Acessibilidade / Reportar erro

Teores de retinol, beta-caroteno e alfa-tocoferol em leites bovinos comercializados na cidade de São Paulo

Amounts of retinol, beta-carotene and alpha-tocopherol in cow milk comercialized in the city of São Paulo

Resumos

Os teores de retinol, beta-caroteno e alfa-tocoferol foram determinados por cromatografia líquida de alta eficiência em leites em pó, pasteurizados e esterilizados, comercializados na Cidade de São Paulo. Após a saponificação e extração, os compostos foram determinados simultaneamente utilizando-se coluna de sílica, fase móvel constituída por hexano:isopropanol (99:1) e fluxo de 2,0mL/min. O retinol e o beta-caroteno foram determinados no detector UV/visível e o alfa-tocoferol no detector de fluorescência, ligado em série com o anterior. Os valores de vitamina A dos leites foram calculados com e sem a consideração do beta-caroteno. A maior contribuição deste nutriente no valor de vitamina A esteve entre os leites em pó, cerca de 17% em uma das marcas. Os altos teores das vitamina A e E encontrados em alguns leites, indicam que os mesmos provavelmente receberam adição destas vitaminas, não trazendo, entretanto, tal informação no rótulo. A análise de vitaminas nestes produtos indica a necessidade de maior controle de qualidade dos mesmos.

leite; retinol; beta-caroteno; alfa-tocoferol; cromatografia líquida


The amount of retinol, beta-carotene, alpha -tocopherol in powder, pasteurized and sterilized milk, comercialized in the city of São Paulo, were analyzed by high performance liquid chromatography. After saponification and extraction, compounds were determined simultaneously through a normal-phase column, mobile phase composed by hexan:2-propanol (99:1) and 2 mL/min flow. The retinol and beta-carotene were analysed by a UV/visible detector and the alpha-tocopherol by a fluorescence detector, both linked in series. The milk vitamin A values were calculated with and without beta-carotene. The major contribution of beta-carotene in the vitamin A value was in powder milks, around 17% in one of the brands. The high amounts of vitamin A and E found in some milks indicate that they probably were enriched with these vitamins but nothing is mentioned about this in their labels. The analysis of vitamins in these products indicates that there is need a better quality control.

milk; retinol; beta-carotene; alpha-tocopherol; liquid chromatography


Teores de retinol, b-caroteno e a-tocoferol em leites bovinos comercializados na cidade de São Paulo1 1 Recebido para publicação em 01/12/98. Aceito para publicação em 05/01/2000.

Rute BIANCHINI2 2 Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Av. Prof. Lineu Prestes, 580, Conjunto das Químicas – Bloco 14. CEP- 05508-900- São Paulo – SP. ,* * A quem a correspondência deve ser enviada. , Marilene De Vuono Camargo PENTEADO2 2 Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Av. Prof. Lineu Prestes, 580, Conjunto das Químicas – Bloco 14. CEP- 05508-900- São Paulo – SP.

RESUMO

Os teores de retinol, b-caroteno e a-tocoferol foram determinados por cromatografia líquida de alta eficiência em leites em pó, pasteurizados e esterilizados, comercializados na Cidade de São Paulo. Após a saponificação e extração, os compostos foram determinados simultaneamente utilizando-se coluna de sílica, fase móvel constituída por hexano:isopropanol (99:1) e fluxo de 2,0mL/min. O retinol e o b-caroteno foram determinados no detector UV/visível e o a-tocoferol no detector de fluorescência, ligado em série com o anterior. Os valores de vitamina A dos leites foram calculados com e sem a consideração do b-caroteno. A maior contribuição deste nutriente no valor de vitamina A esteve entre os leites em pó, cerca de 17% em uma das marcas. Os altos teores das vitamina A e E encontrados em alguns leites, indicam que os mesmos provavelmente receberam adição destas vitaminas, não trazendo, entretanto, tal informação no rótulo. A análise de vitaminas nestes produtos indica a necessidade de maior controle de qualidade dos mesmos.

Palavras-chave: leite, retinol, b-caroteno, a-tocoferol, cromatografia líquida.

SUMMARY

Amounts of retinol, b-carotene and a-tocopherol in cow milk comercialized in the city of São Paulo. The amount of retinol, b-carotene, a-tocopherol in powder, pasteurized and sterilized milk, comercialized in the city of São Paulo, were analyzed by high performance liquid chromatography. After saponification and extraction, compounds were determined simultaneously through a normal-phase column, mobile phase composed by hexan:2-propanol (99:1) and 2 mL/min flow. The retinol and b-carotene were analysed by a UV/visible detector and the a-tocopherol by a fluorescence detector, both linked in series. The milk vitamin A values were calculated with and without b-carotene. The major contribution of b-carotene in the vitamin A value was in powder milks, around 17% in one of the brands. The high amounts of vitamin A and E found in some milks indicate that they probably were enriched with these vitamins but nothing is mentioned about this in their labels. The analysis of vitamins in these products indicates that there is need a better quality control.

Keywords: milk, retinol, b-carotene, a-tocopherol, liquid chromatography.

1 – INTRODUÇÃO

As vitaminas são micronutrientes essenciais que contribuem para o crescimento normal e a manutenção da saúde. Alguns trabalhos destacam o papel de algumas vitaminas como antioxidantes, podendo proteger o organismo contra radicais livres, evitando doenças degenerativas [8, 15]. O leite é um alimento que se destaca pela sua composição vitamínica [1, 12], entretanto, como apresenta boa qualidade nutritiva, é um meio propício para a propagação de microrganismos. Assim, o tratamento térmico do leite é um dos cuidados que deve ser tomado para manter a qualidade e aumentar a vida de prateleira do produto [2, 6].

O processo de pasteurização do leite visa a destruição das bactérias patogênicas. No mercado brasileiro, há três diferentes tipos de leite pasteurizado: A, B e C. Para a validade do leite se estender por alguns meses, o mesmo tem que ser tratado industrialmente. Uma das formas é a esterilização, produzindo o leite chamado longa vida ou UHT ("ultra high temperature") e a outra é a remoção de água até produzir o leite em pó [6].

Alguns pesquisadores já procuraram determinar possíveis perdas nos teores de vitaminas do leite após diferentes tratamentos térmicos, bem como em verificar a manutenção destes teores durante a estocagem [21, 25]. O enriquecimento do leite com vitaminas é uma prática comum, que pode ser aplicada tanto para compensar as perdas ocorridas durante o processo de desengorduramento parcial do leite ou simplesmente para aumentar o seu valor nutritivo. Entretanto, há preocupações por parte de alguns estudiosos com a estabilidade das vitaminas adicionadas, pois como é sabido, as presentes naturalmente são mais estáveis que as utilizadas para o enriquecimento [5, 27]. Desta forma, a análise de vitaminas é importante, particularmente na indústria de alimentos, tanto para assegurar a qualidade dos produtos quanto para garantir o cumprimento da legislação vigente sobre produtos enriquecidos com estes nutrientes [22].

Na análise destes compostos, tem se destacado nos últimos anos a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), que tem sido considerada por alguns uma técnica apropriada para a análise de vitaminas lipossolúveis [9]. Entre as vantagens desta técnica encontram-se rapidez, sensibilidade, exatidão e determinação simultânea de várias vitaminas [14, 19].

A proposta deste trabalho foi determinar simultaneamente os teores de retinol, b-caroteno e a-tocoferol com o emprego da CLAE, em leites bovinos enriquecidos e não enriquecidos com vitaminas. O b-caroteno foi analisado para verificar sua contribuição no valor de vitamina A dos leites.

2 – MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 – Amostra

Para as análises foram utilizados leites pasteurizados (9 marcas), esterilizados (10 marcas) e em pó (11 marcas). Foram analisados dois diferentes lotes de cada marca. Em cada lote, foram realizadas três análises.

2.2 – Metodologia

2.2.1 - Saponificação e extração

Os métodos de saponificação e extração utilizados foram baseados no procedimento de AL-ABDULALY e SIMPSON [3].

2.2.2 - Condições cromatográficas

Na etapa cromatográfica foi empregada coluna de sílica, 5mm, 15cm x 6mm, Shim-Pack, Shimadzu. A fase móvel consistiu de hexano:isopropanol (99:1), o sistema de eluição foi isocrático e o fluxo de 2,0mL/minuto. Os detectores UV/visível e de fluorescência foram ligados em série, sendo o retinol e o b-caroteno analisados no primeiro, a 330nm e 452nm, respectivamente, e o a-tocoferol no segundo, com l excitação a 295nm e de emissão a 330nm, segundo RETTENMAIER e SCHÜEP [18].

A fase móvel foi desgaseificada durante 10 minutos, através da borbulhação de gás hélio.

2.2.3 - Identificação

Para a identificação dos compostos analisados, foram comparados os tempos de retenção dos picos da amostra com os dos padrões. Para o retinol e o b-caroteno verificou-se também a similaridade entre os espectros de absorção das amostras e dos respectivos padrões, conferida através do detector de arranjo de diodos.

2.2.4 - Quantificação

Para a quantificação foi utilizada curva de padronização externa para cada composto. Foram utilizados padrões de retinol todo-trans e de b-caroteno todo-trans da marca Sigma e de a-tocoferol da Merck.

Como não se dispunha de padrões comerciais de isômeros cis do retinol, os mesmos foram obtidos no laboratório, de acordo com os trabalhos de STANCHER e ZONTA [24] e de ZONTA e STANCHER [28].

2.2.5 - Teste de recuperação

A recuperação foi verificada da seguinte forma: uma alíquota conhecida de solução padrão foi transferida para um tubo de vidro com tampa. O solvente foi evaporado sob nitrogênio e em seguida foi adicionado 1mL de emulsificante Tween 85. Para a dissolução do composto no emulsificante foi empregado banho ultra-sônico durante 10 minutos. Logo após, foi adicionada uma alíquota de 15mL de leite, sendo a mistura agitada vigorosamente durante cerca de 1 minuto, a seguir, foram efetuados os procedimentos de saponificação e extração.

2.2.6 - Cálculo dos valores das vitaminas A e E em Unidades Internacionais (UI)

O cálculo do valor de vitamina A em UI, a partir das massas do retinol e do b-caroteno, foi feito sendo consideradas as seguintes relações [20]:

  • 1UI de vitamina A equivale a 0,3mg de retinol e a 0,6mg de b-caroteno.

Para a conversão dos dados analíticos de a-tocoferol em UI, deve ser levado em conta que os a-tocoferóis natural e sintético apresentam potências biológicas diferentes, sendo a do a-tocoferol natural maior [4, 13].

O cálculo para se obter o valor de vitamina E em UI, a partir da massa do a-tocoferol, foi feito segundo a Academia Nacional de Ciências - Conselho de Pesquisa dos Estados Unidos [16], sendo considerado:

  • 1mg de a-tocoferol = 1,49 UI, para as amostras não enriquecidas com vitamina E

  • 1mg de a-tocoferol = 1,10 UI, para as amostras enriquecidas com vitamina E

Normalmente, o enriquecimento dos alimentos é feito com o acetato de a-tocoferila. Após a saponificação, teremos uma mistura do a-tocoferol natural e do a-tocoferol derivado do composto sintético. Sendo este último predominante nas amostras enriquecidas e não sendo possível saber a quantidade de a-tocoferol naturalmente presente, o cálculo do valor de vitamina E nas amostras adicionadas desta vitamina foi feito sendo considerada apenas a biopotência do derivado sintético.

3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na identificação destes compostos, foi verificado que os tempos de retenção dos picos das amostras eram praticamente os mesmos dos padrões. As correlações referentes à sobreposição dos perfis espectrais dos picos do padrão e da amostra foram: 0,9966 para o retinol e 0,956 para o b-caroteno. Esses valores indicam uma boa similaridade entre os espectros, contribuindo para a identificação.

Na Figura 1 estão os perfis cromatográficos destes compostos analisados em amostras de leite.


A utilização do detector de fluorescência na determinação do a-tocoferol se deu em função dos baixos teores deste composto em amostras não enriquecidas.

Em algumas amostras de leites esterilizados observou-se próximo ao pico do retinol todo-trans outros picos não identificados. Para saber se estes picos correspondiam a alguns dos isômeros cis do retinol, foi realizada fotólise do padrão de retinol todo-trans. Após a fotólise e posterior análise cromatográfica através do sistema escolhido (Figura 2a), verificou-se que os perfis cromatográficos obtidos com estas amostras de leite esterilizado e com o padrão fotolisado eram praticamente idênticos. Foi feita, então, a comparação do cromatograma do padrão fotolisado com o obtido por WOOLARD e BLOTT [26] (Figura 2b), que analisaram isômeros de retinol em leite, utilizando sistema cromatográfico semelhante ao aqui escolhido. Pelas posições dos picos em relação ao todo-trans, os isômeros cis de retinol tentativamente identificados em alguns dos leites analisados no presente trabalho eram: o 9-cis, o 13-cis e o 9,13-cis. PANFILI et al. [17] analisando leite e derivados reportam a presença dos mesmos picos próximos ao todo-trans, sendo que as identificações foram também baseadas no trabalho de WOOLARD e BLOTT [26].


Ao contrário do observado em leites fluidos, em leites em pó não enriquecidos com vitamina E observou-se alterações no pico do a-tocoferol, conforme Figuras 3a, 3b e 3c, embora estes produtos estivessem dentro do prazo de validade. Esta mudança no pico do a-tocoferol, indica a presença de outro composto eluindo com aquele.


É possível que este composto desconhecido seja algum produto de degradação do a-tocoferol, resultante da oxidação do mesmo. VIDAL-VALVERDE et al. [25], verificaram a maior estabilidade do retinol que do a-tocoferol durante a estocagem de leites. É provável, afirmam os autores, que o a-tocoferol tenha efeito protetor sobre o retinol, contribuindo com a estabilidade do mesmo. Esta possibilidade foi ressaltada por HARTMAN e DRYDEN [10], que relatam que após a suplementação da dieta de vacas com tocoferóis, houve um "aumento" nos teores de retinol, provavelmente devido à atividade antioxidante daqueles.

Segundo MACHLIN [13], dentre as produtos de oxidação do a-tocoferol, a a-tocoferila quinona é a mais estável.

Na Tabela 1 estão os resultados dos testes de recuperação do retinol todo-trans, do b-caroteno e do a-tocoferol, em amostras de leite integral esterilizado.

A Tabela 1 mostra que foram obtidas boas taxas de recuperação para todos os compostos. A adição dos padrões foi feita de acordo com os níveis vitamínicos presentes nestes leites.

Em vista da impossibilidade de se separar o a-tocoferol do composto desconhecido através do sistema cromatográfico utilizado, o valor de vitamina E não foi determinado nas amostras que apresentaram tal perfil.

Os valores de vitamina A, com e sem a contribuição do b-caroteno, e da vitamina E, estão apresentados nas Tabelas 2, 3 e 4 para os leites em pó, pasteurizados e esterilizados, respectivamente. Nas Tabelas 3 e 4 os valores de vitamina E estão apresentados em mg/100mL, que é a forma como esta vitamina é expressa nas embalagens de leites fluidos. Já para os leites em pó, os valores de vitamina E estão apresentados em UI/100g, também em concordância com os rótulos.

A vitamina A é sempre expressa em UI/100g, no caso de leites em pó, ou UI/100mL, para leites fluidos.

As amostras ID, BN e PD são enriquecidas com as vitaminas A e E e a PV com vitamina A.

Dentre as marcas de leites em pó analisadas, pode-se observar que os leites em pó das marcas NC, NN, NS e PL, apresentaram valor de vitamina A e E bem mais altos que os das marcas NI, GR, PN, MC, IT e PR. É provável que os produtos daquelas marcas tenham sido adicionados destas vitaminas, a despeito do rótulo não trazer esta informação. O que pode reforçar esta possibilidade, é o fato de serem produtos destinados ao público infantil.

Apenas o fabricante da marca NV informa no rótulo a respeito do enriquecimento deste produto com vitamina A.

A Portaria n° 31 [7] estabelece que alimentos que tenham recebido adição de vitaminas, devem conter no rótulo um dos seguintes dizeres:

"Enriquecido (Fortificado) com vitamina(s)...", "Vitaminado", "Enriquecido (Fortificado) com...", "Rico em..." [especificando o nome da(s) vitamina(s)], "Rico em vitaminas", "Com vitaminas...", "Contém vitaminas...".

Desta forma, o rótulo de tais produtos não está de acordo com a legislação vigente, devendo tal fato chamar a atenção dos órgãos fiscalizadores para que se promova adequação das informações nestas embalagens.

Segundo HARTMAN e DRYDEN [10], a contribuição do b-caroteno no valor de vitamina A do leite pode variar entre 11 e 50%.

Dentre os leites em pó, a maior contribuição do b-caroteno nos valores de vitamina A, considerando a média dos dois lotes, foi de 17,13% (PR), para os leites pasteurizados 11,56% (LC) e para os esterilizados 15,03% (PT). A contribuição do b-caroteno no valor de vitamina A varia em função da quantidade do nutriente no leite, que depende da ingestão do mesmo e da raça do animal [10, 23].

Nos leites em pó, todas as amostras provavelmente enriquecidas com vitamina A, apresentaram valores maiores que o declarado no rótulo, chegando a ser mais que o dobro no caso da marca NC.

Quanto à vitamina E, foram encontrados valores bem abaixo dos declarado no lote 2 das marcas NN, NS e PL.

HEWAVITHARANA et al. [11], determinaram os valores das vitaminas A e E em leites e derivados. No leite em pó, encontraram para a vitamina A valores entre 3000 e 4000 UI/100g e para vitamina E entre 1,7 e 1,9UI/100g. Os resultados destes autores quanto à vitamina A têm mais proximidade com os teores das amostras de leite em pó provavelmente adicionadas desta vitamina. No entanto, os autores não mencionam se os leites que analisaram eram enriquecidos.

WOOLARD e BLOTT [26], verificaram que em leites em pó os teores de vitamina E, expressos em UI/100g, variaram entre 1,4 e 1,5 para as amostras não enriquecidas e entre 9,6 e 11 para as enriquecidas com esta vitamina. Os valores aqui determinados para a única amostra de leite em pó não enriquecida onde foi possível a análise, estiveram bem abaixo dos encontrados pelos autores. Tal fato também ocorreu em relação às amostras adicionadas de vitamina E.

O leite pasteurizado da marca PM, enriquecido com vitamina A, apresentou em ambos os lotes valores acima do informado, chegando ao dobro no lote 1.

Os menores teores de vitamina A dos leites pasteurizados foram encontrados no leite tipo A marca FA.

O que pode parecer surpreendente, são os teores de vitamina A encontrados no leite tipo C, marca PC, compatíveis com os teores da marca PM, também tipo C, sendo este, no entanto, enriquecido com a vitamina. É provável que a amostra PC tenha sido adicionada de vitamina A, apesar de tal informação não constar no rótulo. Pode-se suspeitar também que a alimentação do animal tenha papel importante nestes teores, pois como afirmam SCOTT et al. [23], a raça bovina interfere na proporção de b-caroteno convertido para retinol.

Ao contrário do que ocorreu com o leite em pó, o a-tocoferol nos leites pasteurizados não foi quantificado apenas em um dos lotes das marcas FA e LC.

As duas marcas de leite tipo A, FA e PA, foram as que apresentaram os menores teores de vitamina E.

Nos leites esterilizados enriquecidos com vitamina A, o lote 2 da amostra ID e os dois lotes da amostra PD, estavam com teores abaixo do declarado em ambos os lotes. O mesmo ocorreu com a vitamina E no lote 2 da marca ID e em ambos lotes da marca PD. Na marca BN, os valores de vitamina E encontrados estão ligeiramente abaixo do informado. O mesmo ocorreu no lote 1 da marca ID em relação à vitamina A.

De acordo com HARTMAN e DRYDEN [10], há contradição na literatura sobre o quanto a raça do animal pode interferir nos teores de vitamina E do leite. Entretanto, a dieta e a época do ano, parecem ser fatores preponderantes. O pasto fresco, parece conter mais a-tocoferol que rações fornecidas durante o inverno, a não ser que haja suplementação destas rações com tocoferol.

Os leites pasteurizados aqui estudados foram adquiridos e analisados numa mesma época. Logo, as variações para os teores dos compostos analisados entre as diferentes marcas, podem ser explicadas principalmente em função da alimentação e raça dos animais.

HEWAVITHARANA et al. [11], encontraram em leite integral esterilizado, 0,060 mg/100mL de a-tocoferol, em concordância com os do presente trabalho para as amostras não enriquecidas com vitamina E.

4 – CONCLUSÕES

Os valores das vitamina A e E obtidos em algumas marcas de leite indicam que houve enriquecimento destes produtos com as respectivas vitaminas, sem no entanto tal informação constar no rótulo, contrariando a legislação nacional vigente.

Há necessidade de maior controle nas taxas de enriquecimento, pois algumas marcas adicionadas de vitaminas A e E apresentaram valores bem abaixo dos declarados.

O b-caroteno teve contribuição média de cerca de 10% nos valores de vitamina A dos leites integrais, devendo portanto, ser considerado no cálculo desta vitamina em tais produtos, ao contrário dos leites desnatados, onde a contribuição foi muito pequena, podendo ser desconsiderado.

A presença de interferentes não possibilitou a análise do a-tocoferol em algumas marcas, principalmente de leites em pó.

5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

6 – AGRADECIMENTOS

À Dra. Maria Aparecida Lopes da Costa, pelas sugestões e preciosa colaboração.

Às técnicas Inês Maria Henrique e Magda Rios, pelo auxílio prestado.

Ao CNPq, pela bolsa de estudos concedida à primeira autora.

  • [1] AINSWORTH, P. Chemistry in the kitchen: milk and milk products I. Nutr. Food Sci., London, n. 2, p. 27-30, 1996a.
  • [2] AJZENTAL, A. Os caminhos do leite: da ordenha a consumidor. Leite Derivados, Săo Paulo, v. 3, n. 18, p. 29-40, 1994.
  • [3] AL-ABDULALY, A. B., SIMPSON, K. L. Reversed-phase flash column chromatography for the determination of retinol in some foods. J. Micronutr. Anal., Barking, v. 5, p. 161-9, 1989.
  • [4] BALZ, M. K., SCHULTEAND, E., THIER, H. P. Simultaneous determination of a-tocopheryl acetate, tocopherols and tocotrienols by HPLC with fluorescence detection in foods. Fett Wiss. Technol., Leinfelden-Echterdingen, v. 95, n. 6, p. 215-20, 1993.
  • [5] BARTHOLOMEW, B. P., OGDEN, L. V. Effect of emulsifiers and fortification methods on light stability of vitamin A in milk. J. Dairy Sci., Urbana, v. 73, p. 1485-8, 1990.
  • [6] BRANDĂO, S. C. C. Tecnologia da produçăo de leite em pó. Leite Derivados, Săo Paulo, v. 3, n. 17, p. 49-57, 1994.
  • [7] BRASIL. Leis, Decretos, etc ... Portaria n. 31, 13 jan. 1998. Diário Oficial da Uniăo, Brasília, 16 jan. 1998. Seçăo 1, n.11-E. O ministério da Saúde aprova o regulamento técnico referente a alimentos adicionados de nutrientes essenciais.
  • [8] BURING, J. E., HENNEKENS, C. Antioxidant vitamins and cardiovascular disease. Nutr. Rev., New York, v. 55, n. 1, p. S53-S60, 1997.
  • [9] COULTATE, T. P., SUMAR, S., DAVIES, J. G. The analysis of micronutrients in the diet. Nutr. Food Sci., London, n. 1, p. 28-30, 1995.
  • [10] HARTMAN, A. M., DRYDEN, L. P. The vitamins in milk and milk products, In: WEBB, B. H., JOHNSON, A. H., ALFORD, J. A., eds. Fundamentals of dairy chemistry. 3. ed. Westport: Avi, 1983. p. 325-401.
  • [11] HEWAVITHARANA, A. K., van BRAKEL, A. S., HARNETT, M. Simultaneous liquid chromatographic determination of vitamins A, E and b-carotene in common dairy foods. Int. Dairy J., Barking, v. 6, p. 613-24, 1996.
  • [12] INDYK, H. E., LAWRENCE, R., BRODA, D. The micronutrient content of bovine whole milk powder: influence of pasture feeding and season. Food Chem., Barking, v. 46, p. 389-96, 1993.
  • [13] MACHLIN, L. J. Vitamin E. In: MACHLIN, L. J., ed. Handbook of vitamins: nutritional, biochemical, and clinical aspects. New York: Marcel Dekker, 1984. p. 99-146.
  • [14] MACRAE, R. HPLC determination of vitamins. J. Micronutr. Anal., Barking, v. 7, p. 247-60, 1990.
  • [15] MARTIN, A., WU, D., MEYDANI, S. N., BLUMBERG, J. B., MEYDANI, M. Vitamin E protects human aortic endothelial cells from cytoxic injury induced by oxidized LDL in vitro. J. Nutr. Biochem., Stonehm, v. 9, n. 4, p. 201-8, 1998.
  • [16] NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Food and Nutrition Board. Recomended dietary allowances. 9. ed. Washington: National Academy of Science, 1980. 185p.
  • [17] PANFILI, G., MANZI, M., PIZZOFERRATO, L. Influence of thermal and other manufacturing stresses on retinol isomerization in milk and dairy products. J. Dairy Res., Cambridge, v. 65, n. 2, p. 233-260, 1998.
  • [18] RETTENMAIER, R., SCHUEP, W. Determination of vitamins A and E in liver tissue. Int. J. Vitam. Nutr. Res., Bern, v. 62, p. 312-7, 1992.
  • [19] RIZZOLO, A. POLESELLO, S. Chromatographic determination of vitamins in foods. J. Chromatogr., Amsterdam, v. 624, p. 103-52, 1992.
  • [20] RONCADA, M. J. Vitaminas lipossolúveis. In: OLIVEIRA, J. E. D., SANTOS, A. C., WILSON, E. D. In: Nutriçăo básica. Săo Paulo: Savier, 1982. p. 157-80.
  • [21] RYLEY, J., KAJDA, P. Vitamins in thermal processing. Food Chem., Barking, v. 49, n. 2, p. 119-29, 1994.
  • [22] SCOTT, A.O. Food industry needs for vitamin analysis. J. Micronutr. Anal., Barking, v. 7, p. 315-27, 1990.
  • [23] SCOTT, K. J., BISHOP, D. R., ZECHALKO, A., EDWARDS-WEBB, J. D., JACKSON, P. A., SCUFFAM, D. Nutrient content of liquid milk. I. Vitamins A, D3, C and of the B complex in pasteurizes bulk liquid milk. J. Dairy Res., Cambridge, v. 51, n. 1, p. 37-50, 1984a.
  • [24] STANCHER, B., ZONTA, F. High-performance liquid chromatography of the unsaponifiable from samples of marine and preshwater fish: fractionation and identification of retinol (vitamin A1) and dehydroretinol (vitamin A2) isomers. J. Chromatogr., Amsterdam, v. 287, p. 353-64, 1984.
  • [25] VIDAL-VALVERDE, C., RUIZ, C.R., MEDRANO, A. Stability of retinol in milk during frozen and other storage conditions. Z. Lebensm. Unters. Forsch., v. 195, p. 562, 1992.
  • [26] WOOLARD, D. C., BLOTT, A. D. The routine determination of vitamin E acetate in milk-powder formnulations using high-performance liquid chromatography. J. Micronutr. Anal., Barking, v. 2, p. 97-115, 1986.
  • [27] ZAHAR, M., SMITH, D. E. Factors related to the light stability of vitamin A in various carriers. J. Dairy Sci., Urbana, v. 70, p. 13-9, 1987.
  • [28] ZONTA, F., STANCHER, B. High-performance liquid chromatography of retinals, retinols (vitamin A1) and their dehydro homologues (vitamin A2): improvements in resolution and spectroscopic characterization of the stereoisomers. J. Chromatogr., Amsterdam, v. 301, p. 65-75, 1984.
  • 1
    Recebido para publicação em 01/12/98. Aceito para publicação em 05/01/2000.
  • 2
    Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Av. Prof. Lineu Prestes, 580, Conjunto das Químicas – Bloco 14. CEP- 05508-900- São Paulo – SP.
  • *
    A quem a correspondência deve ser enviada.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      21 Ago 2000
    • Data do Fascículo
      Dez 1999

    Histórico

    • Aceito
      05 Jan 2000
    • Recebido
      01 Dez 1998
    Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos Av. Brasil, 2880, Caixa Postal 271, 13001-970 Campinas SP - Brazil, Tel.: +55 19 3241.5793, Tel./Fax.: +55 19 3241.0527 - Campinas - SP - Brazil
    E-mail: revista@sbcta.org.br