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O “MOISÉS DOS PRETOS”: MARCUS GARVEY NO BRASIL

“Moses of the Black”: Marcus Garvey in Brazil

RESUMO

O artigo tem como proposta central analisar a recepção de Marcus Garvey (1887-1940) no Brasil. Baseando-se nos veículos de imprensa, observou-se que o famoso líder negro jamaicano foi apropriado de maneira diferenciada: enquanto os jornais da grande imprensa lhe conferiram pouco destaque, quando não o abordaram de forma controvertida e sensacionalista, os jornais da denominada imprensa negra viram Garvey como um “ícone da raça”, reportando-se a ele muitas vezes por uma perspectiva distintiva e laudatória.

PALAVRAS-CHAVE:
negro; raça; África; diáspora

ABSTRACT

The core proposition of the present article is to analyze Marcus Garvey’s (1887-1940) reception in Brazil. The assessed press media showed that the famous Jamaican black leader was addressed in different fashions; the mainstream papers did not highlight his visitation and, eventually, even refer to him in a controversial and sensationalist way. Papers of the so-called black press described Garvey as a “black icon”, and addressed him through a distinctive and laudatory perspective.

KEYWORDS:
black; race; Africa; diaspora

The greatest black prophet and visionary since Negro Emancipation. 1 1 Padmore, 1971, p. 65.

No dia 7 de agosto de 1921, o Correio da Manhã, um dos principais jornais da capital da República, publicou uma matéria remetida pelo correspondente do La Dépêche Coloniale, uma gazeta francesa. Intitulada “A raça negra”, a matéria assinalava o “perigoso movimento dos pretos que reclamam a África para os africanos e tendem a expulsar a França, a Inglaterra e a Bélgica das suas colônias africanas”. A sede da propaganda deste movimento seria em Monróvia, capital da Libéria, e teria à sua testa um “preto” da Jamaica, Marcus Garvey, conhecido entre os seus prosélitos pela alcunha de “Moisés Negro”. No programa do movimento figurava uma série de realizações. Em 1916 foi constituída uma companhia de navegação - The Black Star Line -, com 10 milhões de dólares, cujos navios serviriam de ligação entre os três grandes centros da “raça negra: Estados Unidos, Antilhas e África”. A companhia teria já três navios e em breve cinco. The Negro World era o jornal oficial da propaganda. Aconteceria em Paris um “Congresso Pan-Africano” e, em agosto de 1920, teria se reunido em Nova York o primeiro “parlamento negro”, com 25 mil assistentes, sendo proclamados os “Direitos do Homem Negro” e resolvida a organização de uma “República Negra Universal”. No Congo Belga, o movimento teria granjeado “grande incremento pela ação das sociedades secretas. A cidade negra de Kinshasa [capital do Congo] desenvolve-se cada vez mais, tendo já 15 mil negros civilizados”. 2 2 “A raça negra”, 1921, p. 3.

Oito anos depois, O Clarim d’Alvorada - o principal jornal da chamada “imprensa negra” brasileira da época 3 3 Sobre a imprensa negra – designação dos jornais e revistas publicados por e para os “homens de cor” no Brasil no período pós abolição –, já existe uma ampla bibliografia (Bastide, 1983; Ferrara, 1986; Butler, 1992; 1998, pp. 210–227; Domingues, 2008; Seigel, 2009, pp. 179–205; Alberto, 2011, pp. 23–68; Pinto, 2013, pp. 67–77). - traduziu e republicou um artigo originalmente editado pelo The Negro World, de Nova York. Escrito por um dos prosélitos de Marcus Garvey, o artigo abria com uma indagação: “compatriotas da raça negra, não podes ver os sinais dos tempos? O homem branco está tentando tudo que está no seu poder para nos subjugar. Ele é um ladrão e ainda está roubando tudo que suas mãos podem pegar: ele está tentando enganar os negros” sob o pretexto de “proteger o seu dinheiro e seus direitos”. A partir daí, o articulista concitava pela independência de seus compatriotas da “raça negra” em relação aos brancos:

Sabeis que um gatuno tem ódio de ver alguém com um saco grande; temos um “leader” que está fazendo todo o esforço para garantir os nossos direitos e estamos mui satisfeitos com ele, não estamos pedindo a alguém para nos proteger. […] Honorário Marcus Garvey, este é o nosso “leader” e nós o seguiremos […]. Negros e negras, trabalhai com fervor: aderi ao programa da Universal Negro Improvement Association (Associação Universal para o Adiantamento do Negro). Estamos cansados de ser iludidos pelo homem branco em todos os tempos. Tomemos ânimo e marchemos para diante e a vitória será nossa. 4 4 “Os negros não precisam de protetores brancos”, 1929, p. 4.

Como se pode notar, Marcus Garvey foi um “preto” da Jamaica que despertou a atenção da opinião pública, tanto internacional quanto nacional, a partir da década de 1920, quando diversos jornais da imprensa brasileira lhe dedicaram artigos, matérias e reportagens que informavam sobre a sua vida, o seu pensamento e as suas ações. No entanto, quais as imagens e representações dele foram selecionadas e veiculadas por esses jornais? Este artigo tem dupla finalidade: apresentar algumas notas biográficas de Garvey e, centralmente, discutir aspectos da recepção desse personagem no Brasil, demonstrando que, no tocante aos órgãos de imprensa, ele foi apropriado de modo diferenciado. Enquanto vários jornais da imprensa regular privilegiaram noticiar fatos controvertidos envolvendo o “Moisés negro” ou o retrataram de maneira pouco abonadora, os jornais dos “homens de cor”, especialmente O Clarim d’Alvorada, reservaram-lhe atenção especial, transmitindo informações, imagens e representações positivadas dele. Sua recepção no Brasil, assim, oscilou entre a polêmica, o sensacionalismo e a celebração.

Pesquisar a experiência histórica da diáspora negra é importante porque, entre outros motivos, permite entender os projetos de liberdade, cidadania e luta antirracista colocados em circulação na arena transnacional. A relevância deste artigo não se esgota aí. A relação da imprensa brasileira e da denominada imprensa negra, em particular, com o pan-africanismo e o garveyismo, ainda é um tema subexplorado na literatura acadêmica.

“A TERRA PROMETIDA PARA OS POVOS NEGROS DO MUNDO”

Marcus Mosiah Garvey nasceu na baía de Santa Ana, Jamaica, em 1887. Era o mais novo dentre os onze filhos de Marcus e Sarah Garvey, um casal de camponeses negros. Aos quatorze anos, começou a trabalhar na gráfica de seu avô, tomando consciência do racismo na sociedade. Três anos depois, iniciou sua militância política e, assistindo aos cultos religiosos, desenvolveu técnicas de oratória, decisivas para sua futura ascensão política. Em 1907, liderou uma greve de trabalhadores em Kingston. Fez várias viagens pelos países do Caribe, ocasiões nas quais se sensibilizava com as precárias condições de vida dos afrodescendentes. Conheceu Londres, quando passou a se interessar pela África, sua cultura, história e administração sob o jugo colonial. Retornando à Jamaica, em 1914, Garvey fundou a Universal Negro Improvement and Conservation Association and African Communities League (Unia), uma organização para lutar a favor dos direitos civis dos negros, cujos principais slogans eram “One God, one aim, one destiny” (Um Deus, um objetivo, um destino) e “Africa for Africans at home or abroad” (África para os africanos de casa ou no exterior). 5 5 Rabelo, 2013, p. 500.

Procurando ampliar sua base de atuação, Garvey mudou-se para os Estados Unidos, em 1916, abrindo as portas da Unia no bairro do Harlem, em Nova York. O país vivia um contexto econômico emergente, porém de turbulência social e segregação racial, com intenso êxodo de afro-americanos do sul que, cansados da falta de oportunidades na vida, dos baixos salários e das perseguições e linchamentos promovidos pela Ku Klux Klan, migraram em massa para o norte, estabelecendo-se em cidades industrializadas como Chicago, Nova York e Detroit. Isso não minimizou o quadro de tensões raciais que predominava entre os negros e os brancos, especialmente porque muitos dos primeiros lutaram em defesa da pátria na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e, quando voltavam do front, continuaram a ser tratados como cidadãos de segunda classe. 6 6 Cronon, 1969, pp. 21–38.

A princípio, pouca gente deu atenção a Garvey, um indivíduo de tez escura, com então 28 anos de idade, de estatura baixa (1,63 m), ombros largos e corpo robusto, que vociferava ideias visionárias a respeito da redenção da raça: “Será um dia terrível aquele em que os negros saquem da espada para conquistar sua liberdade. Combatemos pelos brancos e não obtivemos mais do que o seu desprezo. Mas o dia do castigo virá. A Estrela Negra se levantará e brilhará sobre o mundo com incomparável esplendor”. 7 7 “A raça negra nos Estados Unidos”, 1936, p. 3. Em questão de tempo, Garvey soube capitalizar o crescente descontentamento e desesperança que reinava entre os afro-americanos e coordenou um amplo trabalho de proselitismo, sobretudo entre as camadas mais pauperizadas, o que o levou a liderar, na opinião de Cyril L. R. James, o “mais poderoso movimento de massas nos Estados Unidos”. 8 8 James, 1985, p. 52. De fato, a Unia se expandiu em ritmo exponencial no pós-guerra, tornando-se a primeira organização negra com efetiva inserção nas massas em escala internacional. 9 9 Stein, 1986, p. 2. No seu apogeu, na década de 1920, ela alcançou o impressionante patamar de mais de 1 milhão de membros afiliados em cerca de mil sucursais, espalhadas em mais de quarenta países. 10 10 Martin, 1976, pp. 14–15. A maior parte dessas sucursais localizava-se nos Estados Unidos, cuja sede mundial, no Harlem, converteu-se no quartel-general da organização nesse período. Seu prédio, batizado de Liberty Hall, era colossal, contendo um auditório com capacidade para 6 mil pessoas. Além dos Estados Unidos, erigiram-se sucursais da Unia em diversos países das Américas (Central, do Norte e do Sul), do Caribe, sobretudo em Cuba; da Europa, da África e até da Oceania. 11 11 Baseando se no levantamento realizado por Tony Martin (1976, p. 16), eis os locais e a quantidade de sucursais da Unia em 1926: Cuba (52), Panamá (47), Trinidad (30), Costa Rica (23), Canadá (15), Jamaica (11), Honduras Espanhola (8), África do Sul (8), Guiana Inglesa (7), Colômbia (6), República Dominicana (5), Guatemala (5), Nicarágua (5), Barbados (4), Honduras Britânica (4), México (4), Serra Leoa (3), Inglaterra (2), Costa do Ouro (2), Libéria (2), Bahamas (2), Zona do Canal do Panamá (2), Sudoeste Africano, atual Namíbia (2), País de Gales (2), Antígua (1), Austrália (1), Bermuda (1), Brasil (1), Dominica (1), Guiana Neerlandesa, atual Suriname (1), Equador (1), Granada (1), Haiti (1), Nevis (1), Nigéria (1), Porto Rico (1), Santa Lúcia (1), São Cristóvao (1), São Tomás (1), São Vicente (1), Venezuela (1). Uma observação importante: não há fontes atestando que, no Brasil, tenha sido aberta uma sucursal da Unia (Butler, 2011a).

O crescimento vertiginoso da Unia está relacionado ao papel do The Negro World, o jornal lançado em janeiro de 1918, que serviu de porta-voz e principal veículo de propaganda da organização, difundindo seus projetos, valores e ideais de igualdade e reconhecimento dos negros, na África e no mundo afro-atlântico. “Um jornal dedicado somente aos interesses da raça negra”, eis o seu subtítulo. Cada edição semanal possuía de dez a dezesseis páginas. Com tiragem que chegou a 60 mil exemplares, o periódico circulou em diversos países, sendo lido pelos mais diferentes estratos da população negra. Algumas seções eram escritas em espanhol e francês, para facilitar a leitura nos países que não adotavam o inglês como idioma oficial. O editorial, sempre escrito por Garvey, trazia na primeira página as linhas mestras de suas ideias e filosofia emancipatória. 12 12 Lawler, 2005, p. 33. The Negro World, com sua mensagem de solidariedade negra no plano transnacional, cumpriu um papel importante na edificação do que Paul Gilroy define como Atlântico Negro: uma arena multilateral, entre América, a África e a Europa, onde circulam as ideias político-culturais, as narrativas e as expectativas engendradas por ativistas e intelectuais negros. 13 13 Gilroy, 2001.

Outro fator que contribuiu para o sucesso da Unia foi o carisma de seu maior líder. Garvey tinha espírito de liderança, habilidade política e energia irradiadora. Dotado de uma oratória singular, seus discursos virulentos contagiavam e tocavam os corações e as mentes de multidões de negros eufóricos por palavras messiânicas. Em 1921, o diário O Combate descreveu um desses discursos, proferido num meeting que reuniu aproximadamente 5 mil negros no Liberty Hall:

Somos 400 milhões de oprimidos que reclamam a liberdade […]. Ora, meus amigos, se os nossos irmãos brancos nos amarem, nós os amaremos; se nos odiar, nós os odiaremos. Não demos aos ingleses o direito de nos explorar; aos belgas o de nos brutalizar; aos franceses o de nos… Não falemos. Que a França nos prove o seu liberalismo! Quem venceu a [primeira] guerra? O sangue do negro sobre o campo de batalha do branco. […] Ora, sabeis qual foi o reconhecimento dos brancos? Nem sequer concederam uma cadeira na Conferência da Paz! […] E são eles, os brancos enfatuados, que nos chamam netos de orangotango, que nos vão buscar para vencer as suas guerras; são eles que se julgam senhores do mundo, para ditar as suas vontades e efetuar os seus absurdos. Unamo-nos e seremos livres!14 14 “O mundo negro americano e o ressurgimento da campanha pela independência”, 1921, p. 3. Esta mesma matéria foi republicada em O Combate, São Paulo, 11 maio 1921, p. 3.

Em outro discurso, Garvey imprimiu uma conotação profética, pressagiando em alto e bom tom: “Buscai-me no furacão, buscai-me na tempestade, buscai-me em torno de vós, pois, com a ajuda de Deus, hei de vir e trarei comigo os inúmeros milhões de escravos negros que morreram na América e nas Antilhas, e os milhões que morreram na África para auxiliar-vos no combate pela liberdade, pela independência e pela vida”. 15 15 Garvey, 2013, p. 239. Garvey se via como o Moisés dos negros, valendo-se da metáfora do Êxodo bíblico - quando o patriarca do Velho Testamento libertou o “povo eleito” dos grilhões do cativeiro no Egito e o conduziu de volta à Terra Prometida - para cimentar sua própria autoridade política. 16 16 Gilroy, 2001, p. 386. Mas ele também era visto por muitos de seus adeptos e fãs como uma espécie de profeta que, dotado de virtudes excepcionais, cumpria um papel quase místico, a guiá-los no caminho da salvação. 17 17 Aron, 1947, p. 341.

Com esse espírito, Garvey encorajava os negros a desafiar, quer a dominação europeia sobre a África, quer a depreciação provocada pelo racismo no bojo da experiência diaspórica. Conclamava que seus seguidores reescrevessem a história, valorizando seus heróis, sua cultura, sua identidade, em suma, sua raça. Para ele, o berço das civilizações estava situado na África, quando a Europa ainda estava no estágio pré-histórico (nas “trevas” 18 18 “Não há raças inferiores e superiores”, 1930, p. 3. , como chegou a dizer); assim, o discurso de uma África selvagem, primitiva e bárbara seria uma falsificação da cultura eurocêntrica. 19 19 Rabelo, 2013, p. 501. No auge da Unia, preconizou o retorno de todos os negros da diáspora à África, daí seu lema “África para os africanos de casa ou no exterior”. Sua intenção era não só libertar o continente africano do jugo colonial, mas também torná-lo forte e soberano. Na primeira página do The Negro World, o jornal estampava mensagens de exortação à “mãe-pátria”: “África, a terra prometida para os povos negros do mundo”. 20 20 “Africa, the Land of Hope and Promise for Negro Peoples of the World, 1921, p. 1. A tese de Garvey, de repatriação dos afrodescendentes ao continente africano, adquiriu contornos mais concretos no seu plano de colonização da Libéria, baseado na construção de ferrovias, parque industrial, colégios, universidades, dentre outros incrementos infraestruturais que possibilitassem o desenvolvimento do país da África Ocidental, originado da colonização de ex-escravos estadunidenses a partir da segunda década do século XIX. A Libéria - no contexto de uma África partilhada e dominada pelas nações europeias - era reconhecida pelas grandes potências como Estado independente. 21 21 Padmore, 1971, pp. 75–79.

O presidente-geral da Unia enfatizava a necessidade de o negro desenvolver seu senso de dignidade, autorrespeito e orgulho racial. No terreno religioso, instituiu uma nova forma de culto cristão, que se contrapunha às representações consideradas preconceituosas dos ritos, artefatos e símbolos religiosos ocidentais. Para ele, a representação pictórica de Deus deveria ser a de uma pessoa negra. Em 1921, fundou a African Orthodox Church (Igreja Ortodoxa Africana), em que os anjos, santos e Jesus Cristo eram retratados como negros, enquanto Satanás era branco. A Unia ainda criou vários símbolos diacríticos (hino, bandeira com as cores oficiais, carteira de filiado e insígnias), sem falar nos subgrupos: a Universal African Legions, uma milícia masculina cujos membros envergavam um uniforme cintilante, a Universal African Motor Corps, um grupo feminino auxiliar da African Legions, e a Universal African Black Cross Nurses, uma divisão de enfermeiras estruturada nos moldes do setor voluntário da Cruz Vermelha. 22 22 “O problema negro através dos povos”, 1938, p. 7.

No que concerne à questão de gênero, a Unia contou com o engajamento feminino ativo. Robin Kelley argumenta que as mulheres participaram de todas as instâncias do movimento, discursando, instruindo, organizando encontros específicos e escrevendo ou editando textos, comportamento que desafiava as tradicionais relações de gênero da sociedade. 23 23 Kelley, 2002, pp. 26–27. Garvey valorizava a mulher negra, ao menos dos pontos de vista moral e estético. Não autorizava anúncios de fabricantes de alisadores de cabelo nas publicações da Unia e, em seu discurso poético, sublimava a mulher africana como a mais bela dentre todas.

Garvey acreditava que os negros deveriam ser independentes financeiramente dos brancos, desenvolver o espírito empreendedor e investir no seu próprio negócio. Em vista disso, criou a Negro Factories Corporation, um conglomerado comercial destinado a atuar nos grandes centros industriais dos Estados Unidos, América Central e África. Seus empreendimentos incluíam uma rede de mercearias cooperadas, hotéis, restaurantes, uma lavanderia a vapor, uma alfaiataria, uma loja de roupas, uma chapelaria e uma editora. No entanto, o investimento mais ambicioso de Garvey foi a criação de uma empresa de barcos a vapor para transportar passageiros e mercadorias pelo Atlântico rumo ao Caribe e à África, cujo nome era Black Star Line Incorporation. Em 1919, ele comprou um cargueiro; no ano seguinte, um ferry boat e um iate a vapor. Muitos afirmavam que sua nova empresa fazia parte do projeto mais amplo de levar os associados da Unia de volta a África.

Afora os empreendimentos empresariais, Garvey caracterizou-se por organizar eventos aparatosos para ostentar seu poderio, fortalecer a identidade do grupo e atrair novos adeptos e simpatizantes. Em 1920, a Unia realizou a I Internacional Convention of Negroes of the World (Primeira Convenção Internacional dos Negros do Mundo), reunindo delegados dos Estados Unidos, de Cuba, Barbados, Jamaica, Costa Rica, Honduras, Panamá, Equador, Venezuela, Guianas, Etiópia, Austrália, em síntese, congregando delegados oriundos dos diversos países com representação. Os desfiles espetacularizados promovidos pelas delegações durante o evento - momentos nos quais se entoavam hinos, ostentavam slogans e ovacionavam Marcus Garvey - indicavam a pujança da Unia e sua capilaridade. Ao final do conclave, foi tomada uma série de deliberações, como a promulgação da Declaração Universal dos Direitos dos Negros, que trazia um programa de 54 pontos; a instituição de uma nobreza negra, com alguns membros da Unia sendo agraciados com os títulos de Cavaleiros do Nilo, Cavaleiros da Ordem de Serviços Relevantes da Etiópia, Duques do Níger e de Uganda, entre outros; e a aclamação de Garvey como Presidente Provisório da República Africana, uma espécie de governo em exílio. 24 24 Cronon, 1969, p. 67; “A raça negra”, 1920, p. 5.

Toda aquela mobilização racial sui generis desencadeou polêmicas, controvérsias e preocupações diversas por parte ora do governo e autoridades estadunidenses, ora de lideranças negras de outras associações, como W. E. B. Du Bois, o fundador da National Association for the Advancement of Colored People (NAACP). 25 25 “Congresso dos Homens de Cor”, 1921, p. 2; “O ressurgimento dos povos negros”, 1921, p. 4. Este acusava Garvey de ser autoritário, demagogo e charlatão, ao passo que aqueles chegaram a acusar a Unia de ser uma organização de orientação comunista, que incitava o ódio racial. Judith Stein mostra como o Federal Bureau of Investigation (FBI) ficava no encalço de Garvey, monitorando todos os passos do mais “perigoso agitador pró-negro”. Agentes do FBI se infiltraram na Unia e acompanharam as atividades da organização, produzindo relatórios secretos. Há inclusive registros de espiões atuando na redação do The Negro World. 26 26 Stein, 1986, pp. 187–191.

Se as articulações políticas de Garvey iam bem, mesmo em face dessa atmosfera de vigilância e suspeição, seus negócios iam mal. Os navios comprados começaram a apresentar problemas em suas viagens, “devido à necessidade de reparos técnicos e à má administração da empresa”. Logo a Black Star Line Inc. estava operando no vermelho. Mas, paradoxalmente, Garvey decidiu comprar mais um navio. Para arrecadar fundos, enviou “prospectos pelo correio, divulgando a venda de novas ações da empresa”. Esta iniciativa custou a ele e aos executivos da Black Star Line um “processo judicial pelo uso fraudulento dos correios e a consequente falência de sua empresa”. 27 27 Rabelo, 2013, p. 498. O processo, iniciado em 1923, foi acompanhado por diversos setores da opinião pública.

No ano seguinte, Garvey sofreria outro revés em seu projeto racial. Na IV Convenção Internacional dos Negros do Mundo, a Unia definiu o programa de colonização da África pelos negros dispersos pela diáspora, programa, aliás, que já vinha sendo esboçado desde a primeira Convenção. A princípio, o governo da Libéria acenou favoravelmente ao plano de colonização de afro-americanos, e a Unia até investiu na criação da Black Cross Navigation and Trading Company - mais um projeto de estabelecimento de linha de navegação a vapor entre os Estados Unidos e o continente africano, cuja intenção era garantir o transporte dos negros para Monróvia. Entretanto, no decorrer do ano de 1924, o governo recuou e proibiu o desembarque de qualquer negro ligado à Unia no país. 28 28 Aron, 1947, p. 339. Garvey via, assim, prejudicada sua busca de uma terra prometida e sua vontade de criar uma nação independente na África.

Enquanto isso a ação judicial contra ele tramitava nos EUA. Em 1925 saiu a sentença. Mesmo não reunindo provas criminais suficientes, o tribunal do júri o condenou a cinco anos de prisão pelo uso fraudulento dos correios. A Unia entendeu que a prisão foi tramada, maquiavelicamente, pelo governo dos EUA e o acusou de racista, encabeçando uma campanha internacional - com direito a comícios, moções de repúdio, abaixo-assinados, distribuição de panfletos etc. - que exigia a libertação de seu maior líder. Um dos comícios reuniu no Madison Square Garden, de Nova York, mais de 10 mil negros. Não foi possível reverter a decisão judicial. De 1925 a 1927, Garvey cumpriu a pena numa casa de detenção em Atlanta, quando foi indultado e deportado como estrangeiro indesejável nos EUA.

Sua deportação significou um grande golpe para a Unia, que jamais voltaria a apresentar o mesmo ímpeto nem conseguiria arregimentar a multidão de outrora, porém Garvey continuou em atividade, difundindo seus ideais de libertação e orgulho racial. De regresso à Jamaica, ele dirigia a Unia, mantinha o seu caráter transnacional e enviava por meio do The Negro World as diretrizes e mensagens de inspiração para seus associados e admiradores. Em 1928, viajou para a Europa a fim de chamar a atenção do velho continente a respeito da situação da população negra no mundo. Em Londres e Paris suas apresentações públicas mobilizaram pouca audiência. Sua última parada foi em Genebra, onde tentou sensibilizar a Liga das Nações acerca da necessidade de um Estado africano livre e soberano. 29 29 “Um defensor da raça negra”, 1928, p. 22. Em vão.

No ano de 1930, Garvey se elegeu para uma cadeira na Assembleia de Kingston e Saint Andrews, na Jamaica, todavia foi impedido de assumir o cargo por ter sido preso por três meses sob a acusação de que durante a campanha desferiu ataques ofensivos à Corte local. 30 30 Stein, 1986, p. 261. Em 1935, quando a Unia já vivia uma fase de grande refluxo, Garvey transferiu-se para Londres em definitivo, passando a viajar amiúde para Toronto, no Canadá, onde aconteceu a viii Convenção Internacional dos Povos Negros do Mundo, em 1938. Sua saúde em Londres ficou cada vez mais debilitada, vindo a falecer em 1940, com 53 anos.

As ideias de Marcus Garvey, que recebeu a designação de garveyismo, são geralmente definidas como um movimento social ou programa de cunho pan-africanista, anticolonialista, assentado nos postulados do nacionalismo negro e direcionado à valorização das populações africanas e afrodescendentes espraiadas pelo mundo. Mesmo após a morte de seu idealizador, o garveyismo continuou emanando como uma centelha no circuito afro-atlântico, influenciando a visão de distintos líderes negros, como Aimé Cesaire, Kwame Nkrumah, Malcolm X, Martin Luther King, além dos grupos que lutaram pela descolonização da África e dos movimentos de afirmação racial, como o Black Panthers, o Black Power, os Black Muslims e os rastafáris. 31 31 Rabelo, 2013, pp. 498–499.

O “NOVO PROFETA”

Depois de traçar essas notas biográficas de Garvey, cabe perscrutar como a imprensa brasileira o retratou. Vejamos primeiro os jornais e revistas regulares, que circulavam em larga escala no eixo Rio de Janeiro e São Paulo. 32 32 Os periódicos da imprensa regular foram consultados na Heme­roteca Digital Brasileira e na Biblioteca Nacional. Já os periódicos dos afro brasileiros foram consultados em microfilme da coleção “Jornais da Raça Negra”, do acervo do Instituto de Estados Brasileiros (IEB–USP). Para análise e interpretação do material, levaram se em conta as sugestões de Tania de Luca (2005). No dia 10 de novembro de 1920, o Correio da Manhã publicou um longo artigo relatando como transcorreu a “grande convenção negra” organizada pela Union of Negro Improvement Association, a qual contou com a presença de “25 mil representantes de grande número de associações” dispostas a “proclamar os direitos do homem de cor”. A euforia da multidão, na sessão de abertura do evento teria sido notada durante as palavras dos primeiros oradores, atingindo o auge quando Marcus Garvey discursou. De acordo com o Correio da Manhã, o presidente da Unia era a “personalidade mais importante do mundo negro” e seu programa “arrojado” - consistindo em açular os milhões de negros da “América” a oferecerem até seu “sangue” na defesa do ideal de igualdade e de obtenção de uma pátria sonhada, a África -, porém, sua “eloquência” era “por vezes um pouco exagerada e ingênua”. Não teria cabimento organizar uma “companhia de vapores”, a Black Star Line, com o fito principal de “intensificar o comércio e a exportação do continente africano”. Na parte final do artigo, o diário carioca avaliava que o programa de Garvey, qualificado de uma “quimera”, não teria condições de obter a adesão dos negros do Brasil, já que aqui não existiriam “preconceitos de raça ou de nacionalidade”. 33 33 “África para os africanos”, 1920, p. 1.

O Correio da Manhã até que reconhecia a importância do presidente da Unia, em termos de articular soluções para a “opressão que sofriam os negros e, geralmente, todas as pessoas de cor nos Estados Unidos”, mas frisava que seu programa era uma “quimera” - um devaneio, algo ilusório e fantasioso -, particularmente em relação ao Brasil, torrão cujos negros teriam sido incorporados fraternalmente no seio da nacionalidade e, assim, teriam ficado livres de preconceitos e tensões raciais. O jornal partilhava da crença da democracia racial. Apesar dessa crença ter recebido uma versão mais plena na década de 1930, já vinha ganhando forma anteriormente. 34 34 Andrews, 1998, p. 203.

No dia 28 de abril de 1921, o periódico Hoje republicou uma entrevista que Marcus Garvey concedeu a Michael Gold, um repórter identificado como branco de Nova York. Garvey é apresentado como um Moisés, “em quem milhões de negros confiam para que os reconduza à terra da Promissão”. Tratava-se de um “homem de estatura regular, gordo, de um negro retinto, nariz chato, olhos alegres e vivos”. Quando chegou aos Estados Unidos, era completamente desconhecido. “Hoje”, informa o repórter, sua associação conta “dois milhões de negros organizados em seiscentas ramificações”. A ramificação de Nova York “possui dois edifícios, três vapores na Black Star Line, está estabelecendo fábricas e cooperativas e trata de criar um fundo de dois milhões de dólares com o fim de manter um alto poder da raça negra nas terras africanas”. Gold entrevistou Garvey na sede da Unia, onde ouviu que o “único caminho para os negros é ter uma nação própria, uma pátria definitiva, como os judeus, que inspire respeito ao mundo pelos seus feitos”, assinalou o “Moisés dos Pretos”. Haveria “quatrocentos milhões de negros espalhados pelo mundo”. Se eles se estabelecessem na África, seria implantado um “império negro”, completou. “Entretanto, como poderão chegar à África?”, questionou o entrevistado. “Há umas dez nações donas dela atualmente”. “Chegaremos de um modo ou doutro”, respondeu o entrevistado. “E você acredita que as nações brancas do mundo tolerem um império negro?” “Temos a força de quatrocentos milhões”, replicou. A partir daí, disse o repórter, Garvey passou a expor “intermináveis planos e grandes projetos que pareciam incompatíveis com a pequena e antiga sala em que me achava, a conversar com ele”. Ao encerrar a entrevista, Gold comentou: a “aventura” estava “ainda no começo”, porém já era possível perceber que o “orador negro de fama universal” estava indo longe demais. Seu sonho seria “impossível? Assim o espero e desejo”. 35 35 “Quando a África despertar”, 1921, p. 8. Sobre a entrevista que Gold realizou com Garvey, ver também “Gentlemen coloreds – de Garvey a Wells”, 1921, p. 9. Para o repórter, Garvey não passava de um aventureiro e seus “intermináveis planos e grandes projetos” eram quixotescos, megalomaníacos, utópicos por assim dizer.

Avaliação semelhante fazia O Jornal. Em sua edição de 17 de novembro de 1921, o periódico espinafrava a legião de seguidores do “Moisés dos Pretos”: “Sem empregar a feição trágica às ameaças de Marcus Garvey, devemos, contudo, supor que as suas palavras inflamadas encontrarão o terreno favorável nos cérebros de alguns fanáticos que, sinceramente, acreditam haver chegado a hora para o triunfo da raça negra e expulsão da raça branca da África”. 36 36 “O ressurgimento dos povos negros”, 1921, p. 4. Já a reportagem d’O Combate não se valeu de circunlóquios para acusar Garvey de ter afirmado, “mentirosamente” aos “irmãos de cor”, que representava uma “população de 400 milhões de almas”. O “Moisés da sua raça” pregava um “novo evangelho”, entretanto, estaria suscitando entre os líderes do “mundo negro americano a mais viva oposição”. Aliás, “em se examinando as opiniões do novo profeta”, assinalava o jornal, “logo se apreende as causas da oposição. A religião do homem branco, repete, com tenacidade, não convém ao homem negro, com um deus branco e um parceiro branco. Devemos ter a religião negra, com um… deus negro”. 37 37 “O mundo negro americano e o ressurgimento da campanha pela independência”, 1921, p. 1. O Jornal e O Combate se referiam a Garvey como um líder demagogo, charlatão, que se arvorava um “novo profeta”, colocando na berlinda tanto seus seguidores supostamente fanáticos quanto suas concepções religiosas afrocentradas.

Outra maneira de abordar a vida, as ideias e as ações do “Moisés dos Pretos” era pela chave do exotismo. A Revista da Semana, em sua edição de 30 de julho de 1921, reproduziu uma reportagem de uma revista estadunidense, na qual informava estar “iminente um vasto movimento pan-africano, tendo por centro a cidade de Monróvia”. Esta cidade, que seria a “capital da República Negra”, era a capital da Libéria. Seu prefeito, Gabriel Johnson, presidente da Associação Universal Defensora dos Negros, detinha poderes e regalias de “Papa negro”. Monróvia tornar-se-ia então a “Cidade Santa, o Negrodom do império dos negros”; e ali se reuniria “periodicamente uma Câmara de deputados dos povos negros do mundo”, sob a liderança de Marcus Garvey, o “presidente provisório da África, encarregado de organizar o novo Estado”. 38 38 “A Roma Negra”, 1921, p. 2.

A Revista da Semana qualificou tal reportagem de “curiosíssima”, talvez porque os editores do periódico não acreditavam na possibilidade de um iminente “vasto movimento pan-africano” ou mesmo porque eles desconhecessem alguns aspectos de Monróvia (o “Negrodom do império dos negros”), do prefeito Gabriel Johnson (o “Papa negro”) e do projeto emancipatório de Garvey (que estaria pregando a “santa doutrina negra” baseada na restituição da “África aos africanos”). A mesma Revista da Semana voltou a enfocar o movimento liderado por Garvey pelo viés do pitoresco. Em matéria publicada na sua edição de 4 de agosto de 1923, o periódico fez alusão a uma testemunha que compareceu ao tribunal para depor no processo instaurado contra o “Presidente provisório da República d’África”. Segundo a matéria, essa testemunha era uma “soberba preta”, que declarou chamar-se “Lady Bruce, duquesa de Uganda”. Quando o juiz perguntou a origem daquele título “mirabolante”, a testemunha explicou que lhe havia sido conferido pelo “Presidente Garvey” e acrescentou: “por que não?”. 39 39 “Uma duquesa de cor”. Revista da Semana, 1923, p. 4. A Revista da Semana não perdeu a oportunidade de ironizar, se não caçoar, com os títulos de nobreza que Garvey atribuía às figuras de destaque da Unia. Por seu turno, O Jornal carregou ainda mais na tinta do escárnio, assinalando que essa “generosa distribuição de ‘altezas’ e ‘excelências’ provoca o riso. Mas, não devemos esquecer a mentalidade negra, sempre fascinada pelos galões e pelos títulos”. 40 40 “O ressurgimento dos povos negros”, 1921, p. 4.

É bom salientar que, nessas matérias jornalísticas, o que se considerava exótico ou pitoresco era a invocação garveyista do princípio de autodeterminação das nações para os povos negros do mundo. Tratava-se, assim, de uma recusa ao nacionalismo negro, ao pan-africanismo, bem como a certa ideia de nobreza negra. Os títulos de nobreza não foram uma invenção da Unia. Tais símbolos de distinção e honra, de origem europeia, antes faziam parte da era dos impérios Coloniais e estavam longe de ser desprezados, mesmo em países que oficialmente não os reconheciam.

A Revista da Semana e O Jornal não foram os únicos órgãos da imprensa regular a se referir ao “Presidente provisório da República d’África” pelo ângulo da excentricidade, beirando o burlesco. No dia 5 de junho de 1928, o Diário Nacional publicou uma matéria que iniciava inquirindo os seus leitores: “Já ouviram falar em Marcus Garvey?”. Pressupondo que a resposta fosse negativa, a folha passava a discorrer sobre ele: “É um preto que parece mais ou menos amalucado. Intitula-se ‘Imperador da África’ e está presentemente em Londres, com o fim especial de obter um reino para 280 súditos de cor”. Conta-se que “já foi recebido pelo ministro do Exterior e das Colônias, mas nada se sabe sobre o êxito ou fracasso de suas pretensões”. Segundo a matéria, “o que ele pretende é um território qualquer no continente dos desertos, para edificar o seu trono e governar os seus 280 pretos”. 41 41 “Um reino de 280 pretos”, 1928, p. 3. A tese de Garvey – de repatriação dos negros da diáspora à África, daí a sua divisa “África para os africanos de casa ou no exterior” – ecoou na grande imprensa brasileira. A própria Revista da Semana publicou um artigo de título sugestivo, “A onda negra” (1925), no qual informava da ampla mobilização racial em torno da Unia e conferia papel de destaque a Marcus Garvey nesse processo: “Filho de um agricultor da Jamaica, […] tornou se o apóstolo da emancipação dos negros da tutela dos brancos. Publicou um jornal, o Negro World, dirigindo se aos 400 milhões de homens de raça negra espalhados pelo mundo, e a sua liga conta já mais de 13 milhões de filiados. Marcus Garvey preconiza a volta ao país de origem, a África, e a criação duma poderosa nação nesse continente”. O Diário Nacional reforçava imagens e representações pouco apreciativas de Garvey, classificando-o como um sujeito lunático, quase demente e mentecapto, cujas ideias não deveriam ser levadas tão a sério.

Outra maneira de a grande imprensa retratar o “Moisés dos Pretos” era pela perspectiva do sensacionalismo, divulgando notícias que de algum modo maculavam a sua reputação junto à opinião pública. No dia 7 de março de 1925, O Jornal publicou uma nota cujo subtítulo era sugestivo: “O chantagista condenado”. A nota fazia alusão ao desfecho do processo judicial instaurado contra Garvey:

O famoso preto Marcus W. Garvey entrou hoje na penitenciária desta cidade [Atlanta, no estado da Geórgia] para iniciar o cumprimento de uma pena de cinco anos por crime de estelionato. Garvey defraudou centenas de indivíduos da raça negra, que lhe confiaram dinheiro para a pretensa fundação de um Império Negro na Etiópia. Noticiando a prisão de Garvey, os jornais de hoje relembram a sua teoria de que Deus é negro, com a qual se fez líder dos homens de cor nos Estados Unidos. 42 42 “O Império negro da Etiópia”, 1925, p. 11.

A condenação do “Moisés dos Pretos” pelo tribunal do júri dos Estados Unidos por causa do uso fraudulento dos correios e sua entrada numa casa de detenção em Atlanta para o cumprimento da pena repercutiram numa parcela da imprensa brasileira. 43 43 “Um ‘escrooc’ famoso vai cumprir uma pena na cadeia”, 1925, p. 6; “Notas”, 1925, p. 3; “O Moysés dos negros condenado por escroquerie”, 1925, p. 1. Talvez porque a sentença condenatória servia para atestar o que alguns jornais ventilavam a respeito de Garvey: tratava-se de um “chantagista”, que explorava a boa fé de seus “irmãos de cor” e disseminava uma postura sectária - “recusando a cooperação da raça negra com a branca” -, 44 44 “Congresso Internacional dos Negros”, 1923, p. 6. liderando um “perigoso movimento dos pretos que reclamam a África para os africanos”. 45 45 “A raça negra”, 1921, p. 3. Em 1930, alguns dos principais órgãos da imprensa brasileira registraram a condenação a três meses de prisão de Garvey. Desta vez, por ter propalado, em sua campanha eleitoral para deputado de Kingston e Saint Andrews, na Jamaica, palavras consideradas “sediciosas”. 46 46 “Um leader negro da Jamaica condenado por desrespeito ao tribunal”, 1929, p. 6; “Chefe político condenado”, 1930, p. 18.

Os diários também publicizaram a comutação da pena de Garvey em troca de sua deportação dos Estados Unidos, em 1927, o que implicou em seu retorno a Jamaica, 47 47 “Com a pena comutada em deportação”, 1927, p. 1. de onde continuou comandando as atividades da Unia, ainda que em ritmo decrescente. A partir de então, a imprensa regular pouco se reportou a ele, como em 1928, quando viajou a Europa para pedir à Liga das Nações e às principais potências coloniais a “concessão de um território na África para a fundação de um reino negro” 48 48 “Inglaterra”, 1928, p. 7. Garvey voltou a Europa em 1931, quando foi recebido na sede da Liga das Nações, em Genebra, por Eric Drumond, o secretário geral, e tratou das “ideias dos negros e dos povos oprimidos”, que ele próprio apresentara em 1928. Drumond assegurou ao representante do “mundo da raça negra” que a Liga das Nações levava em conta a “petição e que entraria no programa dos debates durante o ano próximo vindouro”, o que teria deixado Garvey satisfeito (“Os negros reclamam o seu lugar entre os demais povos”, 1931, p. 1). ou quando presidiu, na Jamaica, a Convenção Internacional dos Povos Negros. 49 49 “Jamaica”, 1929, p. 4; “Inaugurou se, em Jamaica, a Convenção Internacional dos Povos Negros”, 1929, p. 4. Afora a sentença de prisão na Jamaica, Garvey somente voltou a ganhar destaque nas folhas da grande imprensa por ocasião de seu passamento. “Faleceu o ‘Imperador do reino da África”, estampou a Gazeta de Notícias em 13 de junho de 1940. 50 50 “Faleceu o ‘Imperador do reino da África’”, 1940, p. 6. “Era em Harlem o ‘imperador do Reino da África’: a morte, em Nova York, de Marcus Garvey”, divulgou o Correio da Manhã na mesma data. 51 51 “A morte, em Nova York, de Marcus Garvey”, 1940, p. 3.

“UM EXPOENTE DA RAÇA”

Já no que concerne à chamada imprensa negra, esta se reportou a Garvey sob perspectiva distinta, transmitindo, via de regra, informações, narrativas e representações enaltecedoras do líder negro. O primeiro órgão dessa imprensa a mencionar algo relacionado à trajetória, ao pensamento e às ações de Garvey foi O Getulino, um jornal da cidade de Campinas, SP, que circulou entre 1923 e 1926 e contribuiu para o processo de formação de identidades raciais no interior de um movimento social e cultural que lutava pela inserção do negro na sociedade brasileira. 52 52 Miranda, 2005. No dia 21 de outubro de 1923, O Getulino publicou um artigo no qual Benedicto Florêncio, um dos editores do periódico, analisava a possibilidade de imigração do negro estadunidense para o Brasil. A determinada altura do artigo, ele aludia ao “programa expansionista da Universal Negro Improvement Association”, declarando que “acompanhou tudo que se passou na Internacional Negro Conference, inaugurada em New York a 2 de agosto de 1920, com a presença de 200.000 negros aclamando o maior jurisconsulto do mundo, Marcus Garvey”. 53 53 “Carta d’um negro”, 1923, pp. 1–2.

Com o intuito de informar os seus leitores do que se passava ao redor do mundo com sua “gente”, O Getulino voltou a reservar espaço para falar da Unia e de Garvey, o “preto” presidente da “República provisional de África”, comendador da “Ordem sublime do Nilo” e “Cavaleiro da Grande Ordem Etiópica”, que lançou um “manifesto a todos os seus irmãos de cor do universo convidando-os para tomar parte nos trabalhos do maior Congresso Negro, conhecido na história, o qual se realizará no Teatro Liberty Hall, de Nova York”. 54 54 “Conferência Internacional de pretos”, 1924, p. 2; “Um congresso de pretos ilustres”, 1924, p. 1. Em sua edição de 21 de setembro de 1924, o tabloide noticiou que o congresso de negros estava sendo um sucesso. Sua inauguração foi marcada, principalmente, por um grande desfile pelas ruas de Nova York, acompanhado de seis orquestras. À frente marchava Marcus Garvey, cercado de soldados negros, “suntuosamente vestidos”. Teriam comparecido ao conclave “mil delegações” da Unia procedentes “de todas as partes do planeta. Trinta mil pretos se reuniram, irmanados pela ambição de melhorar a sorte da raça a que pertencem”. Nada seria mais promissor.

Os negros, que ainda ontem eram escravos, querem ser agora senhores fundando na Libéria uma república independente. Já adotaram a sua divisa, que é uma paródia da de Monroe: A África para os africanos. Como os judeus eles querem reconquistar a pátria, fazendo dela uma potência formidável e livre, onde o branco não terá interferência alguma, onde tudo será obra de pretos, onde pretos serão governados por pretos. O movimento, portanto é sério e talvez triunfante. ( 55 (“Nova York”, 1924, p.2.

De acordo com O Getulino, uma “revolução” como essa era “naturalíssima”, numa “época de grandes reivindicações”. A Unia contaria com “muitos milhões de dólares”, uma “empresa de navegação”, “grande número de jornais” e seria chefiada por “homens de extraordinária energia” e “extraordinária capacidade”, ou seja, “os pretos erguiam o seu brado de independência num momento oportuníssimo que lhes é de todo em todo favorável”. 56 56 “Nova York”, 1924, p. 2. Em sua edição de 26 de outubro, o jornal comunicava que o encerramento do congresso seria no início de 1925, com uma “grande exposição” onde figuraria uma “coleção completa do Getulino encadernada a marroquim”, a qual iria “atestar o grau de adiantamento da nossa gente no Brasil”. Eis uma informação surpreendente: será que O Getulino chegou a enviar algum representante para participar do “Congresso Negro” em Nova York? Qual teria sido então o nível das conexões e interlocuções que o jornal estabeleceu com Garvey e a Unia? O mais provável é que a “coleção completa do Getulino” tivesse sido remetida pelos correios. Mas, nesse caso, teria chegado a fazer parte da “grande exposição” que marcou o fim do conclave? Não dispomos de informações a esse respeito. Sabemos é que o jornal não escondia sua inclinação pelo movimento cujo objetivo era formar uma “vasta união política destinada a proteger e a fazer respeitar os direitos da raça negra”. 57 57 “Um congresso monstro de negros”, 1924, p. 2.

Isso não significa que todos os negros aglutinados em torno d’O Getulino compactuassem com a principal divisa de Garvey: África para os africanos. Eles admiravam a pujança da Unia, a capacidade de mobilização de Garvey, seu discurso altivo de afirmação racial, preconizando os direitos civis, a independência econômica e o progresso social do negro, mas muitos deles não endossavam a tese da repatriação ao continente africano. Uma carta de Cláudio Guerra, publicada n’O Getulino, em 20 de dezembro de 1924, é o libelo que provavelmente melhor sintetiza essa visão. A carta do leitor desancava críticas ao postulado do garveyismo: essa “tal ideia importada entre nós com o rótulo de Congresso Negro” era “invenção” dos Estados Unidos. Que os negros dali dissessem em “brados altissonantes” que a África era para os africanos ainda ia. Que os negros estadunidenses quisessem imigrar para a região, que “serviu de berço aos seus avós”, também se tolerava. Seria, aliás, uma “questão justa”, afirmava Guerra, pois eles eram “repudiados da sociedade por um terrível e recíproco ódio de raça”. Diante desse contexto, seria “naturalíssimo” que essa “gente” tratasse de “dar o fora da terra madrasta onde tivera a infelicidade de nascer”. Que fosse para a África! Porém, “que preto brasileiro pense em aderir a essa ideia, eu reputo o máximo de absurdo”, ponderava o missivista. Afinal, a “África é para os africanos, meu nego. Foi para o teu bisavó cujos ossos, a esta hora, a terra reverteram e em pó se tornaram. A África é para quem não teve o trabalho de cultivar e dar vitalidade a um imenso país como este”. Em outras palavras, “a África é para quem a quiser menos para nós”, os negros brasileiros, que aqui “nasceram, criaram e se multiplicaram”. De acordo com Guerra, o negro brasileiro já havia rompido seus laços de identificação com a África e criado raízes nesta “terra bendita” que o viu nascer, que o acolheu como “mãe carinhosa”, esta terra que lhe pertencia, pois “fomos nós que a edificamos, nós que lhe demos tudo até o sangue para lhe garantir a integridade quando das invasões de estrangeiro”. 58 58 “Cartas negras”, 1924.

Portanto, nem todos os negros ligados a O Getulino simpatizavam com a palavra de ordem internacionalista de retorno à África. Isso sugere que o jornal não se apropriou simplesmente do garveyismo, antes procurou interpretá-lo e filtrá-lo em consonância com os anseios e as expectativas de seus editores, que não se identificavam explicitamente com uma “essência africana”; 59 59 Miranda, 2005, p. 178; Andrews, 2007, p. 160. pelo contrário, advogavam pela incorporação do negro a uma ideia de nação racialmente fraterna. Não é de estranhar que isso ocorresse. Como várias pesquisas recentes têm evidenciado, a afirmação do nacionalismo constituía a política central dos jornalistas afro-brasileiros no período. 60 60 Alberto, 2011; Butler, 2011b, pp. 145–146; Pinto, 2013, pp. 123–145.

No que tange a O Clarim d’Alvorada - o principal jornal da imprensa negra de São Paulo, senão do Brasil, na década de 1920, fundado por José Correia Leite e Jayme de Aguiar com a perspectiva de fazer valer os interesses dos “homens pretos” -, 61 61 Francisco, 2013. as apropriações de Garvey se deram de forma mais efusiva. Em suas páginas, há várias menções laudatórias à vida, à doutrina ou às ações desse famoso líder negro: “Marcus Garvey é o ilustre negro jamaicano, […] que está sempre trabalhando para o bem da sua raça”. 62 62 “Marcus Garvey”, 1930a, p. 4. ou “Marcus Garvey é o homem de sua raça como outros grandes ‘leaders’ da América, que estavam prontos a dar suas vidas para que pudéssemos viver. Ele, diferente dos primeiros ‘leaders’ dos negros, está pronto a ir até o limite por causa de sua raça”. 63 63 “Composição de Leola Washington a Marcus Garvey”, 1930, p. 4.

Mesmo quando Garvey foi condenado a três meses de prisão na Jamaica por ter “proferido palavras que o juiz não achou de acordo”, O Clarim d’Alvorada continuou o exaltando e até repercutiu um artigo de Charles James, o principal dirigente da sucursal da Unia de Chicago, que considerou aquela condenação uma “injustiça cruel”, contudo, incapaz de tolher a missão redentora daquele “grande” líder negro: “O corpo de Marcus Garvey pode ser preso, mas não o seu espírito porque o seu espírito está em toda parte”. 64 64 “Marcus Garvey”, 1930b, p. 4. Em determinada edição, O Clarim d’Alvorada se reportou à abertura dos trabalhos da “Sociedade das Nações” (nome pelo qual também era chamada a Liga das Nações), em Genebra, onde se encontravam as “maiores mentalidades do mundo”, para proteger a “fama de seus nomes e os interesses de seus povos” e, por vezes, “olharem para algumas das tantas iniquidades que se praticam atrás dos dólares ou das libras, contra os povos subjugados e usurpados”. O jornal reconhecia a importância da Sociedade das Nações como fórum para garantir a segurança, a justiça e o direito internacionais, todavia “lastimava” que ainda não havia se definido em relação ao apelo da Unia, que “solicitou um lugar nessa portentosa agremiação, onde poderíamos ouvir e sentir, no ardor dos debates, a palavra abalizada de Marcus Garvey, representando os quatrocentos milhões de negros espalhados por todo o mundo”. 65 65 “Sociedade das Nações”, 1930, p. 4.

A partir de 1929, O Clarim d’Alvorada passou a traduzir e republicar artigos e reportagens do The Negro World, o tabloide da Unia que, como já foi apontado, funcionava como canal de comunicação e propaganda do garveyismo na rede transnacional do Atlântico negro. Eram traduzidos manifestos (“Eduquemos nossas massas”), 66 66 “Eduquemos nossas massas”, 1929, p. 1. aforismos (“O programa da Associação Universal para o Levantamento da Raça Negra é um credo que deve ser defendido por todos os negros da terra”), 67 67 “O programa da Associação Universal para o Levantamento da Raça Negra é um credo que deve ser defendido por todos os negros da terra”, 1931, p. 4. Ver também “Linhas ligeiras”, 1930, p. 3. notícias (sobre perseguições e linchamentos de negros nos Estados Unidos), 68 68 “Preconceitos de raça”, 1929, p. 1. impressões de viagem (de um “africano” na América do Norte) 69 69 “Um africano no estrangeiro descreve a vida norte americana ao editor do ‘Negro World’”, 1930, p. 4. e artigos, tanto os que proclamavam o protagonismo negro (“O nosso destino está em nossas mãos. Somos os senhores de nossa sorte e os arquitetos de nosso porvir. O passado já se foi; o presente está aqui - e o futuro ainda está diante de nós”), 70 70 “O que devemos fazer para nos libertar”, 1930, p. 4. quanto os que encerravam mensagens de autoestima e orgulho racial: “Eles, os povos brancos, pensam que são superiores […] Os negros, a fim de combater com bons êxitos esse raciocínio errôneo, devem desenvolver uma contra psicologia baseada em orgulho da raça, amor de raça e respeito racial”. 71 71 “Os negros devem desenvolver uma psicologia baseada em orgulho, amor de raça e respeito racial”, 1930, p. 4.

Quem realizava as traduções era Mário de Vasconcelos, um correspondente da Bahia, “professor linguístico e bacharel em ciências comerciais”, como era apresentado n’O Clarim d’Alvorada. Em livro de memórias, José Correia Leite, um dos fundadores do periódico, conta que, certa vez, apareceu na redação um grupo de baianos que se prontificou a colaborar. Por intermédio deles, Correia Leite e os outros editores conseguiram um representante d’O Clarim d’Alvorada na Bahia, que entrou em contato com Mário de Vasconcelos, um poliglota. Foi daí que “começamos a conhecer melhor o movimento pan-africanista, o movimento de Marcus Garvey”. Lá da Bahia, Vasconcelos mandava “colaboração já traduzida para o nosso jornal sobre o trabalho do movimento negro nos Estados Unidos e outras partes. O Clarim d’Alvorada começou a se preocupar então com esse movimento mundial do negro”. 72 72 Leite, 1992, p. 77. Não há informações precisas de como o The Negro World penetrou no Brasil. Contudo, Kim Butler rastreia algumas pistas a esse respeito. No início do século XX, vários imigrantes negros do Caribe, sobretudo de Barbados, foram atraídos à região da Amazônia, onde a princípio trabalharam na construção da estrada de ferro Madeira Mamoré. Um poema de Fred Banfield, publicado no The Negro World em 14 de outubro de 1922, indica que aqueles imigrantes conheciam e se identificavam com o movimento liderado por Garvey. Não consta que tinham acesso ao jornal, mas, na medida em que novos imigrantes chegavam do Caribe, atualizavam se sobre o movimento. Na edição do The Negro World de 10 de maio de 1924, H. Braithwaite relata que deu a um jovem brasileiro – provavelmente negro – vários exemplares do jornal e, depois de ver o seu entusiasmo, disse lhe como obter uma assinatura (Butler, 2011a). Quando Donald Pierson pesquisou a “situação racial” da Bahia na década de 1930, constatou que era possível encontrar de vez em quando, em poder dos “pretos baianos”, jornais estrangeiros. Um africano possuía um exemplar do The Negro World, de 19 de abril de 1930 – dado a ele pelo “foguista preto de um navio inglês que ocasionalmente aportava na Bahia” – além de um livro sobre a vida de Marcus Garvey (Pierson, 1971, p. 280). A partir de 1930, o jornal passou a traduzir e republicar aforismos, manifestos e artigos de atribuídos a Marcus Garvey:

Na civilização do século XX não há raças superiores e inferiores. Há povos atrasados, porém, isso não os faz inferiores. Até onde vai a humanidade, todos os homens são iguais. A Associação Universal para o Adiantamento da Raça Negra representa as esperanças e aspirações do negro alerta. Nosso desejo é um lugar no mundo, para […] descansar as nossas costas e nossos pés. Sim, queremos descanso […] para sermos livres e não molestados, descanso de discriminação de toda espécie. 73 73 “Não há raças inferiores e superiores”, 1930, p. 3. Ver, ainda, “Para conquistar os opressores precisamos de homens bravos e leais”, 1930, p. 2; “Chegou a ocasião de reduplicarmos as nossas forças”, 1930, p. 4; “Para se gozar o melhor da vida devemos criar uma filosofia nossa e transladar aos nossos filhos um credo, uma política para o levantamento da raça”, 1931, p. 4.

Garvey foi visto como um ícone - “um expoente da raça” - pelo grupo de negros que se articulava em torno d’O Clarim d’Alvorada. Suas lutas, conquistas e retóricas raciais reverberavam no jornal afro-paulista, servindo de fonte de inspiração. Entretanto, ganhou destaque o seu discurso pela igualdade racial, evocando a dignidade, a solidariedade e especialmente a autodeterminação da população negra, ao passo que a sua proposição de retorno ao continente africano foi pouco comentada, senão negligenciada. Pois, como o próprio Correia Leite admitiu, a “maioria dos negros não aceitava”. 74 74 Leite, 1992, p. 78.

Em 1931, O Clarim d’Alvorada criou uma coluna específica de assuntos internacionais batizada de “O mundo negro”, nome que consistia numa tradução justamente do The Negro World. Nessa coluna, foram veiculadas matérias sobre o ras Tafari, o “grande imperador da Abissínia” (nome pelo qual também era conhecida a Etiópia), 75 75 “O mundo negro”, 1931a, p. 4. sobre personalidades estrangeiras que prestaram relevantes serviços à causa da igualdade racial, 76 76 “O mundo negro”, 1932, p. 4. sobre a situação do negro no mundo, com destaque para o progresso “moral e material” dos negros estadunidenses; 77 77 “O mundo negro”, 1931b, p. 4. ademais, a coluna serviu de polo difusor do garveyismo:

Está provado que grande parte dos escritores brancos do mundo procuram demonstrar aos negros que eles ficarão sempre enganados na África ou fora de lá. No entanto, Garvey tem enchido colunas no The Negro World demonstrando esse falso conceito, que pairava na mente do nosso povo; removendo inteligentemente essa impressão daninha, para trazer a compreensão que só por meio do seu próprio governo o homem preto pode adquirir o seu bem estar e fazer calar a propaganda desses escritores que procuram conservar o homem preto nessa eterna sujeição.78 78 “O mundo negro”, 1931c, p. 4.

O artigo de “O mundo negro” trazia um discurso à luz do garveyismo à medida que clamava pelo reconhecimento da igualdade racial, pelo respeito e pela autodeterminação do “homem preto”, o qual devia assumir o papel de senhor de seu destino, atuando como protagonista no processo de emancipação de toda a “raça negra”. Em 1932, O Clarim d’Alvorada saiu de circulação, porém notas sobre a mobilização racial capitaneada pelo “famoso” líder negro jamaicano ainda apareceram na folha Progresso, 79 79 “Sua inauguração, em Kingston, na Jamaica”, 1929, p. 3. e a coluna “O mundo negro” foi reeditada nas páginas da Tribuna Negra80 80 “O mundo negro”, 1935a, p. 3. e d’A Raça, 81 81 “O mundo negro”, 1935b, p. 2. outros jornais da imprensa negra de São Paulo e Minas Gerais, respectivamente. 82 82 A Voz da Raça, o jornal da Frente Negra Brasileira (1931–1937), a mais importante organização em defesa dos direitos dos afro brasileiros no período, não repercutiu algo sobre Garvey. Na concepção de Francisco Lucrécio (1998, p. 46), um dos dirigentes da organização, isso ocorreu porque “na Frente Negra não tinha essa discussão de volta à África. Tínhamos correspondência com Angola, conhecíamos o movimento de Marcus Garvey, mas não concordávamos. Nós sempre nos afirmamos como brasileiros e assim nos posicionávamos […]. Não queríamos perder nossa identidade de brasileiros”.

***

Em 1914, Marcus Mosiah Garvey fundou a Universal Negro Improvement Association (Unia) na Jamaica; dois anos depois, tendo em vista expandir o trabalho em defesa dos direitos dos negros, transferiu-se para os Estados Unidos, onde instalou a sede da organização no bairro do Harlem, em Nova York. Aos poucos a legião de adeptos e simpatizantes foi se multiplicando, dentro e fora dos Estados Unidos; no pós-guerra, a Unia cresceu rapidamente e no seu auge congregou centenas de sucursais, espalhadas em mais de quarenta países. De forma meteórica, Garvey ascendeu como líder do mais notável movimento de inserção nas massas negras em escala internacional. Revelando uma oratória vibrante, para não dizer incendiária, e esculpindo uma imagem de liderança carismática, desfrutou de grande popularidade no imaginário negro. Polêmico, assumiu uma agenda política tida como radical. Seu discurso “apelava pelo orgulho da raça numa época em que os negros, de um modo geral, tinham muito pouco do que se orgulhar”. 83 83 Franklin; Moss Jr., 1989, p. 340. Afirmava que esse segmento populacional representava força, beleza e glória, não inferioridade. Enfatizava a necessidade de se encontrar um espaço no qual o negro pudesse se redimir e encontrar a sua prosperidade -independência econômica e o progresso social. Apregoava o retorno de negros dos Estados Unidos, do Caribe e de toda a diáspora para a África, a “terra da promissão”. Não foi à toa que ele chamou seu movimento de “sionismo negro”, comparando-o com o dos judeus, que exortava pela imigração para a Palestina, em vista de colonizá-la e nela criar um Estado próprio. 84 84 Kelley, 2002, p. 24. Para colocar a sua ideia em prática, Garvey desenvolveu, por intermédio da Unia, um projeto de colonização de terras no continente africano e organizou uma companhia marítima, que se encarregaria de transportar colonos negros. Imbuído de aura quase mística, o projeto catalisou esperanças e sonhos em torno da possibilidade de emancipação total dos povos africanos do jugo colonial e de triunfo da completa igualdade entre negros e brancos.

Garvey angariou uma fama que transcendeu fronteiras nacionais e circulou por diversos rincões do mundo atlântico. Sua recepção e interpretação no Brasil, entrementes, não se operou de maneira unívoca e tampouco consensual. Tomando como fonte os órgãos da imprensa, foi possível perceber que alguns dos principais jornais do eixo Rio de Janeiro e São Paulo deram-lhe pouco destaque, veiculando notícias esporádicas sobre ele. Quanto à abordagem, a grande imprensa tendeu a apreendê-lo como um líder negro utópico, que vaticinava ideias mirabolantes e fantasmagóricas; exótico, que adotava discursos e comportamentos esdrúxulos e ridículos; e embusteiro, cujas ações caracterizavam-se pela exploração da boa-fé alheia, quando não pela violação das leis vigentes, que culminavam nas barras dos tribunais.

Já a imprensa negra não escamoteava seu apreço por Garvey, abordando-o mediante interpretações e narrativas apologéticas e celebrativas. Isso não significa que as publicações dos afro-brasileiros se alinhavam totalmente à plataforma do garveyismo. O Getulino, de Campinas, focalizava a capacidade de Garvey em construir um movimento negro pujante, com uma base de massas organizada. A valorização desse aspecto pode estar relacionada às dificuldades de mobilização política enfrentada pelos afro-campineiros. O jornal também permite observar a recusa nacionalista negra ao internacionalismo de Garvey. Por sua vez, O Clarim d’Alvorada, sediado na São Paulo dos anos 1920, em pleno processo de modernização metropolitana, preocupava-se com a exclusão dos negros do ideário de modernidade que se forjava naquela grande cidade, para o qual os libertos e descendentes de escravos representavam o “atraso”, resquícios de um Brasil do passado. Não espanta que esse jornal tenha enfatizado a faceta modernizadora das ideias de Garvey, os grandes negócios e empreendimentos da Unia, bem como o lugar do negro como ser plenamente civilizado e amante do progresso. Em contraste com O Getulino, o jornal paulistano foi mais receptivo ao internacionalismo negro de Garvey, ainda que de forma seletiva.

O Clarim d’Alvorada, por exemplo, “recontextualizou as informações do The Negro World, selecionando as mensagens de autoafirmação e dignidade negra e descartando um retorno para o continente africano”. Segundo Flávio Francisco, isso ocorreu porque o periódico jogava com diferentes identidades, defendendo uma “identidade nacional relacionada ao projeto de inclusão do negro à nação brasileira” e uma “transnacional, que reconhecia as ações políticas dos negros de outros países como referências para atuação no Brasil”. 85 85 Francisco, 2014, p. 101. Seja como for, Garvey ganhou relativa visibilidade na imprensa dos afro-brasileiros, notadamente n’O Clarim d’Alvorada, sendo retratado como o supremo “apóstolo do movimento pan-negro”, uma referência de luta no circuito afrodiaspórico. Em livro de memórias, Correia Leite chega a fazer um balanço elucidativo a esse respeito: “O movimento garveyista entre nós ficou restrito, mas serviu para tirar certa dubiedade do que nós estávamos fazendo. Procurávamos fazer doutrinação, uma espécie de evangelização”. As ideias de Garvey “vieram reforçar as nossas. Com elas nós criamos mais convicção de que estávamos certos. Fomos descobrindo a maneira sutil do preconceito brasileiro, a maneira de como a gente era discriminado”. 86 86 Leite, 1992, pp. 80–81.

Portanto, a apropriação de Garvey no Brasil se deu de maneira diversa e multivocal. Se os jornais da imprensa regular não lhe conferiram atenção especial e preferiram selecionar e divulgar notícias controvertidas e sensacionalistas envolvendo o seu nome, ou mesmo o focalizaram de maneira pouco lisonjeira, os jornais dos “homens de cor” dedicaram-lhe mais espaço em suas laudas, selecionando, traduzindo e transmitindo, na maior parte das vezes, narrativas, imagens e representações positivadas do líder negro jamaicano.

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  • 1
    Padmore, 1971Padmore, George. “Black Zionism or Garveyism”. In: Padmore, George. Pan-Africanism or Communism. Gardem City: Doubleday, 1971. pp. 65-82., p. 65.
  • 2
    “A raça negra”, 1921“A raça negra”. Correio da Manhã, São Paulo, 7 ago. 1921, p. 3 , p. 3.
  • 3
    Sobre a imprensa negra – designação dos jornais e revistas publicados por e para os “homens de cor” no Brasil no período pós abolição –, já existe uma ampla bibliografia (Bastide, 1983Bastide, Roger. “A imprensa negra do estado de São Paulo”. In: Bastide, Roger. Estudos afro-brasileiros. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1983. pp. 129-156.; Ferrara, 1986Ferrara, Miriam. A imprensa negra paulista (1915-1963). São Paulo: FFLCH-USP, 1986. (Antropologia, 23.); Butler, 1992Butler, Kim D. “Up from Slavery: Afro-Brazilian Activism in São Paulo, 1888-1938”. The Americas, v. 49, n. 2, pp. 179-206, out. 1992. ; 1998______. Freedoms Given, Freedoms Won: Afro-Brazilians in Post-Abolition São Paulo and Salvador. New Brunswick: Rutgers University Press, 1998., pp. 210–227; Domingues, 2008Domingues, Petrônio. “Os jornais dos filhos e netos de escravos (1889-1930)”. In: ______. A nova abolição. São Paulo: Selo Negro, 2008. pp. 19-58. ; Seigel, 2009Seigel, Micol. Uneven Encounters: Making Race and Nation in Brazil and The United States. Durham: Duke University Press, 2009., pp. 179–205; Alberto, 2011Alberto, Paulina L. Terms of Inclusion: Black Intellectuals in Twentieth-century Brazil. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2011., pp. 23–68; Pinto, 2013Pinto, Regina Pahim. O movimento negro em São Paulo: luta e identidade. Ponta Grossa; São Paulo: Ed. UEPG; Fundação Carlos Chagas, 2013., pp. 67–77).
  • 4
    “Os negros não precisam de protetores brancos”, 1929“Os negros não precisam de protetores brancos”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 24 nov. 1929, p. 4., p. 4.
  • 5
    Rabelo, 2013Rabelo, Danilo. “Um balanço historiográfico sobre o garveysmo às vésperas do centenário da Unia”. Revista Brasileira do Caribe, v. 13, n. 26, pp. 495-541, 2013., p. 500.
  • 6
    Cronon, 1969Cronon, Edmund David. Black Moses: The Story of Marcus Garvey and the Universal Negro Improvement Association. Madison: University of Wisconsin Press, 1969., pp. 21–38.
  • 7
    “A raça negra nos Estados Unidos”, 1936“A raça negra nos Estados Unidos”. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 26 jan. 1936, p. 3., p. 3.
  • 8
    James, 1985James, Cyril Lionel Robert. A History of Negro Revolt. 3ª ed. Londres: Race Today, 1985. , p. 52.
  • 9
    Stein, 1986Stein, Judith. The World of Marcus Garvey: Race and Class in Modern Society. Baton Rouge: Louisiana State University Press, 1986., p. 2.
  • 10
    Martin, 1976Martin, Tony. Race First: The Ideological and Organizational Struggles of Marcus Garvey and the Universal Negro Improvement Association. Westport: Greenwood, 1976., pp. 14–15.
  • 11
    Baseando se no levantamento realizado por Tony Martin (1976Martin, Tony. Race First: The Ideological and Organizational Struggles of Marcus Garvey and the Universal Negro Improvement Association. Westport: Greenwood, 1976., p. 16), eis os locais e a quantidade de sucursais da Unia em 1926: Cuba (52), Panamá (47), Trinidad (30), Costa Rica (23), Canadá (15), Jamaica (11), Honduras Espanhola (8), África do Sul (8), Guiana Inglesa (7), Colômbia (6), República Dominicana (5), Guatemala (5), Nicarágua (5), Barbados (4), Honduras Britânica (4), México (4), Serra Leoa (3), Inglaterra (2), Costa do Ouro (2), Libéria (2), Bahamas (2), Zona do Canal do Panamá (2), Sudoeste Africano, atual Namíbia (2), País de Gales (2), Antígua (1), Austrália (1), Bermuda (1), Brasil (1), Dominica (1), Guiana Neerlandesa, atual Suriname (1), Equador (1), Granada (1), Haiti (1), Nevis (1), Nigéria (1), Porto Rico (1), Santa Lúcia (1), São Cristóvao (1), São Tomás (1), São Vicente (1), Venezuela (1). Uma observação importante: não há fontes atestando que, no Brasil, tenha sido aberta uma sucursal da Unia (Butler, 2011aButler, Kim D. “Brazil: Historical Commentaries”. In: Hil, Robert A. (Org.). The Marcus Garvey and Universal Negro Improvement Association Papers, v. XI: The Caribbean Diaspora, 1910-1920. Durham; Londres: Duke University Press, 2011a. pp. clxi-clxvi.).
  • 12
    Lawler, 2005Lawler, Mary. Marcus Garvey: Black Nationalist Leader. Philadelphia: Chelsea House Publishers, 2005., p. 33.
  • 13
    Gilroy, 2001Gilroy, Paul. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. São Paulo: Ed. 34, 2001..
  • 14
    “O mundo negro americano e o ressurgimento da campanha pela independência”, 1921“O mundo negro americano e o ressurgimento da campanha pela independência”. O Jornal . Rio de Janeiro , 9 maio 1921, p. 3., p. 3. Esta mesma matéria foi republicada em O Combate, São Paulo, 11 maio 1921, p. 3.
  • 15
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  • 16
    Gilroy, 2001Gilroy, Paul. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. São Paulo: Ed. 34, 2001., p. 386.
  • 17
    Aron, 1947Lucrécio, Francisco. Depoimento. In: Barbosa, Márcio. Frente Negra Brasileira: depoimentos. São Paulo: Quilombhoje, 1998. pp. 35-64., p. 341.
  • 18
    “Não há raças inferiores e superiores”, 1930“Não há raças inferiores e superiores”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 13 maio 1930, p. 3., p. 3.
  • 19
    Rabelo, 2013Rabelo, Danilo. “Um balanço historiográfico sobre o garveysmo às vésperas do centenário da Unia”. Revista Brasileira do Caribe, v. 13, n. 26, pp. 495-541, 2013., p. 501.
  • 20
    Africa, the Land of Hope and Promise for Negro Peoples of the World, 1921“Africa, the Land of Hope and Promise for Negro Peoples of the World”. The Negro World, Nova York, 19 fev. 1921, p. 1., p. 1.
  • 21
    Padmore, 1971Padmore, George. “Black Zionism or Garveyism”. In: Padmore, George. Pan-Africanism or Communism. Gardem City: Doubleday, 1971. pp. 65-82., pp. 75–79.
  • 22
    O problema negro através dos povos”, 1938“O problema negro através dos povos”. São Paulo, Correio Paulistano , 13 maio 1938, p. 7., p. 7.
  • 23
    Kelley, 2002Kelley, Robin D. G. Freedom Dreams: The Black Radical Imagination. Boston: Beacon, 2002., pp. 26–27.
  • 24
    Cronon, 1969Cronon, Edmund David. Black Moses: The Story of Marcus Garvey and the Universal Negro Improvement Association. Madison: University of Wisconsin Press, 1969., p. 67; “A raça negra”, 1920“A raça negra”. O Jornal, Rio de Janeiro, 3 set. 1920, p. 5., p. 5.
  • 25
    “Congresso dos Homens de Cor”, 1921“Congresso dos Homens de Cor”. O Paiz, Rio de Janeiro , 7 jul. 1921, p. 2., p. 2; “O ressurgimento dos povos negros”, 1921“O ressurgimento dos povos negros”. O Jornal , Rio de Janeiro , 17 nov. 1921, p. 4., p. 4.
  • 26
    Stein, 1986Stein, Judith. The World of Marcus Garvey: Race and Class in Modern Society. Baton Rouge: Louisiana State University Press, 1986., pp. 187–191.
  • 27
    Rabelo, 2013Rabelo, Danilo. “Um balanço historiográfico sobre o garveysmo às vésperas do centenário da Unia”. Revista Brasileira do Caribe, v. 13, n. 26, pp. 495-541, 2013., p. 498.
  • 28
    Aron, 1947Aron, Birgit. “The Garvey Movement: Shadow and Substance”. Phylon, v. 8, n. 4, pp. 337-343, 1947., p. 339.
  • 29
    “Um defensor da raça negra”, 1928“Um defensor da raça negra”. Correio Paulistano , São Paulo, 23 dez. 1928, p. 22., p. 22.
  • 30
    Stein, 1986Stein, Judith. The World of Marcus Garvey: Race and Class in Modern Society. Baton Rouge: Louisiana State University Press, 1986., p. 261.
  • 31
    Rabelo, 2013Domingues, Petrônio. “Os jornais dos filhos e netos de escravos (1889-1930)”. In: ______. A nova abolição. São Paulo: Selo Negro, 2008. pp. 19-58. , pp. 498–499.
  • 32
    Os periódicos da imprensa regular foram consultados na Heme­roteca Digital Brasileira e na Biblioteca Nacional. Já os periódicos dos afro brasileiros foram consultados em microfilme da coleção “Jornais da Raça Negra”, do acervo do Instituto de Estados Brasileiros (IEB–USP). Para análise e interpretação do material, levaram se em conta as sugestões de Tania de Luca (2005)Luca, Tania Regina de. “História do, no e por meio dos periódicos”. In: Pinsky, Carla Bassanezi (Org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005. pp. 111-153..
  • 33
    “África para os africanos”, 1920“África para os africanos”. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 10 nov. 1920, p. 1., p. 1.
  • 34
    Andrews, 1998Andrews, George Reid. Negros e brancos em São Paulo (1888-1988). Bauru: Edusc, 1998., p. 203.
  • 35
    “Quando a África despertar”, 1921“Quando a África despertar”. Hoje , Rio de Janeiro , 28 abr. 1921, p. 8., p. 8. Sobre a entrevista que Gold realizou com Garvey, ver também “Gentlemen coloreds – de Garvey a Wells”, 1921“Gentlemen coloreds - de Garvey a Wells”. Hoje, Rio de Janeiro , 19 maio 1921, p. 9., p. 9.
  • 36
    “O ressurgimento dos povos negros”, 1921“O ressurgimento dos povos negros”. O Jornal , Rio de Janeiro , 17 nov. 1921, p. 4., p. 4.
  • 37
    “O mundo negro americano e o ressurgimento da campanha pela independência”, 1921“O mundo negro americano e o ressurgimento da campanha pela independência”. O Jornal . Rio de Janeiro , 9 maio 1921, p. 3., p. 1.
  • 38
    “A Roma Negra”, 1921“A Roma Negra”. Revista da Semana , Rio de Janeiro, 30 jul. 1921, p. 2., p. 2.
  • 39
    “Uma duquesa de cor”. Revista da Semana, 1923“Uma duquesa de cor”. Revista da Semana , Rio de Janeiro , 4 ago. 1923, p. 4., p. 4.
  • 40
    “O ressurgimento dos povos negros”, 1921“O ressurgimento dos povos negros”. O Jornal , Rio de Janeiro , 17 nov. 1921, p. 4., p. 4.
  • 41
    “Um reino de 280 pretos”, 1928“Um reino de 280 pretos”. Diário de São Paulo, São Paulo, 5 jun. 1928, p. 3., p. 3. A tese de Garvey – de repatriação dos negros da diáspora à África, daí a sua divisa “África para os africanos de casa ou no exterior” – ecoou na grande imprensa brasileira. A própria Revista da Semana publicou um artigo de título sugestivo, “A onda negra” (1925)“A onda negra”. Revista da Semana, Rio de Janeiro, 25 abr. 1925, p. 6. , no qual informava da ampla mobilização racial em torno da Unia e conferia papel de destaque a Marcus Garvey nesse processo: “Filho de um agricultor da Jamaica, […] tornou se o apóstolo da emancipação dos negros da tutela dos brancos. Publicou um jornal, o Negro World, dirigindo se aos 400 milhões de homens de raça negra espalhados pelo mundo, e a sua liga conta já mais de 13 milhões de filiados. Marcus Garvey preconiza a volta ao país de origem, a África, e a criação duma poderosa nação nesse continente”.
  • 42
    “O Império negro da Etiópia”, 1925“O Império negro da Etiópia”. O Jornal , Rio de Janeiro , 7 mar. 1925, p. 11., p. 11.
  • 43
    “Um ‘escrooc’ famoso vai cumprir uma pena na cadeia”, 1925“Um ‘escrooc’ famoso vai cumprir uma pena na cadeia”. Jornal do Brasil , Rio de Janeiro , 7 mar. 1925, p. 6. , p. 6; “Notas”, 1925“Notas”. Correio Paulistano , São Paulo, 7 maio 1925, p. 3., p. 3; “O Moysés dos negros condenado por escroquerie”, 1925“O Moysés dos negros condenado por escroquerie”. Voz do Chauffeur, Rio de Janeiro , 25 maio 1925, p. 1., p. 1.
  • 44
    “Congresso Internacional dos Negros”, 1923“Congresso Internacional dos Negros”. O Paiz , Rio de Janeiro , 17 out. 1923, p. 6., p. 6.
  • 45
    “A raça negra”, 1921“A raça negra”. Correio da Manhã, São Paulo, 7 ago. 1921, p. 3 , p. 3.
  • 46
    “Um leader negro da Jamaica condenado por desrespeito ao tribunal”, 1929“Um leader negro da Jamaica condenado por desrespeito ao tribunal”. Correio da Manhã, Rio de Janeiro , 28 set. 1929, p. 6., p. 6; “Chefe político condenado”, 1930“Chefe político condenado”. Correio Paulistano, São Paulo, 22 fev. 1930, p. 18., p. 18.
  • 47
    “Com a pena comutada em deportação”, 1927“Com a pena comutada em deportação”. Correio da Manhã , Rio de Janeiro , 24 nov. 1927, p. 1., p. 1.
  • 48
    “Inglaterra”, 1928“Inglaterra”. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro , 29 maio 1928, p. 7., p. 7. Garvey voltou a Europa em 1931, quando foi recebido na sede da Liga das Nações, em Genebra, por Eric Drumond, o secretário geral, e tratou das “ideias dos negros e dos povos oprimidos”, que ele próprio apresentara em 1928. Drumond assegurou ao representante do “mundo da raça negra” que a Liga das Nações levava em conta a “petição e que entraria no programa dos debates durante o ano próximo vindouro”, o que teria deixado Garvey satisfeito (“Os negros reclamam o seu lugar entre os demais povos”, 1931“Os negros reclamam o seu lugar entre os demais povos”. Diário Nacional, São Paulo, 28 out. 1931, p. 1., p. 1).
  • 49
    “Jamaica”, 1929“Jamaica”. Correio da Manhã , Rio de Janeiro , 3 ago. 1929, p. 4., p. 4; “Inaugurou se, em Jamaica, a Convenção Internacional dos Povos Negros”, 1929“Inaugurou-se, em Jamaica, a Convenção Internacional dos Povos Negros”. O Jornal , Rio de Janeiro , 3 ago. 1929, p. 4. , p. 4.
  • 50
    “Faleceu o ‘Imperador do reino da África’”, 1940“Faleceu o ‘Imperador do reino da África’”. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro , 13 jun. 1940, p. 6., p. 6.
  • 51
    “A morte, em Nova York, de Marcus Garvey”, 1940“A morte, em Nova York, de Marcus Garvey”. Correio da Manhã , Rio de Janeiro, 13 jun. 1940, p. 3., p. 3.
  • 52
    Miranda, 2005Miranda, Rodrigo. Um caminho de suor e letras: a militância negra em Campinas e a construção de uma comunidade imaginada nas páginas do Getulino (Campinas, 1923-1926). Dissertação (Mestrado em História) - Instituto de Filosofa e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005..
  • 53
    “Carta d’um negro”, 1923“Carta d’um negro”. O Getulino, Campinas, 23 set. 1923, pp. 1-2. , pp. 1–2.
  • 54
    “Conferência Internacional de pretos”, 1924“Conferência Internacional de pretos”. O Getulino , Campinas, 6 jan. 1924, p. 2. , p. 2; “Um congresso de pretos ilustres”, 1924“Um congresso de pretos ilustres”. O Getulino , Campinas, 17 ago. 1924, p. 1., p. 1.
  • 55
    (“Nova York”, 1924“Nova York”. O Getulino . Campinas, 21 set. 1924, p. 2., p.2.
  • 56
    “Nova York”, 1924“Nova York”. O Getulino . Campinas, 21 set. 1924, p. 2., p. 2.
  • 57
    “Um congresso monstro de negros”, 1924“Um congresso monstro de negros”. O Getulino , Campinas, 26 out. 1924, p. 2., p. 2.
  • 58
    “Cartas negras”, 1924“Cartas negras”. O Getulino , Campinas, 20 dez. 1924. .
  • 59
    Miranda, 2005Miranda, Rodrigo. Um caminho de suor e letras: a militância negra em Campinas e a construção de uma comunidade imaginada nas páginas do Getulino (Campinas, 1923-1926). Dissertação (Mestrado em História) - Instituto de Filosofa e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005., p. 178; Andrews, 2007Andrews, George Reid. América afro-latina, 1800-2000. São Carlos: Edufscar, 2007., p. 160.
  • 60
    Alberto, 2011Alberto, Paulina L. Terms of Inclusion: Black Intellectuals in Twentieth-century Brazil. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2011.; Butler, 2011bButler, Kim D. “A nova negritude no Brasil: movimentos pós-abolição no contexto da diáspora africana”. In: Gomes, Flávio; Domingues, Petrônio (Orgs.). Experiências da emancipação: biografias, instituições e movimentos sociais no pós-abolição (1890-1980). São Paulo: Selo Negro, 2011b. pp. 137-156., pp. 145–146; Pinto, 2013Pinto, Regina Pahim. O movimento negro em São Paulo: luta e identidade. Ponta Grossa; São Paulo: Ed. UEPG; Fundação Carlos Chagas, 2013., pp. 123–145.
  • 61
    Francisco, 2013Francisco, Flavio Thales Ribeiro. Fronteiras em definição: identidades negras e imagens dos Estados Unidos e da África no jornal “O Clarim da Alvorada” (1924-1932). São Paulo: Alameda, 2013..
  • 62
    “Marcus Garvey”, 1930a“Marcus Garvey”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 25 jan. 1930a, p. 4., p. 4.
  • 63
    “Composição de Leola Washington a Marcus Garvey”, 1930“Composição de Leola Washington a Marcus Garvey”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 13 maio 1930, p. 4. , p. 4.
  • 64
    “Marcus Garvey”, 1930b“Marcus Garvey”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 13 abr. 1930b, p. 4., p. 4.
  • 65
    “Sociedade das Nações”, 1930“Sociedade das Nações”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 28 set. 1930, p. 4. , p. 4.
  • 66
    “Eduquemos nossas massas”, 1929“Eduquemos nossas massas”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 3 fev. 1929, p. 1. , p. 1.
  • 67
    “O programa da Associação Universal para o Levantamento da Raça Negra é um credo que deve ser defendido por todos os negros da terra”, 1931“O programa da Associação Universal para o Levantamento da Raça Negra é um credo que deve ser defendido por todos os negros da terra”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 26 jul. 1931, p. 4., p. 4. Ver também “Linhas ligeiras”, 1930“Linhas ligeiras”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 23 ago. 1930, p. 3., p. 3.
  • 68
    “Preconceitos de raça”, 1929“Preconceitos de raça”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 18 ago. 1929, p. 1., p. 1.
  • 69
    “Um africano no estrangeiro descreve a vida norte americana ao editor do ‘Negro World’”, 1930“Um africano no estrangeiro descreve a vida norte-americana ao editor do ‘Negro World’”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 25 jan. 1930, p. 4., p. 4.
  • 70
    “O que devemos fazer para nos libertar”, 1930“O que devemos fazer para nos libertar”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 23 ago. 1930, p. 4., p. 4.
  • 71
    “Os negros devem desenvolver uma psicologia baseada em orgulho, amor de raça e respeito racial”, 1930“Os negros devem desenvolver uma psicologia baseada em orgulho, amor de raça e respeito racial”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 13 abr. 1930, p. 4., p. 4.
  • 72
    Leite, 1992Leite, José Correia. ...E disse o velho militante José Correia Leite: depoimentos e artigos. Organização e textos de Luiz Silva (Cuti). São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, 1992., p. 77. Não há informações precisas de como o The Negro World penetrou no Brasil. Contudo, Kim Butler rastreia algumas pistas a esse respeito. No início do século XX, vários imigrantes negros do Caribe, sobretudo de Barbados, foram atraídos à região da Amazônia, onde a princípio trabalharam na construção da estrada de ferro Madeira Mamoré. Um poema de Fred Banfield, publicado no The Negro World em 14 de outubro de 1922, indica que aqueles imigrantes conheciam e se identificavam com o movimento liderado por Garvey. Não consta que tinham acesso ao jornal, mas, na medida em que novos imigrantes chegavam do Caribe, atualizavam se sobre o movimento. Na edição do The Negro World de 10 de maio de 1924, H. Braithwaite relata que deu a um jovem brasileiro – provavelmente negro – vários exemplares do jornal e, depois de ver o seu entusiasmo, disse lhe como obter uma assinatura (Butler, 2011a)Butler, Kim D. “Brazil: Historical Commentaries”. In: Hil, Robert A. (Org.). The Marcus Garvey and Universal Negro Improvement Association Papers, v. XI: The Caribbean Diaspora, 1910-1920. Durham; Londres: Duke University Press, 2011a. pp. clxi-clxvi.. Quando Donald Pierson pesquisou a “situação racial” da Bahia na década de 1930, constatou que era possível encontrar de vez em quando, em poder dos “pretos baianos”, jornais estrangeiros. Um africano possuía um exemplar do The Negro World, de 19 de abril de 1930 – dado a ele pelo “foguista preto de um navio inglês que ocasionalmente aportava na Bahia” – além de um livro sobre a vida de Marcus Garvey (Pierson, 1971Pierson, Donald. Brancos e pretos na Bahia: estudo de contacto racial. 2ª ed. São Paulo: Nacional, 1971. (Brasiliana, v. 241.), p. 280).
  • 73
    “Não há raças inferiores e superiores”, 1930“Não há raças inferiores e superiores”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 13 maio 1930, p. 3., p. 3. Ver, ainda, “Para conquistar os opressores precisamos de homens bravos e leais”, 1930“Para conquistar os opressores precisamos de homens bravos e leais”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 28 set. 1930, p. 2., p. 2; “Chegou a ocasião de reduplicarmos as nossas forças”, 1930“Chegou a ocasião de reduplicarmos as nossas forças”. O Clarim d’Alvorada, São Paulo, 28 set. 1930, p. 4., p. 4; “Para se gozar o melhor da vida devemos criar uma filosofia nossa e transladar aos nossos filhos um credo, uma política para o levantamento da raça”, 1931“Para se gozar o melhor da vida devemos criar uma filosofia nossa e transladar aos nossos filhos um credo, uma política para o levantamento da raça”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 26 jul. 1931, p. 4., p. 4.
  • 74
    Leite, 1992Leite, José Correia. ...E disse o velho militante José Correia Leite: depoimentos e artigos. Organização e textos de Luiz Silva (Cuti). São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, 1992., p. 78.
  • 75
    “O mundo negro”, 1931a“O mundo negro”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 26 jul. 1931a, p. 4., p. 4.
  • 76
    “O mundo negro”, 1932“O mundo negro”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 30 jan. 1932, p. 4., p. 4.
  • 77
    “O mundo negro”, 1931b“O mundo negro”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 28 set. 1931b, p. 4., p. 4.
  • 78
    “O mundo negro”, 1931c“O mundo negro”. O Clarim d’Alvorada , São Paulo, 20 dez. 1931c, p. 4., p. 4.
  • 79
    “Sua inauguração, em Kingston, na Jamaica”, 1929“Sua inauguração, em Kingston, na Jamaica”. Progresso, São Paulo, 31 ago. 1929, p. 3., p. 3.
  • 80
    “O mundo negro”, 1935a“O mundo negro”. Tribuna Negra. São Paulo, 1ª quinz. set. 1935a, p. 3., p. 3.
  • 81
    “O mundo negro”, 1935b“O mundo negro”. A Raça, Uberlândia, 21 dez. 1935b, p. 2., p. 2.
  • 82
    A Voz da Raça, o jornal da Frente Negra Brasileira (1931–1937), a mais importante organização em defesa dos direitos dos afro brasileiros no período, não repercutiu algo sobre Garvey. Na concepção de Francisco Lucrécio (1998Lucrécio, Francisco. Depoimento. In: Barbosa, Márcio. Frente Negra Brasileira: depoimentos. São Paulo: Quilombhoje, 1998. pp. 35-64., p. 46), um dos dirigentes da organização, isso ocorreu porque “na Frente Negra não tinha essa discussão de volta à África. Tínhamos correspondência com Angola, conhecíamos o movimento de Marcus Garvey, mas não concordávamos. Nós sempre nos afirmamos como brasileiros e assim nos posicionávamos […]. Não queríamos perder nossa identidade de brasileiros”.
  • 83
    Franklin; Moss Jr., 1989Franklin, John Hope; Moss Jr., Alfred A. Da escravidão à liberdade: a história do negro americano. Rio de Janeiro : Nórdica, 1989., p. 340.
  • 84
    Kelley, 2002Kelley, Robin D. G. Freedom Dreams: The Black Radical Imagination. Boston: Beacon, 2002., p. 24.
  • 85
    Francisco, 2014Francisco, Flavio Thales Ribeiro. “A redenção da raça negra em uma perspectiva internacional: discursos do garveysmo no jornal O Clarim da Alvorada”. Faces da História, v. 1, n. 1, pp. 89-105, 2014., p. 101.
  • 86
    Leite, 1992Leite, José Correia. ...E disse o velho militante José Correia Leite: depoimentos e artigos. Organização e textos de Luiz Silva (Cuti). São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, 1992., pp. 80–81.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Nov 2017

Histórico

  • Recebido
    05 Jan 2017
  • Aceito
    27 Out 2017
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