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Vida universitária e atuação do associativismo no lazer estudantil

University life and the performance of associations in student leisure

La vida universitaria y la actuación de las asociaciones en el ocio estudiantil

RESUMO

Trata-se de estudo transversal, descritivo/exploratório, quali-quantitativo, que objetivou investigar a atuação das Associações Acadêmicas Atléticas (AAAs) no fomento do lazer universitário. Dezessete presidentes de AAAs da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/2019 responderam ao questionário. Os interesses social e físico-esportivo predominaram. As festas (arrecadação de fundos) e treinamentos (performance) são realizados pela maioria. No treinamento e competições, predominam o futsal, vôlei, basquete e handebol, sendo o JIUFMS a principal competição. As AAAs figuram como entidades promotoras de lazer aos universitários, sendo as festas ações meios e o treinamentos para performance e integração e socialização, ações fins.

Palavras-chave:
Universidade; Esporte; Lazer; Atléticas

ABSTRACT

This is a cross-sectional, descriptive/exploratory, qualitative and quantitative study, which aimed to investigate the performance of AAAs in promoting university leisure. Seventeen presidents of AAAs from the Federal University of Mato Grosso do Sul/2019 answered the questionnaire. The social and physical-sports interests prevailed. Parties (fundraising) and trainings (performance) are held by the majority. In training and competitions, futsal, volleyball, basketball and handball predominate, with JIUFMS being the main competition. The AAAs appear as entities that promote leisure for university students, with parties being means actions and training for performance, integration and socialization, end actions.

Keywords:
University; Sport; Leisure; Athletic

RESUMÉN:

Se trata de un estudio transversal, descriptivo/exploratorio, cualitativo y cuantitativo, que tuvo como objetivo investigar el desempeño de las AAA en la promoción del ocio universitario. Diecisiete presidentes de AAA de la Universidad Federal de Mato Grosso do Sul/2019 respondieron el cuestionario. Prevalecieron los intereses sociales y físico-deportivos. La mayoría organiza fiestas (recaudación de fondos) y capacitaciones (rendimiento). En los entrenamientos y competiciones predominan el fútbol sala, el voleibol, el baloncesto y el balonmano, siendo la JIUFMS la principal competición. Las AAA aparecen como entidades promotoras del ocio de los universitarios, siendo las fiestas acciones medios y la formación para el desempeño, integración y socialización, acciones fin.

Palabras-clave:
Universidad; Deporte; Ocio; Atlético

INTRODUÇÃO

O tempo social consiste na relação do espaço/tempo em que as atividades sociais são determinadas. Com o advento da revolução industrial, sobretudo com a criação do relógio, o tempo social passou a ser organizado em momentos específicos (tempo para o trabalho, para a família, para a educação, para a religiosidade, para o lazer) (Padilha, 2004Padilha V. Tempo livre. In: Gomes CL, editor. Dicionário crítico do lazer. Belo Horizonte: Autência; 2004. p. 2018-21.), e comportamentos passaram a ser socialmente considerados adequados a cada fase da vida, como a inserção no ensino superior e no mercado de trabalho ao final da adolescência.

O ingresso ao ensino superior é marcado por mudanças na vida dos estudantes, dentre elas as relacionadas ao tempo social. No que concerne às atividades acadêmicas, a vida universitária exige que, para integralização do curso e diplomação, disciplinas que compõem a matriz curricular sejam cumpridas, sendo estas organizadas em cargas horárias distribuídas em períodos específicos (matutino, vespertino ou noturno) ou integral.

A depender da formação, os cursos exigem para conclusão no mínimo 2.400 horas e no máximo 7.200 horas, carga horária distribuída no mínimo em 2 e 7 anos, respectivamente (Brasil, 2007Brasil. Resolução nº 2, de 18 de junho de 2007. Dispõe sobre carga horária mínima e procedimentos relativos à integralização e duração dos cursos de graduação, bacharelados, na modalidade presencial [Internet]. Diário Oficial da União; Brasília; 18 jun. 2007 [citado em 2022 Ago 22]. Disponível em: https://normativasconselhos.mec.gov.br/normativa/view/CNE_RES_CNECESN22007.pdf?query=carga%20hor%C3%A1ria
https://normativasconselhos.mec.gov.br/n...
). Para aprovação, os cursos ofertados no modelo presencial, além da frequência obrigatória de no mínimo 75% da carga horária de cada disciplina (Brasil, 1996Brasil. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases para educação nacional [Internet]. Diário Oficial da União; Brasília; 23 dez. 1996. Seção 1, número 248 [citado em 2022 Ago 22]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm
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), exigem a leitura de textos básicos e complementares que fundamentam as disciplinas, assim como trabalhos extraclasses, de modo a alcançar a média mínima.

Além de se envolverem com as atividades necessárias ao cumprimento da carga horária e aprovação, parte considerável dos universitários se deparam com a necessidade produtiva, ou seja, a venda de parte do tempo social para adquirir recursos financeiros para subsidiar necessidades básicas: alimentação, vestuário, transporte, remédios, dentre outros. Conforme indicam os dados do Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace, 2019Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis – Fonaprace. V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos (as) Graduandos (as) das IFES – 2018. Brasília; 2019.), 29,9% dos estudantes de Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) estão inseridos em trabalhos formais, e 40,6%, procurando emprego.

Outro fator a considerar é aquele destinado ao deslocamento da residência/trabalho até a universidade (e vice-versa), pois 32,1% dos estudantes de IFES residem entre 10 e 50 km da universidade, e 51,4% têm o transporte público como meio de deslocamento (Fonaprace, 2019Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis – Fonaprace. V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos (as) Graduandos (as) das IFES – 2018. Brasília; 2019.), o que pode elevar o tempo de deslocamento.

Diante das diversas exigências a esse público, por vezes o tempo social acaba sendo insuficiente para outras experiências da vida, como o lazer, oportunidade em que um tempo disponível é essencial, pois o lazer consiste na vivência da cultura em seu sentido amplo, envolvendo vários conteúdos culturais, em que a disponibilidade de tempo pressupõe opção e, a atitude, uma ação (Marcellino, 2003Marcellino NC. Estudos do lazer: uma introdução. Campinas: Autores Associados; 2003.).

A atuação da falta de tempo como principal barreira social ao lazer de universitários tem sido evidenciada em estudos brasileiros (Sousa et al., 2013Sousa T, Fonseca S, Barbosa A. Perceived barriers by university students in relation the leisure-time physical activity. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2013;5(2):164-73.), condição que se acentua com o avançar da curricularização (Godoy-Cumillaf et al., 2022Godoy-Cumillaf A, Fuentes-Merino P, Jiménez-Díaz J, Vásquez-Gómez J. Estudio comparativo del comportamiento de movimiento de 24 horas, en estudiantes universitarios de pedagogía en educación física. Retos. 2022;43:177-84. http://dx.doi.org/10.47197/retos.v43i0.87285.
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; Molano-Tobar et al., 2019Molano-Tobar N, Vélez-Tobar RA, Rojas-Galvis E. Actividad física y su relación com la carga académica de estudiantes universitarios. Hacia Promoc Salud. 2019;24(1):112-20. http://dx.doi.org/10.17151/hpsal.2019.24.1.10.
http://dx.doi.org/10.17151/hpsal.2019.24...
). Em paralelo à falta de tempo, a ausência de recursos financeiros também está presente (Buzacarini e Corrêa, 2015Buzacarini C, Corrêa EA. Lazer dos “estudantes universitários”. Conexões. 2015;13(2):15-28. http://dx.doi.org/10.20396/conex.v13i2.8640653.
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), sendo a oferta gratuita e a otimização do tempo por já estarem na universidade, os principais responsáveis por acadêmicos participarem de uma política nacional de esporte na universidade (Silva e Reverdito, 2023Silva JVP, Reverdito R. Ensino Superior e fatores influenciadores à permanência e evasão no Programa Segundo Tempo Universitário. Retos 2023. No prelo.).

Evidencia-se a relevância de políticas governamentais na garantia do acesso. Entretanto, estudo relacionado ao âmbito federal indicou que ações voltadas às Atividades Físicas de Lazer (AFL) para universitários são incipientes e de baixo alcance (Silva, 2022Silva JVP. Programas nacionais de atividades físicas em universidades federais brasileiras e relações com o lazer. Movimento. 2022;28:e28044. http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.122918.
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). Mediante a ausência de atuação (ou atuação limitada) do Estado por meio de políticas governamentais que viabilizem condições favoráveis ao lazer, historicamente ações têm sido viabilizadas pelo associativismo estudantil.

A atuação do associativismo estudantil no fomento do esporte universitário data do final do século XIX, com participação ativa dos grêmios, centros acadêmicos e Associações Acadêmicas Atléticas (AAAs) (Starepravo et al., 2010Starepravo FA, Reis LJA, Mezzadri FM, Marchi W Jr. Esporte Universitário Brasileiro: uma leitura a partir de suas relações com o Estado. Rev Bras Ciênc Esporte. 2010;31(3):131-48. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-32892010000300009.
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), passando, posteriormente, a dispor de maior atenção das atléticas (Melo, 1997Melo VA. O Movimento Estudantil na Educação Física Brasileira: Construção, Atuação e Contribuições na Escola Nacional de Educação Física e Desportos. Movimento. 1997;4(7):9-19. http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.2363.
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).

Instituições como o College Makenzie, em São Paulo, e a Faculdade de Medicina e Cirurgia, no Rio de Janeiro, foram pioneiros na realização de treinamentos e amistosos organizados pelos estudantes (Starepravo et al., 2010Starepravo FA, Reis LJA, Mezzadri FM, Marchi W Jr. Esporte Universitário Brasileiro: uma leitura a partir de suas relações com o Estado. Rev Bras Ciênc Esporte. 2010;31(3):131-48. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-32892010000300009.
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), corroborando que fossem criadas as primeiras federações – Federação Atlética dos Estudantes (1933) e Federação Universitária Paulista de Esportes (1934) – e os primeiros jogos oficiais ocorressem no Rio de Janeiro (1934) e em São Paulo (1935), acontecimentos que levaram à constituição da Confederação Universitária Brasileira de Esporte (CUBE) (Starepravo et al., 2010Starepravo FA, Reis LJA, Mezzadri FM, Marchi W Jr. Esporte Universitário Brasileiro: uma leitura a partir de suas relações com o Estado. Rev Bras Ciênc Esporte. 2010;31(3):131-48. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-32892010000300009.
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).

Embora tenha dado significativas contribuições às experiências de lazer dos universitários, a literatura pouco dispõe de produção científica sobre a atuação das AAAs no fomento do lazer aos universitários, haja vista que os estudos realizados centraram atenção exclusivamente na história do esporte universitário (Melo, 1997Melo VA. O Movimento Estudantil na Educação Física Brasileira: Construção, Atuação e Contribuições na Escola Nacional de Educação Física e Desportos. Movimento. 1997;4(7):9-19. http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.2363.
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), na relação entre Estado e as associações esportivas universitárias (Pessoa e Dias, 2020Pessoa VLF, Dias C. Política, associativismo e esporte universitário na década de 1930. Movimento. 2020;26:e26066. http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.100596.
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), em competições esportivas (Starepravo et al., 2010Starepravo FA, Reis LJA, Mezzadri FM, Marchi W Jr. Esporte Universitário Brasileiro: uma leitura a partir de suas relações com o Estado. Rev Bras Ciênc Esporte. 2010;31(3):131-48. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-32892010000300009.
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; Camargo e Mezzadri, 2018Camargo P, Mezzadri F. A organização e configuração do esporte universitário no Brasil (1940-1980). Motrivivência. 2018;30(53):52-68. http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2018v30n53p52.
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), organizações oficiais (Malagutti et al., 2020Malagutti JPM, Rojo JR, Starepravo FA. O esporte universitário brasileiro: organizações oficiais e as associações atléticas acadêmicas. Res. Soc Dev. 2020;9(8):e32985325. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i8.5325.
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) e nos tipos de organização das AAAs (Ribeiro et al., 2022Ribeiro LS, Martineli IMG, Navarro R, Moraes e Silva M, Silva JVP. Esporte universitário e Associações Atléticas Acadêmicas: estrutura administrativa e perfil dos gestores na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/Brasil. Retos. 2022;46:411-24. http://dx.doi.org/10.47197/retos.v46.91788.
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).

Em razão do cenário e contexto histórico da atuação, assim como da conjuntura atual da política ultraliberal implementada no Brasil, com significativas mudanças na política de esporte federal por meio da extinção do Ministério do Esporte, descontinuidade de programas e contínuos cortes em políticas sociais (Silva, 2022Silva JVP. Programas nacionais de atividades físicas em universidades federais brasileiras e relações com o lazer. Movimento. 2022;28:e28044. http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.122918.
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), a presente investigação questiona: Qual a participação das AAAs no fomento do lazer universitário? Quais ações são desenvolvidas e suas relações com os conteúdos culturais? Quais os objetivos da realização dessas ações?

Diante ao exposto, a pesquisa objetivou investigar a atuação das AAAs no desenvolvimento do lazer universitário. Especificamente, buscou investigar a atuação das AAAs no fomento do lazer e quais experiências são desenvolvidas; analisar a relação das experiências fomentadas com os culturais do lazer; identificar os objetivos com que as experiências são promovidas.

METODOLOGIA

Trata-se de investigação transversal, descritiva/exploratória, com abordagem quali-quantitativa (Gil, 2010aGil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 5ª ed. São Paulo: Atlas; 2010a.).

Os presidentes de AAAs da UFMS/Cidade Universitária com mandato em 2019 figuraram como população. Selecionada por adesão, a amostra foi composta por 17 presidentes. Foram usados como critérios de inclusão ter exercido a função de gestão/administração em AAAs existentes na UFMS/Cidade Universitária/2019; anuência ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido on-line; aceite em participar da pesquisa. Como critério de exclusão, ser menor de 18 anos.

A técnica adotada foi a aplicação de questionário on-line, que promove maior agilidade e precisão (Gil et al., 2013Gil RF, Camelo SH, Laus AM. Nursing tasks in the Material Storage Center of hospital institutions. Texto Contexto Enferm. 2013;22(4):927-34. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072013000400008.
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) e maior taxa de resposta (Edwards et al., 2009Edwards PJ, Roberts I, Clarke MJ, et al. Methods to increase response to postal and electronic questionnaires. Cochrane Database Syst Rev. 2009;8(3):MR000008. http://dx.doi.org/10.1002/14651858.MR000008.pub4. PMid:19588449.
http://dx.doi.org/10.1002/14651858.MR000...
). Foi elaborado em Word Press um questionário pautado em estudos anteriores sobre o esporte universitário no Brasil (Starepravo et al., 2010Starepravo FA, Reis LJA, Mezzadri FM, Marchi W Jr. Esporte Universitário Brasileiro: uma leitura a partir de suas relações com o Estado. Rev Bras Ciênc Esporte. 2010;31(3):131-48. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-32892010000300009.
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; Camargo e Mezzadri, 2018Camargo P, Mezzadri F. A organização e configuração do esporte universitário no Brasil (1940-1980). Motrivivência. 2018;30(53):52-68. http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2018v30n53p52.
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). Foram identificados os constructos, elaborados os itens e o instrumento (De Von et al., 2007DeVon HA, Block ME, Moyle-Wright P, et al. A psychometric toolbox for testing validity and reliability. J Nurs Scholarsh. 2007;39(2):155-64. http://dx.doi.org/10.1111/j.1547-5069.2007.00161.x. PMid:17535316.
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), aplicando vocabulário e extensão do instrumento (quantidade de questões) e distribuição das perguntas conforme recomendação literária (Gil, 2010bGil AC. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª ed. São Paulo: Atlas; 2010b.).

O instrumento dispôs de 35 perguntas, sendo 24 abertas e 11 fechadas, organizadas em seis constructos: 1. Perfil demográfico dos presidentes, 2. Estrutura administrativa das AAAs, 3. Associados, 4. Interesses culturais fomentados; 5. Treinamentos esportivos; 6. Campeonatos esportivos. O link do instrumento, orientações de preenchimento e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foram enviados via e-mail. Para este manuscrito, foram consideradas apenas as questões do constructo 4, 5 e 6.

As informações quantitativas foram analisadas pela frequência absoluta e relativa. Já os qualitativos por meio da análise de conteúdo temático, estruturada em três fases: pré-análise; exploração do material; e tratamento de dados (Gil, 2010aGil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 5ª ed. São Paulo: Atlas; 2010a.), com apresentação visual em figuras e quadros.

A pré-análise foi o primeiro contato com os dados; a exploração do material “[...] refere-se fundamentalmente às tarefas de codificação, como recorte (escolha das unidades), enumeração (escolha das regras de contagem) e classificação (escolha da categoria)” (Gil, 2010a, pGil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 5ª ed. São Paulo: Atlas; 2010a.. 152) e o tratamento dos dados, a interpretação dos resultados.

A pesquisa foi aprovada em Comitê de Ética em Pesquisa sob nº CAAE: 55375021.4.0000.0021.

RESULTADOS/DISCUSSÃO

Atuação das AAAS e experiências de lazer fomentadas

Os resultados indicam que todas as atléticas promovem ações relacionadas ao conteúdo social, e apenas uma não realiza ações físico-esportivas, sendo os dois conteúdos culturais mais fomentados (Figura 1). Os conteúdos culturais consistem nas aspirações (interesses) que levam as pessoas a procurarem ocupar seu tempo disponível com experiências de lazer, podendo ser físico-esportivo, artístico, intelectual, manual e social (Dumazedier, 1979Dumazedier J. Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva; 1979.) e turístico (Camargo, 1986Camargo LOL. O que é lazer. São Paulo: Brasiliense; 1986.).

Figura 1
Interesses culturais do lazer promovidos pelas AAAs/Cidade Universitária/UFMS/2019.

O interesse social ocorre quando se busca o relacionamento, o contato face a face, o convívio social (Marcellino, 2003Marcellino NC. Estudos do lazer: uma introdução. Campinas: Autores Associados; 2003.). A vinculação a esse tipo de experiência decorre da necessidade humana de filiação a grupos, tendo o contato social como fator motivador. Entre as possibilidades estão ir a bares, restaurantes, promoções de grupos, visitas a vizinhos e festas; vivências oportunas à manutenção e ampliação das relações sociais (Silva e Sampaio, 2011Silva JVP, Sampaio TMV. O lazer e suas diversas faces. In: Sampaio TMV, Silva JVP, editores. Lazer e cidadania: horizontes de uma construção coletiva. Brasília: UCB; 2011. p. 45-66.).

A predominância do fomento do interesse social corrobora aqueles desenvolvidos anteriormente, que evidenciaram que esse tipo de conteúdo cultural é o mais vivenciado por estudantes universitários (Magnabosco, 2019Magnabosco LN. Práticas de lazer de estudantes universitários na universidade federal de Uberlândia [trabalho de conclusão de curso]. Uberlândia: Faculdade de Educação Física, Universidade Federal de Uberlândia; 2019.). Todavia, há estudos em que predominaram os interesses artísticos (ouvir, tocar, cantar, dançar, compor, cinema), intelectuais (ler) e físico-esportivo (musculação, caminhada, capoeira, vôlei, artes marciais), ficando o social à frente somente dos turísticos e manuais (Queiroz e Souza, 2009Queiroz MNG, Souza LK. Atividades de lazer em jovens e adultos: um estudo descrito. Licere. 2009;12(43):1-21. http://dx.doi.org/10.35699/1981-3171.2009.844.
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), o que indica que o lazer é um advento complexo e está relacionado a diversos fatores que podem exercer influência sobre ele.

Dentre as experiências sociais promovidas, as festas configuram-se na principal (94,11%). Consideradas como experiências mais importantes pelos acadêmicos (Mayer et al., 2010Mayer M, Starepravo FA, Silva SR. Atividades de lazer de acadêmicos de um curso de educação física e as políticas públicas de lazer na cidade de Guarapuava, PR. EFDeportes. 2010;15(149):1-10.), as festas open bar (eventos regados a bebidas alcoólicas e que têm como marca a sociabilidade, diversão e paquera) (Romera, 2014Romera LA. Lazer e festas: estudo sobre os modos de divulgação de bebidas os campi universitários. Cad Bras Ter Ocup. 2014;22:95-102. http://dx.doi.org/10.4322/cto.2014.033.
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) têm sido carro-chefe dos eventos das AAAs. Esse tipo de lazer, juntamente com ir a bares, também foi observado em outro estudo (Magnabosco, 2019Magnabosco LN. Práticas de lazer de estudantes universitários na universidade federal de Uberlândia [trabalho de conclusão de curso]. Uberlândia: Faculdade de Educação Física, Universidade Federal de Uberlândia; 2019.).

A criação de condições favoráveis aos contatos face a face no lazer potencializadas pelo interesse social é relevante à formação e desenvolvimento humano, em especial na adolescência e início da vida adulta, uma vez que oportunizam que novos vínculos afetivos se formem e aqueles já existentes se consolidem. Pela fato de a universidade ser um contexto novo, com a presença de pessoas até então desconhecidas, sobretudo para aqueles que se deslocam de uma cidade para outra em virtude do estudo, situação potencializada nas universidades federais desde 2010 com o Sistema de Seleção Unificada, a formação de laços sociais torna-se uma demanda existencial durante o curso.

Embora momentos de sociabilidade e de integração tenham importância no tempo de lazer, assim como o potencial das AAAs em promover esse tipo de experiência, a organização das festas por esses motivos demonstrou ser secundária, pois a arrecadação de fundos foi quase unânime entre as atléticas (Quadro 1).

Quadro 1
Objetivos das festas, organização de competições e treinamentos promovidos pelas AAAs/Cidade Universitária/UFMS/2019.

Portanto, as festas são mecanismos principais de arrecadação financeira. Embora haja a possibilidade de auxílio financeiro por parte das IES – PDI, PNAES e recursos orçamentários – (Belato, 2018Belato AKM. Um estudo sobre a política do esporte universitário na Universidade de Brasília – UnB (2009-2016) [dissertação]. Rio Claro: Faculdade de Educação, Universidade de Brasília; 2018.), esse tipo de apoio ao associativismo estudantil tem sido incipiente (ou inexistente), sendo a falta de recursos financeiros a principal barreira ao desenvolvimento das ações (Pereira e Silva, 2019Pereira BA, Silva LP. Políticas de Esporte e Lazer nas Universidades Federais de Minas Gerais: um olhar sobre as associações atléticas acadêmicas. Licere. 2019;22(4):95-136. http://dx.doi.org/10.35699/1981-3171.2019.16263.
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) e um dos maiores problemas enfrentados na gestão do esporte universitário. Em Minas Gerais, de 10 instituições investigadas, apenas cinco contavam com recursos da instituição, a maioria do PNAES (Barbosa, 2014Barbosa CG. Liderança na gestão do esporte universitário: proposta da criação de uma rede de dados [dissertação]. Rio Claro: Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista; 2014.), e de 62, apenas três dispunham de apoio financeiro institucional (Pereira e Silva, 2019Pereira BA, Silva LP. Políticas de Esporte e Lazer nas Universidades Federais de Minas Gerais: um olhar sobre as associações atléticas acadêmicas. Licere. 2019;22(4):95-136. http://dx.doi.org/10.35699/1981-3171.2019.16263.
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).

Além de pouco contar com financiamento das universidades para o funcionamento, o único recurso público regulamentado para este fim em nível nacional é oriundo de exploração da loteria e destinado à Confederação Brasileira de Esporte Universitário, a qual limita o uso dos recursos ao rendimento esportivo, como à organização de eventos nacionais e participação em competições internacionais (Ribeiro et al., 2022Ribeiro LS, Martineli IMG, Navarro R, Moraes e Silva M, Silva JVP. Esporte universitário e Associações Atléticas Acadêmicas: estrutura administrativa e perfil dos gestores na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/Brasil. Retos. 2022;46:411-24. http://dx.doi.org/10.47197/retos.v46.91788.
http://dx.doi.org/10.47197/retos.v46.917...
).

Neste sentido, na ausência de investimentos públicos nas ações das AAAs, as festas como principal ação e seus objetivos voltados à arrecadação retratam uma realidade histórica, já que as atléticas nunca dispuseram de recursos públicos específicos e regulares ao fomento de suas ações, limitando-se, conforme exposto por Pessoa e Dias (2020)Pessoa VLF, Dias C. Política, associativismo e esporte universitário na década de 1930. Movimento. 2020;26:e26066. http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.100596.
http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.100...
, na década de 1930, a apoios financeiros eventuais para competições específicas. Logo, são estratégias orientadas à arrecadação financeira para o desenvolvimento de outras atividades, embora as experiências sociais de lazer, mesmo que secundariamente, também estejam entre os objetivos.

A presença do interesse físico-esportivo como segunda experiência desenvolvida pelo maior número de atléticas está em consonância com as finalidades dessas entidades, que têm o treinamento em diversas modalidades e organização de competições como principais ações, conforme evidenciado no presente estudo e por Starepravo et al. (2010)Starepravo FA, Reis LJA, Mezzadri FM, Marchi W Jr. Esporte Universitário Brasileiro: uma leitura a partir de suas relações com o Estado. Rev Bras Ciênc Esporte. 2010;31(3):131-48. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-32892010000300009.
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-32892010...
.

O fomento de ações esportivas é de grande relevância à vida estudantil, pois a exemplo das festas, viabiliza a socialização institucional, podendo corroborar favoravelmente aspectos sociais, além de figurar como atividades sistematizadas que contribuem com a constituição de um estilo de vida fisicamente ativo.

Todavia, os treinamentos promovidos estão voltados sobretudo aos resultados positivos em competições, visto que a performance técnica na modalidade e preparação física para competições predominaram. Esses resultados são similares aos evidenciados em treinamentos ofertados pelas Instituições de Ensino Superior (IES) em projetos esportivos de desempenho, fazendo com que o esporte de participação, o qual em sua essência promove a integração, acabe ficando em segundo plano (Barbosa, 2017Barbosa CG. A gestão pública do esporte universitário brasileiro: a bola não deve entrar por acaso [tese]. Rio Claro: Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”; 2017.). Portanto, o vínculo histórico dessas entidades com a representação em competições esportivas, a exemplo do que ocorria no início do século XIX, continua predominante.

Por outro lado, os objetivos relacionados ao lazer também estão presentes, com destaque à integração e prática esportiva, mas limitado a um menor número de atletas. Tais evidências são relevantes, pois mesmo existindo o vínculo com as AAAs por interesse em representá-la em competições, há aqueles que procuram essas entidades com anseios de integração e socialização (lazer).

O fomento do esporte voltado ao lazer e integração social é relevante, pois políticas públicas governamentais no contexto universitário destinados a este fim são poucas, e as existentes, como o Proext, são centralizadoras e incipientes, e o Programa Segundo Tempo Universitário, de baixo alcance (Silva, 2022Silva JVP. Programas nacionais de atividades físicas em universidades federais brasileiras e relações com o lazer. Movimento. 2022;28:e28044. http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.122918.
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). Ou seja, as AAAs analisadas não descartam a importância que elas têm no fomento do esporte de competição, mas também compreendem a importância de criar condições de participação esportiva. Tal postura faz das atléticas algo mais coerente e alinhada aos propósitos da sua existência enquanto representação estudantil, preocupada com a abrangência de um número maior e diverso de estudantes.

Em que pese relevante sua atuação frente às experiências sociais e físico-esportivas, aspectos relacionados à promoção da saúde encontram-se pouco presentes entre os objetivos das ações, sendo reportado somente por duas. Mesmo o esporte dispondo de notório espaço nas discussões sobre a relevância de universitários se envolverem com esse tipo de experiência de modo a prevenir doenças e promover benefícios biofisiológicos à saúde (Andersen et al., 2016Andersen L, Mota J, Di Pietro L. Update on the global pandemic of physical inactivity. Lancet. 2016;388(10051):1255-6. http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(16)30960-6. PMid:27475275.
http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(16)...
; Moore et al., 2016Moore SC, Lee I, Weiderpass E, et al. Association of leisure-time physical activity with risk of 26 types of cancer in 1.44 million adults. JAMA Intern Med. 2016;176(6):816-25. http://dx.doi.org/10.1001/jamainternmed.2016.1548. PMid:27183032.
http://dx.doi.org/10.1001/jamainternmed....
) e desenvolvimento fisiológico, psicológico, emocional, afetivo, social, político e cultural (Piggin, 2020Piggin J. What is physical activity? A holistic definition for teachers, researchers and policy makers. Front Sports Act Living. 2020;2:72. http://dx.doi.org/10.3389/fspor.2020.00072. PMid:33345063.
http://dx.doi.org/10.3389/fspor.2020.000...
), tal preocupação não se encontra entre os objetivos das AAAs investigadas, demarcando sua atuação limitada ao entretenimento por meio de festas, treinamentos e competições esportivas voltadas ao rendimento esportivo, integração e socialização.

Treinamentos e competições esportivas

A participação em competições esportivas é uma realidade da maioria das atléticas avaliadas. Entre elas predomina a participação em competições locais, pois os Jogos Interatléticas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (JIUFMS) figuraram como a competição de maior adesão (Quadro 2).

Quadro 2
Competições esportivas das quais as AAAs participam/Cidade Universitária/UFMS/2019.

Observa-se a participação predominantemente em jogos internos da instituição, o que aponta para organização focada em eventos de nível institucional e local, realidade semelhante à observada na Unesp em São Paulo, que tinha o InterUNESP como evento principal (Malagutti et al., 2020Malagutti JPM, Rojo JR, Starepravo FA. O esporte universitário brasileiro: organizações oficiais e as associações atléticas acadêmicas. Res. Soc Dev. 2020;9(8):e32985325. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i8.5325.
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), mas diferente em relação à UFMG e UnB, entidades em que as AAAs são de representação institucional e focadas em competições oficiais nacionais e internacionais.

Na presente investigação, 4 atléticas indicaram participar de jogos regionais ligados a cursos específicos – fisioterapia (InterFisioMS), economia (economíadas), medicina (InterMedical e InterMED). A participação em competições regionais vinculadas a áreas de formação também foi observada em universidade pública (olímpiadas regionais dos estudantes de medicina) (Rocha e Siqueira, 2009Rocha GWF, Siqueira VHF. Práticas sociais de estudantes de medicina na Universidade Pública. Trab Educ Saúde. 2009;7(1):149-65. https://doi.org/10.1590/S1981-77462009000100008.
https://doi.org/10.1590/S1981-7746200900...
), em São Paulo (economíadas, jogos jurídicos e engenharíadas) (Motta e Cora, 2019Motta RG, Cora MAJ. Esporte universitário em São Paulo. Rev Pensamento e Realidade. 2019;34(1):94-110. http://dx.doi.org/10.23925/2237-4418.2019v34i1p94-110.
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) e em São Paulo (InterMED), Paraná (engenharíadas) e Minas Gerais (jogos jurídicos) (Malagutti et al., 2020Malagutti JPM, Rojo JR, Starepravo FA. O esporte universitário brasileiro: organizações oficiais e as associações atléticas acadêmicas. Res. Soc Dev. 2020;9(8):e32985325. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i8.5325.
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).

Portanto, a participação das atléticas da UFMS não guarda relação com eventos nacionais organizados pela Confederação Brasileira do Desporto Universitário (CBDU), foco que está presente nas universidades de Minas Gerais – JUMG, JUBS e LDU (Barbosa, 2014Barbosa CG. Liderança na gestão do esporte universitário: proposta da criação de uma rede de dados [dissertação]. Rio Claro: Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista; 2014.) – e na UnB – competições da CBDU, Jogos Universitários do DF, Liga de Desportivo Universitário, Jogos Universitários Brasileiros, Pan-Americanos e Campeonatos Universitários Mundiais (Belato, 2018Belato AKM. Um estudo sobre a política do esporte universitário na Universidade de Brasília – UnB (2009-2016) [dissertação]. Rio Claro: Faculdade de Educação, Universidade de Brasília; 2018.). Por outro lado, algumas estão em consonância com a participação em eventos regionais de áreas de formação.

Tal diversidade decorre do percurso histórico ao qual o esporte universitário está inserido desde 1916 no Brasil, com modificação nas normas federais, nas quais a obrigatoriedade de vinculação das AAAs as Federações Desportivas Universitárias deixaram de existir, corroborando com a reestruturação de sua organização e eventos que aderem (Silva, 2022Silva JVP. Programas nacionais de atividades físicas em universidades federais brasileiras e relações com o lazer. Movimento. 2022;28:e28044. http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.122918.
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). Ou seja, características históricas como atuação na organização de festas e competições e fomento de treinamentos e participação em eventos foram mantidas, mas os tipos de eventos foram ressignificados, não mais alinhados e restritos à CBDU.

Tais particularidades também visualizadas nas modalidades em que participam de competições e fomentam treinamentos. Oferecidas aos naipes masculino e feminino (Quadro 3), a maioria das associações fomenta treinos em esportes tradicionais de quadra (futsal, voleibol, basquetebol e handebol), assim como dispõe de maior número de adesão em competições nessas modalidades.

Quadro 3
Modalidades esportivas das quais as AAAs participam em competições – Cidade Universitária/UFMS – 2019.

Portanto, de modo geral, reproduz tendência cultural do esporte nacional brasileiro para os esportes tradicionais coletivos, predominantes desde a Educação Básica, o que corrobora a literatura (Silva e Sampaio, 2012Silva JVP, Sampaio TMV. Os conteúdos das aulas de educação física no ensino fundamental: o que mostram os estudos? Rev Bras Ciênc Mov. 2012;20(2):106-18.), seja em decorrência dos conteúdos ministrados pelos docentes ou preferidos (Silva e Silva, 2015Silva JVP, Silva LLG. Educação Física nos anos finais do ensino fundamental em Campo Grande/MS. Revista Rev Bras Ciênc Mov. 2015;23(2):22-31. http://dx.doi.org/10.18511/0103-1716/rbcm.v23n2p22-31.
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), fatores que estão alinhados à identidade nacional com os esportes tradicionais de quadra, e esses figurem dentre as principais modalidades fomentadas pelas AAAs.

Todavia, especificamente, entende-se que o fomento de treinamentos e participação de competições predominantemente em modalidades coletivas tradicionais esteja relacionada às modalidades contempladas em cada tipo de competições, e por essas serem de cunho local/interno à instituição educacional a que estas dispõem de vínculo, haja vista que atléticas que participam de jogos em nível nacional indicam contemplar um rol maior de modalidades, e aquelas que participam de eventos institucional ou de área, uma quantidade menor. Eventos internos de universidades (InterUnesp) e de áreas (InterMed, Engenharias, Jogos Jurídicos) contemplam um rol semelhante de modalidades (atletismo, basquete, futsal, handebol, judô, natação, tênis, tênis de mesa, vôlei e xadrez) e particulares – futebol society (InterUnesp), jiu-jitsu (InterUnesp e Jogos Jurídicos), beisebol (InterMed) e peteca (Jogos Jurídicos).

Por outro lado, os Jogos Universitários Brasileiros (JUBS) abrangem um leque maior de modalidades esportivas – JUBS praia (beach soccer, futevôlei, hand beach, vôlei de praia), JUBS futebol (futebol de campo), JUBS paradesporto (badminton, basquete 3 x 3, judô e tênis de mesa), JUBS fase final (atletismo, atletismo paradesportivo, basquete, futebol eletrônico, handebol, judô, league of legends, natação, natação paradesportiva e voleibol) (Malagutti et al., 2020Malagutti JPM, Rojo JR, Starepravo FA. O esporte universitário brasileiro: organizações oficiais e as associações atléticas acadêmicas. Res. Soc Dev. 2020;9(8):e32985325. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i8.5325.
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). Portanto, há um conjunto de fatores que influenciam as modalidades que são ofertadas, os treinamentos e competições de que participam.

CONCLUSÕES

As evidências obtidas indicam que as AAAs analisadas fomentam, principalmente, ações relacionadas ao interesse social por intermédio de festas, com objetivos voltados à arrecadação de financeira, algo que embora não figure como foco principal do associativismo estudantil, historicamente tem sido utilizado para o desenvolvimento das atividades-fins, que são as esportivas, como treinamentos voltados ao rendimento esportivo (preparação técnica e preparação para competições) e lazer (integração e fomento da prática de esportes).

Conclui-se que as atléticas exercem relevante papel no fomento do lazer aos estudantes, mesmo que estes tenham forte vínculo com a competição esportiva, haja vista que desenvolvem ações a fim de resolver problemas (falta de lazer) relacionados à coletividade (universitários).

Por outro lado, ações relacionadas à promoção da saúde pouco se fizeram presentes. É sabido que a promoção da saúde nunca foi foco das intervenções das AAAs, o que indica para relevância da construção de políticas públicas voltadas ao lazer do universitário com participação de diversas entidades. As atléticas oportunizam suas ações às competições e socialização, e a administração pública, por meio de programas federais, pode vir a promover intervenções direcionadas à promoção de saúde.

AGRADECIMENTOS

Aos presidentes e membros das diretorias das AAAs participantes da pesquisa.

  • FINANCIAMENTO O presente trabalho contou com o apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por meio do pagamento de Bolsas do Programa de Educação Tutorial aos três autores.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    18 Nov 2022
  • Aceito
    17 Jan 2023
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