Acessibilidade / Reportar erro

Isolamento de esporos de equipamentos de abatedouros avícolas e avaliação de sua resistência a sanificantes químicos

Isolament of aerobic mesofilic and thermofilic spores in equipaments of poultry slaughter and their resistance against the chemists disinfectants

Resumos

Com o objetivo de fornecer subsídios para o controle de microrganismos em abatedouro de aves, avaliou-se a ação dos agentes químicos sanificantes comprovadamente mais eficientes (hipoclorito de sódio, ácido peracético, e dicloroisocianurato de sódio) em suspensões de esporos de bactérias aeróbias mesófilas e termófilas, isoladas de equipamentos de abatedouro de aves. Pelo teste de Duncan, constatou-se que dentre os esporos isolados o mais resistente obteve 1,5 e 1,2 RD quando em contato com o hipoclorito de sódio e ao ácido peracético com 30 minutos de tempo de contato, que foram os sanificantes mais eficientes (P > 0,05). O dicloroisocianurato de sódio proporcionou 0,1 RD em 30 minutos de tempo de contato com a mesma suspensão de esporos. Os esporos isolados apresentaram diferentes resistências aos sanificantes avaliados, indicando a necessidade de uma seleção criteriosa de agentes químicos para o procedimento de sanificação, sendo importante um rodízio entre os sanificantes mais eficientes testados, que foram o hipoclorito de sódio e o ácido peracético.

Indústria avícola; esporos; sanificantes químicos


With the objective of providing subsidies for the control of microorganisms at poultry slaughter, evaluated the action of agents disinfectants chemists, provably more efficient (sodium hypochlorite, peracetic acid, and sodium dicloroisocyanurate) in suspensions of bacterium spores morphologicly different, isolated of equipaments of poultry slaughter. Through Duncan test, we verified that the most resistant, isolate, got 1,5 and 1,2 RD when in contact with the sodium hypochlorite and peracetic acid, respectively, with contact time of 30 minutes (P > 0,05). The sodium dicloroisocyanurate got 0,1 RD in 30 minutes of contact time with this suspension. The isolated spores show different resistances in relationship to disinfectants evatuaded, indicating the necessity of the standard selection of chemists agents for the proceeding of sanitation, being important a selection between the most efficient testified disinfectants,that were sodium hypochlorite and peracetic acid.

Poultry slaughter; Chemistsdisinfectants; Spores


ISOLAMENTO DE ESPOROS DE EQUIPAMENTOS DE ABATEDOUROS AVÍCOLAS E AVALIAÇÃO DE SUA RESISTÊNCIA A SANIFICANTES QUÍMICOS1 1 Recebido para publicação em 03/06/97. Aceito para publicação em 04/12/97. Parte da tese de mestrado apresentada por M.S.V. Moraes, ao Curso mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa. Rua Raul Vitta, 142. CEP14870-000. Jaboticabal S.P.

MORAES2 1 Recebido para publicação em 03/06/97. Aceito para publicação em 04/12/97. Parte da tese de mestrado apresentada por M.S.V. Moraes, ao Curso mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa. Rua Raul Vitta, 142. CEP14870-000. Jaboticabal S.P. , M.S.V.; ANDRADE3 1 Recebido para publicação em 03/06/97. Aceito para publicação em 04/12/97. Parte da tese de mestrado apresentada por M.S.V. Moraes, ao Curso mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa. Rua Raul Vitta, 142. CEP14870-000. Jaboticabal S.P. , N.J.; CHAVES3 1 Recebido para publicação em 03/06/97. Aceito para publicação em 04/12/97. Parte da tese de mestrado apresentada por M.S.V. Moraes, ao Curso mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa. Rua Raul Vitta, 142. CEP14870-000. Jaboticabal S.P. , J.B.P.; PASSOS3 1 Recebido para publicação em 03/06/97. Aceito para publicação em 04/12/97. Parte da tese de mestrado apresentada por M.S.V. Moraes, ao Curso mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa. Rua Raul Vitta, 142. CEP14870-000. Jaboticabal S.P. , F.J.V. & GOMIDE3 1 Recebido para publicação em 03/06/97. Aceito para publicação em 04/12/97. Parte da tese de mestrado apresentada por M.S.V. Moraes, ao Curso mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa. Rua Raul Vitta, 142. CEP14870-000. Jaboticabal S.P. , L.A.M.

RESUMO

Com o objetivo de fornecer subsídios para o controle de microrganismos em abatedouro de aves, avaliou-se a ação dos agentes químicos sanificantes comprovadamente mais eficientes (hipoclorito de sódio, ácido peracético, e dicloroisocianurato de sódio) em suspensões de esporos de bactérias aeróbias mesófilas e termófilas, isoladas de equipamentos de abatedouro de aves. Pelo teste de Duncan, constatou-se que dentre os esporos isolados o mais resistente obteve 1,5 e 1,2 RD quando em contato com o hipoclorito de sódio e ao ácido peracético com 30 minutos de tempo de contato, que foram os sanificantes mais eficientes (P > 0,05). O dicloroisocianurato de sódio proporcionou 0,1 RD em 30 minutos de tempo de contato com a mesma suspensão de esporos. Os esporos isolados apresentaram diferentes resistências aos sanificantes avaliados, indicando a necessidade de uma seleção criteriosa de agentes químicos para o procedimento de sanificação, sendo importante um rodízio entre os sanificantes mais eficientes testados, que foram o hipoclorito de sódio e o ácido peracético.

Palavras chaves: Indústria avícola, esporos, sanificantes químicos.

SUMMARY

ISOLAMENT OF AEROBIC MESOFILIC AND THERMOFILIC SPORES IN EQUIPAMENTS OF POULTRY SLAUGHTER AND THEIR RESISTANCE AGAINST THE CHEMISTS DISINFECTANTS. With the objective of providing subsidies for the control of microorganisms at poultry slaughter, evaluated the action of agents disinfectants chemists, provably more efficient (sodium hypochlorite, peracetic acid, and sodium dicloroisocyanurate) in suspensions of bacterium spores morphologicly different, isolated of equipaments of poultry slaughter. Through Duncan test, we verified that the most resistant, isolate, got 1,5 and 1,2 RD when in contact with the sodium hypochlorite and peracetic acid, respectively, with contact time of 30 minutes (P > 0,05). The sodium dicloroisocyanurate got 0,1 RD in 30 minutes of contact time with this suspension. The isolated spores show different resistances in relationship to disinfectants evatuaded, indicating the necessity of the standard selection of chemists agents for the proceeding of sanitation, being important a selection between the most efficient testified disinfectants,that were sodium hypochlorite and peracetic acid.

Key words: Poultry slaughter, Chemistsdisinfectants, Spores

1 — INTRODUÇÃO

Os esporos bacterianos podem resistir aos agentes químicos usados no procedimento de higienização de abatedouros de aves. Estes esporos, muitas vezes, alteram o produto ou dão origem à doenças alimentares, ocasionando riscos a saúde do consumidor. Os microrganismos esporulantes estão amplamente disseminados no ar, água, matéria-prima, ingredientes, manipuladores e, consequentemente, nas superfícies de equipamentos e utensílios de linhas de processamento.

O procedimento de higienização consiste fundamentalmente no uso de detergentes e sanificantes. Embora os detergentes diminuam a carga bacteriana das superfícies, o objetivo principal do seu uso é a remoção de resíduos orgânicos e minerais. A sanitização, que é a última etapa do procedimento de higienização, visa reduzir microrganismos alteradores e eliminar patogênicos até níveis seguros, de modo a obter um produto de boa qualidade higiênico-sanitária.

Dentre os diversos agentes químicos disponíveis para uso como sanificantes, encontram-se compostos à base de cloro, iodo, amônia quaternária, ácido peracético, água oxigenada, extrato de semente de grape-fruit e clorhexidina. Estes sanificantes apresentam uma comprovada eficiência sobre as formas vegetativas bacterianas nas condições recomendadas para uso nas indústrias de alimentos. Nessas condições, normalmente, obtêm-se 5 reduções decimais em 30 segundos de contato na população de células vegetativas de Sthaphyloccocus aureus ATCC 6538, e de Escherichia coli ATCC 11229, quando submetidos ao teste de suspensão (14, 4, 6). No entanto, em muitos procedimentos usados na indústria de alimentos, essas soluções sanificantes não reduzem, até níveis considerados seguros, a população de esporos considerados mais resistentes.

ODLAUG e PFLUG mostraram que soluções contendo 100 mg/L de cloro residual, em pH 8,0, a partir do hipoclorito de sódio, obteve uma redução decimal na população de esporos de Bacillus subtilis em 60 minutos (12). Por outro lado, ALVARENGA et al, ANDRADE e SERRANO, utilizaram 105 mg/L de CRT, a partir do hipoclorito de sódio, em pH 8,0 a 30°C. Para se obter 5 RD na população dos esporos sob avaliação, um deles determinou o tempo de 5 minutos e o outro cerca de 4 minutos (1, 2).

Este trabalho visou isolar bactérias esporulantes aeróbias em equipamentos de abatedouros avícolas, que na forma esporulada, tiveram suas resistências avaliadas em relação às soluções sanificantes de hipoclorito de sódio, dicloroisocianurato de sódio e de ácido peracético, no procedimento de higienização destas indústrias.

2 — MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho foi realizado no Laboratório de Microbiologia do Departamento de Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa, a partir de amostras coletadas em superfícies de equipamentos da linha de processamento de aves da PIF - PAF S/A Indústria e Comércio.

As amostras de bactérias aeróbias esporulantes foram coletadas ao final do processamento em 4 repetições, nas superfícies não higienizadas dos seguintes equipamentos: escaldador, depenadeira, calha de evisceração, resfriador, e mesa de corte. Para a coleta, foi usada uma modificação da técnica do swab, descrita por SVEUM et al (15). As bactérias foram coletadas das superfícies por meio de "swab" de algodão não absorvente de 0,5 cm de diâmetro por 2 cm de comprimento, usando-se um aplicador de 12 cm de comprimento. Os swabs foram previamente esterilizados por autoclavagem a 121°C por 15 minutos.

Após ser umedecido, o swab, formando um ângulo de 30° com a superfície, foi friccionado numa área de 2x25 cm. Em seguida, os microrganismos coletados foram transferidos para tubos de ensaios (20x250 mm) contendo 10 ml de uma mistura de solução neutralizante, (6 g de tiossulfato de sódio, 20 g de Tween 80, 15 g de lecitina, 2,5 g de bissulfito de sódio e 1 g de tioglicolato de sódio por litro), esterilizada por autoclavagem a 121°C por 15 minutos. Após a imersão, o excesso de solução do swab foi retirado pressionando-o nas paredes do tubo. Este mesmo swab foi utilizado para coletar microrganismos em outra área de 2x25 cm do mesmo equipamento, os quais também foram transferidos para o mesmo tubo de ensaio. O procedimento foi repetido por mais três vezes, totalizando uma área de 250 cm2 por equipamento.

As amostras coletadas foram transportadas, em recipientes isotérmicos com gelo, para o laboratório, onde recebeu choque térmico de 80°C por 10 minutos, posteriormente foram incubadas em ágar para contagem total (PCA), a 30°C e 55°C por 48 horas, respectivamente, para esporos mesófilos e termófilos (8) e procedeu-se o isolamento e caracterização das bactérias aeróbias esporulantes de acordo com Loures e Quimarães (9).

De acordo com as características das culturas, agrupou-se os esporos mesófilos nos lotes A, B, C, D e E, com 45 isolados e os esporos termófilos nos lotes F, G e H, com 36 isolados que apareceram em todos os equipamentos testados. Para avaliar a ação dos sanificantes e a resistência dos esporos, foram escolhidas de forma aleatória 1 isolado de cada lote, originando as suspensões SA, SB, SC, SD, SE, SF, SG e SH.

Foi efetuado um isolamento dos esporos de cada lote, e as células vegetativas foram caracterizadas quanto à morfologia, agrupamento, Gram, produção de catalase, motilidade, crescimento em condições aeróbias e esporulação.

Foram obtidas suspensões de esporos, para cada uma das colônias selecionadas, utilizando-se a metodologia proposta pela National Canners Association (11), conforme descrição a seguir.

Após três repicagens consecutivas em ágar nutriente (Difco), solidificado na posição inclinada em tubos de ensaio de 15 x 150 mm, e incubações de 24 horas a 30°C e 55°C foi obtida uma suspensão de células vegetativas pela adição de solução tampão de Butterfield (7) e agitação manual.

Em seguida, volumes de 1 ml de uma das oito suspensões, foi inoculado na superfície do meio de esporulação solidificado, contido em uma garrafa de Roux. Este procedimento foi feito, também, para as sete suspensões restantes, formando um total de oito isolados morfologicamente diferentes. Esses meios são constituídos de 3,0 g de extrato de carne (Difco), 5,0 g de triptona (Difco), 1,0 g de amido (Reagen), 10 mg de sulfato de manganês (Carlo Erba), e 20,0 g de ágar (Difco), diluídos em 1000 ml de água destilada e pH final entre 6,9 e 7,1. As suspensões inoculadas nas superfícies do meio de esporulação solidificado, presentes nas garrafas de Roux, foram incubadas a 35°C e 55°C, respectivamente, para mesófilos e termófilos. A incubação se prolongou até se constatar a formação de esporos em cerca de 90 a 95% dos campos microscópicos, observado em microscópio de contraste de fase.

Ao fim desse período, adicionou-se 20 ml de água destilada sobre as superfícies do meio de cultura das garrafas de Roux e pérolas de vidro esterilizadas. As garrafas de Roux foram agitadas manualmente. Coletou-se o sobrenadante separadamente, em tubos de centrífuga com capacidade de cerca de 25 ml e centrifugou-se a 5000 rpm durante 15 minutos, a 4°C. Resuspendeu-se os sedimentos de esporos em água destilada esterilizada e procedeu-se uma nova centrifugação. O processo se repetiu por cinco vezes. Ao final, os esporos, de cada tubo de centrífuga, foram suspensos em glicerol e água (15:85), que constituiram o lote de esporos morfologicamente diferentes.

Cada lote de esporos foi padronizado para conter em torno de 109 esporos por ml. Esta padronização foi conseguida retirando-se água e glicerol da suspensão. A confirmação do número de esporos no lote, após choque térmico de 80°C por 10 minutos, foi feita em placas, com ágar para contagem total (PCA), incubadas a 30°C e 55°C por 48 horas, respectivamente, para esporos mesófilos e termófilos (8).

Para a avaliação da resistência dos esporos aos sanificantes usados nos procedimentos de higienização dos equipamentos foi utilizado o teste de suspensão fundamentado nas técnicas em ENGLER (4), com modificações.

Testou-se as seguintes soluções sanificantes a 25°C, de acordo com as recomendações do fabricante: 100 mg/L de cloro residual total (CRT) em pH 8,0, preparado a partir de hipoclorito comercial concentrado (ABC - ITAPERUNA RJ, com 11,7% de CRT); 150 mg/L de CRT em pH 8,4, a partir do dicloroisocianurato de sódio (DIVERSEY/Micro-Chlor, 3,4% de CRT); 300 mg/L de ácido peracético em pH 2,9, preparados a partir de P3-Oxônia ativo (HENKEL, 9,5% de peróxido de hidrogênio e 2,4% de ácido peracético).

Em um Erlenmeyer de 250 ml contendo 99 ml de hipoclorito de sódio, dicloroisocianurato de sódio ou ácido peracético, foi adicionado 1 ml dos esporos em suspensão já tratados termicamente. Após 30 minutos de contato, 1 ml dessa mistura foi transferido para tubos de ensaio (15 x150 mm) contendo 9 ml de solução neutralizante (6g de tiossulfato de sódio, 20 g de Tween 80, 15 g de lecitina, 2,5 g de bissulfito de sódio e 1 g de tioglicolato de sódio por litro) esterilizada a 121°C por 15 minutos (10). O número de sobreviventes foi obtido efetuando-se diluições adequadas em tampão fosfato Butterfield (7) que foram plaqueadas, em duplicata, em placa de Petri, com adição de ágar para contagem total. Após a incubação por 48 horas a 30°C e 55°C, respectivamente, para mesófilos e termófilos, foram contadas as colônias.

As reduções decimais dos números de esporos foram determinadas pela diferença entre os logaritmos decimais do número inicial e do número de sobreviventes, expressos em UFC/ml.

De acordo com o número de reduções decimais (RD), obtidas no teste de suspensão, nas populações dos isolados mesófilos e termófilos, determinou-se a eficiência dos sanificantes e a resistência dos isolados à ação dos sanificantes, usando-se o delineamento inteiramente casualizado, mas em esquema fatorial, em que os fatores foram os sanificantes, em três níveis e, os isolados de esporos, em cinco níveis para os mesófilos, e em três níveis para os termófilos. O experimento foi realizado em três repetições.

O modelo estatístico para os dados pode ser representado por:

Xi,j,k = representa a observação referente ao nível i do fator sanificante, no nível j do fator isolado, na repetição K;

i = 1, 2, 3

m = representa a média geral;

j = 1, 2, 3, 4, 5

Ai = representa o efeito do nível i no fator K = 1, 2, 3 sanificante;

Bj = representa o efeito do nível j no fator isolado;

(AB)ij = representa o efeito da interação sanificante*isolado;

eij = representa o erro experimental, que se assume ser normal e independentemente distribuido, com média zero e variância constante entre os tratamentos.

O teste de Duncan (P < 0,05) foi utilizado para comparação de médias.

3 — RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise de variância das reduções decimais (RD) da população de esporos aeróbios mesófilos, obtidas no teste de suspensão detectou efeito significativo (P < 0,05) da interação lote de cultura x sanificantes. Assim foram realizadas duas análises: uma testando a resistência da cultura para cada sanificante, Tabela 3 e a outra testando o efeito do sanificante para cada cultura, Tabela 4.

A Tabela 5 mostra, respectivamente, o teste de comparação de médias da eficiência do sanificante para cada lote de cultura, e da resistência de cada lote para os sanificantes testados.

Constatou-se diferença significativa (P < 0,05), pelo teste de Duncan, na eficiência esporicida dos sanificantes. As soluções de hipoclorito de sódio e de ácido peracético foram as mais eficientes para todas as suspensões de esporos mesófilos, à exceção da suspensão SC. Nesse caso, a solução de ácido peracético foi a mais eficiente. A solução de dicloroisocianurato de sódio foi a menos esporicida para todas as suspensões.

Ainda pelo teste de Duncan, constatou-se que ocorre variação entre as resistências das várias suspensões de esporos bacterianos aeróbios mesófilos, em relação ao hipoclorito de sódio, ácido peracético e dicloroisocianuráto de sódio, sendo a suspensão SA a mais resistente (P < 0,05).

Com relação aos esporos aeróbios termófilos, a Tabela 6 mostra, á análise de variância do número de reduções decimais da população desses esporos isolados submetidos à ação dos diversos sanificantes.

Observa-se na Tabela 6, efeito não significativo da interação isolado x sanificante (P > 0,05). Também não ocorreu diferença significativa (P > 0,05) entre os números médios de reduções decimais dos lotes de culturas de esporos termófilos, indicando não haver diferença de resistência entre eles. Por outro lado, ocorreu diferença significativa (P < 0,05) entre os números médios de reduções decimais obtida na população de esporos quando em contato com cada um dos sanificantes indicando haver diferença de eficiência entre eles, e assim efetuou-se o teste de comparação de médias entre os sanificantes (Tabela 7).

Constatou-se que as soluções de hipoclorito de sódio e de ácido peracético atingiram valores de 2,2 RD na população dos aeróbios termófilos em 30 minutos de tempo de contato. Já o dicloroisocianurato de sódio obteve em média 0,8 RD nas condições experimentais avaliadas.

Com relação aos aspectos da ação esporicida dos sanificantes avaliados, verificou-se que o hipoclorito de sódio foi mais eficiente do que a forma sódica do ácido dicloroisocianúrico. Esses agentes apresentam formas diferentes na liberação de HClO, que na forma não dissociada, apresenta maior ação bactericida e esporicida (16). Ocorre uma liberação mais rápida de HClO nas soluções sanificantes de hipoclorito de sódio, que é um composto inorgânico. Já as soluções de dicloroisocianurato de sódio, uma cloramina orgânica amplamente usada no Brasil, liberam o HClO mais lentamente, em virtude de sua estrutura química. Isto pode ser uma das explicações para a maior ação esporicida do hipoclorito de sódio.

Além disso, pode-se constatar que as soluções de hipoclorito de sódio apresentavam maiores concentrações de HClO. Essas soluções continham 100 mg/l de CRT em pH 8,0 e aquelas preparadas a partir do dicloroisocianurato de sódio continham 150 mg/L em pH 8,5. Nessas condições, usando-se a equação de Henderson-Hasselbalch (Eq.1) (1) encontrou-se respectivamente 24 e 19 mg/L de HClO para cada um dos agentes clorados.

A capa ou cobertura é, dentre as camadas concêntricas dos constituintes do esporo, aquela que o protege, mas também, é o alvo dos agentes químicos. Esta apresenta uma estrutura rígida e se caracteriza pelo alto conteúdo do aminoácido cistina. Este aminoácido não é passível de oxidação e dificulta a ação do agente químico (3).

Para a eliminação dos esporos, há necessidade da ocorrência de alterações na permeabilidade da sua capa. Duas teorias baseadas neste fato tentam explicar a ação do HClO na capa do esporo. Uma delas afirma que o HClO combina-se com as proteínas da cobertura, e as remove, alterando sua permeabilidade e oxidando as camadas subsequentes até atingir o protoplasma onde encontra-se o material genético do esporo. A outra afirma que, após a alteração da permeabilidade, o esporo germina e como consequência perde sua resistência ao HClO (3).

Formulações que têm o ácido peracético como princípio ativo são constituídas de uma mistura estabilizada de ácido peracético, contendo ainda peróxido de hidrogênio e ácido acético, além de um veículo estabilizante em equilíbrio. Considera-se que sua grande ação esporicida se deve à sua capacidade de oxidação das camadas que constituem o esporo bacteriano.

O tipo, concentrações, valores de pH e o mecanismo de ação das soluções sanificantes influenciam nos resultados da avaliação da resistência dos esporos aos agentes químicos, como ocorreu entre os sanificantes usados nesse experimento.

Vários fatores podem afetar a resistência dos esporos. Ela é variável com o gênero, espécie e estirpe do microrganismo. Também, varia com as condições de esporulação, preparo e obtenção dos lotes de esporos sob avaliação (2). Tais aspectos, podem justificar as diferenças de resistência encontradas entre alguns esporos mesófilos isolados neste experimento. Constata-se por exemplo que os esporos aeróbios isolados das superfícies de equipamentos do abatedouro mostraram uma resistência intermediária ao cloro.

Uma informação importante que se constata é o fato de os esporos aeróbios serem mais resistentes ao hipoclorito de sódio do que os anaeróbios (5). Portanto, pode-se esperar que um procedimento eficiente de limpeza para eliminação de aeróbios seja também eficiente para anaeróbios. Vale lembrar que dentre os esporos anaeróbios são encontradas espécies patogênicas como Clostridium perfringens e Clostridium botulinum.

Sabe-se que a resistência dos esporos é geralmente muito maior do que as formas vegetativas bacterianas. Isto explica o fato de que nesse experimento usou-se o tempo de contato de 30 minutos, quando a metodologia oficial proposta pela AOAC recomenda um tempo de contato de apenas 30 segundos. A AOAC sugere como indicadores da eficiência de sanificantes células de Escherichia coli ATCC 11229 e de Staphylococcus aureus ATCC 6539, microrganismos não esporulantes. O sanificante é aprovado quando se obtém 5 RD na população desses microrganismos. No experimento foi usado o contato de 30 minutos que é em média o tempo mínimo de contato do sanificante com as superfícies durante as interrupções de processamento nos abatedouros principalmente para alimentação dos manipuladores.

Assim, não é possível determinar se o sanificante foi ou não aprovado no teste de suspensão. No entanto, os resultados podem ser utilizados numa classificação comparativa da ação bactericida e esporicida dos sanificantes. OVIEDO (13) mostrou que soluções de hipoclorito de sódio, ácido peracético e dicloroisocianurato de sódio preparadas nas mesmas condições desse experimento obteve 7,4, 7,4 e 6,5 RD em 30 segundos de contato na população de um isolado de leite cru com características de psicrotrófico acidificante produtor de ácido lático (13). ANDRADE (3) demonstrou que soluções contendo 105 mg/L de CRT em pH 9,8 a 30oC preparadas a partir de hipoclorito de sódio obteve acima de 5 RD em 30 segundos de contato, sobre as populações de Escherichia coli ATCC 11229, Staphylococcus aureus ATCC 6538, Salmonella tiphy ATCC 6538, Salmonella choleraesuis ATCC 10708 e Pseudomonas aeruginosa ATCC 15442, usadas nos testes de avaliação de sanificantes recomendados pela AOAC (3).

4 — CONCLUSÃO

Com relação a resistência aos sanificantes dos esporos morfologicamente diferentes houve diferença significativa entre os mesófilos (P < 0,05), mas não entre os termófilos (P > 0,05). Ocorreu diferença na eficiência dos sanificantes químicos quando em contato com as suspensões de esporos, tanto mesófilolas quanto termófilas, sendo que entre o hipoclorito de sódio e o ácido peracético não houve diferença significativa (P > 0,05) e foram os mais eficientes.

6 — REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a PIF - PAF S/A Indústria e Comércio pela ajuda no desenvolvimento deste trabalho.

2 Rua Raul Vitta, 142. Jaboticabal S.P. CEP 14870-000.

3 Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa

  • (1) ALVARENGA, M. B., ANDRADE, N. J.; CHAVES, J. B. P. Ação de formulados comerciais à base de cloro, iodo, ácido peracético ou peróxido de hidrogênio sobre esporos de Bacillus subtilis ATCC 19659. In: SIMPÓSIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA NA UFV, 2ş,Viçosa, Imprensa Universitária. UFV, p. 170-171. 1991.
  • (2) ANDRADE, N. J., SERRANO, A. M. Use of Bacillus subtilis spores to evaluate the efficiency of sodium hypochlorite at different concentration and pH values. Revista de Microbiologia, São Paulo, 24 (1): p.26-31, 1993.
  • (3) ANDRADE, N. J. Avaliação da eficiência sanificante do hipoclorito de sódio pelo uso de esporos de Bacillus subtilis ATCC 19659. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1989, 129 p. (Tese de Doutorado).
  • (4) ENGLER, R. Desinfectants. In: HORWITZ, W. ed.. Official methods of analyis of Association of Official Analysis Chemists. 14 ed.: Washington: A.O.A.C., 1984.
  • (5) FOSTER, S.J., The role and regulation of cell wall strutural dynamics during differentiation of endospore-forming bacteria. J. of Bacteriology Supplement, v. 76, p.25S-39S, 1994.
  • (6) GONTIJO FILHO, P. P. Análise crítica da Portaria nş 67 do Ministério da Saúde que estabelece normas para registro de saneantes domissanitários, com ação antimicrobiana, no tocante a produtos de uso hospitalar: proposta alternativa. Revista de Microbiologia, São Paulo, v.2(19), p.155-158, 1988.
  • (7) INTERNATIONAL COMISSION ON MICROBIOLOGICAL SPECIFICATIONS FOR FOOD (ICMSF). Microrganisms in food. 1. Their significance and methods of enumeration. 2.ed Toronto, Canadá, 1978. 438p.
  • (8) KRIEG, Noel R. Enrichement and isolation. In: Manual of Methods for General Bacteriology, Washington: American Society for Microbiology, p.116, 1981.
  • (9) LOURES, E. G.; GUIMARÃES W.V. Microbiologia - Técnicas de laboratório - Principais provas empregadas para identificação de bactérias Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1970. 33 p.
  • (10) MANUAL DIFCO Medios de cultivo deshidratados y reactivos para microbiologia. 10 ed., Detroit, USA, 1984. 1166p.
  • (11) NATIONAL CANNERS ASSOCIATION. Laboratory manual for food canners and processors V.1. Westport, Conecticut, AVI Publishing Company. 1968. 336p.
  • (12) ODLAUG, T.E.; PFLUG, I.J. Sporicidal properties of chlorine compounds: applicabylity to cooling water for canned foods. J. Milk Food Tecnol v.7 (39), p.93-498, 1976.
  • (13) OVIEDO, M.T.P. Resistência de psicrotróficos acidificantes isoaldos de leite cru a agentes sanificantes Viçosa, Universidade Federal de Viçosa, 1996. 51p. (Tese Magister.Scientiae).
  • (14) SCHEUSNER, D.L. Methods to evaluate cleaners and sanitizers.J. Food Protec, v.13 (45), p.1257-1260, 1982.
  • (15) SVEUM, W. H.; MOBERG, L. J.; RUDE, R. A., et al Microbiological monitoring of the food processing environment. In: VANDERZANT C. & SPLITTSTOSSER, D.F. ed.Compendium of methods of the microbiological examination of foods. 3 ed., Washington: American Public Health Association, p 51-74, 1992.
  • (16) TROLLER J.A. Sanitation in Food Processing. San Diego:. Academic Press Inc, p.71-130, 1993.
  • 1
    Recebido para publicação em 03/06/97. Aceito para publicação em 04/12/97. Parte da tese de mestrado apresentada por M.S.V. Moraes, ao Curso mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa. Rua Raul Vitta, 142. CEP14870-000. Jaboticabal S.P.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Dez 2004
    • Data do Fascículo
      Dez 1997

    Histórico

    • Aceito
      04 Dez 1997
    • Recebido
      03 Jun 1997
    Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos Av. Brasil, 2880, Caixa Postal 271, 13001-970 Campinas SP - Brazil, Tel.: +55 19 3241.5793, Tel./Fax.: +55 19 3241.0527 - Campinas - SP - Brazil
    E-mail: revista@sbcta.org.br