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Economia da inovação tecnológica

RESENHAS

Economia da inovação tecnológica

Victor Pelaez e Tamás Szmrecsányi (orgs.)

São Paulo: Hucitec: Ordem dos Economistas do Brasil, 2006.

Apesar de ter surgido uma ampla literatura econômica acerca das conseqüências da abertura comercial e financeira vivida pela economia brasileira ao longo da década de 1990, ainda se carece do devido entendimento desse cenário concorrencial surgido desde então. Realmente, se de um lado as empresas brasileiras ficaram submetidas a uma intensa concorrência internacional, de outro, a internacionalização dessas empresas aumentou significativamente o acesso a novos mercados e novas fontes de informação. Com isso, o conhecimento e a inovação passaram a ser vistos como importantes forças tanto de sobrevivência quanto de aquisição de vantagens competitivas na economia brasileira.

De qualquer forma, este cenário não é e nunca foi exclusividade da economia brasileira, sendo que, com o interesse no estudo da inovação, foi desenvolvida a primeira edição do Manual de Oslo em 1992 e, no seu encalço, diversas pesquisas de inovação em vários países. Seguindo essa preocupação, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desenvolveria a Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec), possibilitando novas linhas de pesquisa então pouco exploradas na literatura econômica brasileira.

É neste contexto que é lançado o livro "Economia da inovação tecnológica", com organização de Victor Pelaez e Tamás Szmrecsányi. A obra se divide em três partes. Na primeira delas, contendo cinco capítulos, são apresentados os paradigmas conceituais sob os quais têm se desenvolvido as idéias referentes ao impacto da inovação tecnológica no dinamismo das economias capitalistas. Assim, após trabalhar a conceituação de mercado e concorrência, aborda-se a questão do progresso tecnológico sob as visões marxista, neoclássica, institucionalista e, como não poderia deixar de ser, schumpeteriana.

Já as duas partes seguintes procuram introduzir determinadas questões referentes à inovação nos âmbitos, respectivamente, micro e macroeconômico. Dessa forma, a segunda parte é composta por nove capítulos com a pretensão de abordar alguns dos debates em torno do progresso técnico no âmbito da firma. O primeiro deles aborda os diversos entendimentos da relação entre ciência e desenvolvimento tecnológico aplicado à economia. São abordados o modelo linear de inovação — em que a ciência possibilita a aplicação de certos conhecimentos no setor produtivo —, a hipótese de demanda de mercado — em que as necessidades da demanda viabilizam determinadas linhas de pesquisa científica — e, finalmente, o modelo interativo — que sintetiza as duas visões anteriores.

Já o capítulo seguinte analisa a questão da difusão tecnológica, apresentando os diversos modelos de difusão surgidos a partir do trabalho pioneiro de Griliches em 1957, até as contribuições dos autores evolucionários. Um capítulo é reservado também para a questão da prospectiva tecnológica, ou "uma política de mobilização de diferentes atores sociais no sentido de estabelecer e atingir metas desejáveis de longo prazo e, ao mesmo tempo, de minimizar os efeitos adversos em nível social, econômico, político, ambiental e cultural". Além de introduzir alguns métodos de análise, o autor apresenta as experiências de certos países, quais sejam, Estados Unidos, Japão, Alemanha, Coréia do Sul e o Brasil.

Foco de mais um capítulo é a inserção do papel da inovação na teoria da firma sob diversas visões alternativas, tais como a clássica, a neoclássica e a evolucionária. Outros capítulos dessa segunda parte abordam ainda as questões do aprendizado tecnológico. da apropriabilidade dos frutos da inovação, da path dependence, do lock-in e da inércia, dos paradigmas e das trajetórias tecnológicas e, finalmente, da economia de redes.

Já a terceira parte do livro compreende quatro capítulos que têm como objetivo contextualizar a inovação tecnológica em importantes questões de ordem macroeconômica. Assim, o primeiro destes capítulos analisa a influência da tecnologia em dois tópicos extremamente relevantes: a convergência ou divergência da renda per capita entre os países ricos e pobres — por meio das teorias cepalina, keynesiana e schumpeteriana — e a relação entre crescimento e distribuição de renda — sob uma perspectiva kaleckiana.

A questão da desigualdade é uma preocupação também do capítulo seguinte, que aborda a influência do progresso técnico sobre a estrutura do emprego, influência esta normalmente associada a um viés favorável ao trabalho qualificado. Finalmente, os dois últimos capítulos abordam, respectivamente, o sistema de inovação e o financiamento de investimentos em inovação.

Devido à sua pretensão eminentemente teórica e introdutória, a obra passa ao largo das recentes evidências empíricas observadas no Brasil e nos países europeus a partir, respectivamente, da Community Innovation Survey e da Pintec. Porém, trata-se sem dúvida de uma importante e relevante contribuição a uma linha de pesquisa que possui um papel fundamental em um país que se mostra incapaz de apresentar significativas taxas de crescimento econômico por mais de dois anos consecutivos.

Alexandre Messa Silva

Pesquisador do IPEA

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Fev 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 2007
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