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The new development economics: after the Washington Consensus

RESENHAS

The New Development Economics — After the Washington Consensus.

Editado por Jomo KS e Ben Fine

Tulika Books e Zed Books, 2006.

O termo Consenso de Washington, cunhado por John Williamson em 1990, continua rendendo críticas de economistas ao se observar que o apregoado liberalismo econômico não respondeu às demandas sociais e econômicas, ao menos das sociedades menos desenvolvidas. No livro The New Development Economics — After the Washington Consensus, onze diferentes economistas criticam o pensamento ainda dominante baseado no liberalismo como modelo ideal de desenvolvimento econômico. O estudo específico sobre o Desenvolvimento Econômico tornou-se um ramo particular da economia a partir dos anos 50, no contexto da reconstrução do pós-guerra e, principalmente, durante a Guerra Fria, como forma de acelerar o desenvolvimento econômico. Eventos históricos importantes, como a experiência da Grande Depressão, haviam provocado uma revolução no pensamento econômico, principalmente a partir da análise de Keynes. O debate envolveu a necessidade da rápida industrialização como forma de promover o desenvolvimento a partir de uma economia agrária e dependente, culminando na discussão para se chegar à eqüidade e distribuição de renda. Os anos 80, contudo, podem ser considerados como a reversão desse modelo de desenvolvimento que, a despeito de décadas consecutivas de sucesso e de prosperidade econômica, mostrou exaustão principalmente a partir de exageros nas intervenções governamentais. Desde então, e auxiliada pelo colapso do comunismo, uma nova forma de pensamento econômico se mostrou dominante: o neoliberalismo. Ao emergir como pensamento econômico dominante, o neoliberalismo se associou à idéia da modernidade econômica e passou a ser visto como saída à estagflação econômica dos anos 70 e também como saída para reduzir o alto endividamento dos países em desenvolvimento, endividamento este que seria fruto, principalmente, da excessiva participação do Estado na economia. A saída para promover o desenvolvimento econômico, portanto, seria reduzir o que trava — o Estado — e liberar as forças que interagem e promovem o investimento, a modernização e a otimização dos recursos disponíveis — o Mercado, alcançando a eficiência Paretiana. O livre comércio e a liberalização financeira seriam as molas propulsoras do crescimento e da prosperidade econômica, tornando fúteis as intervenções governamentais, desnecessárias e indesejáveis para se atingir o bem-estar das sociedades, a partir da hipótese de que o mercado é perfeito.

Diversos artigos do livro criticam as políticas recessivas e liberalizantes impostas pelo Banco Mundial e o FMI aplicadas aos países pobres e em desenvolvimento. Esses organismos arvoram para si o direito intelectual e de aplicação das políticas necessárias para se atingir o desenvolvimento econômico, e impõem sua hegemonia ideológica, sob a forma de programas de ajustamento econômico. Esses modelos de ajustamento, baseados no Consenso de Washington, aplicam uma metodologia que ignora os fatores históricos, as diferentes especificidades sociais e econômicas de cada país e as imperfeições do Mercado, levando essas economias a fracassos econômicos.

O centro da discussão continua sendo o papel do Estado e do Mercado e suas respectivas contribuições para o desenvolvimento econômico. Estes podem competir ou se complementar, conforme seu grau de participação nos diferentes setores econômicos. Porém, argumentam os autores, nem o Estado mínimo nem o capitalismo selvagem, sob a forma de amplo liberalismo comercial e financeiro. Ora, se há imperfeições no Mercado, principalmente em países menos desenvolvidos, qualquer proposta de desenvolvimento deve considerar essas imperfeições. A intervenção do Estado pode corrigir certas imperfeições do Mercado e contribuir para sustentar e coordenar o desenvolvimento econômico, a exemplo do que ocorreu com os países asiáticos.

Por meio de uma série de artigos inteligentes e instigantes, os autores também propõem discutir qual seria "o novo desenvolvimento econômico" ou o "Post-Washington Consensus". Em um dos artigos do livro, Kicking away the logic Free Trade is neither the question nor the answer for development, Sonali Deraniyagala e Ben Fine procuram derrubar um dos argumentos centrais do Consenso de Washington, mostrando que o livre-comércio nem sempre promove o crescimento econômico e a prosperidade global, e que essa simples generalização não encontra respaldo em dados empíricos. A causalidade de liberalização comercial e crescimento econômico é difícil de ser provada e permanece inconclusiva, segundo os autores.

As críticas de outros autores se estendem ainda para as políticas comerciais que hoje dominam as discussões na Organização Mundial do Comércio. Em um tema específico — a liberalização do comércio para bens e serviços, por exemplo —, a OMC discute a remoção de barreiras para o comércio em educação superior, de forma a promover a competição internacional. Não seria esta uma nova forma de dominação ideológica, reduzindo a interação com relação aos aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais de uma sociedade? Ou uma forma de impor o pensamento, hoje hegemônico, do Consenso de Washington?

O livro discorre ainda sobre temas distintos que exercem importante papel no desenvolvimento, como a tecnologia, os resultados de políticas de privatização, a importância do capital humano e social, as conseqüências econômicas da corrupção e da governança e ainda temas sobre questões agrícolas e mesmo geográficas. Nesses temas, a participação do Estado tem importância fundamental, quer coordenando políticas, quer participando ativamente como agente propulsor.

A ortodoxia convencional soube construir um conjunto firme e coerente de pensamento ideológico, difícil de ser combatido. Porém, pode-se considerar que os artigos desse livro compõem uma crítica a essa ortodoxia convencional, usando argumentos também coerentes. Muito embora tais artigos sejam coerentes em si, eles não o são entre si, faltando complementaridade para possibilitar um conjunto mais harmônico de políticas alternativas voltadas para o desenvolvimento econômico. Tais políticas passam, obrigatoriamente, pela reformulação e participação do Estado.

Jairo Abud

Professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Set 2007
  • Data do Fascículo
    Set 2007
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