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Apresentação

Apresentação

Eni de Mesquita Samara

Diretora do Museu Paulista

Este número dos Anais do Museu Paulista apresenta um substancial conjunto de textos que abordam diversos vetores de interesse ligados à cultura material, aos museus e à história. A seção Debates promove o diálogo acadêmico entre mais de uma dezena de intelectuais – desdobrando os resultados de um seminário realizado no Museu Paulista, em 2006, sob coordenação da Prof.ª Cecília Helena de Salles Oliveira. Como base da seção, está o artigo de Manoel Salgado Guimarães – Vendo o passado: representação e escrita da História – em que o autor propõe uma avaliação instigante sobre a tensão contemporânea estabelecida entre a sedução pela memória, como denominou Andreas Huyssen, e as possibilidades interpretativas do historiador. Suas proposições foram debatidas por Ana Cláudia Fonseca Brefe, Cecília Helena de Salles Oliveira, Dominique Poulot, Eduardo Ismael Murguia, Elias Thomé Saliba, Francisco Marshall, Francisco Régis Lopes Ramos, Iara Lis Schiavinatto, José Reginaldo Santos Gonçalves, Regina Abreu, Paulo Henrique Martinez e Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses, constituindo-se assim, novamente, um fórum acadêmico, que é uma das marcas editoriais dos Anais do Museu Paulista.

A seção Estudos de Cultura Material apresenta três eixos temáticos principais. No primeiro deles, que focaliza as discussões em torno da implantação de monumentos em espaços públicos urbanos, Ricardo de Souza Rocha aborda o concurso para a construção do Monumento Nacional aos Mortos na Segunda Guerra Mundial, localizado no Parque do Flamengo (vencido por Marcos Konder Netto e Hélio Ribas Marinho). O autor focaliza, especialmente, o caráter paradoxal existente entre a realização de marcos memoriais em escala monumental e o ideário modernista, que, em tese, presidia a produção arquitetônica da chamada escola carioca. Já Patricia Corsani aborda as intensas polêmicas que acompanharam a instalação da fonte Las Nereidas, em Buenos Aires, bem como a própria trajetória singular de sua autora, Lola Mora, uma escultora que, como a paraense Julieta de França (abordada no número anterior dos Anais do Museu Paulista) seria objeto de intenso preconceito na belle époque sul-americana.

As práticas alimentares na cidade de São Paulo aproximam os dois textos seguintes, que concentram sua atenção, respectivamente, nas esferas privada e pública, e na intersecção de ambas. João Luiz Maximo da Silva procura compreender as transformações propiciadas pela introdução do fogão a gás no espaço doméstico, e especialmente nas cozinhas, a partir de 1870. O autor articula, por meio de uma análise das mudanças tecnológicas que adentram a casa, a perda de autonomia da economia doméstica, progressivamente submetida aos interesses empresariais e públicos, às estratégias publicitárias ancoradas nos discursos de racionalização, economia e higienização, bem aos custos sociais de tais mudanças – não na macroeconomia, mas nas rotinas corporais e no conhecimento popular que envolvem o preparo do alimento pelos serviçais.

Já o tema de Jaime Rodrigues são as políticas públicas relativas à alimentação, estabelecidas pelas autoridades sanitárias, buscando compreender o papel do Instituto de Higiene, atual Faculdade de Saúde Pública da USP, na formulação de princípios que regeram a então chamada "higiene alimentar". Percorrendo documentação de diversas tipologias, procurou compreender o confronto de opiniões em torno de ações públicas que iam desde a formação de educadores sanitários às campanhas de instrução popular ou aos padrões de merenda escolar.

Nessa seção, Gisele Sanglard é a autora do último artigo, em que analisa a inserção do Hospital Gaffrée & Guinle no âmbito da assistência hospitalar – praticada no Rio de Janeiro na década de 1920, sob interferência direta do Estado – e de suas repercussões na esfera da cultura material. A instituição é compreendida sob diversos enfoques, de modo a demonstrar sua inserção em questionamentos que vão desde os discursos raciais ligados ao controle da sífilis até a opção pelas formas arquitetônicas nacionalistas da chamada "arquitetura tradicional", ou neocolonial, quando da construção do conjunto de edifícios do complexo hospitalar.

As tensões que presidem os museus de história franceses contemporâneos, sobretudo nas décadas de 1980 e 1990, são o tema do artigo de Dominique Poulot para a seção Museus, que nos remete a abordagens relativas ao processo de redução da possibilidade crítica em museus de história, seja diante da espetacularização, do enrijecimento interpretativo ou das reivindicações da memória social.

Dando prosseguimento a um artigo – publicado em 2005 nos Anais, dedicado à restauração do pavilhão, da cúpula metálica e da luneta equatorial de 32cm pertencente ao acervo do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) –, a seção Conservação e restauração fecha este número publicando o trabalho de Marcus Granato, Ive Luciana Coelho da Costa, Antonio Carlos Martins, Durval Costa Reis e Cristiane Suzuki, dedicado à restauração do círculo meridiano de Gautier e reabilitação do pavilhão correspondente do mesmo museu. Tombado pelo Iphan, o conjunto do Mast passou por mais uma intervenção de restauro, realizado por equipe interdisciplinar, que expõe neste artigo seus critérios metodológicos de intervenção e os resultados alcançados quanto à musealização do espaço recuperado.

Esperamos que este conjunto de artigos possa despertar novos questionamentos e debates em nossa comunidade, ambição que esperamos ser alargada com a recente inclusão dos Anais do Museu Paulista nas bases Scientific Electronic Library Online (SciELO Brazil) e Directory of Open Access Journals (DOAJ), num esforço de divulgação que já se iniciara há alguns anos, com a inclusão do periódico na Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal (ReDALyC). A todos, desejamos uma ótima leitura.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jan 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 2007
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