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Homeopatia na fissura por cocaína-crack: estudo randomizado, duplo-cego e placebo controlado (Estudo COCACRACK)

CARTA ão EDITOR

Homeopatia na fissura por cocaína-crack: estudo randomizado, duplo-cego e placebo controlado (Estudo COCACRACK)

Ubiratan Cardinalli AdlerI; Ilma Barreto Garcia SaraivaII; Maria Flora de AlmeidaIII; Marta JezierskiIV; Amarilys de Toledo CesarV; Edson Zangiacomi MartinezVI; José Carlos Fernandes GaldurózVII

ICentro de Atenção Psicossocial (CAPS II), São Carlos, SP

IICentro de Atendimento à Pessoa Deficiente (CAPD), Guarulhos, SP

IIICentro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (CRATOD), São Paulo, SP

IVCentro Brasileiro de Informações sobre Drogas (CEBRID), São Paulo, SP

VFarmácia Homeopática HN-Cristiano, São Paulo, SP

VIFaculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (FMRP/USP), Ribeirão Preto, SP

VIIUniversidade Federal de São Paulo (Unifesp), São Paulo, SP

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Ubiratan Cardinalli Adler Centro de Atenção Psicossocial Rua Floriano Peixoto, 216 13574-420 – São Carlos, SP, Brazil E-mail: ubiadler@uol.com.br

Prezado Editor

Os tratamentos farmacológicos convencionais para a dependência da cocaína são limitados, favorecendo a procura por soluções na medicina alternativa ou complementar (CAM). A homeopatia é uma modalidade de CAM, reconhecida no Brasil como especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina (Resolução CFM no 1634/2002). Medicamentos homeopáticos são preparados por meio de triturações e séries de diluições e agitações, em potências decimais (D), centesimais (C) ou cinquenta-milesimais (LM ou Q, de Quinquagintamillesimal)1. Não existem estudos sobre a eficácia ou efetividade da homeopatia no tratamento da dependência da cocaína. Conduzimos um estudo piloto, randomizado, com grupos paralelos, duplo-cego e controlado com placebo, para avaliar a eficácia e a tolerabilidade de potências cinquenta-milesimais de Opium e de Erythroxylum Coca no tratamento complementar da fissura pela cocaína. O estudo foi realizado em São Paulo, na região da chamada "cracolândia", no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (CRATOD), tendo sido aprovado pelo Conselho de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Registro do estudo: RBR-67zvt5 (Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos). Pacientes: Entre janeiro e novembro de 2012 foram incluídos 42 pacientes do CRATOD, com diagnóstico de dependência de cocaína de acordo com os critérios do DSM-IV TR. O estudo foi então terminado, pela baixa adesão dos participantes, em sua maioria, desempregados (88%) e moradores de rua ou albergues da região central de São Paulo. Intervenções: Os pacientes receberam tratamento convencional do CRATOD e homeopatia (1 glóbulo de sacarose diário de Opium LM2 nas semanas 1 e 2 e Erythroxylum coca LM2 nas semanas 3 e 4). Controle: Tratamento convencional do CRATOD e 1 glóbulo inerte de sacarose diário por dia. Durante o período de realização deste estudo, a rotina de tratamento do CRATOD incluía oficinas terapêuticas e de geração de renda, grupos de motivação, grupos de psicoterapia de várias modalidades, além de psicoterapia individual e tratamento médico da dependência de substâncias psicoativas e das comorbidades clínicas e/ou psiquiátricas. Resultados: Dos 42 pacientes, apenas 23 (54,8%) retornaram pelo menos uma vez, sendo, portanto, considerados para a análise estatística. Destes, 12 (52%) foram aleatoriamente alocados para o grupo 1 (homeopatia) e 11 (48%), para o grupo 2 (placebo). Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos em relação à eficácia (Escala de Fissura por Cocaína de Minnesota2) ou efeitos colaterais (registrados segundo a escala de efeitos adversos da Sociedade Escandinava de Psicofarmacologia3). A análise intragrupos sugere uma frequência menor de episódios de fissura prolongados e uma maior sensação de que o medicamento contribuiu para a redução da fissura, no grupo tratado com homeopatia (resultados finais comparados às medidas basais – Tabela 1). Essas diferenças, não observadas no grupo placebo, deverão ser estudadas em amostras maiores e de maior adesão.

Recebido: 1/10/2013

Aceito: 10/10/2013

  • 1. Farmacopeia Homeopatica Brasileira. 2a ed. São Paulo: Editora Atheneu, 1997.
  • 2. Halikas JA, Kuhn KL, Crosby R, Carlson G, Crea F. The measurement of craving in cocaine patients using the Minnesota Cocaine Craving Scale. Compr Psychiatry. 1991;32:22-7.
  • 3. Lingjaerd O. The UKU side effects rating scale: scale for registration of unwanted effects of psychotropics. Acta Psychiat Scand. 1976;334:81-94
  • Endereço para correspondência:

    Ubiratan Cardinalli Adler
    Centro de Atenção Psicossocial
    Rua Floriano Peixoto, 216
    13574-420 – São Carlos, SP, Brazil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Jan 2014
    • Data do Fascículo
      2013
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