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Efeitos de herbicidas no consórcio de milho com Brachiaria brizantha

Effects of herbicides on corn and Brachiaria brizantha intercropping

Resumos

A eficiência de herbicidas aplicados em pós-emergência foi avaliada para o controle de plantas daninhas no consórcio de milho com Brachiaria brizantha e verificando seus efeitos sobre as espécies consorciadas. Os tratamentos foram representados pelos herbicidas atrazine (1.500 g ha-1), foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + atrazine (15 + 1 + 1.500 e 30 + 2 + 1.500 g ha-1), foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium (45 + 3 g ha¹), nicosulfuron + atrazine (2 + 1.500; 4 + 1.500; 8 + 1.500; 12 + 1.500 g ha-1) mais a testemunha capinada (milho solteiro) e sem capina, arranjados em blocos ao acaso, com três repetições. Foram avaliados a porcentagem de controle de Digitaria horizontalis e de espécies do gênero Ipomoea, a toxicidade à cultura do milho, a cobertura vegetal do solo, o estado nutricional e a produtividade do milho e da forrageira. Verificou-se que para D. horizontalis os herbicidas foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + atrazine, foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + espalhante e nicosulfuron + atrazine nas duas maiores doses proporcionaram controle semelhante (acima de 70%) aos 28 dias após a aplicação (DAA). Para Ipomoea spp. houve diferença dos tratamentos apenas em relação à testemunha sem capina. Foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + espalhante mostrou-se tóxico ao milho até 28 DAA, enquanto para B. brizantha somente o atrazine não causou dano. Leituras correspondentes ao teor de clorofila total, N, K e a produtividade do milho foram inferiores na testemunha sem capina e no tratamento com atrazine, sendo os demais não influenciados pelos herbicidas. Ao contrário, no período de convivência com o milho, depois da colheita deste e após período de pastejo, B. brizantha foi mais produtiva nos tratamentos em que foi aplicado atrazine e na testemunha sem capina, apresentando menor desenvolvimento nas maiores doses das sulfoniluréias.

atrazine; planta daninha; sulfoniluréias


The objective of this study was to evaluate the efficiency of herbicides applied in post-emergence on weeds and corn - Brachiaria brizantha intercropping. The treatments were applications of atrazine (1.500 g ha-1), foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + atrazine (15 + 1 + 1.500 and 30 + 2 + 1.500 g ha-1) foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium (45 + 3 g ha-1), nicosulfuron + atrazine (2 + 1.500; 4 + 1.500; 8 + 1.500; 12 + 1.500 g ha-1), besides the weeded corn and intercropping without weeding, arranged in randomized blocks, with three replications. Digitaria horizontalis and Ipomoea spp. control percentage, maize crop toxicity degree, soil plant cover, nutritional state, and maize and forage yields were evaluated. It was verified that the herbicides foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + atrazine, foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + sulfactant, and nicosulfuron + atrazine applied at the two highest doses provided a similar control percentage (above 70%) at 28 days after application (DAA) of herbicides for D. horizontalis. For Ipomoea spp., a difference in the treatments was found only in relation to the control without weeding. Foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + sulfactant proved toxic for corn up to 28 DAA, while only atrazine proved not harmful for B. brizantha. Readings corresponding to total chlorophyll, N, and K contents and corn yield were lower in the control without weeding and atrazine treatment. The others were not influenced by the use of the herbicides. On the other hand, B. brizantha was more productive in the treatments and control without weeding, presenting a reduced development under the highest sulfonylurea doses during the intercropping with corn, after harvest and pasture.

atrazine; weeds; sulfonylurea


ARTIGOS

Efeitos de herbicidas no consórcio de milho com Brachiaria brizantha

Effects of herbicides on corn and Brachiaria brizantha intercropping

Jakelaitis, A.I; Silva, A.A.II; Ferreira, L.R.II; Silva, A.F.III; Pereira, J.L.III; Viana, R.G.IV

IDoutorando, Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa – UFV, 36571-000, Viçosa-MG

IIProf.do Departamento de Fitotecnia – UFV

IIIBolsista de iniciação científica

IVMestrando, Departamento de Fitotecnia – UFV

RESUMO

A eficiência de herbicidas aplicados em pós-emergência foi avaliada para o controle de plantas daninhas no consórcio de milho com Brachiaria brizantha e verificando seus efeitos sobre as espécies consorciadas. Os tratamentos foram representados pelos herbicidas atrazine (1.500 g ha-1), foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + atrazine (15 + 1 + 1.500 e 30 + 2 + 1.500 g ha-1), foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium (45 + 3 g ha1), nicosulfuron + atrazine (2 + 1.500; 4 + 1.500; 8 + 1.500; 12 + 1.500 g ha-1) mais a testemunha capinada (milho solteiro) e sem capina, arranjados em blocos ao acaso, com três repetições. Foram avaliados a porcentagem de controle de Digitaria horizontalis e de espécies do gênero Ipomoea, a toxicidade à cultura do milho, a cobertura vegetal do solo, o estado nutricional e a produtividade do milho e da forrageira. Verificou-se que para D. horizontalis os herbicidas foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + atrazine, foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + espalhante e nicosulfuron + atrazine nas duas maiores doses proporcionaram controle semelhante (acima de 70%) aos 28 dias após a aplicação (DAA). Para Ipomoea spp. houve diferença dos tratamentos apenas em relação à testemunha sem capina. Foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + espalhante mostrou-se tóxico ao milho até 28 DAA, enquanto para B. brizantha somente o atrazine não causou dano. Leituras correspondentes ao teor de clorofila total, N, K e a produtividade do milho foram inferiores na testemunha sem capina e no tratamento com atrazine, sendo os demais não influenciados pelos herbicidas. Ao contrário, no período de convivência com o milho, depois da colheita deste e após período de pastejo, B. brizantha foi mais produtiva nos tratamentos em que foi aplicado atrazine e na testemunha sem capina, apresentando menor desenvolvimento nas maiores doses das sulfoniluréias.

Palavras-chave: atrazine, planta daninha, sulfoniluréias.

ABSTRACT

The objective of this study was to evaluate the efficiency of herbicides applied in post-emergence on weeds and corn - Brachiaria brizantha intercropping. The treatments were applications of atrazine (1.500 g ha-1), foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + atrazine (15 + 1 + 1.500 and 30 + 2 + 1.500 g ha-1) foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium (45 + 3 g ha-1), nicosulfuron + atrazine (2 + 1.500; 4 + 1.500; 8 + 1.500; 12 + 1.500 g ha-1), besides the weeded corn and intercropping without weeding, arranged in randomized blocks, with three replications. Digitaria horizontalis and Ipomoea spp. control percentage, maize crop toxicity degree, soil plant cover, nutritional state, and maize and forage yields were evaluated. It was verified that the herbicides foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + atrazine, foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + sulfactant, and nicosulfuron + atrazine applied at the two highest doses provided a similar control percentage (above 70%) at 28 days after application (DAA) of herbicides for D. horizontalis. For Ipomoea spp., a difference in the treatments was found only in relation to the control without weeding. Foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + sulfactant proved toxic for corn up to 28 DAA, while only atrazine proved not harmful for B. brizantha. Readings corresponding to total chlorophyll, N, and K contents and corn yield were lower in the control without weeding and atrazine treatment. The others were not influenced by the use of the herbicides. On the other hand, B. brizantha was more productive in the treatments and control without weeding, presenting a reduced development under the highest sulfonylurea doses during the intercropping with corn, after harvest and pasture.

Key words: atrazine, weeds, sulfonylurea.

INTRODUÇÃO

O milho ocupa posição de destaque na economia brasileira em decorrência da área cultivada e do volume produzido, atingindo aproximadamente 13 milhões de hectares cultivados, com produção aproximada de 36 milhões de toneladas por ano (Agrianual, 2002). No entanto, um dos fatores que comprometem seu rendimento é a interferência exercida pelas plantas daninhas. As perdas ocasionadas pela competição com espécies daninhas podem variar de 10 a mais de 80% em função da espécie competidora, do grau de infestação, do período de convivência, bem como do estádio de desenvolvimento da cultura e das condições climáticas reinantes durante a convivência (Silva et al., 2002).

Dentre os fatores que influenciam a interferência destaca-se o período em que a população de plantas daninhas está competindo pelos recursos do ambiente com a cultura, no qual se torna necessário o uso de medidas de controle para reduzir os efeitos negativos dessa interferência (Silva et al., 2002). Dentre estas, o controle químico tem se destacado, pela eficiência no controle das plantas daninhas, rapidez na operação e economia nos custos, quando comparados com outros métodos. Todavia, a eficácia dos herbicidas é variável entre si, dependendo das condições ambientais, da época de aplicação e da espécie daninha a ser controlada (Merotto Jr. et al., 1997).

Dentre os herbicidas aplicados em pós-emergência das plantas daninhas na cultura do milho, merecem destaque o atrazine e alguns herbicidas do grupo químico das sulfoniluréias, como o nicosulfuron, foramsulfuron e iodosulfuron methyl sodium (Zagonel, 2002). O atrazine, pertencente ao grupo químico das triazinas, é inibidor da fotossíntese e controla espécies daninhas dicotiledôneas e algumas gramíneas anuais, podendo ser aplicado em pré e pós-emergência das plantas daninhas (Rodrigues & Almeida, 1998). A seletividade do milho a este herbicida é dada pela hidroxilação enzimática do atrazine a hidroxitriazinas, por ação de benzoxazinonas (Silva et al., 2002).

As sulfoniluréias atuam sobre a acetolactato sintase (ALS), na qual catalisa a primeira reação na biossíntese de aminoácidos ramificados, valina, leucina e isoleucina (Anderson et al., 1998). Seus sintomas, em plantas sensíveis, são caracterizados por clorose foliar, necrose e redução do crescimento. A seletividade das plantas a sulfoniluréias é conferida pelas diferentes taxas de metabolização e pela velocidade de absorção e translocação. Espécies tolerantes metabolizam rapidamente estes herbicidas, transformando-os em formas inativas por meio do sistema citocromo P450 monoxigenase, em reações de hidroxilação e glicosilação (Brow, 1990; Fonne-Pfister et al., 1990). Dos herbicidas deste grupo químico, o nicosulfuron é utilizado principalmente em aplicações em pós-emergência, com enfoque no controle de gramíneas e algumas espécies dicotiledôneas (Rodrigues & Almeida, 1998). Já o foramsulfuron atua principalmente sobre gramíneas, e o iodosulfuron methyl sodium, sobre espécies de folhas largas, estando, assim, disponível no mercado como mistura pronta para a cultura do milho (Franco, 2002).

A espécie Brachiaria brizantha é considerada excelente forrageira tropical e tem sido utilizada no sistema de integração agricultura-pecuária, principalmente em sistemas de rotação, ou na implantação de cultivos consorciados com culturas anuais, visando a diversificação da produção agropecuária, com a formação de pastagens para pecuária extensiva e/ou a formação de palhada. No consórcio de B. brizantha com milho, Portes et al. (2000) verificaram que a competição e o sombreamento exercidos pelo milho afetaram o crescimento, o perfilhamento e o rendimento forrageiro de B. brizantha até a colheita do milho. Todavia, Cobucci (2001) relata que, em vários ensaios sobre o consórcio de B. brizantha com o milho, a presença da forrageira não afetou essa cultura; em outros ensaios, foi necessário o uso do herbicida nicosulfuron em subdoses para reduzir o crescimento da forrageira e, com isso, garantir o bom rendimento da cultura. No entanto, plântulas de espécies do gênero Brachiaria são consideradas suscetíveis em aplicações pós-iniciais de herbicidas do grupo químico das sulfoniluréias nas doses comerciais recomendadas (Lorenzi, 2000). Assim, objetivou-se neste trabalho avaliar a eficiência dos herbicidas aplicados em pós-emergência para o controle de plantas daninhas no consórcio de milho com B. brizantha e também os seus efeitos sobre estas espécies em consórcio.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado de novembro de 2002 a outubro de 2003 em um Argissolo Vermelho-Amarelo cultivado há seis anos no sistema de plantio direto com a cultura do milho. A análise química deste solo revelou pH em água de 5,6; CTC (T), soma de bases, H +Al, Ca e Mg de 8,17; 3,96; 4,21; 2,8; e 1,1 cmolc dm-3 , respectivamente; P e K de 66,6 e 123 mg dm-3, respectivamente, e 1,49 dag kg-1 de matéria orgânica. A vegetação de plantas daninhas presentes na área antes da semeadura das culturas foi dessecada com a mistura de tanque de glyphosate + 2,4-D (1,44 kg ha-1 + 0,335 kg ha-1, respectivamente). Os dados referentes à precipitação pluvial e temperatura coletados durante a condução do experimento estão apresentados na Figura 1.


A semeadura do milho (AGN 3180) foi feita em novembro de 2002, com semeadora mecânica, sobre a vegetação dessecada, sendo utilizadas sete sementes por metro linear de fileira. A adubação utilizada foi de 300 kg ha-1 da formulação 8-28-16 no plantio e 70 kg ha-1 de nitrogênio, aplicados em cobertura aos 20 dias após a emergência. Brachiaria brizantha foi semeada com equipamento de tração animal após a semeadura do milho, sendo usados aproximadamente 3 kg ha-1 de sementes viáveis com valor cultural de 76%, no espaçamento de 0,45 m entre fileiras, correspondendo a duas destas na entrelinha do milho.

O delineamento experimental utilizado foi o de blocos completos ao acaso, com três repetições. As parcelas experimentais foram constituídas de cinco fileiras espaçadas de 0,9 por 6,0 m de comprimento, perfazendo uma área total de 27 m2, sendo as avaliações realizadas em duas fileiras centrais. As fileiras laterais foram utilizadas como bordadura externa. A população de plantas daninhas que antecedeu a aplicação dos tratamentos foi composta principalmente por Digitaria horizontalis e espécies do gênero Ipomoea. Os tratamentos constaram da aplicação dos herbicidas atrazine (1.500 g ha-1), foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + atrazine (15+1+1.500 e 30+2+1.500 g ha-1), foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium (45+3 g ha-1), nicosulfuron + atrazine (2+1.500; 4+1.500; 8+1.500; 12+1.500 g ha-1) mais a testemunha capinada, representada pelo milho solteiro, e a testemunha sem capina.

As pulverizações foram feitas com um pulverizador costal pressurizado com CO2, mantendo a pressão constante de 3,0 kgf cm-2, equipado com quatro bicos Teejet da série 110.02, espaçados de 0,5 m e calibrados para aplicar o equivalente a 200 L ha-1 de calda. As aplicações dos tratamentos foram efetuadas aos 25 dias após a emergência (DAE) das plantas de milho, quando as plantas daninhas dicotiledôneas apresentavam em média duas a quatro folhas e as monocotiledôneas iniciavam o seu perfilhamento. As condições no momento da aplicação foram de céu claro, solo úmido, velocidade do vento inferior a 5 km h1, temperatura e umidade relativa do ar de 28 ºC e 85%, respectivamente.

As avaliações visuais foram realizadas aos 7, 14 e 28 dias após aplicação dos tratamentos (DAA), estimando a toxicidade dos herbicidas ao milho, a cobertura vegetal das parcelas pelas plantas daninhas e pela braquiária e o controle das plantas daninhas. B. brizantha, por ser uma espécie sensível às sulfoniluréias nas doses comerciais recomendadas, também foi estimada quanto à porcentagem de controle. A toxicidade foi avaliada atribuindo-se notas variando de zero a 100%, em que zero indicou ausência de toxicidade e 100% a morte das plantas de milho. Da mesma forma, o controle foi avaliado atribuindo-se notas de zero (ausência de controle) a 100% (morte das plantas); para a porcentagem de cobertura, o valor de 100% correspondeu à cobertura vegetal total das parcelas pela braquiária e pelas plantas daninhas.

No florescimento do milho foram avaliados os teores de clorofila na folha, medidos com o clorofilômetro (SPAD modelo Minolta), e os teores de macronutrientres (N, P, K, Ca e Mg). As leituras efetuadas com o medidor de clorofila foram feitas na folha-índice (primeira abaixo da espiga), em dois pontos situados na parte central da folha e a dois centímetros da margem, em dez plantas ao acaso por parcela. As folhas em que foram realizadas as leituras foram coletadas, secadas em estufa de ventilação forçada a 70 ºC até atingir massa constante e posteriormente moídas. Parte desse material foi submetida a digestão sulfúrica, sendo o teor de N orgânico dosado com reagente de Nessler (Jackson, 1958). Outra parte do material foi submetida à digestão nítrico-perclórica, sendo posteriormente determinado o K, por fotometria de chama; Ca e Mg, por espectrofotometria de absorção atômica; e o P, em espectrofotômetro, pelo método da vitamina C modificado (Braga & Deffelipo, 1974).

O milho foi colhido mecanicamente em março de 2003, e nessa ocasião foi determinado o estande, a porcentagem de plantas de milho "enroladas" com Ipomoea spp. e o rendimento de grãos corrigido para 13% de umidade. Aos 70 dias após a colheita a área foi submetida a pastejo contínuo, com 2,0 unidades animal (UA) ha-1 até o início de setembro de 2003, correspondendo à época de recuperação da forrageira até o início da estação chuvosa. Após a retirada dos animais, a área permaneceu em pousio por 40 dias até a dessecação química, para posterior plantio direto da cultura do milho. A quantidade de forragem produzida foi avaliada em 1 m² de parcela na época de colheita do milho, 50 dias após a colheita e aos 40 dias após o período de pastejo. Todo o material coletado foi levado ao laboratório e secado em estufa de ventilação forçada a 70 ºC por 72 horas, para determinação da biomassa seca.

As análises de variância para porcentagem de controle, cobertura vegetal, fitotoxicidade e produção de forragem foram realizadas individualmente para cada época de avaliação, sendo excluído o tratamento testemunha capinada da análise de variância referente à produção de forragem. Os dados de porcentagem de cobertura e controle foram transformados em arco seno para análise. Após a análise de variância, procedeu-se às comparações das médias, utilizando o teste de agrupamento de Scott e Knott a 5% de probabilidade e a análise de correlação linear simples entre as variáveis estudadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Aos 7 DAA, verificou-se que todos os herbicidas do grupo químico das sulfoniluréias testados provocaram toxicidade às plantas de milho e que os sintomas foram mais intensos à medida que se elevaram as doses e se adicionou espalhante à calda (Tabela 1). Com o crescimento das plantas, aos 28 DAA, os sintomas de toxicidade foram atenuados para a mistura pronta foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + espalhante e desapareceram para a menor dose destes herbicidas, quando aplicados com atrazine, e para os tratamentos que envolveram o uso do nicosulfuron, evidenciando a degradação dos herbicidas por ação do metabolismo da planta.

Moro & Damião Filho (1999) observaram, em plantas de milho após a aplicação do nicosulfuron, alterações morfoanatômicas das folhas com clorose e enrugamento da lâmina foliar e que tais sintomas desaparecem ao longo do ciclo da cultura. Resultados semelhantes quanto à toxicidade destas sulfoniluréias foram obtidos por Zagonel (2002) para o híbrido DKB 214; esse autor constatou que a injúria desapareceu aos 15 DAA dos herbicidas.

A cobertura vegetal das parcelas foi composta principalmente por B. brizantha, que cobriu aproximadamente 70% destas, e pelas espécies daninhas D. horizontalis e Ipomoea spp., que cobriram 18 e 10%, respectivamente. A porcentagem de cobertura foi superior na testemunha sem capina (53,3%) e nas parcelas em que foi aplicado atrazine (25%); os tratamentos com as sulfoniluréias foram estatisticamente iguais, com cobertura máxima de 7,3% aos 7 DAA (Tabela 1). Já aos 28 DAA, a testemunha sem capina apresentou 95% de sua área coberta, seguida pelos tratamentos com atrazine (70%) e pelas menores doses de nicosulfuron (23,3 e 15% para 2 e 4 g ha-1, respectivamente) + atrazine; os demais tratamentos apresentaram, em média, 2% de cobertura das parcelas. A diferença encontrada entre a testemunha sem capina e o tratamento com atrazine deveu-se à infestação com Ipomoea spp.; já a diferença entre as parcelas tratadas com as sulfoniluréias e as demais foi atribuída à ação tóxica sobre as gramíneas.

Quanto ao efeito dos herbicidas sobre Brachiaria brizantha, verificou-se que, aos 7 DAA, os sintomas foram mais intensos nas maiores doses do foramsulfuron e iodosulfuron methyl sodium + espalhante e destas sulfoniluréias (foramsulfuron e iodosulfuron) com atrazine, seguidos posteriormente pela menor dose e pelas maiores doses do nicosulfuron em mistura com atrazine (Tabela 2). Gallaher et al. (1999) observaram, em estudos de absorção, translocação e metabolismo das sulfoniluréias primisulfuron e nicosulfuron em Brachiaria platyphylla, que a maior atividade do nicosulfuron em plantas sensíveis se deve principalmente à sua rápida absorção e translocação para as regiões meristemáticas e que isso contribui para sua maior atividade herbicida, porque a ALS é mais ativa em tecidos em desenvolvimento. Entretanto, maior efeito depressivo foi obtido somente aos 28 DAA para as duas maiores doses das sulfoniluréias, que atingiram avaliação visual de controle superior a 90%, seguidas pelas doses intermediárias de 30+2+1.500 g ha-1 dos herbicidas foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + atrazine e 8+1.500 g ha-1 de nicosulfuron mais atrazine (Tabela 2). Nessa ocasião, para as doses de 15+1+1.500 g ha-1 do foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + atrazine e 2 e 4+1.500 g ha-1 de nicosulfuron + atrazine, verificou-se determinada recuperação da forrageira em relação à avaliação realizada aos 7 DAA; a dose de 2+1.500 g ha-1 de nicosulfuron + atrazine proporcionou a menor eficiência de controle entre as sulfoniluréias. O atrazine isolado não causou efeito sobre B. brizantha, sendo estatisticamente semelhante à testemunha sem capina (Tabela 2).

Para D. horizontalis, observou-se aos 7 DAA comportamento semelhante ao de B. brizantha quanto à eficiência de controle, exceto nas duas menores doses de nicosulfuron + atrazine (Tabela 2). Aos 28 DAA, os tratamentos referentes a 30+2 e 45+3 g ha-1 de foramsulfuron + iodosulfuron, quanto às maiores doses de nicosulfuron + atrazine, foram estatisticamente iguais, apresentando eficiência de controle superior a 75%. Os demais tratamentos herbicidas apresentaram a mesma tendência verificada para B. brizantha, caracterizando um gradiente de controle cuja resposta de ambas as espécies às sulfoniluréias foi proporcional à quantidade do ingrediente ativo aplicado.

No que se refere à infestação de espécies do gênero Ipomoea, não houve diferença significativa entre os herbicidas testados, ocorrendo apenas entre estes e a testemunha sem capina (Tabela 2). Espécies deste gênero, por possuírem hábito de crescimento trepador e caule resistente, são consideradas plantas daninhas que causam dificuldade ou até mesmo impedimento de realização de práticas culturais, como a colheita, mesmo sob infestações moderadas. Assim, os resultados entre os tratamentos herbicidas variaram de 11 a 33% do total de plantas "enroladas" com essas espécies, enquanto na testemunha sem capina esse valor atingiu 65,7%, que praticamente inviabiliza a colheita mecânica. Segundo Deuber & Duarte (1997) e Marcondes et al. (1997), o atrazine aplicado em pós-emergência proporciona excelente controle dessas espécies; todavia, o controle insuficiente proporcionado pelos herbicidas provavelmente ocorreu em virtude da intensidade pluviométrica que atingiu a fase vegetativa da cultura (Figura 1), interferindo na atividade residual dos herbicidas e ocasionando reinfestação após a aplicação destes.

A competição exercida pelas espécies que conviveram com o milho foi mais intensa nos tratamentos representados pela testemunha sem capina e pelo uso isolado de atrazine (Tabela 3). Constatou-se que a redução média das variáveis no florescimento da cultura do milho, comparada às médias dos tratamentos que envolveram o uso das sulfoniluréias e da testemunha capinada, foi de 7,9% para os teores de clorofila total, 11,4% para N orgânico e 10,5% para K, cuja significância foi independente da quantidade e do princípio ativo utilizado. Ao contrário, os teores de P, Ca e Mg não foram influenciados pelos tratamentos empregados; o cálcio e o magnésio permaneceram na faixa considerada adequada para o milho (Malavolta et al., 1989), e o fósforo foi superior, evidenciando o ótimo estado nutricional da cultura, em relação a esses nutrientes (Tabela 3).

A interferência imposta, principalmente por B. brizantha, que foi a espécie dominante, refletiu em reduções na produção de grãos na ordem de 1.439 kg ha-1 (22%) da testemunha sem capina e tratada com atrazine isoladamente, para os tratamentos com sulfoniluréias e para a testemunha capinada (Tabela 4). No caso das sulfoniluréias e da testemunha capinada, a produtividade do milho foi estatisticamente semelhante, embora tenham ocorrido diferenças no controle proporcionado pelos herbicidas desse grupo químico, especialmente para B. brizantha (Tabela 2). No entanto, essas diferenças não foram suficientes para interferir na produtividade de grãos, uma vez que elas foram mais acentuadas aos 14 e aos 28 DAA, época referente ao final do período crítico de interferência (Silva et al., 2002).

Segundo Rocha (2003), o teor de clorofila na folha na época do florescimento correlaciona-se positivamente com o teor de N na planta e com o rendimento de grãos; essa associação refere-se ao fato de que 50 a 70% do N encontrado nas folhas constituem as enzimas que estão associadas aos cloroplastos e à capacidade fotossintética da planta. Dessa forma, foram obtidas correlações positivas e significativas entre a eficiência de controle promovida pelos herbicidas e os teores de clorofila, N e K, evidenciando que tais características foram altamente associadas ao rendimento de grãos (Tabela 5). Por outro lado, verificaram-se correlações negativas e significativas entre o rendimento de grãos e as características da forrageira, como porcentagem de cobertura e biomassa produzida, caracterizando determinado grau de interferência, que foi suprimido pelas sulfoniluréias. Não foi observada correlação linear entre a toxicidade promovida pelos herbicidas e as características avaliadas na cultura do milho (Tabela 5).

O acúmulo de biomassa seca de B. brizantha, em relação aos tratamentos, está indicado na Tabela 4. No cultivo consorciado, a produção de forragem foi superior nos tratamentos com atrazine, na testemunha sem capina e na menor dose da mistura de nicosulfuron + atrazine, sendo estes estatisticamente superiores aos demais tratamentos. Portes et al. (2000), pesquisando o consórcio de B. brizantha cv. Marandu com milho, arroz, milheto e sorgo, constataram que a braquiária sofreu forte competição das culturas, de modo que sua matéria seca total não atingiu 3 t ha1 durante seu ciclo de convivência com as culturas. Nesta pesquisa, com o uso de atrazine e na testemunha sem capina, verificou-se que a produção de forragem atingiu em média 7 t ha-1 e que a infestação de D. horizontalis e Ipomoea spp. não influenciou significativamente o estabelecimento e a produção da forrageira.

Observou-se, na colheita de milho, que a produção de forragem foi linear em relação às doses de nicosulfuron aplicadas; ao se comparar o uso deste herbicida, verificou-se, com a aplicação de 2, 4, 8 e 12 g ha-1 em mistura com atrazine, que houve redução no acréscimo de biomassa seca produzida de 35,4; 49,0; 67,8; e 85,6% em relação à aplicação de atrazine isolado, confirmando o efeito tóxico do nicosulfuron sobre a forrageira, o qual foi potencializado pelo sombreamento causado pelo milho durante o período de convivência. Comportamento semelhante foi observado para foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium, que contribuíram para a redução de ganhos de biomassa seca da forrageira (Tabela 4).

Da mesma forma, após a colheita do milho observou-se maior produção de forragem nos tratamentos com atrazine, na testemunha sem capina e na menor dose de nicosulfuron + atrazine, atingindo, aos 50 DAC, 7,8; 7,2; e 5,6 t ha-1 de forragem produzida (Tabela 4). Entretanto, esperava-se maior ganho de biomassa seca de B. brizantha em decorrência da eliminação da competição exercida pelo milho; contudo, este resultado pode estar relacionado à baixa intensidade pluviométrica que ocorreu no período pós-colheita do milho (Figura 1), juntamente com o período avaliado (meados de maio), quando a temperatura e a luminosidade já não se encontravam apropriadas para o crescimento de espécies C4, como a braquiária.

Após o pastejo, quando a maior parte das folhas de B. brizanha foi consumida pelos animais, verificou-se que o crescimento da forrageira foi reassumido quando as folhas mais novas produzidas passaram a suprir a necessidade da planta e que as diferenças existentes entre os tratamentos foram atenuadas (Tabela 4). Mesmo assim, as maiores doses de nicosulfuron em mistura com atrazine e de foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium + espalhante prolongaram a taxa de recuperação da forrageira após o pastejo.

Em síntese, foi necessário o uso de subdoses das sulfoniluréias em mistura com atrazine, visando manter a eficiência de controle sobre as espécies que conviveram com o milho sem alterar o estado nutricional e o rendimento de grãos da cultura e permitindo, após sua colheita mecânica, a produção de forragem.

LITERATURA CITADA

Recebido para publicação em 3.3.2004 e na forma revisada em 21.4.2005.

Pesquisa financiada com apoio do CNPq.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Maio 2005
  • Data do Fascículo
    Mar 2005

Histórico

  • Aceito
    21 Abr 2005
  • Recebido
    03 Mar 2004
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