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Ectoparasitos de animais silvestres no Maranhão

Ectoparasites of wild animals in Maranhão

Resumos

Objetivou-se identificar os ectoparasitos de animais silvestres recepcionados pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres, São Luís, Maranhão. Os ectopararasitos identificados foram: piolhos Acidoproctus sp., Trinoton sp., Ciconiphilus sp, Austromenopon sp., Quadraceps sp., Saemundssonia sp. e Trichodectes canis; carrapato Amblyomma rotundatum e Rhipicephalus sanguineus; pulgas Ctenocephalides felis e larvas de Cochliomyia hominivorax. Os resultados apresentados documentam a infestação de mamíferos, répteis e aves silvestres por ectoparasitos.

Animais silvestres; ectoparasitos; Maranhão


The objective of this study was to identify the ectoparasites of wild animals received by the Center of Wild Animals of São Luís, Maranhão, Brazil. The ectoparasites identified were: the lice Acidoproctus sp., Trinoton sp., Ciconiphilus sp., Austromenopon sp., Quadraceps sp., Saemundssonia sp., and Trichodectes canis; the ticks Amblyomma rotundatum and Rhipicephalus sanguineus; the fleas Ctenocephalides felis, and larvae of Cochliomyia hominivorax. The data presented register the infestation of wild mammals, reptiles and birds by ectoparasites.

Wild animals; ectoparasites; Maranhão


ANIMAIS SELVAGENS

Ectoparasitos de animais silvestres no Maranhão

Ectoparasites of wild animals in Maranhão

Mayra A P FigueiredoI; Ana Clara G SantosII; Rita de Maria S N C GuerraII,* * Autor para correspondência: grita62@hotmail.com.

IBolsista PIBIC/CNPq, Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Cidade Universitária Paulo VI, Caixa Postal 09, Bairro Tirirical, São Luis, MA 65055-970, Brasil

IIDepartamento de Patologia, Curso de Medicina Veterinária, UEMA, São Luis, MA

RESUMO

Objetivou-se identificar os ectoparasitos de animais silvestres recepcionados pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres, São Luís, Maranhão. Os ectopararasitos identificados foram: piolhos Acidoproctus sp., Trinoton sp., Ciconiphilus sp, Austromenopon sp., Quadraceps sp., Saemundssonia sp. e Trichodectes canis; carrapato Amblyomma rotundatum e Rhipicephalus sanguineus; pulgas Ctenocephalides felis e larvas de Cochliomyia hominivorax. Os resultados apresentados documentam a infestação de mamíferos, répteis e aves silvestres por ectoparasitos.

Termos de indexação: Animais silvestres, ectoparasitos, Maranhão.

ABSTRACT

The objective of this study was to identify the ectoparasites of wild animals received by the Center of Wild Animals of São Luís, Maranhão, Brazil. The ectoparasites identified were: the lice Acidoproctus sp., Trinoton sp., Ciconiphilus sp., Austromenopon sp., Quadraceps sp., Saemundssonia sp., and Trichodectes canis; the ticks Amblyomma rotundatum and Rhipicephalus sanguineus; the fleas Ctenocephalides felis, and larvae of Cochliomyia hominivorax. The data presented register the infestation of wild mammals, reptiles and birds by ectoparasites.

Index terms: Wild animals, ectoparasites, Maranhão

INTRODUÇÃO

O Brasil é um dos seis países com maior diversidade biológica do mundo, com estimativas de dois milhões de espécies e aproximadamente duzentas mil catalogadas (Lewinsohn & Prado 2002). Gerenciar este patrimônio biológico requer o estabelecimento de estratégias, planos e programas que assegurem a utilização sustentável dos recursos naturais (Dias 2001).

Diante dessa conjuntura tem se intensificado as pesquisas sobre a fauna silvestre no Brasil, para tentar amenizar o desequilíbrio ecológico causado pela retirada histórica desses animais do hábitat natural. Os Centros de Triagens, os zoológicos e os criadouros são locais importantes para as pesquisas sobre animais silvestres em situação de cativeiro, principalmente a pesquisa clínica e laboratorial. Possibilitam conhecer as condições que podem tornar parasitos naturais em patogênicos, quando os animais estão sob o estresse do cativeiro (Arrojo 2002), evitando o óbito dos animais por doenças com agente e tratamento conhecidos (Catão-Dias 2003).

Dessa forma, o estudo das doenças parasitárias e da interação parasito-hospedeiro de animais silvestres cativos e de vida livre é uma ferramenta importante para auxiliar nos programas de conservação e preservação, prevenindo impactos negativos sobre a biodiversidade e a saúde pública (Catão-Dias 2003). A relevância da pesquisa da fauna parasitária é reconhecida e exigida em protocolos de reintrodução (UICN 1998, FELASA 1999) e na rotina clínica de animais silvestres.

O objetivo desse trabalho foi identificar os ectoparasitos dos animais silvestres recepcionados pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) de São Luís, Maranhão.

MATERIAL E MÉTODOS

O CETAS localiza-se no Bairro da Maiobinha, São Luís, Maranhão, recebe animais apreendidos pela Polícia Florestal, Bombeiros e da população. Por existir apenas esse centro no estado, atualmente exercer a função de centro de manejo e de triagem dos animais silvestres. As coletas de amostras ocorreram quando da admissão dos animais no CETAS. Os animais foram inspecionados no período de agosto de 2006 a julho de 2008 para pesquisa de ectoparasitos.

Para a coleta dos ectoparasitos, os animais eram inspecionados manualmente e visualmente e os espécimes coletados acondicionados em frascos com álcool a 70ºGL e encaminhados ao Laboratório de Parasitologia Veterinária do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Estadual do Maranhão para triagem, processamento e identificação. Em casos suspeitos de sarna e de otite parasitária realizaram-se raspados de pele e swabs de ouvido, respectivamente, para pesquisa de ácaros. A identificação dos artrópodes foi realizada com chaves propostas por Aragão & Fonseca (1961), Furman & Catts (1970), Linard & Guimarães (2000) e Price et al. (2003).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados encontram-se sumarizados no Quadro 1.


Jibóias (Boa constrictor) e iguanas (Iguana iguana) estavam infestadas por carrapatos adultos da espécie Amblyomma rotundatum, ectoparasito já identificado em outros répteis no Maranhão (Guerra et al. 2000). A literatura cita diversos hospedeiros heterotérmicos para esse carrapato (Teixeira et al. 2003, Dantas-Torres et al. 2005).

Detectou-se parasitismo por piolhos da espécie Trichodectes canis em raposinha (Cerdocyon thous) e em quati (Nasua nasua). Resultados semelhantes aos obtidos por Dominguez (2003) na Espanha que identificou em canídeos silvestres de vida livre esta espécie de piolho.

As pulgas da espécie Ctenocephalides felis foram identificada em quati. No Brasil este pulicídeo já foi registrado em quatis por Linard & Guimarães (2000) e Rodrigues et al. (2006), estes últimos autores assinalam também o parasitismo por Rhopalopsyllus lutzi lutzi, comentam ainda que os quatis podem manter espécies de ectoparasitos e intercambiá-los entre os ambientes rural e urbano, considerando que sua amostragem foi proveniente de um fragmento de mata na área urbana.

Em furão (Galictis cuja) identificaram-se adultos Rhipicephalus sanguineus e em tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) larvas Amblyomma sp. Labruna et al. (2002) relataram o encontro de Amblyomma cajennense em nove hospedeiros, Mymercophaga tridactyla, Tamandua tetradactyla, Puma concolor, Cerdocyon thous, Tayassu tajacu, Mazana gouazoubira, Hydrochaeris hydrochaeris, Alouatta caraya e Cebus apella. Torres-Mejia & Fuente (2006) também identificaram Amblyomma sp. em T. tetradactyla na Colômbia, confirmando a polixevia deste gênero.

Larvas de terceiro estádio do díptero Cochliomyia hominivorax foram identificadas em lesão cutânea de furão. Este achado comprova que os animais silvestres também estão expostos as miíases.

As aves são freqüentemente parasitadas por piolhos. Fato que pode ser observado no presente estudo onde se constatou em trinta-réis-real (Thalasseus maximus) o parasitismo por Austromenopon sp., Quadraceps sp. e Saemundssonia sp. Resultados semelhantes foram obtidos por González-Acuña et al. (2006), no Chile, ao identificarem espécies dos gêneros Quadraceps e Saemundssonia em aves da ordem Charadriiformes, família Laridae, mesma classe taxonômica de T. maximus. Espécies dos gêneros Austromenopon e Quadraceps são comumente registradas parasitando membros da família Laridae (González-Acuña et al. 2006).

Em irerê (Dendrocygna viduata) e marreca cabocla (Dendrocygna autumnalis) verificou-se o parasitismo por piolhos do gênero Acidoproctus Segundo Arnold (2006) o gênero Acidoproctus é freqüentemente encontrado em aves da ordem Anseriformes (famílias Anatidae e Anseranatidae), embora Brum et al. (2005) não tenham registrado este gênero nas aves anseriformes da família Anatidae (Netta peposaca e Cygnus melancoryphus) amostradas no Rio Grande do Sul, posteriormente a espécie Acidoproctus fuligulae foi assinalada neste estado por Paulsen & Brum (2007), indicando de estudos desta natureza devem ser contínuos objetivando verificar as associações parasitárias. Valim et al. (2005) registram por primeira vez no Brasil parasitismo em Dendrocygna bicolor por Acidoproctus rostratus.

Em socozinho (Butorides striatus) identificou-se o gênero Ciconiphilus, este gênero contem espécies de piolhos cuja distribuição está limitada a determinados hospedeiros das ordens Ciciniformes e Anseriorformes. Silva et al.(2009) registraram o encontro de Ciconiphilus pectiniventris em Cygnus atratus (Anseriformes, Anatidae) e Price & Graham (1997) relatam que várias espécies de aves das ordens Ciconiformes e Anseriformes são hospedeiros desta espécie de piolho.O gênero Trinoton foi identificado em sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris) e irerê, e o díptero Hippoboscidae Pseudolynchia sp. em socozinho.

Segundo Valim et al. (2005), a análise de malófagos provenientes de aves apreendidas ou cativas poderá fornecer subsídios que permitam compreender a fauna de piolhos no Brasil, especialmente considerando-se a dificuldade de amostrar animais de vida livre.

A pesquisa de microscopia de pele e os swabs de ouvidos foram negativos para todos os felinos amostrados, assim como para os macacos-pregos, sagüis dos tufos brancos e raposinhas.

Estudos desta natureza contribuem para o conhecimento da fauna parasitária de animais silvestres ao tempo em que permitem estabelecer novas áreas de ocorrência e distribuição geográfica de ectoparasitos, especialmente em locais pouco estudados como o estado do Maranhão. De igual forma oportunizam conhecer os potenciais vetores de zoonoses.

Recebido em 19 de março de 2010.

Aceito para publicação em 20 de setembro de 2010.

Departamento de Patologia, Curso de Medicina Veterinária, Universidade Estadual do Maranhão, Cidade Universitária Paulo VI, Tirirical, São Luis, MA 65055-970, Brazil. E-mail: grita62@hotmail.com

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  • *
    Autor para correspondência:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Jan 2011
    • Data do Fascículo
      Nov 2010

    Histórico

    • Recebido
      19 Mar 2010
    • Aceito
      20 Set 2010
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