linfáticos (87,5%), pulmões e ossos (12,5%).

A mortalidade piorou significativamente com o estadiamento. Enquanto 12,5% dos pacientes no estágio I morreram, 33,3% dos pacientes no estágio IV morreram no mesmo período (Tabela 3). O seguimento médio dos pacientes foi de 18 meses, com sobrevida global estimada em cinco anos de 59,1% (Figura 1). No entanto, 25% dos pacientes foram acompanhados por até 3 meses.

Tabela 3
Associação entre estadiamento no diagnóstico e mortalidade dos pacientes acompanhados pela Liga Norte Riograndense Contra o Câncer.

Figura 1:
Sobrevida global estimada por Kaplan-Meier, em 5 anos, de pacientes diagnosticados na Liga Norte Riograndense Contra o Câncer.

A falta de registros completos impossibilitou melhor elucidar o perfil epidemiológico do câncer.

DISCUSSÃO

Uma das maiores incidências mundiais de câncer de pênis é encontrada na Índia, com taxas de 3,32/100.000 habitantes, e a menor é em judeus nascidos em Israel, com índice próximo de zero, o que está relacionado às circuncisões neonatais77 Favorito LA, Nardi AC, Ronalsa M, Zequi SC, Sampaio FJ, Glina S. Epidemiologic study on penile cancer in Brazil. Int Braz J Urol. 2008;34(5):587-93. doi: 10.1590/s1677-55382008000500007.
https://doi.org/10.1590/s1677-5538200800...
,2020 Cardona CEM, García-Perdomo HA. Incidence of penile cancer worldwide: systematic review and meta-analysis. Rev Panam Salud Publica, 2017;41:e117. doi: 10.26633/RPSP.2017.117.
https://doi.org/10.26633/RPSP.2017.117...
.

No Brasil, a incidência relativa geral é de 2,1% das neoplasias masculinas, atingindo 5,7% na Região Nordeste, 5,3% na Região Norte, 3,8% na Região Centro-Oeste, 1,4% na Região Sudeste e 1,2% na Região Sul77 Favorito LA, Nardi AC, Ronalsa M, Zequi SC, Sampaio FJ, Glina S. Epidemiologic study on penile cancer in Brazil. Int Braz J Urol. 2008;34(5):587-93. doi: 10.1590/s1677-55382008000500007.
https://doi.org/10.1590/s1677-5538200800...
.

Neste estudo, 72,2% dos pacientes foram procedentes do interior do estado e 84,1% são analfabetos ou com ensino fundamental incompleto, apresentando características epidemiológicas semelhantes às descritas em outros estudos, principalmente aqueles oriundos de regiões em desenvolvimento, cuja realidade socioeconômica é idêntica à do Rio Grande do Norte11 Chaux A, Netto GJ, Rodríguez IM, Barreto JE, Oertell J, Ocampos S, et al. Epidemiological profile, sexual history, pathological features and human papillomavirus status of 103 patients with penile carcinoma. World J Urol. 2013;31(4):861-7. doi: 10.1007/s00345-011-0802-0.
https://doi.org/10.1007/s00345-011-0802-...
,22 Christodoulidou M, Sahdev V, Houssein S, Muneer A. Epidemiology of penile cancer. Curr Probl Cancer. 2015;39(3):126-36. doi: 10.1016/j.currproblcancer.2015.03.010.
https://doi.org/10.1016/j.currproblcance...
,2121 Couto TC, Arruda RM, Couto MC, Barros FD. Epidemiological study of penile cancer in Pernambuco: experience of two reference centers. Int Braz J Urol. 2014;40(6):738-44. doi: 10.1590/S1677-5538.IBJU.2014.06.04.
https://doi.org/10.1590/S1677-5538.IBJU....

22 Zhu Y, Gu WJ, Wang HK, Gu CY, Ye DW. Surgical treatment of primary disease for penile squamous cell carcinoma: A Surveillance, Epidemiology, and End Results database analysis. Oncol Letters. 2015;10(1):85-92. doi: 10.3892/ol.2015.3221.
https://doi.org/10.3892/ol.2015.3221...
-2323 Nicholson S, Hall E, Harland SJ, Chester JD, Pickering L, Barber J, et al. Phase II trial of docetaxel, cisplatin and 5FU chemotherapy in locally advanced and metastatic penis cancer (CRUK/09/001). Br J Cancer. 2013;109(10):2554-9. doi: 10.1038/bjc.2013.620.
https://doi.org/10.1038/bjc.2013.620...
.

Infelizmente, os fatores de risco relacionados ao câncer de pênis não puderam ser avaliados no estudo devido à falta de dados nos prontuários, o que constitui uma crítica construtiva à anamnese e história completa do paciente, não apenas para colaboração científica, mas para uma melhor e abrangente compreensão e cuidado ao paciente, servindo de alerta às instituições de saúde sobre a importância do tema1313 Nogueira LR, Nogueira RMR, Pacheco MAB, Monteiro CB, Loyola CMD. O tamanho importa: narrativas de homens que foram amputados em decorrência de câncer de pênis. Res Soc Dev. 2021;10(13):e398101321454. doi: 10.33448/rsd-v10i13.21454.
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i13.2145...
,24 26.

Ainda assim, concordamos com a literatura quanto à participação da fimose, da falta de higiene íntima adequada e do tabagismo no desenvolvimento e agravamento do câncer de pênis33 Oliveira MVB, Morais WBS, Oliveira FBM, Silva WC, Lemos LMS. Risk factors associated with the development of penile neoplasms. Res Soc Dev. 2020;9(2):e37921937. doi: 10.33448/rsd-v9i2.1937.
https://doi.org/10.33448/rsd-v9i2.1937...
,44 Soares A, Carvalho IT, Fonseca AG, Alencar AM, Jr Leite C, Bastos DA, et al. Penile cancer: a Brazilian consensus statement for low- and middle-income countries. J Cancer Res Clin Oncol. 2020;146(12):3281-96. doi: 10.1007/s00432-020-03417-1.
https://doi.org/10.1007/s00432-020-03417...
,1313 Nogueira LR, Nogueira RMR, Pacheco MAB, Monteiro CB, Loyola CMD. O tamanho importa: narrativas de homens que foram amputados em decorrência de câncer de pênis. Res Soc Dev. 2021;10(13):e398101321454. doi: 10.33448/rsd-v10i13.21454.
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i13.2145...
,2020 Cardona CEM, García-Perdomo HA. Incidence of penile cancer worldwide: systematic review and meta-analysis. Rev Panam Salud Publica, 2017;41:e117. doi: 10.26633/RPSP.2017.117.
https://doi.org/10.26633/RPSP.2017.117...
.

Embora o câncer de pênis seja mais frequente na sexta década de vida1111 Solsona E, Algaba F, Horenblas S, Pizzocaro G, Windahl T, European Association of Urology. EAU Guidelines on Penile Cancer. Eur Urol. 2004;46(1):1-8. doi: 10.1016/j.eururo.2004.03.007.
https://doi.org/10.1016/j.eururo.2004.03...
, neste estudo, 18,5% dos pacientes foram diagnosticados com menos de 50 anos. A ocorrência dessa neoplasia em faixas etárias menores serve de alerta para a importância de sua investigação em pacientes mais jovens com lesões suspeita44 Soares A, Carvalho IT, Fonseca AG, Alencar AM, Jr Leite C, Bastos DA, et al. Penile cancer: a Brazilian consensus statement for low- and middle-income countries. J Cancer Res Clin Oncol. 2020;146(12):3281-96. doi: 10.1007/s00432-020-03417-1.
https://doi.org/10.1007/s00432-020-03417...
,2020 Cardona CEM, García-Perdomo HA. Incidence of penile cancer worldwide: systematic review and meta-analysis. Rev Panam Salud Publica, 2017;41:e117. doi: 10.26633/RPSP.2017.117.
https://doi.org/10.26633/RPSP.2017.117...
.

É digno de nota que 68% dos pacientes foram classificados como T2 ou superior, e 30% com envolvimento linfonodal no momento do diagnóstico. Esses dados são preocupantes, pois está bem estabelecido que o estágio avançado se correlaciona fortemente com o grau de invasão e a probabilidade de metástases regionais e sistêmicas, levando a um pior prognóstico para esses pacientes77 Favorito LA, Nardi AC, Ronalsa M, Zequi SC, Sampaio FJ, Glina S. Epidemiologic study on penile cancer in Brazil. Int Braz J Urol. 2008;34(5):587-93. doi: 10.1590/s1677-55382008000500007.
https://doi.org/10.1590/s1677-5538200800...
,2626 Horenblas S. Lymphadenectomy for squamous cell carcinoma of the penis. Part 2: the role and technique of lymph node dissection. BJU International. 2001;88(5):473-83. doi: 10.1046/j.1464-410x.2001.00379.x.
https://doi.org/10.1046/j.1464-410x.2001...
.

Os resultados da análise do tumor primário foram semelhantes aos dos estudos brasileiros apresentados por Coelho et al. (2018, 66,4%), Favorito et al. (2008, 57,9%) e Couto et al. (2014, 63,6%). Contudo, esses dados são superiores aos encontrados em estudos em países desenvolvidos, como os Estados Unidos (45,9% e 50,6%)1919 Jayaratna IS, Mitra AP, Schwartz RL, Dorff TB, Schuckman AK. Clinicopathologic characteristics and outcomes of penile cancer treated at tertiary care centers in the Western United States. Clin Genitourin Cancer. 2014;12(2):138-42. doi: 10.1016/j.clgc.2013.09.006.
https://doi.org/10.1016/j.clgc.2013.09.0...
,2222 Zhu Y, Gu WJ, Wang HK, Gu CY, Ye DW. Surgical treatment of primary disease for penile squamous cell carcinoma: A Surveillance, Epidemiology, and End Results database analysis. Oncol Letters. 2015;10(1):85-92. doi: 10.3892/ol.2015.3221.
https://doi.org/10.3892/ol.2015.3221...
.

A escassez de publicações reflete a baixa incidência da doença nos países ricos e, consequentemente, a maior parte dos trabalhos provém de instituições isoladas e com pequena casuística. Assim, questões relevantes sobre o manejo clínico do câncer de pênis permanecem em aberto. Inclusive, até o momento, não temos um consenso brasileiro55 Reis AA, Paula LB, Paula AA, Saddi VA, Cruz AD. Aspectos clínico-epidemiológicos associados ao câncer de pênis. Cien & Saúde Coletiva. 2010;15 Suppl 1:1105-11. doi: 10.1590/s1413-81232010000700018.
https://doi.org/10.1590/s1413-8123201000...
.

Quanto ao tratamento, mais de 90% dos pacientes foram submetidos a algum tratamento cirúrgico, com penectomia total ou parcial com ou sem linfadenectomia inguinal. Além disso, aproximadamente 25% dos pacientes foram diagnosticados com doença localmente avançada ou metastática. Esses dados demonstram diagnóstico tardio e demora no encaminhamento para serviços especializados, levando a cirurgias mais mutilantes e tratamentos paliativos55 Reis AA, Paula LB, Paula AA, Saddi VA, Cruz AD. Aspectos clínico-epidemiológicos associados ao câncer de pênis. Cien & Saúde Coletiva. 2010;15 Suppl 1:1105-11. doi: 10.1590/s1413-81232010000700018.
https://doi.org/10.1590/s1413-8123201000...
,1010 Whyte E, Sutcliffe A, Keegan P, Clifford T, Matu J, Shannon OM, et al. Effects of partial penectomy for penile cancer on sexual function: A systematic review. PloS One. 2022;17(9):e0274914. doi: 10.1371/journal.pone.0274914.
https://doi.org/10.1371/journal.pone.027...
,1313 Nogueira LR, Nogueira RMR, Pacheco MAB, Monteiro CB, Loyola CMD. O tamanho importa: narrativas de homens que foram amputados em decorrência de câncer de pênis. Res Soc Dev. 2021;10(13):e398101321454. doi: 10.33448/rsd-v10i13.21454.
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i13.2145...
.

Nenhum paciente foi submetido a quimioterapia neoadjuvante, tratamento reservado apenas para fins adjuvantes ou paliativos, embora 18% dos pacientes apresentassem classificação N3 no momento do diagnóstico. Os principais quimioterápicos utilizados foram cisplatina e 5 fluorouracil. Esquemas tríplices à base de platina, até então considerados padrão, foram utilizados em casos isolados2323 Nicholson S, Hall E, Harland SJ, Chester JD, Pickering L, Barber J, et al. Phase II trial of docetaxel, cisplatin and 5FU chemotherapy in locally advanced and metastatic penis cancer (CRUK/09/001). Br J Cancer. 2013;109(10):2554-9. doi: 10.1038/bjc.2013.620.
https://doi.org/10.1038/bjc.2013.620...
,2424 Pagliaro LC. Role of chemotherapy in treatment of squamous cell carcinoma of the penis. Cur Prob Cancer. 2015;39(3):166-72. doi: 10.1016/j.currproblcancer.2015.03.008.
https://doi.org/10.1016/j.currproblcance...
.

O envolvimento linfonodal esteve presente em 30% dos pacientes. Entretanto, apenas 6,5% foram submetidos a radioterapia adjuvante. Nos casos de recidiva local ou locorregional irressecáveis, o tratamento mais utilizado foi a radioterapia, associada ou não a quimioterapia radiossensibilizante. Cerca de 10% dos pacientes tiveram recidiva, 87,5% dos casos nos linfonodos. Estudos mostram que a recorrência linfonodal é um dos principais fatores de pior prognóstico no câncer de pênis2525 Chipollini J, Tang DH, Gilbert SM, Poch MA, Pow-Sang JM, Sexton WJ, et al. Delay to Inguinal Lymph Node Dissection Greater than 3 Months Predicts Poorer Recurrence-Free Survival for Patients with Penile Cancer. J Urol. 2017;198(6)1346-52. doi: 10.1016/j.juro.2017.06.076.
https://doi.org/10.1016/j.juro.2017.06.0...
,2626 Horenblas S. Lymphadenectomy for squamous cell carcinoma of the penis. Part 2: the role and technique of lymph node dissection. BJU International. 2001;88(5):473-83. doi: 10.1046/j.1464-410x.2001.00379.x.
https://doi.org/10.1046/j.1464-410x.2001...
.

Na Tabela 2, observamos que a mortalidade piorou significativamente com o estágio. Nesse estudo, que teve seguimento médio de 18 meses, 12,5% dos pacientes no estágio I morreram, enquanto 33,3% dos pacientes no estágio IV pereceram no mesmo período, mais que o dobro.

Além disso, o perfil socioeconômico e cultural dos portadores corrobora o fato de que 25% deles perderam o acompanhamento após três meses do diagnóstico.

Essa neoplasia atinge principalmente homens de baixa classe social e escolaridade, cujo acesso ao serviço de saúde de referência é mais complexo. Quando voltam a receber atendimento médico, são comuns as recidivas locais e loco-regionais1414 Souza JZS, Almeida MCS, Ribeiro WA, Fonseca RA, Cunha VSB, Alcoforado GKSM, et al. Atuação do enfermeiro em relação à prevenção do câncer de pênis na Atenção Primária à Saúde: Uma revisão do escopo da literatura. Res Soc Dev. 2021;10(9):e36710912662. doi: 10.33448/rsd-v10i9.12662.
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i9.12662...
.

Embora a Liga Norte Riograndense seja uma instituição filantrópica e tenha mais de 90% de seus pacientes oriundos da rede pública de atendimento e os dados deste estudo estejam teoricamente superestimados para esta população, esta doença tende a acometer pacientes com condições socioeconômicas mais precárias, o que dificulta o diagnóstico precoce e o acesso a serviços especializados44 Soares A, Carvalho IT, Fonseca AG, Alencar AM, Jr Leite C, Bastos DA, et al. Penile cancer: a Brazilian consensus statement for low- and middle-income countries. J Cancer Res Clin Oncol. 2020;146(12):3281-96. doi: 10.1007/s00432-020-03417-1.
https://doi.org/10.1007/s00432-020-03417...
,1414 Souza JZS, Almeida MCS, Ribeiro WA, Fonseca RA, Cunha VSB, Alcoforado GKSM, et al. Atuação do enfermeiro em relação à prevenção do câncer de pênis na Atenção Primária à Saúde: Uma revisão do escopo da literatura. Res Soc Dev. 2021;10(9):e36710912662. doi: 10.33448/rsd-v10i9.12662.
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i9.12662...
.

Para mudar esse cenário devastador, são essenciais campanhas nacionais, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, para conscientizar a população sobre essa neoplasia ainda desconhecida e alertar as autoridades brasileiras sobre a importância do tema.

Além disso, também devem ser priorizados a capacitação dos próprios profissionais de saúde e um fluxograma de diagnóstico e tratamento, pois além da falta de conhecimento relacionado à doença, o paciente também tem dificuldade em ser diagnosticado e obter acompanhamento e tratamento adequados, principalmente por meio da rede do SUS1313 Nogueira LR, Nogueira RMR, Pacheco MAB, Monteiro CB, Loyola CMD. O tamanho importa: narrativas de homens que foram amputados em decorrência de câncer de pênis. Res Soc Dev. 2021;10(13):e398101321454. doi: 10.33448/rsd-v10i13.21454.
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i13.2145...
,1414 Souza JZS, Almeida MCS, Ribeiro WA, Fonseca RA, Cunha VSB, Alcoforado GKSM, et al. Atuação do enfermeiro em relação à prevenção do câncer de pênis na Atenção Primária à Saúde: Uma revisão do escopo da literatura. Res Soc Dev. 2021;10(9):e36710912662. doi: 10.33448/rsd-v10i9.12662.
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i9.12662...
.

A enfermagem, dentro de suas competências, desempenha papel fundamental na promoção, prevenção e autocuidado da Saúde do Homem, com ênfase na atenção primária, onde a escuta qualificada está mais presente, sendo possível interagir, conscientizar e educar a comunidade1414 Souza JZS, Almeida MCS, Ribeiro WA, Fonseca RA, Cunha VSB, Alcoforado GKSM, et al. Atuação do enfermeiro em relação à prevenção do câncer de pênis na Atenção Primária à Saúde: Uma revisão do escopo da literatura. Res Soc Dev. 2021;10(9):e36710912662. doi: 10.33448/rsd-v10i9.12662.
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i9.12662...
.

CONCLUSÃO

Considerando apenas dados de um único centro de tratamento, o Rio Grande do Norte apresenta alta incidência de câncer de pênis, com alta frequência de tumores localmente avançados no momento do diagnóstico e em pacientes com menos de 50 anos. Já estudos americanos e europeus descrevem o câncer de pênis como uma neoplasia rara.

Devido à importância do Brasil no cenário mundial do câncer de pênis, faz-se necessária a implementação de medidas que permitam a prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento menos agressivo, além do papel de liderança em pesquisas clínicas para melhor compreender a carcinogênese e obter terapias mais eficazes.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a toda a equipe multidisciplinar envolvida no estudo, à equipe que trabalhou diretamente com os pacientes e aos que conduziram este estudo. É a ciência que move as respostas que o mundo precisa, por isso agradecemos também a todos que movem o conhecimento científico.

REFERENCES

  • 1
    Chaux A, Netto GJ, Rodríguez IM, Barreto JE, Oertell J, Ocampos S, et al. Epidemiological profile, sexual history, pathological features and human papillomavirus status of 103 patients with penile carcinoma. World J Urol. 2013;31(4):861-7. doi: 10.1007/s00345-011-0802-0.
    » https://doi.org/10.1007/s00345-011-0802-0
  • 2
    Christodoulidou M, Sahdev V, Houssein S, Muneer A. Epidemiology of penile cancer. Curr Probl Cancer. 2015;39(3):126-36. doi: 10.1016/j.currproblcancer.2015.03.010.
    » https://doi.org/10.1016/j.currproblcancer.2015.03.010
  • 3
    Oliveira MVB, Morais WBS, Oliveira FBM, Silva WC, Lemos LMS. Risk factors associated with the development of penile neoplasms. Res Soc Dev. 2020;9(2):e37921937. doi: 10.33448/rsd-v9i2.1937.
    » https://doi.org/10.33448/rsd-v9i2.1937
  • 4
    Soares A, Carvalho IT, Fonseca AG, Alencar AM, Jr Leite C, Bastos DA, et al. Penile cancer: a Brazilian consensus statement for low- and middle-income countries. J Cancer Res Clin Oncol. 2020;146(12):3281-96. doi: 10.1007/s00432-020-03417-1.
    » https://doi.org/10.1007/s00432-020-03417-1
  • 5
    Reis AA, Paula LB, Paula AA, Saddi VA, Cruz AD. Aspectos clínico-epidemiológicos associados ao câncer de pênis. Cien & Saúde Coletiva. 2010;15 Suppl 1:1105-11. doi: 10.1590/s1413-81232010000700018.
    » https://doi.org/10.1590/s1413-81232010000700018
  • 6
    Coelho R, Pinho JD, Moreno JS, Garbis D, Nascimento A, Larges JS, et al. Penile cancer in Maranhão, Northeast Brazil: the highest incidence globally? BMC Urol. 2018;18(1):50. doi: 10.1186/s12894-018-0365-0.
    » https://doi.org/10.1186/s12894-018-0365-0
  • 7
    Favorito LA, Nardi AC, Ronalsa M, Zequi SC, Sampaio FJ, Glina S. Epidemiologic study on penile cancer in Brazil. Int Braz J Urol. 2008;34(5):587-93. doi: 10.1590/s1677-55382008000500007.
    » https://doi.org/10.1590/s1677-55382008000500007
  • 8
    Maddineni SB, Lau MM, Sangar VK. Identifying the needs of penile cancer sufferers: a systematic review of the quality of life, psychosexual and psychosocial literature in penile cancer. BMC Urol. 2009;9:8. doi: 10.1186/1471-2490-9-8.
    » https://doi.org/10.1186/1471-2490-9-8
  • 9
    Lee WG, Christopher AN, Ralph DJ. Phalloplasty following penectomy for penile cancer. Asian J Urol. 2022;9(4):460-6. doi: 10.1016/j.ajur.2022.05.005.
    » https://doi.org/10.1016/j.ajur.2022.05.005
  • 10
    Whyte E, Sutcliffe A, Keegan P, Clifford T, Matu J, Shannon OM, et al. Effects of partial penectomy for penile cancer on sexual function: A systematic review. PloS One. 2022;17(9):e0274914. doi: 10.1371/journal.pone.0274914.
    » https://doi.org/10.1371/journal.pone.0274914
  • 11
    Solsona E, Algaba F, Horenblas S, Pizzocaro G, Windahl T, European Association of Urology. EAU Guidelines on Penile Cancer. Eur Urol. 2004;46(1):1-8. doi: 10.1016/j.eururo.2004.03.007.
    » https://doi.org/10.1016/j.eururo.2004.03.007
  • 12
    Elst L, Albersen M. HPV Vaccination: Does It Have a Role in Preventing Penile Cancer and Other Preneoplastic Lesions? Semin Oncol Nurs. 2022;38(3):151284. doi: 10.1016/j.soncn.2022.151284.
    » https://doi.org/10.1016/j.soncn.2022.151284
  • 13
    Nogueira LR, Nogueira RMR, Pacheco MAB, Monteiro CB, Loyola CMD. O tamanho importa: narrativas de homens que foram amputados em decorrência de câncer de pênis. Res Soc Dev. 2021;10(13):e398101321454. doi: 10.33448/rsd-v10i13.21454.
    » https://doi.org/10.33448/rsd-v10i13.21454
  • 14
    Souza JZS, Almeida MCS, Ribeiro WA, Fonseca RA, Cunha VSB, Alcoforado GKSM, et al. Atuação do enfermeiro em relação à prevenção do câncer de pênis na Atenção Primária à Saúde: Uma revisão do escopo da literatura. Res Soc Dev. 2021;10(9):e36710912662. doi: 10.33448/rsd-v10i9.12662.
    » https://doi.org/10.33448/rsd-v10i9.12662
  • 15
    American Cancer Society. Penile Cancer Stages [internet]. 2018 [acessado em 22 fev. 2023]. Disponível em: https://www.cancer.org/cancer/penile-cancer/detection-diagnosis-staging/staging.html
    » https://www.cancer.org/cancer/penile-cancer/detection-diagnosis-staging/staging.html
  • 16
    Instituto Nacional de Câncer (INCA). Tipos de câncer: pênis [internet]. 2022 [acessado em 22 fev. 2023]. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-penis
    » https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-penis
  • 17
    Strengthening the Reporting of Observational studies in Epidemiology (STROBE). STROBE Statement-Checklist of items that should be included in reports of cohort studies [internet]. 2023 [acessado em 19 fev. 2023] Disponível em https://www.strobe-statement.org/
    » https://www.strobe-statement.org
  • 18
    Forman D, Bray F, Brewster DH, Gombe MC, Kohler B, Piñeros M, et al. Cancer Incidence in Five Continents, vol X. Lyon: IARC Scientific Publication No. 164, International Agency for Research on Cancer. 2014.
  • 19
    Jayaratna IS, Mitra AP, Schwartz RL, Dorff TB, Schuckman AK. Clinicopathologic characteristics and outcomes of penile cancer treated at tertiary care centers in the Western United States. Clin Genitourin Cancer. 2014;12(2):138-42. doi: 10.1016/j.clgc.2013.09.006.
    » https://doi.org/10.1016/j.clgc.2013.09.006
  • 20
    Cardona CEM, García-Perdomo HA. Incidence of penile cancer worldwide: systematic review and meta-analysis. Rev Panam Salud Publica, 2017;41:e117. doi: 10.26633/RPSP.2017.117.
    » https://doi.org/10.26633/RPSP.2017.117
  • 21
    Couto TC, Arruda RM, Couto MC, Barros FD. Epidemiological study of penile cancer in Pernambuco: experience of two reference centers. Int Braz J Urol. 2014;40(6):738-44. doi: 10.1590/S1677-5538.IBJU.2014.06.04.
    » https://doi.org/10.1590/S1677-5538.IBJU.2014.06.04
  • 22
    Zhu Y, Gu WJ, Wang HK, Gu CY, Ye DW. Surgical treatment of primary disease for penile squamous cell carcinoma: A Surveillance, Epidemiology, and End Results database analysis. Oncol Letters. 2015;10(1):85-92. doi: 10.3892/ol.2015.3221.
    » https://doi.org/10.3892/ol.2015.3221
  • 23
    Nicholson S, Hall E, Harland SJ, Chester JD, Pickering L, Barber J, et al. Phase II trial of docetaxel, cisplatin and 5FU chemotherapy in locally advanced and metastatic penis cancer (CRUK/09/001). Br J Cancer. 2013;109(10):2554-9. doi: 10.1038/bjc.2013.620.
    » https://doi.org/10.1038/bjc.2013.620
  • 24
    Pagliaro LC. Role of chemotherapy in treatment of squamous cell carcinoma of the penis. Cur Prob Cancer. 2015;39(3):166-72. doi: 10.1016/j.currproblcancer.2015.03.008.
    » https://doi.org/10.1016/j.currproblcancer.2015.03.008
  • 25
    Chipollini J, Tang DH, Gilbert SM, Poch MA, Pow-Sang JM, Sexton WJ, et al. Delay to Inguinal Lymph Node Dissection Greater than 3 Months Predicts Poorer Recurrence-Free Survival for Patients with Penile Cancer. J Urol. 2017;198(6)1346-52. doi: 10.1016/j.juro.2017.06.076.
    » https://doi.org/10.1016/j.juro.2017.06.076.
  • 26
    Horenblas S. Lymphadenectomy for squamous cell carcinoma of the penis. Part 2: the role and technique of lymph node dissection. BJU International. 2001;88(5):473-83. doi: 10.1046/j.1464-410x.2001.00379.x.
    » https://doi.org/10.1046/j.1464-410x.2001.00379.x
  • Fonte de financiamento:

    nenhuma.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    08 Maio 2023
  • Aceito
    31 Jul 2023
Colégio Brasileiro de Cirurgiões Rua Visconde de Silva, 52 - 3º andar, 22271- 090 Rio de Janeiro - RJ, Tel.: +55 21 2138-0659, Fax: (55 21) 2286-2595 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: revista@cbc.org.br