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Cultivo consorciado de milho para silagem com Brachiaria brizantha no sistema de plantio convencional

Intercrop of corn for silage with Brachiaria brizantha under conventional tillage system

Resumos

O consórcio de milho para silagem com Brachiaria brizantha cv. MG5 Vitória foi conduzido em diferentes arranjos de semeadura e manejos de plantas daninhas no sistema de plantio convencional, em área com alta infestação de Brachiaria plantaginea (capimmarmelada). Foram avaliados cinco arranjos de semeadura (milho em monocultivo; B. brizantha em monocultivo; duas linhas de B. brizantha na entrelinha do milho, em semeadura simultânea; e B. brizantha a lanço no dia da semeadura do milho e 30 dias após), com dois manejos de plantas daninhas (1,50 kg ha-1 de atrazine aplicado isoladamente e a mistura no tanque de 1,50 kg ha-1 de atrazine com 4,00 g ha-1 de nicosulfuron), mais quatro testemunhas (milho e B. brizantha em monocultivo, com e sem capina), arranjados em blocos ao acaso, com quatro repetições, em parcelas subdivididas, sendo os arranjos de semeadura colocados nas parcelas e os sistemas de manejo nas subparcelas. A aplicação dos herbicidas foi realizada aos 18 dias após a emergência do milho. A produtividade de milho para silagem não foi influenciada pelos arranjos de semeadura, sendo superior nos tratamentos com atrazine + nicosulfuron e na testemunha capinada, devido à eficiência no manejo de B. plantaginea. Houve menor produção de biomassa de B. brizantha em todos os tratamentos em relação à testemunha capinada, em conseqüência da competição proporcionada por B. plantaginea e/ou milho. A produção forrageira de B. brizantha foi maior nos tratamentos com a aplicação da mistura de herbicidas atrazine + nicosulfuron, em relação à aplicação isolada do atrazine. O arranjo de semeadura, em consorciação, que promoveu maior produção de biomassa seca de B. brizantha foi o de duas linhas na entrelinha do milho, em semeadura simultânea.

competição; nicosulfuron; arranjo de semeadura; pastagem


The intercrop of corn for silage with Brachiaria brizantha was evaluated in sowing arrangements associated with weed management, under conventional tillage, in an area highly infested with Brachiaria plantaginea. The treatments consisted of five sowing arrangements (corn alone; B. brizantha alone; two lines of B. brizantha in between lines of corn, simultaneously planted; B. brizantha planted by throwing on the day corn was sown and 30 days after), two weed managements (1.50 kg ha-1 of atrazine applied alone and in combination of 1.50 kg ha-1 atrazine with 4.00 g ha-1 nicosulfuron), besides four controls (corn and B. brizantha alone, with and without weeding), arranged in a randomized complete block design, in split plot, with four repetitions. Herbicide application was performed 18 days after corn emergence. Thirty days after herbicide application and corn harvest for silage, dry biomass of weeds and B. brizantha was estimated. Sixty days after harvest, a new estimate of dry biomass of B. brizantha was performed. Corn production for silage was not affected by the sowing arrangements, being higher in the treatments with atrazine+nicosulfuron and in the weeding controls. The dry biomass of B. brizantha was higher in treatments with atrazine+nicosulfuron, in relation to application of atrazine alone, due to competition of Brachiaria plantaginea and/or corn. Two B. brizantha lines in between lines of corn simultaneously planted, promoted the highest dry biomass production of B. Brizantha.

competition; nicosulfuron; sowing arrangement; pasture


ARTIGOS

Cultivo consorciado de milho para silagem com Brachiaria brizantha no sistema de plantio convencional

Intercrop of corn for silage with Brachiaria brizantha under conventional tillage system

Freitas, F.C.L.I; Ferreira, F.A.II; Ferreira, L.R.II; Santos, M.V.III; AGNES, E.L.II

IPós-Graduando, D.S., do Dep. de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa – UFV, bolsista do CNPq_Brasil, 36570-000 Viçosa-MG

IIProf. do Dep. de Fitotecnia da UFV

IIIPós-Graduando, M.S., do Dep. de Fitotecnia da UFV

RESUMO

O consórcio de milho para silagem com Brachiaria brizantha cv. MG5 Vitória foi conduzido em diferentes arranjos de semeadura e manejos de plantas daninhas no sistema de plantio convencional, em área com alta infestação de Brachiaria plantaginea (capimmarmelada). Foram avaliados cinco arranjos de semeadura (milho em monocultivo; B. brizantha em monocultivo; duas linhas de B. brizantha na entrelinha do milho, em semeadura simultânea; e B. brizantha a lanço no dia da semeadura do milho e 30 dias após), com dois manejos de plantas daninhas (1,50 kg ha-1 de atrazine aplicado isoladamente e a mistura no tanque de 1,50 kg ha-1 de atrazine com 4,00 g ha-1 de nicosulfuron), mais quatro testemunhas (milho e B. brizantha em monocultivo, com e sem capina), arranjados em blocos ao acaso, com quatro repetições, em parcelas subdivididas, sendo os arranjos de semeadura colocados nas parcelas e os sistemas de manejo nas subparcelas. A aplicação dos herbicidas foi realizada aos 18 dias após a emergência do milho. A produtividade de milho para silagem não foi influenciada pelos arranjos de semeadura, sendo superior nos tratamentos com atrazine + nicosulfuron e na testemunha capinada, devido à eficiência no manejo de B. plantaginea. Houve menor produção de biomassa de B. brizantha em todos os tratamentos em relação à testemunha capinada, em conseqüência da competição proporcionada por B. plantaginea e/ou milho. A produção forrageira de B. brizantha foi maior nos tratamentos com a aplicação da mistura de herbicidas atrazine + nicosulfuron, em relação à aplicação isolada do atrazine. O arranjo de semeadura, em consorciação, que promoveu maior produção de biomassa seca de B. brizantha foi o de duas linhas na entrelinha do milho, em semeadura simultânea.

Palavras-chave: competição, nicosulfuron, arranjo de semeadura, pastagem.

ABSTRACT

The intercrop of corn for silage with Brachiaria brizantha was evaluated in sowing arrangements associated with weed management, under conventional tillage, in an area highly infested with Brachiaria plantaginea. The treatments consisted of five sowing arrangements (corn alone; B. brizantha alone; two lines of B. brizantha in between lines of corn, simultaneously planted; B. brizantha planted by throwing on the day corn was sown and 30 days after), two weed managements (1.50 kg ha-1 of atrazine applied alone and in combination of 1.50 kg ha-1 atrazine with 4.00 g ha-1 nicosulfuron), besides four controls (corn and B. brizantha alone, with and without weeding), arranged in a randomized complete block design, in split plot, with four repetitions. Herbicide application was performed 18 days after corn emergence. Thirty days after herbicide application and corn harvest for silage, dry biomass of weeds and B. brizantha was estimated. Sixty days after harvest, a new estimate of dry biomass of B. brizantha was performed. Corn production for silage was not affected by the sowing arrangements, being higher in the treatments with atrazine+nicosulfuron and in the weeding controls. The dry biomass of B. brizantha was higher in treatments with atrazine+nicosulfuron, in relation to application of atrazine alone, due to competition of Brachiaria plantaginea and/or corn. Two B. brizantha lines in between lines of corn simultaneously planted, promoted the highest dry biomass production of B. Brizantha.

Key words: competition, nicosulfuron, sowing arrangement, pasture.

INTRODUÇÃO

A pecuária brasileira caracteriza-se pela grande dependência de pastagens, que, em sua maior parte, se encontram em processo de degradação, com perda de potencial produtivo. Segundo Macedo et al. (2000), estima-se que 80% dos quase 60 milhões de hectares das áreas de pastagens na região de cerrados apresentem algum estágio de degradação. No entanto, mesmo bem manejadas, as pastagens caracterizam-se pela produção sazonal, com escassez e qualidade ruim na época seca do ano, sendo a silagem de milho ou sorgo a alternativa mais usada pelos produtores para suprir essa deficiência.

O plantio de forrageiras, para pastejo, consorciadas com culturas anuais tem se mostrado uma técnica eficiente e economicamente viável como método de recuperação e renovação de pastagens. Nesse caso, é feito o plantio simultâneo das sementes da cultura anual e da forrageira, ou aproveita-se o potencial das sementes da forrageira existente no solo. Após a colheita da cultura, tem-se o pasto formado (Kichel et al., 1999). Várias culturas anuais têm sido usadas, porém tem-se preferido o milho, devido à sua tradição de cultivo, ao grande número de cultivares comerciais adaptados às diferentes regiões ecológicas do Brasil e à sua excelente adaptação quando plantado em consórcio (Silva et al., 2004), podendo ser destinado à produção de grãos ou silagem.

O cultivo do milho para silagem, consorciado com forrageiras, além de reduzir a compactação do solo, em razão da maior cobertura deste no momento da remoção da silagem e da ação de seu sistema radicular – restabelecendo as características físicas, alteradas em conseqüência do intenso trânsito de máquinas na colheita e no transporte do milho para silagem –, proporciona, ainda, pastagem para o período seco e/ou palhada para o cultivo seguinte (Agnes et al., 2004).

Determinadas plantas são mais competitivas por utilizarem um recurso rapidamente ou por continuarem a crescer mesmo com baixos níveis do recurso no ambiente (Radosevich et al., 1997). Segundo Silva et al. (2004), o milho é considerado um ótimo competidor com plantas de menor porte, como é o caso das braquiárias. Estes autores verificaram expressiva vantagem no desenvolvimento do milho sobre Brachiaria brizantha, evidenciada pela maior taxa de matéria seca produzida nas primeiras quinzenas após emergência.

Um dos fatores que comprometem o rendimento do milho e a qualidade da produção é a interferência exercida pelas plantas daninhas. Dentre os fatores que influenciam a interferência, destaca-se o período em que a população de plantas daninhas está competindo com a cultura pelos recursos do ambiente. Nesse período, é necessário o uso de medidas de controle para evitar que a interferência prejudique a produtividade das culturas (Silva et al., 2002). Dentre essas medidas, o controle químico tem se destacado, pela eficiência no controle das plantas daninhas, rapidez na operação e redução nos custos, quando comparado com outros métodos.

Dos herbicidas aplicados em pós-emergência das plantas daninhas utilizados na cultura do milho consorciado com braquiária, merecem destaque o atrazine e alguns herbicidas do grupo químico das sulfoniluréias, como nicosulfuron, foramsulfuron e iodosulfuron methyl sodium. O atrazine, pertencente ao grupo químico das triazinas, é inibidor do fotossistema II da fotossíntese e controla espécies daninhas dicotiledôneas e algumas gramíneas anuais, podendo ser aplicado em pré e pós-emergência das plantas daninhas (Rodrigues & Almeida, 1998), não tendo nenhuma ação sobre B. brizantha consorciada com a cultura do milho (Jakelaitis et al., 2005a).

As sulfoniluréias atuam especificamente sobre a acetolactato sintase (ALS), a qual catalisa a primeira reação na biossíntese de aminoácidos ramificados, valina, leucina e isoleucina (Anderson et al., 1998). Seus sintomas, em plantas sensíveis, são caracterizados por clorose foliar, necrose e redução do crescimento (Brow, 1990; Fonne-Pfister et al., 1990). Dos herbicidas desse grupo químico, o nicosulfuron é utilizado principalmente em aplicações em pós-emergência, para controle de gramíneas e algumas espécies dicotiledôneas na cultura do milho (Rodrigues & Almeida, 1998).

A espécie B. brizantha, conhecida como capim-marandu ou braquiarão, é considerada excelente forrageira tropical e tem sido usada no sistema de integração agricultura-pecuária, principalmente em sistemas de rotação, ou na implantação de cultivos consorciados com culturas anuais, visando a diversificação na produção agropecuária, com a formação de pastagens e/ou palhada para proteção do solo. Todavia, plântulas de espécies do gênero Brachiaria são consideradas suscetíveis em aplicações iniciais de herbicidas do grupo químico das sulfoniluréias nas doses comerciais recomendadas (Lorenzi, 2000). Quando aplicado em subdose, o nicosulfuron inibe temporariamente o crescimento de plantas desse gênero, proporcionando competição favorável à cultura do milho. Após o período de paralisação, as plantas de braquiária voltam a crescer, porém de forma a não competir com a cultura do milho, permitindo a formação da pastagem (Silva et al., 2004; Jakelaitis et al., 2005a, b).

Este trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar arranjos de semeadura de B. brizantha em consórcio com milho para silagem em plantio convencional, associado a sistemas de manejo de plantas daninhas, buscando alternativas para a produção de milho para silagem, deixando o solo com boa cobertura, protegendo-o do impacto das máquinas e com possibilidade de deixar a pastagem formada após a colheita.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na Estação Experimental de Coimbra, em Coimbra-MG, em um Argissolo Vermelho-Amarelo, cultivado há mais de dez anos com as culturas de milho, no verão, e feijão, no outono-inverno. A análise química deste solo revelou pH em água de 5,2; CTC (T), soma de bases, H +Al, Ca e Mg de 5,69; 3,96; 4,21; 2,0; e 0,6 cmolc dm-3, respectivamente; P = 14,4; K = 75 mg dm-3; 1,87 dag kg-1 de matéria orgânica; e 20,8 mg L1 de P-rem. A área experimental possuía alta infestação de plantas daninhas, sendo Brachiaria plantaginea (capim-marmelada) a principal espécie infestante, havendo também outras, como Cyperus rotundus (tiririca), Ipomoea grandifolia (corda-de-viola), Leonotis nepetifolia (cordão-de-frade), Bidens pilosa (picão-preto) e Agerantum conyzoides (mentrasto), em menor intensidade.

Os tratamentos avaliados foram cinco arranjos de semeadura de Brachiaria brizantha cv. MG5 Vitória com milho, combinados com dois manejos de plantas daninhas. Os tratamentos com aplicação da mistura atrazine + nicosulfuron e os capinados foram chamados de manejo A, enquanto aqueles com aplicação isolada de atrazine e os sem capina foram chamados de manejo B (Tabela 1). O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, no esquema de parcelas subdivididas, sendo os arranjos de semeadura colocados nas parcelas e os sistemas de manejo de plantas daninhas nas subparcelas, totalizando 14 tratamentos, com quatro repetições. As dimensões das subparcelas foram de 6 m de largura por 18 m de comprimento, com área total de 108 m2. As subparcelas com milho foram constituídas de seis fileiras espaçadas de 1 m, sendo as avaliações feitas nas quatro fileiras centrais. Os tratamentos com B. brizantha em monocultivo foram constituídos de 12 fileiras, espaçadas de 0,50 m, sendo as externas utilizadas como bordadura.

O preparo de solo foi feito por meio de uma aração e duas gradagens, dois dias antes da semeadura do milho, no dia 23 de novembro de 2003, sendo utilizadas sete sementes por metro linear, na profundidade de 4 cm. A adubação utilizada foi de 400 kg ha-1 da formulação 8-28-16 (N-P-K) no plantio. O cultivar de milho usado foi o AGN 2012, que é um híbrido duplo, de grão semiduro e ciclo precoce, destinado à produção de grãos e silagem.

Os arranjos de semeadura de B. brizantha em monocultivo e de duas linhas na entrelinha do milho – que foram espaçadas entre si de 0,5 m – foram efetuados em semeadura simultânea ao milho, à profundidade de 2 cm, através da semeadora múltipla (Semeato SHM 11/13), sendo a adubação de plantio colocada apenas nas linhas do milho. No arranjo de B. brizantha em monocultivo, as plantas de milho foram eliminadas aos 10 dias após a emergência. A semeadura de B. brizantha a lanço no dia do plantio do milho e 30 dias após foi feita manualmente, sobre a superfície do solo, sem incorporação. Em todos os tratamentos foram usados 5 kg ha-1 de sementes de B. brizantha cv. MG5 Vitória, com valor cultural de 76%.

A adubação de cobertura do milho e de B. brizantha, consorciados ou em monocultivo, foi realizada aos 30 dias após a emergência do milho, com 80 kg ha-1 de N, utilizando-se o sulfato de amônio.

A aplicação dos herbicidas foi feita com pulverizador costal, pressurizado com CO2, mantido à pressão constante de 200 kPa, equipado com dois bicos TT 110.02, espaçados de 1,0 m e calibrados para aplicar o equivalente a 100 L ha-1 de calda. As aplicações dos tratamentos foram efetuadas 18 dias após a emergência das plantas de milho, quando B. brizantha, as plantas daninhas dicotiledôneas e as monocotiledôneas apresentavam, em média, duas folhas. As condições no momento da aplicação foram de céu claro, solo úmido, velocidade do vento inferior a 4 km h1, temperatura do ar em torno de 23 ºC e umidade relativa de 80%.

Os dados de precipitação pluvial na área experimental durante a condução do experimento estão apresentados na Figura 1.


As avaliações de matéria seca de plantas daninhas e de B. brizantha foram realizadas aos 30 dias após aplicação dos tratamentos (DAA) e na colheita do milho para silagem, por meio de duas amostragens de 0,25 m² por unidade experimental, em que as plantas foram separadas por espécie e levadas à estufa com circulação forçada de ar, à temperatura de 60-70 ºC, até peso constante. Aos 60 dias após a colheita (DAC) foi feita nova avaliação da biomassa seca de B. brizantha, seguindo os mesmos critérios das avaliações anteriores.

Em cada unidade experimental, foram colhidas, aleatoriamente, quatro plantas de milho, que foram levadas à estufa com circulação forçada de ar, a 70 ºC, até peso constante, para determinação da matéria seca. A produtividade de milho para silagem foi avaliada pela produção de biomassa fresca, amostrada em 4 m de comprimento nas duas fileiras centrais, quando o milho atingiu o ponto de colheita, ou seja, teor de matéria seca entre 28 e 35%, que corresponde à fase de grão farináceo. Nessa ocasião, fez-se também a contagem de plantas de milho na área amostrada, tendo sido observada população uniforme no experimento, com aproximadamente 60 mil plantas por hectare. Após a amostragem, o restante das plantas de milho foi colhido mecanicamente, por meio de colheitadeira de forragem acoplada ao trator, e transportado em caminhão para ser ensilado.

Na colheita do milho para silagem, os tratamentos de B. brizantha em monocultivo não foram colhidos e os arranjos consorciados foram colhidos juntamente com o milho e/ou tiveram sua parte aérea totalmente danificada pelo trânsito de máquinas, formando cobertura de solo. Portanto, a produção de forragem verificada aos 60 DAC, nos arranjos de B. brizantha em monocultivo, é relativa ao crescimento em todo o período experimental e, nos arranjos consorciados, é referente à rebrota após a colheita.

As análises de variância da matéria seca de plantas daninhas, B. brizantha e de produtividade de milho para silagem em matéria fresca e seca foram realizadas individualmente para cada época de avaliação. Foram excluídos os tratamentos de B. brizantha em monocultivo da análise de variância referente à produção de milho para silagem e os tratamentos de milho em monocultivo da análise de variância referente à produção de forragem de B. brizantha. Após a análise de variância, procedeu-se às comparações das médias e dos desdobramentos das interações, utilizando o teste F para os sistemas de manejo e o teste de Duncan para os arranjos de semeadura, a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A produção de matéria seca de plantas daninhas – aos 30 DAA e na colheita do milho para silagem – encontra-se, respectivamente, nas Tabelas 2 e 3, onde se verifica que a principal espécie infestante na área foi B. plantaginea, conforme ilustrado na Figura 2A, tendo ocorrido, em menor intensidade, espécies como Digitaria horizontalis, Cyperus rotundus, Ipomoea grandifolia, Leonotis nepetifolia, Bidens pilosa e Ageratum conyzoides, sendo as quatro últimas agrupadas em dicotiledôneas. Para facilitar a apresentação e a discussão dos resultados, foram feitos os desdobramentos para os fatores arranjos de semeadura e sistemas de manejo de plantas daninhas, independentemente do efeito significativo para a interação entre os fatores (p<0,05).



Aos 30 DAA, a aplicação isolada do herbicida atrazine proporcionou eficiência no controle das espécies dicotiledôneas (Tabela 2). O uso da subdose de nicosulfuron em mistura com atrazine proporcionou a redução da matéria seca total de plantas daninhas, principalmente B. plantaginea, em relação ao uso isolado do atrazine e à testemunha sem capina, conforme ilustração na Figura 2B. Independentemente do arranjo de semeadura, esse efeito foi potencializado nos arranjos com o milho, em consorciação ou em monocultivo, que promoveu competição desfavorável à comunidade infestante.

Na ocasião da colheita do milho para silagem, ocorrida aos 105 dias após a semeadura, os arranjos de B. brizantha em monocultivo sem capina e com aplicação isolada de atrazine apresentaram maior produção de matéria seca de plantas daninhas, seguidos pelo arranjo de braquiária em monocultivo com aplicação de atrazine + nicosulfuron (Tabela 3). Verificou-se no milho, em monocultivo ou consorciado, redução da produção de matéria seca de B. plantaginea, que pode ser atribuída à alta capacidade de competição do milho, devido ao seu rápido desenvolvimento inicial, que aumenta a captação de luz e o sombreamento ao longo de seu dossel (Vidal et al., 2004).

Nas parcelas de milho, em monocultivo ou consorciado, com aplicação da mistura atrazine + nicosulfuron houve menor produção de biomassa seca de plantas daninhas, em especial B. plantaginea; contudo, a matéria seca de C. rotundus e D. horizontalis não foi influenciada (Tabelas 2 e 3). Esses resultados estão em conformidade com os de Jakelaitis et al. (2005a), os quais verificaram que a aplicação da mistura atrazine + nicosulfuron, em subdose (8 g ha-1), foi eficiente no manejo de B. plantaginea e Sorghum arundinaceum, sem, no entanto, apresentar eficiência no controle de C. rotundus e D. horizontalis.

Na produção de milho para silagem (Tabela 4) não foi verificado efeito de arranjos de semeadura e interação entre os fatores arranjo de semeadura e manejo de plantas daninhas, em que a produtividade do milho em monocultivo foi igual à dos arranjos em consorciação, corroborando os estudos de Jakelaitis et al. (2005a), que também não encontraram efeito de arranjo de semeadura de milho e B. brizantha cv. MG5 Vitória para a produção de grãos. Souza Neto (1993), avaliando épocas de semeadura de B. brizantha cv. Marandu com o milho como cultura acompanhante, também verificou que a produção de milho – grãos e planta inteira – não foi influenciada pela forrageira intercalar.

Quanto ao sistema de manejo de plantas daninhas, observou-se incremento de 23,3 e 26,7%, respectivamente, para matéria fresca e matéria seca de milho para silagem, para os tratamentos com capina e com a aplicação da mistura de herbicidas atrazine + nicosulfuron, em relação àqueles tratamentos sem capina e com aplicação isolada do atrazine (Tabela 4).

Esses resultados estão de acordo com os de Jakelaitis et al. (2004), que, avaliando o controle de plantas daninhas, o crescimento e a produtividade de milho e B. brizantha consorciados, verificaram que a produção de biomassa seca do milho foi inferior no tratamento com uso isolado de atrazine, em relação aos tratamentos com atrazine em mistura com nicosulfuron e à testemunha capinada. Também, Jakelaitis et al. (2005a, b), avaliando efeito de herbicidas no consórcio de milho com B. brizantha, verificaram que a produtividade de milho-grão foi inferior com aplicação isolada de atrazine e na testemunha sem capina, em relação à mistura de atrazine + nicosulfuron e à testemunha capinada. Vidal et al. (2004) constataram perdas no rendimento de grãos de milho da ordem de 60%, como conseqüência da competição por B. plantaginea, numa população de 24 plantas m-2.

Na Tabela 5 encontram-se os resultados referentes à produção de matéria seca de B. brizantha aos 30 DAA, na colheita do milho para silagem e aos 60 dias após a colheita (DAC), onde se observou, para todas as avaliações, interação entre os fatores arranjos de semeadura e sistemas de manejo de plantas daninhas, para os quais foram feitos os desdobramentos.

Aos 30 DAA, observou-se menor produção de biomassa de B. brizantha em monocultivo na testemunha sem capina em relação à capinada, em conseqüência da interferência promovida pelas plantas daninhas. Os tratamentos com a aplicação da mistura de atrazine + nicosulfuron tiveram a produção de matéria seca menor, quando comparados à aplicação isolada de atrazine, devido à toxidez causada pelo nicosulfuron, que, segundo Silva et al. (2004), diminui temporariamente a taxa de crescimento de B. brizantha quando aplicado em subdose (Tabela 5).

Na colheita do milho para silagem, obteve-se maior produção forrageira de B. brizantha no arranjo em monocultivo com capina, em conseqüência da ausência de competição proporcionada pelas plantas daninhas e/ou pelo milho. Quando se aplicou a mistura atrazine + nicosulfuron, a produção forrageira foi superior à aplicação isolada de atrazine e à testemunha sem capina. Outros trabalhos (Jakelaitis et al., 2005a, b) evidenciam que o nicosulfuron é um herbicida que, aplicado em subdose, inibe temporariamente o crescimento de Brachiaria sp. Entretanto, o aumento na produção de biomassa de B. brizantha, neste trabalho, ocorreu possivelmente porque a dose empregada (4 g ha-1) foi mais eficiente para inibir o crescimento de B. plantaginea, principal espécie infestante na área, que, segundo Lorenzi (2000), é altamente sensível ao nicosulfuron. A redução do potencial de competição possibilitou melhor desenvolvimento de B. brizantha.

Respostas positivas também foram observadas na produção de forragem de B. brizantha nos arranjos em consorciação quando se aplicou a mistura de atrazine + nicosulfuron, em relação à aplicação isolada do atrazine, conforme ilustração na Figura 2B.

Com o rápido crescimento inicial do milho, a competição foi desfavorável à forrageira, que teve seu desenvolvimento reduzido em relação ao monocultivo; segundo Dias Filho (2002), B. brizantha sombreada reduz sua capacidade fotossintética, porém apresenta determinada plasticidade fenotípica e tolerância em resposta ao sombreamento, que permite seu crescimento, viabilizando tecnicamente o consórcio. Com isso, mesmo sob sombreamento, observou-se ganho de biomassa de B. brizantha entre as avaliações de 30 DAA e a colheita do milho para silagem (Tabela 5).

Considerando que no momento da colheita do milho para silagem uma parte de B. brizantha consorciada foi colhida juntamente com o milho e outra foi pisoteada pelas máquinas, apenas B. brizantha em monocultivo permaneceu intacta. Com isso, a produção de forragem, aos 60 DAC, para os arranjos de B. brizantha em monocultivo é relativa ao desenvolvimento em todo o período experimental e, nos arranjos consorciados, se refere à rebrota. O desenvolvimento de B. brizantha em todos os tratamentos foi favorecido pelas condições climáticas, com chuvas freqüentes, no período experimental (Figura 1).

Após a colheita do milho para silagem, o arranjo de duas linhas de B. brizantha na entrelinha do milho com a aplicação da mistura atrazine mais nicosulfuron foi o que proporcionou melhor produção de forragem nos tratamentos consorciados (Tabela 5), considerando apenas a rebrota. No plantio da forrageira a lanço, verificou-se menor rendimento em conseqüência do efeito negativo da falta de incorporação de sementes ao solo, que, segundo Silva et al. (2004), beneficia a germinação e a sobrevivência de plantas, devido à proteção das sementes, à eficiência no aproveitamento da umidade e à facilidade de fixação das plântulas ao solo. A semeadura a lanço 30 dias após o plantio do milho teve seu estabelecimento ainda mais comprometido em razão da competição exercida pelo milho e/ou pelas plantas daninhas já nas fases de germinação das sementes e emergência das plântulas de B. brizantha.

Esses resultados estão de acordo com os de Jakelaitis et al. (2005a), que também verificaram que o arranjo com duas linhas de B. brizantha na entrelinha do milho foi o que apresentou melhor produção forrageira na colheita e 50 dias após a colheita do milho para grão. Eles confirmam também os de Souza Neto (1993), que observou prejuízo no rendimento forrageiro de B. brizantha cv. Marandu nas épocas de semeadura mais tardias.

Duas linhas de B. brizantha na entrelinha do milho em semeadura simultânea com a aplicação da mistura no tanque de 1,50 kg ha1 de atrazine mais 4,00 g ha-1 de nicosulfuron, aos 18 dias após a semeadura, proporcionaram produção de milho para silagem igual à da testemunha capinada, pastagem formada aos 60 DAC e/ou palhada para o cultivo seguinte, além de boa cobertura do solo, conforme ilustrado nas fotos da Figura 3, aos 45 DAC.


LITERATURA CITADA

Recebido para publicação em 19/10/2004 e na forma revisada em 25/11/2005.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jan 2006
  • Data do Fascículo
    Dez 2005

Histórico

  • Recebido
    19 Out 2004
  • Revisado
    25 Nov 2005
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