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A modernidade como religiosamente plural ao invés de secular. Entrevista com Peter Berger (1929-2017)

Modernity as religious pluralism, not secularism. Interview with Peter Berger (1929-2017)

Apresentação

O “excelente” e o “ótimo” são muitas vezes os maiores inimigos do “bom”. Quando penso no tempo que deixamos passar para publicar essa entrevista, concluo que esse ditado popular é bem verdadeiro. Adiamos essa publicação justamente porque queríamos dar a ela uma forma excelente. Pensamos em redigir uma apresentação elaborada, comentar e aprofundar informações complementares, anexar uma lista dos livros de Peter Berger traduzidos em português e outros detalhes do gênero. Os planos para essa publicação “ideal” adiaram já por sete anos a divulgação dessa entrevista que Renata Menezes e eu fizemos com Peter Berger. Na época estávamos concluindo um ano de visita acadêmica na Universidade de Nova York com licença de nossas instituições e bolsa estágio sênior da Capes (2015-2016). Graças ao estímulo de Christina Vital, da equipe da revista Religião e Sociedade e de outros colegas e amigos, que leram e comentaram o material original, lembramos de outro ditado popular, “antes tarde do que nunca”, e retomamos o projeto da publicação.

A entrevista foi realizada em 06 de agosto de 2016 no apartamento onde Peter Berger vivia em Brookline, Massachusetts, próximo ao campus da Universidade de Boston. Desde maio de 2015, quando sua esposa e companheira de anos, Brigitte, faleceu após uma longa doença, Berger passou a viver sozinho e, na época em que o visitamos, nos disse que ainda estava reorganizando sua moradia e sua vida. Apesar do momento difícil que vivia, Berger declarou ter boa saúde e apenas sofria de artrite, que lhe causa problemas para andar. Realmente ele estava bem-disposto e intelectualmente ativo, escrevendo sobre suas ideias. Na época contribuía semanalmente para The American Interest 1 1 Os artigos de Berger foram publicados nesse site entre 2006 e 2017. O mais recente é de 17 de maio de 2017. Disponível em: https://www.the-american-interest.com/v/peter-berger/. Acesso em 20 de julho de 2023. , e imprimiu e nos deu o artigo que tinha acabado de escrever para aquela semana e cujo tema era a Renovação Carismática Católica e a forma da Igreja Católica lidar com a pluralidade. Comentou que recebia muitos convites para palestras, entrevistas e viagens, mas como aposentado sentia falta de conviver com novos pesquisadores, estudantes, orientandos. Sobre seus planos futuros, contou que em outubro daquele ano estava planejando outra viagem para Viena para atividade acadêmica, e antes de viajar, se casaria novamente. A noiva era uma ex-aluna da Escola de Teologia da Universidade de Boston dos finais dos anos 1980 (ele me disse que foi minha contemporânea de quando fiz doutorado, mas não consegui identificar quem era). Nossa conversa foi animada marcada pelo seu senso de humor e sua espontaneidade.

Iniciamos a entrevista pedindo para que falasse sobre o seu último livro The Many Altars of Modernity; toward a paradigm for religion in a pluralist age (2014). 2 2 Esse livro foi traduzido para português como Os Múltiplos Altares da Modernidade; Rumo a um paradigma da religião em uma época pluralista, publicado pela editora Vozes em 2017. Berger estava feliz com o que escreveu e comentou que, de fato, o livro era original e criativo. Argumenta nesse livro que a modernidade geraria basicamente o pluralismo de crenças e de visões de mundo, e não necessariamente enfraqueceria a religião. O tema do pluralismo e sua relação com a modernidade perpassa toda a entrevista sendo sempre retomado por Berger em suas reflexões sobre assuntos diversos. Ele comenta sobre vários outros livros e projetos e sua vida profissional e pessoal. Tentamos saber um pouco mais sobre sua infância. Mas não conseguimos que falasse sobre isso. Bem posteriormente ficamos sabendo que quando criança fugiu da Europa com sua família por serem judeus. Seus pais eram judeus seculares e queriam ir aos Estados Unidos, mas ficaram por anos na então Palestina. Ainda adolescente, teria se convertido independentemente de sua família ao luteranismo e sua conversão foi na época tão forte a ponto de querer ser pastor.

No final da entrevista, conversamos sobre temas da política da época e nos damos conta que pouco mudou no mundo. Berger se preocupa com o crescimento de discursos fascistas. A entrevista é concluída com sua opinião sobre Trump e Putin. Menos de um ano depois desse nosso encontro, no dia 27 de junho de 2017, Berger viria a falecer de ataque do coração aos 88 anos.

Cecília Mariz

Entrevista

Renata de Castro Menezes - O senhor disse que o seu livro The Many Altars of Modernity é muito criativo, que possui ideias inovadoras.

Peter Berger - Sim, muito novo, mas nada é completamente novo, sempre se constrói sobre algo. Quem estuda religião, a opinião pública, em geral, enfim, a maioria das pessoas, incluindo o Papa, por exemplo, ainda pensa que vivemos numa “Era Secular”. Do ponto de vista dos religiosos, do ponto de vista do Papa, é preciso reevangelizar o mundo. Bem, isso pode ser verdade na Europa, mas não é verdade em mais nenhum outro lugar do mundo, nem mesmo nos Estados Unidos. Por outro lado, a secularização (e não o secularismo, pois secularismo é uma ideologia) é bem real. Há uma vasta área na vida moderna onde é necessário que se tenha um discurso secular.

No CURA - Institute on Culture, Religion, and World Affairs3 3 O instituto foi criado por Peter Berger quando conseguiu levantar uma quantidade de recursos para seus projetos em 1985, um ano depois que ingressou na Universidade de Boston. Inicialmente foi chamado de Institute for the Study of Economic Culture (ISEC), mas logo teve seus objetivos ampliados e o nome alterado, passando a se chamar Institute on Culture, Religion, and World Affairs e a ser conhecido pela sigla CURA. da Universidade de Boston - agora não sou mais o diretor desse centro, estou aposentado - nós fizemos um estudo em um hospital. O hospital é um lindo exemplo de instituição secular, pois pode ser considerado como um “templo da ciência”. Espera-se que tudo seja científico no hospital, no entanto, lá há também “sacerdotes” que, com seus jalecos brancos, estão no topo de uma hierarquia em cujo nível mais baixo se encontram os pacientes com seus pijamas horrorosos, esperando um julgamento, um veredicto “científico”. Mesmo assim o hospital é uma instituição muito secular. No hospital tudo deve ser científico, há um uso pesado de tecnologia. Você não pode fazer nada sem testes e análise científica. Para um simples tratamento dentário, por exemplo, se precisa talvez de uma centena de exames de toda sorte. Tudo é altamente tecnológico.

Por outro lado, o hospital está constantemente permeado pela religião. Nos Estados Unidos com certeza, mas também na Europa e provavelmente no Brasil, existe a figura do capelão do hospital. Você também encontra no hospital grupos de oração, familiares dos pacientes, que podem trazer símbolos religiosos, e ainda trazer sacerdotes de suas religiões. Apesar de ser o “templo da ciência”, o hospital não é uma área destituída ou completamente livre de religião, pelo contrário. E como tudo isso pode estar junto? As pessoas vivem vários discursos e, entre esses, os discursos médicos.

Conheço um cirurgião em Boston que é um judeu muito ortodoxo e praticante, que usa uma pequena kipá no seu consultório, mas que quando realiza uma cirurgia, ninguém vê, nem mesmo sabe dessa kipá por baixo de seu uniforme de cirurgião. Tudo o que ele faz durante a operação deve ter base em uma lógica que não é afetada pela religião. Certamente esse médico pode rezar para ser bem-sucedido na cirurgia, mas o que ele faz e como ele pensa, enquanto opera, não vai variar, seja ele católico, judeu, ateu, budista. Essa experiência, que integra o mundo da técnica/ciência e a fé/religião, tem de ser explicada seja no nível individual (da subjetividade), seja no nível institucional

Em um exemplo, que usei em uma palestra recente sobre pluralismo, imaginava um problema mecânico no Papamóvel, esse automóvel engraçado que parece um carrinho de golfe em que o Papa circula no “vasto” território do Vaticano, que é tão grande quanto o Central Park. Podemos imaginar o Papa no Papamóvel indo a um evento muito sobrenatural, por exemplo, a beatificação ou santificação de mais uma freira brasileira, já que a jurisdição do Papa alcança o “outro mundo”. De repente, o Papamóvel para, a entourage do Papa fica preocupada, mas quem as pessoas vão chamar para resolver o problema? O Vaticano, tenho certeza, tem um “setor” de exorcismo, já que este é um ritual que existe no catolicismo, um ritual reconhecido pela Igreja Católica. Também sei que eles têm uma enorme oficina mecânica para automóveis. Quem os auxiliares do Papa irão chamar? Exorcistas ou os mecânicos? Tenho certeza de que vão chamar os mecânicos, primeiramente. Mas isso não significa que o Papa não acredite em exorcismo, mas apenas acredita que exorcismo deve ser usado em outra “jurisdição”: a sobrenatural. Também quando o Papa santifica uma pessoa, ele age na jurisdição do “outro mundo” ou do sobrenatural. Bem, escolhi um exemplo católico e um judeu, mas poderia ter sido com budistas, não importa. Essa coexistência de discursos religiosos e seculares existe na mente dos indivíduos. Há estudos muito bons sobre como se dá esse processo de coexistência, como isso funciona, e tenho desenvolvido alguns conceitos para analisar isso.

Essa coexistência ocorre também no nível político, envolvendo o Estado. Como o Estado lida com essa cacofonia de crenças e de sistemas de valores? Esse problema levanta questões políticas muito interessantes, que serão distintas nos diferentes países. Outro nível de análise dessa questão seria ainda, em termos das instituições religiosas, isto é, como elas se relacionam entre si. Escrevi sobre isso recentemente. Quando começamos no CURA o estudo sobre pentecostalismo, David Martin4 4 O principal resultado desse projeto foi o livro de David Martin, Tongues of Fire: The Explosion of Protestantism in Latin America (1990). estava a cargo desse projeto, e viajamos para o Chile. Começamos a pesquisa pelo Chile, onde tivemos um encontro muito interessante num instituto jesuíta. Achei realmente interessante o que eles disseram. O chefe do instituto, um espanhol, me perguntou por ser eu um observador neutro: “O que nós fizemos de errado?” (“nós” significando Igreja Católica), ao que respondi: “Eu não acho que fizeram nada errado, há algo mais que está acontecendo e que não podemos controlar”.

Mas voltando ao que queria dizer, quando começamos a estudar o pentecostalismo, naquela época (finais dos anos 1980) a Igreja Católica, os bispos da América Latina eram muito hostis aos pentecostais, os consideravam como “heréticos”, ou “parte de um complô da CIA”, exagerando enormemente as habilidades da CIA (risos). Bem, isso mudou, e agora se vê toda sorte de ruídos ecumênicos como “somos todos cristãos” e “temos que ter algo do mesmo tipo na Igreja Católica”. Então passou-se a dizer “nós temos os católicos carismáticos”, apesar dos bispos, na maior parte das vezes, não se sentirem muito à vontade com esses carismáticos. Assim, há agora essas pessoas leigas que têm a permissão de “falar em línguas” e levantar as mãos, mas os bispos estão no controle. No caso católico, a hierarquia faz concessões para os seguidores leigos, mas se mantém no controle.

Mas esse tipo de coisa não ocorre apenas na Igreja Católica. Outros grupos religiosos têm o mesmo problema: como eles lidam com isso (a diversidade interna)? E como se relacionam uns com os outros? Como lidam com o pluralismo da sociedade em que se encontram?

Então, eu penso que a questão na qual trabalho agora, mas que infelizmente não vou conseguir concluir, pois é algo que precisa de uma geração de scholars, de um trabalho com outras pessoas, se realmente se quer criar um novo paradigma; não sou megalomaníaco. Isso demora um tempo, mas eu penso que, eventualmente, a partir dessas ideias, podemos construir instrumentos conceituais que lidem com diferentes fenômenos em contextos e situações diferentes. É isso o que tenho feito. Eu estou ficando um pouco cansado pois falo sobre isso em todo lugar. Não é fácil para mim agora viajar, eu tenho artrite severa nos joelhos. Mesmo assim estive na Europa duas vezes nos últimos seis meses, participando de grandes eventos. Todas as vezes nós falamos sobre esse livro, não exatamente o livro, mas as ideias que estão nele. A primeira viagem foi à Alemanha, por ocasião da publicação do livro lá, havia um interesse da mídia… Eu disse para os amigos, eu estou ficando cansado de falar sobre isso. Então, ou eu encontro outro tema totalmente distinto - como, por exemplo, agricultura no Nordeste do Brasil, ou qualquer outra coisa do gênero - ou eu digo que mudei de opinião e que tudo que escrevi antes é errado, e digo algo novo.

R. C. M. - Sobre a necessidade de novas gerações de pesquisadores, há um grupo de pessoas trabalhando com o senhor sobre esse novo paradigma?

P. Berger - Não, realmente não. Nós tínhamos um centro de pesquisa, o que Cecília visitou anos atrás, mas eu não o dirijo mais, nem mesmo sei o que eles estão fazendo agora.

Cecília Mariz - Quem é o diretor? Robert Heffner, que o substituiu, ainda está lá?

P. Berger - Não sei. Não tenho mais nada a ver com o instituto agora. Antes era um lugar para onde eu podia convidar pessoas como vocês para vir e ficar aqui pois havia bolsas.

C. M. - Mas voltando ao seu livro (Many Altars…), há capítulos de outros três autores que discutem suas ideias. Quem são esses autores? Por que foram escolhidos?

P. Berger - Sim, são três pessoas que comentam. O livro não era tão grande e os editores sugeriram incluir comentadores. O primeiro autor é minha colega, é próxima a mim, Nancy T. Ammerman5 5 Professora de sociologia da religião no Departamento de Sociologia e na Escola de Teologia da Universidade de Boston. É autora do livro Sacred Stories, Spiritual Tribes: Finding Religion in Everyday Life(2014). , Nancy é professora na Universidade de Boston. O colega da Alemanha, Pollack6 6 Detlef Pollak é professor de sociologia da religião da Westfälische Wilhelms-Universität (WWU) em Münster, Alemanha. é seu nome. O terceiro comentador é Yang7 7 Fenggang Yang é professor de sociologia e diretor fundador do Centro de Religião e Sociedade Chinesa da Universidade de Purdue em Indiana, Estados Unidos. que é chinês, mas ensina nos Estados Unidos na Universidade de Purdue em Indiana. Acho que o comentário de Nancy se destaca pois ela captou melhor minhas ideias.

Mas Pollack, é um caso interessante. Eu o conheci quando ele ensinava na DDR Alemanha Oriental, agora está na Alemanha Ocidental. Ele era um teórico a favor fortemente da hipótese da secularização, e ainda é. Ele disse que a secularização ainda não chegou aos Estados Unidos, mas chegará e a teoria da secularização também se aplicará aqui. Ele diz que todo o mundo será como a Suécia, onde menos de 2% acreditam em Deus e no paraíso… mas eu acho isso muito improvável.

O governo alemão deu uma enorme quantidade de dinheiro às universidades para criarem o que chamam “centros de excelência”, que são voltados para o estudo de questões interdisciplinares apenas. Pollack conseguiu um bom financiamento para iniciar um centro desses sobre religião e modernidade (Center for Religion and Modernity ou CRM)8 8 CRM é um centro interdisciplinar voltado para o estudo da religião e modernidade que está sediado na Westfälische Wilhelms-Universität (WWU) em Münster, Alemanha. Disponível em: https://www.uni-muenster.de/Religion-und-Moderne/en/. Acesso em 9 de agosto de 2023. . Ele me convidou para proferir a conferência de inauguração desse novo centro, como eu estava trabalhando nessas questões, e tinha escrito um artigo. Então dei essa conferência que foi recebida com grande entusiasmo.

Publicaram um livro sobre isso com artigos que dialogavam com minha conferência. Pollack estava muito animado, e referiu-se ao evento como “Paz de Vestfália” - um tratado internacional do século XVI que representou o final da Guerra dos Trinta Anos na Europa Central, entre protestantes e católicos, que matou milhões de pessoas. Esse tratado foi muito importante porque propôs uma fórmula que ajudou por muito tempo a manter a paz. Então Pollack quis dizer com isso que fizemos as pazes entre a teoria da secularização e seus críticos. Ele disse “Yeah it was great!” (Sim, foi ótimo). Mas parece que nesse meio tempo, entre a inauguração do centro e o capítulo do livro, ele mudou de opinião. De fato, nesse artigo ele disse “Berger deve desistir de sua oposição à teoria da secularização. O velho Berger estava correto e o novo Berger está errado e ele errou em mudar de posição...”, mas tudo bem (risos).

O autor chinês é muito bem informado sobre a China, ele tem um centro de estudos em religião chinesa - não sei quem sustenta o centro, mas provavelmente sua universidade em Indiana. O que ele diz basicamente em seu capítulo é que a China é tão diferente de tudo o mais que somente se pode analisá-la com outros conceitos. Mas isso não é verdade… certamente cada país é diferente, a China é muito diferente, mas você pode identificar lá os mesmos processos. Lá também tem pentecostalismo. O pesadelo do Partido Comunista da China é que os protestantes possam dominar o país.

C. M. - O Partido Comunista era uma força secularizante, qual o sucesso que teve na China?

P. Berger - Eles tentaram muito, mas sem sucesso. Estima-se que haja hoje 100 milhões de cristãos na China. Extraoficialmente, o governo chinês fala em 130 milhões, o que seria cerca de dez por cento da população, mais do que o número de membros do Partido. Por isso, o governo, especialmente o novo presidente Xi9 9 Xi Jinping se tornou presidente da República Popular da China em 2013. , está muito preocupado com isso.

C. M. - Então, o pentecostalismo está crescendo lá?

P. Berger - Sim, atualmente o país não é mais totalitário, apenas autoritário. Assim o governo tenta controlar, mas o pentecostalismo cresce. Quando as igrejas são fechadas, as pessoas se encontram em suas casas, em garagens… um fenômeno tipicamente pentecostal. Mas não são apenas os pentecostais que crescem.

C. M. - Que outro tipo de religião cresce lá?

P. Berger - Todas as religiões experimentam reavivamentos na China.

R. C. M. - O senhor falou do “velho” e do “novo” Berger. O que o levou a mudar de opinião?

P. Berger - A evidência empírica. Minhas concepções religiosas e pessoais nunca mudaram em toda a minha vida adulta. Assim, não houve um tipo de conversão religiosa, nem filosófica. Não. Se você olha para o que conhecemos empiricamente sobre o mundo contemporâneo, a teoria da secularização não é correta… em outras palavras, dizer que a história se move em direção a uma secularidade, não é verdade.

Talvez a Europa seja a única parte do mundo onde isso é realmente verdade. Eu quero dizer que a Europa é a parte mais secularizada, tanto em relação às crenças que as pessoas dizem ter, quanto às suas práticas e comportamentos. Na Europa não são apenas os intelectuais que são seculares: o fenômeno é muito mais amplo.

Por outro lado, há também uma intelligentsia internacional, que é realmente muito secularizada, especialmente na área das humanidades e ciências sociais. Já nas ciências físicas é menos. Se você vai a um faculty club de uma universidade em qualquer lugar do mundo, você se sente como se estivesse na Suécia, quero dizer, as pessoas que falam com você lá, quando elas falam (risos), parecem que vivem na Suécia. Então, a partir de uma experiência como essa com professores universitários, você pode concluir que a Índia é um país secularizado. Mas se você sai para caminhar em qualquer lugar na Índia por dez minutos, você esbarra em 50 deuses. Tudo e todos vibram religião, e alguns fiéis podem ser realmente desagradáveis, fanáticos.

C. M. - E como o senhor não perdeu sua religião? Como sendo um intelectual e convivendo com essa intelectualidade se manteve luterano toda sua vida?

P. Berger - Bem, um luterano não muito ortodoxo…

R. C. M. - Você sentiu preconceito por parte do mundo acadêmico por ser luterano?

P. Berger - A maior parte da minha vida acadêmica tem sido nos Estados Unidos, aqui é um pouco diferente. A religião é muito poderosa na América. Mas, sim, sofreria preconceito, se eu fosse um Evangelical 10 10 Termo utilizado nos Estados Unidos para os evangélicos que se auto identificam como fundamentalistas. , ou se eu fosse pentecostal, por exemplo, ou um católico romano muito piedoso. Nesses casos, sim, haveria sofrido preconceito na academia aqui, mas não tanto por causa das questões religiosas em si, mas por causa das questões morais. Ou seja, me refiro a questões como aborto, contracepção, sexualidade em geral… o que chamo questões relacionadas com “o sul do umbigo”. Essas são aquelas que despertam mais os ânimos das pessoas. Quando a academia critica a Igreja Católica? Quando ela condena os preservativos, por exemplo. Como eu nunca tive muito problema com essas questões, não sou criticado.

Eu senti mais preconceito no campo da política, quero dizer, a academia está milhas mais à esquerda do que a maioria da população americana. Não tanto pela velha questão direita versus esquerda, capitalismo versus socialismo, que não é mais um tópico muito vivaz hoje em dia. Agora a esquerda possui outros elementos, outra agenda em torno da qual se une, que são em sua maior parte assuntos relacionados com o que eu chamo “sul do umbigo”: homossexualidade, sexo extramatrimonial, aborto, contracepção. Isso é o que lhes interessa e com o que se importam. Eu acho que a maior parte do preconceito antirreligioso tem a ver com a questões sexuais e reprodutivas.

R.C.M. - Há um outro livro sobre o qual gostaríamos de conversar: Adventures of an Accidental Sociologist: How to Explain the World Without Becoming a Bore (2011BERGER, Peter. (2011), Adventures of an Accidental Sociologist: How to Explain the World Without Becoming a Bore. New York: Prometheus Books.).

P. Berger - Sim, houve problemas sérios de divulgação desse livro por parte da editora. Ele é muito traduzido, porém, foi pouco resenhado em revistas.

R.C.M. - Mas você gosta dele?

P. Berger - Bem, é uma história… Eu sou muito conhecido, mas eu sinto falta, primeiro, antes de tudo, sinto falta de ensinar. Eu gosto de ter gente jovem inteligente que possa me criticar, estou tentando encontrar algo equivalente, mas é difícil. Sou muito conhecido nas ciências sociais. Pessoas que lidam com o estudo acadêmico da religião, nas ciências sociais, elas me conhecem em todos os lugares, mas eu sinto falta do contato direto, do face a face. Para encontrar jovens pesquisadores, eu tenho que viajar para algum lugar.

C. M. - E as palestras e entrevistas por Skype que você costuma dar?

P. Berger - Bem, não é a mesma coisa, você sabe como é, você não pode interagir realmente…

C. M. - Você também tem um blog, certo?

P. Berger - Sim, eu tenho um blog11 11 Peter L. Berger: Religion & Other curiosities, que era divulgado pelo The American Interest. , eu publico nele toda semana. Não sou pago por isso. As pessoas pagam para ter acesso e ler o blog, não é muito, cerca de três dólares por mês. Não sei por que cobram, pois não conseguem obter muito dinheiro disso. Justamente, conclui um texto ontem à noite, trabalhei nele até tarde. Meu site na web fica em Washington, eu não domino essa tecnologia, envio meus textos por e-mail, e “eles” o colocam no “Cosmos”. Na noite passada trabalhei até tarde no próximo texto, eu estava ocupado essa semana e nem tive como revê-lo. Então terminei o texto ontem, e vai sair amanhã, eles vão colocar na web. Esse que acabei de fazer é sobre o Vaticano e o movimento carismático católico.12 12 O artigo sobre a carismáticos católicos está disponível em https://www.the-american-interest.com/2016/08/03/of-catholics-and-charisms/. Acesso em 09 de agosto de 2023. Vou imprimir uma cópia para vocês, eu o achei divertido. O que me levou a escrevê-lo foi quando algumas semanas atrás (em geral, tento relacionar meus textos do blog com algo atual), li em um jornal católico… Eu assino muitos jornais e, entre esses, um jornal católico muito bom, The Tablet,13 13 The Table, The International Catholic New Weekly é uma revista semanal católica publicada desde 1840. que é publicado na Grã-Bretanha e traz notícias internacionais do catolicismo. Então, li no The Tablet que a Congregação para a Doutrina da Fé, que descende diretamente da antiga Inquisição e ainda está no mesmo prédio onde ela ficava (e pode-se imaginar o que se encontra em seus porões). Essa congregação é muito conservadora, e seus membros emitiram uma declaração, ou melhor, um decreto sobre como deve ser a relação entre o movimento carismático e a igreja. É algo muito engraçado, basicamente eles dizem que está tudo ok, mas que os bispos devem ficar no controle. E está certo, do seu ponto de vista. Então, no meu texto, comento o problema que as explosões do entusiasmo carismático criam para qualquer instituição religiosa em geral. Não é apenas um problema para as instituições cristãs: esse tipo de fenômeno ocorre em toda a história das religiões. Nesse momento a instituição inevitavelmente se sente ameaçada, com certeza, tanto nos tempos bíblicos como na China e em todos os lugares. O Vaticano está reagindo em termos sociológicos de forma muito inteligente. Se você não pode destruí-los, você pode incorporá-los. Assim você encontra cristãos carismáticos.

Vocês sabem que gosto de anedotas e brincadeiras, e sempre há algo engraçado para contar. Então pensei em uma história: No tempo de Israel antiga, o tempo do Velho Testamento, havia conflitos entre os sacerdotes e os profetas. Os profetas possuídos por Deus proferiam mensagens terríveis. Os reis queriam matar os profetas e os sacerdotes ficavam aborrecidos com eles. A bíblia hebraica menciona a existência de “escolas de profetas” 14 14 A expressão “escola de profetas” aparece em algumas traduções da Bíblia em I Samuel 10:5 e 19:20, e em I Reis, 20: 35 e II Reis 2:3,5,7 e 15. No entanto, a expressão não aparece em todas as traduções. Nas versões católicas, como a da Bíblia de Jerusalém essa expressão é substituída no livro I Samuel 10:5 por “bando de profetas” e em 19:20 por “comunidade de profetas”, já nos dois livros de Reis é traduzida como “irmãos dos profetas”. Na Bíblia Ave Maria (outra bíblia católica) tampouco há essa expressão (escola de profetas). , uma coisa esquisita, uma “escola de profetas”, um local onde se ensinava a profetas? parece estranho. Mas recentemente os biblicistas e outros acadêmicos especialistas no antigo oriente médio acreditam que essas “escolas de profetas” de fato existiram e estavam espalhadas em toda parte naquela região e não apenas em Israel. Normalmente elas estavam vinculadas a santuários controlados por sacerdotes. Então, como os sacerdotes se relacionam com os profetas? Foi pensando nessa questão que eu inventei uma cena em um desses santuários: os profetas eram como os atuais pentecostais, ficavam possuídos pelo Espírito, e Deus falava por eles, e atrapalhavam a rotina dos santuários, pois corriam por todo o lado gritando “Deus vai destruir vocês” ou outra coisa do gênero. Então, imagino uma reunião de sacerdotes da “diretoria do santuário”, alguém disse que teve uma boa ideia: “nós não podemos deixar eles continuarem a agir assim, não podemos fazer nosso trabalho em paz com esse povo em volta da gente dizendo o que Deus diz, o que Deus quer… então vamos fazer um acordo com eles. Nós damos a eles parte do prédio, nós os deixamos fazerem isso, por exemplo, nas terças e quintas das 4 às 6 horas da tarde. Nesse período podem fazer o que quiserem. O resto do tempo, eles têm que ir embora e nos deixar em paz, e nós os deixaremos em paz também”. De certa forma, é exatamente isso que o Vaticano está fazendo agora com essa declaração recente, está dizendo “vá em frente, vocês podem gritar, e continuar assim, mas o bispo tem que aprovar”.

Na América Latina há uma grande tradição nessa prática de “tolerância”. Na Guatemala, por exemplo, eu acho que foram sobre solos sagrados antigos dos nativos que algumas catedrais foram construídas. Então o povo ia à missa, uma missa católica, lá dentro eles falavam latim, naquele tempo da missa em latim, ou agora em espanhol, não importa, mas do lado de fora as pessoas dançavam e se comunicavam com os mortos através de antigos rituais indígenas, conversavam com seus avós… algumas pessoas de dentro da igreja não gostam disso, mas para os bispos está ok, esses fiéis estão ainda dentro do sistema. Assim se gerencia bem a pluralidade.

Na Igreja Católica as ordens monásticas eram métodos maravilhosos para lidar com a pluralidade, mas às vezes não funcionavam. Vejam o caso dos franciscanos: São Francisco de Assis tinha o ideal de pobreza, então os franciscanos radicais denunciavam a igreja, os bispos e os cardeais vivendo no luxo, dizendo “a igreja deve ser pobre e se tornar pobre!”, e andavam descalços. Chegou a um ponto que o Papa finalmente decidiu dar um jeito nos chamados zelanti, ou “espirituais”, que constituíam o ramo carismático da Ordem Franciscana. Esses foram expulsos da ordem e da igreja, alguns foram até excomungados, pois eram demais para a instituição. 15 15 Refere-se aqui aos conflitos que resultaram na resolução do Papa João XXII em 1318 de expulsar os espirituais (zelanti, termo que significa “zelosos”) da ordem e da igreja. Considerados heréticos, foram enviados à Inquisição para julgamento, alguns foram executados em fogueiras. Mas desde que os franciscanos pés descalços deixassem os bispos em paz, a igreja permitia que os demais franciscanos permanecessem nela assim.

RCM - Essa é uma abordagem weberiana? Quais os autores você prefere e marcaram sua formação?

P. Berger - Bem, eu acho que se pode combinar a teoria de Weber sobre o carisma - especialmente a rotinização do carisma, ou seja, quando o carisma se transforma em outra coisa - com o trabalho de Rudolf Otto, que, por sinal, nunca usou o conceito de carisma, ele usa numinoso (numinous). É muito interessante, eu gostaria de desenvolver essa ideia, mas é muita coisa para fazer…

Acho que a sociologia da religião foi muito moldada ou formada por Weber. Os dois grandes gigantes do início da sociologia da religião são Weber e Durkheim. Durkheim é interessante, mas não consigo encaixar o que vejo no mundo atual no esquema dele. Ele não vê algumas coisas. Para estudar religião, Durkheim vai analisar os aborígenes australianos, quando na França, onde ele vivia, ocorria a grande luta entre laicidade e catolicismo em volta dele, e ele não incorporou nada desse confronto em sua teoria. Para ele, religião era uma conscience collective (consciência coletiva). Em francês o termo conscience (consciência) tem dois significados que em inglês correspondem a dois termos distintos conscience e consciousness, isso ocorre da mesma forma em outras línguas de origem latina, como espanhol, italiano e acho que português também.16 16 Conscience em inglês se traduz em português pela palavra consciência apenas quando esse termo se refere à consciência moral, por exemplo, em expressões como “dor de consciência” ou “consciência tranquila”. Já o termo consciousness seria traduzido por consciência quando essa se refere à capacidade de reconhecer a auto existência ou ser capaz de perceber, entender o mundo exterior. Nesse sentido, seria traduzido quando usamos o termo consciência como oposto à inconsciência. Por exemplo, ao se dizer que alguém saiu do coma e recuperou a consciência em inglês teria recuperado a consciousness. Eu penso que Weber é muito mais importante do que Durkheim. Durkheim queria criar um sistema, e ficou focado na criação de um sistema. Já Weber se orientava pela história, pela realidade empírica e assim tentava entender empiricamente os puritanos e outras coisas desse tipo.

O conceito de ética de Weber é muito relevante. Os estudos sobre o pentecostalismo realizados por nosso centro de pesquisa na Universidade de Boston se voltaram inicialmente para a América Latina, mas posteriormente foi ampliado e pesquisamos também a África do Sul, os resultados foram muito interessantes. Lá o pentecostalismo cresce em todos os grupos raciais, negros, brancos e os demais. Nossos pesquisadores calcularam que um entre cinco sul-africanos é pentecostal. Ou seja, cerca de vinte por cento da população atravessando todos os grupos raciais. Então, foi a partir das pesquisas empíricas que fui moldando meus referenciais teóricos.

Se os pentecostais pobres vivem em uma área muito pobre, não podem ir muito longe em termos de melhoria econômica e de condições de vida em geral, mas se estão em uma área onde economicamente algo acontece, onde a economia cresce, como em São Paulo, por exemplo, a capital pentecostal do mundo, eles melhorarão de vida.

Se você os acompanhar, o que você vai observar… bem, as pessoas nem sempre fazem o que os pregadores mandam, claro, mas se os pentecostais adotam o comportamento que seus pregadores dizem que é correto, eles se tornam um pouco menos pobres. Eles podem não ficar ricos, mas saem da pobreza… quero dizer, se você trabalha duro, não bebe, e não gasta todo seu dinheiro numa vida desregrada.17 17 No original ele disse “wild living”. Quando se vive de forma descontrolada e sem cuidar da educação de seus filhos, você não chega a lugar nenhum. Mas se você faz todas essas coisas ensinadas e há oportunidades econômicas, você não permanecerá tão pobre como você costumava estar. E acho que isso é verdade. E é também financeiramente muito importante.

C. M. - No seu livro sobre como se tornou sociólogo (Adventures of an Accidental Sociologist, 2011), você comenta sua vida, mas não fala de sua infância.

P. Berger - Esse livro é sobre minha vida profissional. Eu publiquei um livro de memória sobre minha infância. Mas foi publicado apenas em alemão.18 18 Esse livro foi publicado em 2008 pela Molden Verlag sob o título Im Morgenlicht der Erinnerung: Eine Kindheit in turbulenter Zeit (Na Aurora da Memória: uma Infância em Tempo Turbulento). Bem, minha infância foi triste, muito complicada começando pelo simples fato de que meu pai era da Áustria e minha mãe italiana, e eu cresci bilíngue. Isso teve implicações mais tarde.

C. M. - Você tem irmãos?

P. Berger - Não, eu sou filho único, não acho que isso teve muita importância, exceto por eu ter sido muito mimado. Meu agente acha que devo publicar o livro sobre minha infância em inglês.

C. M. - Foi publicado na Alemanha?

P. Berger - Na Áustria.

C. M. - Você veio da Áustria diretamente para os Estados Unidos?

P. Berger - Não, foi bem mais complicado. Não vou entrar nessa história agora, é muito longa.19 19 Nesse livro sobre sua infância Berger conta que como judeus sua família teve que sair da Europa. Embora seus pais quisessem fugir para os Estados Unidos e somente conseguiram ir para o que na época era Palestina e hoje é Israel. Por razões que explica em seu livro, não pôde ir para uma escola judaica e foi para uma escola anglicana.

C. M. - Então, esse livro vai ser traduzido para o inglês?

P. Berger - Bem, eu o escrevi em inglês, tudo que escrevo é em inglês. Eu tinha 18 anos quando vim pra cá, todo meu estudo superior foi em inglês. Então escrevi em inglês e a esposa de um amigo traduziu para alemão, mas foi uma boa tradução.

C. M. - Na Wikipedia diz que você nasceu na Itália.

P. Berger - Isso é um erro que repetem. Minha mãe nasceu na Itália em Trieste. Eu nasci na Áustria, ia para Itália apenas no verão.

C. M. - Li que você estudou em Londres. Você viveu na Inglaterra?

P. Berger - Não estudei na Inglaterra. Eu fiz London matriculation, um exame que permite ingressar numa universidade inglesa, mas nunca frequentei uma. É um outro erro que tem sido publicado sobre mim. Mas não posso sair corrigindo e revendo esses erros, nem sei onde foram publicados.

R. C. M. - Em Accidental Sociologist você diz que foi para sociologia, porque queria trabalhar com religião?

P. Berger - Conto que entrei em sociologia por engano. Eu tinha 18 anos quando cheguei na América e, como jovem rapaz, eu queria ser um pastor luterano. Eu era muito religioso, muito mais do que sou agora. Queria fazer teologia e percebi que para isso tinha que fazer um curso superior com concentração (major) em filosofia para entrar na escola de teologia, mas nunca fui bom em filosofia, então cai em sociologia.

Eu não tinha dinheiro, meus pais não tinham dinheiro, eu tinha que trabalhar os dois expedientes, e vivia com meus pais em Nova York. Na época, o único lugar onde se podia fazer um curso superior à noite era na New School for Social Research, então me matriculei lá. A New School foi criada em 1919 inicialmente como uma escola para educação de adultos e por isso era uma escola noturna.

Eu tinha dinheiro para fazer apenas uma disciplina, e a primeira que escolhi foi sociologia. Escolhi estudar sociologia porque pensei que nesse curso eu aprenderia algo sobre a sociedade americana, eu aprenderia algo sobre a América, onde eu tinha acabado de chegar e onde queria trabalhar como pastor. Mas a primeira disciplina em sociologia que cursei foi com um professor alemão, um judeu refugiado da Alemanha nos Estados Unidos, e foi sobre Balzac20 20 Essa experiência é detalhada em seu livro citado acima (Berger, 2011:12). O professor era Albert Solomon e o curso se chamava “Balzac como sociólogo”. . Foi um curso brilhante. Foi uma ideia genial. Não sei se vocês já leram Balzac, ele era realmente um sociólogo. Em seu livro A comédia humana, ele procurou retratar a sociedade francesa, da aristocracia ao submundo do crime. E o que esse meu professor alemão, Solomon, fez foi usar as novelas de Balzac para ilustrar conceitos e discussões tais como crime, classe social, mobilidade social, conflito… Dessa forma ele percorreu todo o repertório da sociologia usando as novelas de Balzac como ilustração. Então escrevi como trabalho final desse curso sobre uma das novelas de Balzac e, ao final do semestre, eu passei a saber muito mais sobre a sociedade francesa no início do século XIX do que sobre a América. Então, de certa forma, foi um erro porque queria conhecer mais os Estados Unidos, mas esse curso me deixou muito curioso para aprender mais sociologia.

O tipo de sociologia que se ensinava na New School era muito mais vinculado à filosofia, história e literatura e assim poderia ser vista como uma disciplina humana, ou seja, parte do que se chama “humanidades”. Essa era uma sociologia distinta daquela que se ensinava na Uptown Manhattan, na Universidade de Columbia. New School ficava e fica na área oposta da ilha de Manhattan, no Downtown. Enquanto na Columbia se fazia uma sociologia estatística com surveys, estudos quantitativos, eu estava estudando Balzac na New School. Como eu estava interessado em religião, quando tive que escolher um tópico para minha dissertação escolhi um tópico ligado à religião. E isso não mudou.

No mestrado tinha que fazer uma tese21 21 Nos Estados Unidos, ao contrário do Brasil, a palavra thesis (tese) é usada para o trabalho final do mestrado e dissertation (dissertação) para o doutorado. , e cheguei ao meu tema de estudo meio acidentalmente. Um conhecido da igreja protestante me disse que uma coisa muito interessante estava acontecendo, e isso era nos anos cinquenta, quando a primeira onda de imigrantes chegava do Porto Rico a Nova York, e se vinha muito facilmente, pois eram cidadãos americanos. Esse conhecido me chamou a atenção que em geral se pensava que eles eram todos católicos, mas não. Muitos eram protestantes e alguém deveria estudar isso. Então resolvi estudar a religião desses imigrantes. Foi um trabalho muito empírico. Quase não havia nada sobre o tema.

Eu ia procurar os porto-riquenhos e ficava entre eles. Ia por lá sempre à noite. Nessa época, eu tinha tempo à noite e as pessoas estavam em casa. Eu ia aos cultos e todos eram à noite, e entrevistava as pessoas. E nesse processo aprendi espanhol. Aprendi espanhol nas ruas de Nova York. Não foi um espanhol muito bom, mas era espanhol.

Interessante que meu orientador de doutorado era weberiano, mas naquela época eu não percebi os aspectos da ética protestante naquilo que estava estudando. Somente muito mais tarde eu pude entender isso. O que observei na minha dissertação de mestrado era que essas igrejas eram comunidades muito fortes. Para aqueles que pesquisei, mesmo já sendo cidadãos americanos, Nova York era um mundo estranho e, muitas vezes, um mundo hostil, por isso sentiam-se perdidos. Eu lembro que uma mulher me disse em entrevista “eu costumava ir à igreja católica e o padre não sabia quem eu era, não me conhecia, nunca me visitou. Agora eu vou à igreja pentecostal e se eu não for um domingo, o pastor vem a minha casa para saber se estou bem”, e isso era uma grande diferença.

Mas algumas coisas indicavam a presença de uma ética protestante, e na época realmente não entendi. Na maioria dos casos eles não tinham templos e se reuniam em garagens. Os cultos eram então como são na América Latina atualmente. Agora eles têm prédios, mas quando começaram não tinham. E notei um aviso em espanhol na entrada que dizia: “cuspir no chão é um insulto a esse lugar santo e um sinal de falta de educação”. Assim, a ética burguesa e a reverência a Deus vinham juntas.

R. C. M. - Você acha que a situação da religião na América mudou em todos esses anos?

P. Berger - Nos Estados Unidos?

R. C. M. - Sim, e no mundo também, depois da Segunda Grande Guerra até hoje.

P. Berger - Houve grandes reavivamentos em todas as tradições religiosas importantes. Ocorreram reavivamentos no budismo, no hinduísmo… em todas as religiões que possamos pensar nas diferentes partes do mundo, exceto na Europa. É interessante. Por quê? E eu escrevi um livro sobre isso com uma colega britânica, Grace Davie, chamado Religious America, Secular Europe (2008BERGER, Peter; DAVIE, Grace; FOKAS, Effie. (2008), Religious America, Secular Europe? A Theme and Variations. Aldershot: Ashgate.).

Acho que esse livro trata de algo bem mais complicado. Mas, ok, a Europa é um caso especial. Grace Davie começa dizendo isso e ela tem um livro chamado Europe, the Exceptional Case (2002DAVIE, Gracie. (2002), Europe, the Exceptional Case. Parameters of Faith in the Modern World. London: Darton, Longman & Todd.), e por que isso? Esse fato deve ser explicado. De fato, se você tem dor nos joelhos, você quer explicar, saber o porquê, mas se seus joelhos não dão problemas, não incomodam, você não se interessa por eles, a não ser que seja um fisiologista, mas em geral, se os joelhos funcionam bem você não se importa com eles, senão você quer uma explicação.

Os europeus não entendem a América e ficam completamente confusos. Querem entender por que a religião é forte na América, mas não se preocuparam em explicar a Europa. No entanto, a Europa tem que ser explicada também. Você não pode argumentar que a Bélgica é mais moderna dos que os Estados Unidos, não. Então a modernidade não explica a diferença. Grace Davie e eu chegamos a oito razões que explicariam essa diferença. Mas sem dúvida alguma, a razão mais relevante, dentre todas as oitos, é a relação entre Estado e Igreja. Todos os países europeus (incluindo também os do leste da Europa com suas igrejas ortodoxas, embora não os tenhamos estudados, assim como os identificados como “Europa Ocidental”, “Europa Central”, “Católica” ou “Protestante”), cada um se originou no início da idade moderna a partir de um Estado que era unido a uma igreja.

Esse fato resulta em uma grande diferença quando se compara ao caso dos Estados Unidos e da América do Norte em geral, a que fala inglês, com a América Latina. Embora a América Latina também se distinga da Europa, a América do Norte de língua inglesa é marcadamente mais diferente porque o Estado nunca se identificou com nenhuma igreja em especial. Os puritanos fundaram a Nova Inglaterra e os Anglicanos deram origem à Virginia. Ainda antes da independência, no período colonial, Thomas Jefferson conseguiu que fosse aprovada uma lei que defendia a liberdade religiosa na própria legislação colonial de Virginia. Por quê? Bem, Jefferson, ele mesmo um filósofo iluminista, acreditava que essa lei era uma necessidade prática. Percebia a enorme diversidade dos grupos religiosos que vieram para América. Não se podia colocar todos em uma igreja só, eles lutariam entre si. Para manter algum tipo de paz, era necessário haver liberdade religiosa e isso significava que todos tinham que se tolerar, e o Estado tinha que ser oficialmente neutro. No entanto, no começo todos eram cristãos, os não-cristãos não chegavam a ser um problema, eram bem poucos. Mas no caso de protestantes e católicos, dos diferentes tipos de protestantes, fazia uma enorme diferença não haver uma igreja unida ao Estado.

C. M. - Não havia, portanto, uma igreja muito mais forte do que outra, não era?

P. Berger - Bem, você pode explicar assim de forma simples, é muito simples de fato. Muitas coisas complicadas são mais simples quando olhadas de mais de perto. Mas com outras, ocorre o contrário. Sabemos que, cedo ou tarde, o povo fica com raiva do governo. Sempre há algum motivo para se ter ódio ao governo, em todos os tempos. Se a igreja e o Estado estão unidos, o povo ficará com ódio da igreja também. Assim surge o anticlericalismo que se transforma em laicidade e república. Então nada tinha a ver diretamente com a igreja, mas ok… e isso não mudou.

C. M. - David Martin discute um pouco sobre isso, comparando o caso da Inglaterra e os Estados Unidos, a França… 22 22 Essa discussão está no livro de General Theory of Secularization (Martin 1978).

P. Berger - David Martin sim, mas ele é muito focado na história e explica tudo em termos de diferenças históricas. Acho a abordagem de Grace Davie mais nítida, mais afiada. David Martin é mais descritivo e não coloca bem as coisas juntas. Grace espicha mais seu pescoço, ou seja, tenta identificar as questões chaves, olhando o problema mais de longe. David Martin é um escritor muito interessante.

R. C. M. - E sobre a ideia de mercado religioso, o que pensa dela agora?

P. Berger - Se você junta dois fatos sociais que são pluralismo religioso e liberdade religiosa, você terá um tipo de mercado, sim. Mas dizer que religião funciona como uma economia, que é o que também dizem os starkianos23 23 Starkianos seriam os que seguem Rodney Stark, autor que aplica a teoria da escolha racional ao estudo da religião propondo a chamada “teoria do mercado religioso”. Stark, que publicou com outros autores, entre esses, Bainbridge e Finke, faz algumas críticas a ideias do livro O dossel Sagrado (Berger 1985). , é uma simplificação. As pessoas não tomam decisões sobre sua vida religiosa como um negociante que tem que decidir onde vai investir seu dinheiro, seria racionalista demais decidir da mesma forma. Mas sem dúvida existe um tipo de mercado religioso que possui certos mecanismos mercadológicos que se formam quando surge a combinação, citada acima, de pluralismo com liberdade religiosa. Uma das consequências é que os leigos se tornam mais importante. Quado igrejas muito hierárquicas, como a Igreja Católica Romana, não podem mais contar com o Estado para forçar o povo a ir à igreja, o clero e líderes precisam persuadir as pessoas, os leigos a permanecer na igreja, vir a ela, dar dinheiro. De repente o clero não tem mais a antiga autoridade, precisa saber convencer o povo a continuar o seguindo. Essa é a grande mudança.

R. C. M. - E sobre o islamismo hoje? Como vê a relação da religião com a geopolítica mundial?

P. Berger - Eu diria que pluralismo é um fato social quando todas as diferentes religiões são protegidas pelo Estado, ou seja, quando existe liberdade religiosa: se não cometer nenhum crime, o indivíduo pode, em termos religiosos, fazer o que quiser e gostar. Dessa forma, tanto em termos da sociedade quando do indivíduo, a religião não pode mais ser tida como algo já dado (taken for granted), isto é, ela não é mais aceita sem questionamento. Em geral, para assumir uma identidade religiosa, cada indivíduo, mesmo que em nível pouco sofisticado, toma algum tipo de decisão. Dessa forma o pluralismo muda a relação que os indivíduos têm entre as religiões, não importa qual seja sua religião.

Quando não se pode mais considerar a religião como algo dado, e se tem que decidir sobre religião, isso gera incerteza nas pessoas. Há algo como uma necessidade de certeza, ao menos em relação a coisas que são realmente importantes. A religião lida com questões muito importantes: De onde eu venho? Quais esperanças posso ter? Fundamentalismo é um projeto de retorno a um mundo seguro, um mundo em que você acha que sua verdade é a certa e onde ela é aceita sem discussão (taken for granted). O fundamentalismo não é apenas religioso, pode ser político. Dessa forma, com suas crenças consideradas como certezas (como verdades) inquestionáveis, o projeto fundamentalista é muito difícil de existir numa situação de pluralismo. Por isso, o fundamentalismo acha que é necessário suprimir o pluralismo. E em termos do islamismo se pode dizer que os muçulmanos fundamentalistas sabem o que estão fazendo, eles não querem que as pessoas decidam livremente se querem ou não cobrir seu cabelo. Para eles, para todas as perguntas “o islã é a resposta”. Esse é o grande lema do fundamentalismo: os fundamentalistas suprimem o pluralismo no país que controlam, tornando a sua religião uma verdade taken for granted. Mas impedir o pluralismo é muito difícil de conseguir. Essa é a boa notícia, isso é muito difícil de conseguir!

Há duas formas de se tentar suprimir o pluralismo. Os fundamentalistas podem tentar impor sua visão de mundo sobre a sociedade inteira criando um Estado totalitário. Para isso será necessário controlar todas as formas de comunicação, especialmente para proibir aquelas que criam dúvidas nas pessoas. Dúvida é algo que o povo não deve mais sentir. O fundamentalismo não quer que as pessoas sintam mais dúvidas sobre o islamismo. É algo muito difícil de fazer. Provavelmente empobreceria em termos econômicos a população. A Coreia do Norte é um exemplo perfeito. Tem-se um Estado totalitário, o povo passando fome, não há boa relação com o mundo econômico. Se você não se importa que metade da população esteja sem ter o que comer e se você está disposto a usar qualquer tipo de repressão para garantir sua lei, você pode manter as coisas assim por um tempo. Mas é muito difícil, muito difícil!

Um pouco mais fácil, mas ainda difícil é manter o fundamentalismo como um fenômeno microssocial, em outras palavras, experimentar o fundamentalismo como uma seita ou uma subcultura. Nesse último caso, os fundamentalistas não podem mais se garantir. Se estão numa sociedade onde há liberdade religiosa, não podem mais confiar no uso da força policial para manter suas crenças fundamentalistas. Dessa forma, vão precisar apelar para meios psicológicos e meios sociais. E isso pode funcionar, mas normalmente para isso funcionar alguns requisitos são necessários. É necessário haver uma concentração geográfica dos membros desses grupos, todos viverem próximos.

Por exemplo, no Brooklyn, em Nova York, onde costumávamos morar, há um bairro hassídico. Lá vivem judeus muito ortodoxos que ainda falam ídiche. O hebraico é a sua língua sagrada, o inglês é usado para se falar com os de fora, e com os dentro usam ídiche. Uma questão muito interessante para ser feita por um sociólogo: como se pode sair de tal mundo? Como um judeu dessa comunidade pode sair dela? É muito difícil. Como há liberdade religiosa no país, pode parecer fácil. Por exemplo, se você é um homem (no caso de uma mulher, deve haver outras etiquetas e procedimentos diferentes), você raspa sua barba, coloca um boné de baseball e toma um metrô e vai para Manhattan, certo? Ninguém vai impedir você de fazer isso. Parece fisicamente fácil, mas psicologicamente é muito difícil, se você cresceu nesse mundo. Da mesma forma ocorre no islamismo. Em minha opinião os movimentos fundamentalistas mais importantes de hoje são os islâmicos. Eles são quase que necessariamente violentos. Eles não toleram diversidade. É muito difícil ter uma economia moderna sem ter algum tipo de pluralismo. Se você quer se isolar do resto do mundo, não pode ter relações comerciais. Somente pode haver relações comerciais quando se fala com outros. É muito difícil, por exemplo, para um negociante internacional trabalhar na Arábia Saudita hoje em dia.

R. C. M. - O senhor acha que o interesse sociológico pela religião é maior hoje em dia se comparamos com os anos 1960 ou é a mesma coisa?

P. Berger - Sim, há mais interesse, por razões óbvias. Os jornais falam o tempo todo sobre religião hoje em dia. Em relação ao meu trabalho, há todo um grupo em Viena que quer que eu volte para Áustria. Mas o que eu faria lá? Quero dizer, não posso começar de novo, ter novo emprego, meus filhos estão aqui, meus netos estão aqui, então isso (mudar agora) de país) não tem sentido para mim. Mas nos Estados Unidos a situação política é um pesadelo!

R. C. M. - O que pensa disso? O que pode acontecer?24 24 Na ocasião dessa entrevista, em agosto de 2016, os Estados Unidos estavam em plena campanha eleitoral para presidência quando Donald Trump disputava com Hillary Clinton.

P. Berger - Não sei o que vai acontecer, quero dizer, um desses dois irá vencer e ser o presidente, então é uma escolha entre um psicopata, que o que Trump é, e Clinton. Hillary Clinton é uma pessoa fria com fome de poder, eu não sei quais são as crenças dela, se tem alguma, se ela tem uma ideologia que ela defende… acho que ela não está interessada em nada mais, exceto no poder. Mas ela é provavelmente menos má (evil). Trump é realmente perigoso. É um perigo à democracia nos Estados Unidos e internacionalmente, um desastre. As pessoas estão como de volta aos anos 1930 na Europa Central. É similar ao período pré-fascista…

R. C. M. - Isso é o que mais me preocupa porque há um discurso fascista em todo lugar, e esse é o tipo de violência que Trump defende…

P. Berger - Espero que Trump se torne manso se chegar no poder, mas não parece dar sinais disso. Eu o acho um psicopata, doente. E agora que está envolvido com Putin, que também é muito perigoso… Putin é muito inteligente, não é um psicopata, mas um ex-agente da KGB. Isso ele nunca deixou de ser, nunca se tornou nada além disso, realmente.

Bibliografia

  • AMMERMAN, Nancy T. (2014), Sacred Stories, Spiritual Tribes: Finding Religion in Everyday Life Oxford: Oxford University Press.
  • BERGER, Peter. (1985), O dossel sagrado: elementos para uma sociologia da religião São Paulo, Paulinas.
  • BERGER, Peter. (2008), Im Morgenlicht der Erinnerung: Eine Kindheit in turbulenter Zeit Wien: Molden Verlag.
  • BERGER, Peter. (2011), Adventures of an Accidental Sociologist: How to Explain the World Without Becoming a Bore New York: Prometheus Books.
  • BERGER, Peter. (2014), The many altars of modernity: toward a paradigm for religion in a pluralist age Boston, Berlin: Walter d Gruyter.
  • BERGER, Peter; DAVIE, Grace; FOKAS, Effie. (2008), Religious America, Secular Europe? A Theme and Variations Aldershot: Ashgate.
  • MARTINS, David. (1990), Tongues of Fire: The Explosion of Protestantism in Latin America Oxford: Basil Blackwell.
  • MARTIN, David. (1978), General Theory of Secularization Oxford: Basil Blackwell .
  • DAVIE, Gracie. (2002), Europe, the Exceptional Case. Parameters of Faith in the Modern World London: Darton, Longman & Todd.
  • Peter L. Berger: Religion & Other curiosities. Disponível em Disponível em https://www.the-american-interest.com/v/peter-berger/ Acesso em 9 de agosto de 2023.
    » https://www.the-american-interest.com/v/peter-berger/
  • The Table, The International Catholic New Weekly. Disponível em Disponível em https://www.thetablet.co.uk/about Acesso em 09 de agosto de 2023.
    » https://www.thetablet.co.uk/about
  • 1
    Os artigos de Berger foram publicados nesse site entre 2006 e 2017. O mais recente é de 17 de maio de 2017. Disponível em: https://www.the-american-interest.com/v/peter-berger/. Acesso em 20 de julho de 2023.
  • 2
    Esse livro foi traduzido para português como Os Múltiplos Altares da Modernidade; Rumo a um paradigma da religião em uma época pluralistaBERGER, Peter. (2014), The many altars of modernity: toward a paradigm for religion in a pluralist age. Boston, Berlin: Walter d Gruyter. , publicado pela editora Vozes em 2017.
  • 3
    O instituto foi criado por Peter Berger quando conseguiu levantar uma quantidade de recursos para seus projetos em 1985, um ano depois que ingressou na Universidade de Boston. Inicialmente foi chamado de Institute for the Study of Economic Culture (ISEC), mas logo teve seus objetivos ampliados e o nome alterado, passando a se chamar Institute on Culture, Religion, and World Affairs e a ser conhecido pela sigla CURA.
  • 4
    O principal resultado desse projeto foi o livro de David Martin, Tongues of Fire: The Explosion of Protestantism in Latin America (1990MARTINS, David. (1990), Tongues of Fire: The Explosion of Protestantism in Latin America. Oxford: Basil Blackwell.).
  • 5
    Professora de sociologia da religião no Departamento de Sociologia e na Escola de Teologia da Universidade de Boston. É autora do livro Sacred Stories, Spiritual Tribes: Finding Religion in Everyday Life(2014AMMERMAN, Nancy T. (2014), Sacred Stories, Spiritual Tribes: Finding Religion in Everyday Life. Oxford: Oxford University Press.).
  • 6
    Detlef Pollak é professor de sociologia da religião da Westfälische Wilhelms-Universität (WWU) em Münster, Alemanha.
  • 7
    Fenggang Yang é professor de sociologia e diretor fundador do Centro de Religião e Sociedade Chinesa da Universidade de Purdue em Indiana, Estados Unidos.
  • 8
    CRM é um centro interdisciplinar voltado para o estudo da religião e modernidade que está sediado na Westfälische Wilhelms-Universität (WWU) em Münster, Alemanha. Disponível em: https://www.uni-muenster.de/Religion-und-Moderne/en/. Acesso em 9 de agosto de 2023.
  • 9
    Xi Jinping se tornou presidente da República Popular da China em 2013.
  • 10
    Termo utilizado nos Estados Unidos para os evangélicos que se auto identificam como fundamentalistas.
  • 11
    Peter L. Berger: Religion & Other curiositiesPeter L. Berger: Religion & Other curiosities. Disponível em Disponível em https://www.the-american-interest.com/v/peter-berger/ . Acesso em 9 de agosto de 2023.
    https://www.the-american-interest.com/v/...
    ,
    que era divulgado pelo The American Interest.
  • 12
    O artigo sobre a carismáticos católicos está disponível em https://www.the-american-interest.com/2016/08/03/of-catholics-and-charisms/. Acesso em 09 de agosto de 2023.
  • 13
    The Table, The International Catholic New Weekly The Table, The International Catholic New Weekly. Disponível em Disponível em https://www.thetablet.co.uk/about . Acesso em 09 de agosto de 2023.
    https://www.thetablet.co.uk/about...
    é uma revista semanal católica publicada desde 1840.
  • 14
    A expressão “escola de profetas” aparece em algumas traduções da Bíblia em I Samuel 10:5 e 19:20, e em I Reis, 20: 35 e II Reis 2:3,5,7 e 15. No entanto, a expressão não aparece em todas as traduções. Nas versões católicas, como a da Bíblia de Jerusalém essa expressão é substituída no livro I Samuel 10:5 por “bando de profetas” e em 19:20 por “comunidade de profetas”, já nos dois livros de Reis é traduzida como “irmãos dos profetas”. Na Bíblia Ave Maria (outra bíblia católica) tampouco há essa expressão (escola de profetas).
  • 15
    Refere-se aqui aos conflitos que resultaram na resolução do Papa João XXII em 1318 de expulsar os espirituais (zelanti, termo que significa “zelosos”) da ordem e da igreja. Considerados heréticos, foram enviados à Inquisição para julgamento, alguns foram executados em fogueiras.
  • 16
    Conscience em inglês se traduz em português pela palavra consciência apenas quando esse termo se refere à consciência moral, por exemplo, em expressões como “dor de consciência” ou “consciência tranquila”. Já o termo consciousness seria traduzido por consciência quando essa se refere à capacidade de reconhecer a auto existência ou ser capaz de perceber, entender o mundo exterior. Nesse sentido, seria traduzido quando usamos o termo consciência como oposto à inconsciência. Por exemplo, ao se dizer que alguém saiu do coma e recuperou a consciência em inglês teria recuperado a consciousness.
  • 17
    No original ele disse “wild living”.
  • 18
    Esse livro foi publicado em 2008 pela Molden Verlag sob o título Im Morgenlicht der Erinnerung: Eine Kindheit in turbulenter ZeitBERGER, Peter. (2008), Im Morgenlicht der Erinnerung: Eine Kindheit in turbulenter Zeit Wien: Molden Verlag. (Na Aurora da Memória: uma Infância em Tempo Turbulento).
  • 19
    Nesse livro sobre sua infância Berger conta que como judeus sua família teve que sair da Europa. Embora seus pais quisessem fugir para os Estados Unidos e somente conseguiram ir para o que na época era Palestina e hoje é Israel. Por razões que explica em seu livro, não pôde ir para uma escola judaica e foi para uma escola anglicana.
  • 20
    Essa experiência é detalhada em seu livro citado acima (Berger, 2011:12). O professor era Albert Solomon e o curso se chamava “Balzac como sociólogo”.
  • 21
    Nos Estados Unidos, ao contrário do Brasil, a palavra thesis (tese) é usada para o trabalho final do mestrado e dissertation (dissertação) para o doutorado.
  • 22
    Essa discussão está no livro de General Theory of Secularization (Martin 1978MARTIN, David. (1978), General Theory of Secularization. Oxford: Basil Blackwell .).
  • 23
    Starkianos seriam os que seguem Rodney Stark, autor que aplica a teoria da escolha racional ao estudo da religião propondo a chamada “teoria do mercado religioso”. Stark, que publicou com outros autores, entre esses, Bainbridge e Finke, faz algumas críticas a ideias do livro O dossel Sagrado (Berger 1985BERGER, Peter. (1985), O dossel sagrado: elementos para uma sociologia da religião. São Paulo, Paulinas. ).
  • 24
    Na ocasião dessa entrevista, em agosto de 2016, os Estados Unidos estavam em plena campanha eleitoral para presidência quando Donald Trump disputava com Hillary Clinton.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Set 2023
  • Data do Fascículo
    Jun-Sep 2023
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