Acessibilidade / Reportar erro

Dialética da pratica e ação sem prática

Dialectics of practice and action without practice

Resumos

O conceito de prática recobriria o de sistema de ação, não fosse a existência de sistemas de ação sem prática. Resta que uma prática é um sistema de ação. Como conseqüência, suposta a reciprocação de sistema com teoria e uma atenta inspeção nos termos da proposição, há equivalência semântica entre "prática teórica " e "sistema de ação prático". Num e noutro caso, a contradição interna aos pares de conceitos se resolve dialeticamente. Graças à dialética, são fundidos numa unidade de sentido, síntese de tensões opostas. Daí a proposta de uma dialética da prática global, conjuntamente abstrata e histórica. Destotalizada ou à margem dessa dialética, pode ser destacada a ação sem prática, exemplificada no drama. Dramática é precisamente uma ação que não é prática. O tempo e o lugar da prática são a história e o mundo do homem; o tempo e o lugar do drama são a ficção cultural e a substância simbólica. Mimese da prática, o drama, reproduz, não os traços do modelo, mas a sua produção, tornando-se por sua vez modelo do modelo. Mimese não é cópia, é forma autônoma de eficiência, paradoxalmente sem prática mas especular.

Ação; prática; drama; mimese; sistema de ação; prática teórica; lógica; dialética; dialética da prática; salto dialético e processo dialético


The concept of practice would recover the concept of the system of action, if it were not for the existence of systems of action without practice. It remains that a practice is a system of action. As a consequence, supposing the reciprocality of the terms system and theory and a close inspection of the terms in the propositions, there is a semantic equivalence between "theoretical practice" and "Practical system of action". In both cases, the contradiction between the pairs of concepts are resolved dialectically. Thanks to the dialectics, they are melted into one unit of meaning - a synthesis of opposing tensions. Hence, the proposal for a dialectics of global practice, at the same time abstract and historic. Detotalized or along the border of this dialectics, the action without practice as exemplified in the drama may be highlighted. Dramatic is precisely an action which is not practical. The time and the place of the practice are the history and the world of man; the time and the place of drama are the cultural fiction and the symbolic substance. As the mimesis of practice, the drama reproduces not the features of the model but its production and thus it becomes a model of the model. Mimesis is not copying; it is an autonomous form of efficiency, paradoxically without practice, but of course "specular".

Action; practice; drama; mimesis; system of action; theoretical practice; logic; dialectics; practice dialectics; dialectic jump and dialectic process


ARTIGOS ORIGINAIS

Dialética da pratica e ação sem prática

Dialectics of practice and action without practice

Ubaldo Puppi

Departamento de Filosofia - Faculdade de Educação, Filosofia, Ciências Sociais e da Documentação - UNESP - 17.500 - Marília - SP

RESUMO

O conceito de prática recobriria o de sistema de ação, não fosse a existência de sistemas de ação sem prática. Resta que uma prática é um sistema de ação. Como conseqüência, suposta a reciprocação de sistema com teoria e uma atenta inspeção nos termos da proposição, há equivalência semântica entre "prática teórica " e "sistema de ação prático". Num e noutro caso, a contradição interna aos pares de conceitos se resolve dialeticamente. Graças à dialética, são fundidos numa unidade de sentido, síntese de tensões opostas. Daí a proposta de uma dialética da prática global, conjuntamente abstrata e histórica. Destotalizada ou à margem dessa dialética, pode ser destacada a ação sem prática, exemplificada no drama. Dramática é precisamente uma ação que não é prática. O tempo e o lugar da prática são a história e o mundo do homem; o tempo e o lugar do drama são a ficção cultural e a substância simbólica. Mimese da prática, o drama, reproduz, não os traços do modelo, mas a sua produção, tornando-se por sua vez modelo do modelo. Mimese não é cópia, é forma autônoma de eficiência, paradoxalmente sem prática mas especular.

Unitermos: Ação; prática; drama; mimese; sistema de ação; prática teórica; lógica; dialética; dialética da prática; salto dialético e processo dialético.

ABSTRACT

The concept of practice would recover the concept of the system of action, if it were not for the existence of systems of action without practice. It remains that a practice is a system of action. As a consequence, supposing the reciprocality of the terms system and theory and a close inspection of the terms in the propositions, there is a semantic equivalence between "theoretical practice" and "Practical system of action". In both cases, the contradiction between the pairs of concepts are resolved dialectically. Thanks to the dialectics, they are melted into one unit of meaning - a synthesis of opposing tensions. Hence, the proposal for a dialectics of global practice, at the same time abstract and historic. Detotalized or along the border of this dialectics, the action without practice as exemplified in the drama may be highlighted. Dramatic is precisely an action which is not practical. The time and the place of the practice are the history and the world of man; the time and the place of drama are the cultural fiction and the symbolic substance. As the mimesis of practice, the drama reproduces not the features of the model but its production and thus it becomes a model of the model. Mimesis is not copying; it is an autonomous form of efficiency, paradoxically without practice, but of course "specular".

Key-words: Action; practice; drama; mimesis; system of action; theoretical practice; logic; dialectics; practice dialectics; dialectic jump and dialectic process.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

NOTAS

3. "O estudo das ciências que passamos em revista... eleva a parte mais nobre da alma até a contemplação do mais excelente de todos os seres." "A República", VII, 532c.

4. "São esses caminhos (da dialética) que irão nos conduzir ao fim no qual encontraremos, como pessoas em viagem, o repouso e o termo de nosso trajeto." Ibid. VII, 532e.

5. Cf. Ibid., VII, 534d.

6. Ibid., VII, 533d.

8. Cf. "A República", VII, 531d, ss.

9. Cf. "Os Segundos Analíticos", Livros 2 e 11 (particularmente 72a 9-10; 77a 28, ss); "A Metafísica", Liv. 4 (particularmente caps. 4, 5 e 6).

10. Cf. Aquino, Tomás de, "In Post-Analyt". Lib. I, Lects., 5 e 20; "In Metaphys", Lib. 4, Lect. 4.

11. "Os dialéticos e os sofistas vestem o mesmo manto que a filosofia, porque a sofística, como a dialética, é somente a aparência da filosofia." "A Metafísica", 1004 b, 17-20.

12. "Os Segundos Analíticos", 77 a 32.

13. Ibid. 77 a 33; cf. "Os Primeiros Analíticos", 24a 15, ss.

14. Id., Ibid.

17. "A catarse não é precisamente o que dela diz a antiga tradição", Fedon, 67c.

18. Cf. Sof. 229, ss; Fedon, 67c, ss; Fedro, 250c.

19. Poet., V, 144b, 24-28.

21. Cf. Idem, Et. Nicom, VI, 3, 1115 a 11; Ret. II, 5; II, 8.

22. Poética, 1450 a 15.

BIBLIOGRAFIA ABREVIADA

  • 1. "A práxis se desvela por seu fim". Sartre, "Critique de la raison dialectique". Paris, Gallimard, 1980, v.1,p. 541.
  • 2. "Histoire et Conscience de Classe". Paris, Ed. Minuit, 1960.
  • 7. "Les etapes de la philosophie mathématique". Paris, PUF, 1912, p.55.
  • 15. Werner Jaeger. "Aristóteles". Ed. Fondo de Cultura, Mexico, 1946.
  • 16. Jean maire, H., "Dyonisos", Paris, Payot, 1951. p.305.
  • 20. Aristóteles, Política, VIII, 1134 a 15.
  • AQUINO, T. de - In Metaphysicam Aristotelis. Turin, Marietti, 1935.
  • AQUINO, T. de - In Posteriorum analyticorum. Roma, Ed. Leonina, 1882.
  • ARISTÓTELES - La Metaphysique. Trad, por Tricot. Paris, Vrin, 1948.
  • ARISTÓTELES - Les Premiers Analytiques. Trad, por Tricot. Paris, Vrin, 1947.
  • ARISTÓTELES - Les Second Analytiques. Trad, por Tricot. Paris, Vrin, 1947.
  • ARISTÓTELES - Poétique. Paris, Ed. J. Hardy. 1952. (Les Belles Lettres).
  • ARISTÓTELES - Politics. Oxford, Newman, 1887-1892.
  • ARISTÓTELES - Rhétorique. Paris, Ed. M. Dufour, 1932. (Les Belles Lettres).
  • HEGEL, G.W.F. - Phénoménologie de l'esprit. Paris, Aubier, 1941.
  • HEIDEGGER, M. - Kant et le problème de la metaphysique. Paris, Gallimard, 1953.
  • HYPPOLITE, J. - Logique et Existence. Paris, PUF, 1953.
  • KANT, I. - Critique de la raison pure. Paris, PUF, 1944.
  • LUKÁCS, G. - Histoire et conscience de classe. Paris, Minuit, 1960.
  • MARX, K. - Contribution à la critique de l'économie politique Paris, Ed. Sociales, 1957.
  • PLATÃO - La Republique. Paris, Ed. Chambry, 1947. (Les Belles Lettres).
  • PLATÃO - Les sophistes. Paris, Ed. Diès, 1950. (Les Belles Lettres).
  • PLATÃO - Phédon. Paris, Ed. Leon Robin, 1934.
  • PLATÃO - Phèdre. Paris, Ed. Leon Robin, 1934.
  • PLATÃO - Philèbe. Paris, Ed. A. Diès, 1949. (Les Belles Lettres).
  • SARTRE, J. P. - Critique de la raison dialectique. Paris, Gallimard, 1960.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Dez 2011
  • Data do Fascículo
    Dez 1982
Universidade Estadual Paulista, Departamento de Filosofia Av.Hygino Muzzi Filho, 737, 17525-900 Marília-São Paulo/Brasil, Tel.: 55 (14) 3402-1306, Fax: 55 (14) 3402-1302 - Marília - SP - Brazil
E-mail: transformacao@marilia.unesp.br