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Entre a motivação, a alteridade e as demonstrações de resultados nos corpos: o Instagram e as estratégias de treinadores/as fitness para colocar em evidência seu exercício profissional

Between motivation, alterity and demonstrations of results in bodies: Instagram and the strategies of fitness coaches to highlight their professional practice

Entre la motivación, la alteridad y las demostraciones de resultados en los cuerpos: Instagram y las estrategias de los preparadores físicos para resaltar su práctica profesional

RESUMO

Este artigo identifica e analisa as estratégias que os/as treinadores/as das “musas fitness” acionam para colocar em evidência seu exercício profissional no Instagram. Para tanto, ao longo de quinze dias as postagens de sete personal trainers foram acompanhadas e suas imagens e textos analisados. Por meio de estratégias semelhantes às usadas por segmentos de autoajuda, buscaram motivar seus/as seguidores/as à adesão e permanência em programas de exercício, processo que evidenciou a “indolência” e a “preguiça” como marcas de alteridade. O corpo foi acionado para materializar as conquistas dos/as “perseverantes” e o fracasso dos/as “negligentes”, além de informar sobre as habilidades técnicas e atestar sobre a competência profissional desses/as treinadores/as.

Palavras-chave:
Cultura fitness; Instagram; Exercício profissional; Corpo

ABSTRACT

This article identifies and analyzes the strategies that coaches of “fitness muses” use to highlight their professional practice on Instagram. For that, over fifteen days, the posts of seven coaches were monitored, and their images and texts were analyzed. Through strageties similar to those used by self-help segments, the coaches sought to motivate their followers to adhere and persist in the workout programs, a process that evidenced “indolence” and “laziness” as marks of alterity. The body was activated to materialize the achievements of the “perseverants” and the failure of the “negligents”, in addition to informing about the technical skills and attesting to the professional competency of these coaches.

Keywords:
Fitness culture; Instagram; Profissional practice; Body

Resumem

Este artículo identifica y analiza las estrategias que utilizan los entrenadores de las “musas del fitness” para destacar su práctica profesional en Instagram. Para ello, durante quince días se monitorearon las publicaciones de siete entrenadores y se analizaron sus imágenes y textos. A través de estrategias similares a las utilizadas por los segmentos de autoayuda, los entrenadores buscaron motivar a sus seguidores a adherirse y permanecer en los programas de ejercicio, proceso que evidenció la “pereza” y la “pereza” como marcas de alteridad. El organismo se activó para materializar los logros de los “perseverantes” y el fracaso de los “negligentes”, además de informar sobre las habilidades técnicas y dar fe de la competencia profesional de estos entrenadores.

Palabras-clave:
Cultura fitness; Instagram; Ejercicio professional; Cuerpo

INTRODUÇÃO

De acordo com Azambuja (2012Azambuja CC. Efeitos McLuhan. In: Montaño S, Fischer G, Kilpp S, editores. Impacto das novas mídias no estatuto de imagem. Porto Alegre: Sulina; 2012. p. 87-94., p. 89), “[...] as subjetividades de cada época se apropriam das tecnologias e produzem nesse processo novos modos de viver, maneiras inéditas de sentir e ver o mundo”. Para o autor, esses recursos condicionam a vida social e trazem novas possibilidades, como é o caso das redes sociais virtuais que, viabilizadas pela Internet e produzidas sob o conceito de conectividade, parecem ter levado ao limite a noção de liquidez da vida sugerida por Bauman (2021)Bauman Z. Vida líquida. 1 ed. Rio de Janeiro: Zahar; 2021..

O aprimoramento de dispositivos como os smartphones trouxe câmeras que permitem registros de fotos e vídeos de altíssima qualidade e facilmente compartilhados com milhões de pessoas instantaneamente, condição que permitiu ao Instagram tornar-se a segunda maior rede social em número de usuários no Brasil em 2021 (D’Angelo, 2022D’Angelo P. Pesquisa sobre o Instagram no Brasil: dados de comportamento dos usuários,hábitos e preferências no uso do Instagram [Internet]. Opinion Box; 14 fev. 2022 [citado em 2022 Maio 5]. Disponível em: https://extra.globo.com/esporte/copa-2014/copa-2014-neymar-daniel-alves-pintam-cabelo-antes-da-partida-contra-mexico-12867834.html
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). Produzido como um aplicativo focado no compartilhamento de fotos e vídeos, o Instagram que começou com investimento de 500 mil dólares, no mesmo ano de sua criação já era avaliado em 20 milhões e chegaria ao marco de um milhão de usuários (Kramer, 2020Kramer RR. Da inspiração à interpelação: o discurso fitness no Instagram. [tese]. Recife: Universidade Federal de Pernambuco; 2020.).

Terreno fértil para a produção de celebridades, o “Insta” coloca em circulação e em produção diferentes estratégias que vão agenciar a relação entre influenciadores e seguidores e, com isso, visibilizar marcas, formar opiniões e produzir modos de ser e se portar. De um universo vasto de possibilidades, a cultura fitness1 1 A cultura fitness pode ser compreendida como um conjunto de dispositivos que operam em torno da construção de uma representação de corpo que expressa harmonia entre saúde e beleza e bem-estar (Silva e Freitas, 2020). se constitui como importante fenômeno nessa rede social, colocando em pauta modos de performar e representar o peso, o tamanho e as formas corporais (Lupton, 2017Lupton D. Digital media and body weight, shape, and size: an introduction and review. Fat Stud. 2017;6(2):119-34. http://dx.doi.org/10.1080/21604851.2017.1243392.
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).

Nesse contexto, para aqueles/as que desejam se tornar ou se manter como influencers dos segmentos fitness, uma rede de especialistas capazes de otimizar as formas corporais é acionada para construir mensagens que dão a ver um estilo de vida saudável. Entre os/as profissionais envolvidos nesse processo, estão aqueles que prescrevem treinamentos físicos e que, nas redes sociais, se autointitulam recorrentemente como personal trainers2 2 Os termos personal trainer e treinador/a serão utilizados como sinônimos para nomear os sujeitos da pesquisa. Essa escolha parte do processo de auto nomeação de tais profissionais nos seus perfis sociais no Instagram. .

Entendidos como microempreendedores que se sustentam nos imperativos contemporâneos de cuidado com o corpo, os/as personal trainers se utilizam de redes sociais como o Instagram para divulgar e promover os serviços que prestam. Muitos acabam se tornando influencers digitais devido às suas publicações sobre rotinas de treino, fotos de antes e depois, dicas de alimentação saudável e estratégias para a conquista do corpo dos sonhos. Nesse universo cada vez mais diversificado, os perfis de treinadores/as que, em suas postagens, divulgavam os efeitos de seus trabalhos nos corpos de musas fitness3 3 De acordo com Venturini et al. (2020), as Musas Fitness emergem como ícones de uma geração que alimenta e é alimentada pelo imperativo da tríade corpo-consumo-felicidade. Fruto das redes sociais, elas ensinam como construir milimetricamente suas arquiteturas corporais através de roupas, acessórios, alimentos, cosméticos e procedimentos estéticos. se constituíram como especialmente relevantes (Tabela 1). Reconhecidos/as como detentores de saberes capazes de produzir corpos considerados belos e saudáveis, os/as personal trainers de mulheres como Gabriela Pugliesi, Vivi Winkler, Bella Falconi e Scheila Carvalho gozam de respeito e notoriedade nas redes sociais. Em 2021, possuíam uma média de aproximadamente 130 mil seguidores e uma rotina de postagem diária, cujos conteúdos abordavam desde sessões de treinamento a episódios da vida privada como reuniões de amigos e fotos com animais de estimação4 4 Cabe ressaltar que a “compra” de seguidores/as entre influenciadores/as digitais não é incomum e é usada como estratégia aquisição de visibilidade nas redes sociais. .

Tabela 1
Perfis de treinadores/as de musas fitness cujas publicações compõem o corpus documental do artigo

Locus de produção de distinção e legitimidade os/as treinadores/as das musas fitness constroem seus perfis tomando o corpo como algo a ser conquistado com disciplina, perseverança e sacrifício, fórmula capaz de proporcionar saúde, beleza e felicidade. Assim, em meio à divulgação de determinados modos de viver a vida, diferentes discursividades são acionadas para divulgar marcas, colocar em destaque a competência profissional e atestar a eficácia de programas de treinamento, processo que produz e faz circular conhecimentos sobre gênero, sexualidade, corpo, geração, religiosidade, dentre outros marcadores. Dessas distintas possibilidades, atribuir foco aos modos como esses/as personal trainers apresentam a si, divulgam seus serviços e gerenciam seus/suas seguidores se constituiu profícuo para pensar a relação entre a Cultura fitness e as redes sociais digitais. Assim sendo, este artigo objetiva identificar e analisar as estratégias que os/as treinadores/as das chamadas “musas fitness” acionam para colocar em evidência seu exercício profissional no Instagram.

PERCURSO METODOLÓGICO

Metodologicamente, a investigação foi estruturada em 3 etapas: identificação dos perfis para análise, produção dos dados, análise do material empírico.

O processo de levantamento dos perfis a serem analisados partiu da identificação das musas fitness com maior número de seguidores, procedimento que adotou o site motor de busca Google a partir dos seguintes descritores “contas fitness mais seguidas”, “perfis fitness Brasil” e “musas fitness”. A adoção dessa estratégia se deu por reconhecer nesse site um espaço ‘curatorial’ que seleciona os perfis e os apresenta segundo critérios de relevância (Stolarski et al., 2018Stolarski G, Lucena TFR, Milani RG, Oliveira LP. Blogueiros fitness no Instagram: o corpo e o merchandising editorial de suplementos alimentares. Rev Eletrônica Comun Manguinhos. 2018;4(4):375-95. http://dx.doi.org/10.29397/reciis.v12i4.1468.
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).

Uma vez identificadas as musas fitness, seus perfis sociais no Instagram foram acessados em busca de referências sobre seus/suas treinadores/as5 5 Esse procedimento foi feito em março de 2021 e a busca pelos treinadores foi feita em postagens publicadas ao longo do ano de 2020. . Após a identificação desses profissionais foram selecionados/as aqueles/as cujas contas eram marcadas como públicas, adotavam a rotina de, no mínimo, uma postagem diária e estavam vivendo e produzindo conteúdos no Brasil. Assim, chegou-se aos seguintes perfis: Diogo Paris, Leônidas Martins, Kenji Supercore, Norton Mello, Rafaella Bichara, Silvia Personal, Telles Xn.

Esses profissionais tiveram suas postagens acompanhadas ao longo de quinze dias ininterruptos (de 1 a 15 de abril de 2021)6 6 O período de produção dos dados foi marcado pela pandemia de SARSCoV2, contexto no qual muitas academias de ginástica estiveram fechadas. Como efeito, houve a ampliação da oferta de atividade física de forma remotas em plataformas on-line. Os/as profissionais observados fizeram uso desse recurso como forma de trabalho, alguns inclusive, tendo seus próprios programas de treinamento on-line. , período em que foram coletadas as publicações do feed e stories do Instagram7 7 Feed: álbum principal, fixo, em que ficam disponíveis as imagens postadas. É o espaço de maior valor estético do aplicativo, pela sua centralidade na página inicial. Stories: espaço para o registro instantâneo de cenas em texto, fotografia ou vídeo de até 3 segundos de duração. Cada cena fica disponível para visualização durante 24 horas. . As postagens foram armazenadas como imagem por meio da ferramenta de captura e esboço da Microsoft Windows8 8 De acordo com a Resolução 510 de 2016 do Conselho Nacional de Saúde (Brasil, 2016) e com Lei 9.610 de 1998 de Direitos Autorais (Brasil, 1998) informações lotadas em espaços públicos podem ser utilizadas de modo livre e propostas de investigações que delas façam uso, têm sua tramitação nos Comitês de Ética em Pesquisa facultadas. e a interrupção de coleta do material empírico seguiu o critério de saturação (Minayo, 2017Minayo MCS. Amostragem e saturação em pesquisa qualitativa: consensos e controvérsias. Rev Pesq Qual. 2017;5(7):1-12.). Adicionalmente, dados sobre as formações acadêmicas desses/as treinadores se fizeram necessários ao longo dos processos de análise. Para tanto, utilizou-se o recurso de busca no site Google ou o acesso direto via mensagens no Instagram. A solicitação da informação foi precedida pela apresentação dos objetivos da pesquisa e a intenção de usá-la em seus processos analíticos. Apesar de não ter sido solicitada a assinatura de um termo de consentimento, a resposta aos questionamentos dá a ver a anuência dos colaboradores.

A análise dos dados seguiu os procedimentos de Yin (2016)Yin R. Pesquisa qualitativa do início ao fim. Porto Alegre: Artmed; 2016., o qual estrutura a análise qualitativa em cinco fases não lineares: compilação, decomposição, recomposição, interpretação e, por fim, a conclusão. Do material empírico coletado, foram analisados as imagens e os textos de cada postagem, porém não de forma isolada, mas em suas interações. Imagem e texto constituíram, nas dinâmicas de postagens dos treinadores das musas fitness, partes imbricadas de um mesmo processo comunicacional e foram lidas/analisadas respeitando suas relações.

“ABDICAÇÃO, CONSTÂNCIA E FORÇA DE VONTADE”: ENTRE POSTAGENS MOTIVACIONAIS, A PRODUÇÃO DO/A INDOLENTE

A partir do material empírico reunido foi possível observar que os/as personal trainers adotam estratégias muito semelhantes em seus perfis no Instagram. Os treinadores de musas fitness, investiram na criação de uma sensação de intimidade ao exibirem na rede social o seu cotidiano, mecanismo de captação, retenção e consequentemente maior engajamento (Figura 1; Figura 2 e Figura 3).

Figura 1
Fotos do cotidiano 1. Fonte: Storie de @rafaellabichara em 02/04/2021.
Figura 2
Foto do cotidiano 2. Fonte: Storie de @nortonmello em 10/04/2021.
Figura 3
Foto do cotidiano 3. Fonte: Storie de @kenji_supercore em 01/04/2021.

No Instagram, as postagens do dia a dia pareciam funcionar como uma estratégia que colocava as celebridades do mundo fitness como uma pessoa “comum”. Imagens de lanches servidos em potes de plástico atuariam, ao mesmo tempo, para indicar calorias e nutrientes, e para criar uma sensação de reconhecimento com seu público seguidor. Entre fotos de animais de estimação e atividades de lazer triviais, esses sujeitos narram momentos habituais de suas rotinas, dando a ver que o estilo de vida que adotam é acessível a qualquer pessoa que se dispõe ao “#trabalhoduro” e à “#resignação”. Entretanto, para se manterem firmes mediante aos percalços da vida, os/as treinadores/as adotam como estratégia postagens que ao mesmo tempo motivam e previnem a si e a seus/suas seguidores/as sobre os obstáculos que uma vida saudável pode encontrar.

Na manhã de 1º de abril de 2021, Rafaella Bichara publica uma frase de autoria atribuída à tenista Serena Williams. Com a intenção de transmitir uma mensagem de bom dia capaz de inspirar sentimentos de perseverança e motivação, a personal trainer mobiliza um recurso bastante utilizado por outros/as profissionais em seus perfis sociais, o de promover estímulo e adesão aos hábitos de alimentação regrada e rotinas de exercícios físicos (Figura 4).

Figura 4
Postagem motivacional. Fonte: Storie de @rafaellabichara em 01/04/2021.

De modo semelhante, Telles.xn afirma: “Ser campeão é fácil, difícil é manter o título” (01/04/2021). Ao lado da frase de efeito, Telles apresenta duas fotos de seu próprio corpo. No tradicional estilo “antes e depois”, parece corporificar de um lado o insucesso de um corpo flácido e sem volume muscular e de outro, a conquista manifestada no abdômen e nos bíceps hipertrofiados.

De forma recorrente, publicações voltadas para modelagem do corpo, visando um “shape” magro, torneado e com músculos bem aparentes são vinculadas a mensagens de sucesso, felicidade e superação, um recurso que lega ao esforço e à disciplina de cada um a conquista ou o fracasso com as rotinas de atividade física e alimentação. Em muitas dessas postagens, os momentos de treino são fotografados e publicados junto a frases de encorajamento, superação e responsabilização por suas próprias escolhas. Em um repost de uma aluna, Diogo Paris endossa: (Figura 5)

Figura 5
Sessão de treinamento em casa, com frase motivacional. Fonte: Storie de @diogoparis8612 12 O período de acesso às postagens foi marcado pela pandemia de SarsCov2, contexto que conduziu esses/as profissionais a produzirem programas de treinamento on-line. Como recurso, esses sujeitos estimulam sentimentos de pertencimento a um determinado grupo, reforçando a ideia de “time” e de “família” enquanto rede de apoio e de encorajamento. em 04/04/2021.

Por meio desses conteúdos, parecem prescrever não somente as sessões de exercício físico, mas também guiar seus/as seguidores/as a partir de determinadas formas de se viver uma vida saudável, estável e feliz. Recurso semelhante é utilizado nas literaturas de autoajuda, segmento que emerge para responder às demandas próprias da Modernidade e que investem em orientações para uma vida bem vivida.

Associada aos fenômenos relativos ao capitalismo, a autoajuda se inscreve como prática que versa sobre os cuidados de si, mecanismos narrados por Foucault como técnicas, por meio das quais os sujeitos se constituem. De acordo com Oliveira e Mendes (2021Oliveira GF, Mendes MLGC. A subjetividade nos discursos da literatura de autoajuda. Ling (Dis)Curso. 2021;21(1):117-33. http://dx.doi.org/10.1590/1982-4017-210107-2220.
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, p. 119), “[...] estas técnicas permitiriam aos sujeitos efetuarem, por si próprios, operações e análises sobre seus corpos, seus pensamentos e condutas [...].”

Ao utilizar de recursos associados aos saberes e autoridades “Psi” (Rose, 2001Rose N. Inventando nossos eus. In: Silva TT, editor. Nunca fomos humanos. Belo Horizonte: Autêntica; 2001. p. 137-204.), o seguimento de autoajuda fornece ferramentas e conforto para que os indivíduos possam conviver com os percalços da vida (Oliveira e Mendes, 2021Oliveira GF, Mendes MLGC. A subjetividade nos discursos da literatura de autoajuda. Ling (Dis)Curso. 2021;21(1):117-33. http://dx.doi.org/10.1590/1982-4017-210107-2220.
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). A emergência desse tipo de literatura reforça discursividades de que o indivíduo deve buscar forças para superar seus fracassos e atingir o sucesso, mensagem quotidianamente divulgada pelos/as treinadores/as das musas fitness. Nesse sentido, Rafaela Bichara publica em 10 de abril de 2021: (Figura 6)

Figura 6
Postagem motivacional. Fonte: Storie de @rafaellabichara em 10/04/2021.

De acordo com Han (2015)Han BC. Sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes; 2015., a sociedade de desempenho investe na positividade, numa dinâmica de poder menos centrada na proibição, mandamento ou lei e mais focada no projeto, na iniciativa e na motivação. Na sociedade do desempenho a autodisciplina é o maior e mais eficiente dispositivo de controle e de produtividade (Han, 2015Han BC. Sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes; 2015.).

Ao acionar os recursos relativos à autoajuda, investem na persuasão de seus/suas seguidores/as para a dedicação, atributo fundamental para obtenção dos resultados desejados. Seja para a preparação das várias refeições diárias, para a rejeição de alimentos fora das dietas ou para os treinos realizados em horários não convencionais, os/as seguidores/as devem estar convencidos e estimulados a adotarem um modo de vida restritivo, resiliente e, sobretudo, engajado nas redes sociais. Como efeito, os resultados manifestos em seus corpos colocam em circulação a efetividade de discursos sobre o autocuidado e atestam sobre a legitimidade dos métodos de seus/suas treinadores/as.

Entretanto, em meio aos dizeres de bom ânimo, perseverança e responsabilização, uma outra mensagem é produzida pelas vias da negatividade - a de rejeição à preguiça, à indisciplina e à falta de autocontrole. Tomados como exemplo de como não se deve ser, sujeitos identificados com essas características são culpabilizados por suas “falhas” e “fraquezas”. Nesse sentido, Diogo Paris publica em 04/04 de 2021: (Figura 7)

Figura 7
Sobre a palavra resultado. Fonte: Feed do Instagram @diogoparis86 em 04/04/2021.

Para os/as treinadores/as das musas fitness, desistir, “criar desculpas” e lamuriar são costumes daqueles/as considerados/as afeitos/as à autocomplacência. Se a disciplina e o autocontrole são características fundamentais para a produção de corpos vigorosos e belos, todos/as aqueles/as que se dedicam em vistas de um ideal devem ser aclamados, mesmo que seus corpos ainda estejam em rotas de um shape fitness. Condenável não é o corpo que ainda está em processo, mas o corpo que abre mão de um objetivo em troca da inércia da inatividade física9 9 Neste sentido, em diversas postagens os/as personal trainers fizeram uso de hashtags que endereçavam, em tom imperativo, a responsabilização no cuidado sobre o próprio corpo. Neste sentido Diego Paris, em 04/04/2021, dispara: #semmimimi; #desistirnaoeopcao, #abdicação.” . Nesse processo, constroem paulatinamente, as margens do mundo fitness, um recurso fundamental para evidenciar aqueles e aquelas colocados/as no centro.

Processo fundamentalmente relacional, o binarismo “autocontrole x indolência” funciona nas postagens como um mecanismo que demarca a falta de empenho e de resignação e reforça qualidades como foco, disciplina e abdicação. Assim, na presente pesquisa a alteridade é fundamental para conferir identidade ao corpo desejável que os/as treinadores/as se propõem a ajudar a construir. Nesse processo, as identidades fitness divulgadas no Instagram se constroem na reafirmação constante da diferença e da exclusão daqueles/as que ainda não reuniram condições necessárias para se manterem obstinados nos processos de construção de seus corpos. Assim, a normalização operada por meio daqueles/as treinadores/as vai se constituindo como forma de manifestação do poder no campo da identidade e da diferença (Silva, 2008Silva TT. A produção social da identidade e da diferença. In: Silva TT, editor. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 8ª ed. Petrópolis. 2008. p. 73-102.).

Nesse processo que materializa um conjunto de características repreensíveis e pouco virtuosas, o peso corporal parece ser o atributo que melhor representa a indolência e a preguiça.

COM RESULTADOS COMPROVADOS NO CORPO, AS DINÂMICAS DE SABER-PODER MOBILIZADAS PELOS/AS TREINADORES/AS FITNESS

Ao longo do período de acompanhamento das postagens, foi possível notar o recurso recorrente que faziam dos resultados das prescrições de suas sessões de treinamento. O uso regular de postagens de fotos do tipo “antes e depois” parecia funcionar como estratégia capaz de evidenciar o “progresso” dos corpos de alunos/as em direção a um novo shape e a um novo modo de viver a vida. Nesse processo, a competência e a legitimidade dos/as treinadores/as das musas fitness se manifestavam à medida que quilos iam sendo perdidos e o desenho de novas formas corporais começavam a aparecer (Figura 8 e Figura 9).

Figura 8
“Antes e depois” de alunos. Fonte: Storie de @diogoparis86 em 02/04/2021.
Figura 9
“Antes e depois” de alunos. Fonte: Storie de @silvia.personal em 06/04/2021.

Segundo Hartley (2017)Hartley R. The dark side of instagram: when fitness culture goes wrong. [Entrevista concedida a] Pradeiro, C. Insider. jun. 2017 [citado em 2022 Maio 5]. Disponível em: www.insider.com/the-dark-side-of-instagram-fitness-culture-2017-6
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, o uso de imagens do tipo “antes e depois” é uma tática enérgica que afeta os seguidores de forma mais imediata do que uma foto com legendas psicoeducativas. Isso porque coloca o foco na aparência, privilegiando o resultado e não o processo. Como consequência, as sensações de bem-estar, saúde e felicidade são associadas ao corpo do “depois” – corpo mais magro, mais ativo fisicamente –, e que funciona como uma ferramenta que atesta sobre a competência daqueles responsáveis pela prescrição do treinamento. Essa estratégia possibilita ainda a conexão com seus seguidores, pois mostra que o corpo ideal pode ser atingido por qualquer pessoa, não somente pelas musas fitness.

Ao longo do período de acompanhamento dos perfis sociais dos/as treinadores/as em questão, as formas corporais associadas às imagens nomeadas como “antes”, invariavelmente, davam a ver corpos referidos por eles/as com excessivos do ponto de vista do peso e do percentual de gordura. Assim, ao mesmo tempo em que essas postagens pareciam motivar os seguidores, associam a gordura corporal ao que é negativo, dando a ver o que Fischler (2005)Fischler C. Obeso benigno, obeso maligno. In: Sant’Anna DB, editor. Políticas do corpo: elementos para uma história das práticas corporais. 2. ed. São Paulo: Estação Liberdade; 2005, p. 69-80. chama de “lipofobia”.

No Instagram dos/as personal trainers, o corpo gordo emerge como sujeito que dribla as regras da vida saudável e de tudo aquilo que foi construído em torno da cultura fitness. Ao mesmo tempo, esse mesmo corpo representado como indolente e pouco resignado serve de estímulo aos “ajustados” para que mantenham sua rotina de “sacrifícios”. Assim, ao utilizar a estratégia de “antes e depois” os/as treinadores/as de musas fitness reforçam a ideia de que o emagrecimento, uma vez que é visível nos corpos, torna-se uma métrica de sucesso capaz de legitimar de forma incontestável sua competência profissional.

Outro recurso imagético utilizado foi a apresentação de seus próprios corpos como resultado dos saberes mobilizados por eles/as. Frequentemente usando poucas peças de roupa, seus corpos são expostos atribuindo ênfases a determinados grupos musculares. O aspecto saudável e liso da pele permite aos seguidores examinarem a hipertrofia no detalhe, um recurso que também permite atestar empiricamente a competência técnica daqueles/as profissionais (Figura 10; Figura 11; Figura 12 e Figura 13).

Figura 10
Diogo Paris. Fonte: Feed de @diogoparis86 em 10/04/2021.
Figura 11
Silvia personal. Fonte: Storie de @silvia.personal em 08/04/2021.
Figura 12
Rafaela Bichara. Fonte: Storie de @rafaellabichara em 02/04/2021.
Figura 13
Norton Mello. Fonte: Storie de @nortonmello em 01/04/2021.

Na cultura fitness, os saberes dos personal trainers se tornaram recursos de quem busca a produção do corpo perfeito (Carmo et al., 2013Carmo W, Gobbi S, Teixeira CVL. Personal: a profissão, o profissional e a estrutura de um novo mercado. Pensar Prát. 2013;16(1):248-66.) e a imagem corporal desses profissionais é, por vezes, considerada decisiva para quem intenciona contratar um serviço de treinamento personalizado. De acordo com Santos et al. (2019)Santos MA, Oliveira VH, Peres RS, Risk EN, Leonidas C, Oliveira-Cardoso EA. Corpo, saúde e sociedade de consumo: a construção social do corpo saudável. Saude Soc. 2019;28(3):239-52. http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902019170035.
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nos seguimentos fitness e wellness, o profissional é qualificado de acordo com o corpo que possui, assim, os perfis sociais dos/as treinadores/as das musas fitness parecem reafirmar os apontamentos de Sauerbronn et al. (2011Sauerbronn JPR, Tonini KAD, Lodi MDF. Um estudo sobre os significados de consumo associados ao corpo feminino em peças publicitárias de suplementos alimentares. REAd. 2011;17(1):e26083. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-23112011000100001.
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, p. 11), de que o corpo confirma a eficácia daquilo que se pretende divulgar. Para esses autores, o corpo representado “[...] não centraliza a expressão de valor, tampouco é mostrado apenas como o local onde o produto age, mas serve como confirmação do produto”. Se as publicações tinham a intenção de incentivar os seguidores a aderirem e a se manterem em seus programas de condicionamento físico e de reeducação alimentar, esse processo de convencimento se dá pelas marcas visíveis em seus próprios corpos e nos corpos de seus/suas alunos/as.

Se em diferentes instâncias da sociedade, a legitimidade profissional é fornecida por títulos e diplomas acadêmicos, no caso dos/as treinadores/as de musas fitness, no Instagram, esse recurso parece não se constituir como necessário. Em uma análise detida sobre a descrição de seus perfis, nenhum/a deles/as se apresentou como Licenciado/Bacharel em Educação Física10 10 Também não indicaram outras habilitações comumente relacionadas aos seguimentos Fitness e Wellness como por exemplo, bacharelado em Ciências da Nutrição ou bacharelado em Fisioterapia. . Dos sete perfis analisados, apenas o de Leônidas Martins indicava a sua instituição de formação. Em contrapartida, se autodeclararam como “Treinadores/as”, “Personal Trainers”, “Instrutores de Fitness”, “Coach/Crosfiter” e “Body Designer”, nomenclaturas distintas das tradicionais habilitações concedidas pelas Instituições de cursos superiores ou técnicos, mas cujo apelo midiático parece se constituir como mais orgânico ao universo do Instagram e da cultura fitness.

Estrategicamente, utilizavam o espaço de descrição de seus perfis, nomeado pelo Instagram como “Biografia”, para promover marcas de seus patrocinadores e dos centros de treinamento aos quais faziam parte, bem como para divulgar prêmios em campeonatos de fisiculturismo. Em especial, Rafaela Bichara se apresenta como “Atleta Bikini” que ostenta 6 títulos, entre eles o de “Melhor atleta Bikini de 2020”.

Em um espaço de no máximo 150 caracteres, optam por evidenciar marcas e conquistas em detrimento de títulos e certificações. Norton Mello, que se apresenta como treinador, omite sua formação em Educação Física pela Universidade Ibirapuera e sua Especialização em Sports Science pela Florida Internacional University, nos Estados Unidos. De modo semelhante, Kenji Takahashi também omite sua formação em Educação Física pela Universidade Federal de Minas Gerais, suas certificações em Musculação, MBA em Gestão de Academias, além de seus trinta anos de experiência como Profissional de Educação Física11 11 Os dados referentes à formação de Norton Mello e Kenji Takahashi foram obtidos por meio de questionamentos aos próprios profissionais através de mensagens no Instagram. A solicitação da informação foi precedida pela apresentação dos objetivos da pesquisa e a intenção de usá-la em seus processos analíticos. Apesar de não ter sido solicitada a assinatura de um termo de consentimento, a resposta aos questionamentos dá a ver a anuência dos colaboradores. .

Nos processos da pesquisa, a dificuldade em identificar a formação acadêmica dos/as treinadores/as acabou se constituindo como um dado capaz de reforçar que os títulos e certificações são tomados como informações acessórias e, na maior parte dos perfis analisados, dispensáveis. Em contrapartida, o corpo, seja dos/as alunos/as, seja do/a próprio/a treinador/a torna-se uma ferramenta indispensável para atestar sobre suas competências técnicas e produzir saberes sobre modos de construção dos corpos e sobre um estilo de vida saudável. Assim, por meio das dinâmicas próprias do Instagram os/as treinadores/as das musas fitness produzem e fazem circular saberes e, com isso, exercem poder sobre as práticas e as condutas de seus/as seguidores/as.

De acordo com Foucault (2012)Foucault M. Arqueologia do Saber. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária; 2012., o termo saber-poder ressalta uma relação imbricada e simultânea entre esses dois conceitos. Para o autor, na medida em que o poder se exerce o saber é produzido, não havendo, portanto, possibilidade de relações de poder “[...] sem constituição correlata de um campo de saber”. Do mesmo modo, “[...] não há saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder” (Foucault, 2012Foucault M. Arqueologia do Saber. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária; 2012., p. 30).

Desse modo, por meio de postagens de fotos do tipo “antes e depois” e da imagem corporal dos/as próprios/as treinadores/as, uma retórica empírica centrada no corpo é constituída e acionada por esses/as profissionais, recurso que confere valor de verdade e legitimidade a eles/as. Nesse processo que toma a materialidade dos corpos como atestado de competência profissional, o percurso formativo acadêmico desses sujeitos parece não fazer sentido nas dinâmicas do Instagram. Entre a competência manifesta no corpo e estratégias de engajamento na rede social, esses homens e mulheres exercem poder, produzem saber e, como efeito, conduzem a conduta de milhões de seguidores em direção ao que compreendem ser uma melhor versão de si mesmos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo de quinze dias acompanhando as postagens dos/as treinadores/as das musas fitness, foi possível perceber um conjunto de mecanismos de captura, retenção e engajamento de seus seguidores em seus perfis do Instagram. Com intenção de divulgar, serviços, marcas e modos de ser saudáveis, alimentavam suas redes várias vezes ao dia, prática que nos permitiu identificar e analisar estratégias mobilizadas por eles/as para colocar em evidência seu exercício profissional.

Por meio de estratégias semelhantes às usadas por segmentos de autoajuda, os/as treinadores/as buscaram motivar seus/as seguidores/as à adesão e permanência em programas de exercício físico e alimentação saudável, construindo um ideal de corpo magro e forte como sinônimo de felicidade e realização pessoal. Nesse processo, a “indolência” e a “preguiça” foram sendo narradas como marcadores daquilo que não se deveria ser, atributos capazes de destacar a diferença, recurso fundamental à constituição de identidades fitness.

Os/as personal trainers investiram ainda na publicação de imagens do tipo “antes e depois” como mecanismo que, ao mesmo tempo em que enaltecia as conquistas dos/as “perseverantes” e “resignados/as”, colocava em relevo o fracasso dos/as “negligentes” e “pouco/as obstinados/as”. Paralelamente a esse tipo de publicação, adotaram uma rotina de postagem de fotos de seus próprios corpos em poucos trajes, um recurso que informava sobre os efeitos de suas próprias escolhas e atestava sobre a efetividade dos programas de treinamento prescritos por eles/as. Assim, os resultados dos treinamentos materializados nos corpos se constituem como importante engrenagem nas dinâmicas de saber-poder acionadas por esses/as treinadores/as no Instagram. Como efeito, esses sujeitos são tomados como profissionalmente competentes, o que os permite conduzir as práticas e as condutas de seus/suas seguidores/as em direção a uma vida saudável e a um corpo mais magro, mais torneado e ativo fisicamente.

  • 1
    A cultura fitness pode ser compreendida como um conjunto de dispositivos que operam em torno da construção de uma representação de corpo que expressa harmonia entre saúde e beleza e bem-estar (Silva e Freitas, 2020Silva CR, Freitas GDS. O que dizem os estudantes do 9° ano do ensino fundamental sobre as mensagens midiáticas vinculadas a cultura fitness em revistas de beleza e saúde? Movimento. 2020;26:1-16. http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.99487.
    http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.994...
    ).
  • 2
    Os termos personal trainer e treinador/a serão utilizados como sinônimos para nomear os sujeitos da pesquisa. Essa escolha parte do processo de auto nomeação de tais profissionais nos seus perfis sociais no Instagram.
  • 3
    De acordo com Venturini et al. (2020)Venturini IV, Jaeger AA, Oliveira MC, Silva P. Musas fitness e a tríade corpo-consumo-felicidade. Movimento. 2020;26:e26003. http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.86634.
    http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.866...
    , as Musas Fitness emergem como ícones de uma geração que alimenta e é alimentada pelo imperativo da tríade corpo-consumo-felicidade. Fruto das redes sociais, elas ensinam como construir milimetricamente suas arquiteturas corporais através de roupas, acessórios, alimentos, cosméticos e procedimentos estéticos.
  • 4
    Cabe ressaltar que a “compra” de seguidores/as entre influenciadores/as digitais não é incomum e é usada como estratégia aquisição de visibilidade nas redes sociais.
  • 5
    Esse procedimento foi feito em março de 2021 e a busca pelos treinadores foi feita em postagens publicadas ao longo do ano de 2020.
  • 6
    O período de produção dos dados foi marcado pela pandemia de SARSCoV2, contexto no qual muitas academias de ginástica estiveram fechadas. Como efeito, houve a ampliação da oferta de atividade física de forma remotas em plataformas on-line. Os/as profissionais observados fizeram uso desse recurso como forma de trabalho, alguns inclusive, tendo seus próprios programas de treinamento on-line.
  • 7
    Feed: álbum principal, fixo, em que ficam disponíveis as imagens postadas. É o espaço de maior valor estético do aplicativo, pela sua centralidade na página inicial. Stories: espaço para o registro instantâneo de cenas em texto, fotografia ou vídeo de até 3 segundos de duração. Cada cena fica disponível para visualização durante 24 horas.
  • 8
    De acordo com a Resolução 510 de 2016 do Conselho Nacional de Saúde (Brasil, 2016Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016. Diário Oficial da União; Brasília; 24 maio 2016.) e com Lei 9.610 de 1998 de Direitos Autorais (Brasil, 1998Brasil. Lei nº 9610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Lei de Direitos Autorais. Diário Oficial da União; Brasília; 20 fev. 1998.) informações lotadas em espaços públicos podem ser utilizadas de modo livre e propostas de investigações que delas façam uso, têm sua tramitação nos Comitês de Ética em Pesquisa facultadas.
  • 12
    O período de acesso às postagens foi marcado pela pandemia de SarsCov2, contexto que conduziu esses/as profissionais a produzirem programas de treinamento on-line. Como recurso, esses sujeitos estimulam sentimentos de pertencimento a um determinado grupo, reforçando a ideia de “time” e de “família” enquanto rede de apoio e de encorajamento.
  • 9
    Neste sentido, em diversas postagens os/as personal trainers fizeram uso de hashtags que endereçavam, em tom imperativo, a responsabilização no cuidado sobre o próprio corpo. Neste sentido Diego Paris, em 04/04/2021, dispara: #semmimimi; #desistirnaoeopcao, #abdicação.”
  • 10
    Também não indicaram outras habilitações comumente relacionadas aos seguimentos Fitness e Wellness como por exemplo, bacharelado em Ciências da Nutrição ou bacharelado em Fisioterapia.
  • 11
    Os dados referentes à formação de Norton Mello e Kenji Takahashi foram obtidos por meio de questionamentos aos próprios profissionais através de mensagens no Instagram. A solicitação da informação foi precedida pela apresentação dos objetivos da pesquisa e a intenção de usá-la em seus processos analíticos. Apesar de não ter sido solicitada a assinatura de um termo de consentimento, a resposta aos questionamentos dá a ver a anuência dos colaboradores.
  • FINANCIAMENTO

    Este texto não recebeu apoio financeiro de agências de fomento.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    13 Maio 2022
  • Aceito
    09 Set 2022
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