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Religião, vida universitária e juventude

Religion, university life and youth

Resumos

Resumo: O artigo trata das interseções entre filiação religiosa e vida universitária, observando o papel que os estudantes atribuem à religião no que se refere ao ingresso no ensino superior e à superação das dificuldades dos primeiros semestres de vida acadêmica. Os resultados de pesquisa qualitativa, realizada com egressos do ensino médio público matriculados em diferentes cursos de graduação, indicam tensões entre vinculação religiosa e formação acadêmica, ao mesmo tempo em que o aporte religioso atua como estímulo positivo frente as exigências da dinâmica universitária. Observa-se, também, a busca por arranjos religiosos mais flexíveis em que o individual e o social se articulem incorporando aspectos vinculados a dinâmicas culturais e identitárias.

Palavras-chave:
juventude; religião; vida universitária.


Abstract: The article deals with the intersections between religious affiliation and university life, observing the role that students attribute to religion regarding entry into higher education and overcoming the difficulties of the first semesters of academic life. The results of a qualitative research, carried out with graduates from public high school enrolled in different undergraduate courses, indicate tensions between religious ties and academic education, at the same time that the religious contribution acts as a positive stimulus against the demands of the university dynamics. It is also observed that there is a search for more flexible religious arrangements in which the individual and the social are articulated, incorporating aspects linked to cultural and identity dynamics.

Keywords:
youth; religion; university life.


Introdução

Apesar de ocupar espaço relevante nas Ciências Sociais, as análises sobre o tema “juventude” mostram-se, ainda, insuficientes. Por outro lado, um conjunto de estudos indica a impossibilidade de tratar da questão no singular evidenciando o registro de múltiplas “juventudes” nas mais diversas configurações sociais (Novaes 1997, 1998). Aqui, o objetivo está em contribuir com os estudos sobre juventudes focando na questão religiosa e, mais especificamente, na relação entre juventude, ensino superior e religião, bem como destacar alguns aspectos do debate sociológico nesse campo em que a categoria é, muitas vezes, considerada fluida e manipulável tal como nos assinalam Bourdieu (1980BOURDIEU, Pierre. (1980), “La jeunesse n’est qu’un mot”. In: P. Bourdieu. Question de Sociologie. Paris: Édition Minuit.) e Pais (1990PAIS, José Machado. (1990), “A construção sociológica da juventude - alguns contributos”. Análise Social, vol. XXV (105-106): 139-165.).

Ao indicar que a “juventude é apenas uma palavra”, Bourdieu (1980BOURDIEU, Pierre. (1980), “La jeunesse n’est qu’un mot”. In: P. Bourdieu. Question de Sociologie. Paris: Édition Minuit.) destaca o caráter arbitrário dos critérios de seleção e classificação adotados para delimitar e caracterizar um grupo social, a exemplo da adoção dos recortes etários para definir o que seria a “juventude” e quem seriam os “jovens”. Pais (1990PAIS, José Machado. (1990), “A construção sociológica da juventude - alguns contributos”. Análise Social, vol. XXV (105-106): 139-165.), por sua vez, retoma essa perspectiva ao salientar o quanto é necessário estarmos atentos às representações mais comuns que tendem a tratar os jovens como “unidade social”, como parte de uma “cultura juvenil unitária” numa leitura em que as “possíveis ou relativas similaridades” podem colocar em segundo plano as diferenças sociais. Esses dois autores nos convidam a uma reflexão que considera as homogeneidades sem deixar de lado as distinções relacionadas a um grupo social.

Desse modo, a perspectiva de compreensão da juventude, enquanto categoria plural, nos remete à multiplicidade de condições juvenis em que dimensões diversas se articulam sob contextos sociais distintos nos quais espaços de socialização como a família, a escola, a religião e o trabalho permanecem fundamentais. Porém a dimensão da religiosidade tem sido pouco investigada quando se trata de compreender a pluralidade que demarca a juventude na sociedade contemporânea.

É esse caráter plural da categoria juventude que se constitui em terreno fértil para a elaboração de perspectivas de análise que, apesar de distintas, guardam inúmeras interseções. Trazer algumas dessas contribuições antes mesmo de nos atermos aos estudos que se debruçam sobre as relações entre juventude e religião parece importante para melhor localizar a dinâmica das pesquisas nesse campo específico.

Assim, é possível identificar duas linhas interpretativas mais gerais, tal como Pais (1990PAIS, José Machado. (1990), “A construção sociológica da juventude - alguns contributos”. Análise Social, vol. XXV (105-106): 139-165.) nos assinala.1 1 Outras vertentes adotam como foco o recorte geracional e a noção de juventude como cultura e modo de vida e ainda juventude como representação social e autorrepresentação. Uma primeira compreende a juventude como faixa etária apoiando-se em indicadores demográficos e padrões definidos por organismos internacionais. Outra perspectiva, que tem conquistado espaço, trata a juventude como o tempo da transitoriedade para a vida adulta. Essa transição juvenil se caracteriza como o processo de socialização e atribuição de papéis sociais específicos e implica na articulação de diferentes dimensões individuais e sociais, tais como autonomia, independência, constituir família própria etc., características que exigem, para a maioria dos jovens, a efetivação da inserção profissional - o que vem se mostrando cada vez mais difícil e tardia, levando a ampliação do período identificado como “juventude”, mesmo no que se refere à definição de faixas etárias correspondentes. Esse “adiamento” involuntário do ingresso no mercado de trabalho tende a se associar ao prolongamento da escolarização e postergar projetos de vida.

Como se percebe, tratar de juventude é um terreno escorregadio já que não temos uma compreensão única que se mostre apta a abarcar todos os aspectos a ela associados. Esse contexto propicia a constituição de diferentes correntes teóricas que, cada uma a seu modo, coloca em evidência aspectos distintos. Dentre essas correntes, poderíamos destacar a classista e a geracional.

Como o nome indica, a corrente classista procura explicar a condição juvenil com base na lógica da reprodução de classes. Nesse caso, as culturas juvenis são sempre expressões das culturas de classe e suas manifestações devem se encaixar nessa leitura. Assim, aquilo que possa indicar a heterogeneidade que marca os jovens, tais com modos de se vestir, de falar e padrões de consumo passam a ser entendidos como distinções simbólicas voltadas a contestar a ideologia dominante e, assim, essas distinções se explicam pelas relações antagônicas entre as classes sociais minimizando a possibilidade de análises intraclasses. Certamente as teorias classistas têm seu poder explicativo e, sem sombra de dúvidas, o conceito de classe social não pode ser descartado nas análises. Entretanto, atribuir a esse conceito o estatuto de único parâmetro de análise leva a uma leitura homogeneizadora e determinista das juventudes (Pais 1990PAIS, José Machado. (1990), “A construção sociológica da juventude - alguns contributos”. Análise Social, vol. XXV (105-106): 139-165.).

Já a corrente geracional incorre no mesmo equívoco homogeneizador ao tomar a noção de juventude associada à noção de “fase da vida”. Pais (1990PAIS, José Machado. (1990), “A construção sociológica da juventude - alguns contributos”. Análise Social, vol. XXV (105-106): 139-165.) indica que, calcada nas teorias da socialização e na teoria das gerações, produzidas no bojo do funcionalismo, a questão central para essa corrente está em analisar as continuidades e descontinuidades intergeracionais. Nessa linha de análise, a reprodução social estaria associada às relações entre gerações uma vez que indivíduos de uma mesma geração vivem suas experiências e problemas de modo semelhante posto que inseridos num mesmo contexto histórico. A identificação de jovens que comungam de perspectivas de vida distintas daquelas que caracterizam sua geração, situação admitida por esse viés teórico, é entendida como a evidência de “subculturas juvenis” que, apesar de suas distinções e especificidades, permanecem filiadas à cultura juvenil dominante, ou seja, essa subcultura encontra-se integrada ao “tecido social compartilhado pela cultura adulta”. Nessa lógica, a emergência de subculturas juvenis, de fraturas nesse sistema de reprodução social intra e intergeracional são admitidas e, nesses casos, a juventude passa a se configurar como “grupo de referência externa” que passaria a influenciar o mundo adulto com símbolos de status juvenil.

Assim, a continuidade intergeracional se daria pelo processo de socialização mediado por instituições sociais, como a família e a escola, por meio das quais os jovens interiorizam e reproduzem os valores e comportamentos das gerações adultas.

Ainda que apresentadas de modo resumido, essas duas correntes tendem a um determinismo estrutural que se mostra pouco apropriado para entender a juventude em sua pluralidade, bem como a relação que os jovens estabelecem com a religião. Sem dúvida, os aspectos geracional e de classe dialogam com as questões de religião e religiosidade, mas nenhum deles parece capaz de explicar por si só esse aspecto.

Desse modo, optamos por uma perspectiva em que se considere a juventude como mais que apenas uma palavra, e sim como construção social, histórica, cultural fortemente dinâmica que envolve as dimensões relacionadas à classe social, gênero, etnia, geração, escolaridade etc.

As abordagens para estudar a relação entre juventude e religião são também várias, e aqui optamos por investigar o papel da filiação e pertencimento religioso nos percursos formativos de jovens universitários. Interessa observar se e de que modo essa filiação (ou ausência dela) se relaciona com o processo de acesso, a permanência e o desempenho desses jovens em seus percursos de formação universitária.

Com esse foco, apresento alguns resultados de pesquisa qualitativa realizada junto a estudantes de graduação de uma instituição de ensino superior pública (federal). Os sujeitos foram estudantes universitários vinculados a cursos de graduação em diferentes áreas de conhecimento, que cursavam, no momento da pesquisa, até o 3º semestre, e que se autodeclarassem vinculados a uma matriz religiosa especifica (católicos, pentecostais, espíritas, candomblé, umbanda, protestantes etc.) independentemente de se autorreferirem como praticantes religiosos.

Optamos por realizar a investigação junto a estudantes matriculadas nos primeiros semestres por considerar que é nesse período inicial da formação universitária que se observam as maiores chances de insucesso acadêmico tais como reprovações e abandonos de componentes curriculares, notas abaixo da média em avaliações, perda de prazos etc. que podem chegar à evasão e abandono dos cursos, tal como nos indicam as pesquisas realizadas por Coulon (2005COULON, Alain. (2005), Le Métier d’Étudiant. L’entrée dans la vie universitaire. Paris: Anthropos.). Sob esse aspecto nos interrogávamos, também, se a vinculação religiosa seria um suporte para lidar com essas dificuldades que, frequentemente, se observa na vida universitária.

Desse modo, para este estudo exploratório adotamos as entrevistas individuais semiestruturadas como estratégia para a produção de dados e registramos os depoimentos dos estudantes ao longo de encontros realizados no ambiente universitário conforme disponibilidade dos mesmos.

Por conseguinte, o interesse é analisar o papel que vinculações religiosas podem ter na vida universitária dos jovens ao tempo em que nos interrogamos sobre os possíveis reflexos que essa vinculação pode produzir sobre a maneira como esses jovens vivenciam seu ingresso no ensino superior considerando, especialmente, a percepção deles mesmos sobre seu próprio desempenho acadêmico.

Ainda que o foco central esteja em observar as relações que os estudantes estabelecem entre sua vinculação religiosa e a vida universitária, ao longo dos relatos elaborados pelos/pelas jovens é possível observar a emergência das correlações triangulares que os próprios estudantes estabelecem entre sua origem social, focando, especialmente, na religiosidade, na escolaridade, e na inserção no mercado de trabalho dos membros da família, sua própria trajetória escolar (na escola pública) e a influência, direta ou indireta, da vinculação religiosa na opção pelo curso universitário, sem esquecer que as vinculações religiosas reportadas pelos participantes da pesquisa não é linear.

Seguindo nessa linha, trago, aqui, um recorte dessa pesquisa mais ampla com base nas entrevistas realizadas junto a jovens estudantes vinculados ao catolicismo, ao pentecostalismo, genericamente chamados de evangélicos, e aqueles vinculados ao candomblé, religião de matriz africana, muitas vezes identificados como “povo de axé” e/ou “povo de terreiro”.

A relação juventudes e religião

Se o debate em torno da própria noção de juventude como uma categoria de análise se mostra complexo e rico em nuances, ele nos parece tanto mais complexo quando nos debruçamos sobre a relação entre juventude e religião. De modo geral, os estudos que se dedicam a essa questão não estão isentos dos desafios em lidar com uma categoria de análise passível de ser abordada em seu sentido plural, além de lidar com aspectos cruciais como o sincretismo e secularização no processo de “modernização” do Brasil.

Um dos importantes estudos na área foi desenvolvido por Novaes (1994NOVAES, Regina Reyes. (1994), “Religião e política: sincretismos entre alunos de Ciências Sociais”. Comunicações do ISER, nº 45: 62-74.) junto a estudantes de Ciências Sociais na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). A autora centrou seu olhar sobre as formas hibridas de formulação do sincretismo no contexto das culturas contemporâneas. Como resultado obteve-se que 56% dos estudantes declararam sua adesão a uma religião e 44% declararam-se “sem religião”. Dentre aqueles “com religião” os dados apontaram certo alinhamento em relação ao perfil religioso da população brasileira: 33% católicos, 11% evangélicos (com maioria de pentecostais), 8% de espíritas e 4% vinculados ao candomblé (com acentuada inserção no movimento negro).

O que chama atenção nos resultados apresentados por Novaes (1994NOVAES, Regina Reyes. (1994), “Religião e política: sincretismos entre alunos de Ciências Sociais”. Comunicações do ISER, nº 45: 62-74.) é a frequência semanal com que a maioria dos jovens declara participar de atividades religiosas o que indica certo pertencimento institucional e compromisso religioso mediante vínculo formal: frequência às missas, cultos, encontros e cerimonias. Outro aspecto revelado é a opção por um vínculo religioso exclusivo o que se afasta da ideia de haver entre os jovens um duplo pertencimento que induz à perspectiva de flexibilidade e trânsito entre perspectivas religiosas distintas no contexto dos anos de 1990. Vale destacar que nesse momento se observou uma onda new age em que religião e religiosidade, ou espiritualidade, se desconectam e dão espaço a certo misticismo transcendental.

Já entre aqueles que se declararam como ateus, agnósticos ou céticos se registrou o envolvimento com a atividade político partidária e com o movimento estudantil. Contudo, nesse grupo dos sem religião, as nuances quanto as aproximações religiosas são muitas e vai desde aqueles para os quais religião e política se opõem até aqueles que indicam estar buscando uma religião ou migrando de uma para outra. De todo modo, o registro de 56% dos estudantes vinculados a uma religião parecia surpreendente considerando que a universidade se associa à produção do conhecimento científico, ao pensamento racional, à objetividade e à secularização que marca as sociedades modernas.

Na reedição da pesquisa, alguns anos mais tarde, os dados obtidos por Novaes (1998NOVAES, Regina Reyes. (1998), “Juventude/juventudes?” Comunicações do ISER , ano 17, nº 50: 5-13.) indicavam 34% de estudantes afirmando ter uma religião e 64% que afirmavam o contrário. Os dados mostravam uma alteração dos resultados anteriores indicando uma redução na adesão religiosa. Entretanto, em um exame mais cuidadoso, a autora observa que, dentre aqueles que haviam se identificado como “sem religião”, cerca de 40% encontravam-se “em trânsito”, ou seja, não tinham uma filiação religiosa institucional, mas encontravam-se em processo de experimentação de diferentes crenças e técnicas de autoconhecimento indicando arranjos sincréticos individuais.

Aprofundando suas análises, Novaes concluiu que o pertencimento religioso se apresenta com maior ênfase entre estudantes, negros, do sexo feminino, membros de famílias com menor grau de escolaridade e moradores de periferia, apontando a religião como uma referência da identidade das camadas mais pobres que ingressam em níveis mais elevados de escolarização. Esses resultados levaram a pesquisadora à dimensão sincrética presente nas trajetórias dos pesquisados em que pertenças e adesões religiosas são constituídas e diluídas em múltiplos percursos tendo o curso universitário como “marco socializador”.

Novaes (1998NOVAES, Regina Reyes. (1998), “Juventude/juventudes?” Comunicações do ISER , ano 17, nº 50: 5-13.) segue explorando a temática acrescentando a ideia de marcos geracionais. Para discutir esse aspecto, considera três condicionantes sociais para se referir a uma experiência geracional comum, quais sejam: a insegurança frente ao mercado de trabalho, a violência urbana e a linguagem da comunicação visual (internet). Esses aspectos, quando articulados, gerariam “subconjuntos” juvenis com os quais se identificam jovens de grupos sociais diversos.

Os trabalhos desenvolvidos por Novaes (1994NOVAES, Regina Reyes. (1994), “Religião e política: sincretismos entre alunos de Ciências Sociais”. Comunicações do ISER, nº 45: 62-74., 1998) inspiraram uma pesquisa mais ampla junto aos estudantes de Ciências Sociais coordenada pelo Núcleo de Estudos da Religião (NER) da UFRGS envolvendo a UFRGS, Unisinos, PUC (RS), UFMG, UFJF e UFRJ, analisando o imaginário religioso desses estudantes.

Para os estudantes da UFJF e UFMG as análises elaboradas por Cardoso, Perez e Oliveira (2001CARDOSO, Alexandre; PEREZ, Lea Freitas; OLIVEIRA, Luciana de. (2001), “Quem mora ao lado? O pecado ou a virtude? Um estudo comparativo sobre comparação religiosa e política entre estudantes de Ciências Sociais e Comunicação na FAFICH-UFRM”. Debates do NER , ano 2, nº 22: 65-102.) aportam uma perspectiva de comparação entre a população estudada e as dinâmicas do campo religioso articulada às tendências secularizantes e dessecularizantes. É sob esse ângulo que se evidencia a discussão sobre o trânsito religioso e a identidade religiosa exclusiva. Assim, enquanto entre os estudantes da UFJF parece se evidenciar um modelo religioso “moderno e esclarecido” (Camurça 2001CAMURÇA, Marcelo Ayres. (2001), “Religiosidade moderna e esclarecida entre os universitários de Juiz de Fora”. Debates do NER, ano 2, nº 2: 37-64.), entre aqueles da UFMG se observa um modelo de “coerentes e virtuosos” em torno de uma “hierarquia de crenças” (Cardoso; Perez; Oliveira 2001).

Seguindo nessa mesma direção, as análises elaboradas por Gaiger, Locks e Silva (2001GAIGER, Luiz Inácio, LOCKS, Elaine Conceição Santos, SILVA, Cleonice. (2001), “Uma visão preliminar dos estudantes da Unisinos”. Debates do NER , ano 2, nº 2: 117-132.) para a realidade encontrada entre os estudantes da Unisinos (universidade confessional) se apropriam dos conceitos de “trânsito religioso” e “pluralismo religioso” para explicar a expansão do espiritismo e do pentecostalismo como resultado da migração de católicos e protestantes tradicionais para esses grupos, além de uma múltipla filiação religiosa.

Já para os discentes da PUC-RS, também uma instituição confessional, Jungblut (2001JUNGBLUT, Antônio Luiz. (2001), “A religião entre estudantes de Ciências Sociais hoje: declínio do ateísmo ou despolarização de posicionamentos?” Debates do NER , ano 2, nº 2: 133-143.) coloca questões que se aproximam da realidade registrada na UFRGS, estudada por Lewgoy (2001LEWGOY, Bernardo. (2001), “Secularismo e espiritismo nas Ciências Sociais: discutindo os resultados da UFRGS”. Debates do NER , ano 2, nº 2: 133-143.), quanto ao crescimento dos “sem-religião” e “agnósticos” como processo de secularização que se evidencia na negação à pertença a uma religião-igreja e não em uma negação de Deus. Haveria então uma “fuga da religião” em lugar de “fuga do ateísmo”.

Num balanço geral dos resultados encontrados na pesquisa realizada pelo NER-UFRGS, observamos que a condição de universitário é apenas uma “entrada” empírica para a realização da investigação. Apenas na análise tecida por Lewgoy (2001LEWGOY, Bernardo. (2001), “Secularismo e espiritismo nas Ciências Sociais: discutindo os resultados da UFRGS”. Debates do NER , ano 2, nº 2: 133-143.) a condição de universitário parece assumir alguma relevância maior.

Outra pesquisa tratando da relação juventude e religião, realizada num enfoque comparativo internacional envolvendo América Latina, Estados Unidos (EUA), sul e noroeste da Europa, investigou a disseminação e popularização da cultura “nova era” entre universitários e teve seus resultados publicados na Revista Religião e Sociedade (2002). No Brasil, o estudo foi realizado com jovens universitários da UNB. A opção pelo mundo universitário como campo de pesquisa deu-se com base na argumentação de que a literatura New Age teria maior penetração entre jovens e adultos com maior nível de escolaridade.

Outra vertente dos estudos sobre juventude e religião traz a variável “cultura” articulada a linguagem do hip-hop e do rap afastando-se do segmento universitário. Os trabalhos de Novaes (2004NOVAES, Regina Reyes; VANUCCHI, Paulo. (org.). (2004b), Juventude e sociedade: trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo: Fundação Perseu Abramo.), mais uma vez, enriquecem o debate ao discutir a linguagem utilizada por grupos de rap enquanto expressão de um sincretismo clássico que evidencia uma “religiosidade difusa”, tão característica dos “religiosos sem instituição”. A tendência societária a uma religiosidade desinstitucionalizada, individualizante e híbrida constatada pela autora em seus trabalhos sobre as juventudes universitárias avança em direção a uma juventude que se concentra na periferia das grandes cidades exposta à violência e que se expressa numa linguagem musical em que se combinam o sagrado e o profano.

A contribuição desses estudos nos remete ao fato de que “a experiência da vida universitária não se encerra na sala de aula, ainda que seja este o território por excelência das aprendizagens” (Carrano 2009CARRANO, Paulo. (2009), Jovens universitários: acesso, formação, experiências e inserção profissional. In: M. P. Sposito. O estado da arte sobre juventude na pós-graduação brasileira: educação, ciências sociais e serviço social (1999-2006), vol. 1. Belo Horizonte: Argvmentvm. p. 179-228.:216). Entretanto, o processo de laicização das instituições universitárias acabou afastando as pesquisas do fenômeno em que se articulam filiação religiosa, religiosidades e seu reflexo sobre a vida dos jovens universitários, incluindo o seu desempenho nas atividades acadêmicas. Pierucci e Prandi (1996PIERUCCI, Antônio Flávio; PRANDI, Reginaldo. (1996), A realidade social das religiões no Brasil: religião, sociedade e política. São Paulo: USP: HUCITEC.) evidenciam a influência da religiosidade na constituição de valores, visão de mundo e condutas de vida colocando em relevo a importância de estudos que se debrucem sobre as religiosidades presentes na vida dos estudantes universitários brasileiros, uma vez que essas experiências religiosas podem interferir na maneira como se constituem enquanto universitários, condição que exige a apropriação de regras nem sempre explicitas, mas fundamentais para alcançar o sucesso acadêmico, conforme nos indica Coulon (2005COULON, Alain. (2005), Le Métier d’Étudiant. L’entrée dans la vie universitaire. Paris: Anthropos.).

Entretanto, ainda são escassos os estudos que se lançam na investigação das relações entre religiões/religiosidades e juventude (universitária no Brasil) tal como indica Sposito (2009SPOSITO, Marilia Pontes. (2009), “A pesquisa sobre jovens na Pós-Graduação: um balanço da produção discente em Educação, Serviço Social e Ciências Sociais (1999-2006)”. In: M. P. Sposito (coord.). O estado da arte sobre juventude na pós-graduação brasileira: educação, ciências sociais e serviço social (1999-2006) . Belo Horizonte: Argumentum. p. 17-56.). Podemos entender esse panorama se considerarmos a ideia de “cientificidade” associada ao ensino universitário e à universidade como “local da ciência”. Segundo Pierucci e Prandi (1996PIERUCCI, Antônio Flávio; PRANDI, Reginaldo. (1996), A realidade social das religiões no Brasil: religião, sociedade e política. São Paulo: USP: HUCITEC.), a hegemonia do esclarecimento científico do mundo que marcou o século XX, numa busca por explicações desencantadas e “desprovidas da necessidade de apelo à magia, ao sobrenatural, às explicações que escapam do controle racional” viveu sua crise no final do século passado.

Assim, vários estudos, tais como aqueles empreendidos por Novaes (2005NOVAES, Regina Reyes. (2005), “Juventude, percepções e comportamentos: a religião faz a diferença?” In: H. W. Abramo; P. P. Branco (org.). Retratos da juventude brasileira: análise de uma pesquisa nacional. São Paulo: Fundação Perseu Abramo : Instituto Cidadania. p. 263-290.) e Modesto (2006MODESTO, Ana Lucia. (2006), “Religião, escola e os problemas da sociedade contemporânea”. In: J. Dayrell. Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: UFMG.) indicam um processo de reencantamento do mundo. Segundo Perez, Tavares e Camurça (2009PEREZ, Léa Freitas; TAVARES, Fátima; CAMURÇA, Marcelo Ayres. (2009), “Imaginário religioso, moral e política entre a juventude mineira”. In: L. F. Perez; F. Tavares; M. Camurça. Ser jovem em Minas Gerais: religião, cultura e política. Belo Horizonte: Argvmentvm . p. 35-73.:191), “a religião, ao contrário do que previam algumas teses da secularização, apresenta pleno vigor e mesmo uma renovação” havendo entre os jovens “um vivo interesse” que se mostra mais intenso do que aquele relacionado à política partidária o que acentua a importância da participação dos jovens em associações e atividades religiosas como ingrediente importante de sociabilidade.

Para compreender a dinâmica da relação juventude e religião, a perspectiva de Geertz (1978GEERTZ, Clifford. (1978), A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar.) contribui para melhor analisar o fenômeno. Para ele, religião se refere a “um sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosas, penetrantes e duradouras disposições e motivações nos homens através da formulação de conceitos de uma ordem de existência geral” (1978:104). Ainda para Geertz, a perspectiva de que a religião molda as ações e “projeta imagens da ordem cósmica no plano da experiência humana não é uma novidade” (1978:104). Contudo, empiricamente sabemos muito pouco “sobre como é realizado esse milagre particular”. Seguindo nessa discussão, a dimensão da religiosidade é entendida por Ribeiro (2009RIBEIRO, Jorge Claudio. (2009), Religiosidade jovem: pesquisa entre universitários. São Paulo: Loyola: Olho d’Água.:16) como “capacidade humana, histórica e culturalmente determinada, de elaborar sentidos para a totalidade da existência”.

Considerando a força que a religião e a religiosidade podem assumir na vida do indivíduo, evidencia-se a lacuna de estudos sobre essa dimensão junto aos jovens estudantes, sujeitos que vivenciam experiências diversas na universidade - espaço identificado como secularizado, comprometido com a explicação cientifica dos fenômenos e, simultaneamente lugar de escolarização e profissionalização. Contribuindo para evidenciar a limitação de estudos em torno dessa temática podemos indicar o balanço produzido por Carrano (2009CARRANO, Paulo. (2009), Jovens universitários: acesso, formação, experiências e inserção profissional. In: M. P. Sposito. O estado da arte sobre juventude na pós-graduação brasileira: educação, ciências sociais e serviço social (1999-2006), vol. 1. Belo Horizonte: Argvmentvm. p. 179-228.), lembrando que boa parte dos trabalhos que adotam a juventude universitária como recorte de investigação acaba por negligenciar aspectos que nem sempre são evidentes nos processos de aprendizagem tais como crenças religiosas, formas de lazer, participação em grupos esportivos e/ou culturais etc.

Tomando esse conjunto de questões, nos parece fundamental analisar o papel da filiação religiosa nos percursos formativos de jovens universitários vinculados a diferentes áreas de conhecimento e a diferentes matrizes religiosas, observando o papel da religião no acesso, na permanência e no desempenho desses jovens em seus percursos de formação universitária, buscando identificar os princípios em que se estabelecem (ou não) uma interface entre matrizes religiosas e “sucesso” e/ou “fracasso” no ensino superior considerando a percepção dos próprios estudantes.

Além disso, interessa-nos observar os elementos de diferentes matrizes religiosas que favorecem (ou não) o ingresso dessa população no ensino superior observando estrutura familiar e trajetória socioescolar. Sob quais condições o prolongamento da vida escolar desses jovens, rumo à universidade, se relaciona com a filiação religiosa ou princípios de religiosidade aos quais se vinculam? De que maneira uma vinculação religiosa e as dimensões de religiosidade atuam como variáveis importantes na filiação desses jovens à vida universitária e em seus planos de futuro?

Essas foram as questões que nortearam o trabalho de produção de dados realizado mediante entrevistas individuais num recorte qualitativo de investigação. Essas entrevistas semiestruturadas sob a forma de roteiros norteadores, previamente elaborados, foram desenvolvidas junto a estudantes que participaram voluntariamente. O contato com os estudantes ocorreu de forma aleatória mediante a estratégia de indicações sucessivas (bola de neve), considerando como variável central a vinculação religiosa. As entrevistas foram realizadas no ambiente universitário em função da disponibilidade dos jovens. Todos encontravam-se matriculados em instituição de ensino superior federal localizada no estado da Bahia.

Assim, no item a seguir, apresentamos parte dos resultados obtidos com base nos depoimentos registrados.

Religião e vida estudantil

A pesquisa de cunho qualitativo exploratório envolveu um total de 12 estudantes contatados mediante a estratégia de rede de indicações. Desse conjunto, selecionamos 6 estudantes assim distribuídos: a) duas do sexo feminino vinculadas ao catolicismo, ambas inseridas no mesmo curso de graduação na área da saúde e participantes de um grupo religioso; b) duas estudantes evangélicas vinculadas a graduação na área da educação e c) dois estudantes matriculados na mesma formação em artes e ligados ao candomblé (uma do sexo feminino e um do sexo masculino). Vale acrescentar que todos estavam solteiros no momento da pesquisa e eram egressos da rede pública de educação básica.

Outro aspecto que merece ser mencionado diz respeito aos pares religião/área de formação universitária indicados anteriormente, quais sejam: catolicismo/saúde, evangélicos/educação e candomblé/artes. A constituição desses pares teve como objetivo espelhar as áreas de formação mais frequentes quando as vinculações religiosas indicadas pelos estudantes são tomadas como ponto de partida. Ou seja, dos 5 estudantes católicos, 32 2 Os outros 2 estudantes estavam matriculados em cursos da área de Ciências Sociais Aplicadas. estavam matriculados em cursos da área de Ciências da Saúde, daí o par catolicismo/saúde; já dentre os 43 3 O outro estudante estava na área das Engenharia. estudantes evangélicos, 3 estavam inseridos em cursos da área de Ciências Humanas, mais especificamente na Educação, uma vez que eram estudantes de licenciatura, do que derivou o par evangélico/educação e, por fim, dos 3 estudantes filiados ao candomblé, 2 cursavam formações na área de Linguística, Letras e Artes, nomeadamente nas Artes, do que derivou o par candomblé/artes. Pretendemos, assim, assegurar certa correspondência entre o conjunto dos dados produzidos com os 12 estudantes e o recorte dos resultados de pesquisa que utilizamos aqui.

Para melhor sistematizar a apresentação dos dados tomamos como referência a opção religiosa e tratamos, a seguir, das experiências narradas pelas duas estudantes católicas.

Assim, se as duas estudantes católicas estão matriculadas no mesmo curso da área de saúde e são egressas da escola pública, fizeram caminhos distintos para ingressar no ensino superior. Enquanto Carla, 21 anos, não pode se preparar para a seleção acompanhando um curso preparatório em função do choque de horários com suas aulas noturnas no ensino médio e os compromissos com o trabalho, já que começou a trabalhar como menor aprendiz aos 16 anos; por outro lado, Milena, 20 anos, contou com essa possibilidade mediante inserção no curso preparatório oferecido gratuitamente por uma universidade pública.

As duas estudantes, Carla e Milena, indicam o importante papel de suas famílias quanto ao prolongamento dos estudos. Os pais de Carla têm o ensino fundamental completo, e ela mora com sua mãe, já que é filha de pais separados, e o processo de separação dos pais é apontado como uma dificuldade a mais a ser superada na busca por uma vaga no ensino superior. Assim, ela contou com o suporte da mãe e da irmã mais velha como incentivadoras, bem como dos colegas de trabalho, enquanto seu pai parece não ter cumprido um papel especial nessa dinâmica (situação para a qual o divórcio contribuiu). Já os pais de Milena têm ensino médio completo, sua mãe é técnica de enfermagem, e seu pai é policial. Além disso, ela tem um irmão já inserido no ensino superior.

A influência da família também é o motor para a vinculação religiosa das estudantes de saúde com o catolicismo, apesar de contarem com parentes de outras religiões. Esse é o caso de Milena, cuja mãe deixou o catolicismo para se tornar evangélica apesar de nunca ter sido uma católica praticante. Não obstante, Milena reafirma sua identificação com os princípios do catolicismo, do mesmo modo que Carla também valoriza a presença de Deus em sua vida. Milena recorda que sua adesão ao catolicismo remonta a participação nas atividades de catequese desde seus 9 anos quando sua mãe ainda era católica, bem como seus avós maternos. Para ela, a conversão de sua mãe não se apresentou como um problema para sua convivência familiar e elas chegam a compartilhar suas leituras da Bíblia.

As duas jovens se autodefinem como praticantes uma vez que frequentam a missa, participam de retiros, grupos de oração com jovens4 4 Ambas indicam ter participado, por curto período, de grupo de jovens religiosos organizado dentro do próprio campus. Uma delas, Milena, viu no choque entre as reuniões do grupo e as aulas o motivo para buscar um grupo fora da universidade e que tivesse suas atividades durante o final de semana. Já Carla não se identificou com o grupo religioso de jovens universitários e faz a mesma opção buscando um grupo externo. e consideram conhecer e praticar os ensinamentos que fundamentam o catolicismo.5 5 Milena e Carla indicam sua vinculação com o movimento Canção Nova. Esse nível, intensidade e frequência às atividades religiosas que emerge nos depoimentos das duas estudantes nos remete à análise de Novaes (1994NOVAES, Regina Reyes. (1994), “Religião e política: sincretismos entre alunos de Ciências Sociais”. Comunicações do ISER, nº 45: 62-74.). A autora identificou esse tipo de comportamento como “pertencimento institucional e compromisso religioso mediante vínculo formal” ao elaborar o contraponto em relação aos jovens que se autodeclaram ateus, agnósticos ou céticos dentre os quais se evidenciava maior implicação com atividades políticas. O vínculo religioso exclusivo, também mencionado por Novaes (1994), pode ajudar a compreender o que se depreende dos relatos das duas estudantes, particularmente de Milena cuja mãe migra para o campo evangélico sem que isso tenha, segundo ela, colocado em risco seu firme pertencimento religioso.

Esse envolvimento religioso que para Milena e Carla foi iniciado desde cedo se espraia no cotidiano de ambas e parece preencher suas vidas ao oferecer uma explicação para as perdas e ganhos, inclusive quanto aos sucessos e fracassos relativos à vida acadêmica. Nas palavras delas:

A vida é uma montanha russa, tem horas que a gente tá em cima, tem horas que a gente tá lá embaixo. O meu ser católico me faz perceber que quando eu tô lá em cima é graça de Deus, é Deus me agraciando e quando eu tô lá embaixo são as provações, mas assim como a chuva vem e aí quando passa tem o arco-íris, assim, assim é a certeza que a gente tem dos problemas e das dificuldades. Então, se eu hoje tirei zero na prova, tá, eu poderia ter estudado mais, então eu vou me esforçar para que na próxima prova eu tire uma nota melhor. (Entrevista Milena, setembro 2019).

É a religião que eu me identifico que eu sinto, me sinto bem de tá fazendo parte, que quando eu vou à missa eu sinto a presença de Deus, que quando eu peço assim, algum desejo, alguma graça, alguma coisa eu sinto que ele me atende (...) Eu cresci nesse círculo que minha mãe sempre me mostrou que sempre foi de ir à missa, fazer o catecismo, então eu me identifico muito, então hoje eu não me vejo em outra religião (Entrevista Carla, setembro 2019).

Além disso, as duas estudantes referem sintonia com as posturas adotadas pela Igreja Católica no que se refere ao aborto, homossexualidade, celibato - temas sensíveis na sociedade contemporânea. Elas se apoiam nos sagrados mandamentos, no princípio da procriação e de pecado para se posicionar diante dos temas.

A vinculação religiosa atuou de forma distinta quando o assunto é a escolha do curso superior. Para Carla, a opção pela área de saúde não se fez sob a influência direta da religião, posto que o envolvimento com o catolicismo se aprofundou após o ingresso no ensino superior. Ela, que sempre admirou “os cursos da área de saúde” e sempre gostou de “trabalhar com pessoas”, ambicionava a medicina, mas como sempre teve o “pé no chão”, julgava que o estudo que tinha não era suficiente e, durante certo tempo, vagou na indecisão em busca de um curso superior que permitisse a continuidade de seu estágio pela manhã, e foi assim que definiu sua escolha entre conversas ocasionais com colegas de trabalho, busca na internet e comentários de que era “ um curso bom” com “vários campos de atuação”, uma promessa de “que não ficaria desempregada de jeito nenhum”.

No que se refere a Milena, o interesse e a escolha pela área da saúde se vinculam ao desejo de ajudar o próximo, um dos fundamentos religiosos. Foi esse desejo que colocou a medicina como a formação almejada por Milena como a carreira que simboliza “salvar vidas” e, junto a isso, o sonho da obstetrícia “para fazer parto porque dar à luz, trazer alguém à vida, trazer alguém ao mundo, pra mim, isso é graça e isso tem tudo a ver com a religião, um novo ser que surge, é isso aí dádiva de Deus”. Contudo, assim como Carla, por considerar-se pouco preparada para enfrentar a disputa por uma vaga em medicina, a jovem acaba por ingressar em outra formação em saúde, considerada de menor concorrência e boas chances de emprego orientada pelos comentários de seu pai, que tinha um colega de trabalho seguindo a formação.

Como se vê, apesar da opção religiosa ter atuado em intensidades diferentes quanto a definição da área de formação universitária, as duas jovens deixam o sonho da medicina de lado e adotam critérios mais mundanos para potencializar suas chances de avançar para a universidade. Nem o olhar divinizado de Milena para a medicina foi suficiente para fazê-la acreditar que poderia superar a seletividade que caracteriza o curso. Mas é o olhar religioso que ela lança para a vida que a auxilia a explicar as frustrações e dar sentido às possibilidades concretas que a levam a universidade. Ainda assim, as duas jovens consideram uma graça de Deus o ingresso na universidade.

Vivenciar a condição de estudante enquanto católicas praticantes também foi uma experiência distinta entre as duas jovens. Pelo relato delas, os elementos que demarcaram essas diferentes vivências se relacionam com o grau de envolvimento, pertencimento religioso e a própria condição juvenil.

A multiplicidade de filiações religiosas no ambiente acadêmico somada à presença significativa de outros jovens católicos funcionou para Carla como uma combinação favorável que, inclusive, se mostrou distinta de suas apreensões iniciais que incluíam a possibilidade de enfrentar “chacota por ser da igreja”. Ao mesmo tempo, ela observa que, entre os jovens do meio universitário, há uma desvalorização da vinculação a uma religião específica ao mesmo tempo em que seus colegas indicam acreditar em Deus. Religião e religiosidade se distinguem, e Carla vê nisso uma incongruência que, para ela, guarda certa relação com o fato de serem jovens.

Quando Carla elabora sua ideia de juventude, ela se vincula a uma imagem generalizada, e nem por isso menos válida, que associa os jovens a festas, diversão, consumo de bebidas e esses jovens não ansiarem ouvir a palavra de Deus. Carla, então, encontra dificuldade em atuar como evangelizadora, um dos compromissos de sua adesão religiosa praticante. Ela experimenta em seu cotidiano de estudante certa tensão entre o ambiente universitário caracterizado pela concentração desses jovens e os comportamentos e valores nos quais se pauta para viver, ela própria, sua condição de jovem.

Quando observamos os relatos de Milena sobre sua vida universitária, apesar de indicar a diversidade religiosa com a presença de ateus e adeptos do candomblé, ela destaca o ambiente acadêmico como espaço de debates de ideias e pensamentos em que a crítica à religião em geral e ao catolicismo/igreja católica, em especial, é contundente e embasada na perspectiva histórica. Mas outro aspecto afeta Milena em sua vida estudantil: a tensão entre a base científica do curso que faz e os dogmas de sua religião. Lidar com as teorias biológicas da origem do mundo e da vida em paralelo ao dogma da criação do mundo por Deus em sete dias, assim como da criação do homem e da mulher a partir de Adão e Eva é considerada uma tarefa “bem difícil”, que exige dela aprofundamento maior em seus estudos bíblicos como forma de se manter mais bem preparada para o debate e a tarefa do convencimento do outro na tarefa da evangelização.

No que se refere ao desempenho acadêmico, nenhuma das jovens estabelece uma relação direta entre resultados satisfatórios e vinculação religiosa, mas o atribuem ao engajamento com os estudos e a disciplina na realização das tarefas durante a semana a fim de assegurar os finais de semana para as atividades religiosas. Paralelamente a esse aspecto, as duas estudantes consideram que se destacam pela maneira com que se relacionam com os colegas: estudar com o colega que tem resultados negativos nas avaliações, emprestar anotações e materiais das aulas, compartilhar orientações e informações, enfim, um conjunto de atitudes e comportamentos através dos quais esperam expressar os fundamentos do catolicismo que professam.

Deixemos o universo católico para ingressar na perspectiva das estudantes evangélicas Aline (19 anos) e Nice (24 anos), ambas inseridas na área da educação e também egressas do ensino médio público.

O ingresso no ensino superior para Nice foi marcado por duas tentativas fracassadas antes de conseguir uma vaga depois de um ano fazendo um curso particular preparatório. Aline também buscou reforço para enfrentar a seleção acompanhando um curso preparatório noturno oferecido pelo governo do Estado, em paralelo ao 3º ano vespertino do ensino médio.

A família das duas garotas evangélicas também cumpre papel relevante na busca por inserção no ensino superior. Os pais de Nice, ambos autônomos com educação básica completa, sempre acompanharam de perto sua vida escolar participando das reuniões, observando as notas e realização das tarefas tendo o pai, também, o papel de assegurar o suporte financeiro. Ao tratar do apoio que sua família ofereceu ao longo de sua escolarização, Nice menciona não apenas a dimensão objetiva, material, financeira, que se evidencia na possibilidade de realizar um curso particular voltado a ampliar suas chances de conquistar uma vaga na universidade; ao mesmo tempo, ela evidencia o suporte subjetivo, emocional traduzido no envolvimento em sua vida escolar. O prolongamento da escolarização de Nice em direção ao ensino superior, apesar das dificuldades que, em geral, afetam os egressos da escola pública brasileira, parece ter integrado os planos familiares para seu futuro. Já Aline teve apenas em sua mãe (ensino fundamental incompleto), que na época da pesquisa trabalhava como merendeira, a figura familiar de referência, inclusive financeiramente. Enquanto essa mãe era presença assídua em sua escola fundamental e média, o seu pai, que trabalhava como motorista (ensino médio completo) esteve sempre ausente mesmo antes da separação do casal.

Nice é a única que se identifica como evangélica de seu núcleo familiar majoritariamente composto por católicos não praticantes. Contudo, antes de aderir a uma corrente pentecostal, Nice se considerava católica e, quando faz essa conversão, acaba influenciando a sua mãe que passa a frequentar os cultos evangélicos. Contudo, depois de um atrito com um pastor, sua mãe deixa de frequentar a igreja. Enquanto Nice segue em sua opção evangélica, sua mãe se afasta de uma vinculação específica mantendo sua crença na Bíblia apesar de seus questionamentos. Já Aline, por sua vez, cresceu em um núcleo familiar evangélico e foi criada, juntamente com seus irmãos, “dentro dos preceitos da Bíblia de que deve adorar a um único Deus” e participando da escola dominical. Apesar do abalo sofrido com a separação dos pais quando tinha 7 anos, a família seguiu na mesma vinculação religiosa.

Olhando para Nice e Aline, ambas referidas como evangélicas, observamos que enquanto Aline apresenta um vínculo religioso exclusivo com acentuada vinculação institucional como nos assinala Novaes (1998NOVAES, Regina Reyes. (1998), “Juventude/juventudes?” Comunicações do ISER , ano 17, nº 50: 5-13.), Nice experimentou o “trânsito”, a “flexibilidade” entre diferentes matrizes religiosas migrando da matriz católica, preponderante em sua família, para o universo evangélico, num movimento que acaba por afetar, ao menos temporariamente, a vinculação de sua mãe ao catolicismo. Aqui os estudos de Gaiger, Locks e Silva (2001GAIGER, Luiz Inácio, LOCKS, Elaine Conceição Santos, SILVA, Cleonice. (2001), “Uma visão preliminar dos estudantes da Unisinos”. Debates do NER , ano 2, nº 2: 117-132.) nos sugerem os conceitos de “trânsito e pluralismo religioso” para explicar esse tipo de migração. Para os autores, esse tipo de circulação entre diferentes religiões deriva do distanciamento ou declínio dos compromissos e práticas da religião anterior. A transição vivida por Nice ao se distanciar da definição religiosa de sua família, ao mesmo tempo em que nos remete a uma ruptura na busca por uma orientação religiosa mais pessoal, também nos conduz a outro aspecto que merece ser mencionado e se relaciona à força da família como principal influência na escolha religiosa dos jovens, tal como Gaiger, Locks e Silva (2001) enfatizam ao destacar o fenômeno da “transmissão religiosa”.

O binômio família-religião também ocupou papel importante na vida de Aline ainda que com nuances distintas daquelas relatadas por Nice.

Foi também a forte vinculação religiosa de Aline e o fato de dois membros de sua família, a avó materna e uma de suas tias, terem sido professoras com formação no magistério que a opção por uma formação universitária na área da educação ganhou sentido. Ela relata que seu foco era ingressar numa formação que envolvesse trabalhar com crianças, e a possibilidade de atuar na educação emergia como uma lembrança positiva das brincadeiras da infância. A escolha contou com o apoio materno que a orientava dizendo “peça misericórdia a Deus e coloque Ele em primeiro lugar, como a Bíblia diz”. Ao mesmo tempo, sua avó materna dizia que:

“Filho de pobre não vai para universidade”, aí eu sempre dizia, mas eu vou ser diferente, “você não vai ter condições de se manter”, e minha família, por parte de mãe, sempre me ajudou, (...) eu sempre tive minhas tias que diziam, “estude!”, é que as filhas delas não querem de jeito nenhum ser professora, a minha tia dizia: “você vai ser a professora da família”, e sempre aquele incentivo, mas a família do meu pai nunca me ajudou, nem pai, nem avó, ninguém, sempre esteve na área de criticar do que ajudar. (Entrevista Aline, setembro 2019).

Para Aline, a “transmissão religiosa” efetivada por sua mãe, sua avó materna e suas tias, todas evangélicas, evidencia a força da família na constituição de seu pertencimento religioso. Essa presença familiar pode ser também observada na definição do curso e da profissão de professora. Mas se a adesão religiosa de Aline se fortalece no seio familiar, esse pertencimento será, em certa medida, confrontado quando do seu ingresso no ensino superior, como veremos a seguir.

De fato, a vida universitária trouxe outros desafios para Aline que se viu diante de uma série de teorias científicas que se chocavam com sua fé e marcaram essa passagem da escola de ensino médio para a universidade. Lembremos que situação semelhante nos foi relatada por Milena, uma das estudantes católicas.

A universidade, como nos adverte Pierucci e Prandi (1996PIERUCCI, Antônio Flávio; PRANDI, Reginaldo. (1996), A realidade social das religiões no Brasil: religião, sociedade e política. São Paulo: USP: HUCITEC.), é o lugar da ciência, do pensamento racional, o que contribui para a laicização da vida universitária (Carrano, 2009CARRANO, Paulo. (2009), Jovens universitários: acesso, formação, experiências e inserção profissional. In: M. P. Sposito. O estado da arte sobre juventude na pós-graduação brasileira: educação, ciências sociais e serviço social (1999-2006), vol. 1. Belo Horizonte: Argvmentvm. p. 179-228.), o que não elimina as tensões cotidianas conforme Aline nos conta:

De início, eu fiquei, assim, meu Deus do céu, meio assustada, porque os professores falando da ciência, porque o macaco, aí eu dizia “meu Deus”, aí eu fiquei, assim, meio assustada, e chegava em casa e conversava e minha mãe dizia: “minha filha, ore e continue firme”; por mais que eu esteja aqui no ensino superior, eu tenha as minhas crenças, aí eu entrei com esse pensamento: nada aqui vai me influenciar para eu enfraquecer na fé (...), tudo que eu ouvir aqui é para me fortalecer na fé. Então as pessoas da igreja sempre conversam comigo, e sempre falavam que tinha livros que fala contra, eu ficava assim meio assustada, aí eu acho que o professor percebe, ele sempre dizia “tem muita gente aqui que não aceita”, eu dizia: : “eu tenho o meu pensamento, se for pra fazer uma prova sobre isso eu faço, o que importa é o que eu creio” (...) eu dizia: “eu creio da minha forma, o que eu puder fazer para você pensar certo eu vou fazer, mas se você não quiser mudar seu pensamento, eu não posso fazer nada, quem tem poder de mudar seu pensamento é Deus”. (Entrevista Aline, setembro 2019).

Como podemos observar nas palavras de Aline, a tensão entre ciência e religião é uma constante em sua trajetória universitária. De um lado, as “verdades” produzidas pela ciência, que, segundo ela, buscavam “enfraquecer a sua fé” exigindo uma redobrada adesão religiosa para resistir às ameaças e “continuar firme”, do outro lado, estavam as crenças elaboradas pela religião tomadas como referência do “pensar certo”. Aline busca separar esses dois mundos para melhor transitar em ambos e prosseguir em sua formação universitária.

Apesar de afirmar nunca ter sofrido preconceito no cotidiano universitário, ela mesma reporta uma situação em que, após um grupo de alunos entrar na sala de aula para divulgar um evento evangélico, o professor “ficou fazendo deboche e muitos alunos apoiaram, como sempre, e eu não gostei, se há uma diversidade, isso é falta de respeito e eu não gostei. E ele, como professor da universidade, deveria respeitar a religião do outro”. Situações como essa produzem constrangimento para Aline, que acaba por evitar qualquer tipo de debate em sala de aula que signifique colocar em xeque as prerrogativas de sua vinculação religiosa, bem como os conteúdos das disciplinas: ficando no seu “cantinho”, ela consegue permanecer no ensino superior.

Aline se mostra crítica frente ao comportamento de outras estudantes evangélicas que se deixaram seduzir pelo que chama de “as coisas do mundo” e que “não usavam saia nem blusinha composta”, risco que ela declara não correr, já que essas evidências fortalecem suas convicções religiosas.

Em suas reflexões, ela considera que a influência da religião em seu ingresso na universidade não está na definição da formação universitária em que ingressou, mas, sim, no fato de considerar que:

se Deus tem o melhor pra mim, porque eu não poderia estar aqui na universidade, então eu sempre almejei o melhor, mas não acreditava, tinha muito pensamento negativo, mas graças a Deus, ele mostrou que eu posso tudo naquele que me fortalece, graças a Deus, eu estou aqui, de certa forma a religião me influenciou, a querer o melhor, que Deus deixou o melhor da Terra foi para nós. (Entrevista Aline, setembro 2019).

É com essa argumentação circular que a possibilidade de ingresso no ensino superior se concretiza: se não fosse o melhor para Aline, certamente, Deus não teria permitido que isso acontecesse com ela. Além disso, o pertencimento religioso ofereceu para Aline certa autoestima e mesmo autoconfiança para ultrapassar a sentença de sua avó para quem a universidade não seria lugar de pobres. A conquista de uma vaga em uma universidade pública, superando diferentes dificuldades, emerge aqui como fonte de fortalecimento da fé, o que pode ocorrer independentemente da filiação religiosa (Swatowiski, Silva, Alvarenga 2018SWATOWISKI, Claudia; SILVA, Dayane; ALVARENGA, Otávio. (2018), “Religião no contexto universitário: uma pesquisa entre estudantes de Ciências Sociais e Psicologia da UFU”. Interseções, Rio de Janeiro, vol. 20 nº 2: 388-411.).

No entanto Aline não vive a universidade como um espaço em que todos os temas são tratados. Para ela, a questão religiosa não é discutida abertamente e se assemelha a um aspecto adormecido da vida das pessoas configurando-se como temática ausente dos currículos universitários de formação de professores. Esse aspecto se conjuga a uma atmosfera preconceituosa em relação aos evangélicos que, segundo ela, se afirma na combinação entre desconhecimento e generalizações relacionadas às diferentes vertentes protestantes e à postura adotada por líderes religiosos evangélicos que ganharam visibilidade nos meios de comunicação de massa pelo envolvimento em escândalos financeiros e pelo discurso violento e ameaçador em direção a grupos sociais, tais como os homossexuais, bem como em direção a outras religiões, especificamente, àquelas de matriz africana, onde se destaca o candomblé. Sobre esse aspecto, vale observar que dados registrados pelo antigo Ministério dos Direitos Humanos (MDH), entre 2015 e 2017, indicam cerca de 1.500 casos de ataques a adeptos e terreiros de candomblé no Brasil. Cerca de 25% dessas denúncias de intolerância foram registradas por adeptos de religiões de matriz africana (candomblé, umbanda, dentre outras) que correspondem a 1,6% da população brasileira segundo o Censo de 2010. Já os católicos, que correspondem a 64,4% da população, registram 1,8% do total de denúncias do período, e os protestantes registram 3,8% de situações de crime de ódio e intolerância, enquanto correspondem a cerca de 22% da população brasileira. Para 2018, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) registrou 506 casos dentre os quais a mesma tendência se evidencia.6 6 Dados específicos ano a ano, a contar de 2011, podem ser consultados em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2019/junho/balanco-anual-disque-100-registra-mais-de-500-casos-de-discriminacao-religiosa.

O candomblé foi a escolha religiosa de Luiza, que se autoidentifica como artista e, de fato, está vinculada à formação universitária nessa área. Segundo seu relato, seus pais são “cristãos não praticantes” classificados assim por ela por se aproximarem e respeitarem os princípios do cristianismo, mas não aderirem à disciplina de frequência à Igreja e leitura da Bíblia. Sua vinculação com o candomblé se inscreve em sua infância através da família de sua mãe biológica: bisavó, avó e tias, todas elas praticantes e junto as quais viveu sua primeira infância, até os 4 anos, frequentando os terreiros, as festas e rituais. A família, mais uma vez, funcionou como a principal influência na definição de uma vinculação religiosa. Entretanto, no caso de Luiza a concretização dessa transmissão de religiosidade parece ter atravessado um longo caminho para se efetivar.

Já Lucas, outro estudante das artes, vem de uma família composta pelos pais católicos e irmãos evangélicos. Ao longo de seu depoimento, ele menciona que, na coabitação familiar, não havia dificuldades de convivência advindas das escolhas religiosas de cada um. Ele menciona o “respeito às escolhas dos outros” e utiliza esse princípio como argumento para que as suas próprias escolhas sejam respeitadas, tanto na família como no espaço público. Novaes (2012NOVAES, Regina Reyes. (2012), “Juventude, religião e espaço público: exemplos ‘bons para pensar’ tempos e sinais”. Religião e Sociedade, 32(1): 184-208.), ao analisar contextos domésticos multirreligiosos, nos ajuda a melhor compreender a experiência de Lucas, e de tantos outros jovens, ao destacar certo enfraquecimento na transmissão religiosa intergeracional, o que acaba refletindo na fabricação social de outros mecanismos para tratar da diversidade religiosa. Outro aspecto salientado por Novaes, nesse cenário de diversidade religiosa, e que se coaduna com o vivido por Lucas, é o papel que laços afetivos assumem ao diluir posturas de intolerância e sectarismo nesses núcleos familiares.

Longo tempo católico, por influência dos pais, Lucas se afasta dessa matriz por considerar que os princípios católicos eram incompatíveis com sua prática religiosa. A isso se segue um período de distanciamento em que deixa de frequentar as missas e passa a buscar suporte nos estudos sobre outras religiões e nos estudos culturais:

Eu fui me aproximando de conhecer as religiões afro-brasileiras, em especial o candomblé, e aí escolhi depois de conhecer, por achar próximo daquilo que eu acredito, da minha concepção de vida, na verdade, como a minha vida mesmo está estabelecida, pela identificação com esse grupo religioso, por eu achar próximo do que eu acredito atualmente (...) por uma questão de valorização étnica, questão cultural, de uma religião própria dos negros. (Entrevista Lucas, agosto 2019).

Luiza explica que viveu a maior parte de sua vida, dos 9 aos 24 anos, sem nenhuma “ideia de Deus”, mas que sempre teve uma forte ligação com os elementos e as forças da natureza que ela encontrou e reconheceu na figura dos orixás, nos princípios do candomblé e em suas práticas que considera “comunitárias”. A condição de praticante do candomblé, que ela vive como uma opção, se vincula também ao autorreconhecimento de sua ancestralidade e sua identificação com a cultura africana:

Eu entendo o candomblé como uma das coisas mais bonitas que existe no mundo, na minha vida, hoje em dia, em termos de dança, de canto, cada dia descubro rituais, a própria história do meu povo, da cultura do meu povo... é extraordinário, o que todo negro deveria ao menos conhecer para se localizar no tempo e no espaço. (Entrevista Luiza, outubro 2019).

Ouvindo o relato desses dois jovens sobre os caminhos percorridos para chegar ao candomblé, a questão étnico racial emerge como catalizador da busca por um lugar religioso em que seja possível o reconhecimento de referências culturais ancestrais que, de algum modo, se configure como campo de religiosidade em que o estatuto de jovem negro e pobre encontre reconhecimento e possibilidade de identificação nos princípios, práticas e símbolos religiosos.

Outro aspecto que Lucas menciona como um ponto atrativo no candomblé se refere à liberdade no que tange a “viver sua sexualidade”, além da “cosmologia da religião, como ela explica os fatos, as questões do mundo, as questões pessoais”.

O caminho percorrido por Lucas dialoga com aspectos analisados por Swatowiski, Silva e Alvarenga (2018SWATOWISKI, Claudia; SILVA, Dayane; ALVARENGA, Otávio. (2018), “Religião no contexto universitário: uma pesquisa entre estudantes de Ciências Sociais e Psicologia da UFU”. Interseções, Rio de Janeiro, vol. 20 nº 2: 388-411.:400) ao indicarem que os “cursos de Humanas tendem a valorizar as religiões de matriz africana”. Essa valorização se conecta, segundo as autoras, ao fato dessas religiões serem consideradas complacentes em relação à diversidade de sexo e gênero quando comparadas à heteronormatividade que caracteriza o catolicismo. Outro aspecto tratado pelas autoras é a relação entre a adesão ao candomblé e uma postura de resistência étnico racial, uma dimensão que pode ser observada tanto na trajetória de Lucas como na de Luiza mesmo que tenham percorrido caminhos diferentes. Entretanto, se ela encontrou o candomblé na sua infância, ele buscou pesquisar, ler, estudar e posteriormente passou a frequentar um terreiro.

Nas interseções que Luiza estabelece entre sua vida acadêmica e o candomblé se revela a busca de respeito e reconhecimento da sua condição de mulher negra e mesmo de seu corpo que não se enquadra nos padrões estéticos hegemônicos. Ela considera que a formação universitária e a formação no candomblé contribuíram para que melhor compreendesse esses aspectos. Terreiro e universidade se complementam nesse caminho formativo mais amplo e engajado de reafirmação identitária. Isso apesar de sua vivência acadêmica apontar para a dificuldade de diálogo sobre temáticas religiosas no ambiente acadêmico seja dentro da sala de aula ou nos pátios.

Ao longo de sua fala, Luiza salienta os aspectos artísticos que encontra em celebrações, rituais, indumentárias, musicalidade que marcam a simbologia dos Orixás e que se misturam com a formação em Artes e suas atividades profissionais relacionadas à produção cultural. Os momentos de compartilhamento das tarefas no terreiro, inerentes à condição de praticante (cozinhar, servir, limpar etc.), são valorizadas como expressão de pertencimento e reconhecimento do grupo tal como se observa nas mais diferentes religiões. Nesse ponto, ela reconhece que a condição de praticante, de integrante de um terreiro demanda disciplina para conciliar os estudos, o trabalho, a vida pessoal e a religião a qual dedica seus finais de semana:

Eu participo de um terreiro... a frequência é sempre porque, quando você quer, a porta tá aberta porque é como se fosse a sua segunda casa, lá tem um calendário anual das festas dos orixás, tem os rituais também que você tem que tá participando, tem a limpeza das casas dos orixás, as consultas, tem que limpar a cozinha, tem que ir lá capinar, cuidar da própria natureza, plantar, colher. (Entrevista Luiza, outubro 2019).

Quando se trata de refletir sobre as relações entre religião e sua vida universitária, Luiza considera que essa é uma questão “difícil de explicar”, pois se associam a “uma série de coisas de energia” que se revelam à medida que aprofunda a compreensão dos ensinamentos de seu Orixá. Esse aprendizado e a certeza de que “tem um ancestral ali por mim” permitiu projetar um futuro e superar dificuldades que se associam ao acesso à universidade. As forças cósmicas sintetizadas nas figuras dos Orixás atuam, para ela, como um amparo diante das adversidades da vida, um porto seguro.

Por outro lado, no que se refere à valorização dos estudos no âmbito do candomblé e mais especificamente do terreiro que frequenta Luiza procura sustentar o argumento da importância atribuída à escolarização citando o nome de integrantes reconhecidos, publicamente, pelo talento em diferentes campos da arte. Ela destaca o fato de o pai de santo ter nível superior e atuar em projetos sociais.

Entretanto, assim como as estudantes evangélicas, em que pesem as diferenças inerentes a cada religião, Luiza também indica a dificuldade em viver sua religiosidade e tratar de temas religiosos no âmbito acadêmico, ainda que observe a diversidade de crenças nos corredores da universidade. Sobre esse aspecto, ela menciona diretamente a dificuldade de convivência e diálogo com os evangélicos que considera intolerantes e preconceituosos em relação a questões étnico raciais e condição de gênero. Lucas vai mencionar esse mesmo tipo de dificuldade com os colegas evangélicos que, segundo ele, sempre encontravam uma forma de não fazer trabalhos de grupo com ele.

Lucas, por sua vez, identifica também no babalorixá do terreiro que frequenta uma figura que destaca a importância da escola, salientando esse aspecto junto às famílias e encorajando ao prolongamento da escolarização a níveis mais elevados. A menção ao estímulo aos estudos que emana dessa liderança religiosa, referência no terreiro que frequenta, traz a indicação de um caminho a percorrer até o doutorado e a esse caminho se associa a perspectiva formativa dentro da própria organização do candomblé e sua hierarquia.

Se Lucas não vê relação entre a religião e o ingresso na universidade, dado que aderiu a essa religião anos depois de seu ingresso, quando se trata de refletir sobre as aproximações entre seu pertencimento religioso e vida estudantil, ele destaca que à medida em que estabelece uma “boa relação com a divindade”, por meio das práticas religiosas que exercita, essa “boa relação” se difunde “em todas as áreas da minha vida, então, querendo ou não, pensando a partir da lógica que a religião coloca, com certeza tem a ver. Por exemplo, se eu participo, se estou lá, se me dedico, vou ser também bom em outros aspectos da minha vida” (Entrevista Lucas, agosto 2019).

É interessante observar que as correlações que Lucas faz entre pertencimento ativo a uma religião e seus benefícios na vida estudantil, na forma da obtenção de bons resultados, pode ser observado tanto nos depoimentos das estudantes católicas como nas evangélicas. O divino muda, mas a compreensão de seus efeitos sobre a vida estudantil permanece.

Quando retomamos com o Lucas o tema relativo ao ambiente universitário e o pleno exercício da religiosidade, ele indica a evidente contradição entre o discurso e a prática:

As pessoas ainda não respeitam as outras porque têm uma religião diferente, né? Ou que têm uma prática diferente, então é algo contraditório, que algumas pessoas colocam que aqui é o lugar do conhecimento como se não existisse conhecimento em outro lugar, muitas vezes uma pessoa que não está nesses ambientes consegue entender melhor que o outro é diferente, mas outros que estão aqui dentro, que estudam, que estão num nível que se acha inclusive avançado, eles não reconhecem isso. (Ibid).

Seguindo em seu raciocínio, o estudante acrescenta, com base em suas experiências, que o reconhecimento e respeito à diversidade não se vincula ao nível de escolaridade dos envolvidos, deixando clara a sua crítica às contradições que marcam a instituição universitária.

Conclusões

O objetivo aqui esteve em colaborar com o debate sobre as relações entre juventudes e religião refletindo, mais detidamente, sobre as interseções entre experiências religiosas e a vida universitária, tema central que norteou o depoimento dos 6 estudantes.

A reflexão sobre o conjunto das falas registradas corrobora com a ideia de que o sagrado é presença constante ao longo de toda a História, e, seguindo nessa perspectiva, é possível pensar o sagrado como fonte de constituição de laços sociais, não a única, mas uma delas. Para Vernant (1983VERNANT, Jean-Pierre. (1983), “Para que servem as religiões”. Religião e Sociedade , 9: 65-70.), a religião é um sistema simbólico que distingue o homem dos outros animais. Esse sistema simbólico se associa à maneira como os indivíduos dão sentido a suas experiências. Enquanto sistema simbólico, a institucionalização da religião pode servir a diferentes fins, chegando mesmo a sustentar a defesa do monopólio de uma verdade absoluta afastando-se da espiritualidade.

Nesse sentido, um aspecto que merece ser destacado no conjunto dos depoimentos dos estudantes é o fim do monopólio familiar na transmissão de uma herança religiosa. A família concentra, na maioria das vezes, os contatos iniciais com a religião, tal como registramos junto aos nossos interlocutores. Entretanto, à medida que o processo de socialização se amplia e se diversifica, os jovens buscam maior coerência entre princípios, discursos, regras religiosas e suas convicções.

Para Perreault (2005), o fim de uma transferência linear de valores religiosos pode ser explicado por um processo de secularização e individuação da experiência religiosa, forjando novos modos de viver e conduzir a relação com o sagrado numa reconfiguração em que a religião deixa de ser um sistema detentor de verdades absolutas e passa a registrar expressões culturais distintas na relação com o divino. Para o autor, esse cenário possibilita e encoraja as trocas de vinculação religiosa que se observa entre jovens, como é o caso daqueles que participaram da pesquisa.

Essas trocas de vinculação religiosa também se relacionam com experiências de cunho mais institucionalizado que levam os jovens a viver situações em que são constrangidos em suas escolhas, e mesmo criminalizados, em especial quando se trata da sexualidade. A perspectiva de “enquadramento” em regras rígidas de cunho dogmático diante de uma sociedade cada vez mais caracterizada pela diversidade e pela luta em prol do respeito a essa diversidade tende a estimular os jovens a buscar matrizes religiosas mais tolerantes e flexíveis.

Seguindo nessa direção, à secularização mencionada acima se associam aspectos observados por Novaes (2004aNOVAES, Regina Reyes. (2004a), “Os jovens ‘sem religião’: ventos secularizantes, ‘espírito de época’ e novos sincretismos. Notas preliminares”. Estudos Avançados, nº 18: (52).), tais como a emergência de novos sincretismos estimulados pela globalização e os reveses sofridos pelo catolicismo em sua hegemonia como elementos que podem elucidar a ampliação do número de jovens entre 15 e 24 anos que se autodefinem como “sem religião”.

Ter fé não implica em, necessariamente, estar vinculado a uma institucionalidade religiosa. Entretanto, se relemos os depoimentos dos jovens que participaram da pesquisa, independentemente de sua opção religiosa no momento da investigação, outro aspecto parece comum a eles, especialmente, quando refletem sobre as relações entre vida universitária e experiência religiosa: contar com uma referência religiosa que aporta uma vivência com o sagrado e seus valores é fonte de autoconfiança e resistência para vencer obstáculos e dificuldades como estudante, ampliando as possibilidades de êxito acadêmico, em que pese toda a relatividade que envolve a noção de êxito. Assim, o exercício da religiosidade retroalimenta a fé no sagrado que fortalece corpos e mentes para superar um ensino médio “fraco” que torna mais difícil o acesso e a permanência no ensino superior, para superar o tempo escasso para estudar, posto que é preciso trabalhar, para lidar e enfrentar as práticas discriminatórias no ambiente universitário que derivam do próprio pertencimento religioso, por exemplo.

Se a religião pode ser um ingrediente que constitui o sentido para a vida do indivíduo, outro aspecto observado nos depoimentos registrados é a dimensão do engajamento no que tange a lidar com as incongruências entre a realidade sociopolítica e os princípios religiosos preconizados. Tanto mais essas contradições atinjam a condição social dos jovens, maior a tendência a uma crítica aos modelos hegemônicos e a própria religião. Esse aspecto se mostra mais evidente no depoimento de Lucas e Luiza, que buscam coerência entre pertencimento religioso, ancestralidade e sexualidade. Isso porque Lucas, que se autoidentifica como preto e homossexual, procura uma experiência religiosa acolhedora naquilo que o define em lugar de recriminação e constrangimentos. Luiza, uma mulher preta, busca na ancestralidade religiosa um diálogo entre sua formação universitária em artes e o seu corpo que desobedece aos padrões dominantes. Podemos observar aqui que a dimensão religiosa é colocada em negociação com outras esferas tais como a cultural, uma tendência observada por Mafra (2011MAFRA, Clara. (2011), “A arma da cultura e os universalismos parciais”. Mana, 17(3): 607-624.), o que, segundo a autora, se associa a uma dinâmica de reconhecimento da diversidade. Vale, contudo, acrescentar que, além da dimensão cultural, observa-se também entre os entrevistados a negociação entre a religião e aspectos de autorreferência, tais como: orientação sexual, identidade étnico racial e a relação com o corpo, por exemplo.

Por seu turno, as jovens universitárias católicas e evangélicas identificam na formação em saúde e educação, respectivamente, ferramentas que colaboram para fortalecer seus laços com os compromissos religiosos mediados pelo princípio comum de “ajudar o próximo”. Elas elaboram, em seus discursos, uma simbiose em que os desafios da vida universitária se misturam aos desígnios religiosos ao mesmo tempo em que esses desígnios atuam como ponto de apoio para perseverar e se empenhar na conquista do sucesso acadêmico que, por sua vez, se confunde com o sucesso da missão religiosa.

Tanto os jovens católicos como evangélicos e adeptos do candomblé demandam respeito para viver a diversidade religiosa inclusive no âmbito da vida acadêmica.

Outro aspecto que vale retomar, para concluir, está no caráter dinâmico dos percursos religiosos dos jovens, conversão, desconversão, desfiliação, refiliação indicam uma amplitude maior de arranjos religiosos socialmente possíveis. Essa dinamicidade pode, também, ser observada quando buscamos outras pistas para entender os nexos entre vida universitária e experiência religiosa. Se de um lado o confronto entre dogmas religiosos e a perspectiva de conhecimento científico-racional em que se ancora a universidade pode aprofundar o sentido de pertencimento religioso, por outro lado, pode, também, produzir tensões e fissuras capazes de levá-los a buscar experiências religiosas que permitem conjugar convicções pessoais com questões sociais mais amplas na produção de sincretismos contemporâneos.

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  • VERNANT, Jean-Pierre. (1983), “Para que servem as religiões”. Religião e Sociedade , 9: 65-70.
  • 1
    Outras vertentes adotam como foco o recorte geracional e a noção de juventude como cultura e modo de vida e ainda juventude como representação social e autorrepresentação.
  • 2
    Os outros 2 estudantes estavam matriculados em cursos da área de Ciências Sociais Aplicadas.
  • 3
    O outro estudante estava na área das Engenharia.
  • 4
    Ambas indicam ter participado, por curto período, de grupo de jovens religiosos organizado dentro do próprio campus. Uma delas, Milena, viu no choque entre as reuniões do grupo e as aulas o motivo para buscar um grupo fora da universidade e que tivesse suas atividades durante o final de semana. Já Carla não se identificou com o grupo religioso de jovens universitários e faz a mesma opção buscando um grupo externo.
  • 5
    Milena e Carla indicam sua vinculação com o movimento Canção Nova.
  • 6
    Dados específicos ano a ano, a contar de 2011, podem ser consultados em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2019/junho/balanco-anual-disque-100-registra-mais-de-500-casos-de-discriminacao-religiosa.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2023

Histórico

  • Recebido
    04 Jun 2022
  • Aceito
    22 Fev 2023
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