Acessibilidade / Reportar erro

Corrigindo o estigma através do espetáculo: o caso da equipe de futebol de anões

Correcting stigma through the spectacle: the case of soccer team of dwarfs

Corregir el estigma mediante el espectáculo: el caso de un equipo de fútbol de enanos

Resumo

A sociedade constrói mecanismos de classificação que incluem e excluem os indivíduos em diferentes grupos. Chama-se de estigma os atributos negativos que depreciam os indivíduos. Por sua vez, os indivíduos buscam formas de manipulação do estigma. Dentre essas, adquirir notoriedade em atividades que seriam vistas como inusitadas. Fizemos uma pesquisa etnográfica com uma equipe de futebol de anões. Demonstramos como uma equipe de futebol composta por anões usa do esporte para manipular a identidade estigmatizada.

PALAVRAS-CHAVE
Estigma; Identidade; Nanismo; Futebol

Abstract

The society constructs classification systems which includes and excludes individuals in different groups. The stigma is a negative attributes that disparage individuals. In turn, individuals seek forms of manipulation the stigma. One is gaining prominence in unusual activities. Ethnographic research was carried out with a football team of dwarfs. We demonstrated how a soccer team composed of dwarfs, use sport to manipulate the stigmatized identity.

KEYWORDS
Stigma; Identity; Dwarf; Soccer

Resumen

La sociedad crea sistemas de clasificación, que incluyen y excluyen a los individuos en diferentes grupos. Se conoce como estigma a los atributos negativos por los que se denigra a las personas. A su vez, los individuos buscan formas de manipulación del estigma. Una de ellas es adquirir notoriedad realizando actividades que son vistas como algo inusual. Se realizó una investigación etnográfica con un equipo de fútbol de enanos. Hemos demostrado cómo un equipo de fútbol integrado por enanos utiliza el deporte para manipular la identidad estigmatizada.

PALABRAS CLAVE
Estigma; Identidad; Enanismo; Fútbol

Introdução

A sociedade atua com mecanismos de seleção que buscam estabelecer aqueles que são considerados "normais" (Goffman, 1978Goffman E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Zahar; 1978.). Em cada ambiente social, são construídas categorias sobre os atributos que os indivíduos devem ter para estar incluídos nesse grupo.Goffman (1978)Goffman E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Zahar; 1978. aponta que quando interagimos com um indivíduo estranho surgem evidências de que ele tenha atributos que o tornam diferentes dos demais e impedem que ele possa ser incluído na sociedade. É considerado, portanto, uma pessoa menos desejável. É nesses casos que dizemos que os indivíduos têm um estigma (Goffman, 1978Goffman E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Zahar; 1978.).

O indivíduo estigmatizado é aquele que tem um descrédito devido a atributos depreciativos. Mas para essa categorização é preciso uma linguagem de relações, e não de atributos (Goffman, 1978Goffman E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Zahar; 1978.). Ter atributos considerados negativos produz uma série de representações que o colocam em uma situação de impossibilidade de uma aceitação social plena. Há atributos que podem ser escondidos e outros que são mais expostos, como as deficiências físicas e as anormalidades estéticas.

De acordo com Sassaki (2010)Sassaki RK. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 8ª. Ed. Rio de Janeiro: WVA; 2010., as pessoas com alguma deficiência física são mais expostas à avaliação dos demais. Essa exposição constrói representações e promove uma generalização e a desumanização do portador de algum tipo de diferença significativa. É nesse sentido que ocorre um esforço político e científico para a inclusão dessas pessoas na sociedade, que objetiva romper com o imaginário de incapacidade relacionado às deficiências (Sassaki, 2010Sassaki RK. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 8ª. Ed. Rio de Janeiro: WVA; 2010.). Entretanto, quando se refere aos anões há uma ideia de pessoas engraçadas e divertidas. Por isso, atividades circenses e programas humorísticos ainda são as principais ocupações desses indivíduos no mercado de trabalho (Silva, 2010Silva LJ. O relativismo cultural e o arremesso de anão. Direitos Culturais, Santo Ângelo 2010;5(8):203-16.). Nesses espaços quase sempre eles são ridicularizados em face da pequena estatura e da aparência geralmente considerada engraçada.

Nos esportes, há pouca visibilidade das atividades esportivas para indivíduos com nanismo1 1 Indivíduo com nanismo ou anão são termos usados para caracterizar a condição de tamanho de um indivíduo cuja altura é significativamente menor do que a média da população. Considera-se anão o homem que mede menos de 1,45 m e anã a mulher com altura inferior a 1,40 m. Existem dois tipos de nanismo, o proporcional e o desproporcional, no qual há encurtamento dos membros e acometimento da coluna vertebral (Behrman et al., 2009). Nesta pesquisa não diferenciamos os indivíduos de acordo com a sua classificação de deficiência, pois indiferentemente de tal classificação esses indivíduos têm a baixa estatura como principal atributo depreciativo. em nossa sociedade. A principal prática desportiva associada ao nanismo ainda é o arremesso de anões2 2 A prática do arremesso foi proibida pela Organização das Nações Unidas, que a tachou como sendo um "ato de degradação da espécie humana" (Silva, 2010). praticado na década de 1990, nos bares dos EUA e da Europa.3 3 O "arremesso de anão" consistia em pegar um anão pelo colo, erguê-lo sobre a cabeça e lançá-lo sobre colchões. O vencedor era aquele que conseguia arremessá-lo o mais longe possível (Silva, 2010). Entretanto, no Estado do Pará surgiu em 2007 o time de futebol Gigantes do Norte, formado apenas por anões. Pouco tempo depois, no fim de 2008, começou a estampar em outdoors do subúrbio do Rio de Janeiro um convite para assistir aos jogos de futebol da equipe dos Pequeninos4 4 Nome fictício. , composta apenas por anões.

O esporte, enquanto um fenômeno sociocultural, pode possibilitar que os indivíduos construam novos sentidos e significados acerca de valores sociais (Stigger, 2002Stigger MP. Lazer, esporte e estilos de vida. Campinas: Autores associados 2002.). Para indivíduos com deficiência física, o esporte atua como um facilitador de uma melhor integração social e adaptação à sua condição física (Labronice et al., 2000Labronice RHDD, Cunha MCB, Oliveira ASB, Gabbai AA. Esporte como fator de integração do deficiente físico na sociedade. Arq Neuropsiquiatr 2000;58(4):1092-9.). Dessa forma, nosso objetivo é analisar como um grupo de anões busca corrigir o estigma por meio de partidas de futebol.

Metodologia

Estudamos uma equipe de futebol de anões, composta por 14 componentes e que faz jogos de exibição aos sábados à tarde no Espaço Gol, um campo de futebol society no bairro de Colégio, Zona Norte do Rio de Janeiro.

A pesquisa teve uma abordagem qualitativa, fundamentalmente empírica. Usamos o método etnográfico, que, de acordo com Geertz (1989)Geertz C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC; 1989., é o esforço intelectual de fazer uma interpretação que se aproxime de um entendimento da realidade estudada. Porém, não é a obsessão com a descrição dos detalhes que caracteriza a etnografia, mas a atenção a esses, que podem, em algum momento, arranjar-se em um todo e oferecer um novo entendimento (Magnani, 2002Magnani JGC. De perto e de dentro: notas para uma antropologia urbana. Rev Bras Ci Soc 2002;17(49):12-30.).

O esforço da etnografia é o de fazer uma tradução da cultura do grupo pesquisado. Entretanto, não podemos entender a cultura de um grupo apenas como um patrimônio histórico acumulado. A cultura é dinâmica e se reconstrói constantemente a partir das interações dos atores sociais em um processo de lutas e contestações. Nosso esforço é apresentá-la, também, como um campo de lutas e de afirmação de novos significados.

Acompanhamos 10 jogos de maio a julho de 2009. Os instrumentos usados foram: observação participante, diário de campo e entrevistas semiestruturadas. A observação foi escolhida por ter uma vantagem em comparação com os outros métodos. De acordo com Becke (1997)Becke RH. Métodos de pesquisa em ciências sociais. 3ª Ed. São Paulo: Hucitec; 1997., o etnógrafo tem mais condições de testar suas hipóteses por estar em presença contínua, diferentemente dos demais métodos. Na observação existem compromisso e contato prolongado entre as partes, o que diminui a possibilidade de o informante omitir ou mentir sobre qualquer situação. Já o diário de campo tem como objetivo registrar, em tempo real, atitudes, fatos e fenômenos percebidos no campo de pesquisa com objetivo de se estabelecerem relações entre as vivências da pesquisa e o aporte teórico do pesquisador (Minayo, 1993Minayo MCS. Pesquisa qualitativa em saúde. 2. ed. SP: HUCITEC/RJ: ABRASCO, 1993.).

As entrevistas semiestruturadas foram usadas sob a consideração de que podem oferecer um acesso privilegiado às representações dos interlocutores sobre as suas práticas, a partir de seus discursos (Magnani, 1997Magnani JGC. Discurso e representação ou de como os Baloma de Kiriwana podem reencarnar-se nas atuais pesquisas. In: Cardoso R. (Org.). A aventura antropológica: teoria e pesquisa. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.). Entrevistamos5 5 Todos os indivíduos que participaram da pesquisa assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Ressaltamos que todos os nomes citados são fictícios. os jogadores anões, o proprietário do espaço e o técnico da equipe. As entrevistas ocorreram em momentos anteriores aos jogos, enquanto os jogadores se preparavam para as partidas. O material oriundo das entrevistas foi transcrito e examinado por meio da análise do conteúdo (Bardin, 2009Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, LDA; 2009.).

Resultados

A entrada no campo de estudo

Tomei conhecimento do futebol de anões após ver a divulgação dos outdoors, que destacavam a foto da equipe uniformizada, bem como o horário e local do jogo. No sábado seguinte, fui até o espaço anunciado e ao chegar percebi a entrada de pessoas que visitavam o local apenas para ver o jogo. Assisti ao jogo na parte dos fundos, próximo ao bar. Fiquei por ali durante todo o primeiro tempo e percebi que não conseguiria qualquer informação. Dessa forma, me aproximei do bar e conheci o seu responsável, que me forneceu as primeiras informações sobre a equipe dos Pequeninos.

Apresentei-me ao técnico da equipe e ao proprietário do Espaço Gol. Informei sobre a pesquisa e solicitei autorização para acompanhar os jogos e entrevistar os anões. Obtive imediata autorização. Entretanto, reconheço que grande parte dessa boa recepção está ligada ao entendimento de que o pesquisador pode, de alguma forma, auxiliar na visibilidade e divulgação do grupo.

Os pequeninos: sua história e seus protagonistas

De acordo com os relatos fornecidos no campo de observação, a construção do grupo dos Pequeninos foi inspirada na equipe de futebol de anões Gigantes do Norte, que ganhou destaque e foi assunto principal de diversos programas esportivos.

A equipe dos Pequeninos foi formada no fim de 2008, a partir do convite de Juninho, um dos integrantes do grupo, para participar de um campeonato de futebol de anões promovido por um programa humorístico. Muitos deles jogavam futebol periodicamente, em quadras do subúrbio, mas outros estavam havia algum tempo sem se dedicar ao esporte em seus momentos de lazer.

Os Pequeninos participaram da competição e perderam para uma equipe de anões de São Paulo com o placar final de 11 a 1. Após esse resultado, decidiram procurar um local para treinar. Alguns dos integrantes da equipe moravam no mesmo bairro e conheciam um espaço que tinha um campo de futebol society. Fizeram uma proposta ao proprietário e começaram a treinar. Assim que iniciaram os treinamentos, a equipe conseguiu um técnico, chamado João, cuja autoridade é respeitada pelos jogadores e é reforçada pela melhoria técnica da equipe. "Após minha entrada, os anões chegaram a jogar novamente com a equipe de anões de São Paulo e conseguiram um empate de 5 a 5", relatou o treinador, com orgulho.

João é um senhor de aproximadamente 65 anos, muito querido na região. Foi jogador profissional de futebol e atuou em clubes da primeira divisão do campeonato brasileiro na década de 1970. O técnico ressalta que sua participação não tem interesse financeiro: "Estou aqui somente pelo amor ao esporte [...] ninguém entende isso".

Na visão de João, a equipe precisa conhecer os aspectos táticos do jogo, pois "eles não voltam depois de um ataque". Entretanto, ressalta que é difícil conseguir uma data para os treinamentos, devido à rotina de trabalho dos praticantes. Dessa forma, o time não treina, apenas faz os jogos aos sábados. Outra dificuldade relatada por ele é que não há outros times de anões no Rio de Janeiro.

No momento da pesquisa, a equipe tinha 14 integrantes. Entretanto, nem sempre era possível reunir todos os componentes, pois alguns trabalham aos sábados. A principal ocupação dos membros do time é a figuração em programas humorísticos, dado esse que foi relatado como um dos principais motivos da troca do horário dos treinamentos. No início, os anões treinavam às sextas-feiras, no turno da noite. Mas havia dois meses tinham começado a treinar no horário de sábado à tarde. Foi nesse período que houve a divulgação em outdoors.

A equipe conta ainda com Ronaldo, que é o proprietário do Espaço Gol. Ele faz a agenda de jogos e de apresentações da equipe, além da divulgação desses eventos, por meio de cartazes e outdoors por toda a cidade. Ele relatou-nos que até o momento já havia colocado 20 outdoors espalhados pela cidade e estava pensando em colocar mais 50.

Os jogos

Durante o período de observação, presenciamos 10 partidas da equipe dos Pequeninos. Os jogos foram contra equipes de escolinhas de futebol da região e arredores, de categorias infantis, entre 10 e 13 anos. Os jogos são agendados por Ronaldo.

Em poucas oportunidades, os Pequeninos iniciaram a partida apenas com jogadores anões. Nessas ocasiões, a equipe contava com a participação de jogadores do time adversário para iniciar o jogo sem atraso. Na medida em que os jogadores anões chegavam, entravam para compor a equipe. É interessante ressaltar que mesmo com a participação de adversários, somente os anões faziam os gols.

Os integrantes da equipe dos Pequeninos têm habilidade esportiva e fazem muitas jogadas de efeito. O goleiro da equipe se chama Bubu. É um indivíduo de baixa estatura, mas que não tem o nanismo. Ele tem aptidão no gol e estatura suficiente para pegar as bolas no alto. Quando Bubu não estava presente, o goleiro era Zé, irmão de um dos anões e que, assim como Bubu, não tem nanismo.

Em nove partidas observadas, a equipe dos Pequeninos saiu vencedora, com pelo menos seis gols de diferença. Apenas em uma partida a equipe perdeu. Esse dia foi marcado por algumas tensões. Ronaldo havia marcado o jogo com uma escolinha localizada em um bairro vizinho. Entretanto, quando os adversários chegaram, Ronaldo ficou contrariado, pois a escolinha tinha trazido uma equipe com idade de 15 anos, quando o combinado seriam jogadores entre 10 a 12 anos. João relatou que "isso poderia dar merda, pois um anão poderia dar um ‘come' em um dos ‘moleques', que poderia revidar. " Ao perceber a desvantagem, a equipe dos Pequeninos colocou dois jovens sem nanismo para jogar na linha. O time adversário era muito forte, tinha alta estatura e procurou jogadas aéreas contra os anões. A equipe dos Pequeninos irritou-se com a impossibilidade de fazer seu jogo e começou a reclamar exaustivamente um dos outros. Um dos anões protestou contra a forma como o time adversário marcava, dizendo: "Esses caras nem parecem que estão jogando contra anões". No fim do jogo, Ronaldo disse que "de hoje em diante os anões não vão jogar contra jogadores de mais de 12 anos." Depois que os adversários saíram de campo, os anões jogaram contra alguns meninos de seis a sete anos que estavam assistindo ao jogo. Ao iniciar a partida, alguns torcedores provocaram: "Era isso que eles queriam, molezinha".

O Espaço Gol e o público

O Espaço Gol tem um campo de futebol society, um local com duas churrasqueiras e um bar. O campo é alugada por hora para aqueles que desejam jogar com seu grupo. Entretanto, não é cobrado qualquer valor para acesso ao espaço para assistir aos jogos. A churrasqueira é usada pelos grupos que alugam o campo de futebol. Ronaldo não cobra pelo uso das churrasqueiras, pede apenas que os grupos consumam as bebidas em seu bar.

É consenso entre os funcionários do Espaço Gol que a partir do início do treinamento dos anões houve um aumento significativo de pessoas no local, tanto nos dias de jogos quanto nos outros dias, o que fez com que o Espaço Gol ficasse conhecido na região como o campo do futebol de anões.

Nos dias de jogos dos Pequeninos, havia um grupo que comparecia ao local apenas para vê-los. Por diversas vezes observei pessoas que, ao passar pela rua, paravam para ver o jogo. Em uma oportunidade, quando estava do lado de fora do Espaço Gol, onde há uma grade que possibilita ver o jogo, fui perguntado por pessoas que passavam pela rua se haveria o "jogo dos anões".

A torcida se manifestava constantemente durante os jogos dos Pequeninos. A manifestação variava desde palavras de apoio durante os gols e as bonitas jogadas até provocações sarcásticas. Em alguns lances de ataque exclamavam: "Faz a jogada aérea"; "dá um triciclo",6 6 Em referência à jogada de "bicicleta". ambas como forma de ironizar a baixa estatura dos anões.

Durante as partidas, a torcida espera um misto de habilidade esportiva e cenas de humor. Os anões, quando faziam gols, retribuíam com acenos e beijos. Eram comuns momentos nos quais os anões encenavam provocações, como tapas e cambalhotas, para provocar risos na torcida.

Em determinadas partidas, havia a presença de pessoas com nanismo, incluindo mulheres. Em uma ocasião, houve a visita de um grupo de pessoas com nanismo, incluindo duas crianças, que foram ver o jogo para conhecer o time dos anões. João passou boa parte do tempo conversando com os visitantes e no fim do jogo inseriu as crianças para jogarem com os Pequeninos. Assim que as crianças entraram em campo, os anões foram cumprimentá-las. João, ao meu lado, falou: "Tá vendo! Olha como eles são unidos". Após o término da partida, as mães pediram para tirar fotos com a equipe.

Em outra oportunidade, o jogo atrasou porque os anões estavam em uma reunião com a Associação de Nanismo do Estado do Rio de Janeiro (Anaerj). Os integrantes da equipe dos Pequeninos relataram que começaram a participar da Associação depois da formação da equipe de futebol. Em outro dia de observação, no fim de uma das partidas, uma mulher se reuniu com o grupo e o convidou para jogar em um evento particular.

Discussão

A busca pelo futebol e a divulgação da equipe atuam como uma forma de manipulação da identidade social. O futebol atua como uma maneira de "corrigir a condição" de estigmatizado. Conforme argumentamos anteriormente, Goffman (1978)Goffman E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Zahar; 1978. aponta que o estigma é um conceito usado para caracterizar um atributo depreciativo que desencadeia relações sociais; é, também, um conjunto de características depreciativas que produzem expectativas sociais em relação a um indivíduo. Segundo o autor, existem três tipos de estigma: a) os que envolvem características físicas, como marcas no corpo e deficiências; b) aqueles relacionados com a culpa de caráter, como distúrbio mental, prisão, vício etc.; e c) os relacionados aos atributos tribais, como etnia e religião, que podem ser transmitidos por meio de linhagem e contaminar todos os membros de uma família.

O estigma atua de forma com que os outros, na interação social, se esqueçam dos demais atributos do indivíduo e deem atenção apenas ao traço do estigma. Os estigmas relacionados com as características físicas são aqueles que geram maiores consequências na interação social por ser mais expostos.

O processo de aceitação do estigma pode ser dar de duas formas. Na primeira, o estigmatizado procura corrigir diretamente aquilo que é considerado como um defeito: o indivíduo com alguma deformidade procura a cirurgia plástica, o indivíduo obeso uma dieta e o homossexual faz psicoterapia. Na segunda, o indivíduo estigmatizado vai procurar corrigir o defeito indiretamente, buscar notoriedade em alguma atividade que jamais tenha imaginado que poderia exercer. É uma forma de romper com a realidade e objetiva empregar uma nova interpretação sobre sua identidade (Goffman, 1978Goffman E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Zahar; 1978.).

No caso do nanismo não é possível corrigir diretamente o estigma, pois não há um tratamento que cure os indivíduos. Logo, é a notória habilidade esportiva no futebol que possibilita a construção de novas interpretações sobre suas identidades.Goffman (1978)Goffman E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Zahar; 1978. aponta que indivíduos que têm desvantagens físicas podem desenvolver estratégias sociais para minimizar a distância e o tratamento cauteloso que geralmente recebem. Essas estratégias atuam como uma forma de abrir caminho para a interação social. A escolha do futebol, esporte de maior apelo popular no Brasil, auxilia na visibilidade e no impacto das interpretações que aqueles que não são estigmatizados exercem sobre os anões. O futebol dos anões se constitui como um dos eventos importantes do bairro e atrai a atenção tanto daqueles que já conhecem esse evento quanto daqueles que se deparam com o jogo ao passar pela rua.

Os membros de uma categoria de estigma particular tendem a reunir-se em pequenos grupos sociais que partilham o mesmo traço (Goffman, 1978Goffman E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Zahar; 1978.). Esse tipo de envolvimento possibilita entender os artifícios na relação social e fornece um círculo de lamentação que possibilita um apoio moral. O futebol dos anões atua tanto como uma forma de socialização acerca das condições de desvantagens do estigma quanto de um espaço de sociabilidade. Assim que houve maior repercussão dos jogos, o Espaço Gol começou a receber a visita de outros indivíduos com nanismo. Podemos perceber que o futebol de anões sofreu um processo de alteração de ciclos de preferência semelhante ao descrito por Hirschman (1983)Hirschman A. De consumidor a cidadão: atividades privada e participação na vida pública. São Paulo: Brasiliense; 1983..

Hirschman (1983)Hirschman A. De consumidor a cidadão: atividades privada e participação na vida pública. São Paulo: Brasiliense; 1983. aponta que as demandas de participação na vida pública são semelhantes às de um consumidor e afirma que os atos de consumo são motivados por interesse, mas que podem também gerar frustrações. Compreende que existem ciclos de participação dos indivíduos que se alternam entre períodos de intensa participação pública e períodos de busca pela autorrealizaçao e pelo bem-estar. Esses ciclos de preferência são motivados por alguma frustração, que pode despertar um interesse por questões públicas. Podemos perceber que inicialmente o futebol era usado apenas como algo privado e voltado somente para questões particulares; mas na medida em que houve maior visibilidade, a equipe foi tomando representatividade política e tornou-se um espaço de ajuntamento de pessoas com nanismo, que poderiam se inspirar em seus exemplos e culminar na participação dos integrantes da equipe de futebol na Anaerj.

Há um processo de manipulação de identidade para o mercado a partir do futebol de anões. A identidade para o mercado é um conceito que procura explicar o que ocorre no, para e por meio do mercado. A identificação do sujeito com os modos de vida coletivos (as visões de mundo) é mediada pelo mercado (Machado, 2004Machado IJR. Estado-nação, identidade-para-o-mercado e representações de nação. Rev Antropol 2004;47(1):207-34.). É possível entender a identidade para o mercado por meio de duas formas: a mais comum é a ocorrência da identidade mercantilizada, na qual os indivíduos são definidos pelo acesso ao consumo de determinados bens. A outra forma é transformar uma identidade em sustento econômico, ou seja, vender-se e sustentar-se no mercado de trabalho por meio de imagens de identidade (Machado, 2004Machado IJR. Estado-nação, identidade-para-o-mercado e representações de nação. Rev Antropol 2004;47(1):207-34.). No caso do futebol de anões, verifica-se o uso de atributos específicos da identificação desses indivíduos para promover-se.

Machado (2004)Machado IJR. Estado-nação, identidade-para-o-mercado e representações de nação. Rev Antropol 2004;47(1):207-34. aponta que os imigrantes brasileiros pobres, para conseguir um emprego mais rapidamente nos bares da cidade do Porto, passam por um processo de exotização. Segundo o autor, os brasileiros incorporam os estereótipos do que seriam os "autênticos brasileiros" e buscam interagir com extrema simpatia e alegria com os outros, como forma de corresponder ao imaginário que os portugueses têm sobre o brasileiro.

Da mesma forma como os imigrantes brasileiros buscam corresponder ao imaginário dos portugueses para entrada no mercado de trabalho, os jogadores da equipe dos Pequeninos correspondem ao imaginário dos anões que se encontram na sociedade. Um imaginário de pessoas engraçadas e divertidas, que é reforçado nos programas humorísticos. O público que frequenta o Espaço Gol interage com os jogadores, com provocações e piadas. O público espera um misto de habilidade esportiva e cenas de humor nos jogos. Já os anões, correspondem ao fazer uma série de encenações e provocações entre si e com o público. As encenações se assemelham às cenas de humor protagonizadas por anões em programas humorísticos. Em nenhum momento foi relatado que os anões recebiam alguma remuneração ou cachê para se apresentar no Espaço Gol, embora tenham começado a receber convites para se apresentar em eventos particulares.

Há, no futebol de anões, uma linguagem de espetáculo que ganhou destaque em nossos tempos. Em toda sociedade na qual reinam as condições de produção capitalistas, a realidade se apresenta por meio de imagens que remontam aos espetáculos. Essas imagens possibilitam aos indivíduos compreender a sociedade mediante as aparências e o consumo, e não pela dura realidade (Debord, 1997Debord G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto;1997.). Esse apelo imagético busca preencher aquilo que falta à vida real do homem comum: uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia. É a forma mais elaborada de uma sociedade que desenvolveu ao extremo o fetichismo da mercadoria, na qual a felicidade está associada ao consumo.

Dessa maneira, as relações entre as pessoas transformam-se em espetáculos. O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas. Ninguém pode se opor abstratamente ao espetáculo na medida em que a realidade vivida é materialmente invadida pela contemplação. Quando o mundo real se transforma em simples imagens, essas tornam-se seres reais e são motivações eficientes de um comportamento (Debord, 1997Debord G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto;1997.). A análise de Debord (1997)Debord G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto;1997. busca compreender como o espetáculo se constitui em uma forma de representaçao da própria realidade. Dessa maneira, o espetáculo, por meio de imagens, ajuda a construir representações da vida real. Portanto, a demanda moderna pelo espetáculo não tem como objetivo apenas dar visibilidade, mas criar novas representações e valores na vida real.

O futebol foi construído para ser exibido a um público, pois tem divulgação em 20 outdoors espalhados pelo Rio de Janeiro e o horário das partidas foi modificado para melhor atender aos frequentadores. Além disso, a equipe não treina, apenas faz os jogos semanais. Durante a observação, não presenciei qualquer movimentação para que houvesse um treino técnico ou tático, o que mostra que o jogo é construído principalmente para a apreciação do público. Por sua vez, o time dos anões assume a lógica do espetáculo nos jogos, quer seja com a habilidade no futebol quer seja nas encenações de humor. E há ainda um favorecimento para que eles sobressaiam sobre seus adversários, que geralmente eram jogadores entre 10 a 13 anos. O goleiro dos anões tem maior estatura, o que facilitava a vitória para o seu time. Para que o jogo não atrasasse, os adversários entravam no time dos Pequeninos, porém não faziam gols, apenas davam passes. Afinal, o espetáculo era focado nos anões e em seus feitos. Todo esse cenário favorecia e ressaltava o espetáculo. Os anões mercantilizam a identidade não para a venda em si, mas para um mecanismo interno de valorização, com o objetivo de criar novas representações sobre si.

Não podemos esquecer que o exotismo confere visibilidade a essa atividade e acentua o caráter de espetáculo.Silva (2010)Silva LJ. O relativismo cultural e o arremesso de anão. Direitos Culturais, Santo Ângelo 2010;5(8):203-16. discute a prática do arremesso de anão, que ocorria em bares da Flórida, e apontou que a condição física do anão funciona como chamariz da atividade. O caráter do exotismo contido nesse ato factualmente atua como uma forma de dar visibilidade ao grupo e à atividade.

Podemos observar que a dedicação de João como técnico atua como uma espécie de retribuição ou dádiva relacionada ao dom futebolístico.Mauss (1974)Mauss M. Ensaio sobre a dádiva. In: MAUSS M, editor. Sociologia e antropologia. São Paulo: Epu/Edusp; 1974. argumenta que em todas as sociedades é possível constatar aspectos comuns sobre as relações de troca. O argumento central é que a dádiva produz alianças de diversos níveis (políticas, econômicas, religiosas, econômicas, jurídicas e diplomáticas). Há um entendimento da constituição da vida social por um constante dar e receber. O ato de dar pode assim se associar em maior ou menor grau a uma ideologia da generosidade, mas não existe a dádiva sem a expectativa de retribuição.

Damo (2008)Damo AS. Dom, Amor e dinheiro no futebol de espetáculo. RBCS, São Paulo 2008;23(66):139-209. aponta que é recorrente a valorização do dom no discurso dos jogadores de futebol, principalmente daqueles que são oriundos dos grupos populares. O dom é uma espécie de crença nativa usada para explicar o aprendizado no esporte. O debate sobre o dom credita o talento esportivo no futebol como recebido ou herdado por divindade. Os jogadores buscam retribuir o dom recebido de diferentes formas: quer seja dando bens para familiares (Damo, 2008Damo AS. Dom, Amor e dinheiro no futebol de espetáculo. RBCS, São Paulo 2008;23(66):139-209.) ou criando projetos esportivos, nos quais poderiam dar de volta parte do que receberam (Guedes et al., 2006Guedes SL, Davies JA, Rodrigues MA, Santos RM. Projetos sociais esportivos: notas de pesquisa. In: XII Encontro Regional de História Anpuh; 2006. p. 1-10.). A disponibilidade de João é uma forma de retribuir à sociedade suas experiências como jogador profissional de futebol.

Considerações finais

O futebol de anões atua como um processo de manipulação da identidade estigmatizada e viabiliza uma forma de identidade para o mercado e a correção do estigma. Essa segunda possibilidade ocorre na medida em que o nanismo não tem um tratamento que altere a condição de estigmatizado. A notoriedade no futebol se torna uma forma de romper com o imaginário de incapacidade e de agenciar uma maior aceitação social, isto é, uma maneira de abrir caminho para a interação social, nos termos de Goffman (1978)Goffman E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Zahar; 1978..

A identidade para o mercado é uma forma de valorização, com objetivo de criar novas representações sobre si. Os jogos têm uma linguagem do espetáculo, na qual é reforçado o imaginário sobre os anões. O público espera assistir a um espetáculo que vai além de um simples jogo de futebol. Soma-se a isso uma espécie de favorecimento para que os anões sobressaiam nos jogos.

Portanto, podemos perceber que o futebol de anões se constitui em um somatório de esforços, no qual todos os envolvidos saem ganhando: os anões rompem com o imaginário de incapacidade, buscam maior aceitação social, mesmo que para isso tenham de reforçar a ideia de pessoas engraçadas e divertidas; Ronaldo consegue maior visibilidade para seu negócio; João retribui o dom que acredita ser herdado e o público participa de uma atividade de entretenimento e pode começar a ver os indivíduos com nanismo de um modo mais humano.

Ao analisar a interação do futebol de anões e com o público, chegamos a uma questão paradoxal: para possibilitar uma melhor aceitação social, os anões acabam tendo de reforçar o próprio estereótipo que procuram negar.

  • 1
    Indivíduo com nanismo ou anão são termos usados para caracterizar a condição de tamanho de um indivíduo cuja altura é significativamente menor do que a média da população. Considera-se anão o homem que mede menos de 1,45 m e anã a mulher com altura inferior a 1,40 m. Existem dois tipos de nanismo, o proporcional e o desproporcional, no qual há encurtamento dos membros e acometimento da coluna vertebral (Behrman et al., 2009Behrman RE, Kliegman R, Jenson HB. Nelson: tratado de pediatria. 18ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009.). Nesta pesquisa não diferenciamos os indivíduos de acordo com a sua classificação de deficiência, pois indiferentemente de tal classificação esses indivíduos têm a baixa estatura como principal atributo depreciativo.
  • 2
    A prática do arremesso foi proibida pela Organização das Nações Unidas, que a tachou como sendo um "ato de degradação da espécie humana" (Silva, 2010Silva LJ. O relativismo cultural e o arremesso de anão. Direitos Culturais, Santo Ângelo 2010;5(8):203-16.).
  • 3
    O "arremesso de anão" consistia em pegar um anão pelo colo, erguê-lo sobre a cabeça e lançá-lo sobre colchões. O vencedor era aquele que conseguia arremessá-lo o mais longe possível (Silva, 2010Silva LJ. O relativismo cultural e o arremesso de anão. Direitos Culturais, Santo Ângelo 2010;5(8):203-16.).
  • 4
    Nome fictício.
  • 5
    Todos os indivíduos que participaram da pesquisa assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Ressaltamos que todos os nomes citados são fictícios.
  • 6
    Em referência à jogada de "bicicleta".

Referências

  • Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, LDA; 2009.
  • Becke RH. Métodos de pesquisa em ciências sociais. 3ª Ed. São Paulo: Hucitec; 1997.
  • Behrman RE, Kliegman R, Jenson HB. Nelson: tratado de pediatria. 18ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009.
  • Damo AS. Dom, Amor e dinheiro no futebol de espetáculo. RBCS, São Paulo 2008;23(66):139-209.
  • Debord G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto;1997.
  • Guedes SL, Davies JA, Rodrigues MA, Santos RM. Projetos sociais esportivos: notas de pesquisa. In: XII Encontro Regional de História Anpuh; 2006. p. 1-10.
  • Geertz C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC; 1989.
  • Goffman E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Zahar; 1978.
  • Hirschman A. De consumidor a cidadão: atividades privada e participação na vida pública. São Paulo: Brasiliense; 1983.
  • Labronice RHDD, Cunha MCB, Oliveira ASB, Gabbai AA. Esporte como fator de integração do deficiente físico na sociedade. Arq Neuropsiquiatr 2000;58(4):1092-9.
  • Magnani JGC. De perto e de dentro: notas para uma antropologia urbana. Rev Bras Ci Soc 2002;17(49):12-30.
  • Magnani JGC. Discurso e representação ou de como os Baloma de Kiriwana podem reencarnar-se nas atuais pesquisas. In: Cardoso R. (Org.). A aventura antropológica: teoria e pesquisa. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
  • Machado IJR. Estado-nação, identidade-para-o-mercado e representações de nação. Rev Antropol 2004;47(1):207-34.
  • Mauss M. Ensaio sobre a dádiva. In: MAUSS M, editor. Sociologia e antropologia. São Paulo: Epu/Edusp; 1974.
  • Minayo MCS. Pesquisa qualitativa em saúde. 2. ed. SP: HUCITEC/RJ: ABRASCO, 1993.
  • Sassaki RK. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 8ª. Ed. Rio de Janeiro: WVA; 2010.
  • Silva LJ. O relativismo cultural e o arremesso de anão. Direitos Culturais, Santo Ângelo 2010;5(8):203-16.
  • Stigger MP. Lazer, esporte e estilos de vida. Campinas: Autores associados 2002.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2015

Histórico

  • Recebido
    25 Jan 2013
  • Aceito
    05 Fev 2014
Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte Universidade de Brasilia - Campus Universitário Darcy Ribeiro, Faculdade de Educação Física, Asa Norte - CEP 70910-970 - Brasilia, DF - Brasil, Telefone: +55 (61) 3107-2542 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: rbceonline@gmail.com