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A prática pedagógica com as Lutas na Educação Física: um retrato da formação e da realidade de ensino de professores do ensino médio do Distrito Federal

Pedagogical practice with Fights in Physical Education: a portrait of the formation and teaching reality of high school teachers in the Federal District

La práctica pedagógica con las Luchas en Educación Física: un retrato de la formación y de la realidad docente de profesores de educación secundaria en el Distrito Federal

RESUMO

O objetivo do estudo foi investigar a formação e a prática pedagógica sobre o ensino das Lutas no Ensino Médio da rede do Distrito Federal. O método de pesquisa é de natureza mista (quanti-qualitativa) e do tipo exploratória. Para a coleta de dados se elaborou e validou um questionário (30 questões), o qual foi respondido por 38 professores. Os resultados revelaram que os professores são formados em Educação Física, 81,58% possui pós-graduação lato sensu, e 2,63% possui pós-graduação stricto sensu, 53,73% tiveram a disciplina de Lutas na graduação, 47,37% ensinam Lutas, as principais estratégias são a adaptação de regras/materiais/espaços e o uso de jogos de luta. Entre os que não ensinam Lutas (52,63%) prevalece as justificativas de falta de capacitação.

Palavras-chave:
Lutas; Ensino; Educação Física; Formação de professores

ABSTRACT

The objective of the study was to investigate the formation and pedagogical practice on the teaching of Fights in High School in the Federal District. The research method is of a mixed nature (quanti-qualitative) and exploratory. For data collection, a questionnaire (30 questions) was elaborated and validated, which was answered by 38 teachers. The results revealed that teachers are trained in Physical Education, 81.58% have a graduate study lato sensu, and 2.63% have a master's degree, 53.73% had the discipline of Fights at graduation, 47.37% teach Fights and that the main strategies are the adaptation of rules/ materials/spaces, and use of fighting games. Among those who do not teach Fights (52.63%) the justifications of lack of training prevail.

Keywords:
Fights; Teaching; Physical Education; Teacher formation

RESUMEN

El objetivo del estudio fue investigar la formación y práctica pedagógica sobre la enseñanza de las Luchas en la educación secundaria en la red del Distrito Federal. El método de investigación es de carácter mixto (cuanti-cualitativo) y exploratoria. Para la recolección de datos, se elaboró y validó un cuestionario (30 preguntas), respondido por 38 docentes. Los resultados revelaron que los docentes están formados en Educación Física, 81,58% tiene posgrado lato sensu y 2,63% tiene posgrado stricto sensu, el 53,73% tenía al graduarse la disciplina de Luchas, el 47,37% enseñan Luchas, las principales estrategias son la adecuación de reglas/materiales/espacios y uso de juegos de Lucha. Entre los que no enseñan Luchas (52,63%) prevalecen las justificaciones de falta de formación.

Palabras-clave:
Luchas; Enseñanza; Educación Física; Formación de profesores

INTRODUÇÃO

O ensino das Lutas na escola ainda representa um desafio ao trabalho didático-pedagógico de professores de Educação Física (Costa et al., 2019Costa AV, Lage V, Safons M, da Costa FR. Desafios para o ensino das Lutas na escola. Cadernos de Formação RBCE. 2019;10:44-56.). A despeito das inúmeras proposições teóricas e curriculares que recomendam a inclusão das Lutas como uma prática corporal estruturante do currículo da Educação Física, a sua inserção no cotidiano escolar é ainda incipiente. A literatura acadêmica tem considerado que as Lutas estão frequentemente ausente das aulas e, em outros casos, que seu ensino está baseado em teorias e práticas que pouco atendem aos objetivos da Educação Física escolar. Além disso, considera-se que à luz da literatura acadêmica no campo da Educação Física, as boas práticas de ensino das Lutas não são consolidadas nas escolas brasileiras de modo geral, perpassando iniciativas individuais em alguns contextos (Betti e Liz, 2003Betti M, Liz MTF. Educação Física escolar: a perspectiva de alunas do ensino fundamental. Motriz. 2003;9(3):135-42.; Rufino e Darido, 2015aRufino LGB, Darido SC. O ensino das Lutas na Escola: possibilidades para a Educação Física. Porto Alegre: Penso Editora; 2015a.; Pereira et al., 2021Pereira MPVDC, Marinho A, Galatti LR, Scaglia AJ, Farias GO. Lutas na escola: estratégias de ensino de professores de educação física. J Phys Educ (Maringá). 2021;32:e3226. ).

Em linhas gerais, pode-se considerar que as Lutas compreendem um conjunto amplo de construções socioculturais e históricas vinculadas ao uso do corpo com múltiplas finalidades, a exemplo das questões de defesa, sobrevivência, proteção territorial, entre outros. Ao longo de diferentes processos históricos elas incorporaram progressivamente outras dimensões, tais como a busca pelo desenvolvimento espiritual, filosófico, educacional e, na modernidade, o caráter esportivo (Alves e Montagner, 2008Alves LP, Montagner PC. A esportivização da capoeira: reflexões teóricas introdutórias. Conexões (Campinas). 2008;6:510-21. http://dx.doi.org/10.20396/conex.v6i0.8637853.
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; Rufino e Darido, 2011Rufino LGB, Darido SC. A separação dos conteúdos das “Lutas” dos “Esportes” na Educação Física escolar: necessidade ou tradição? Pensar Prát. 2011;14(3):1-17. http://dx.doi.org/10.5216/rpp.v14i3.12202.
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; Gonçalves e Silva, 2013Gonçalves AVL, Silva MRS. Artes Marciais e Lutas: uma análise da produção de saberes no campo discursivo da Educação Física brasileira. Rev Bras Ciênc Esporte. 2013;35(3):657-71. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-32892013000300010.
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; Carneiro et al., 2015Carneiro FFB, Picoli C, Santos W. Fundamentos ontológicos e epistemológicos das lutas corporais. Pensar Prát. 2015;18(3):725-38.; Correia, 2015Correia WR. Educação Física Escolar e Artes Marciais: entre o combate e o debate. Rev Bras Educ Fís Esporte. 2015;29(2):337-44. http://dx.doi.org/10.1590/1807-55092015000200337.
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).

Os processos de ensino e aprendizagem das Lutas na escola pressupõem sua transformação didático-pedagógica, tendo em vista a pluralidade de sentidos e significados dessas práticas e a necessidade de adequação à função social da Escola, aos objetivos da Educação Física e às características da população escolar. Todavia, pesquisas realizadas nos últimos 20 anos evidenciam a predominância de práticas pedagógicas pautadas em algumas Lutas específicas e a adoção de métodos que reproduzem as tradições de ensino e aprendizagem dessas práticas em outros contextos, tais como academias e clubes esportivos (Nascimento, 2008Nascimento PRB. Organização e trato pedagógico do conteúdo de Lutas na Educação Física escolar. Motrivivência. 2008;31(31):36-49. http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2008n31p36.
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; Rufino e Darido, 2015bRufino LGB, Darido SC. O ensino das lutas nas aulas de Educação Física: análise da prática pedagógica à luz de especialistas. Rev Educ Fis UEM. 2015b;26(4):505-18. http://dx.doi.org/10.4025/reveducfis.v26i4.26441.
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; Pereira et al., 2021Pereira MPVDC, Marinho A, Galatti LR, Scaglia AJ, Farias GO. Lutas na escola: estratégias de ensino de professores de educação física. J Phys Educ (Maringá). 2021;32:e3226. ). Estudos empíricos reforçam tais evidências e revelam problemas em comum e recorrentes enfrentados pelos professores, tais como falta de estrutura e materiais adequados, além de insegurança para ensinar essa prática corporal (Pereira et al., 2022Pereira MPVC, Folle A, Milan FJ, Trusz R, Farias GO. Scientific production on martial arts and combat sports content in school physical education: a review study. Ido Mov Culture. J Martial Arts Anthrop. 2022;22:33-43.).

Na direção de transformar essa realidade, diversos autores têm empreendido esforços na sistematização e organização dos objetos de conhecimento inerentes às Lutas, vislumbrando propostas de ensino-aprendizagem, com o objetivo de orientar o trabalho didático-pedagógico dos professores (Gomes et al., 2010Gomes MSP, Morato MP, Duarte E, Almeida JJG. Ensino das Lutas: dos princípios condicionais aos grupos situacionais. Movimento. 2010;16(2):207-27. http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.9743.
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; Rufino e Darido, 2015aRufino LGB, Darido SC. O ensino das Lutas na Escola: possibilidades para a Educação Física. Porto Alegre: Penso Editora; 2015a.; Antunes et al., 2020Antunes MM, Rodrigues AIC, Kirk D. Teaching martial arts in schools: a proposal for contents organization. Revista Valore. 2020;5:5031.). Dentre as iniciativas, destacam-se as propostas de classificação das Lutas, as quais têm sido realizadas a partir de diferentes critérios, tais como: a utilização de seus princípios condicionais (Gomes et al., 2010Gomes MSP, Morato MP, Duarte E, Almeida JJG. Ensino das Lutas: dos princípios condicionais aos grupos situacionais. Movimento. 2010;16(2):207-27. http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.9743.
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), os jogos de oposição (Santos, 2012Santos SLC. Jogos de Oposição: ensino das Lutas na escola. São Paulo: Phorte Editora; 2012.) e a distância e o tipo de contato entre os oponentes (Rufino e Darido, 2015aRufino LGB, Darido SC. O ensino das Lutas na Escola: possibilidades para a Educação Física. Porto Alegre: Penso Editora; 2015a.).

Contemporaneamente, com a promulgação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (Brasil, 2018Brasil. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Educação Infantil e Ensino Fundamental. Brasil: MEC; 2018.), as Lutas passaram a compor uma das unidades temáticas obrigatórias da Educação Física escolar, devendo constar em todos os currículos da Educação Básica, sobretudo a partir do terceiro ano do ensino fundamental - anos iniciais. No Distrito Federal (DF), tais manifestações foram inseridas na reformulação do Currículo em Movimento (CeM) para o Novo Ensino Médio (Distrito Federal, 2021Distrito Federal [Internet]. Currículo em Movimento para o Novo Ensino Médio. 2021 [citado 2022 Out 3]. Disponível em: https://www.educacao.df.gov.br/pedagogico-curriculo-em-movimento/.
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). Apesar das incoerências e inconsistências apresentadas tanto na BNCC (Neira, 2018Neira MG. Incoerências e inconsistências da BNCC de Educação Física. Rev Bras Ciênc Esporte. 2018;40(3):215-23. http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2018.04.001.
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) quanto no CeM (Ferreira et al., 2020Ferreira FW, De Abreu RJL, Louzada-Silva D. Desafios da articulação entre o novo ensino médio e a BNCC: o caso do Distrito Federal. Em Aberto. 2020;33:215-22.), cabe às redes de ensino e seus respectivos professores analisar as proposições curriculares e encontrar as melhores maneiras de inserir as Lutas nas aulas de Educação Física.

Apesar dos avanços apresentados do ponto de vista da literatura e das propostas curriculares, historicamente encontramos problemas relacionados à formação inicial e continuada no que diz respeito ao ensino das Lutas no contexto escolar (Fonseca et al., 2013Fonseca JMC, Franchini E, Del Vecchio FB. Conhecimento declarativo de docentes sobre a prática de Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate nas aulas de Educação Física escolar em Pelotas, Rio Grande Do Sul. Pensar Prát. 2013;16(2). http://dx.doi.org/10.5216/rpp.v16i2.17221.
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; Matos et al., 2015Matos JAB, Hirama LK, Galatti LR, Montagner PC. A presença/ausência do conteúdo lutas na educação física escolar: identificando desafios e propondo sugestões. Conexões (Campinas). 2015;13(2):117-35. http://dx.doi.org/10.20396/conex.v13i2.8640658.
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; Rufino e Darido, 2015bRufino LGB, Darido SC. O ensino das lutas nas aulas de Educação Física: análise da prática pedagógica à luz de especialistas. Rev Educ Fis UEM. 2015b;26(4):505-18. http://dx.doi.org/10.4025/reveducfis.v26i4.26441.
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). Embora esteja presente no currículo prescrito, os possíveis impactos efetivo no ensino dependem, sobretudo, de ações formativas adequadas, contextualizadas ao ambiente escolar, integrando o processo de formação e desenvolvimento profissional às dinâmicas da própria prática pedagógica (Rufino e Souza, 2016Rufino L, Souza S No. Saberes docentes e formação de professores de Educação Física: análise da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) na perspectiva da profissionalização do ensino. Motrivivência. 2016;28(48):42-60. http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2016v28n48p42.
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).

Diante desta conjuntura, o objetivo geral do estudo foi investigar a formação e a prática pedagógica sobre o ensino das Lutas no Ensino Médio da rede pública do Distrito Federal a partir da perspectiva de professores de Educação Física. Para tanto, como objetivos específicos buscou-se: (1) caracterizar o perfil profissional e o percurso formativo dos professores considerando o contato com as Lutas; e (2) mapear a realidade de ensino das Lutas em referência às perspectivas dos professores.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Caracterização, contexto e universo da pesquisa

Essa pesquisa se caracteriza como sendo de natureza mista (Johnson e Onwuegbuzie, 2004Johnson RB, Onwuegbuzie AJ. Mixed methods research: a research paradigm whose time has come. Educ Res. 2004;33(7):14-26. http://dx.doi.org/10.3102/0013189X033007014.
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), quanti-qualitativa, e do tipo exploratória-descritiva. O contexto da pesquisa é a rede pública de ensino do DF, a estrutura organizacional da Secretaria de Educação do DF (SEDF) é composta por 14 regionais de ensino, nas quais estão distribuídas 88 escolas com oferta do Ensino Médio.

A amostragem se tipificou como não-probabilística, por acessibilidade (Gil, 2008Gil A. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas; 2008.), tendo como critérios de inclusão: ser professor de Educação Física (efetivo ou admitido em caráter temporário - ACT) da rede pública do DF no momento da pesquisa, estar em atuação no Ensino Médio, disponibilizar-se a participar do estudo e ter assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Participaram do estudo 38 professores de Educação Física atuantes no Ensino Médio, distribuídos em 33 escolas da rede, localizadas em 13 das 14 regionais de ensino.

Procedimentos de coleta e análise dos dados

Para coleta de dados optamos pela construção e validação de um questionário a partir do referencial teórico sobre o ensino de Lutas no contexto da Educação Física escolar. O questionário foi composto por 30 questões, distribuídas nas dimensões: perfil pessoal (02 questões), perfil profissional (05 questões), formação (12 questões), estratégias de ensino (03 questões), estrutura física e material (02 questões), gestão de tarefas e espaços (02 questões), base teórica (02 questões) e crenças (02 questões). O processo de construção foi precedido pela elaboração de uma matriz analítica (Tabela 1) (Hill e Hill, 2000Hill MM, Hill A. Investigação por questionário. Lisboa: Edições Sílabo; 2000.).

Tabela 1
Matriz Analítica do Questionário de Diagnóstico do Ensino de Lutas.

A partir da matriz, as questões foram formuladas e, posteriormente, submetidas à Validação de Conteúdo (CVC) (Hernández-Nieto, 2002Hernández-Nieto RA. Contributions to statistical analysis. Mérida, Venezuela: Universidad de Los Andes; 2002:119.). Para o processo de validação, convidamos cinco (05) especialistas, doutores em Educação Física, com experiência no ensino e/ou pesquisa sobre as Lutas. Os especialistas realizaram a análise das questões a fim de determinar a clareza da linguagem, a pertinência prática e a relevância teórica (Cassepp-Borges et al., 2010Cassepp-Borges V, Balbinotti MA, Teodoro ML. Tradução e validação de conteúdo: uma proposta para a adaptação de instrumentos. In: Pasquali L, editor. Instrumentação psicológica: fundamentos e práticas. Porto Alegre: Artmed; 2010. p. 506-20.). O CVC total (CVCt) do questionário foi de 0,91, já o item clareza de linguagem apresentou CVCt de 0,90, o item pertinência prática apresentou CVCt de 0,91, o item relevância teórica apresentou um CVCt de 0,93, e todos os itens apresentaram individualmente CVC final (CVCc) acima do ponto de corte estabelecido (CVC=0,70), de acordo com o que a literatura recomenda (Cassepp-Borges et al., 2010Cassepp-Borges V, Balbinotti MA, Teodoro ML. Tradução e validação de conteúdo: uma proposta para a adaptação de instrumentos. In: Pasquali L, editor. Instrumentação psicológica: fundamentos e práticas. Porto Alegre: Artmed; 2010. p. 506-20.), portanto, o questionário foi devidamente validado.

O questionário foi aplicado a partir da plataforma Google, utilizando a ferramenta Google Forms, com tempo médio de resposta de 30 minutos. O link para o questionário foi enviado por e-mail, o período de aplicação se deu entre os meses de junho a dezembro de 2020.

Para análise dos dados, optamos pelo uso da estatística descritiva (frequência absoluta e relativa) e da análise de conteúdo (Bardin, 2016Bardin, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70; 2016. ).

A pesquisa atendeu às resoluções 466 e 510 do Conselho Nacional de Saúde, foi submetida na Plataforma Brasil (CAAE Nº 28580220.2.0000.5083), avaliada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como ponto de partida da apresentação dos resultados, caracterizamos os professores participantes a partir dos seguintes indicadores: sexo, faixa etária, tempo de experiência profissional, formação profissional, regional de atuação, situação funcional e carga horária de trabalho na SEDF. Na sequência, apresentamos e discutimos as evidências encontradas sobre o percurso formativo dos professores e o mapeamento da realidade de ensino das Lutas na Educação Física escolar, no Ensino Médio.

Perfil profissional dos professores participantes

Participaram da pesquisa 38 professores, desses, 26 se declararam do sexo masculino (68,42%) e 12 do sexo feminino (31,58%). No que concerne à faixa etária, ao tempo médio de experiência profissional e ao ano de conclusão da graduação, distribuímos os resultados em intervalos de cinco (05) anos, apresentados em frequência absoluta (FA) e frequência relativa (FR) (Tabela 2). Foi observada a distribuição relativamente equilibrada, configurando um grupo diversificado nos três parâmetros analisados.

Tabela 2
Caracterização da faixa etária, tempo de experiência profissional e período de conclusão da graduação.

Destaca-se nessa caracterização, o fato de que metade dos professores (n=19) possui até 10 anos de experiência profissional, sendo que nove (9) deles não são efetivos. O percentual de professores em contrato temporário (Tabela 3) reflete dados anteriores que apontaram uma variação média de 18,21%, chegando até 40,88% em algumas regionais (Cordeiro et al., 2018Cordeiro LD, de Souza ER, Vasconcelos AMN. Gestão dos profissionais da educação: um retrato da contratação de professores temporários nas escolas públicas do Distrito Federal. Rev Com Censo. 2018;5(1):85-96.). Tal condição reflete na precarização do trabalho, na medida em que exacerba o rodízio de professores e pode ocasionar instabilidade nas equipes e até a desistência da profissão (Gatti et al., 2011Gatti BA, Barretto ES S, André MED A. Políticas docente no Brasil. Brasília: UNESCO; 2011.). Acrescenta-se a isso os desafios inerentes aos primeiros anos da profissão uma vez que a fase inicial da entrada na carreira é marcada por situações de incerteza e insegurança, envolvendo a aquisição imediata de competências que viabilizam a atuação profissional, seguida da fase de consolidação dessas competências (Farias et al., 2018Farias GO, Batista PMF, Graça A, Nascimento JV. Ciclos da trajetória profissional na carreira docente em Educação Física. Movimento. 2018;24(2):441-454. http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.75045.
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). Essas fases são marcadas dentre outros fatores, por uma maior utilização das experiências sociocorporais (Figueiredo, 2008Figueiredo ZCC. Experiências sociocorporais e formação docente em Educação Física. Movimento. 2008;14(1):85-110. http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.2395.
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) e pela observação e discussão com pares como fonte de conhecimento (Souza et al., 2017Souza JR, Brasil VZ, Kuhn F, Barros TES, Ramos V. As crenças de graduandos em Educação Física sobre o ensino dos esportes. Movimento. 2017;23(1):133-46. http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.64032.
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).

Tabela 3
Formação e situação funcional.

No que se refere à formação inicial e continuada (Tabela 3), todos os professores afirmaram serem formados em Educação Física e a maioria concluiu a especialização (lato sensu), todavia o baixo percentual de professores com pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), denota lacunas relacionadas à oferta de cursos e dificuldade de acesso a esses (Lagar, 2012Lagar FMG. Formação continuada de professores da secretaria de educação do distrito federal (2009-2011): a percepção docente [dissertação]. Brasília: Universidade de Brasília; 2012. ). Associado a isso está a falta de perspectiva de ascensão financeira no plano de carreira da SEDF, uma vez que a diferença salarial é limitada à 5% entre os títulos de pós-graduação lato sensu e pós-graduação stricto sensu (mestrado ou doutorado), conforme a Lei Distrital 5.105/13 (Distrito Federal, 2013Distrito Federal [Internet]. Lei nº 5.105, de 03 de maio de 2013. Reestrutura a carreira Magistério Público do Distrito Federal e dá outras providências. 2013 [citado 2022 Out 3]. Disponível em: http://www.sinj.df.gov.br/sinj/Norma/74206/Lei_5105_2013.html.
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), o que pode ser considerado um fator que limita o incentivo à busca pelos títulos acadêmicos dentro desse contexto.

Sobre a carga horária de trabalho, a maioria dos professores (n=34) apontou que atua em carga de quarenta (40) horas semanais. No DF, 37,5% (15h) da carga horária é destinada para atividades extraclasse (reuniões, formação, atividades administrativas), o que representa uma conquista dos professores da rede, fruto da Lei 11.738/2008 (Brasil, 2008Brasil. Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008. Regulamenta a alínea “e” do inciso III do caput do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica. Diário Oficial da União; Brasília; 2008. ), aspecto que favorece melhores condições de trabalho e estruturação de uma formação permanente (Medeiros e Cruz, 2019Medeiros DM, Cruz SPS. A jornada de trabalho no Distrito Federal como elemento condicionante para valorização do trabalho docente. Olhar Profr. 2019;20(1):65-74. http://dx.doi.org/10.5212/OlharProfr.v.20.12741..
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). Por outro lado, no Brasil, um percentual crescente de professores recorre a jornadas ampliadas de trabalho, aspecto que promove a precarização do trabalho docente e evidencia a defasagem salarial (Gatti et al., 2011Gatti BA, Barretto ES S, André MED A. Políticas docente no Brasil. Brasília: UNESCO; 2011.), tornando a carreira de professor pouco atrativa (Gatti, 2009Gatti BA. A atratividade da carreira docente no Brasil: relatório final. São Paulo: Fundação Carlos Chagas; 2009.).

As lutas no percurso formativo dos professores

O contato dos professores com as Lutas ocorreu em diferentes contextos, especialmente por meio das experiências como praticante e no processo de formação inicial e continuada. No que diz respeito às experiências como praticante de alguma modalidade, 52,63% (n=20) dos professores responderam positivamente. A Capoeira e o Jiu-Jitsu foram as modalidades mais praticadas. Considerando o tempo de prática, a maioria tem entre seis (6) meses e aproximadamente quatro (4) anos de prática, com destaque para três (3) professores que possuem 10 anos ou mais de experiência. Registra-se, ainda, que a maioria afirmou nunca ter participado de uma competição como atleta (86,84%) ou como treinador (94,74%) nas modalidades de Lutas.

Em relação aos locais de prática, há uma diversificação, com predominância de academias (n=9; 33,33%) e projetos sociais (n=7; 25,93%). Embora as academias representem o principal local de acesso às Lutas (Paes et al., 2016Paes RR, Galatti LR, Reverdito RS. Lutas, artes marciais e esportes de combate: reflexões a partir da pedagogia do esporte. In: Antunes MM, Almeida JJG, editores. Artes marciais, lutas e esportes de combate na perspectiva da educação física: reflexões e possibilidades. Curitiba: Editora CRV; 2016. p. 65-87.), esses espaços operam em uma lógica mercadológica, o que historicamente contribuiu para a restrição do acesso de uma parcela considerável da população, considerando aspectos econômicos e sociais (Rufino et al., 2022Rufino LGB, Oliveira AAB, Rinaldi IPB. Fundamentos pedagógicos do esporte educacional: Lutas. Curitiba: Editora CRV; 2022.). Nesse contexto os projetos sociais se apresentam como ambiente fundamental de acesso às Lutas, principalmente para sujeitos em condição de vulnerabilidade social (Brandão et al., 2016Brandão FM, Limongi T, Fayer D, Pereira L, Mourão L. Ensino de lutas para a cidadania. Rev ELO - Diálogos Em Extensão. 2016;5(3):18-27. http://dx.doi.org/10.21284/elo.v5i3.233.
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). Registra-se, ainda, que apenas 18,53% (n=5) mencionaram o contato com as Lutas no contexto escolar, o que demonstra a ausência dessa prática corporal na socialização escolar de parte significativa dos professores.

Em relação ao contato com as Lutas no contexto da formação inicial, 53,73% dos professores afirmam que tiveram essa oportunidade, principalmente através de disciplinas obrigatórias (28,95%). Por outro lado, 47,37% dos professores não tiveram qualquer contato com as Lutas nesse contexto. A ausência das Lutas como disciplina ou conteúdo nas matrizes curriculares dos cursos superiores, pode impactar a formação de professores e, consequentemente, a maneira como estes conduzem o trato pedagógico com as Lutas no contexto escolar (Hegele et al., 2018Hegele B, Jaime González F, Machado Borges R. Possibilidades do ensino das lutas na escola: uma pesquisa-ação com professores de educação física. Caderno de Educação Física e Esporte. 2018;16(1):99-107. http://dx.doi.org/10.36453/2318-5104.2018.v16.n1.p99.
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; Cisne et al., 2022Cisne MDN, Fernandes MPR, Borges LN, Barroso ML, Nogueira PHS, Almeida MIM, et al. Formação e prática pedagógica na Educação Física escolar: a percepção dos professores sobre a temática lutas. Res Soc Dev. 2022;11(1):e43511125212. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i1.25212.
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).

No que se refere ao contexto da formação continuada, 55,26% dos professores afirmou que não houve nenhum contato com as Lutas nesse processo. Já entre aqueles que tiveram oportunidades de formação continuada, destaca-se a participação em cursos/workshops/congressos (n=7; 18,42%), e o fato de que apenas três (03) professores participaram de atividades formativas promovidas pela SEDF (7,89%). Para além das oportunidades de formação continuada, dez (10) professores (26,32%) relataram contato com as Lutas por intermédio da troca de experiências/vivências com colegas de profissão, porém de maneira informal e assistemática.

Sobre a relevância da formação continuada no ensino de Lutas na escola, Rufino e Darido (2015b)Rufino LGB, Darido SC. O ensino das lutas nas aulas de Educação Física: análise da prática pedagógica à luz de especialistas. Rev Educ Fis UEM. 2015b;26(4):505-18. http://dx.doi.org/10.4025/reveducfis.v26i4.26441.
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apontam que a mesma contribui para que os professores possam acompanhar as rápidas transformações da sociedade, o que exige reformulação e ressignificação dos conhecimentos, além de mobilizar os professores à reflexão sobre a própria prática pedagógica e possibilitar o desenvolvimento e ampliação de saberes sobre as Lutas.

O ensino de lutas na educação física escolar

A maioria dos professores (52,63%) afirmou não trabalhar com essa prática corporal em suas aulas. Ao justificarem os motivos pelos quais não oportunizam o ensino de Lutas em suas aulas (Tabela 4), um número expressivo afirmou que não se sente suficientemente capacitado.

Tabela 4
Motivos apontados pelos professores para não ensinar Lutas.

Sobre a percepção em relação a própria capacitação para o ensino de Lutas, a maioria dos professores indicou se sentir pouco (34,21%) ou nada capacitado (21,05%) para o ensino de Lutas. As implicações desse resultado reverberam, dentre outros aspectos, na ausência do ensino de Lutas nas aulas de Educação Física ou na oferta de modalidades específicas com caráter tecnicista. Por outro lado, destaca-se um percentual considerável de professores que se sentem regularmente (21,05%) ou suficientemente capacitados (18,42%), evidenciando avanços na formação.

A insegurança sobre a própria capacitação é relatada em diferentes estudos que investigaram o ensino de Lutas e, geralmente, ela é apontada como decorrente de falhas no processo formativo voltado ao seu ensino (Fonseca et al., 2013Fonseca JMC, Franchini E, Del Vecchio FB. Conhecimento declarativo de docentes sobre a prática de Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate nas aulas de Educação Física escolar em Pelotas, Rio Grande Do Sul. Pensar Prát. 2013;16(2). http://dx.doi.org/10.5216/rpp.v16i2.17221.
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; Matos et al., 2015Matos JAB, Hirama LK, Galatti LR, Montagner PC. A presença/ausência do conteúdo lutas na educação física escolar: identificando desafios e propondo sugestões. Conexões (Campinas). 2015;13(2):117-35. http://dx.doi.org/10.20396/conex.v13i2.8640658.
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; Pereira et al., 2021Pereira MPVDC, Marinho A, Galatti LR, Scaglia AJ, Farias GO. Lutas na escola: estratégias de ensino de professores de educação física. J Phys Educ (Maringá). 2021;32:e3226. ). Tal percepção está associada à crença de que é necessário ser especialista ou no mínimo praticante de determinadas modalidades para que se ensine Lutas, uma interpretação limitada das diferentes perspectivas pedagógicas que possibilitam o ensino de Lutas, sem a exigência de que o professor seja especialista ou praticante de alguma modalidade, por exemplo (Gomes et al., 2013Gomes NC, Barros AM, De Freitas FPR, Darido SC, Rufino LGB. O conteúdo das lutas nas séries iniciais do ensino fundamental: possibilidades para a prática pedagógica da Educação Física escolar. Motrivivência. 2013;41(41):305-20. http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2013v25n41p305.
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).

No que se refere às estratégias metodológicas, a maioria indicou que desenvolve o ensino de Lutas se valendo da adaptação de materiais/regras/espaços, através de jogos como recurso metodológico, ou ainda se valendo de recursos tecnológicos. Apontamos ainda que a maioria dos professores afirmaram que utilizam mais de uma estratégia conjugada, como pode ser visualizado na Tabela 5.

Tabela 5
Estratégias metodológicas adotadas para o ensino de Lutas.

A utilização do jogo como recurso metodológico para o ensino de Lutas no contexto escolar e as suas possibilidades estão amplamente consolidadas na literatura (Cirino et al., 2013Cirino C, Pereira MPVC, Scaglia AJ. Sistematização dos Conteúdos das Lutas para o Ensino Fundamental: uma proposta de ensino pautada nos jogos. Rev Min Educ Fís. 2013;9:221-7.; Rufino e Darido, 2015aRufino LGB, Darido SC. O ensino das Lutas na Escola: possibilidades para a Educação Física. Porto Alegre: Penso Editora; 2015a.; Pereira et al., 2017Pereira MPVC, Cirino C, Corrêa AO, Farias GO. Lutas na escola: sistematização do conteúdo por meio a teia do conhecimento das lutas em rede. Conexões (Campinas). 2017;15(3):338-48. http://dx.doi.org/10.20396/conex.v15i3.8648512.
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). Existem ainda poucas experiências documentadas sobre a utilização de recursos tecnológicos para o ensino das Lutas, apesar da utilização de vídeos aparecer em pesquisas onde professores afirmaram recorrer a essa ferramenta (Fonseca et al., 2013Fonseca JMC, Franchini E, Del Vecchio FB. Conhecimento declarativo de docentes sobre a prática de Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate nas aulas de Educação Física escolar em Pelotas, Rio Grande Do Sul. Pensar Prát. 2013;16(2). http://dx.doi.org/10.5216/rpp.v16i2.17221.
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; Passos-Santos et al., 2011Passos-Santos JPD, Oliveira SAD, Cândido IC. As lutas como conteúdo em Educação Física escolar por parte dos professores da rede municipal de ensino de Paranavaí, Paraná. Lect Educ Fís Deportes. 2011;162:01.).

Em relação aos espaços físicos, os resultados apontam que apenas três (03) escolas contam com uma sala de Lutas, sobre os materiais disponíveis, apenas nove (09) contam com algum modelo de tatame (23,68%) e um número considerável de professores apontou que não possui nenhum material que possa ser utilizado ou adaptado para essas aulas (28,85%).

Sobre os principais materiais utilizados pelos professores para embasarem o seu planejamento pedagógico (Tabela 6), a maioria relatou que se vale da literatura especializada da área, do CeM e de vídeos. Com destaque para a BNCC que representa a menor incidência de respostas, possivelmente por se tratar de um documento mais novo em comparação a outros.

Tabela 6
Materiais que embasam o planejamento dos professores.

Embora a produção científica relacionada ao ensino de Lutas no contexto escolar tenha se mostrado incipiente, principalmente aquelas de caráter propositivo (Correia e Franchini, 2009Correia WR, Franchini E. Produção acadêmica em lutas, artes marciais e esportes de combate. Motriz. 2009;16(1):1-9. http://dx.doi.org/10.5016/1980-6574.2010v16n1p01.
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; Pereira et al., 2022Pereira MPVC, Folle A, Milan FJ, Trusz R, Farias GO. Scientific production on martial arts and combat sports content in school physical education: a review study. Ido Mov Culture. J Martial Arts Anthrop. 2022;22:33-43.), o percentual de professores que recorrem à essas ferramentas de apoio confirmam a relevância de se produzir materiais que dialoguem diretamente com a realidade escolar. Por outro lado, aproximadamente 40% dos professores não recorrem ao CeM, o que indica que o planejamento se desenvolve desconsiderando unidades temáticas e objetivos de aprendizagem expressamente recomendados pela rede de ensino. Nesse sentido, observa-se a carência de ações voltadas para que o currículo prescrito avance em direção a um currículo apresentado aos professores (Sacristán, 2000Sacristán JGO. Currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed; 2000.), promovendo ações formativas que possibilitem aos professores desenvolver efetivamente as práticas corporais sugeridas no currículo prescrito em suas aulas, entre elas as Lutas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados permitem concluir que o percurso formativo dos professores é, em linhas gerais, permeado por um acesso superficial às Lutas, inclusive na formação inicial e continuada. A falta de capacitação profissional, fato que se relaciona com os processos formativos iniciais e continuados, se apresenta como o elemento determinante para que os professores não desenvolvam essa prática corporal em suas aulas, embora outros fatores, como a falta de materiais e espaços adequados, possam influenciar nesse aspecto.

Esses resultados evidenciam a importância dos processos formativos que garantam o acesso às estratégias metodológicas que facilitem a transposição didática para o contexto escolar. Tais ações formativas devem ser incentivadas pelas instituições de formação inicial, ou encaminhadas pela própria rede no contexto da formação continuada, considerando contextos formais de aprendizagem, por outro lado, os próprios professores devem buscar tais situações de aprendizagem de maneira intencional e deliberada. A inclusão de políticas públicas formativas que fomentem processos de abordagem pedagógica das Lutas nas aulas de Educação Física parece ser um elemento fundamental que deve ser incentivado nos mais diversos contextos.

É importante destacar que entre os professores que trabalham com as Lutas no contexto investigado, há avanços positivos no que diz respeito às estratégias metodológicas adotadas. Todavia, apontamos a importância e a necessidade de que sejam conduzidos mais estudos a fim de evidenciar como os professores tem abordado as Lutas em suas aulas, no contexto investigado.

  • FINANCIAMENTO

    O presente trabalho não contou com apoio financeiro de nenhuma natureza para sua realização.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    03 Out 2022
  • Aceito
    06 Out 2022
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