Acessibilidade / Reportar erro

Estudo de caso de um programa individualizado de natação em cadeirante portador de poliomielite: análise de parâmetros bioquímicos, qualidade de vida e capacidade física funcional

Case study of individualized swimming program in poliomielite beach chain: analysis of biochemical parameters, quality in life and functional physical capability

Ejemplo de un programa individualizado de natación en usuarios de silla de ruedas para poliomielíticos: análisis de parámetros bioquímicos, calidad de vida y capacidad física funcional

Resumo

Objetivo

investigar os efeitos de um programa de natação supervisionado sobre parâmetros bioquímicos, qualidade de vida e capacidade física funcional em cadeirante portador de poliomielite.

Metodologia

Estudo de caso longitudinal com dois indivíduos portadores de poliomielite, do sexo feminino, submetidos a um programa de natação de 12 semanas, com frequência de duas sessões semanais e duração das aulas de 60 minutos. Foram feitas análises bioquímicas através de hemograma, parâmetros de qualidade de vida, com o SF-36 e testes de aptidão física funcional de alcançar atrás das costas e arremesso. As avaliações foram feitas 48 horas antes e após o programa de treinamento.

Resultados

O programa de natação reduziu em 19% o colesterol, 18% o triglicerídeo, 11% a glicose, 42% os níveis de ansiedade. Concomitantemente, aumentou a saúde geral em 13%, a mental em 11%, a força de membros superiores em 10% e a flexibilidade em 23%.

PALAVRAS-CHAVE
Cadeirante; Programa de natação; Saúde mental; Aptidão física

Abstract

The aim of the present study was to investigate the effects of a supervised swimming program on biochemical parameters, quality of life and functional physical capacity in poliomyelitis - bearing wheelchair users.

Methodology

Longitudinal case / control study, both with poliomyelitis, female wheelchair users. The evaluations were made forty-eight hours pre- and post-training program. Our results indicate that the swimming program reduced cholesterol by 19%, triglyceride by 18%, glucose by 11%, and anxiety levels by 42%. Concomitantly, overall health increased by 13%, mental health by 11%, upper limb strength by 10%, and flexibility by 23%.

KEYWORDS
Wheelchair; Swimming program; Mental health; Physical fitness

Resumen

El objetivo de este estudio fue investigar los efectos de un programa de natación supervisado en parámetros bioquímicos, calidad de vida y capacidad física funcional en usuarios de silla para poliomielítico.

Métodos

Estudio longitudinal de casos y controles con dos individuos poliomielíticos, de sexo femenino, que siguieron un programa de natación de doce semanas de duración, con una frecuencia de dos sesiones semanales y clases en aula de sesenta minutos. Las evaluaciones se realizaron 48 horas antes y después del programa de entrenamiento. Nuestros resultados muestran que el programa de natación redujo el colesterol el 19%, los triglicéridos el 18%, la glucosa el 11% y los niveles de ansiedad el 42%. Al mismo tiempo, la salud general aumentó el 13%, la salud mental el 11%, la fuerza de las extremidades superiores el 10% y la flexibilidad el 23%.

PALABRAS CLAVE
Silla de ruedas; Programa de natación; Salud mental; Condición física

Introdução

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45,6 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência no Brasil, o que corresponde a 23% da população (Oliveira et al., 2010). Algumas dessas deficiências podem ser causadas por poliomielite (Bakker et al., 2016Bakker et al., 2016 Bakker M, Schipper K, Koopman FS, Nollet F, Abma TA. Experiences and perspectives of patients with post-polio syndrome and therapists withexercise and cognitive behavioural therapy. BMC Neurol. 2016;10:16-23.). A poliomielite é uma doença contagiosa causada pelo poliovírus (sorotipos 1, 2, 3) (WHO, 2015WHO, 2015 WHO. Preparing for the withdrawal of all oral polio vaccines (OPVs): Replacing trivalent OPV with bivalent OPV Frequently Asked Questions. EPI. Global Polio Eradication Initiative. February 2015.). Muitas pessoas com histórico de poliomielite na infância ficam paraplégicas e usam cadeira de rodas por toda a vida (Bakker et al., 2016Bakker et al., 2016 Bakker M, Schipper K, Koopman FS, Nollet F, Abma TA. Experiences and perspectives of patients with post-polio syndrome and therapists withexercise and cognitive behavioural therapy. BMC Neurol. 2016;10:16-23.; On et al., 2006On et al., 2006 On AY, Oncu J, Atamaz F, Durmaz B. Impact of post-polio-related fatigue on quality of life. J Rehabil Med. 2006;38:329-33.). Consequentemente, essas pessoas têm reportado complicações funcionais do decorrer da vida, culminam em dores musculares, fraqueza muscular generalizada e declínio funcional nas capacidades fisicas, com diminuição significativa de sua qualidade de vida (On et al., 2006On et al., 2006 On AY, Oncu J, Atamaz F, Durmaz B. Impact of post-polio-related fatigue on quality of life. J Rehabil Med. 2006;38:329-33.).

Por outro lado, o treinamento físico tem prevenido o declínio funcional e melhorado a qualidade de vida em indivíduos com deficiência fisica que usam cadeira de rodas (Cragg et al., 2012Cragg et al., 2012 Cragg JJ, Stone JA, Krassioukov AV. Management of cardiovascular disease risk factors in individuals with chronic spinal cord injury: an evidence-based review. J Neurotrauma. 2012;29.; Jacobs et al., 2004Jacobs e Nash, 2004 Jacobs PL, Nash MS. Exercise recommendations for individuals with spinal cord injury. Sports Med. 2004;34:727-51.). Levandoski e Cardoso, 2007Levandoski e Cardoso, 2007 Levandoski, G; Cardoso, AS. Atletas de basquetebol em cadeiras de rodas da cidade de Florianópolis: uma análise descritiva das lesões dos praticantes. In: 6° Fórum Internacional de Esportes. Anais em CD, Florianópolis, 2007. reportaram que indivíduos cadeirantes apresentaram maiores dificuldades na busca por modalidades esportivas, quando comparados com não cadeirantes. Contudo, é importante destacar que indivíduos portadores de poliomielite cadeirantes praticantes de esportes como basquetebol (Levandoski et al., 2007Levandoski e Cardoso, 2007 Levandoski, G; Cardoso, AS. Atletas de basquetebol em cadeiras de rodas da cidade de Florianópolis: uma análise descritiva das lesões dos praticantes. In: 6° Fórum Internacional de Esportes. Anais em CD, Florianópolis, 2007.) e handebol (Itani et al., 2004Itani et al., 2004 Itani DE, Araújo PF, Almeida JJG. Esporte adaptado construindo a partir de possibilidades: handebol adaptado. Rev Digital E F Desportes. 2004;72:1.) apresentaram melhoria significativa dos parâmetros qualidade de vida e capacidade funcional. Como consequência, a incidência de intercorrências médicas foi reduzida nessa população. Isso sugere que a prática de exercício físico regular é importante para a manutenção da saúde e qualidade de vida de indivíduos com deficiência física.

Mais especificamente em relação às atividades aquáticas, Willen e Scherman, 2002Willen e Scherman, 2002 Willen C, Scherman MH. Group training in a pool causes ripples on the water: experiences by persons with late effects of polio. J Rehabil Med. 2002;34:191-7. reportaram melhorias nos níveis de dores em pessoas com poliomielite submetidas aos exercícios de flexão e extensão no meio aquático. Strumse, Stanghelle, Utne, Ahlvin e Svendsby, 2003Strumse et al., 2003 Strumse YA, Stanghelle JK, Utne L, Ahlvin P, Svendsby EK. Treatment of patients with post-polio syndrome in a warm climate. Disabil Rehabil. 2003;25:77-84. demostraram melhorias no padrão de marcha em pessoas após treinamento aquático de caminhadas. Entretanto, ainda pairam dúvidas, especificamente sobre os efeitos de um programa individualizado de natação sobre parâmetros de bioquímicos, qualidade de vida e aptidão física em cadeirantes portadores de poliomielite.

A partir desse pressuposto o objetivo do presente estudo foi verificar os efeitos de um programa de natação sobre parâmetros bioquímicos, qualidade de vida e capacidades físicas funcionais em sujeitos portadores de poliomielite cadeirantes. Nossa hipótese é que o programa de natação pode promover ajustes significativos que melhorem a qualidade de vida e da saúde de indivíduos com deficiência física que usem cadeira de rodas.

Metodologia

Desenho do estudo: Estudo de caso longitudinal com duas mulheres portadoras de poliomielite, uma (caso) submetida a um programa de natação supervisionado e outra (controle) que não fez qualquer tipo de atividade física ou fisioterapia durante o estudo. As avaliações foram feitas 48 oito horas pré e pós-intervenção. Foram feitas análises bioquímicas, parâmetros de qualidade de vida e testes de aptidão física.

Histórico do caso: Tem poliomielite desde os dois anos e até os 20 usava muletas para se locomover. Aos 21 engravidou e para diminuir os riscos de queda em função da gravidez optou pelo uso de cadeira de rodas que usa até a presente data. Não pratica qualquer tipo de exercício físico há seis meses e tem função preservada de membros superiores. Histórico do controle: Tem poliomielite desde um ano, apresenta os mesmos atributos do caso intervenção, porém não fez o programa de natação.

Características dos sujeitos: Indivíduo (caso) com poliomielite cadeirante do sexo feminino (53 anos/75 quilos/1,60m) e com indicação médica para a prática. Indivíduo (controle), com poliomielite cadeirante do sexo feminino (57 anos/65 quilos/1,52m), tem função preservada de membros superiores e indicação para pratica de exercícios. Ambos os sujeitos não apresentam qualquer outro tipo de patologia, nem lesão musculoarticular que pode comprometer os exercícios ou ser agravada durante o estudo.

Critérios de inclusão: Foram inclusas no estudo duas mulheres portadoras de poliomielite, que não apresentavam contraindicação para prática de exercícios, não portadoras de outra patologia, que tinham função preservada de membros superiores, ambas usam cadeiras de rodas e aceitaram participar do estudo. Antes do início assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade do Extremo Sul Catarinense (CAEE 47136715.20000.0119) em 2016.

Protocolo de treinamento: O treinamento de natação teve duração de 12 semanas, foram feitas duas sessões por semana (quartas e sextas-feiras) das 9h às10h. Foram 24 sessões de agendamento, porem houve três faltas, total de 21 aulas. No início de cada sessão foi feito um alongamento de forma geral e um aquecimento dentro da piscina. Os nados trabalhados foram o crawl e costas. Foram feitos seis exercícios por aula com metragem de 50 metros cada exercício, volume final de 300 metros de natação por sessão. O programa de exercícios físicos obteve os cuidados sugeridos pelas diretrizes do ACMS (Thompson et al., 2009Thompson et al., 2009 Thompson W, Gordon N, Pescatello L. Exercise prescription for other clinical populations. ACSM's guidelines for exercise testing and prescription. 8thed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2009. p. 380.). As atividades foram feitas em piscina semiolímpica com temperatura da água 27°±1.

Analises antropométricas, parâmetros bioquímicos e testes físicos: 48 horas antes e depois do programa de natação foram feitas as avaliações. As análises antropométricas (peso, altura e idade) de dobras cutâneas (tricipital, bicipital subescapular e suprailíaca) foram mensuradas com o protocolo de Durnine Womersley (1974)Durnin e Worsley, 1974 Durnin JVA, Worsley J. Body fat assessed from total body density and its estimation from skinfold thickness: measurements on 481 men and women aged from 16 to 72 years. Br J Nutr. 1974;32:77-97. específico para pessoas acima dos 50 anos. Em relação aos perímetros corporais foi analisada a relação cintura e quadril, pois apresenta correlação direta com a saúde dos indivíduos. As análises bioquímicas foram feitas através do hemograma, foi retirado o sangue dos sujeitos e homogeneizado com ácido etilenodiaminotetraacético (EDTA) como anticoagulante, na proporção de 0,1 ml EDTA/5 ml sangue. Exames laboratoriais de glicose circulante foram feitos através do método enzimático calorimétrico, o colesterol e os triglicerídeos pelo método enzimático automatizado. Dois enfermeiros treinados foram recrutados para obtenção das amostras sanguíneas, as voluntárias fizeram o jejum de 12 horas. Para verificação da qualidade de vida foi aplicada a versão brasileira do questionário de qualidade de vida SF-36 (Campolina et al., 2011Campolina et al., 2011 Campolina AG, Bortoluzzo AB, Ferraz MB, Ciconelli RM. Validação da versão brasileira do questionário genérico de qualidade de vida short-form 6 dimensions. Cien Saude Colet. 2011;16:3103-10.), analisaram-se os quesitos de saúde geral e mental. A quantificação nos níveis de ansiedade foi mensurada através da aplicação do inventário de Beck, adaptado por Cunha (2001)Cunha, 2001 Cunha JA. 2001 Manual da versão em português das escalas Beck. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2001., para a população brasileira. As aptidões físicas foram analisadas com o teste de flexibilidade Alcançar Atrás das Costas proposto por Rikli & Jones (1999)Rikli e Jones, 1999 Rikli RE, Jones CJ. Development and validation of a functional fitness test for community-residing older adults. J Aging Phys Act. 1999;7:129-61.. Para quantificação da força muscular de membros superiores foi usado o teste de arremesso, com uma bola de medicine ball que pesava dois quilogramas, proposto por Gaya et al., (2012)Gaya et al., 2012 Gaya A, Lemos A, Gaya A, Teixeira D, Pinheiro E, Moreira R. Projeto Esporte Brasil: Manual de teste e avaliação. Porto Alegre: Proesp-Br. 2012..

Analise estatística: Como este é um estudo de caso, a análise estatística dos resultados foi descritiva, foram organizados em valores absolutos (medidas antropométricas, parâmetros bioquímicos, qualidade de vida, força muscular e flexibilidade). Os aumentos e as diminuições obtidos foram apresentados e discutidos estatisticamente através dos valores percentuais.

Resultados

O programa de natação reduziu em 7% o IMC (27,2 kg/m2), 5% o percentual de gordura (32,2 mm), 4% a circunferência da cintura (105 cm) e 3% a do quadril (111 cm) quando comparados com os valores pré-programa (29,3 kg/m2; 34 mm; 110 cm; 115 cm), respectivamente. No controle houve um aumento de 9% no IMC (30,6 kg/m2), 10% no percentual de gordura (33,7 mm), 1% na circunferência de cintura (98 cm) e 5% no quadril (99 cm) em relação aos valores pré-programa (28,1 kg/m2; 30,7 mm; 97 cm; 94 cm) (tabela 1).

Tabela 1
Dados antropométricos

O programa de natação reduziu em 19% o colesterol (177 mg/dl), 18% o triglicerídeo (210 mg/dl) e 11% os níveis de glicose (71 mg/dl) quando comparados com os valores pré-programa (221 mg/dl; 258 mg/dl; 80 mg/dl), respectivamente. No controle houve um aumento de 5% do colesterol (250 mg/dl), 8% do triglicerídeo (65 mg/dl) e 8% da glicose (82 mg/dl) em relação aos valores pré-programa (239 mg/dl; 60 mg/dl; 76 mg/dl) (tabela 2).

Tabela 2
Análises bioquímicas

O programa de natação melhorou a qualidade de vida em 13% no quesito saúde geral (82 pontos), 11% no quesito saúde mental (98 pontos) e reduziu em 42% os níveis de ansiedade (8 pontos) quando comparados com o pré-treinamento (72 pontos; 88 pontos; 14 pontos) respectivamente. Em relação às aptidões físicas funcionais o programa de natação aumentou em 10% a força de membros superiores (180 cm) e 23% a flexibilidade (21 cm), quando comparados com o pré-treinamento (160 cm; 17 cm). No controle os percentuais de saúde geral, mental, força de membros superiores e flexibilidade não foram alterados (tabela 3).

Tabela 3
Parâmetros de saúde e aptidão física

Discussão

De acordo com Melo (2009)Melo, 2009 Melo ACR. Descrição da aptidão inicial para natação em lesionados medulares. Rev Bras Med Esporte. 2009;15:441-5., o exercício físico feito no meio aquático é amplamente indicado para indivíduos que usam cadeira de rodas, tendo em vista a facilitação de locomoção no meio e a melhoria dos diversos sistemas corporais modulados pelos exercícios, que respondem de maneira simular quando comparados com indivíduos não cadeirantes. Entretanto, pouco se sabe sobre os efeitos de um programa de natação em relação aos parâmetros bioquímicos, de qualidade de vida e aptidão física funcional em indivíduos portadores de poliomielite cadeirantes. O presente estudo de caso demonstrou que o programa de natação supervisionado alterou as seguintes variáveis: a) reduziu o percentual de gordura e os perímetros corporais da região da cintura e quadril; b) diminui o colesterol, os triglicerídeos, a glicose circulante; c) melhorou a qualidade de vida nos quesitos saúde geral, saúde mental e ansiedade; d) aumentou as aptidões físicas funcionais de força nos membros superiores e flexibilidade em cadeirante portador de poliomielite.

É fato que após programas de exercícios físicos ocorrem melhorias na composição corporal e em diversos parâmetros antropométricos (Bakkeret al., 2016Bakker et al., 2016 Bakker M, Schipper K, Koopman FS, Nollet F, Abma TA. Experiences and perspectives of patients with post-polio syndrome and therapists withexercise and cognitive behavioural therapy. BMC Neurol. 2016;10:16-23.; Silva et al., 2005Silva et al., 2005 Silva MCR, Oliveira RJ, Conceição MIG. Efeitos da natação sobre a independência funcional de pacientes com lesão medular. Rev Bras Med Esporte. 2005;11:251-6.; Assumpção et al., 2002Assumpção et al., 2002 Assumpção LOT, Morais PP, Fontura H. Relação entre atividade física, saúde e qualidade de vida. Revista Digital E F Desportos. 2002;52:1-3.). Nossos resultados sugerem que o programa de natação conduzido por 12 semanas reduz o percentual de gordura e melhora parâmetros antropométricos (RCQ) diretamente relacionados com a saúde. Kim et al. (2015)Kim et al., 2015 Kim DI, Lee H, Lee BS, Kim J, Jeon JY. Effects of a 6-Week Indoor Hand-Bike Exercise Program on Health and Fitness Levels in People With Spinal Cord Injury: A Randomized Controlled Trial Study. Arch Phys Med Rehabil. 2015;96:2033-40. demonstraram reduções similares no percentual de gordura e na relação RCQ, após programa de exercícios regulares com duração de seis semanas em indivíduos cadeirantes.

Diversos estudos têm apontado que exercício aeróbio tem melhorado alguns parâmetros bioquímicos em indivíduos portadores de lesão medular que usam cadeira de rodas (Kim et al., 2005; Taylor et al., 2011Taylor et al., 2011 Taylor JA, Picard G, Widrick JJ. Aerobic capacity with hybrid FES rowing in spinal cord injury: comparison with arms-only exercise and preliminary findings with regular training. PM&R. 2011;3:817-24.; Keyser et al., 2003Keyser et al., 2003 Keyser RE, Rasch EK, Finley M. Improved upper-body endurance following a 12-week home exercise program for manual wheelchair users. J Rehabil Res Dev. 2003;40:501-10.; Jeon et al., 2002Jeon et al., 2002 Jeon J, Weiss C, Steadward RD. Improved glucose tolerance and insulin sensitivity after electrical stimulation-assisted cycling in people with spinal cord injury. Spinal Cord. 2002;40:110-7.). Nossos resultados sugerem que o colesterol, triglicerídeos e a glicemia reduziram significativamente após o programa de natação em cadeirantes. Quintana (2008)Quintana e Neiva, 2008 Quintana R, Neiva CM. Fatores de risco para síndrome metabólica em cadeirantes – Jogadores de basquetebol e não praticantes. Rev Bras Med Esporte. 2008;14:188-91. apontam que o esporte praticado de forma regular é eficaz para ajudar a controlar parâmetros bioquímicos, independentemente do tipo de população estudada. Alterações positivas no controle do colesterol, triglicerídeos e da glicemia em indivíduos com lesão medular submetidos à prática de exercício físico têm sido reportadas (Kim et al., 2015Kim et al., 2015 Kim DI, Lee H, Lee BS, Kim J, Jeon JY. Effects of a 6-Week Indoor Hand-Bike Exercise Program on Health and Fitness Levels in People With Spinal Cord Injury: A Randomized Controlled Trial Study. Arch Phys Med Rehabil. 2015;96:2033-40.; Jeon et al., 2010Jeon et al., 2010 Jeon JY, Hettinga D, Steadward RD. Reduced plasma glucose and leptin after 12 weeks of functional electrical stimulation-rowing exercise training in spinal cord injury patients. Arch Phys Med Rehabil. 2010;91:1957-9.).

Estudos têm demonstrado que a prática de exercícios físicos para cadeirantes ajuda no melhoramento de aptidões físicas, como ganho de força e flexibilidade (Bakker et al., 2016Bakker et al., 2016 Bakker M, Schipper K, Koopman FS, Nollet F, Abma TA. Experiences and perspectives of patients with post-polio syndrome and therapists withexercise and cognitive behavioural therapy. BMC Neurol. 2016;10:16-23., Tweedy et al., 2016; Itani et al., 2004Itani et al., 2004 Itani DE, Araújo PF, Almeida JJG. Esporte adaptado construindo a partir de possibilidades: handebol adaptado. Rev Digital E F Desportes. 2004;72:1.). Segundo Polachini, a flexibilidade é uma capacidade física indispensável para a melhoria da qualidade de vida do cadeirante. Nossos resultados demonstram melhorias na força e flexibilidade dos membros superiores no cadeirante submetido ao programa de natação. Segundo Panhan et al., 2011Panhan e Castro, 2011 Panhan CA, Castro EM. Atividade física adaptada não sedentária. Rev Prof Sobama. 2011;7:4-10., os exercícios feitos na água proporcionam estimulação dos músculos exercitados, fortalecem a musculatura e ajudam no melhoramento da força e flexibilidade. Recentemente, um estudo duplo cego, conduzido em pessoas com poliomielite cadeirantes, demonstrou que o exercício físico reduz fadiga muscular e melhora a qualidade de vida geral (Koopman et al., 2010Koopman et al., 2010 Koopman FS, Beelen A, Gerrits KH, Bleijenberg G, Abma TA, Visser M. Exercise therapy and cognitive behavioural therapy to improve fatigue, daily activity performance and quality of life in postpoliomyelitis syndrome: the protocol of the FACTS-2-PPS trial. BMC Neurol. 2010;18:10-8.).

A literatura tem apontado efeitos positivos na qualidade de vida em indivíduos com poliomielite submetidos a programas de exercícios terapêuticos (Jensen et al., 2011Jensen et al., 2011 Jensen MP, Alschuler KN, Smith AE, Verrall AM, Molton IR. Pain and fatigue in persons with postpolio syndrome: independent effects on functioning. ArchPhys Med Rehabil. 2011;92:1796-801.; On et al., 2006On et al., 2006 On AY, Oncu J, Atamaz F, Durmaz B. Impact of post-polio-related fatigue on quality of life. J Rehabil Med. 2006;38:329-33.). Sobre os parâmetros de qualidade de vida, avaliamos a saúde geral, saúde mental e ansiedade. Nossos resultados demonstram que esses três parâmetros melhoraram após o programa de exercício físico (natação) supervisionado no portador de poliomielite cadeirante. Estudos têm apontado que o exercício físico pode proporcionar a pessoas com deficiência física melhorias na saúde geral, mental, autonomia e longevidade (Taylor et al., 2011Taylor et al., 2011 Taylor JA, Picard G, Widrick JJ. Aerobic capacity with hybrid FES rowing in spinal cord injury: comparison with arms-only exercise and preliminary findings with regular training. PM&R. 2011;3:817-24.; Keyser et al., 2003Keyser et al., 2003 Keyser RE, Rasch EK, Finley M. Improved upper-body endurance following a 12-week home exercise program for manual wheelchair users. J Rehabil Res Dev. 2003;40:501-10.; Jeon et al., 2002Jeon et al., 2002 Jeon J, Weiss C, Steadward RD. Improved glucose tolerance and insulin sensitivity after electrical stimulation-assisted cycling in people with spinal cord injury. Spinal Cord. 2002;40:110-7.;). Nós especificamente apontamos que portadores de poliomielite cadeirantes submetidos à pratica de natação melhoram a saúde geral mental de maneira similar. Uma das explicações possíveis é o fato de o exercício físico aumentar a produção de um aminoácido chamado triptofano precursor de serotonina que atua em áreas cerebrais específicas relacionadas à melhoria dos parâmetros supracitados. Para Grasseli et al. (2002)Grasselli e Paula, 2002 Grasselli SM, Paula AH. Aspectos da atividade aquática para deficientes. Revista Digital E F Deportes. 2002;8:1., os exercícios físicos aquáticos satisfazem as necessidades do deficiente físico, especialmente a necessidades de ação, por isso eles devem ser vistos como fator de desenvolvimento tanto físico como de saúde mental. Por fim, como limitação do presente estudo, apontamos a necessidade de estudos clínicos randomizados com maior número amostral. Destacamos ainda a falta de controle da intensidade do exercício, fica então um desafio para futuros estudos.

Conclusão

Os resultados apresentados neste estudo de caso sugerem novas perspectivas para o uso da natação como importante atividade física para cadeirantes portadores de poliomielite que buscam a melhoria da qualidade de vida e possivelmente ajustes positivos em parâmetros bioquímicos preditores do estado de sua saúde

Referências

  • Assumpção et al., 2002
    Assumpção LOT, Morais PP, Fontura H. Relação entre atividade física, saúde e qualidade de vida. Revista Digital E F Desportos. 2002;52:1-3.
  • Bakker et al., 2016
    Bakker M, Schipper K, Koopman FS, Nollet F, Abma TA. Experiences and perspectives of patients with post-polio syndrome and therapists withexercise and cognitive behavioural therapy. BMC Neurol. 2016;10:16-23.
  • Campolina et al., 2011
    Campolina AG, Bortoluzzo AB, Ferraz MB, Ciconelli RM. Validação da versão brasileira do questionário genérico de qualidade de vida short-form 6 dimensions. Cien Saude Colet. 2011;16:3103-10.
  • Cunha, 2001
    Cunha JA. 2001 Manual da versão em português das escalas Beck. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2001.
  • Cragg et al., 2012
    Cragg JJ, Stone JA, Krassioukov AV. Management of cardiovascular disease risk factors in individuals with chronic spinal cord injury: an evidence-based review. J Neurotrauma. 2012;29.
  • Durnin e Worsley, 1974
    Durnin JVA, Worsley J. Body fat assessed from total body density and its estimation from skinfold thickness: measurements on 481 men and women aged from 16 to 72 years. Br J Nutr. 1974;32:77-97.
  • Gaya et al., 2012
    Gaya A, Lemos A, Gaya A, Teixeira D, Pinheiro E, Moreira R. Projeto Esporte Brasil: Manual de teste e avaliação. Porto Alegre: Proesp-Br. 2012.
  • Grasselli e Paula, 2002
    Grasselli SM, Paula AH. Aspectos da atividade aquática para deficientes. Revista Digital E F Deportes. 2002;8:1.
  • Itani et al., 2004
    Itani DE, Araújo PF, Almeida JJG. Esporte adaptado construindo a partir de possibilidades: handebol adaptado. Rev Digital E F Desportes. 2004;72:1.
  • Jacobs e Nash, 2004
    Jacobs PL, Nash MS. Exercise recommendations for individuals with spinal cord injury. Sports Med. 2004;34:727-51.
  • Jensen et al., 2011
    Jensen MP, Alschuler KN, Smith AE, Verrall AM, Molton IR. Pain and fatigue in persons with postpolio syndrome: independent effects on functioning. ArchPhys Med Rehabil. 2011;92:1796-801.
  • Jeon et al., 2010
    Jeon JY, Hettinga D, Steadward RD. Reduced plasma glucose and leptin after 12 weeks of functional electrical stimulation-rowing exercise training in spinal cord injury patients. Arch Phys Med Rehabil. 2010;91:1957-9.
  • Jeon et al., 2002
    Jeon J, Weiss C, Steadward RD. Improved glucose tolerance and insulin sensitivity after electrical stimulation-assisted cycling in people with spinal cord injury. Spinal Cord. 2002;40:110-7.
  • Keyser et al., 2003
    Keyser RE, Rasch EK, Finley M. Improved upper-body endurance following a 12-week home exercise program for manual wheelchair users. J Rehabil Res Dev. 2003;40:501-10.
  • Kim et al., 2015
    Kim DI, Lee H, Lee BS, Kim J, Jeon JY. Effects of a 6-Week Indoor Hand-Bike Exercise Program on Health and Fitness Levels in People With Spinal Cord Injury: A Randomized Controlled Trial Study. Arch Phys Med Rehabil. 2015;96:2033-40.
  • Koopman et al., 2010
    Koopman FS, Beelen A, Gerrits KH, Bleijenberg G, Abma TA, Visser M. Exercise therapy and cognitive behavioural therapy to improve fatigue, daily activity performance and quality of life in postpoliomyelitis syndrome: the protocol of the FACTS-2-PPS trial. BMC Neurol. 2010;18:10-8.
  • Levandoski e Cardoso, 2007
    Levandoski, G; Cardoso, AS. Atletas de basquetebol em cadeiras de rodas da cidade de Florianópolis: uma análise descritiva das lesões dos praticantes. In: 6° Fórum Internacional de Esportes. Anais em CD, Florianópolis, 2007.
  • Melo, 2009
    Melo ACR. Descrição da aptidão inicial para natação em lesionados medulares. Rev Bras Med Esporte. 2009;15:441-5.
  • On et al., 2006
    On AY, Oncu J, Atamaz F, Durmaz B. Impact of post-polio-related fatigue on quality of life. J Rehabil Med. 2006;38:329-33.
  • Panhan e Castro, 2011
    Panhan CA, Castro EM. Atividade física adaptada não sedentária. Rev Prof Sobama. 2011;7:4-10.
  • Quintana e Neiva, 2008
    Quintana R, Neiva CM. Fatores de risco para síndrome metabólica em cadeirantes – Jogadores de basquetebol e não praticantes. Rev Bras Med Esporte. 2008;14:188-91.
  • Rikli e Jones, 1999
    Rikli RE, Jones CJ. Development and validation of a functional fitness test for community-residing older adults. J Aging Phys Act. 1999;7:129-61.
  • Silva et al., 2005
    Silva MCR, Oliveira RJ, Conceição MIG. Efeitos da natação sobre a independência funcional de pacientes com lesão medular. Rev Bras Med Esporte. 2005;11:251-6.
  • Strumse et al., 2003
    Strumse YA, Stanghelle JK, Utne L, Ahlvin P, Svendsby EK. Treatment of patients with post-polio syndrome in a warm climate. Disabil Rehabil. 2003;25:77-84.
  • Taylor et al., 2011
    Taylor JA, Picard G, Widrick JJ. Aerobic capacity with hybrid FES rowing in spinal cord injury: comparison with arms-only exercise and preliminary findings with regular training. PM&R. 2011;3:817-24.
  • Thompson et al., 2009
    Thompson W, Gordon N, Pescatello L. Exercise prescription for other clinical populations. ACSM's guidelines for exercise testing and prescription. 8thed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2009. p. 380.
  • WHO, 2015
    WHO. Preparing for the withdrawal of all oral polio vaccines (OPVs): Replacing trivalent OPV with bivalent OPV Frequently Asked Questions. EPI. Global Polio Eradication Initiative. February 2015.
  • Willen e Scherman, 2002
    Willen C, Scherman MH. Group training in a pool causes ripples on the water: experiences by persons with late effects of polio. J Rehabil Med. 2002;34:191-7.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2018

Histórico

  • Recebido
    11 Dez 2016
  • Aceito
    12 Jan 2018
Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte Universidade de Brasilia - Campus Universitário Darcy Ribeiro, Faculdade de Educação Física, Asa Norte - CEP 70910-970 - Brasilia, DF - Brasil, Telefone: +55 (61) 3107-2542 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: rbceonline@gmail.com