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Comentário sobre "Esclerose Peritoneal Encapsulante em um receptor de transplante renal: relato de caso"

Prezado Editor

Lemos com interesse o artigo de Dantas Ribeiro11 Ribeiro BHD, Takenaka VS, Borges FS, Andrade TF, Lessa SB, Mancero JMP, et al. Encapsulating peritoneal sclerosis in a kidney transplant recipient - case report. Braz J Nefrol. 2020 Jul/Sep;42(3):370-4. DOI: https://doi.org/10.1590/2175-8239-JBN-2019-0193
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sobre a Esclerose Peritoneal Encapsulante (EPE) em indivíduos em diálise peritoneal (DP). Quando exposta a soluções de diálise de DP, a membrana peritoneal sofre algumas alterações morfológicas. A maioria dos pacientes desenvolve a Esclerose Peritoneal Simples na qual uma fina camada de fibrose submesotelial é frequentemente aparente, com uma espessura que não excede algumas centenas de mícrons, e um componente de neoangiogênese, sem dano vascular significativo, é frequentemente demonstrável. As calcificações são raras, assim como os sinais de um estado inflamatório significativo. Uma minoria de pacientes em DP desenvolve a EPE, uma complicação rara da DP de longa duração, que consiste em um processo inflamatório progressivo envolvendo tanto o peritônio visceral quanto o parietal, levando ao encapsulamento do trato intestinal aderido. A EPE apresenta fibrose acentuada, inflamação aguda e crônica, calcificação generalizada, e espessamento vascular. Alguns autores pensam que a Esclerose Peritoneal Simples e a EPE são os extremos do espectro contínuo de uma doença única relacionada à biocompatibilidade da DP. A EPE pode tornar-se clinicamente aparente quando os pacientes estão em DP (EPE clássica) ou após serem submetidos a transplante renal (EPE pós-transplante). Esta apresentação de EPE parece ocorrer logo após o transplante renal em ex-pacientes de DP. A fase crítica para a EPE pós-transplante é durante o primeiro ano após a cirurgia22 Garosi G, Mancianti N, Corciulo R, La Milia V, Virga G. Encapsulating peritoneal sclerosis. J Nephrol. 2013 Oct/Dec;26(Suppl 21):177-87..

Nossa experiência: uma paciente de 61 anos, há 10 anos em DP, foi submetida a transplante renal de doador renal falecido. Poucos dias depois, ela começou a reclamar de sintomas digestivos dispépticos. O cateter peritoneal foi removido e foi realizada biópsia da membrana peritoneal. O exame histológico peritoneal mostrou sinais de esclerose peritoneal: espessamento da membrana peritoneal (> 600 micrômetros), fibrose progressiva da camada submesotelial em direção à camada interna, e espessamento acentuado da parede vascular média e desnudação mesotelial. Não encontramos sinais de inflamação ativa ou crônica ou calcificações peritoneais. A Tomografia Computadorizada de Contraste do Abdome (TC) mostrou alças intestinais aderentes e conglomeradas (casulo) (Figura 1). Com base na sintomatologia e em achados radiológicos e histológicos, diagnosticamos um início recente de EPE. Devido aos efeitos profibróticos dos inibidores de calcineurina, interrompemos o tratamento com tacrolimus. Devido às evidências que apoiam a proteção contra o desenvolvimento de EPE exercida por inibidores do alvo da rapamicina em mamíferos, iniciamos a terapia com everolimus33 Huddam B, Azak A, Koçak G, Başaran M, Voyvoda N, Duranay M. Additive effectiveness of everolimus plus tamoxifen therapy in treatment of encapsulating peritoneal sclerosis. Ren Fail. 2012 Jan;34(3):387-9. DOI: https://doi.org/10.3109/0886022X.2011.647338
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,44 Ghadimi M, Dashti-Khavidaki S, Khalili H. mTOR inhibitors for management of encapsulating peritoneal sclerosis: a review of literatures. Ren Fail. 2016 Jul;38(10):1574-80. DOI: https://doi.org/10.1080/0886022X.2016.1209026
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. Além de um aumento transitório na terapia com esteroides, iniciamos a terapia com tamoxifeno 55 Mohamed AO, Kamar N, Nogier MB, Esposito L, Duffas JP, Rostaing L. Tamoxifen therapy in kidney-transplant patients presenting with severe encapsulating peritoneal sclerosis after treatment for acute humoral rejection. Exp Clin Transplant. 2009 Sep;7(3):164-7.. Nos 6 meses seguintes de acompanhamento, os sintomas da paciente amenizaram e sua condição melhorou com relação à crise suboclusiva intestinal. O risco de EPE cresce com o aumento do tempo em DP. Provavelmente fatores não identificados tornam alguns pacientes mais suscetíveis ao desenvolvimento de EPE.

Figura 1
TC de contraste do abdome mostrando alças intestinais aderentes e conglomer.

References

  • 1
    Ribeiro BHD, Takenaka VS, Borges FS, Andrade TF, Lessa SB, Mancero JMP, et al. Encapsulating peritoneal sclerosis in a kidney transplant recipient - case report. Braz J Nefrol. 2020 Jul/Sep;42(3):370-4. DOI: https://doi.org/10.1590/2175-8239-JBN-2019-0193
    » https://doi.org/10.1590/2175-8239-JBN-2019-0193
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    Huddam B, Azak A, Koçak G, Başaran M, Voyvoda N, Duranay M. Additive effectiveness of everolimus plus tamoxifen therapy in treatment of encapsulating peritoneal sclerosis. Ren Fail. 2012 Jan;34(3):387-9. DOI: https://doi.org/10.3109/0886022X.2011.647338
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    Ghadimi M, Dashti-Khavidaki S, Khalili H. mTOR inhibitors for management of encapsulating peritoneal sclerosis: a review of literatures. Ren Fail. 2016 Jul;38(10):1574-80. DOI: https://doi.org/10.1080/0886022X.2016.1209026
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  • 5
    Mohamed AO, Kamar N, Nogier MB, Esposito L, Duffas JP, Rostaing L. Tamoxifen therapy in kidney-transplant patients presenting with severe encapsulating peritoneal sclerosis after treatment for acute humoral rejection. Exp Clin Transplant. 2009 Sep;7(3):164-7.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Abr 2021
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2021

Histórico

  • Recebido
    22 Nov 2020
  • Aceito
    11 Fev 2021
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