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Avaliação das concentrações de zinco, manganês e ferro no fígado de bovinos e ovinos de várias regiões do Brasil

Evaluation of zinc, manganese and iron levels in liver samples of cattle and sheep from various regions of Brazil

Resumos

Complementando estudos realizados sobre doenças de bovinos e ovinos possivelmente causadas por deficiências minerais, as amostras de fígado coletadas em diversas regiões do Brasil, que tinham sido analisadas somente para cobre e cobalto, foram agora analisadas para zinco, manganês e ferro. Na maioria das regiões, os valores de zinco só esporadicamente estiveram abaixo do nível considerado normal. Somente dos Estados do Ceará e do Piauí, número maior de amostras apresentou teores baixos para este mineral, sugerindo a ocorrência de deficiência de zinco, mas sob a forma sub-clínica, pois os históricos e estudos clínico-patológicos não indicavam a ocorrência desta deficiência. Os valores de manganês também só esporadicamente estiveram abaixo do nível considerado normal. Somente nas amostras dos Estados do Rio de Janeiro (Sul), do Espírito Santo (Norte), do Ceará (Serra da Ibiapaba) e do Amapá, havia uma incidência maior de valores baixos de manganês; os mesmos motivos apontados acima para o zinco, indicam que a deficiência de manganês nestas regiões deve ocorrer sob forma sub-clínica.

Deficiências minerais; deficiências de zinco e manganês; bovinos; ovinos


To complement studies on diseases of cattle and sheep possibly caused by mineral deficiencies, liver samples collected in several regions of Brazil and which had been analysed for copper and cobalt were now analysed for zinc, manganese and iron. In most regions the levels of zinc were only sporadically low. Only in the States of Ceará and Piauí a greater number of samples had low levels of this mineral, suggesting the occurrence of zinc deficiency, but subclinically, as case histories and clinical pathological studies did not indicate the occurrence of this deficiency. Also the values for manganese were sporadically lower than those considered normal. Only in the States of Rio de Janeiro (southern part), Espírito Santo (northern part), Ceará (Serra da Ibiapaba) and Amapá, there was a greater incidence of low values of manganese; the same reasons mentioned for zinc indicate that deficiency of manganese in these regions occurs subclinically.

Mineral deficiencies; zinc and manganese deficiency; cattle; sheep; Brazil


Avaliação das concentrações de zinco, manganês e ferro no fígado de bovinos e ovinos de várias regiões do Brasil1 1 Aceito para publicação em 12 de março de 1998. 2 Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte, Rodovia BR 262 Km 4, Cx. Postal 154, Campo Grande, MS 79002-970.

Sheila da Silva Moraes2 1 Aceito para publicação em 12 de março de 1998. 2 Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte, Rodovia BR 262 Km 4, Cx. Postal 154, Campo Grande, MS 79002-970.

ABSTRACT.- Moraes S.S. 1998. [ Evaluation of zinc, manganese and iron levels in liver samples of cattle and sheep from various regions of Brazil.] Avaliação das concentrações de zinco, manganês e ferro no fígado de bovinos e ovinos de várias regiões do Brasil. Pesquisa Veterinária Brasileira 18(3/4):107-110. Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte, Embrapa, Cx. Postal 154, Campo Grande, MS 79002-970, Brazil.

To complement studies on diseases of cattle and sheep possibly caused by mineral deficiencies, liver samples collected in several regions of Brazil and which had been analysed for copper and cobalt were now analysed for zinc, manganese and iron. In most regions the levels of zinc were only sporadically low. Only in the States of Ceará and Piauí a greater number of samples had low levels of this mineral, suggesting the occurrence of zinc deficiency, but subclinically, as case histories and clinical pathological studies did not indicate the occurrence of this deficiency. Also the values for manganese were sporadically lower than those considered normal. Only in the States of Rio de Janeiro (southern part), Espírito Santo (northern part), Ceará (Serra da Ibiapaba) and Amapá, there was a greater incidence of low values of manganese; the same reasons mentioned for zinc indicate that deficiency of manganese in these regions occurs subclinically.

INDEX TERMS: Mineral deficiencies, zinc and manganese deficiency, cattle, sheep, Brazil.

RESUMO.- Complementando estudos realizados sobre doenças de bovinos e ovinos possivelmente causadas por deficiências minerais, as amostras de fígado coletadas em diversas regiões do Brasil, que tinham sido analisadas somente para cobre e cobalto, foram agora analisadas para zinco, manganês e ferro. Na maioria das regiões, os valores de zinco só esporadicamente estiveram abaixo do nível considerado normal. Somente dos Estados do Ceará e do Piauí, número maior de amostras apresentou teores baixos para este mineral, sugerindo a ocorrência de deficiência de zinco, mas sob a forma sub-clínica, pois os históricos e estudos clínico-patológicos não indicavam a ocorrência desta deficiência. Os valores de manganês também só esporadicamente estiveram abaixo do nível considerado normal. Somente nas amostras dos Estados do Rio de Janeiro (Sul), do Espírito Santo (Norte), do Ceará (Serra da Ibiapaba) e do Amapá, havia uma incidência maior de valores baixos de manganês; os mesmos motivos apontados acima para o zinco, indicam que a deficiência de manganês nestas regiões deve ocorrer sob forma sub-clínica. TERMOS DE INDEXAÇÃO: Deficiências minerais, deficiências de zinco e manganês, bovinos, ovinos.

INTRODUÇÃO

Em estudos sobre doenças de etiologia obscura em bovinos e ovinos, possivelmente causadas por deficiências minerais, foram diagnosticadas as deficiências de cobre e cobalto, através do estabelecimento dos quadros clínico-patológicos e pela análise de amostras de fígado (Tokarnia et al. 1968, 1971). Para esclarecer se haveria deficiência de outros elementos, as mesmas amostras, no presente estudo, foram submetidas à análise de zinco, manganês e ferro. Dessa maneira este artigo se constitui em uma complementação dos trabalhos acima indicados.

MATERIAL E MÉTODOS

As amostras de fígado coletadas através da técnica descrita por Tokarnia et al. (1968), encontravam-se estocadas em solução de formol a 10%. Devido ao longo período de estocagem, procurou-se verificar se houve dissolução dos elementos de interesse do tecido hepático na solução de formol. Tomou-se quatro frascos com fígado em solução de formol e de cada um foi retirado uma subamostra. As subamostras foram cortadas em pequenos pedaços, dessecadas em estufa, pulverizadas e homogeneizadas num gral de porcelana. A porção da amostra que permaneceu no frasco sofreu evaporação do formol numa placa elétrica e os pedaços de fígado foram cominutados no próprio recipiente. A partir daí foi tomado o mesmo procedimento das subamostras.

De cada frasco de fígado foram tomadas alíquotas de solução de formol.

A solubilização das amostras foi feita através da alíquota de solução de formol e através da digestão por misturas de ácidos, e os teores de zinco e ferro, bem como os teores de manganês, foram dosados no espectofotômetro de absorção atômica Variant Fechtion-AA5.

Assim como as amostras de fígado, a solução de formol foi submetida ao mesmo processo de solubilização e análise. Os resultados encontrados para esta solução mostraram-se abaixo do limite de detecção do método, indicando praticamente a ausência (ou presença em níveis traços) dos elementos minerais avaliados.

No Quadro 1 constam os resultados de avaliação sobre a interferência da estocagem em solução de formol, das amostras de fígado bovino relativos aos teores de zinco e ferro. Acompanhou o teste o padrão NBS "Bovine liver 1577", a fim de avaliar a precisão e reprodução da metodologia. Com estes dados, pode-se verificar que não houve variação significativa entre os teores dos microelementos analisados pelos dois procedimentos. Optou-se pela utilização do segundo procedimento, devido a melhor e mais fácil condição de estocagem.


Para interpretação dos resultados, foram adotados os seguintes teores como normais no fígado, baseando-se nos dados encontrados em Underwood (1977) e também seguidos por outros pesquisadores brasileiros (Tokarnia et al. 1988). Esses valores são para zinco 101-200 ppm, manganês 6,1-12 ppm e ferro 181-380 ppm (peso sobre a matéria seca). Consideramos valores de ferro entre 381 e 1000 ppm pouco aumentados, acima de 1000 ppm muito aumentados.

RESULTADOS

As amostras de fígado com os teores de microelementos verificados (Quadros 2 e 3) estão agrupados da mesma maneira como o foram nos trabalhos de Tokarnia et al. (1968, 1971), isto é, de acordo com sua procedência e condições patológicas que ocorrem em certas regiões, para não precisar repetir os históricos das condições patológicas que ocorrem em cada região de cada animal, que já constam nos trabalhos acima mencionados. Não foi possível analisar todas as amostras em relação aos teores de zinco, manganês e ferro.



DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

Em todas as regiões foram verificados, nas amostras de fígado, valores de zinco abaixo dos considerados normais. Porém somente na Região do Interior do Piauí, na Região Litorânea do Nordeste (Ceará, Municípios de Aracati e Pacatuba) e no Estado do Rio de Janeiro (Norte) mais da metade das amostras apresentou teores baixos para este mineral, indicando a ocorrência de deficiência de zinco, mas sob forma sub-clínica; pois os históricos e estudos clínico-patológicos não indicavam, de maneira específica, a ocorrência desta deficiência. Valores baixos de zinco em um pouco menos da metade das amostras de fígado coletadas, ainda foram verificados na Serra da Ibiapaba, Ceará (Região do Plantio da Cana, animais que nasceram ou com mais de um ano na região) e no Estado do Espírito Santo (Norte).

Valores de manganês abaixo do nível considerado normal foram verificados nas amostras de fígado, não em todas, mas na maioria das regiões, porém com incidência bem menor que de zinco. Só na Região Litorânea do Nordeste (Ceará, Município de Pacatuba) e no Estado do Amapá, mais da metade das amostras apresentou teores baixos. Os mesmos motivos mencionados para o zinco, indicam que também a deficência de manganês ocorre nas regiões acima mencionadas sob forma sub-clínica. Valores baixos de manganês em um pouco menos da metade das amostras de fígado, ainda foram verificados na Região Litorânea do Nordeste (Ceará, Município de Aracati), no Estado do Rio de Janeiro (Sul) e Estado do Espírito Santo (Norte).

  • Tokarnia C.H., Canella C.F.C. & Döbereiner J. 1960. Deficięncia de cobre em bovinos no delata do Rio Parnaíba, nos Estados do Piauí e Maranhăo. Arqs Inst. Biol. Animal, Rio de J., 3:25-37.
  • Tokarnia C.H., Canella C.F.C, Guimarăes J.A. & Döbereiner J. 1968. Deficięncias de cobre e cobalto em bovinos e ovinos no nordeste e norte do Brasil. Pesq. Agropec. Bras. 3:351-360.
  • Tokarnia C.H., Döbereiner J. & Moraes S.S. 1988. Situaçăo atual e perspectivas da investigaçăo sobre nutriçăo mineral em bovinos no Brasil. Pesq. Vet. Bras. 8(1/2):1-16.
  • Tokarnia C.H., Guimarăes J.A., Canella C.F.C. & Döbereiner J. 1971. Deficięncias de cobre e cobalto em bovinos e ovinos em algumas regiőes do Brasil. Pesq. Agropec. Bras., Sér. Vet. 6:61-77.
  • Underwood E.J. 1977. Trace Elements in Human and Animal Nutrition. 4th ed. Academic Press, New York.
  • 1
    Aceito para publicação em 12 de março de 1998.
    2
    Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte, Rodovia BR 262 Km 4, Cx. Postal 154, Campo Grande, MS 79002-970.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Set 1999
    • Data do Fascículo
      Jul 1998

    Histórico

    • Aceito
      12 Mar 1998
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