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Uso de medicamentos no primeiro trimestre de gravidez: avaliação da segurança dos medicamentos e uso de ácido fólico e sulfato ferroso

Medication use during the first trimester of pregnancy: drug safety and adoption of folic acid and ferrous sulphate

Resumos

OBJETIVO:

Identificar o perfil de uso de medicamentos no primeiro trimestre de gravidez com ênfase na avaliação da segurança e na adoção do ácido fólico e do sulfato ferroso por gestantes em uma Unidade Básica de Saúde da região Sul do Brasil.

MÉTODOS:

Trata-se de estudo transversal aninhado a uma coorte de gestantes. Os medicamentos foram classificados segundo a Anatomical Therapeutic Chemical (ATC), e a segurança avaliada segundo a Food and Drug Administration (FDA) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Foi investigado o uso/prescrição de sulfato ferroso e ácido fólico segundo o protocolo do Ministério da Saúde.

RESULTADOS:

Foram incluídas 212 gestantes. Dessas, 46,7% estavam em uso de medicamentos no momento do diagnóstico da gravidez e 97,6% utilizaram medicamentos no primeiro trimestre gestacional. O percentual mais elevado de automedicação ocorreu antes do início do pré-natal (64,9%). Observou-se maior exposição a medicamentos de risco D e X, segundo a classificação do FDA, antes do início do pré-natal (23,0%). Entre as gestantes, 32,5% não seguiam o protocolo de uso de ácido fólico e sulfato ferroso do Ministério da Saúde. No total, 67,9% das gestantes tiveram exposição inadequada aos medicamentos. Houve diferença entre as proporções de medicamentos utilizados segundo a ATC, e os principais grupos anatômicos identificados foram os dos medicamentos que atuam no sangue e órgãos hematopoiéticos e anti-infecciosos de uso sistêmico. Na época do diagnóstico da gravidez, observou-se expressivo uso de medicamentos que atuam no sistema geniturinário e hormônios sexuais (16,2%), como anticoncepcionais orais, o que provavelmente está relacionado ao percentual de gestações não planejadas (67,0%), nessa mesma ocasião 4 gestantes utilizaram ácido fólico e 3 utilizaram o sulfato ferroso.

CONCLUSÃO:

Os resultados demonstram uso expressivo de medicamentos durante a gravidez. Mesmo que haja menor exposição aos medicamentos no momento do diagnóstico da gravidez, observa-se maior consumo de medicamentos de risco e da prática de automedicação nesse período.

Gravidez; Uso de medicamentos; Ácido fólico; Sulfato ferroso


PURPOSE:

To identify the profile of use of medication during the first trimester of pregnancy with emphasis on safety assessment and on the adoption of folic acid and ferrous sulfate by pregnant women attended at a Basic Health Unit in Brazil.

METHODS:

This was a cross-sectional study nested in a cohort of pregnant women. Medications were classified according to the Anatomical Therapeutic Chemical (ATC), and their safety was evaluated according to the Food and Drug Administration (FDA) and the Brazilian Health Surveillance Agency (ANVISA). The adoption of ferrous sulfate and folic acid was investigated according to the protocol set forth by the Brazilian Ministry of Health.

RESULTS:

The survey included 212 pregnant women, 46.7% of whom were taking medications at the time of pregnancy diagnosis, and 97.6% used medication during the first trimester after diagnosis. The highest percentage of self-medication occurred before the beginning of prenatal care (64.9%). According to the FDA criteria, there was a high level of exposure to D and X risk drugs before the beginning of prenatal care (23.0%), which was also observed for drugs not recommended by ANVISA (36.5%). Of the surveyed sample, 32.5% did not follow the protocol of the Brazilian Ministry of Health. In all, 67.9% of pregnant women had inadequate drug exposure. There was a difference between the proportions of drugs used according to the ATC, and the main anatomical groups identified were the drugs that act on blood and blood-forming organs, and anti-infective medications for systemic use. When pregnancy was diagnosed, the use of a large number of medications that act on the genitourinary system and sex hormones (16.2%) was identified, such as oral contraceptives, a fact probably related to the percentage of unplanned pregnancies (67.0%), on the same occasion 4 pregnant women used folic acid and 3 used ferrous sulphate.

CONCLUSION:

The present results show that a large number of medications are used during pregnancy. Even if there was little exposure to drugs at the time of diagnosis, there is an overuse of potentially risky medications and self-medication during the first trimester of pregnancy.

Pregnancy; Drug utilization; Folic acid; Ferrous sulfate


Introdução

O uso de medicamentos na gestação sempre representa um desafio, pois pode implicar em dano tanto para a gestante quanto para o feto, e esse risco é potencialmente aumentado no primeiro trimestre gestacional11. Daw JR, Mintzes B, Law MR, Hanley GE, Morgan SG. Prescription drug use in pregnancy: a retrospective, population-based study in British Columbia, Canada (2001-2006). Clin Ther. 2012;34(1):239-249.e2..

A deficiência de ferro na gravidez ocorre principalmente pela ingestão insuficiente na dieta devido à maior necessidade desse nutriente nesse período. Como resultado clínico ocorre a anemia, com frequência de 30% entre as gestantes22. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2012.. Apesar da alta incidência da anemia ferropriva gestacional, existem poucos estudos que avaliam os efeitos da administração de sulfato ferroso, mas o seu uso melhora os índices hematológicos33. Reveiz L, Gyte GM, Cuervo LG, Casasbuenas A. Treatments for iron-deficiency anaemia in pregnancy. Cochrane Database Syst Rev. 2011;10:CD003094..

Em 2002, o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de Suplementação de Ferro e desenvolveu o Manual Técnico de Atenção ao Pré-natal de Baixo Risco22. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2012., que orienta a administração preventiva de ácido fólico desde o período pré-gestacional e o uso de sulfato ferroso desde o início da gravidez. Durante a primeira consulta pré-natal deve ocorrer a prescrição desses medicamentos pelos profissionais da atenção básica, com objetivo de prevenir as anormalidades congênitas do tubo neural e a anemia durante a gravidez. A dose diária recomendada de ácido fólico é de 5 mg durante 60 a 90 dias e a suplementação de sulfato ferroso é feita com 40 mg diários após o diagnóstico da gravidez22. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2012..

Além do uso dos medicamentos orientados pelos protocolos citados anteriormente, outros medicamentos também são comumente utilizados durante a gravidez, em especial para o manejo dos sintomas comuns durante a gestação44. Oliveira Filho AD, Gama DP, Leopardi MG, Dias JM, Lyra Júnior DP, Neves SJ. Self-reported adherence to prescribed medicines during pregnancy]. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012;34(4):147-52. Portuguese.. A utilização de medicamentos durante gravidez se integra a alguns problemas de saúde maternos, dentre os quais se destaca o diabetes mellitus, diabetes gestacional, hipertensão arterial sistêmica, cardiopatias, asma, toxoplasmose, sífilis, hipertireoidismo, alterações nos sistemas renal, hepático e ginecológico e ansiedade55. Bjorn AM, Nørgaard M, Hundborg HH, Nohr EA, Ehrenstein V. Use of prescribed drugs among primiparous women: an 11-year population-based study in Denmark. Clin Epidemiol. 2011;3(1):149-56.1111. Silva I, Quevedo LA, Silva RA, Oliveira SS, Pinheiro RT. Associação entre abuso de álcool durante a gestação e o peso ao nascer. Rev Saúde Pública. 2011;45(5):864-9..

As taxas de exposição a medicamentos de risco durante a gravidez variam de acordo com o período gestacional analisado e a forma de coleta de dados adotada nas pesquisas, sendo estimada entre 28 e 96,9%66. Colvin L, Slack-Smith L, Stanley FJ, Bower C. Pharmacovigilance in pregnancy using population: based linked datasets. Pharmacoepidemiol Drug Saf. 2009;18(3):211-25.,1212. Refuerzo JS, Blackwell SC, Sokol RJ, Lajeunesse L, Firchau K, Kruger M, et al. Use of over-the-counter medications herbal remedies in pregnancy. Am J Perinatol. 2005;22(6):321-4.. Para avaliação dos riscos do uso de medicamentos na gestação foram estabelecidos critérios, a partir de 1979, pela agência norte-americana Food and Drug Administration (FDA)1313. U.S. Department of Health and Human Services. Food and Drug Administration Reviewer guidance evaluating the risks of drug exposure in human pregnancies. Internet]. Maryland: Office of Training and Communications; 2005 cited 2013 Ago 22]. Available from: <http://www.fda.gov/downloads/Drugs/GuidanceComplianceRegulatoryInformation/Guidances/ucm071645.pdf>
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. Essa classificação tem sido amplamente utilizada em todo o mundo. Segundo ela, cada fármaco é listado dentre cinco categorias com base na ausência ou presença de dados sobre a segurança de seu uso durante a gestação, conforme o tipo de estudo e os resultados obtidos1313. U.S. Department of Health and Human Services. Food and Drug Administration Reviewer guidance evaluating the risks of drug exposure in human pregnancies. Internet]. Maryland: Office of Training and Communications; 2005 cited 2013 Ago 22]. Available from: <http://www.fda.gov/downloads/Drugs/GuidanceComplianceRegulatoryInformation/Guidances/ucm071645.pdf>
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Apesar das exigências preconizadas antes do lançamento de qualquer medicamento no mercado farmacêutico restringindo o estudo em gestantes, eles são consumidos por esse estrato da população, podendo causar problemas de insegurança à gestante ou seu feto. No Brasil, essas informações devem estar descritas na bula dos medicamentos e registradas na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)1414. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Bulário eletrônico Internet]. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2013 citado 2013 Set 25]. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/index.asp>
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, a qual também categoriza os medicamentos pela indicação de uso nesse período.

Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar a segurança dos medicamentos no primeiro trimestre de gravidez com ênfase na avaliação da segurança dos medicamentos e na adoção de ácido fólico e sulfato ferroso por gestantes atendidas nas Unidades Básicas de Saúde do Município de Braço do Norte, Santa Catarina.

Métodos

Trata-se de um estudo transversal aninhado a uma coorte de gestantes. A pesquisa foi realizada nas estratégias de saúde da família do Município de Braço do Norte, Sul de Santa Catarina. Constituíram a população desta pesquisa todas as gestantes acompanhadas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Sistema Único de Saúde (SUS), que iniciaram o pré-natal no primeiro trimestre de gestação (até a 14asemana, definidas pela data da última menstruação, referida pela própria gestante). O estudo foi desenvolvido entre abril de 2012 e junho de 2013.

Para o cálculo de amostra adotou-se o número de gestantes atendidas pelo serviço no ano de 2011, nesse caso, 191 gestantes. Considerando uma exposição de 50% a medicamentos de risco, um erro amostral de 5% e um nível de confiança de 95%, a amostra mínima calculada para o estudo foi de 191 gestantes, sendo acrescentados 10% à amostra para eventuais perdas. Todas as gestantes que aceitaram participar da pesquisa foram arroladas consecutivamente no estudo até que se completasse a amostra.

Foi adotada a classificação de risco do FDA1313. U.S. Department of Health and Human Services. Food and Drug Administration Reviewer guidance evaluating the risks of drug exposure in human pregnancies. Internet]. Maryland: Office of Training and Communications; 2005 cited 2013 Ago 22]. Available from: <http://www.fda.gov/downloads/Drugs/GuidanceComplianceRegulatoryInformation/Guidances/ucm071645.pdf>
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para a análise dos medicamentos contraindicados na gravidez, sendo considerados D os medicamentos com evidências positivas de risco fetal humano, porém os benefícios potenciais para a mulher grávida podem, eventualmente, justificar seu risco; e X os medicamentos contraindicados na gravidez, pois estudos em animais e em mulheres grávidas demonstraram clara evidência de risco fetal. O risco para o feto supera qualquer benefício possível para a gestante, o que contraindica o uso1313. U.S. Department of Health and Human Services. Food and Drug Administration Reviewer guidance evaluating the risks of drug exposure in human pregnancies. Internet]. Maryland: Office of Training and Communications; 2005 cited 2013 Ago 22]. Available from: <http://www.fda.gov/downloads/Drugs/GuidanceComplianceRegulatoryInformation/Guidances/ucm071645.pdf>
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. Os medicamentos também foram classificados segundo a exposição em usar, não usar (considerado contraindicado), usar com cautela e não classificado, segundo a ANVISA1414. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Bulário eletrônico Internet]. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2013 citado 2013 Set 25]. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/index.asp>
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Para descrever o uso de medicamentos durante a gravidez utilizou-se a classificação anatômica terapêutica e química do inglês Anatomical Therapeutic Chemical (ATC), recomendado pela Organização Mundial da Saúde1515. World Health Organization (WHO). WHO Collaborating Centre for Drug Statistics Methodology. Anatomical Therapeutic Chemical (ATC): structure and principles Internet]. Geneva: WHO; 2013 cited 2013 Ago 23]. Available from: <http://www.whocc.no/atc/structure_and_principles/>
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A adequabilidade do uso de medicamentos durante a gestação foi definida da seguinte foram: Grupo adequado: gestantes expostas ao uso dos medicamentos do protocolo do Ministério da Saúde22. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2012. e que não foram expostas a nenhum medicamento contraindicado pela ANVISA ou pelo FDA (D e X); Grupo inadequado: gestantes que não utilizaram ácido fólico e sulfato ferroso ou que usaram pelo menos um medicamento contraindicado pelo FDA ou ANVISA.

Os dados foram coletados por enfermeiros capacitados pela equipe de pesquisa. Seguiu-se um roteiro estruturado durante as entrevistas individuais e análise documental do cartão da gestante e do prontuário do paciente. Foram coletadas informações sobre variáveis socioeconômicas e clínicas, incluindo aspectos que envolveram a saúde da mulher nas gestações anteriores, quando era o caso, e dados da gestação atual, como vacinas e uso de medicamentos no período. Após a coleta, as informações foram inseridos no programa EpiData, versão 3.1 (EpiData Association, Odense, Denmark). A análise estatística foi realizada empregando-se os programas EpiInfo, versão 6.0 (Centers for Disease Control), e Statistical Product and Service Solutions (SPSS for Windows versão 19; Chicago, IL, USA).

As variáveis quantitativas foram apresentadas em medida de tendência central e dispersão, as variáveis qualitativas apresentadas em números absolutos e proporções. Para identificação dos fatores associados ao uso de medicamentos inadequados durante a gestação utilizou-se o teste do χ2 e o teste exato de Fisher, quando adequado. As variáveis qualitativas foram recategorizadas quando necessário, o mesmo ocorreu com as quantitativas, sendo essas categorizadas pela mediana ou com base em recomendações da literatura. Adotou-se o nível de significância de 5% (p<0,05).

O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Sul de Santa Catarina, e aprovado em 20 de janeiro de 2012 sob o código número 11.667.4.01 III.

Resultados

Foram incluídas no estudo 212 gestantes com idade na primeira consulta entre 13 e 41 anos, sendo a média de idade 24,9 anos, com desvio padrão (DP) de 6,3 anos. Do total da amostra, 81,6% relatavam ter relação estável com o pai da criança. A média de escolaridade foi de 8,7 (DP=2,7) anos de estudo. A média da renda familiar mensal referida foi de R$ 1.457,89. Com relação ao histórico obstétrico, a idade gestacional durante a primeira consulta de pré-natal variou de 3 a 14 semanas (média=8,0 semanas; DP = 2,9). O número de gestações, incluindo a atual, variou de 1 a 8 gestações (média=2,0; DP=1,3) e 46,2% estavam na primeira gestação. Outras informações sobre as características sociodemográficas e clínicas da amostra encontram-se na Tabela 1. Na Tabela 2 é apresentado o perfil geral de uso de medicamentos e a classificação de segurança segundo o FDA e quanto à adequabilidade de uso segundo a ANVISA e na Tabela 3 é possível identificar os principais grupos anatômicos de medicamentos utilizados pelas gestantes no primeiro trimestre gestacional.

Tabela 1
Características sociodemográficas e clínicas das gestantes incluídas no estudo (n=212)
Tabela 2
Distribuição do consumo de medicamentos antes do diagnóstico da gestação e após o início do pré-natal (n=212)
Tabela 3
Distribuição do consumo de medicamentos no primeiro trimestre de gravidez de acordo com o primeiro nível da Anatomical Therapeutic Chemical, grupo anatômico

O consumo de medicamentos referido por gestantes antes do diagnóstico da gravidez variou de zero a cinco, sendo que após o diagnóstico variou de zero a nove. Os principais medicamentos referidos pelas gestantes em uso na época do diagnóstico da gravidez foram os anticoncepcionais orais, como levonorgestrel associado ao etinilestradiol (citados por 23 gestantes), o paracetamol (18) nas queixas de dor, principalmente as pélvicas ou lombares; e a butilescopolamina (9) para cólicas.

Por outro lado, após o início do pré-natal foi utilizado, em ordem de frequência, o sulfato ferroso e o ácido fólico, seguidos pelo uso do paracetamol, butilescopolamina, dimenidrinato mais cloridrato de piridoxina e metoclopramida. Esses últimos adotados para tratamento dos sintomas associados a náusea e vômitos. Dos medicamentos anti-infecciosos utilizados após o diagnóstico da gravidez, 61 se referiam à vacina contra a influenza, 112 à vacina antitetânica e 18 à vacina contra a hepatite B.

Quanto à composição da variável exposição aos medicamentos inadequados durante a gravidez, é importante destacar que no momento do diagnóstico da gravidez apenas 3 pacientes (1,4%) estavam em uso de sulfato ferroso e 4 (1,9%) em uso de ácido fólico. Relacionado à exposição aos medicamentos inadequados durante o primeiro trimestre de gravidez, segundo a ANVISA, 49,5% utilizaram medicamentos contraindicados, com intervalo de confiança de 95% (IC95%) 42,9–56,2; 15,1% (IC95% 10,9–20,5) usaram pelo menos um medicamento de risco D e X (FDA); 22,6% (IC95% 17,5–28,7) não consumiram ácido fólico e 25,0% (IC95% 19,7–31,2) não utilizaram o sulfato ferroso; a ausência da adoção do protocolo de uso do Ministério da Saúde ocorreu em 32,5% das gestantes estudadas (IC95% 26,6–39,1). O percentual de uso de medicamentos inadequados foi de 67,9% (IC95% 61,4–73,8).

Nenhuma variável materna (idade, escolaridade, ocupação, estado conjugal, história familiar de doença crônica, antecedentes pessoais) e da gestação (estar em gestação de risco, ter histórico de aborto ou planejamento da gestação atual) esteve associada à variável "uso adequado de medicamentos" ou com as variáveis que a compõe (usar medicamento de risco segundo o FDA, medicamentos contraindicados segundo a ANVISA, ou não adotar o protocolo de uso do acido fólico e do sulfato ferroso do Ministério da Saúde durante a gestação).

Discussão

O primeiro trimestre de gestação é um período crítico para a exposição aos medicamentos1616. Brum LF, Pereira P, Felicetti LL, Silveira RD. Utilização de medicamentos por gestantes usuárias do Sistema Único de Saúde no município de Santa Rosa (RS, Brasil). Ciênc Saúde Coletiva. 2011;16(5):2435-42.1818. Alshammari TM, Alrwisan AA, Aljeraisy MI, Taher KW, Alissa FM, Mahmoud MA, et al. Knowledge and attitude of healthcare professionals toward medication pregnancy category systems in Saudi hospitals. Saudi Med J. 2014;35(7):704-11. devido à formação de basicamente todas as estruturas anatômicas e fisiológicas do feto, o que pode provocar malformações e aborto1919. Irvine L, Flynn RW, Libby G, Crombie IK, Evans JM. Drugs dispensed in primary care during pregnancy: a record-linkage analysis in Tayside, Scotland. Drug Saf. 2010;33(7):593-604.. Apesar disso, o uso de medicamentos é frequente2020. Marín GH, Cañas M, Homar C, Aimetta C, Orchuela J. Taking medicine during pregnancy in females living in Buenos Aires, Argentina]. Rev Salud Publica (Bogota). 2010;12(5):722-31. Spanish.2222. World Health Organization Department of Reproductive Health and Research (WHO/RHR) and Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health/Center for Communication Programs (CCP). INFO Project. Family planning: a global handbook for providers Internet]. Baltimore and Geneva: CCP and WHO; 2007 cited 2013 Ago 22]. Available from: <https://www.unfpa.org/webdav/site/global/shared/documents/publications/2007/family_planning.pdf>
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, inclusive de medicamentos de risco segundo o FDA ou contraindicados segundo a ANVISA. Boa parte desses medicamentos de risco foi representada por hormônios sexuais. Dessa forma, possivelmente a maior parte das gestações não planejadas foram ocasionadas pela falha do método contraceptivo, gerada provavelmente pelo uso incorreto dos anticoncepcionais orais. O percentual de efetividade no uso dos anticoncepcionais orais é calculado por percentual de mulheres em uso, e segundo a Organização Mundial da Saúde2222. World Health Organization Department of Reproductive Health and Research (WHO/RHR) and Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health/Center for Communication Programs (CCP). INFO Project. Family planning: a global handbook for providers Internet]. Baltimore and Geneva: CCP and WHO; 2007 cited 2013 Ago 22]. Available from: <https://www.unfpa.org/webdav/site/global/shared/documents/publications/2007/family_planning.pdf>
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, a eficácia da pílula é de 99,8% para mulheres que utilizam os contraceptivos corretamente. Os riscos do uso dos anticoncepcionais na gestação estão associados à exposição aos hormônios neles contidos, o que pode afetar o desenvolvimento genital do feto2323. Mengue SS, Schenkel EP, Duncan BB, Schmidt MI. Uso de medicamentos por gestantes em seis cidades brasileiras. Rev Saúde Pública. 2001;35(5):415-20.. A adoção do protocolo de sulfato ferroso e ácido fólico constitui uma rotina das unidades de saúde do município, instituída pelas secretarias de saúde para assegurar padrões adequados de maturação e desenvolvimento fetal, contudo, 32,5% das gestantes não utilizaram esses suplementos durante o primeiro trimestre de gestação, apesar da ampla recomendação desses suplementos minerais e antianêmicos durante a gravidez44. Oliveira Filho AD, Gama DP, Leopardi MG, Dias JM, Lyra Júnior DP, Neves SJ. Self-reported adherence to prescribed medicines during pregnancy]. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012;34(4):147-52. Portuguese.. É também no início da assistência ao pré-natal que as mulheres são orientadas a utilizar alguns medicamentos "se necessário". Alguns profissionais fornecem prescrições medicamentosas para o manejo dos sinais e sintomas comuns à gestação, o que permite à mulher maior acesso aos medicamentos. Essas prescrições "se necessário" são importantes, pois garantem uma seleção segura de medicamentos, caso a gestante identifique a necessidade do manejo dos sinais e sintomas comuns da gravidez. Contudo, mesmo nessa situação as gestantes devem ser orientadas quanto ao uso correto dos medicamentos. Dentre os medicamentos geralmente prescritos dessa forma no presente estudo estão paracetamol e escopolamina associada com paracetamol44. Oliveira Filho AD, Gama DP, Leopardi MG, Dias JM, Lyra Júnior DP, Neves SJ. Self-reported adherence to prescribed medicines during pregnancy]. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012;34(4):147-52. Portuguese..

Observou-se que as gestantes acompanhadas nesta pesquisa são jovens, de baixa escolaridade e de baixa renda, tal perfil se assemelha a outros estudos nacionais2424. Geib LT, Vargas Filho EF, Geib D, Mesquita DI, Nunes ML. Prevalência e determinantes maternos do consumo de medicamentos na gestação por classe de risco em mães de nascidos vivos. Cad Saúde Pública. 2007;23(10):2351-62.2626. Maeda ST, Secoli SR. Utilização e custo de medicamentos em gestantes de baixo risco. Rev Latino-Am Enferm. 2008;16(2):266-71. e internacionais2727. Amarin Z, Khader Y, Okour A, Jaddou H, Al-Qutob R. National maternal mortality ratio for Jordan, 2007-2008. Int J Gynaecol Obstet. 2010;111(2):152-6.2929. Dal Pizzol TS, Sanseverino MT, Mengue SS. Exposure to misoprostol and hormones during pregnancy and risk of congenital anomalies. Cad Saúde Pública. 2008;24(6):1447-53.. Poucos estudos investigaram a exposição aos medicamentos utilizados antes do diagnóstico gestacional. Basgül et al.3030. Basgül A, Akici A, Uzuner A, Kalaça S, Kavak ZN, Tural A, et al. Drug utilization and teratogenicity risk categories during pregnancy. Adv Ther. 2007;24(1):68-80. descreveram um perfil de uso semelhante ao identificado no presente estudo. Em relação ao perfil de uso após o diagnóstico da gravidez, os achados são semelhantes a outros estudos99. Fonseca MR, Fonseca E, Bergsten-Mendes G. Prevalência do uso de medicamentos na gravidez: uma abordagem farmacoepidemiológica. Rev Saúde Pública. 2002;36(2):205-12.,2323. Mengue SS, Schenkel EP, Duncan BB, Schmidt MI. Uso de medicamentos por gestantes em seis cidades brasileiras. Rev Saúde Pública. 2001;35(5):415-20..

Quanto às categorias de risco do uso de medicamentos segundo o FDA, o maior consumo foi das classes A, B e C. Elas são representadas por medicamentos para distúrbios do funcionamento gastrointestinal e preparações antianêmicas1717. Nordeng H, Ystrøm E, Einarson A. Perception of risk regarding the use of medications and other exposures during pregnancy. Eur J Clin Pharmacol. 2010;66(2):207-14.. A classe A é a mais utilizada na gravidez, conforme evidenciado em uma revisão sistemática realizada por Daw et al.3131. Daw JR, Hanley GE, Greyson DL, Morgan SG. Prescription drug use during pregnancy in developed countries: a systematic review. Pharmacoepidemiol Drug Saf. 2011;20(9):895-902. que apresentou maior consumo dessa classe em alguns países como França e Alemanha.

Houve exposição importante no primeiro trimestre gestacional a medicamentos de risco com prevalência semelhante à encontrada por Gagne et al.3232. Gagne JJ, Maio V, Berghella V, Louis DZ, Gonnella JS. Prescription drug use during pregnancy: a population-based study in Regione Emilia-Romagna, Italy. Eur J Clin Pharmacol. 2008;64(11):1125-32., sendo representada especialmente pelo uso de anticoncepcionais orais1919. Irvine L, Flynn RW, Libby G, Crombie IK, Evans JM. Drugs dispensed in primary care during pregnancy: a record-linkage analysis in Tayside, Scotland. Drug Saf. 2010;33(7):593-604., por mulheres que não planejaram a gestação, como já citado anteriormente. Após o início do pré-natal houve redução na utilização de medicamentos de risco D e X, contudo, algumas gestantes continuaram expostas a essas categorias de medicamentos. Em algumas situações o uso se manteve por seleção inapropriada do medicamento por parte da paciente ou do médico e em outras pela avaliação do custo benefício, como o caso de uma gestante com epilepsia. Portanto, a situação de saúde da gestante pode requerer o uso de medicamentos classificados como inseguros para esse estado fisiológico1919. Irvine L, Flynn RW, Libby G, Crombie IK, Evans JM. Drugs dispensed in primary care during pregnancy: a record-linkage analysis in Tayside, Scotland. Drug Saf. 2010;33(7):593-604.,2424. Geib LT, Vargas Filho EF, Geib D, Mesquita DI, Nunes ML. Prevalência e determinantes maternos do consumo de medicamentos na gestação por classe de risco em mães de nascidos vivos. Cad Saúde Pública. 2007;23(10):2351-62.,3333. Andrade SE, Gurwitz JH, Davis RL, Chan KA, Finkelstein JA, Fortman K, et al. Prescription drug use in pregnancy. Am J Obstet Gynecol. 2004;191(2):398-407..

De forma semelhante ao consumo de medicamentos de risco segundo o FDA, observou-se uso mais frequente de medicamentos contraindicados segundo a ANVISA no diagnóstico da gravidez em relação ao início do pré-natal, o que vem reforçar a importância do início precoce do pré-natal22. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2012.. O uso dos medicamentos contraindicados na gestação expõe a gestante e o feto a riscos que podem levar a malformações em qualquer momento da gestação. Sabe-se que as malformações ocorrem em 2 a 4% dos nascimentos, mas estima-se que 15% das malformações resultem em aborto3434. Hogge WA, Byrnes AL, Lanasa MC, Surti U. The clinical use of karyotyping spontaneous abortions. Am J Obstet Gynecol. 2003;189(2):397-400.. No entanto, algumas perdas fetais, por acontecerem no início do período gestacional, podem passar despercebidas pela mulher. Essa situação de sub-diagnóstico pode mascarar o problema do uso dos medicamentos inseguros, em especial no período investigado. Dessa forma, destaca-se a importância da adoção de medidas de farmacovigilância66. Colvin L, Slack-Smith L, Stanley FJ, Bower C. Pharmacovigilance in pregnancy using population: based linked datasets. Pharmacoepidemiol Drug Saf. 2009;18(3):211-25. para esclarecer a questão de insegurança dos medicamentos durante a gravidez.

Quando avaliada a exposição conjunta a todos os medicamentos inadequados, ou seja, os de risco D e X1313. U.S. Department of Health and Human Services. Food and Drug Administration Reviewer guidance evaluating the risks of drug exposure in human pregnancies. Internet]. Maryland: Office of Training and Communications; 2005 cited 2013 Ago 22]. Available from: <http://www.fda.gov/downloads/Drugs/GuidanceComplianceRegulatoryInformation/Guidances/ucm071645.pdf>
http://www.fda.gov/downloads/Drugs/Guida...
, os contraindicados (ANVISA) e a não adoção do protocolo do uso de acido fólico e sulfato ferroso na gravidez, evidencia-se a exposição de três quartos das gestantes a pelo menos um dos critérios avaliados. Contudo, mesmo com essa alta exposição, não foi observada associação entre o uso inadequado de medicamentos e o perfil da gestante e da gravidez. Por outro lado, destaca-se que possivelmente o uso inadequado é mais frequente quando não há o planejamento da gravidez.

Apesar de haver a difusão da prática conservadora na prescrição de medicamentos durante o período gestacional, neste estudo evidenciou-se que antes do diagnóstico da gestação, um terço dos medicamentos consumidos foi por automedicação. Muitas vezes esses medicamentos por auto-medicação estão sendo utilizados, inclusive para o manejo dos primeiros sintomas da gestação, pelo desconhecimento do diagnóstico da gravidez. Nesse caso, pode haver riscos, pois alguns medicamentos que reduzem os sintomas da gestação podem não ser seguros e causar efeitos adversos, como ocorreu no passado com a talidomida1717. Nordeng H, Ystrøm E, Einarson A. Perception of risk regarding the use of medications and other exposures during pregnancy. Eur J Clin Pharmacol. 2010;66(2):207-14.. Relativo à imunoprofilaxia, o Ministério da Saúde orienta que todas as gestantes estejam imunizadas contra o tétano e a hepatite B22. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2012.,3434. Hogge WA, Byrnes AL, Lanasa MC, Surti U. The clinical use of karyotyping spontaneous abortions. Am J Obstet Gynecol. 2003;189(2):397-400.,3535. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Parecer Técnico n° 04/2010. Atualização da indicação da vacina hepatite B nos serviços de saúde do SUS Internet]. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2010 cited 2013 Ago 22]. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/sites/default/files/page/2010/grupos_de_maior_vulnerabilidade_22484.pdf>
http://www.aids.gov.br/sites/default/fil...
. Naquelas gestantes em que o calendário vacinal não está atualizado, recomenda-se atualizar3434. Hogge WA, Byrnes AL, Lanasa MC, Surti U. The clinical use of karyotyping spontaneous abortions. Am J Obstet Gynecol. 2003;189(2):397-400.,3535. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Parecer Técnico n° 04/2010. Atualização da indicação da vacina hepatite B nos serviços de saúde do SUS Internet]. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2010 cited 2013 Ago 22]. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/sites/default/files/page/2010/grupos_de_maior_vulnerabilidade_22484.pdf>
http://www.aids.gov.br/sites/default/fil...
. Observou-se que há uma ação marcante no sentido de cumprir o calendário vacinal durante a gravidez, entretanto, algumas entrevistadas receberam a vacina contra hepatite B no primeiro trimestre de gravidez, o que não é recomendado, de acordo com o Parecer Técnico n° 04/20103535. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Parecer Técnico n° 04/2010. Atualização da indicação da vacina hepatite B nos serviços de saúde do SUS Internet]. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2010 cited 2013 Ago 22]. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/sites/default/files/page/2010/grupos_de_maior_vulnerabilidade_22484.pdf>
http://www.aids.gov.br/sites/default/fil...
. As vacinas podem beneficiar a criança pela transferência de anticorpos via transplacentária e também após o nascimento pelo aleitamento materno, porém, são poucos os estudos que aferem a segurança das vacinas na gestação devido às questões éticas na realização dos mesmos3535. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Parecer Técnico n° 04/2010. Atualização da indicação da vacina hepatite B nos serviços de saúde do SUS Internet]. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2010 cited 2013 Ago 22]. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/sites/default/files/page/2010/grupos_de_maior_vulnerabilidade_22484.pdf>
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. Esses dados demonstram a necessidade de intervenção junto ao município para reduzir os possíveis danos que o uso desse medicamento no momento inadequado da gravidez possa causar.

Por fim, esses dados são importantes por confirmar as recomendações de cuidado do Ministério da Saúde, uma vez que essa instituição recomenda aos serviços de atenção básica maior atenção com as gestantes de baixa escolaridade e também aquelas com gestação de risco3434. Hogge WA, Byrnes AL, Lanasa MC, Surti U. The clinical use of karyotyping spontaneous abortions. Am J Obstet Gynecol. 2003;189(2):397-400..

Como limitações, reconhece-se o próprio desenho do estudo transversal, que foi aninhado a uma coorte prospectiva, e o fato de não terem sido excluídas gestantes que iniciaram o pré-natal após 14 semanas. Outra possível limitação trata-se do uso de medicamento ser autorreferido, contudo, essas limitações não desmerecem os achados desta pesquisa em relação ao perfil de uso de medicamentos nessa população.

Todas as gestantes foram expostas a medicamentos durante o primeiro trimestre de gestação, e, entre eles, medicamentos considerados de risco para o feto segundo o FDA e a ANVISA, como os anticoncepcionais e os que atuam no sistema geniturinário. Antes do diagnóstico da gravidez houve maior uso de medicamentos por automedicação. Quando ao uso de ácido fólico e sulfato ferroso, evidenciou-se que um terço das gestantes não utilizaram esses suplementos durante o primeiro trimestre de gestação. É necessária a retomada e atualização dos profissionais quanto às prescrições dos protocolos e métodos contraceptivos para evitar uso incorreto e gravidez não planejada. Essa ação torna-se pertinente frente aos dados de gestações não planejadas e exposição dos fetos aos anticoncepcionais identificados neste estudo.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014

Histórico

  • Recebido
    16 Jun 2014
  • Aceito
    30 Set 2014
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