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Dinâmica de plantas daninhas em consórcio de sorgo e três forrageiras em um sistema de integração lavoura-pecuária-floresta

Weed dynamics in a consortium of sorghum and three forage plants in a farming-livestock- forest integration system

Resumos

Objetivou-se com o presente trabalho avaliar o consórcio de forrageiras e sorgo, cultivado na presença ou na ausência do herbicida atrazine, sobre a dinâmica de plantas daninhas e a produção de sorgo e das forrageiras em um sistema agroflorestal. O experimento foi disposto em delineamento com blocos casualizados, com três espécies de forrageiras (Brachiaria brizantha cv. Xaraés; Andropogon gayanus e Panicum maximum cv. Tanzânia) consorciadas com sorgo manejado na presença e na ausência da aplicação de 1,50 kg ha-1 de atrazine para o manejo de plantas daninhas. As forrageiras foram semeadas a lanço imediatamente antes da semeadura do sorgo, em espaçamento de 0,50 m entre linhas e com oito sementes por metro linear, em sistema de plantio direto. A aplicação de atrazine não resultou em menor produção de massa seca total de plantas daninhas, quando comparada às parcelas sem manejo. A maior massa seca das plantas daninhas foi encontrada no monocultivo de sorgo, quando comparado aos consórcios dessa cultura com as forrageiras. No consórcio do sorgo com o capim-tanzânia (forrageira de maior produção) obteve-se a menor ocorrência e produção de masssa de plantas daninhas, indicando boa capacidade competitiva dessa forrageira. A produção do sorgo não diferiu estatisticamente entre os tratamentos; entretanto, ela foi 22% superior no monocultivo, comparando-se aos consórcios com as forrageiras. As espécies de maior produção de massa, como o capim-tanzânia, quando consorciadas com o sorgo, diminuem a infestação e capacidade competitiva das plantas daninhas e favorecem o manejo dessas espécies, dispensando a aplicação de atrazine.

pastagens; manejo cultural; produção de sorgo; sistemas integrados


This study aimed to evaluate the effect of a consortium of forage plants and sorghum in the presence or absence of the herbicide atrazine on weed dynamics, sorghum and forage plant production, in an agro-forestry system. The experiment was arranged in a randomized block design, with three grass species (Brachiaria brizantha, cv. Xaraés; Andropogon gayanus cv. Planaltina and Panicum maximum, cv. Tanzânia) in consortium with sorghum, and in the presence and absence of 1.50 kg ha-1 of atrazine application for weed management. The forage plants were sown before sorghum, spaced 0.50 m between rows and eight seeds per linear meter, under a no-tillage system. The application of atrazine did not result in lower production of total dry mass of weeds, compared to the plots without management. The highest weed dry mass was found in the sorghum monoculture, compared to consortium of this culture with the forage plant. The planting of sorghum with Tanzania grass, the forage plant with the largest production, was obtained in the occurrence and mass production of weeds, indicating a good competitive ability of this forage plant. Sorghum production was statistically similar between treatments but higher in monoculture, compared to the consortium with forage. The species presenting higher mass production, such as Tanzania grass,when consorted with sorghum, reduced infestation and the competitive ability of weeds, favoring the management of these species, and rendering the use of atrazine unnecessary.

pastures; cultural management; sorghum production; integrated systems


ARTIGOS

Dinâmica de plantas daninhas em consórcio de sorgo e três forrageiras em um sistema de integração lavoura-pecuária-floresta

Weed dynamics in a consortium of sorghum and three forage plants in a farming-livestock- forest integration system

Mota, V.AI; Tuffi Santos, L.DII; Santos Junior, AIII; Machado, V.DIV; Sampaio, R.AII; Oliveira, F.L.RI

IMestre em Ciências Agrárias/Agroecologia, Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Minas Gerais - ICA/UFMG, veronicamotabr2000@yahoo.com.br

IIProfessor, Dep. de Fitotecnia, ICA/UFMG, ltuffi@ufmg.br

IIIEngº-Agrº., ICA/UFMG

IVZootecnista ICA/UFMG, Av. Universitária, 1000, Bairro Universitário, 30404-006 Montes Claros-MG

RESUMO

Objetivou-se com o presente trabalho avaliar o consórcio de forrageiras e sorgo, cultivado na presença ou na ausência do herbicida atrazine, sobre a dinâmica de plantas daninhas e a produção de sorgo e das forrageiras em um sistema agroflorestal. O experimento foi disposto em delineamento com blocos casualizados, com três espécies de forrageiras (Brachiaria brizantha cv. Xaraés; Andropogon gayanus e Panicum maximum cv. Tanzânia) consorciadas com sorgo manejado na presença e na ausência da aplicação de 1,50 kg ha-1 de atrazine para o manejo de plantas daninhas. As forrageiras foram semeadas a lanço imediatamente antes da semeadura do sorgo, em espaçamento de 0,50 m entre linhas e com oito sementes por metro linear, em sistema de plantio direto. A aplicação de atrazine não resultou em menor produção de massa seca total de plantas daninhas, quando comparada às parcelas sem manejo. A maior massa seca das plantas daninhas foi encontrada no monocultivo de sorgo, quando comparado aos consórcios dessa cultura com as forrageiras. No consórcio do sorgo com o capim-tanzânia (forrageira de maior produção) obteve-se a menor ocorrência e produção de masssa de plantas daninhas, indicando boa capacidade competitiva dessa forrageira. A produção do sorgo não diferiu estatisticamente entre os tratamentos; entretanto, ela foi 22% superior no monocultivo, comparando-se aos consórcios com as forrageiras. As espécies de maior produção de massa, como o capim-tanzânia, quando consorciadas com o sorgo, diminuem a infestação e capacidade competitiva das plantas daninhas e favorecem o manejo dessas espécies, dispensando a aplicação de atrazine.

Palavras-chave: pastagens, manejo cultural, produção de sorgo e sistemas integrados.

ABSTRACT

This study aimed to evaluate the effect of a consortium of forage plants and sorghum in the presence or absence of the herbicide atrazine on weed dynamics, sorghum and forage plant production, in an agro-forestry system. The experiment was arranged in a randomized block design, with three grass species (Brachiaria brizantha, cv. Xaraés; Andropogon gayanus cv. Planaltina and Panicum maximum, cv. Tanzânia) in consortium with sorghum, and in the presence and absence of 1.50 kg ha-1 of atrazine application for weed management. The forage plants were sown before sorghum, spaced 0.50 m between rows and eight seeds per linear meter, under a no-tillage system. The application of atrazine did not result in lower production of total dry mass of weeds, compared to the plots without management. The highest weed dry mass was found in the sorghum monoculture, compared to consortium of this culture with the forage plant. The planting of sorghum with Tanzania grass, the forage plant with the largest production, was obtained in the occurrence and mass production of weeds, indicating a good competitive ability of this forage plant. Sorghum production was statistically similar between treatments but higher in monoculture, compared to the consortium with forage. The species presenting higher mass production, such as Tanzania grass,when consorted with sorghum, reduced infestation and the competitive ability of weeds, favoring the management of these species, and rendering the use of atrazine unnecessary.

Keywords: pastures, cultural management, sorghum production and integrated systems.

INTRODUÇÃO

A pecuária brasileira tem recebido destaque no cenário mundial, com consecutivos recordes de exportação de carne bovina. Apesar dos avanços alcançados, o produtor ainda enfrenta problemas com a produção em pasto, sobretudo com a degradação das pastagens. A maior parte das pastagens no Brasil está em processo de degradação, com perda do potencial produtivo e da capacidade de suporte animal (Oliveira et al., 2001).

Na região do Norte de Minas Gerais não é diferente, com o agravante da má distribuição de chuvas ao longo do ano e do período seco prolongado. Problemas como superlotação animal, manejo inadequado do solo e escolha indevida de espécies forrageiras para a região em questão prejudicam as pastagens e, ao longo dos anos, evoluem para situações de perda da fertilidade, solo erodido e sem cobertura vegetal e elevada infestação de plantas daninhas. Além desses prejuízos, o produtor enfrenta dificuldades com a descapitalização causada pela degradação, a qual acarreta queda da produção de carne e leite e desvalorização das terras, resultando em falta de recursos para reforma e investimento na pastagem.

A infestação por plantas daninhas é um dos principais gargalos produtivos que o produtor rural enfrenta, já que a maioria do rebanho nacional é criada e mantida quase que exclusivamente no pasto. O problema das plantas daninhas está ligado diretamente à grande capacidade que estas têm para competir com as gramíneas cultivadas como pastagem, diante da pressão de pastejo imposta pelos animais. Algumas dessas plantas daninhas são tolerantes a déficits hídricos e baixa fertilidade - vantagem competitiva relevante para solos tropicais. Trabalhos realizados sugerem que ocorrem perdas na produção de até 80% por causa da competição das plantas daninhas e do seu grau de infestação (Silva et al., 2002). No caso do sorgo forrageiro, cultura anual utilizada na alimentação dos animais durante a seca, o plantio adensado aumenta a eficiência competitiva da cultura com as plantas daninhas, devido ao fechamento mais rápido dos espaços disponíveis, diminuindo a duração do período crítico de competição das plantas daninhas e a erosão, em consequência do efeito da cobertura antecipada da superfície do solo (Coelho, 2002; Rosolen et al., 1993; Pholsen & Suksri, 2007; Alburquerque et al., 2009)

Entre as práticas utilizadas para diminuição da interferência das plantas daninhas com a cultura do sorgo está o controle químico. A adoção do controle com herbicida pode ser feita após levantamento das principais espécies presentes na área, a fim de determinar o produto ideal para o controle das espécies monocotiledôneas e dicotiledôneas. Entretanto, a cultura do sorgo possui poucos herbicidas registrados (SINDAG, 2007), sendo o atrazine, pertencente do grupo químico das triazinas, o mais utilizado para uso tanto em pré quanto em pós-emergência (Rodrigues & Almeida, 2005).

No entanto, existem poucos estudos em relação ao tipo de manejo adequado para controle das plantas daninhas na cultura do sorgo quando consorciada com forrageiras, bem como sobre o comportamento das comunidades de plantas daninhas perante os tratos culturais impostos em sistemas consorciados.

O presente trabalho objetivou avaliar a dinâmica de plantas daninhas no consórcio entre três forrageiras e sorgo para silagem, cultivado com ou sem aplicação de atrazine.

MATERIAL E MÉTODOS

O ensaio foi conduzido em área de pastagem degradada de capim-tanzânia (Panicum maximum cv. tanzânia), pertencente à Fazenda Experimental Professor Hamilton de Abreu Navarro, do Instituto de Ciências Agrárias - UFMG, Montes Claros-MG, com longitude de 43º 53' W, latitude de 16º43'S e 650 m de altitude. Os dados referentes à precipitação, insolação e temperatura observadas durante a realização do experimento foram obtidos na estação meteorológica do INMET de Montes Claros, localizada a aproximadamente 1,5 km da área (Figura 1).


Antes da implantação do experimento, realizou-se o levantamento e identificação das plantas daninhas da área, e as famílias de maior representatividade foram: Malvaceae (Sida sp.), Convolvulaceae (Ipomoea sp.),

Leguminosae (Senna obtusifolia, Acacia plumosa) e Asteraceae (Vernonia sp.). A dessecação da vegetação da área ocorreu 10 dias antes do estabelecimento das culturas, com aplicação de 1.440 g ha-1 de glyphosate. Nesse mesmo período foi realizada a análise de solo, que apresentou as seguintes características: pH em água: 6,5; P Mehlich (mg kg 1): 6,0; K (mg kg-1): 353; Ca (cmolc dm-3): 7,50; Mg (cmolc dm-3): 3,00; H+Al (cmolc dm-3): 1,86; MO(dag kg-1): 4,23; silte (dag kg-1): 16,00; argila (dag kg-1): 28,00, de textura média.

O ensaio foi disposto em blocos casualizados com quatro repetições, em um esquema fatorial composto pelos fatores forrageira e manejo de plantas daninhas. Entre as forrageiras, avaliaram-se Brachiaria brizantha cv. Xaraes, Panicum maximum cv. Tanzânia ou Andropogon gayanus consorciadas com sorgo forrageiro, combinadas com dois manejos de plantas daninhas (com e sem aplicação de 1,5 kg ha-1 de atrazine). Como comparação, cultivou-se sorgo em monocultivo (com e sem aplicação de 1,5 kg ha-1 de atrazine). As unidades experimentais apresentavam dimensões de 20 x 5 m, totalizando uma área de 100 m2, com as avaliações sendo realizadas na área central das parcelas.

A semeadura das forrageiras e do sorgo foi realizada em fevereiro na entrelinha de mudas de eucalipto e/ou eucalipto + Acacia mangium recém-implantadas e espaçadas de 10 m entre linhas e com 2 m entre plantas. Para o plantio das árvores, foram feitas covas de 40 x 40 cm, previamente adubadas com 100 g de superfosfato simples, devidamente alinhadas no sentido leste-oeste. Foram utilizadas mudas de eucalipto clonal híbrido de Eucalyptus grandis x E. urophylla (urograndis), com 30 cm de altura, adquiridas na empresa PLANTAR S/A, e plantas de Acacia mangium produzidas no ICA/UFMG, com aproximadamente 50 cm de altura. Aos 15 dias após o plantio das árvores, foi feita adubação com 18 g por cova de boro e 100 g por cova de 4-30-10 (NPK).

As forrageiras foram semeadas a lanço na superfície do terreno em fevereiro de 2009, utilizando-se 6 kg ha-1 de sementes puras e viáveis, imediatamente antes do plantio do sorgo. A semeadura do sorgo foi realizada por plantadora adubadora, com distribuição de oito sementes por metro linear e espaçamento de 0,5 m entre fileiras, respeitando-se 1,0 m de distância das linhas das árvores; foi utilizado o cultivar BRS 610, recomendado para silagem.

A adubação utilizada na semeadura do sorgo foi de 300 kg ha-1 da fórmula 4-30-10 (N-P-K); aos 30 dias após a sua emergência, foram aplicados 80 kg ha-1 de N em cobertura, utilizando o sulfato de amônio. No período correspondente ao plantio das espécies até a colheita do sorgo para silagem, toda a área foi irrigada por aspersão, sempre que necessário, com lâmina de água diária de 5,0 mm.

A aplicação do atrazine, nas suas respectivas parcelas, foi feita quando o sorgo apresentava quatro a seis folhas, utilizando pulverizador costal com barra contendo a ponta TTI11002 e volume de calda de 150 L ha-1. No momento da aplicação as plantas daninhas dicotiledôneas apresentavam em média dois pares de folhas, e as gramíneas e capineiras, um perfilho

Em cada parcela, foi lançado ao acaso um quadrado de 0,25 m2 de área, por duas vezes, após 90 dias da semeadura de sorgo e forrageiras, totalizando uma área amostral de 0,5 m2 ou 1 m2por tratamento. As plantas daninhas presentes na área do quadrado foram identificadas e contabilizadas por espécie, sendo suas partes aéreas separadas em sacos de papel e posteriormente acondicionadas em estufa de secagem com aeração forçada a 65ºC, até atingirem peso constante, para estimativa da massa seca. Com os resultados da amostragem, estimaram-se a frequência relativa (FRE) e absoluta (FRR), as densidades relativa (DEN) e absoluta (DER), as abundâncias relativa (ABR) e absoluta (ABU), o índice de valor de importância (IVI) e de cobertura (IVC), o qual expressa numericamente a importância e a cobertura vegetal de uma determinada espécie em uma comunidade, por meio da soma de seus valores de densidade, frequência e abundância, e para IVC, a soma da dominância e densidade relativa. As variáveis estimadas seguiram a metodologia proposta por Brandão et al. (1998), segundo as fórmulas descritas a seguir.

Freabs =

Frx = x 100

Denabs =

Der(%) = x 100

Ababs =

Abr = x 100

DoR = x 100

IVC = Dominância relativa + densidade relativa

IVI = Frequência relativa + Dominância relativa + Abundância relativa

O cálculo de dominância (DOM) foi feito com os dados da massa das espécies daninhas e expresso em porcentagem (Curtis & Mcinstosh, 1950; Müeller-Dombois & Ellenberg, 1974). Foi também calculado o Índice de Similaridade de Sorensen (Sorensen, 1972), em que Índice de Similaridade (IS) = (2a / b+c) x 100, sendo a = número de espécies comuns às duas áreas; e b, c = número total de espécies nas duas áreas comparadas. O IS varia de 0 a 100, sendo máximo quando todas as espécies são comuns às duas áreas e mínimo quando não há espécies comuns. Para determinação da eficiência dos consórcios, utilizou-se o cálculo do IEA, índice de equivalência da área, que é IEA= (CS/ M) +(C/M)= I+I em que C e são os rendimentos das culturas envolvidas em consórcio do sorgo e das forrageiras, respectivamente; M, os rendimentos do monocultivo também do sorgo e forrageira; e I, os índices individuais dessas culturas, de acordo com metodologia de Willey (1979). Segundo Vieira (1984), o consórcio é eficiente quando o IEA for superior a 1,00 e prejudicial à produção quando inferior a 1,00.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na área experimental foram encontradas 11 espécies, distribuídas nas seguintes famílias: Poaceae (Digitaria horizontalis, Eulesine indica e Sorghum arundinaceum), Cyperaceae (Cyperus rotundus), Convolvulaceae (Ipomoea sp.), Commelinaceae (Commelina benghalensis), Leguminosae (Acacia plumosa), Portulacaceae (Portulaca oleracea), Amaranthaceae (Amaranthus deflexus), Malvaceae (Sida sp.) e Rubiaceae (Richardia brasiliensis). Entre as famílias, Malvaceae apresentou o maior número de indivíduos, seguida por Convolvulaceae e Cyperaceae (Figura 2), coincidindo com o levantamento inicial, no qual as espécies Ipomoea sp. e Sida sp. foram mais representativas da área.


As plantas daninhas de destaque na área experimental são C. rotundus, Ipomoea sp., Sida sp. e S. arundinaceum, que estão presentes na maioria das parcelas, independentemente da aplicação ou não de atrazine, e apresentam os maiores valores de todos os índices fitossociológicos calculados, inclusive importância (IVI) e cobertura (IVC) (Tabela 1 e Tabela 2). Esses valores de IVI e IVC levaram em consideração a frequência, a densidade e a abundância relativa e absoluta de todas as espécies daninhas encontradas no experimento. Os dados de frequência determinam quantas vezes essas espécies aparecem na área total, o que, associado aos dados de densidade e abundância, possibilita a identificação das espécies com necesSidade de controle em toda a área (Macedo & Martins, 1999). A espécie C. rotundus apresenta elevada frequência em algumas parcelas, com características de distribuição agrupada. Alguns autores relatam que, em plantio convencional, o preparo do solo quebra a dormência e divide os tubérculos desta espécie, espalhando-os em toda a área. Neste trabalho, por ter ocorrido plantio direto, não só C. rotundus, como também outras espécies, como Ipomoea sp., obtiveram distribuição em toda a área experimental, devido ao banco de sementes presente antes da implantação. Com relação à dominância, que expressa a massa seca das espécies daninhas em relação às demais no mesmo tratamento, os maiores valores foram observados para C. rotundus, C. benghalensis, Ipomoea sp., Sida sp. e S. arundinaceum (Tabela 1 e Tabela 2). A maior produção de massa por essas espécies pode se refletir em competição mais acentuada para o sorgo e para as forrageiras.

Não houve diferença entre as massas secas de plantas daninhas nos dois tipos de manejo adotado, com e sem aplicação de atrazine, bem como para a interação entre os fatores forrageira e manejo de plantas daninhas (p>0,05). Em alguns estudos foi encontrada baixa eficiência de controle para C. rotundus, onde a aplicação de atrazine contribuiu para o aumento da densidade, dominância e importância relativa desta espécie (Jakelaitis et al., 2003). A combinação dos herbicidas atrazine e nicosulfuron na cultura do milho proporcionou controle eficiente de eudicotiledôneas anuais e insatisfatório para espécies de propagação vegetativa (ciperáceas e trevo) (Dobbels & Kapusta, 1993). A eficiência do atrazine no controle de eudicotiledôneas favoreceu a disponibilização de recursos para as espécies mais tolerantes a esse produto, como C. rotundus e S. arundinaceum, o que ocasionou maior produção de biomassa dessas plantas daninhas, contribuindo para a maior dominância dessas espécies quando da aplicação do produto. S. arundinaceum, por apresentar semelhança com a cultura do sorgo e pelo seu porte elevado, é considerada importante planta daninha dessa cultura. O gênero Sorghum possui o ácido cianídrico, substância tóxica que causa problemas aos animais; no entanto, após o florescimento, as plantas não oferecem intoxicação (Arcila, 2009). No presente estudo, no momento da colheita do sorgo para silagem, as plantas de S. arundinaceum já estavam em estádio reprodutivo, não oferecendo riscos para a alimentação animal.

Houve elevada similaridade nas comunidades de plantas daninhas encontradas entre as áreas que receberam ou não a aplicação do atrazine (66,6%), provavelmente pela presença marcante de espécies tolerantes ao herbicida em toda a área experimental, cujas populações não foram afetadas pelo manejo químico, como C.rotundus, S.arundinaceum e D.horizontalis. A similaridade entre as comunidades é considerada elevada quando o índice for maior que 50% (Matteucci & Colma, 1982; Felfili & Venturoli, 2002). Entre os consórcios do sorgo com as diferentes forrageiras a similaridade foi baixa para as comunidades de plantas daninhas (Tabela 3), o que sugere o efeito das forrageiras cultivadas em consórcio com o sorgo sobre as espécies de plantas daninhas, suprimindo alguns indivíduos. À medida que aumenta a densidade e ocorre o desenvolvimento das plantas daninhas, especialmente daquelas que germinaram e emergiram rapidamente, intensifica-se a competição inter e intraespecífica, de modo que as plantas daninhas mais altas e desenvolvidas tornam-se dominantes, ao passo que as menores podem ser suprimidas ou morrem (Radosevich et al., 1997). O índice de similaridade expressa a porcentagem de espécies comuns a duas ou mais áreas em relação ao número total de espécies ocorridas em cada área. O coeficiente baseia-se apenas no conceito de presença e ausência de espécies, não envolvendo quantidade de indivíduos em cada uma delas (Mueller-Dombois & Ellemberg, 1974), ficando difícil estabelecer comparativos sobre a competição no agroecossistema com base apenas nessa variável.

A produção e a altura de sorgo (Tabela 4) não foram afetadas pelo consórcio com as forrageiras ou pelo manejo de plantas daninhas, bem como para a interação nos dois fatores (p>0,05). Entretanto, a produção de massa seca de sorgo em parcelas com aplicação de atrazine foi 28% superior à de parcelas sem manejo de plantas daninhas, o que deve ser levado em consideração na decisão de aplicar não o herbicida. A tolerância da cultura do obtendo-se excelentes resultados quando as sorgo ao atrazine é considerada alta, indepen-aplicações são realizadas aos 7 e 14 dias após dentemente da formulação utilizada, tanto em a emergência do sorgo (Balyan et al.,1993). aplicações em pré como em pós-emergência Após os primeiros 50 dias, o crescimento do (Archangelo et al., 2002). Contudo, o estádio sorgo contribui na redução de plantas danide desenvolvimento da planta daninha nhas (Rizzardi et al., 2001), sendo essencial o interfere de maneira decisiva na eficiência manejo nas fases iniciais da planta. No caso do atrazine aplicado em pós-emergência, do sorgo cultivado em fileiras espaçadas de 50 cm, como utilizado no presente estudo, a cultura do sorgo domina a área rapidamente, favorecendo o manejo de plantas daninhas. Em espaçamentos maiores, a não adoção de práticas de manejo de plantas daninhas pode causar reduções elevadas da produção da cultura.

As populações das forrageiras Andropogon gayanus cv. Planaltina, Panicum maximum cv. Tanzânia e Brachiaria brizantha cv. Xaraés foram favorecidas quando da aplicação do atrazine para o manejo de plantas daninhas - confirmado pelos altos valores de IVI e IVC dessas espécies nas condições citadas (Tabela 1).

P.maximum cv. Tanzânia em consórcio com o sorgo obteve média de 3.582 kg ha-1 de massa seca; da mesma forma, o capim A.gayanus cv. Planaltina em consórcioobteve produção de 1.068 kg ha-1, e B.brizantha cv. Xaraés, de 1.033 kg ha-1. Nas monoculturas das forrageiras, a massa seca isolada de P.maximum cv. Tanzânia e B.brizantha cv. Xaraés é bastante superior à das áreas em consórcio. Contudo, a produtividade de sorgo mais P.maximum no consórcio supera a produção das pastagens em monocultivo. Esse dado pode ser confirmado pelo Índice de Equivalência de Área, que estabelece a área física de um monocultivo para que se obtenha produção equivalente dos consórcios (Vieira, 1984; Caetano et al., 1999; Gliessmann, 2001; Montezano & Peil, 2006). Pelo índice de equivalência de área (IEA), podese inferir que o consórcio de sorgo com P. maximum foi 17% mais eficiente que o monocultivo da mesma forrageira. O sorgo em consórcio com B. brizantha obteve valor semelhante à soma do monocultivo das duas espécies. Já A. gayanus cv. Planaltina obteve valor muito elevado de IEA, porém sua formação de pastagem, tanto em consórcio quanto na monocultura, foi prejudicada pela forma de semeadura a lanço. A semeadura a lanço e outras foram testadas; a maior massa foi obtida na semeadura simultânea ao milho com duas linhas, por meio da semeadora adubadora (Freitas et al., 2005; Jakelaitis et al., 2005). Esses autores relatam que a semeadura a lanço não favorece a incorporação e, consequentemente, reduz o estande das forrageiras em geral. A incorporação beneficia a germinação e a sobrevivência de plantas, devido à proteção das sementes, à eficiência no aproveitamento da umidade e à facilidade de fixação das plântulas ao solo (Cruz Filho, 1988; Abreu, 1993; Silva et al., 2004). No caso da semente de A. gayanus, além do pequeno tamanho, a presença da pluma em sua superfície facilita o transporte pelo vento, atrai pássaros que se alimentam dessa gramínea e dificulta o seu contato com o solo e, por conseguinte, sua germinação.

Assim, P. maximum cv. Tanzânia e B. brizantha cv. Xaraés são boas opções para plantios de forragens em sistemas de integração lavoura-pecuária quando em consórcio com sorgo, principalmente o capim-tanzânia que tem grande produção de massa seca e possibilitou boa formação da pastagem no final do experimento. B. brizantha obteve melhores resultados para cultivo em integração lavoura-pecuária com a cultura do milho, quando comparado a P. maximum cv. Mombaça (Barducci et al., 2009). Segundo esses autores, P. maximum cv. Mombaça comprometeu a produtividade dos grãos de milho, ao contrário deste trabalho, em que o sorgo não foi prejudicado.

Conclui-se que as principais espécies presentes na área foram D. horizontalis, E. indica, S. arundinaceum, C. rotundus, Ipomoea sp., C. benghalensis, A. plumosa, P. oleracea, A. deflexus, Sida sp. e R. brasiliensis.

O tipo de manejo adotado para o controle de plantas daninhas com e sem aplicação de atrazine não afeta a produção de sorgo, viabilizando o consórcio dessa cultura quando adensada com forrageiras em sistemas de produção agroecológicos.

A aplicação de atrazine não altera drasticamente as comunidades de plantas daninhas, o que é comprovado pela alta similaridade entre as áreas com e sem aplicação do herbicida.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq, pelo financiamento da pesquisa, e à FAPEMIG, pela concessão da bolsa de Mestrado.

LITERATURA CITADA

Recebido para publicação em 27.11.2009 e na forma revisada em 12.11.2010.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jan 2011
  • Data do Fascículo
    Dez 2010

Histórico

  • Recebido
    27 Nov 2009
  • Revisado
    12 Nov 2010
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