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APRESENTAÇÃO

Este número de Anais do Museu Paulista finaliza o primeiro ciclo anual de sua nova política editorial que estabeleceu a publicação de três fascículos por volume e concentra todos os seus artigos na seção Estudos de Cultura Material.

Abre a edição o dossiê denominado “Fazer história: o estatuto das fontes e o lugar dos acervos nas pesquisas de história da arquitetura e da cidade no Brasil”, organizado por Ana Claudia Veiga de Castro e Joana Mello de Carvalho e Silva, ambas docentes da FAUUSP. O conjunto de sete artigos - escritos por Eduardo Augusto Costa, Joana Mello, Nilce Aravecchia-Botas, Amália Cristovão dos Santos, Ana Castro, Flávia Brito do Nascimento e Fernando Atique - pauta-se por um enfoque explicitamente interdisciplinar, viés que tem caracterizado as pesquisas dos autores que integram esse dossiê, todos graduados em Arquitetura. Como destacam as organizadoras, o impacto da Escola dos Annales é evidente nas abordagens apresentadas, o que sinaliza a ampla renovação teórica pela qual têm passado os estudos sobre a cidade e sobre a arquitetura, bem como sobre suas representações.

Focalizando a problemática das fontes como suporte para a reflexão da cultura material, bem como a relação dos acervos e sua gestão como dimensão indispensável para a qualificação dessas fontes como documentos para a história, os artigos constroem um amplo arco de abordagens temáticas que mantém um nexo comum de inquietação metodológica em face dos limites e possibilidades impostos pelas fontes que mobilizam. Nesse sentido, fotografias, projetos arquitetônicos, documentos administrativos, obras literárias, processos de tombamento, produção jornalística e sites da web constituem as tipologias que se prestam à reconstrução do passado e à própria reflexão sobre os limites do fazer historiográfico. A materialidade da arquitetura e da cidade completa esse leque documental que, longe de ser apenas objeto de reflexão, constitui-se também como fonte para algumas das abordagens.

Os três artigos que completam a sessão focalizam temas que se ancoram novamente em fontes materiais - seja por meio de sua produção, de sua circulação ou de sua guarda - ampliando as possibilidades da reflexão histórica. O primeiro deles, de Marcelo Jorge e Biagio D´Angelo, explora três conjuntos de gravuras de Jean-Baptiste Debret, produzidos em 1802, 1810-1813 e 1812-1813, pertencentes à Bibliothèque nationale de France. Por meio deles, os autores realizam uma revisão da produção de um dos nomes centrais da chamada Missão Artística Francesa que, neste ano de 2016, completa os 200 anos de sua chegada ao Rio de Janeiro. Notoriamente conhecido pelas gravuras que integram os três volumes da Viagem histórica e pitoresca ao Brasil, Debret produziu estampas para cumprir funções pedagógicas antes de partir para a América, além de ter sido ele mesmo professor. Pouquíssimo conhecidas, essas gravuras foram digitalizadas há pouco, procedimento que acabou por rever atribuições anteriores, o que traz, também nesse artigo, a problemática da gestão de coleções como instância de construção do artefato como documento, eixo central do dossiê que o precede. Por meio da publicação desse instigante artigo, Anais do Museu Paulista se integra às comemorações do Bicentenário da vinda dos artistas franceses liderados por Lebreton, numa perspectiva muitíssimo inovadora.

No artigo seguinte, Claudio Aguiar retoma quadros icônicos da carreira de Jacques-Louis David, o mais importante pintor sob o Império de Napoleão I, para demonstrar como suas pinturas formaram um corpo visual que sacralizava o ideal e os personagens revolucionários. Num momento em que o culto cristão era banido pela vaga revolucionária, David atualizava a iconografia greco-romana como imagens de uma nova religião laicizada, que dava aos nascentes heróis a condição de herdeiros do caráter exemplar e da missão de que passavam a ser agentes.

Por fim, este número apresenta o artigo de Jorge Luzio, que toma a produção e circulação de esculturas religiosas em marfim produzidas nas costas do Índico, da China e do Japão e trazidas ao Brasil pela Carreira das Índias como meio para compreender o caráter mediador dessas peças entre práticas religiosas diversas, que por meio delas se aproximam. A imagem é, portanto, instrumento e resultado de um processo de contato cultural e religioso que faz do Império ultramarino português uma comunidade que conectava três continentes.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2016
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