TRADUÇÃO
Stº. Alberto Magno - questões sobre o "De animalibus"
Tradução e Introdução de Carlos Arthur Ribeiro do Nascimento
Departamento de Filosofia - Faculdade de Educação, Filosofia, Ciências Sociais e da Documentação - UNESP - 17.500 - Marília - SP
Alberto Magno Questões sobre o Tratado dos animais reportadas por frei Conrado da Áustria.
Livro I, Questão 13:
Por que todos os animais, exceto o homem, fazem muito barulho no coito?
Pergunta-se por que todos os animais, exceto o homem, fazem muito barulho no coito. Daí o galo, quando deve ir para cima, cantar, dançar e fazer barulho, assim como o cavalo e os demais animais. O homem, no entanto, silenciosa e ocultamente arma, como que para a guerra, o príapo e copula.
Deve-se dizer que a voz é causada de muitas maneiras, por causa extrínseca ou intrínseca. Nos homens a voz provém de causa extrínseca. A causa intrínseca porém é dupla, a saber, natural ou inatural. Provém de causa inatural no cisne, quando morre, porque então canta mais docemente. Provém porém de causa natural a partir do quente e úmido multiplicado no interior. Ora, o esperma é quente e úmido e antes do coito como que goteja pelos membros do animal e chega aos testículos. Deste modo, como os brutos seguem a compleição natural e os sentidos ou a natureza, então por causa do deleite que sentem em todos os membros, cantam e gritam muito como furiosos. Mas o homem é animal discreto e sábio pela razão, tendo discrição e podendo abster-se daquilo a que se ordena o coito por causa do pudor. Assim, não faz então muito barulho; até mesmo, se pode, vai para cima escondido e, quanto mais escondido com tanto mais agrado. E isto é verdade.
Avicena diz também que o homem se encontra então em tanto deleite que não pode falar; de fato, o coração se contrai diante de excessivo deleite, como acontece que alguns não possam falar quando estão com medo. Disto se evidencia a causa pela qual o homem e os outros animais são audaciosos antes do coito e são mais tímidos depois de feito o coito; pois a audácia provém do calor e do movimento do sangue. Por isso os animais são então audaciosos e apresentam grande movimentação por causa do movimento do calor e dos espíritos. Mas o medo provém do resfriamento e da congelação dos espíritos, o que acontece depois do coito por causa da evacuação destes e por isso os animais têm então medo. Daí, o adúltero antes do coito não temer acercar-se da esposa de outrem, mesmo que este esteja presente, por causa do forte movimento dos espíritos, mas, depois do coito, por estar debilitado, temer e fugir na presença de um rato ou de um gato.
Disto, além do mais, pode evidenciar-se a causa pela qual o homem castrado seja menos morigerado, cujo contrário acontece nos outros animais. A causa ou razão disto é que, sendo o homem o animal temperado ao máximo, pela castração diminui no homem a matéria do sêmen ou do esperma que é o quente e úmido e o temperamento, nos quais residem a vida e a compleição do homem. Deste modo, pela castração, a compleição do homem afasta-se ou decai do temperamento e, por conseguinte, diminui a sua virtude e torna-se efeminado. Contudo, nos outros animais há muitas umidades e superfluidades e calor mais fraco por causa das superfluidades. Daí, suas umidades e superfluidades serem diminuídas pela castração e o calor neles como que repercutir e refletir em cada um dos seus membros. Donde tornarem-se mais morigerados. No entanto, no galo há um calor mortificativo e consumptivo da umidade. Daí, ao ser castrado, o calor diminuir e a umidade abundar mais e então ele engorda. Mas nos outros animais o calor é fraco e, pela castração, suas umidades supérfluas são consumidas por este calor fraco que, então reverberado tem poder sobre o pouco. Daí, todos os animais castrados, antes emagrecerem. E se engordam, conservam muito mais tempo a gordura do que os não-castrados porque o calor está efeminado, não consumindo na mesma proporção; e quando se cansam, não se recuperam tão rapidamente como os não castrados.
NOTAS
- 1 Ver, por exemplo, Opus tertium. Münster. Ed. Brewer. Cap. 9, p. 30-31.
- 2 Cf. Ph. Boehner. História da filosofia cristã. Petrópolis, Vozes, 1970. p. 397.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
06 Dez 2011 -
Data do Fascículo
Dez 1982