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Comentário IV

DEBATES

Comentário IV

Celia Ribeiro Zaher

Fundação Biblioteca Nacional

Os comentários abaixo referem-se somente às considerações feitas no estudo sobre os esforços envidados em São Paulo na trajetória das atividades de tratamento, preservação e identificação da imagem fotográfica através dos anos, a falta de bases de dados de imagens que preservem, centralmente, as coleções existentes e as transformações para a tecnologia da imagem digital. No estudo ao qual nos referimos se faz menção ao esforço da Funarte que desde 1985 atua na criação do Centro de Conservação e Preservação no Rio de Janeiro, centro esse que funciona até hoje como referência para preservação da fotografia no Brasil.

Foi, porém, negligenciado o esforço contínuo e de grande importância da Biblioteca Nacional na afirmação e na definição de uma política de tratamento das coleções fotográficas representada por meio de publicações técnicas, orientação, processo de identificação e indexação, bem como da guarda desse material. Embora já sendo aplicado há anos, esses manuais foram publicados apenas em 1998 e, atualmente, estão disponíveis na Internet no site da Biblioteca Nacional (www.bn.br) na parte referente ao consórcio eletrônico de bibliotecas. Esses ensinamentos resultaram do trabalho pioneiro e empreendedor da Divisão de Iconografia da Biblioteca Nacional na execução do Projeto de Preservação e Conservação de Acervo Fotográfico/Profoto, cuja realização foi iniciada em 1990.

Esse projeto criou uma sistemática de tratamento na guarda de imagens fotográficas sob a direção de Joaquim Marçal, chefe da Divisão de Iconografia da Biblioteca Nacional, fotógrafo e professor da PUC/RJ, especialista celebrado por seu recente livro sobre as origens da fotorreportagem no Brasil. A coleção de 35 mil fotografias da Biblioteca Nacional é histórica, de grande importância cultural e tem sido utilizada por diversos pesquisadores através dos anos dando margem a pesquisas publicadas em livros e catálogos de exposições.

Vale ressaltar com destaque a exposição de fotos de D. Pedro II que foi de uma beleza ímpar e original tendo sido patrocinada pelo Instituto Cultural Banco Santos sob a curadoria conjunta com a Biblioteca Nacional, expondo pela primeira vez 140 fotos inéditas que, por 130 anos, aguardaram sua planificação e revelação aos pesquisadores e ao público por meio desse maravilhoso evento que alcançou grande sucesso, resultando na publicação do catálogo De volta à luz: fotografias nunca vistas do Imperador, com imagens e textos. O trabalho prévio de tratamento de conservação dessas fotografias feito por técnicos da Biblioteca Nacional e da Funarte, vale menção, pois trouxe ao público fotografias que permaneciam desconhecidas e sem acesso por falta de equipamento apropriado para o seu tratamento. Essa exposição mostra, apenas, parte da coleção de fotos do imperador D. Pedro II, já que a coleção intitulada D. Maria Thereza Christina reúne 22.500 fotos e foi doada pelo imperador à Biblioteca Nacional em 1895.

À essa coleção foi outorgado o certificado da Unesco de seu registro internacional no Programa Memória do Mundo, assegurando a sua perpetuidade na memória dos povos como uma coleção que retrata os costumes e a fotografia do século XIX. Como tal, pela sua exaustividade e originalidade, foi reconhecida pela Unesco a sua importância para a história da humanidade. Esse reconhecimento foi uma decisão do Comitê do Conselho Internacional desse órgão que, reunido em Gdansk em 2003, reconheceu o mérito da coleção após exame minucioso e favorável dos comitês de especialistas internacionais, que avaliam o material a ser registrado.

O tratamento de preservação, a identificação e a criação da base de dados de documentos fotográficos da Biblioteca Nacional vem se desenvolvendo desde a década de 1980, porém em 1998 houve um esforço para colocar no portal da biblioteca algumas fotografias formadoras de um núcleo de arquivos de imagens com links que apresentavam os seus dados bibliográficos. Essa primeira experiência de digitalização criou um interesse de aprofundar estudos e identificar equipamentos que viriam a constituir um laboratório de digitalização, por meio de aquisições feitas com recursos de instituições de financiamento.

Dentro do contexto dessas necessidades de passar do tratamento experimental para a captura e preservação digital de imagens de forma sistêmica, foi obtida uma bolsa de estudos para Joaquim Marçal, por meio da Mellow Foundation, que resultou num diálogo profícuo com a New York Public Library e a Library of Congress dos Estados Unidos. Sucessivamente, foram adquiridos muitos equipamentos por doações, a saber: microfilmes pelo Ministério da Cultura, cromos pela IBM do Brasil, papel pela Vitae e toda a rede atual de computadores Macintosh além de scanners Power Phase pela Finep e pela Unesco. O laboratório, instalado de 1999 a 2003, é totalmente operacional e o mais completo e moderno dos laboratórios das bibliotecas na América Latina, tendo oferecido em dezembro de 2003 o 1º Curso Latino-Americano de Preservação Digital patrocinado pela Unesco.

Todos os equipamentos foram obtidos por meio de projetos que tratavam de bibliotecas virtuais temáticas como a do tráfico dos escravos no Brasil, da rede virtual da cartografia histórica dos séculos XVI a XVIIII, da coleção Piranesi e da coleção de fotos do imperador.

Com relação à preservação dos arquivos digitais, que foi um dos assuntos abordados pelo autor, um dos aspectos que se torna urgente é o estudo pelas instituições brasileiras da criação de repositórios de arquivos digitais centrais que tenham capacidade de coletá-los e mantê-los em condições ótimas e em suportes de grande capacidade de armazenagem. Esse tema foi discutido extensamente durante o curso acima referido.

Esse trabalho deverá ser dividido entre instituições de pesquisa que possam manter sistemas operacionais e que abriguem a Biblioteca Central de Arquivos Digitais em rede entre as instituições interessadas, permitindo recuperar esses arquivos, quando necessário. Tais repositórios deverão assegurar a perpetuidade desses arquivos de vida efêmera e ter a possibilidade de atualizações tecnológicas de transferência desses suportes para novos de acordo com a mudança tecnológica através dos anos.

O investimento de recursos humanos e tecnológicos só poderá ser realizado por meio de convênios cooperativos entre instituições que possam se autofinanciar.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Ago 2009
  • Data do Fascículo
    Dez 2004
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