Apresentação

Apresentação

Este número especial da nossa revista Estudos Afro-Asiáticos apresenta um interessante e inovador panorama dos estudos das relações raciais na Colômbia, um país vizinho tanto geograficamente como na forma pela qual nele foram construídas as relações entre brancos e negros. O lugar central do mestiço, tanto nas relações entre brancos e negros como no imaginário étnico e racial do país representa outro aspecto com o qual facilmente o leitor deve reconhecer pontos de similaridade com o contexto brasileiro. O sistema de classificação racial, com sua "cultura da cor" pela qual a terminologia racial, o fenótipo e o uso do corpo são comentados e plasmados no dia-a-dia, tanto para se identificar como para diferenciar e até discriminar, contém mais pontos de convergência. Parece, realmente, haver um contexto afro-latino das relações raciais: uma forma de se vivenciar a diferença étnica e racial específica àquela ampla parcela da América Latina que recebeu população escrava vinda da África em maior escala. Intimidade e racismo se misturam de forma específica, neste contexto. A miscigenação do sangue e das cultura configura-se como o filtro mediador tanto da discriminação racial como das tentativas de se opor a esta de forma coletiva.

Sabemos que neste gênero de pesquisa a comparação – sobretudo quando transnacional – pode iluminar realidades se não dificilmente identificáveis – muitas vezes os segredos de um contexto "local" se tornam evidência quando este é comparado com outros contextos.

No caso deste número especial, a comparação que qualquer leitor fará com o Brasil salientará convergências. No futuro próximo contamos, porém, publicar mais artigos de outros contextos e continentes, com o intento de sugerir outro tipo de comparação, por diferença. Na Estudos Afro-Asiáticos acreditamos que a compreensão das relações raciais no Brasil em muito pode se beneficiar de uma maior abertura para outras regiões e continentes, assim como acreditamos que os estudos africanos em muito podem se beneficiar de um maior conhecimento das categorias étnicas e raciais desenvolvidas no Novo Mundo – afinal trata-se, em boa parte, de categorias coloniais que, mais tarde, foram reinterpretadas e aproveitadas na colonização da África e no conjunto de saberes que resultaram na "biblioteca colonial".

Introduzindo uma prática nova para nossa revista, fizemos com que este número dedicado à Afro-Colômbia e às relações raciais naquele país fosse organizados por um "editor visitante" , Fernando Urrea, sociólogo da Universidad del Valle, em Cáli, Colômbia. Fernando, um respeitado pesquisador de renome internacional, aceitou com entusiasmo nosso convite para pensar e organizar um número especial dedicado à população afro-colombiana. Deve-se a sua generosidade e ao seu trabalho a alta qualidade do conjunto das contribuições – que ele apresenta e contextualiza detalhadamente no primeiro artigo deste número, escrito junto com Pedro Quintin. Fernando juntou artigos originais dos melhores pesquisadores da realidade colombiana. Como sempre, os limites de espaço impossibilitaram a publicação de mais artigos. Que os muitos outros excelente pesquisadores colombianos nos não levem a mal. Nossa revista estará sempre ao seu dispor.

Nossa revista se encontra numa nova fase. Já há quase um ano quadrimestral e disponível on-line pelo sistema SCIELO, a revista está interessada em fortalecer a rede de colaboradores e captadores de artigos. Neste sentido, pensamos que a figura do "editor visitante", estreada por Fernando Urrea, pode ser algo a ser explorado mais ainda. Um número especial ou um dossiê sobre Afro-Cuba já está sendo planejado.

Outra novidade, que aparece com força neste número, é a publicação de artigos em espanhol. Não se trata somente de acompanhar a justa solicitação do CNPq e de outras agências de fomento para que se trabalhe rumo uma maior integração regional dos projetos acadêmicos e editoriais, mas significa também ampliar muito a bacia de captação de nossos artigos, assim como proporcionar para nossos leitores horizontes mais vastos e fortalecer as comparações Sul-Sul – que em muito podem enriquecer nossa perspectiva comparativa, muitas vezes obcecada pela comparação e a referência exclusiva ao contexto norte-americano.

Livio Sansone

Editor

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  05 Jul 2004
• Data do Fascículo
  2003