Acessibilidade / Reportar erro

Avaliação da ingestão alimentar e excreção de metabólitos na nefrolitíase

Resumos

Introdução:

A nefrolitíase é uma patologia frequente, com alta taxa de prevalência e recorrência, ocorrendo por processo multifatorial e complexo.

Objetivo:

Analisar as principais características dietéticas e metabólicas de pacientes com nefrolitíase e compará-los com grupo controle.

Métodos:

Estudo observacional, transversal, com 31 pacientes com nefrolitíase (NE) e 18 saudáveis. Na ingestão dietética, foram verificados sódio, cálcio, proteína, potássio, vitamina C, oxalato e a ingestão hídrica em ambos os grupos. Na avaliação metabólica, foi analisada excreção urinária de citrato e oxalato. Também foi avaliada presença de hipertensão arterial e Índice de Massa Corporal (IMC).

Resultados:

Quanto ao grupo NE, verificou-se que 45,2% apresentou alta ingestão de sódio e 100% de oxalato. Foi também observada baixa ingestão de cálcio em 93,5%, potássio em 100% e vitamina C em 94,9%. Com relação à proteína, apenas 12,5% apresentou ingestão normoproteica. Quanto à ingestão hídrica, 12,9% apresentou ingestão menor que 1 litro, 54,8% entre 1 a 2 litros, e 32,3% maior que 2 litros. Foi observada hipertensão arterial sistêmica em 64,5% desses pacientes e excreção adequada de citrato e oxalato em 90,5% deles. Não foi verificada diferença estatística significativa na ingestão alimentar, IMC, e excreção de oxalato entre os grupos. No entanto, o grupo NE apresentou maior excreção de citrato.

Conclusão:

Verificou-se nos dois grupos elevada prevalência de pacientes com sobrepeso, alta ingestão de oxalato e sódio, além de inadequação nas ingestões de cálcio, potássio e vitamina C. No grupo NE, foi observada alta ingestão proteica e maior excreção de citrato.

citratos; ingestão de alimentos; nefrolitíase; oxalato de cálcio


Introduction:

Nephrolithiasis is a common condition with high prevalence and recurrence, occuring by a complex and multifactorial process.

Objective:

To analyze the main dietary and metabolic characteristics of patients with nephrolithiasis and compare them with a control group.

Methods:

A crosssectional study with 31 patients with nephrolithiasis (NE) and 18 healthy. By the dietary intake it were observed sodium, calcium, protein, potassium, vitamin C, oxalate and water intake in both groups. Metabolic assessment were analyzed in urinary excretion of oxalate and citrate. The presence of hypertension and body mass index (BMI) was also evaluated.

Results:

In the NE group, it was found that 45.2% had a high intake of sodium and 100% a high intake of oxalate. It was also observed a low calcium, potassium and vitamin C intake by 93.5%, 100% and 94.9% respectively. Regarding protein, only 12.5% had normal protein intake. Concerning water intake, 12.9% had an ingestion less than 1 liter, 54.8% between 1 and 2 liters and 32.3% higher than 2 liters. Hypertension was observed in 64.5% of patients and adequate excretion of oxalate and citrate in 90.5% of them. There was no statistically difference in food intake, BMI and oxalate excretion between groups. However, the NE group showed higher urinary citrate.

Conclusion:

It was found in both groups a high prevalence of overweight patients, a high intake of oxalate and sodium, in addition to inadequate intakes of calcium, potassium and vitamin C. The NE group showed high protein intake and increased excretion of citrate.

citrates; calcium oxalate; nephrolithiasis; eating


Introdução

A nefrolitíase é uma doença crônica1Sakhaee K. Pharmacology of stone disease. Adv Chronic Kidney Dis 2009;16:30-8. DOI: http://dx.doi.org/10.1053/j.ackd.2008.10.004
http://dx.doi.org/10.1053/j.ackd.2008.10...
e frequente que acomete entre 5% e 15% da população mundial,2Peres LAB, Almeida LP, Bolson LB, Brites MF, David JM, Tazima L. Investigação de nefrolitíase no Oeste do Paraná. J Bras Nefrol 2011;33:160-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011000200007
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011...

Ferraz FHRP, Carvalho PRA, Souza RR. Perfil dos pacientes portadores de nefrolitíase em tratamento ambulatorial em um hospital público do Distrito Federal. Brasília Med 2011;48:252-7.
- 4Souza PT, Deus RB, Malagutti W, Silva RN, Rodrigues FSM, Ferraz RRN. Prevalência de sinais sugestivos de litíase urinária em trabalhadores do serviço de teleatendimento. ConScientiae Saúde 2009;8:641-7. sendo considerada um problema de saúde pública.3Ferraz FHRP, Carvalho PRA, Souza RR. Perfil dos pacientes portadores de nefrolitíase em tratamento ambulatorial em um hospital público do Distrito Federal. Brasília Med 2011;48:252-7. A litíase renal afeta jovens adultos,5Pearle MS. Prevention of nephrolithiasis. Curr Opin Nephrol Hypertens 2001;10:203-9. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/00041552-200103000-00008
http://dx.doi.org/10.1097/00041552-20010...

Wilkinson H. Clinical investigation and management of patients with renal stones. Ann Clin Biochem 2001;38:180-7. PMID: 11392494 DOI: http://dx.doi.org/10.1258/0004563011900623
http://dx.doi.org/10.1258/00045630119006...
- 7Sociedade Brasileira de Nefrologia. Diretrizes de litíase urinária. J Bras Nefrol 2002;24:203-7. em especial homens,2Peres LAB, Almeida LP, Bolson LB, Brites MF, David JM, Tazima L. Investigação de nefrolitíase no Oeste do Paraná. J Bras Nefrol 2011;33:160-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011000200007
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011...
, 7Sociedade Brasileira de Nefrologia. Diretrizes de litíase urinária. J Bras Nefrol 2002;24:203-7. com seu pico de incidência durante a terceira e quarta décadas de vida,5Pearle MS. Prevention of nephrolithiasis. Curr Opin Nephrol Hypertens 2001;10:203-9. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/00041552-200103000-00008
http://dx.doi.org/10.1097/00041552-20010...

Wilkinson H. Clinical investigation and management of patients with renal stones. Ann Clin Biochem 2001;38:180-7. PMID: 11392494 DOI: http://dx.doi.org/10.1258/0004563011900623
http://dx.doi.org/10.1258/00045630119006...
- 7Sociedade Brasileira de Nefrologia. Diretrizes de litíase urinária. J Bras Nefrol 2002;24:203-7. porém, também ocorre comumente em crianças.2Peres LAB, Almeida LP, Bolson LB, Brites MF, David JM, Tazima L. Investigação de nefrolitíase no Oeste do Paraná. J Bras Nefrol 2011;33:160-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011000200007
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011...
A taxa de recorrência da litíase renal é alta, atingindo cerca de 50% dos doentes não tratados em um período de cinco anos.8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56.

Ocupa o terceiro lugar entre as doenças mais frequentes do aparelho geniturinário, sendo ultrapassada apenas pelas infecções urinárias e enfermidades da próstata. A nefrolitíase cálcica representa 85% do total das litíases renais e ocorre devido ao aumento dos níveis de oxalato, cálcio e ácido úrico urinários ou diminuição do citrato urinário.8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56.

A maior proporção dos cálculos renais é de constituição mista, sendo composta por aproximadamente 30% de monominerais.8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56. Dentre os minerais mais frequentes, está o oxalato de cálcio,8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56. , 9Taylor EM, Curhan GC. Oxalate intake and the risk for nephrolithiasis. J Am Soc Nephrol 2007;18:2198-204. DOI: http://dx.doi.org/10.1681/ASN.2007020219
http://dx.doi.org/10.1681/ASN.2007020219...
que apresenta de 40% a 50% da excreção urinária proveniente da dieta.1010 Sociedade Brasileira de Urologia. Litíase urinária: aspectos metabológicos em adultos e crianças; 2006. O oxalato é um componente presente em espécies vegetais, o que torna sua ingestão inevitável na dieta humana. Está presente em sementes, incluindo grãos de cereais, espinafre e algumas raízes, tais como a beterraba, que é particularmente rica em oxalato.1111 Holmes RP, Goodman HO, Assimos DG. Contribution of dietary oxalate to urinary oxalate excretion. Kidney Int 2001;59:270-6. PMID: 11135080 DOI: http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.2001.00488.x
http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.20...

A formação das litíases ocorre por um processo multifatorial e complexo. Dentre os fatores que as influenciam, têm-se: clima,7Sociedade Brasileira de Nefrologia. Diretrizes de litíase urinária. J Bras Nefrol 2002;24:203-7. , 8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56. profissão,8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56. , 1010 Sociedade Brasileira de Urologia. Litíase urinária: aspectos metabológicos em adultos e crianças; 2006. fatores nutricionais,8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56. , 7Sociedade Brasileira de Nefrologia. Diretrizes de litíase urinária. J Bras Nefrol 2002;24:203-7. idade,2Peres LAB, Almeida LP, Bolson LB, Brites MF, David JM, Tazima L. Investigação de nefrolitíase no Oeste do Paraná. J Bras Nefrol 2011;33:160-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011000200007
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011...
, 8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56. sexo,2Peres LAB, Almeida LP, Bolson LB, Brites MF, David JM, Tazima L. Investigação de nefrolitíase no Oeste do Paraná. J Bras Nefrol 2011;33:160-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011000200007
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011...
, 8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56. , 1010 Sociedade Brasileira de Urologia. Litíase urinária: aspectos metabológicos em adultos e crianças; 2006. fatores genéticos7Sociedade Brasileira de Nefrologia. Diretrizes de litíase urinária. J Bras Nefrol 2002;24:203-7. , 8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56. e distúrbios metabólicos.8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56. , 1010 Sociedade Brasileira de Urologia. Litíase urinária: aspectos metabológicos em adultos e crianças; 2006.

A supersaturação urinária pode ser considerada o evento inicial do processo de calculogênese,4Souza PT, Deus RB, Malagutti W, Silva RN, Rodrigues FSM, Ferraz RRN. Prevalência de sinais sugestivos de litíase urinária em trabalhadores do serviço de teleatendimento. ConScientiae Saúde 2009;8:641-7. , 1212 Carvalho M, Ferrari ACH, Renner LO, Vieira MA, Riella MC. Quantificação do Stone Clinic Effect em pacientes com nefrolitíase. Rev Assoc Med Bras 2004;50:79-82. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302004000100040
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302004...
podendo resultar de três principais alterações: excesso de substâncias promotoras, redução de substâncias inibidoras da cristalização4Souza PT, Deus RB, Malagutti W, Silva RN, Rodrigues FSM, Ferraz RRN. Prevalência de sinais sugestivos de litíase urinária em trabalhadores do serviço de teleatendimento. ConScientiae Saúde 2009;8:641-7. , 8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56. e redução do volume urinário.4Souza PT, Deus RB, Malagutti W, Silva RN, Rodrigues FSM, Ferraz RRN. Prevalência de sinais sugestivos de litíase urinária em trabalhadores do serviço de teleatendimento. ConScientiae Saúde 2009;8:641-7. Como resultado disto ocorre cristalúria anormal, com nucleação, agregação e crescimento dos cristais, desenvolvendo, assim, a nefrolitíase.8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56.

Estudos que apontam relação entre fatores dietéticos,9Taylor EM, Curhan GC. Oxalate intake and the risk for nephrolithiasis. J Am Soc Nephrol 2007;18:2198-204. DOI: http://dx.doi.org/10.1681/ASN.2007020219
http://dx.doi.org/10.1681/ASN.2007020219...
, 1313 Silver J, Rubinger D, Friedlaender MM, Popovtzer MM. Sodium-dependent idiopathic hypercalciuria in renal-stone formers. Lancet 1983;2:484-6. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(83)90513-5
http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(83)...
, 1414 Curhan GC, Willett WC, Rimm EB, Stampfer MJ. A prospective study of dietary calcium and other nutrients and the risk of symptomatic kidney stones. N Engl J Med 1993;328:833-8. PMID: 8441427 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199303253281203
http://dx.doi.org/10.1056/NEJM1993032532...
presença de hipertensão arterial sistêmica,4Souza PT, Deus RB, Malagutti W, Silva RN, Rodrigues FSM, Ferraz RRN. Prevalência de sinais sugestivos de litíase urinária em trabalhadores do serviço de teleatendimento. ConScientiae Saúde 2009;8:641-7. , 1515 Borghi L, Meschi T, Guerra A, Briganti A, Schianchi T, Allegri F, et al. Essential arterial hypertension and stone disease. Kidney Int 1999;55:2397-406. PMID: 10354288 DOI: http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.1999.00483.x
http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.19...
peso corporal2Peres LAB, Almeida LP, Bolson LB, Brites MF, David JM, Tazima L. Investigação de nefrolitíase no Oeste do Paraná. J Bras Nefrol 2011;33:160-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011000200007
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011...
, 1515 Borghi L, Meschi T, Guerra A, Briganti A, Schianchi T, Allegri F, et al. Essential arterial hypertension and stone disease. Kidney Int 1999;55:2397-406. PMID: 10354288 DOI: http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.1999.00483.x
http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.19...
, 1616 Taylor EN, Stampfer MJ, Curhan GC. Obesity, weight gain, and the risk of kidney stones. JAMA 2005;293:455-62. PMID: 15671430 DOI: http://dx.doi.org/10.1001/jama.293.4.455
http://dx.doi.org/10.1001/jama.293.4.455...
e excreção de metabólitos9Taylor EM, Curhan GC. Oxalate intake and the risk for nephrolithiasis. J Am Soc Nephrol 2007;18:2198-204. DOI: http://dx.doi.org/10.1681/ASN.2007020219
http://dx.doi.org/10.1681/ASN.2007020219...
, 1414 Curhan GC, Willett WC, Rimm EB, Stampfer MJ. A prospective study of dietary calcium and other nutrients and the risk of symptomatic kidney stones. N Engl J Med 1993;328:833-8. PMID: 8441427 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199303253281203
http://dx.doi.org/10.1056/NEJM1993032532...
, 1717 Taylor EN, Stampfer MJ, Curhan GC. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in men: new insights after 14 years of follow-up. J Am Soc Nephrol 2004;15:3225-32. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146012.44570.20
http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146...
no processo de litogênese, destacando a importância de investigações mais aprofundadas sobre estes aspectos, visando identificação e correção dos desequilíbrios que ocasionam a litíase renal.

O objetivo do presente trabalho é descrever e comparar o perfil nutricional, dietético e metabólico de indivíduos com e sem nefrolitíase.

Métodos

Este é um estudo do tipo observacional, transversal, realizado com pacientes atendidos no Ambulatório de Nefrologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná e controles saudáveis. Foram estudados pacientes portadores de nefrolitíase com ao menos um dos critérios de inclusão: cólica renal com hematúria confirmada, evidência radiológica de nefrolitíase ou histórico de eliminação espontânea ou por remoção cirúrgica de cálculo urinário. Foi definido que todos os pacientes fossem portadores de nefrolitíase recorrente possuíssem mais de dois cálculos formados comprovados radiologicamente e tivessem sido atendidos pelo menos duas vezes no ambulatório. Além destes aspectos, foi utilizado como critério de inclusão da amostra a ausência de orientação dada por nutricionista, de forma prévia a este estudo. Para participar da pesquisa, os indivíduos deveriam ter idade superior a 18 anos e serem capazes de compreender e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A presença de distúrbios do metabolismo do cálcio como hiperparatireoidismo primário, rim espongiomedular, acidose tubular renal, malignidade e déficit de função renal (depuração de creatinina menor que 70 ml/min) constituíram critérios de exclusão. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná.

Em relação aos dados metabólicos, as análises bioquímicas referentes à excreção de citrato e oxalato urinário foram obtidas por meio de exame de urina de 24 horas. Os exames laboratoriais foram considerados adequados quando o valor mínimo de referência para citrato excretado era de 320 mg/24h,1818 Cunha MA, Schor N. Valores de referência de parâmetros urinários envolvidos na litogênese. J Bras Nefrol 1996;18:124-9. já para oxalato excretado, o valor máximo de referência era de 45 mg/ dia.1919 Milliner DS. Urolithiasis. In: Avner ED, Harmon WE, Niaudet P, Yoshikawa N, eds. Pediatric Nephrology. 6th ed. Boston: Springer; 2009. p.1405-30. Quanto à presença de hipertensão arterial sistêmica (HAS), o paciente foi considerado hipertenso quando já realizava tratamento farmacológico ou apresentava diagnóstico médico prévio.

Os pacientes foram submetidos à avaliação nutricional composta por anamnese e avaliação antropométrica. A anamnese englobou questionamentos referentes à identificação do sujeito, fatores relacionados à alimentação e ingestão de líquidos.

Como instrumento para avaliação dietética da ingestão de oxalato nos grupos, foi utilizado o Questionário de Frequência Alimentar Semiquantitativo (QFA),2020 Ribeiro AC, Sávio KEO, Rodrigues MLCF, Costa THC, Schmitz BAS. Validação de um questionário de freqüência de consumo alimentar para população adulta. Rev Nutr 2006;19:553-62. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1415-52732006000500003
http://dx.doi.org/10.1590/S1415-52732006...
que consiste na abordagem da frequência mensal de consumo de uma variedade de grupos de alimentos. Como complemento ao QFA, foi realizada a aplicação do Recordatório 24 horas2121 Karvetti RL, Knuts LR. Validity of the 24-hour dietary recall. J Am Diet Assoc 1985;85:1437-42. para estimar a ingestão dos demais nutriente. Para análise dos dados dietéticos obtidos no Recordatório 24 horas, utilizou-se o software Avanutri online ®.

Para verificação da adequação da ingestão dos micronutrientes, exceto oxalato, os indivíduos foram comparados um a um com os valores de referência da Recommended Dietary Allowances (RDA) presente na Dietary Reference Intakes (DRI),2222 Food and nutrition board. National Research Council. Institute of Medicine. Dietary reference intakes: applications in dietary assessment. Washington: National Academy Press; 2000. segundo idade e gênero. Os valores de vitamina C, cálcio, potássio e fósforo foram considerados adequados quando o valor foi igual ou superior a RDA. Quanto ao oxalato ingerido, sua estimativa foi realizada com base na aplicação do QFA. Cada alimento consumido teve seu teor de oxalato calculado2323 Hsph.harvard.edu. Boston: Harvard School of public health. [Internet] [Acesso 20 nov 2013]. Disponível em: https://regepi.bwh.harvard.edu/health/Oxalate/files
https://regepi.bwh.harvard.edu/health/Ox...
de acordo com a quantidade em medida caseira e a frequência mensal de consumo referidas pelo paciente. Foram somados todos os teores de oxalato, obtendo-se a ingestão habitual total de oxalato. Com a finalidade de se conhecer a média diária de ingestão, o total de oxalato ingerido foi, finalmente, dividido por 30 dias. A ingestão de oxalato foi considerada adequada quando inferior a 55 mg/dia.2424 Massey LK, Palmer RG, Horner HT. Oxalate content of soybean seeds (Glycine max: Leguminosae), soyfoods, and other edible legumes. J Agric Food Chem 2001;49:4262-6. PMID: 11559120 DOI: http://dx.doi.org/10.1021/jf010484y
http://dx.doi.org/10.1021/jf010484y...

A adequação de sódio teve como valor de referência a ingestão máxima de 2000 mg/dia, definida pela Organização Mundial de Saúde,2525 World Health Organization. Guideline: sodium intake for adults and children. Geneva: World Health Organization; 2012. sendo considerada uma ingestão inadequada quando superior a este valor. Na avaliação da ingestão de sódio, este estudo considerou, a partir da utilização do software composto por tabelas de composição nutricional, tanto o sódio intrínseco no alimento, quanto o sódio presente em algumas preparações acrescidas de sal. Porém, o sódio presente de adição não pode ao menos ser estimado de acordo com os padrões de consumo da população brasileira, já que o software utilizado já contabiliza o sal de adição, e, portanto, o sódio, de determinadas preparações.

Quanto à ingestão de proteína, foi estimada a necessidade de acordo com Martin & Cardoso,2626 Martins C, Cardoso SP. Terapia nutricional enteral e parenteral. Manual de rotina técnica. Curitiba: Nutroclínica; 2000. p.23-55. em que a classificação considerou uma dieta normoproteica quando ingerido de 1 a 1,2 g de proteína por quilograma de peso corporal por dia. Quanto à ingestão de líquidos, os pacientes foram questionados em relação ao consumo de água e demais líquidos.

Na avaliação antropométrica, realizada após a entrevista, foram coletados peso atual e estatura. Para obtenção do primeiro dado, foi utilizada uma balança portátil com capacidade de 150 kg e precisão de 100 g, com o paciente portando o mínimo de roupa possível. Para aferição da estatura, foi utilizado o antropômetro da balança mecânica, posicionando o paciente descalço no centro do equipamento, com a cabeça livre de adereços, em pé, ereto, com os braços estendidos ao longo do corpo, cabeça erguida, olhando para um ponto fixo na altura dos olhos. A partir do peso e estatura, foi calculado o Índice de Massa Corporal (IMC) e classificado de acordo com a Organização Mundial de Saúde.2727 World Health Organization. Obesity: preventing and managing the global epidemic. Report of a World Health Organization Consultation. Geneva: World Health Organization; 2000. p.256.

As análises estatísticas foram efetuadas no software SPSS 17.0 versão Windows ® (SPSS, Chicago, IL), a fim de serem avaliados comparativamente os parâmetros nutricionais e de bioquímica urinária.

Para comparação entre variáveis numéricas, foram utilizados o Teste t de Student e Mann-Whitney, o último para dados não paramétricos. Os testes Qui-Quadrado (χ2), teste Exato de Fisher e Mann-Whitney foram empregados para comparar as variáveis categóricas. Quando os pressupostos para aplicação do Teste χ2 não foram contemplados, optou-se pela utilização do Teste Mann-Whitney, que a verifica a diferença entre os grupos de acordo com a soma dos postos. Para variáveis categóricas dicótomas, o Teste Exato de Fisher foi utilizado. O nível de significância das análises foi estabelecido em 0,05.

Resultados

Dos 49 indivíduos estudados, 31 pertenciam ao grupo nefrolitíase (NE) e 18 ao grupo controle. Quanto aos gêneros, 16,67% dos indivíduos pertencentes ao grupo NE eram homens, já no grupo controle este gênero ocupou 25,81% do total do grupo. Os dois grupos obtiveram igualdade neste aspecto, com p = 0,322 (Exato de Fischer).

Para avaliação de idade, IMC e classificação dietética, foram usadas as informações de 31 pacientes no grupo NE e de 18 no grupo controle. Quanto ao citrato e oxalato excretados, foram obtidas informações de 21 pacientes do grupo NE e 9 do grupo controle.

A média de idade, IMC médio e a excreção de oxalato de ambos os grupos apresentaram-se estatisticamente iguais. Contudo, com relação ao citrato excretado, o grupo NE obteve maior excreção (p = 0,039), como aponta a Tabela 1.

Tabela 1
Caracterização da amostra - grupos

Foi observada hipertensão arterial em 64,5% do grupo NE e 72,2% do grupo controle, não havendo diferença significativa entre eles (qui-quadrado; p = 0,579). Com relação à classificação do IMC, no grupo NE 12,9% estavam em eutrofia, 51,6% em sobrepeso e 35,5% em obesidade. Já no grupo controle, 11,1% estavam em eutrofia, 33,3% em sobrepeso e 55,6% em obesidade. Não foi verificada diferença estatística entre os grupos (p = 0,236).

Quanto à ingestão de sódio, cálcio, potássio, vitamina C, oxalato e proteína, não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos (Tabela 2).

Tabela 2
Ingestão média de micronutrientes e oxalato pelo grupo NE e controle

Em relação à adequação de micronutrientes e oxalato ingeridos, apenas metade do grupo NE apresentou consumo ideal de sódio. A inadequação da ingestão de cálcio no grupo NE foi observada em 93,50% dos pacientes. O mesmo aconteceu para 100% deste grupo em relação ao potássio e 83,90% para vitamina C. Quanto ao oxalato ingerido, a maior parte da população estudada apresentou ingestão superior à recomendada (Tabela 3). Quanto à excreção de metabólitos, a excreção de citrato teve maior adequação no grupo NE. Em relação ao oxalato, não houve diferença significativa entre os dois grupos (p = 0,367), contudo, nota-se que a maior parte dos indivíduos NE apresentou adequação na excreção deste mineral (Tabela 3).

Tabela 3
Percentual de adequação da ingestão e excreção de micronutrientes e metabólitos urinários

Em relação ao consumo proteico, não houve diferença estatisticamente significante grupo NE e grupo controle (Mann-Whitney; p = 0,313). O grupo NE apresentou 33,3% de ingestão hipoproteica, 12,5% de normoproteica e 54,2% de hiperproteica. Já no grupo controle, 55,6% dos indivíduos apresentaram ingestão hipoproteica, 11,1% normoproteica e 33,3% hiperproteica.

Quanto à ingestão hídrica, no grupo NE 12,90% dos indivíduos apresentaram ingestão inferior a um litro, 54,80% entre um e dois litros e 32,30% mais de dois litros. Já no grupo controle, 22,20% apresentaram ingestão inferior a um litro, 44,40% entre um e dois litros, e 33,30% mais de dois litros. Contudo, a ingestão hídrica dos dois grupos não diferiu estatisticamente (Qui-quadrado; p = 0,335).

Discussão

Os cuidados com a alimentação devem focar a redução da incidência e recorrência da nefrolitíase,4Souza PT, Deus RB, Malagutti W, Silva RN, Rodrigues FSM, Ferraz RRN. Prevalência de sinais sugestivos de litíase urinária em trabalhadores do serviço de teleatendimento. ConScientiae Saúde 2009;8:641-7. já que existem estudos demonstrando que o tratamento dietético reduz eficazmente a formação de cálculos renais.9Taylor EM, Curhan GC. Oxalate intake and the risk for nephrolithiasis. J Am Soc Nephrol 2007;18:2198-204. DOI: http://dx.doi.org/10.1681/ASN.2007020219
http://dx.doi.org/10.1681/ASN.2007020219...
, 1212 Carvalho M, Ferrari ACH, Renner LO, Vieira MA, Riella MC. Quantificação do Stone Clinic Effect em pacientes com nefrolitíase. Rev Assoc Med Bras 2004;50:79-82. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302004000100040
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302004...
, 2828 Borghi L, Schianchi T, Meschi T, Guerra A, Allegri F, Maggiore U, et al. Comparison of two diets for the prevention of recurrent stones in idiopathic hypercalciuria. N Engl J Med 2002;346:77-84. PMID: 11784873 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJMoa010369
http://dx.doi.org/10.1056/NEJMoa010369...
, 2929 Voss S, Hesse A, Zimmermann DJ, Sauerbruch T, von Unruh GE. Intestinal oxalate absorption is higher in idiopathic calcium oxalate stone formers than in healthy controls: measurements with the [(13)C2]oxalate absorption test. J Urol 2006;175:1711-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(05)01001-3
http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(05)...
Também é interessante o estudo metabólico do indivíduo, visando à identificação e correção, de forma econômica e eficiente, dos desequilíbrios entre as substâncias que podem influenciar no processo litogênico.8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56.

A nefrolitíase tem sido associada com hipertensão arterial sistêmica.2Peres LAB, Almeida LP, Bolson LB, Brites MF, David JM, Tazima L. Investigação de nefrolitíase no Oeste do Paraná. J Bras Nefrol 2011;33:160-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011000200007
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011...
No presente estudo, não foi observada diferença significativa entre pacientes portadores de litíase e controles saudáveis em relação a este aspecto. Contudo, 64,5% do grupo NE era hipertenso. Em estudo de Ferraz et al.,3Ferraz FHRP, Carvalho PRA, Souza RR. Perfil dos pacientes portadores de nefrolitíase em tratamento ambulatorial em um hospital público do Distrito Federal. Brasília Med 2011;48:252-7. foi observado que 19,3% dos pacientes com nefrolitíase apresentavam HAS. Outros estudos verificaram que pacientes hipertensos tem maior excreção urinária de cálcio e oxalato,4Souza PT, Deus RB, Malagutti W, Silva RN, Rodrigues FSM, Ferraz RRN. Prevalência de sinais sugestivos de litíase urinária em trabalhadores do serviço de teleatendimento. ConScientiae Saúde 2009;8:641-7. , 1515 Borghi L, Meschi T, Guerra A, Briganti A, Schianchi T, Allegri F, et al. Essential arterial hypertension and stone disease. Kidney Int 1999;55:2397-406. PMID: 10354288 DOI: http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.1999.00483.x
http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.19...
podendo também haver maior frequência de hipocitratúria nesses pacientes.3030 Taylor EN, Mount DB, Forman JP, Curhan GC. Association of prevalent hypertension with 24-hour urinary excretion of calcium, citrate, and other factors. Am J Kidney Dis 2006;47:780-9. PMID: 16632016 DOI: http://dx.doi.org/10.1053/j.ajkd.2006.01.024
http://dx.doi.org/10.1053/j.ajkd.2006.01...
No entanto, Taylor et al.3030 Taylor EN, Mount DB, Forman JP, Curhan GC. Association of prevalent hypertension with 24-hour urinary excretion of calcium, citrate, and other factors. Am J Kidney Dis 2006;47:780-9. PMID: 16632016 DOI: http://dx.doi.org/10.1053/j.ajkd.2006.01.024
http://dx.doi.org/10.1053/j.ajkd.2006.01...
não encontraram relação entre excreção urinária de cálcio e hipertensão. Há ainda a indicação de que histórico positivo de formação de litíase renal está associado a maior risco de desenvolver hipertensão arterial.3131 Strazzullo P, Barba G, Vuotto P, Farinaro E, Siani A, Nunziata V, et al. Past history of nephrolithiasis and incidence of hypertension in men: a reappraisal based on the results of the Olivetti Prospective Heart Study. Nephrol Dial Transplant 2001;16:2232-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1093/ndt/16.11.2232
http://dx.doi.org/10.1093/ndt/16.11.2232...

A nefrolitíase tem sido associada com a obesidade.2Peres LAB, Almeida LP, Bolson LB, Brites MF, David JM, Tazima L. Investigação de nefrolitíase no Oeste do Paraná. J Bras Nefrol 2011;33:160-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011000200007
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011...
Em relação ao IMC, não foi observada diferença significativa entre os grupos, no entanto, 87,1% do grupo NE apresentou excesso de peso. Diversos estudos observaram relação entre elevado IMC e formação de litíases renais.2Peres LAB, Almeida LP, Bolson LB, Brites MF, David JM, Tazima L. Investigação de nefrolitíase no Oeste do Paraná. J Bras Nefrol 2011;33:160-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011000200007
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011...
, 1515 Borghi L, Meschi T, Guerra A, Briganti A, Schianchi T, Allegri F, et al. Essential arterial hypertension and stone disease. Kidney Int 1999;55:2397-406. PMID: 10354288 DOI: http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.1999.00483.x
http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.19...
, 1616 Taylor EN, Stampfer MJ, Curhan GC. Obesity, weight gain, and the risk of kidney stones. JAMA 2005;293:455-62. PMID: 15671430 DOI: http://dx.doi.org/10.1001/jama.293.4.455
http://dx.doi.org/10.1001/jama.293.4.455...
Powell et al.3232 Powell CR, Stoller ML, Schwartz BF, Kane C, Gentle DL, Bruce JE, et al. Impact of body weight on urinary electrolytes in urinary stone formers. Urology 2000;55:825-30. PMID: 10840085 DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0090-4295(99)00617-2
http://dx.doi.org/10.1016/S0090-4295(99)...
citam que a obesidade por si só não aumenta o risco de recorrência da litíase renal, no entanto, tal dado é interessante, já que indivíduos com elevado IMC são mais propensos à cristalização urinária.4Souza PT, Deus RB, Malagutti W, Silva RN, Rodrigues FSM, Ferraz RRN. Prevalência de sinais sugestivos de litíase urinária em trabalhadores do serviço de teleatendimento. ConScientiae Saúde 2009;8:641-7. Dentre os principais distúrbios metabólicos vistos em indivíduos obesos, têm-se a hipercalciúria, hiperoxalúria e hiperuricosúria.4Souza PT, Deus RB, Malagutti W, Silva RN, Rodrigues FSM, Ferraz RRN. Prevalência de sinais sugestivos de litíase urinária em trabalhadores do serviço de teleatendimento. ConScientiae Saúde 2009;8:641-7. Powell et al.,3232 Powell CR, Stoller ML, Schwartz BF, Kane C, Gentle DL, Bruce JE, et al. Impact of body weight on urinary electrolytes in urinary stone formers. Urology 2000;55:825-30. PMID: 10840085 DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0090-4295(99)00617-2
http://dx.doi.org/10.1016/S0090-4295(99)...
ao avaliarem pacientes com nefrolitíase do gênero masculino, divididos em grupo de obesos e não obesos, notaram que homens obesos tiveram maior excreção urinária de oxalato. Quanto à excreção de citrato, não houve diferença entre os dois grupos. Concluiu-se que, de modo geral, apesar das diferenças, a recorrência de litíases renais entre obesos e não obesos foi semelhante. O mesmo estudo, ao avaliar mulheres com nefrolitíase, obesas e não obesas, verificou que mulheres obesas apresentaram ligeiro aumento no número de episódios de litíases renais quando comparadas com mulheres não obesas portadoras de litíase renal. Em estudo de Souza et al.,4Souza PT, Deus RB, Malagutti W, Silva RN, Rodrigues FSM, Ferraz RRN. Prevalência de sinais sugestivos de litíase urinária em trabalhadores do serviço de teleatendimento. ConScientiae Saúde 2009;8:641-7. metade da amostra de pacientes com nefrolitíase apresentava elevado IMC e baixa ingestão hídrica.

Na presente pesquisa, não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos em relação à ingestão de sódio. No entanto, grande parte dos litisiáticos (45,2%) possuía ingestão maior do que a recomendada. Ainda assim, esta ingestão pode ter sido subestimada, já que o presente estudou não considerou o sódio proveniente do sal de adição utilizado pelos pacientes. A Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009 (POF 2008-2009),3333 Brasil. Fundação IBGE. Pesquisa de orçamento familiar-2008/2009. Análise do consumo alimentar pessoal no Brasil. Rio de Janeiro; 2011. por exemplo, apontou que a ingestão diária de sódio de brasileiros do sexo masculino, com a mesma faixa etária do presente estudo, variou de 3637,6 mg a 3186,5 mg e 2809,3 mg a 2608,0 mg entre o sexo feminino.

Alguns estudos apontam que a alta ingestão de sódio pode elevar o risco de hipercalciúria,7Sociedade Brasileira de Nefrologia. Diretrizes de litíase urinária. J Bras Nefrol 2002;24:203-7. , 1313 Silver J, Rubinger D, Friedlaender MM, Popovtzer MM. Sodium-dependent idiopathic hypercalciuria in renal-stone formers. Lancet 1983;2:484-6. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(83)90513-5
http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(83)...
, 1515 Borghi L, Meschi T, Guerra A, Briganti A, Schianchi T, Allegri F, et al. Essential arterial hypertension and stone disease. Kidney Int 1999;55:2397-406. PMID: 10354288 DOI: http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.1999.00483.x
http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.19...
podendo, inclusive, haver benefícios diante da restrição de sódio em casos de hipercalciúria idiopática.1313 Silver J, Rubinger D, Friedlaender MM, Popovtzer MM. Sodium-dependent idiopathic hypercalciuria in renal-stone formers. Lancet 1983;2:484-6. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(83)90513-5
http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(83)...
Também há hipótese de que o sódio reduza a excreção de citrato.7Sociedade Brasileira de Nefrologia. Diretrizes de litíase urinária. J Bras Nefrol 2002;24:203-7. No entanto, outro estudo não encontrou relação entre a ingestão de sódio e o aumento do risco de litíases renais.3434 Curhan GC, Willett WC, Knight EL, Stampfer MJ. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in younger women: Nurses' Health Study II. Arch Intern Med 2004;164:885-91. PMID: 15111375 DOI: http://dx.doi.org/10.1001/archinte.164.8.885
http://dx.doi.org/10.1001/archinte.164.8...
Em hipertensos, a ingestão de cloreto de sódio merece ser considerada, pois mantém pressão arterial elevada e induz o aumento da excreção de cálcio.1515 Borghi L, Meschi T, Guerra A, Briganti A, Schianchi T, Allegri F, et al. Essential arterial hypertension and stone disease. Kidney Int 1999;55:2397-406. PMID: 10354288 DOI: http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.1999.00483.x
http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.19...

Quanto ao cálcio ingerido, não foi observada diferença significativa entre os dois grupos; no entanto, em 93,5% do grupo NE houve ingestão menor do que a recomendada de acordo com gênero e idade. A relação do cálcio com a formação das litíases renais deve-se provavelmente ao fato do cálcio formar no intestino um complexo com o oxalato, fazendo com que a ingestão abaixo da recomendação ocasione aumento da absorção de oxalato,1010 Sociedade Brasileira de Urologia. Litíase urinária: aspectos metabológicos em adultos e crianças; 2006. , 1414 Curhan GC, Willett WC, Rimm EB, Stampfer MJ. A prospective study of dietary calcium and other nutrients and the risk of symptomatic kidney stones. N Engl J Med 1993;328:833-8. PMID: 8441427 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199303253281203
http://dx.doi.org/10.1056/NEJM1993032532...
, 3434 Curhan GC, Willett WC, Knight EL, Stampfer MJ. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in younger women: Nurses' Health Study II. Arch Intern Med 2004;164:885-91. PMID: 15111375 DOI: http://dx.doi.org/10.1001/archinte.164.8.885
http://dx.doi.org/10.1001/archinte.164.8...
, 3535 Curhan GC, Willett WC, Speizer FE, Stampfer MJ. Twenty-four-hour urine chemistries and the risk of kidney stones among women and men. Kidney Int 2001;59:2290-8. PMID: 11380833 além de comprometer a densidade mineral óssea.1010 Sociedade Brasileira de Urologia. Litíase urinária: aspectos metabológicos em adultos e crianças; 2006. Considerando que a maioria das litíases renais apresentam cálcio em sua composição e que a hipercalciúria tem sido associada com a formação das litíases, a restrição de cálcio foi tida como recomendação em pacientes com litíases renais.1414 Curhan GC, Willett WC, Rimm EB, Stampfer MJ. A prospective study of dietary calcium and other nutrients and the risk of symptomatic kidney stones. N Engl J Med 1993;328:833-8. PMID: 8441427 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199303253281203
http://dx.doi.org/10.1056/NEJM1993032532...
Curhan et al.,1414 Curhan GC, Willett WC, Rimm EB, Stampfer MJ. A prospective study of dietary calcium and other nutrients and the risk of symptomatic kidney stones. N Engl J Med 1993;328:833-8. PMID: 8441427 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199303253281203
http://dx.doi.org/10.1056/NEJM1993032532...
ao avaliarem a dieta de cerca de 45 mil homens, por um período de 4 a 5 anos, observaram que o grupo que ingeriu mais cálcio (mais de 1050 mg/ dia) apresentou um risco significativamente menor de desenvolver cálculos renais, se comparados ao grupo com ingestão inferior a 605 mg/dia. Borghi et al.2828 Borghi L, Schianchi T, Meschi T, Guerra A, Allegri F, Maggiore U, et al. Comparison of two diets for the prevention of recurrent stones in idiopathic hypercalciuria. N Engl J Med 2002;346:77-84. PMID: 11784873 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJMoa010369
http://dx.doi.org/10.1056/NEJMoa010369...
citam que a diminuição na ingestão do cálcio reduz a excreção de cálcio urinária, contudo, pode ocasionar maior excreção de oxalato urinário, propiciando o aumento do risco de desenvolvimento da nefrolitíase. Há estudos que apontam maior risco de nefrolitíase em dietas com baixo consumo de cálcio,9Taylor EM, Curhan GC. Oxalate intake and the risk for nephrolithiasis. J Am Soc Nephrol 2007;18:2198-204. DOI: http://dx.doi.org/10.1681/ASN.2007020219
http://dx.doi.org/10.1681/ASN.2007020219...
, 2929 Voss S, Hesse A, Zimmermann DJ, Sauerbruch T, von Unruh GE. Intestinal oxalate absorption is higher in idiopathic calcium oxalate stone formers than in healthy controls: measurements with the [(13)C2]oxalate absorption test. J Urol 2006;175:1711-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(05)01001-3
http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(05)...
havendo outros que não demonstram relação entre elevada ingestão de cálcio e formação de litíases renais.1414 Curhan GC, Willett WC, Rimm EB, Stampfer MJ. A prospective study of dietary calcium and other nutrients and the risk of symptomatic kidney stones. N Engl J Med 1993;328:833-8. PMID: 8441427 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199303253281203
http://dx.doi.org/10.1056/NEJM1993032532...
, 3434 Curhan GC, Willett WC, Knight EL, Stampfer MJ. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in younger women: Nurses' Health Study II. Arch Intern Med 2004;164:885-91. PMID: 15111375 DOI: http://dx.doi.org/10.1001/archinte.164.8.885
http://dx.doi.org/10.1001/archinte.164.8...
Outros estudos apontam ainda diminuição da formação de litíases em alimentação com maiores quantidades de cálcio.1717 Taylor EN, Stampfer MJ, Curhan GC. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in men: new insights after 14 years of follow-up. J Am Soc Nephrol 2004;15:3225-32. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146012.44570.20
http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146...
, 3434 Curhan GC, Willett WC, Knight EL, Stampfer MJ. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in younger women: Nurses' Health Study II. Arch Intern Med 2004;164:885-91. PMID: 15111375 DOI: http://dx.doi.org/10.1001/archinte.164.8.885
http://dx.doi.org/10.1001/archinte.164.8...
Segundo Voss et al.,2929 Voss S, Hesse A, Zimmermann DJ, Sauerbruch T, von Unruh GE. Intestinal oxalate absorption is higher in idiopathic calcium oxalate stone formers than in healthy controls: measurements with the [(13)C2]oxalate absorption test. J Urol 2006;175:1711-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(05)01001-3
http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(05)...
dieta com aporte adequado de cálcio (1000 a 1200 mg/dia) é importante em pacientes com tendência à formação de litíases de oxalato de cálcio. Taylor et al.,1717 Taylor EN, Stampfer MJ, Curhan GC. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in men: new insights after 14 years of follow-up. J Am Soc Nephrol 2004;15:3225-32. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146012.44570.20
http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146...
ao avaliarem um grupo de homens, encontraram que maior ingestão de cálcio foi associada à redução do risco de litíase renal. No entanto, quando se tratava de homens com 60 anos ou mais não foi observada tal relação. Outro estudo apontou que dieta adequada em cálcio, com baixa concentração proteica e baixa quantidade de sal diminui a excreção urinária de oxalato, podendo explicar a redução do risco de recorrência da nefrolitíase se comparada à dieta apenas com baixo teor de cálcio. Os autores comentam que tal diferença parece estar relacionada à excreção de oxalato apresentar-se diferenciada em cada dieta.2828 Borghi L, Schianchi T, Meschi T, Guerra A, Allegri F, Maggiore U, et al. Comparison of two diets for the prevention of recurrent stones in idiopathic hypercalciuria. N Engl J Med 2002;346:77-84. PMID: 11784873 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJMoa010369
http://dx.doi.org/10.1056/NEJMoa010369...
Alguns estudos indicam que quando o cálcio é administrado como suplemento ocorre aumento de 20% no risco relativo da formação dos cálculos.3636 Curhan GC, Willett WC, Rimm EB, Spiegelman D, Stampfer MJ. Prospective study of beverage use and the risk of kidney stones. Am J Epidemiol 1996;143:240-7. PMID: 8561157 DOI: http://dx.doi.org/10.1093/oxfordjournals.aje.a008734
http://dx.doi.org/10.1093/oxfordjournals...
, 3737 Curhan GC, Willett WC, Speizer FE, Spiegelman D, Stampfer MJ. Comparison of dietary calcium with supplemental calcium and other nutrients as factors affecting the risk for kidney stones in women. Ann Intern Med 1997;126:497-504. PMID: 9092314 DOI: http://dx.doi.org/10.7326/0003-4819-126-7-199704010-00001
http://dx.doi.org/10.7326/0003-4819-126-...
É sugerida, então, uma ingestão de 800 a 1200 mg de cálcio ao dia, proveniente dos alimentos.7Sociedade Brasileira de Nefrologia. Diretrizes de litíase urinária. J Bras Nefrol 2002;24:203-7.

Em relação ao potássio ingerido, ambos os grupos possuíram baixa ingestão. Redução dos níveis de potássio ingeridos aumentam a excreção urinária de cálcio, aumentando o risco de formação de cálculos.1717 Taylor EN, Stampfer MJ, Curhan GC. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in men: new insights after 14 years of follow-up. J Am Soc Nephrol 2004;15:3225-32. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146012.44570.20
http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146...
Taylor & Curhan9Taylor EM, Curhan GC. Oxalate intake and the risk for nephrolithiasis. J Am Soc Nephrol 2007;18:2198-204. DOI: http://dx.doi.org/10.1681/ASN.2007020219
http://dx.doi.org/10.1681/ASN.2007020219...
avaliaram os estudos The Health Professionals Follow-up Study (HPFS) e The Nurses' Health Studies I and II (NHS I and NHS II) e concluíram que a ingestão de potássio foi inversamente associada com o risco de formação de litíase renal; no entanto, este efeito não foi visto em mulheres jovens. Outros estudos também observaram que a ingestão de potássio está inversamente relacionada à formação de litíase renal,1414 Curhan GC, Willett WC, Rimm EB, Stampfer MJ. A prospective study of dietary calcium and other nutrients and the risk of symptomatic kidney stones. N Engl J Med 1993;328:833-8. PMID: 8441427 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199303253281203
http://dx.doi.org/10.1056/NEJM1993032532...
, 1717 Taylor EN, Stampfer MJ, Curhan GC. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in men: new insights after 14 years of follow-up. J Am Soc Nephrol 2004;15:3225-32. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146012.44570.20
http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146...
podendo ser importante na diminuição da recorrência de litíases renais.1717 Taylor EN, Stampfer MJ, Curhan GC. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in men: new insights after 14 years of follow-up. J Am Soc Nephrol 2004;15:3225-32. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146012.44570.20
http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146...

Quanto à ingestão de vitamina C, não houve diferença significativa entre os grupos, porém nota-se que 83,9% do grupo nefrolitíase apresentava baixa ingestão. Em estudo realizado com grupo de homens, ao ajustar-se a quantidade de vitamina C ingerida com a idade, não foi encontrada associação entre a formação de litíases renais e ingestão de vitamina C.1717 Taylor EN, Stampfer MJ, Curhan GC. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in men: new insights after 14 years of follow-up. J Am Soc Nephrol 2004;15:3225-32. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146012.44570.20
http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146...
Outro estudo demonstrou que altas doses de vitamina C, quando suplementada, resultam em um risco para formação de litíases de oxalato de cálcio.3535 Curhan GC, Willett WC, Speizer FE, Stampfer MJ. Twenty-four-hour urine chemistries and the risk of kidney stones among women and men. Kidney Int 2001;59:2290-8. PMID: 11380833 Traxer et al.3838 Traxer O, Huet B, Poindexter J, Pak CY, Pearle MS. Effect of ascorbic acid consumption on urinary stone risk factors. J Urol 2003;170:397-401. PMID: 12853784 DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.ju.0000076001.21606.53
http://dx.doi.org/10.1097/01.ju.00000760...
apontaram que 1000 mg de suplementação de vitamina C ingerida duas vezes ao dia aumentou a excreção urinária de oxalato em 20% a 33%. Contudo, Auer et al.3939 Auer BL, Auer D, Rodgers AL. The effect of ascorbic acid ingestion on the biochemical and physicochemical risk factors associated with calcium oxalate kidney stone formation. Clin Chem Lab Med 1998;36:143-7. PMID: 9589801 DOI: http://dx.doi.org/10.1515/CCLM.1998.027
http://dx.doi.org/10.1515/CCLM.1998.027...
verificaram que uma ingestão de até 4 g/dia de vitamina C não eleva a excreção de oxalato. É provável que o benefício gerado pela ingestão de suco de limão ou laranja seja ocasionado pelo aumento da ingestão hídrica desses pacientes.

As médias de ingestão de vitamina C observadas neste estudo foram 48,96 mg/dia para o grupo NE e 37,26 mg/ dia para o grupo controle. Nota-se que o valor obtido no presente estudo foi inferior ao observado na POF 2008-20093333 Brasil. Fundação IBGE. Pesquisa de orçamento familiar-2008/2009. Análise do consumo alimentar pessoal no Brasil. Rio de Janeiro; 2011. quanto à população brasileira e da região Sul.

De acordo com a POF 2008-2009,3333 Brasil. Fundação IBGE. Pesquisa de orçamento familiar-2008/2009. Análise do consumo alimentar pessoal no Brasil. Rio de Janeiro; 2011. a média brasileira de ingestão de vitamina C com a mesma faixa etária utilizada neste estudo variou entre 155,9 mg/ dia até 167,2 mg/dia para o gênero masculino, e 142,7 mg/dia até 167,9 mg/dia para o gênero feminino. Para população da região Sul, de acordo com o mesmo estudo, a ingestão média para o gênero feminino variou de 102 mg/dia até 122,6 mg/dia e para o gênero masculino de 115,9 mg/dia até 83,2 mg/dia. Contudo, é importante ressaltar que o inquérito alimentar utilizado pela POF (2008-2009)3333 Brasil. Fundação IBGE. Pesquisa de orçamento familiar-2008/2009. Análise do consumo alimentar pessoal no Brasil. Rio de Janeiro; 2011. foi o método de registro alimentar (dois dias não consecutivos), enquanto o presente estudo utilizou o R24 h, que pode promover a subestimação.

Quanto ao oxalato ingerido, não foi observada diferença significativa entre os grupos, no entanto o grupo NE apresentou média de ingestão de 159 mg/dia (± 119,27), estando 100% da amostra em inadequação. Em contrapartida, 90,5% do grupo NE apresentou excreção adequada de oxalato, apontando possível superestimação na avaliação da ingestão deste composto. Tal fato pode, provavelmente, ser explicado pelo inquérito alimentar aplicado, o QFA, por tratar-se de um método mais subjetivo e pelas etapas metodológicas realizadas na tentativa de se estimar a ingestão diária de oxalato. Estudo de Holmes et al.1111 Holmes RP, Goodman HO, Assimos DG. Contribution of dietary oxalate to urinary oxalate excretion. Kidney Int 2001;59:270-6. PMID: 11135080 DOI: http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.2001.00488.x
http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.20...
apontou que a excreção de oxalato urinário aumenta na medida em que se aumenta a ingestão de oxalato. Também há autores que consideram essencial a restrição de alimentos ricos em oxalato em pacientes com hiperoxalúria de origem dietética.8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56. Já foi também observado que pacientes com nefrolitíase apresentam maior absorção de oxalato,1111 Holmes RP, Goodman HO, Assimos DG. Contribution of dietary oxalate to urinary oxalate excretion. Kidney Int 2001;59:270-6. PMID: 11135080 DOI: http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.2001.00488.x
http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.20...
, 2929 Voss S, Hesse A, Zimmermann DJ, Sauerbruch T, von Unruh GE. Intestinal oxalate absorption is higher in idiopathic calcium oxalate stone formers than in healthy controls: measurements with the [(13)C2]oxalate absorption test. J Urol 2006;175:1711-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(05)01001-3
http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(05)...
até mesmo em dietas com baixo nível de ingestão, como 10 mg/dia de oxalato, há efetiva absorção e contribuição significativa para excreção urinária de oxalato.1111 Holmes RP, Goodman HO, Assimos DG. Contribution of dietary oxalate to urinary oxalate excretion. Kidney Int 2001;59:270-6. PMID: 11135080 DOI: http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.2001.00488.x
http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.20...
Contudo, no estudo de Curhan et al.1414 Curhan GC, Willett WC, Rimm EB, Stampfer MJ. A prospective study of dietary calcium and other nutrients and the risk of symptomatic kidney stones. N Engl J Med 1993;328:833-8. PMID: 8441427 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199303253281203
http://dx.doi.org/10.1056/NEJM1993032532...
não foi estabelecida associação entre a ingestão de alimentos ricos em oxalato e o risco de formação de litíases renais. Voss et al.2929 Voss S, Hesse A, Zimmermann DJ, Sauerbruch T, von Unruh GE. Intestinal oxalate absorption is higher in idiopathic calcium oxalate stone formers than in healthy controls: measurements with the [(13)C2]oxalate absorption test. J Urol 2006;175:1711-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(05)01001-3
http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(05)...
sugerem que sejam feitos testes para verificar a absorção de oxalato do paciente, visando identificar pacientes com alta absorção, propiciando uma terapia individualizada.

Quanto à proteína, não houve diferença estatística entre os dois grupos; no entanto, 54,2% do grupo nefrolitíase apresentou alta ingestão proteica. Há hipótese de que o aumento da ingestão proteica possa aumentar a formação de litíases renais, devido ao fato da ingestão de proteína animal aumentar a excreção urinária de cálcio7Sociedade Brasileira de Nefrologia. Diretrizes de litíase urinária. J Bras Nefrol 2002;24:203-7. , 1010 Sociedade Brasileira de Urologia. Litíase urinária: aspectos metabológicos em adultos e crianças; 2006. , 1717 Taylor EN, Stampfer MJ, Curhan GC. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in men: new insights after 14 years of follow-up. J Am Soc Nephrol 2004;15:3225-32. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146012.44570.20
http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146...
, 4040 Allen LH, Oddoye EA, Margen S. Protein-induced hypercalciuria: a longer term study. Am J Clin Nutr 1979;32:741-9. PMID: 433806 e oxalato,7Sociedade Brasileira de Nefrologia. Diretrizes de litíase urinária. J Bras Nefrol 2002;24:203-7. diminuindo a excreção de citrato7Sociedade Brasileira de Nefrologia. Diretrizes de litíase urinária. J Bras Nefrol 2002;24:203-7. , 8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56. , 1010 Sociedade Brasileira de Urologia. Litíase urinária: aspectos metabológicos em adultos e crianças; 2006. , 1717 Taylor EN, Stampfer MJ, Curhan GC. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in men: new insights after 14 years of follow-up. J Am Soc Nephrol 2004;15:3225-32. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146012.44570.20
http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146...
e o pH urinário.1010 Sociedade Brasileira de Urologia. Litíase urinária: aspectos metabológicos em adultos e crianças; 2006. Em estudo de Curhan et al.,1414 Curhan GC, Willett WC, Rimm EB, Stampfer MJ. A prospective study of dietary calcium and other nutrients and the risk of symptomatic kidney stones. N Engl J Med 1993;328:833-8. PMID: 8441427 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199303253281203
http://dx.doi.org/10.1056/NEJM1993032532...
foi verificado que a ingestão de proteína animal aumenta a excreção de ácido úrico e cálcio, e diminui a excreção de citrato, predispondo à formação de litíases renais. Outro estudo, realizado somente com homens, observou que o risco associado à ingestão de proteína animal variou de acordo com o IMC. O consumo de proteína animal foi associado ao aumento de formação de litíases renais apenas em homens com IMC < 25 kg/m2.1717 Taylor EN, Stampfer MJ, Curhan GC. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in men: new insights after 14 years of follow-up. J Am Soc Nephrol 2004;15:3225-32. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146012.44570.20
http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146...
Também há hipótese de que a redução da ingestão proteica possa resultar na diminuição da síntese endógena de oxalato.4141 Conyers RA, Bais R, Rofe AM. The relation of clinical catastrophes, endogenous oxalate production, and urolithiasis. Clin Chem 1990;36:1717-30. No entanto, trabalhos apontam para resultados controversos, onde em alguns há aumento da taxa de recorrência da nefrolitíase a partir da restrição de proteína animal,4242 Hiatt RA, Ettinger B, Caan B, Quesenberry CP Jr, Duncan D, Citron JT. Randomized controlled trial of a low animal protein, high fiber diet in the prevention of recurrent calcium oxalate kidney stones. Am J Epidemiol 1996;144:25-33. PMID: 8659482 DOI: http://dx.doi.org/10.1093/oxfordjournals.aje.a008851
http://dx.doi.org/10.1093/oxfordjournals...
enquanto em outros não foi encontrada relação entre a ingestão proteica e o aumento do risco de formação de litíases.3232 Powell CR, Stoller ML, Schwartz BF, Kane C, Gentle DL, Bruce JE, et al. Impact of body weight on urinary electrolytes in urinary stone formers. Urology 2000;55:825-30. PMID: 10840085 DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0090-4295(99)00617-2
http://dx.doi.org/10.1016/S0090-4295(99)...

No presente estudo, verificou-se que a ingestão hídrica entre os grupos não diferiu estatisticamente. Contudo, é recomendável que pacientes com litíase renal tenham ingestão hídrica de pelo menos 2,5 litros/ dia,3636 Curhan GC, Willett WC, Rimm EB, Spiegelman D, Stampfer MJ. Prospective study of beverage use and the risk of kidney stones. Am J Epidemiol 1996;143:240-7. PMID: 8561157 DOI: http://dx.doi.org/10.1093/oxfordjournals.aje.a008734
http://dx.doi.org/10.1093/oxfordjournals...
tornando a ingestão dos pacientes NE inadequada no presente estudo, considerando que 67,7% ingeriam no máximo 2 litros. Uma adequada ingestão hídrica é considerada fundamental em pacientes com litíase renal, já que ela é responsável por diminuir a saturação urinária, prevenindo várias fases da litogênese.8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56. Outros estudos também apontam que a ingestão hídrica está inversamente relacionada ao risco de formação de litíase renal.8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56. , 1414 Curhan GC, Willett WC, Rimm EB, Stampfer MJ. A prospective study of dietary calcium and other nutrients and the risk of symptomatic kidney stones. N Engl J Med 1993;328:833-8. PMID: 8441427 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199303253281203
http://dx.doi.org/10.1056/NEJM1993032532...
, 1717 Taylor EN, Stampfer MJ, Curhan GC. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in men: new insights after 14 years of follow-up. J Am Soc Nephrol 2004;15:3225-32. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146012.44570.20
http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146...

Borghi et al.,4343 Borghi L, Meschi T, Amato F, Briganti A, Novarini A, Giannini A. Urinary volume, water and recurrences in idiopathic calcium nephrolithiasis: a 5-year randomized prospective study. J Urol 1996;155:839-43. PMID: 8583588 DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(01)66321-3
http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(01)...
ao estudarem pacientes com nefrolitíase cálcica idiopática notaram que ingestão adequada de água, mesmo quando não acompanhada por mudanças dietéticas, pode exercer efeito positivo contra recorrências em grande número de pacientes. Em estudo que acompanhou pacientes após orientações, como aumento da ingestão hídrica, foi notado um aumento significativo no volume urinário.1212 Carvalho M, Ferrari ACH, Renner LO, Vieira MA, Riella MC. Quantificação do Stone Clinic Effect em pacientes com nefrolitíase. Rev Assoc Med Bras 2004;50:79-82. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302004000100040
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302004...
No estudo de Carvalho et al.,1212 Carvalho M, Ferrari ACH, Renner LO, Vieira MA, Riella MC. Quantificação do Stone Clinic Effect em pacientes com nefrolitíase. Rev Assoc Med Bras 2004;50:79-82. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302004000100040
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302004...
após orientações relativas ao aumento da ingestão hídrica, diminuição do consumo de sal e proteína (em torno de 1 g/kg/dia), além da ingestão de 800 mg/dia de cálcio, houve aumento significativo na excreção de citrato (368 ± 238 vs. 502 ± 221 mg/dia). Dieta normal em cálcio e com baixas quantidades de sal e proteína diminui a excreção urinária de oxalato e de cálcio, que em combinação com o aumento da ingestão de água gera diminuição da saturação urinária, causando redução na recorrência de nefrolitíase.2828 Borghi L, Schianchi T, Meschi T, Guerra A, Allegri F, Maggiore U, et al. Comparison of two diets for the prevention of recurrent stones in idiopathic hypercalciuria. N Engl J Med 2002;346:77-84. PMID: 11784873 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJMoa010369
http://dx.doi.org/10.1056/NEJMoa010369...

Quanto ao citrato excretado por indivíduos deste estudo, foi observada maior adequação na excreção do grupo NE do que no grupo controle. No grupo NE, 90,5% dos pacientes apresentaram adequada excreção, contra 55,6% do grupo controle, resultado que contradiz a literatura. Em estudo de Peres et al.,2Peres LAB, Almeida LP, Bolson LB, Brites MF, David JM, Tazima L. Investigação de nefrolitíase no Oeste do Paraná. J Bras Nefrol 2011;33:160-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011000200007
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011...
a hipocitratúria foi observada em 23,5% dos pacientes com nefrolitíase. Ferraz et al.,3Ferraz FHRP, Carvalho PRA, Souza RR. Perfil dos pacientes portadores de nefrolitíase em tratamento ambulatorial em um hospital público do Distrito Federal. Brasília Med 2011;48:252-7. ao estudarem 150 pacientes com nefrolitíase, encontraram 29,5% destes com hipocitratúria. No estudo de Carvalho et al.,1212 Carvalho M, Ferrari ACH, Renner LO, Vieira MA, Riella MC. Quantificação do Stone Clinic Effect em pacientes com nefrolitíase. Rev Assoc Med Bras 2004;50:79-82. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302004000100040
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302004...
44% dos pacientes com nefrolitíase avaliados apresentaram média de excreção de 178 ± 93,3 mg/ dia, sendo considerados com hipocitratúria, segundo o autor. Assim, a hipocitratúria tem sido considerada um risco para o processo de formação das litíases.8Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56. , 1414 Curhan GC, Willett WC, Rimm EB, Stampfer MJ. A prospective study of dietary calcium and other nutrients and the risk of symptomatic kidney stones. N Engl J Med 1993;328:833-8. PMID: 8441427 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199303253281203
http://dx.doi.org/10.1056/NEJM1993032532...
, 1717 Taylor EN, Stampfer MJ, Curhan GC. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in men: new insights after 14 years of follow-up. J Am Soc Nephrol 2004;15:3225-32. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146012.44570.20
http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146...
O resultado do presente estudo pode ser justificado por uma possível orientação dada pelo médico quando diagnosticada a nefrolitíase.

Em relação ao oxalato urinário excretado, no presente estudo não foi encontrada diferença significativa entre os grupos. No entanto, 9,5% do grupo NE apresentou excreção inadequada. Oxalato urinário é um dos mais importantes fatores litogênicos em pacientes com nefrolitíase por oxalato de cálcio,2929 Voss S, Hesse A, Zimmermann DJ, Sauerbruch T, von Unruh GE. Intestinal oxalate absorption is higher in idiopathic calcium oxalate stone formers than in healthy controls: measurements with the [(13)C2]oxalate absorption test. J Urol 2006;175:1711-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(05)01001-3
http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(05)...
, 4444 Troxel SA, Sidhu H, Kaul P, Low RK. Intestinal Oxalobacter formigenes colonization in calcium oxalate stone formers and its relation to urinary oxalate. J Endourol 2003;17:173-6. DOI: http://dx.doi.org/10.1089/089277903321618743
http://dx.doi.org/10.1089/08927790332161...
e até mesmo um pequeno aumento na excreção urinária de oxalato pode elevar o risco de cálculos de oxalato de cálcio.9Taylor EM, Curhan GC. Oxalate intake and the risk for nephrolithiasis. J Am Soc Nephrol 2007;18:2198-204. DOI: http://dx.doi.org/10.1681/ASN.2007020219
http://dx.doi.org/10.1681/ASN.2007020219...
, 1414 Curhan GC, Willett WC, Rimm EB, Stampfer MJ. A prospective study of dietary calcium and other nutrients and the risk of symptomatic kidney stones. N Engl J Med 1993;328:833-8. PMID: 8441427 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199303253281203
http://dx.doi.org/10.1056/NEJM1993032532...
, 1717 Taylor EN, Stampfer MJ, Curhan GC. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in men: new insights after 14 years of follow-up. J Am Soc Nephrol 2004;15:3225-32. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146012.44570.20
http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146...
Em estudo de Peres et al.,2Peres LAB, Almeida LP, Bolson LB, Brites MF, David JM, Tazima L. Investigação de nefrolitíase no Oeste do Paraná. J Bras Nefrol 2011;33:160-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011000200007
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011...
foi observada hiperoxalúria em 8,0% dos pacientes com nefrolitíase, sendo o resultado semelhante ao observado no presente estudo.

Como limitação deste estudo, tem-se o número reduzido de indivíduos analisados, o que destaca a importância de estudos com amostras maiores.

Além disto, têm-se o uso do Recordatório 24 horas, que é utilizado para quantificar a ingestão alimentar do dia anterior, devendo ser aplicado, de preferência, em mais de um dia não consecutivo, possibilitando, com isso, melhor estimativa do real consumo alimentar do paciente.4545 Buzzard M. 24-Hour Dietary recall and food record methods. In: Willet W. Nutritional epidemiology. 2nd ed. New York: Oxford University Press; 1998. p.51-67. Este instrumento de avaliação tem boa aplicação em estudos epidemiológicos, pois não há variação na média da ingestão populacional de um dia para o outro.4646 Cintra IP, Von der Heyde MED, Schmitz BAS, Franceschini SCC, Taddei JAAC, Sigulem DM. Métodos de inquéritos dietéticos. Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição. Cad Nutr 1997;13:11-23. Também é fator considerável a simplicidade e rapidez em sua aplicação, tornando este instrumento amplamente utilizado no mundo. Ainda que este método não interfira no comportamento alimentar do indivíduo e dependa da memória de um passado próximo, o Recordatório 24 horas parece subestimar a ingestão de certos nutrientes, principalmente quando aplicado em um só dia.4747 Gibson RS. Principles of Nutritional Assessment. New York: Oxford University Press; 1990. p.161. , 4848 Freudenheim JL. A review of study designs and methods of dietary assessment in nutritional epidemiology of chronic disease. J Nutr 1993;123:401-5. Também é considerável a dependência deste método quanto à percepção das porções consumidas por parte do entrevistado.4949 Slater B, Philippi ST, Marchioni DML, Fisberg RM. Validação de Questionários de Frequência Alimentar - QFA: considerações metodológicas. Rev Bras Epidemiol 2003;6:200-8. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1415-790X2003000300003
http://dx.doi.org/10.1590/S1415-790X2003...

Conclusão

Este trabalho serviu como base para conhecimento do perfil metabólico e de ingestão alimentar de pacientes com litíase renal atendidos no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Verificou-se nos dois grupos a elevada prevalência de pacientes com sobrepeso, alta ingestão de oxalato e sódio, além de inadequação nas ingestões de cálcio, potássio e vitamina C. No grupo NE, foi observada alta ingestão proteica e maior excreção de citrato. O conhecimento dos fatores que podem desencadear a formação das litíases renais poderá otimizar a intervenção nutricional neste processo.

Referências

  • 1
    Sakhaee K. Pharmacology of stone disease. Adv Chronic Kidney Dis 2009;16:30-8. DOI: http://dx.doi.org/10.1053/j.ackd.2008.10.004
    » http://dx.doi.org/10.1053/j.ackd.2008.10.004
  • 2
    Peres LAB, Almeida LP, Bolson LB, Brites MF, David JM, Tazima L. Investigação de nefrolitíase no Oeste do Paraná. J Bras Nefrol 2011;33:160-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011000200007
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011000200007
  • 3
    Ferraz FHRP, Carvalho PRA, Souza RR. Perfil dos pacientes portadores de nefrolitíase em tratamento ambulatorial em um hospital público do Distrito Federal. Brasília Med 2011;48:252-7.
  • 4
    Souza PT, Deus RB, Malagutti W, Silva RN, Rodrigues FSM, Ferraz RRN. Prevalência de sinais sugestivos de litíase urinária em trabalhadores do serviço de teleatendimento. ConScientiae Saúde 2009;8:641-7.
  • 5
    Pearle MS. Prevention of nephrolithiasis. Curr Opin Nephrol Hypertens 2001;10:203-9. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/00041552-200103000-00008
    » http://dx.doi.org/10.1097/00041552-200103000-00008
  • 6
    Wilkinson H. Clinical investigation and management of patients with renal stones. Ann Clin Biochem 2001;38:180-7. PMID: 11392494 DOI: http://dx.doi.org/10.1258/0004563011900623
    » http://dx.doi.org/10.1258/0004563011900623
  • 7
    Sociedade Brasileira de Nefrologia. Diretrizes de litíase urinária. J Bras Nefrol 2002;24:203-7.
  • 8
    Gomes PN. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol 2005;22;3:47-56.
  • 9
    Taylor EM, Curhan GC. Oxalate intake and the risk for nephrolithiasis. J Am Soc Nephrol 2007;18:2198-204. DOI: http://dx.doi.org/10.1681/ASN.2007020219
    » http://dx.doi.org/10.1681/ASN.2007020219
  • 10
    Sociedade Brasileira de Urologia. Litíase urinária: aspectos metabológicos em adultos e crianças; 2006.
  • 11
    Holmes RP, Goodman HO, Assimos DG. Contribution of dietary oxalate to urinary oxalate excretion. Kidney Int 2001;59:270-6. PMID: 11135080 DOI: http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.2001.00488.x
    » http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.2001.00488.x
  • 12
    Carvalho M, Ferrari ACH, Renner LO, Vieira MA, Riella MC. Quantificação do Stone Clinic Effect em pacientes com nefrolitíase. Rev Assoc Med Bras 2004;50:79-82. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302004000100040
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302004000100040
  • 13
    Silver J, Rubinger D, Friedlaender MM, Popovtzer MM. Sodium-dependent idiopathic hypercalciuria in renal-stone formers. Lancet 1983;2:484-6. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(83)90513-5
    » http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(83)90513-5
  • 14
    Curhan GC, Willett WC, Rimm EB, Stampfer MJ. A prospective study of dietary calcium and other nutrients and the risk of symptomatic kidney stones. N Engl J Med 1993;328:833-8. PMID: 8441427 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199303253281203
    » http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199303253281203
  • 15
    Borghi L, Meschi T, Guerra A, Briganti A, Schianchi T, Allegri F, et al. Essential arterial hypertension and stone disease. Kidney Int 1999;55:2397-406. PMID: 10354288 DOI: http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.1999.00483.x
    » http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1755.1999.00483.x
  • 16
    Taylor EN, Stampfer MJ, Curhan GC. Obesity, weight gain, and the risk of kidney stones. JAMA 2005;293:455-62. PMID: 15671430 DOI: http://dx.doi.org/10.1001/jama.293.4.455
    » http://dx.doi.org/10.1001/jama.293.4.455
  • 17
    Taylor EN, Stampfer MJ, Curhan GC. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in men: new insights after 14 years of follow-up. J Am Soc Nephrol 2004;15:3225-32. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146012.44570.20
    » http://dx.doi.org/10.1097/01.ASN.0000146012.44570.20
  • 18
    Cunha MA, Schor N. Valores de referência de parâmetros urinários envolvidos na litogênese. J Bras Nefrol 1996;18:124-9.
  • 19
    Milliner DS. Urolithiasis. In: Avner ED, Harmon WE, Niaudet P, Yoshikawa N, eds. Pediatric Nephrology. 6th ed. Boston: Springer; 2009. p.1405-30.
  • 20
    Ribeiro AC, Sávio KEO, Rodrigues MLCF, Costa THC, Schmitz BAS. Validação de um questionário de freqüência de consumo alimentar para população adulta. Rev Nutr 2006;19:553-62. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1415-52732006000500003
    » http://dx.doi.org/10.1590/S1415-52732006000500003
  • 21
    Karvetti RL, Knuts LR. Validity of the 24-hour dietary recall. J Am Diet Assoc 1985;85:1437-42.
  • 22
    Food and nutrition board. National Research Council. Institute of Medicine. Dietary reference intakes: applications in dietary assessment. Washington: National Academy Press; 2000.
  • 23
    Hsph.harvard.edu. Boston: Harvard School of public health. [Internet] [Acesso 20 nov 2013]. Disponível em: https://regepi.bwh.harvard.edu/health/Oxalate/files
    » https://regepi.bwh.harvard.edu/health/Oxalate/files
  • 24
    Massey LK, Palmer RG, Horner HT. Oxalate content of soybean seeds (Glycine max: Leguminosae), soyfoods, and other edible legumes. J Agric Food Chem 2001;49:4262-6. PMID: 11559120 DOI: http://dx.doi.org/10.1021/jf010484y
    » http://dx.doi.org/10.1021/jf010484y
  • 25
    World Health Organization. Guideline: sodium intake for adults and children. Geneva: World Health Organization; 2012.
  • 26
    Martins C, Cardoso SP. Terapia nutricional enteral e parenteral. Manual de rotina técnica. Curitiba: Nutroclínica; 2000. p.23-55.
  • 27
    World Health Organization. Obesity: preventing and managing the global epidemic. Report of a World Health Organization Consultation. Geneva: World Health Organization; 2000. p.256.
  • 28
    Borghi L, Schianchi T, Meschi T, Guerra A, Allegri F, Maggiore U, et al. Comparison of two diets for the prevention of recurrent stones in idiopathic hypercalciuria. N Engl J Med 2002;346:77-84. PMID: 11784873 DOI: http://dx.doi.org/10.1056/NEJMoa010369
    » http://dx.doi.org/10.1056/NEJMoa010369
  • 29
    Voss S, Hesse A, Zimmermann DJ, Sauerbruch T, von Unruh GE. Intestinal oxalate absorption is higher in idiopathic calcium oxalate stone formers than in healthy controls: measurements with the [(13)C2]oxalate absorption test. J Urol 2006;175:1711-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(05)01001-3
    » http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(05)01001-3
  • 30
    Taylor EN, Mount DB, Forman JP, Curhan GC. Association of prevalent hypertension with 24-hour urinary excretion of calcium, citrate, and other factors. Am J Kidney Dis 2006;47:780-9. PMID: 16632016 DOI: http://dx.doi.org/10.1053/j.ajkd.2006.01.024
    » http://dx.doi.org/10.1053/j.ajkd.2006.01.024
  • 31
    Strazzullo P, Barba G, Vuotto P, Farinaro E, Siani A, Nunziata V, et al. Past history of nephrolithiasis and incidence of hypertension in men: a reappraisal based on the results of the Olivetti Prospective Heart Study. Nephrol Dial Transplant 2001;16:2232-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1093/ndt/16.11.2232
    » http://dx.doi.org/10.1093/ndt/16.11.2232
  • 32
    Powell CR, Stoller ML, Schwartz BF, Kane C, Gentle DL, Bruce JE, et al. Impact of body weight on urinary electrolytes in urinary stone formers. Urology 2000;55:825-30. PMID: 10840085 DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0090-4295(99)00617-2
    » http://dx.doi.org/10.1016/S0090-4295(99)00617-2
  • 33
    Brasil. Fundação IBGE. Pesquisa de orçamento familiar-2008/2009. Análise do consumo alimentar pessoal no Brasil. Rio de Janeiro; 2011.
  • 34
    Curhan GC, Willett WC, Knight EL, Stampfer MJ. Dietary factors and the risk of incident kidney stones in younger women: Nurses' Health Study II. Arch Intern Med 2004;164:885-91. PMID: 15111375 DOI: http://dx.doi.org/10.1001/archinte.164.8.885
    » http://dx.doi.org/10.1001/archinte.164.8.885
  • 35
    Curhan GC, Willett WC, Speizer FE, Stampfer MJ. Twenty-four-hour urine chemistries and the risk of kidney stones among women and men. Kidney Int 2001;59:2290-8. PMID: 11380833
  • 36
    Curhan GC, Willett WC, Rimm EB, Spiegelman D, Stampfer MJ. Prospective study of beverage use and the risk of kidney stones. Am J Epidemiol 1996;143:240-7. PMID: 8561157 DOI: http://dx.doi.org/10.1093/oxfordjournals.aje.a008734
    » http://dx.doi.org/10.1093/oxfordjournals.aje.a008734
  • 37
    Curhan GC, Willett WC, Speizer FE, Spiegelman D, Stampfer MJ. Comparison of dietary calcium with supplemental calcium and other nutrients as factors affecting the risk for kidney stones in women. Ann Intern Med 1997;126:497-504. PMID: 9092314 DOI: http://dx.doi.org/10.7326/0003-4819-126-7-199704010-00001
    » http://dx.doi.org/10.7326/0003-4819-126-7-199704010-00001
  • 38
    Traxer O, Huet B, Poindexter J, Pak CY, Pearle MS. Effect of ascorbic acid consumption on urinary stone risk factors. J Urol 2003;170:397-401. PMID: 12853784 DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.ju.0000076001.21606.53
    » http://dx.doi.org/10.1097/01.ju.0000076001.21606.53
  • 39
    Auer BL, Auer D, Rodgers AL. The effect of ascorbic acid ingestion on the biochemical and physicochemical risk factors associated with calcium oxalate kidney stone formation. Clin Chem Lab Med 1998;36:143-7. PMID: 9589801 DOI: http://dx.doi.org/10.1515/CCLM.1998.027
    » http://dx.doi.org/10.1515/CCLM.1998.027
  • 40
    Allen LH, Oddoye EA, Margen S. Protein-induced hypercalciuria: a longer term study. Am J Clin Nutr 1979;32:741-9. PMID: 433806
  • 41
    Conyers RA, Bais R, Rofe AM. The relation of clinical catastrophes, endogenous oxalate production, and urolithiasis. Clin Chem 1990;36:1717-30.
  • 42
    Hiatt RA, Ettinger B, Caan B, Quesenberry CP Jr, Duncan D, Citron JT. Randomized controlled trial of a low animal protein, high fiber diet in the prevention of recurrent calcium oxalate kidney stones. Am J Epidemiol 1996;144:25-33. PMID: 8659482 DOI: http://dx.doi.org/10.1093/oxfordjournals.aje.a008851
    » http://dx.doi.org/10.1093/oxfordjournals.aje.a008851
  • 43
    Borghi L, Meschi T, Amato F, Briganti A, Novarini A, Giannini A. Urinary volume, water and recurrences in idiopathic calcium nephrolithiasis: a 5-year randomized prospective study. J Urol 1996;155:839-43. PMID: 8583588 DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(01)66321-3
    » http://dx.doi.org/10.1016/S0022-5347(01)66321-3
  • 44
    Troxel SA, Sidhu H, Kaul P, Low RK. Intestinal Oxalobacter formigenes colonization in calcium oxalate stone formers and its relation to urinary oxalate. J Endourol 2003;17:173-6. DOI: http://dx.doi.org/10.1089/089277903321618743
    » http://dx.doi.org/10.1089/089277903321618743
  • 45
    Buzzard M. 24-Hour Dietary recall and food record methods. In: Willet W. Nutritional epidemiology. 2nd ed. New York: Oxford University Press; 1998. p.51-67.
  • 46
    Cintra IP, Von der Heyde MED, Schmitz BAS, Franceschini SCC, Taddei JAAC, Sigulem DM. Métodos de inquéritos dietéticos. Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição. Cad Nutr 1997;13:11-23.
  • 47
    Gibson RS. Principles of Nutritional Assessment. New York: Oxford University Press; 1990. p.161.
  • 48
    Freudenheim JL. A review of study designs and methods of dietary assessment in nutritional epidemiology of chronic disease. J Nutr 1993;123:401-5.
  • 49
    Slater B, Philippi ST, Marchioni DML, Fisberg RM. Validação de Questionários de Frequência Alimentar - QFA: considerações metodológicas. Rev Bras Epidemiol 2003;6:200-8. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1415-790X2003000300003
    » http://dx.doi.org/10.1590/S1415-790X2003000300003
  • Errata

    O artigo “Avaliação da ingestão alimentar e excreção de metabólitos na nefrolitíase”, publicado na edição de outubro de 2014 do Jornal Brasileiro de Nefrologia [J Bras Nefrol. 2014; 36: 437-445], sofreu alterações na Tabela 1 e foi acrescentado o nome do autor Mauricio Carvalho.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2014

Histórico

  • Recebido
    09 Jan 2014
  • Aceito
    17 Maio 2014
Sociedade Brasileira de Nefrologia Rua Machado Bittencourt, 205 - 5ºandar - conj. 53 - Vila Clementino - CEP:04044-000 - São Paulo SP, Telefones: (11) 5579-1242/5579-6937, Fax (11) 5573-6000 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: bjnephrology@gmail.com