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Impacto da atividade física na qualidade de vida de mulheres de meia idade: estudo de base populacional

Impact of physical activity on quality of life in middle-aged women: a population based study

Resumos

OBJETIVO: Avaliar o impacto da prática de atividade física na qualidade de vida de mulheres de meia idade. MÉTODOS: Estudo de base populacional e corte transversal, que incluiu uma amostra estratificada de 370 mulheres de meia idade entre 40 a 65 anos, recrutadas a partir de uma população de 20.801 mulheres atendidas no período de um ano nas redes básicas de saúde, inseridas nos quatro distritos (Norte, Sul, Leste e Oeste) que compõem o sistema de saúde da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, de junho a setembro de 2011. O cálculo da amostra teve por base um nível de confiança de 95%, com poder do teste de 80%, erro de estimativa de 5% e considerou-se a proporção de pacientes classificadas com qualidade de vida adequada (indicador >26) da amostra piloto. Os dados foram coletados enquanto as mulheres aguardavam na sala de espera para a consulta de rotina. Para avaliar a qualidade de vida geral, utilizou-se a versão abreviada do WHOQOL (WHOQOL-Bref-WHO Quality of Life - BREF), e sua relação com os sintomas do climatério foi avaliada por meio do Menopause Rating Scale (MRS). O nível de atividade física foi avaliado pelo questionário International Physical Activity Questionnaire (IPAQ), versão curta, semana usual. Para obter-se a classificação dos níveis de atividade física, utilizaram-se três categorias: sedentária, moderadamente ativa e muito ativa. A análise estatística foi realizada utilizando o programa estatístico Minitab, versão 16. RESULTADOS: A média de idade das mulheres foi de 49,8 anos (±8.1), foram predominantemente caucasianas (72,7%), casadas (61,6%), não fumantes (93,5%) e com o Ensino Médio completo (47,8%). Considerando os domínios presentes no WHOQOL-Bref para avaliar qualidade de vida, os escores foram significativamente diferentes entre os grupos de mulheres sedentárias, moderadamente ativas e muito ativas (p<0,01). Em relação à atividade física e aos sintomas do climatério, foram observadas diferenças significativas para todos os domínios: psicológico (p<0,01), somático-vegetativo (p<0,01) e urogenital (p<0,01). CONCLUSÕES: A prática de atividade física melhora significativamente a qualidade de vida das mulheres de meia idade.

Exercício; Qualidade de vida; Mulheres; Envelhecimento; Menopausa; Saúde da mulher


PURPOSE: To evaluate the influence of physical activity on the quality of life of middle-aged women. METHODS: A population-based cross-sectional study was conducted on 370 women aged 40 to 65 years-old recruited from a population-based sample. Enrollment took place in Basic Health Units in each health district of the city (North, South, East, and West) from June to September 2011. According to the Municipal Health Department of the City, 20,801 women were assisted at the Basic Health Units during a one-year period. The sample size calculation was stratified by district and based on a 95% confidence level with a power of 80%, as well as an error estimate of 5% and it was considered proportional to the number of patients classified as having adequate quality of life (indicator >26) in the general population. Data were collected while women waited for their routine appointment at the Health Unit. WHOQOL-Bref was used to evaluate the quality of life, and menopause rating scale (MRS) was used to determine climacteric symptoms. The level of physical activity was assessed by means of the International Physical Activity Questionnaire (IPAQ). To obtain the classification of PA levels, we used three categories: sedentary, moderately active, and very active. Statistical analysis was performed using the Minitab software, version 16. RESULTS: The mean age of the subjects was 49.8 years-old (±8.1) and they were predominantly Caucasian (72.7%), married (61.6%), non-smokers (93.5%), and had High School education (47.8%). Using the WHOQOL, mean scores were found to be significantly different between the groups (low, moderate, and vigorous physical activity), classified according to the domains of quality of life (p<0.01). Concerning physical activity and climacteric symptoms, significant differences were found for all domains: psychological (p<0.01), vegetative-somatic (p<0.01), and urogenital (p<0.01). CONCLUSIONS: Physical activity improves quality of life in middle-aged women.

Exercise; Quality of life; Women; Aging; Menopause; Women's health


ARTIGO ORIGINAL

Impacto da atividade física na qualidade de vida de mulheres de meia idade: estudo de base populacional

Impact of physical activity on quality of life in middle-aged women: a population based study

Ana Katherine da Silveira GonçalvesI; Ana Carla Gomes CanárioII; Patrícia Uchôa Leitão CabralII; Rayanna Assunção Henrique da SilvaIII; Maria Helena Constantino SpyridesIV; Paulo César GiraldoV; José Eleutério Jr.VI

IProfessora do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - Natal (RN), Brasil

IIAluna do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - Natal (RN), Brasil

IIIAluna de graduação do Curso de Estatística da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - Natal (RN), Brasil

IVProfessora Adjunta do Departamento de Estatística da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - Natal (RN), Brasil

VProfessor Titular do Departamento de Tocoginecologia da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - Campinas (SP), Brasil

VIProfessor Adjunto do Departamento Materno-infantil da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará - UFC - Fortaleza (CE), Brasil

Correspondência Correspondência: Ana Katherine da Silveira Gonçalves Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Avenida Gal. Gustavo Cordeiro de Farias s/n CEP: 59010-180, Natal (RN), Brasil

RESUMO

OBJETIVO: Avaliar o impacto da prática de atividade física na qualidade de vida de mulheres de meia idade.

MÉTODOS: Estudo de base populacional e corte transversal, que incluiu uma amostra estratificada de 370 mulheres de meia idade entre 40 a 65 anos, recrutadas a partir de uma população de 20.801 mulheres atendidas no período de um ano nas redes básicas de saúde, inseridas nos quatro distritos (Norte, Sul, Leste e Oeste) que compõem o sistema de saúde da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, de junho a setembro de 2011. O cálculo da amostra teve por base um nível de confiança de 95%, com poder do teste de 80%, erro de estimativa de 5% e considerou-se a proporção de pacientes classificadas com qualidade de vida adequada (indicador >26) da amostra piloto. Os dados foram coletados enquanto as mulheres aguardavam na sala de espera para a consulta de rotina. Para avaliar a qualidade de vida geral, utilizou-se a versão abreviada do WHOQOL (WHOQOL-Bref-WHO Quality of Life - BREF), e sua relação com os sintomas do climatério foi avaliada por meio do Menopause Rating Scale (MRS). O nível de atividade física foi avaliado pelo questionário International Physical Activity Questionnaire (IPAQ), versão curta, semana usual. Para obter-se a classificação dos níveis de atividade física, utilizaram-se três categorias: sedentária, moderadamente ativa e muito ativa. A análise estatística foi realizada utilizando o programa estatístico Minitab, versão 16.

RESULTADOS: A média de idade das mulheres foi de 49,8 anos (±8.1), foram predominantemente caucasianas (72,7%), casadas (61,6%), não fumantes (93,5%) e com o Ensino Médio completo (47,8%). Considerando os domínios presentes no WHOQOL-Bref para avaliar qualidade de vida, os escores foram significativamente diferentes entre os grupos de mulheres sedentárias, moderadamente ativas e muito ativas (p<0,01). Em relação à atividade física e aos sintomas do climatério, foram observadas diferenças significativas para todos os domínios: psicológico (p<0,01), somático-vegetativo (p<0,01) e urogenital (p<0,01).

CONCLUSÕES: A prática de atividade física melhora significativamente a qualidade de vida das mulheres de meia idade.

Palavras-chave: Exercício; Qualidade de vida; Mulheres; Envelhecimento; Menopausa; Saúde da mulher

ABSTRACT

PURPOSE: To evaluate the influence of physical activity on the quality of life of middle-aged women.

METHODS: A population-based cross-sectional study was conducted on 370 women aged 40 to 65 years-old recruited from a population-based sample. Enrollment took place in Basic Health Units in each health district of the city (North, South, East, and West) from June to September 2011. According to the Municipal Health Department of the City, 20,801 women were assisted at the Basic Health Units during a one-year period. The sample size calculation was stratified by district and based on a 95% confidence level with a power of 80%, as well as an error estimate of 5% and it was considered proportional to the number of patients classified as having adequate quality of life (indicator >26) in the general population. Data were collected while women waited for their routine appointment at the Health Unit. WHOQOL-Bref was used to evaluate the quality of life, and menopause rating scale (MRS) was used to determine climacteric symptoms. The level of physical activity was assessed by means of the International Physical Activity Questionnaire (IPAQ). To obtain the classification of PA levels, we used three categories: sedentary, moderately active, and very active. Statistical analysis was performed using the Minitab software, version 16.

RESULTS: The mean age of the subjects was 49.8 years-old (±8.1) and they were predominantly Caucasian (72.7%), married (61.6%), non-smokers (93.5%), and had High School education (47.8%). Using the WHOQOL, mean scores were found to be significantly different between the groups (low, moderate, and vigorous physical activity), classified according to the domains of quality of life (p<0.01). Concerning physical activity and climacteric symptoms, significant differences were found for all domains: psychological (p<0.01), vegetative-somatic (p<0.01), and urogenital (p<0.01).

CONCLUSIONS: Physical activity improves quality of life in middle-aged women.

Keywords: Exercise; Quality of life; Women; Aging; Menopause; Women's health

Introdução

O envelhecimento da população mundial representa uma das mais notáveis histórias de sucesso da Medicina e da humanidade, mas é também uma fonte de vários desafios. Diversas intervenções físicas e cognitivas têm sido realizadas, com o intuito de minimizar os efeitos deste evento1,2.

Este processo não é influenciado apenas pelo tempo. O estilo de vida individual de cada pessoa parece ser determinante juntamente com aspectos psicológicos, sociais, biológicos e funcionais, que estão inseridos neste contexto1-6. Em termos biológicos, são observadas, principalmente, alterações no sistema cardiorrespiratório e neuromuscular. Estas modificações, somadas a outras decorrentes do envelhecer, podem acelerar a ocorrência de doenças como osteoporose e aterosclerose3, contribuir para desencadear hiperlipidemia4 e doença cardiovascular5. Ocorre, ainda, um declínio na capacidade física e mental que frequentemente compromete as atividades diárias6,7. Nas mulheres, além das alterações fisiológicas advindas da idade e inatividade física, ocorrem outras em função da menopausa. O desequilíbrio hormonal inerente a esta fase promove uma plêiade de sintomas físicos e psicológicos inerentes à menopausa2-8.

A despeito de tratar-se de um processo fisiológico que prepara a mulher para senectude, as alterações hormonais advindas deste processo efetivamente comprometem a qualidade de vida (QV) das mulheres6-8. Esses distúrbios se manifestam principalmente na forma de sintomas vasomotores (calores e suor noturno) e psicológicos, tais como: irritabilidade, insônia, diminuição da libido e oscilações de humor. Apesar destas alterações se limitarem a alguns grupos mais vulneráveis de mulheres, de um modo geral, os distúrbios psíquicos e emocionais podem causar impacto negativo na QV das mulheres6,8,9. Por outro lado, estudos demonstram que a prática de atividade física pode causar melhora de muitos destes sintomas, em particular, a insônia, o humor e as dores musculares6-10.

Importantes estudos têm demonstrado os inúmeros benefícios da prática de atividade física8-11. Mulheres menopausadas, que seguiram as recomendações preconizadas pelo Colégio Americano de Medicina dos Esportes e da Associação Americana do Coração, nos quais incluía a prática de atividade física moderada pelo tempo mínimo de 30 minutos, cinco vezes por semana, ou atividade física intensa pelo tempo mínimo de 20 minutos, três vezes por semana, apresentaram níveis significativos de melhora na QV8. Resultados semelhantes também foram encontrados em um estudo recente com mulheres brasileiras de mais de 60 anos11.

Em um estudo de revisão sistemática que selecionou 14 artigos, a prática de atividade física esteve consistentemente associada à melhora da QV. A prática de atividade física também esteve fortemente associada ao bem-estar psicológico7. Estudo de metanálise com 49 ensaios clínicos controlados observou decréscimo de 48% nos níveis de ansiedade no grupo de estudo, quando comparado ao Grupo Controle9. Um ensaio clínico randomizado avaliou especificamente sintomas psicológicos e concluiu que a prática de atividade física pode minimizar sintomas de depressão e estresse, melhorando consequentemente a QV12.

Apesar de serem reconhecidos os inúmeros benefícios da prática de atividade física na QV de homens e mulheres, esta ainda ocorre apenas de forma isolada e pontual para algumas mulheres, existindo, portanto, a necessidade da realização de estudos que divulguem a importância deste tema. O presente estudo propõe avaliar o impacto da prática de atividade física na QV de mulheres de meia idade.

Métodos

Trata-se de um estudo de corte transversal de base populacional. A população-alvo foi constituída por mulheres consideradas de meia idade13, com idades entre 40 a 65 anos, residentes na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, Brasil, assistidas nas Unidades Básicas de Saúde de cada distrito sanitário da Cidade (Norte, Sul, Leste e Oeste), de junho a setembro de 2011.

A população atendida nos setores de ginecologia das Unidades Básicas de Saúde em todos os distritos da Cidade consistiu em 20.801 mulheres, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde da Cidade. O tamanho amostral foi estabelecido em 365 mulheres, porém foram respondidos e concluídos 370 questionários válidos, prevendo-se possíveis perdas. O cálculo da amostra teve por base um nível de confiança de 95%, com poder do teste de 80%, erro de estimativa de 5% e considerou-se a proporção de pacientes classificadas com QV adequada (indicador >26) da amostra piloto.

Estabeleceram-se como critérios de inclusão: mulheres consideradas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como de meia idade (40 a 65 anos)13 aparentemente saudáveis, que não estivessem fazendo uso de terapia de reposição hormonal.

As mulheres que apresentaram alterações neurológicas, doenças psiquiátricas, endócrinas e usuárias de medicamentos que apresentam interferência na QV (por exemplo: tratamento hormonal, antidepressivos, ansiolíticos, neurolépticos) foram excluídas do presente estudo.

Posteriormente à determinação dos critérios de inclusão e exclusão, as mulheres elegíveis foram convidadas a participar do estudo. Após os esclarecimentos, as mulheres que desejaram participar do estudo assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Enquanto aguardava sua consulta na Unidade de Saúde, cada participante recebeu um questionário para registro de dados pessoais, como: idade, cor da pele, tempo de menopausa, terapia de reposição hormonal, anos de escolaridade, estado civil, renda e questionários validados autoaplicáveis, referentes à QV e ao nível de atividade física. Utilizou-se a classificação do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a determinação da faixa de renda, que é dada na quantidade de salários mínimos14.

Adotou-se como definição de atividade física aquele determinado pela OMS, cuja atividade física seria todo movimento corporal produzido pela musculatura esquelética que resulta na dispersão de energia, incluindo exercícios de condicionamento, atividades ocupacionais e atividade de casa15.

O nível de atividade física foi avaliado pelo questionário International Physical Activity Questionnaire (IPAQ), versão curta, semana usual, validada no Brasil16. O IPAQ avalia a frequência, em dias, e a duração, em minutos, das atividades realizadas como lazer, ocupacionais, locomoção e trabalho doméstico por mais de dez minutos contínuos durante uma semana normal16. A pontuação foi obtida pela soma da quantidade de dias e minutos ou horas das atividades realizadas na semana anterior ao preenchimento do questionário. Para obter-se a classificação dos níveis de atividade física, utilizaram-se três categorias: sedentária, moderadamente ativa e muito ativa.

Para avaliar a QV geral, utilizou-se a versão abreviada em português do Instrumento de Avaliação de QV da OMS, o WHOQOL-Bref17. Esse instrumento contém 26 questões distribuídas em quatro domínios: relações sociais, psicológico, físico e meio ambiente. Cada domínio é composto por questões cujas pontuações das respostas variam entre um e cinco. A versão em português do instrumento apresentou características satisfatórias de consistência interna, validade discriminante, validade de critério, validade concorrente e fidedignidade teste-reteste17. A QV e os sintomas do climatério foram avaliados mediante a utilização do Menopause Rating Scale (MRS), que quantifica a gravidade dos sintomas nos domínios psicológico, somático-vegetativo e urogenital18.

Inicialmente, desenvolveu-se a análise exploratória dos dados, descrevendo as médias e os desvios padrão das variáveis quantitativas envolvidas no estudo, bem como de frequências relativas das variáveis categorizadas. Em seguida, procedeu-se ao teste do χ2 de Pearson com o intuito de verificar possíveis associações entre as variáveis sociodemográficas e o nível de atividade física das mulheres.

Com o objetivo de classificar as mulheres em período menopausal quanto à QV, utilizou-se uma técnica multivariada, denominada análise por cluster, que classifica os sujeitos de acordo com o comportamento de variáveis simultâneas, neste caso consideraram-se os domínios do WHOQOL-Bref17. Nesta análise, considerou-se o método de ligação de Ward e a distância Euclidiana para caracterizar os grupos quanto às similaridades dos indivíduos, resultando na classificação das mulheres em três categorias: baixa, média e alta QV, de acordo com a similaridade.

Para captar a associação entre variáveis categorizadas ordinais (atividade física e QV), utilizou-se o teste de Mantel-Haenszel. Procedeu-se à análise de variância (ANOVA) e aos testes de Tukey para comparação de médias entre as categorias de QV. Considerou-se o nível de significância de 5% para os testes. O programa estatístico utilizado foi o Minitab, versão 1619.

Este estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) - 130/11 CEP-UFRN.

Resultados

A média de idade das mulheres que participaram deste estudo foi de 49,8 (±8,1 anos), sendo que 28,4% apresentavam idade igual ou superior a 55 anos. Predominantemente brancas (72,7%), casadas (61,6%), não fumantes (93,5%), com Ensino Médio completo (47,8%) e renda de dois salários mínimos (70,8%), como pode ser visto na Tabela 1. Quanto à classificação dos níveis de atividade física, observou-se que 132 (35,7%) eram ativas, 129 (34,8%) eram moderadamente ativas e 109 (29,4%) eram sedentárias.

A Tabela 1 mostra a distribuição das mulheres segundo os níveis de atividade física e características sociodemográficas. Detectou-se diferença significativa no comportamento da atividade física quanto à renda (p=0,01), indicando que as mulheres com renda mensal entre dois e quatro salários mínimos apresentaram um percentual maior de ativas (45,4%). Para as demais características não houve diferença significativa.

Na Tabela 2 constatou-se que as mulheres que praticam mais atividades físicas têm menor propensão a manifestar os sintomas do climatério em seus respectivos domínios do MRS: psicológico (p<0,01), somático-vegetativo (p<0,01) e urogenital (p<0,01). Este fator pode explicar a melhor QV retratada por estas mulheres. Os resultados mostram a tendência de escores médios menores de sintomatologias à medida que aumenta o nível de atividade física realizado pelas mulheres. A prática de atividade física pode ser um determinante da QV das mulheres observadas.

O escore médio do WHOQOL-Bref17 para avaliar QV foi de 60,2, entretanto diferenças significantes foram observadas entre os três grupos do IPAQ16 (p<0,01). Os escores médios de QV para as mulheres sedentárias, moderadamente ativas e muito ativas foram, respectivamente, 56,7; 60,8 e 62,2 (Tabela 2), diferindo significativamente as sedentárias daquelas que praticam alguma atividade, moderada ou vigorosamente ativas.

Avaliando a QV das mulheres com relação ao nível de atividade física que realizam (Tabela 3), os resultados apontaram para uma tendência das mais sedentárias à classificação em baixa QV, mostrando a forte associação entre a QV e o nível de atividade física (p<0,01) praticado pelas mulheres. Enquanto que naquelas mais ativas concentra 40,9% classificadas em alta QV, nas sedentárias este percentual cai para 21,1%, correspondendo a uma chance de melhor QV 2,6 vezes maior para as mulheres mais ativas.

Discussão

A atividade física tem apresentado impacto positivo na QV, independente da idade, do sexo e do estado de saúde e tipo de atividade física20,21. No presente estudo, observou-se que a prática de atividade física teve um impacto positivo na saúde mental e física de mulheres de meia idade, atuando nos principais domínios da vida. Foi utilizado o WHOQOL-Bref17 para avaliar a QV, porque este instrumento, além de ser prático e de fácil utilização, já foi validado para português em mulheres brasileiras e principalmente porque foi considerado bem adequado para avaliar a população estudada17. Utilizando este instrumento juntamente com o IPAQ16 foram constatadas diferenças significativas na QV das mulheres pouco ativas, quando comparadas às moderadas e muito ativas (p<0,01), como pode ser observado na Tabela 3.

Os menores índices de QV foram observados nas mulheres sedentárias e os maiores nas muito ativas. Utilizando o mesmo instrumento (IPAQ), realizou-se um importante estudo brasileiro com 1.204 sujeitos (645 mulheres e 559 homens) com idade maior ou igual a 60 anos, no qual observou-se que os idosos de ambos os sexos, que praticavam atividade física, apresentavam significantemente melhores índices de habilidade sensorial e autonomia, além de apresentar significativamente maior QV global, independentemente da idade, do estado civil, da escolaridade e do nível socioeconômico. Neste estudo foi observado, especificamente nas mulheres, que os escores obtidos para o domínio da participação social foram significativamente maiores nas mulheres ativas e muito ativas, quando comparadas às sedentárias de forma semelhante ao que foi observado no presente estudo21.

Alguns estudos também têm fornecido suporte a esta associação, realçando a importância da prática de atividade física para mulheres mais velhas e de meia idade, melhorando inclusive a autoestima e o conceito que elas têm de si mesmas22,23. Neste estudo também com mulheres de meia idade, observou-se, de forma evidente (p<0,01), que houve maior prevalência da QV no grupo de mulheres mais ativas (40,9%), quando comparadas ao grupo das sedentárias (21,1 %), correspondendo a uma chance 2,6 vezes maior de melhor QV entre as mulheres mais ativas (Tabela 3).

Em mulheres menopausadas, atividade física esteve associada à saúde psicossocial. Estudo recente realizado com 497 mulheres comparando as mulheres menos ativas com as mais ativas observou que a prática de atividade física esteve relacionada com a melhora dos sintomas de ansiedade e depressão, sintomas que provavelmente também tornam as mulheres menos dispostas a realizar exercícios24. Acredita-se que as endorfinas liberadas pela mulher mais ativa durante a prática de atividade física possam por si só justificar o bem-estar e a visão mais positiva da vida destas mulheres25.

Diversas intervenções físicas e cognitivas têm sido realizadas para melhorar a cognição dos adultos de meia idade com resultados promissores26. A prática de atividade física tem demonstrado inúmeros benefícios físicos e mentais, incluindo também a melhora da cognição. Estudo recente que propôs avaliar o processo de atenção durante o envelhecimento constatou que a prática de tai chi chuan e dança contemporânea poderiam aumentar a flexibilidade cognitiva e atenção em adultos mais velhos, desta forma auxiliando-os na sua vida diária. Os autores sugerem ainda que a prática destas modalidades de atividade física poderia ser generalizada para condições patológicas, tais como a demência (Alzheimer), com a intenção de melhorar a capacidade cognitiva que naturalmente declina com a idade25. Estudo recente propõe ainda que a mudança no estilo de vida com de atividade física e dieta adequada poderia melhorar a saúde mental27.

Por outro lado, deve-se considerar que a relação existente entre a prática de atividade física e melhora da qualidade em mulheres no período menopausal é complexa e pode envolver outros mecanismos, tais como: alterações neuroendócrinas, composição corporal, termorregulação e humor28,29, além de fatores biopsicossociais que não podem ser esquecidos e devem ser considerados na realização de futuros estudos sobre este tema8.

O presente estudo apresentou resultados interessantes, entretanto reconhece-se que existem limitações no mesmo. Os níveis de atividade física e os indícios de QV foram mensurados a partir de relatos da própria paciente, sem terem sido considerados outros parâmetros físicos, tais como a composição corporal e aptidão física. O modelo testado também não considerou outros aspectos biossociais. Portanto, deve-se ter cautela na generalização dos resultados.

Recebido: 20/10/2011

Aceito com modificações: 17/11/2011

Conflito de interesses: não há.

Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - Natal (RN), Brasil.

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  • Correspondência:

    Ana Katherine da Silveira Gonçalves
    Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
    Avenida Gal. Gustavo Cordeiro de Farias s/n
    CEP: 59010-180, Natal (RN), Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Jan 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 2011

    Histórico

    • Recebido
      20 Out 2011
    • Aceito
      17 Nov 2011
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