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Os idosos do nosso tempo e a impossibilidade da sabedoria no capitalismo atual

The elderly of our time and the impossibility of wisdom in contemporary capitalism

Resumo

Da Antiguidade clássica à Idade Média, a sabedoria associava-se à velhice e havia várias possibilidades de sabedoria. A partir da modernidade, os laços que uniam conhecimento, sabedoria e velhice foram se perdendo com o tempo, à medida que o capitalismo avançava. Atualmente, os idosos já não associados à sabedoria e alguns indicadores sociais sugerem que, embora vivam mais tempo, a população idosa vive pior. Ilustramos esta ideia utilizando alguns dados sobre suicídio idoso na atualidade.

Palavras-chave:
Sabedoria; Idoso; Suicídio; Capitalismo

Abstract

From classical antiquity to the Middle Ages, the wisdom it is associated with old age and there were several possibilities for wisdom. From the modernity, the ties between knowledge, wisdom and old age have been lost over time, as capitalism advanced. Currently, the elderly no longer associated with wisdom, and some social indicators suggest that, although they live longer, the elderly live worse. We illustrate this idea using some data on elderly suicide today.

Keywords:
Wisdom; Old man; Old age; Suicide; Capitalism

1. Introdução: os dois extremos

a Antiguidade, particularmente entre os gregos e durante todo o período helenista, havia uma relação muito íntima entre a sabedoria e a velhice. Aquilo que hoje chamamos de terceira idade sempre esteve, no passado, associado à sabedoria. Os velhos eram aqueles capazes e responsáveis por adquiri-la e transmiti-la. Não necessariamente a sabedoria de filósofos, como Sócrates, Epicuro ou Sêneca, mas pelo menos certo conhecimento de si, da natureza e da vida pública, capaz de proporcionar algum bem-estar, fosse individual ou coletivo. Ser mais velho era ser mais sábio. Não é por acaso que, no chinês antigo, uma mesma palavra era utilizada para designar o sábio e o velho, algo do que nos dá exemplo o nome do autor do Tao te king, Lao Tze, O Velho Sábio. A velhice representava de algum modo a possibilidade de acúmulo de experiência e aprendizado de vida.

Atualmente, o mundo está cada vez mais velho, dizem as estatísticas sobre crescimento populacional. O mundo será provavelmente mais velho no futuro. A faixa etária que mais cresce é a da população idosa acima de sessenta anos. Tanto no Brasil quanto na maior parte do planeta (particularmente nos países desenvolvidos), esse é o grupo humano que mais aumenta. E, no entanto, não podemos esperar um mundo mais sábio, ou pelo menos um mundo onde haverá mais pessoas dotadas de certa sabedoria. O antigo laço que unia velhice e sabedoria parece estar quase completamente desfeito em nossa época. O que quer que seja a sabedoria, há pelo menos uma característica que a define: é a busca da melhor maneira possível de viver. Schopenhauer, por exemplo, dizia que a sabedoria é "a arte de conduzir a vida da maneira mais agradável e feliz possível" (2006, p. 1). Mas os idosos do nosso tempo estão vivendo pior. Eles são atualmente afetados por problemas sociais que praticamente os impedem de vislumbrar, buscar e exercer qualquer forma de sabedoria.

Se houve, na Antiguidade - e estamos falando aqui de um tempo anterior à Idade Média -, uma relação clara entre idade avançada e sabedoria, não foi porque as sociedades antigas eram "mais sábias" do que a nossa, ou simplesmente porque as condições sociais e políticas eram mais propícias a fazer com que pessoas mais velhas fossem também mais sábias. Para além dos contextos de cada época ou de cada povo, parece haver uma relação mais forte, mais íntima, entre uma coisa e outra: a sabedoria parece ser própria da idade adulta madura; ela parece ser uma condição que é mais facilmente adquirida com o desenvolvimento (maturidade) do corpo e da mente do indivíduo que adquiriu certa experiência de vida. Precisamente esse aprendizado, essa experiência, ajudava a viver melhor na velhice. Contudo, há muitos indícios de que os idosos do nosso tempo vivem pior. Um deles é o alto índice de suicídios, que afetam sobremaneira homens e mulheres dessa faixa etária.

Gostaríamos de oferecer, neste artigo, um percurso que vai das antigas possibilidades de sabedoria ligada à velhice a um modo de vida - o nosso -, em que se vive mais tempo, porém pior, e no qual quase não há possibilidade de sabedoria. Para tanto, ilustraremos o problema com alguns dados sobre suicídio entre os idosos. Veremos que, embora a relação entre o modo de produção capitalista da vida social e taxas de suicídio na idade avançada seja um problema que ainda carece de muitas pesquisas, não sendo possível estabelecer uma relação causal comprovada entre as duas coisas, há bons indícios de que o contexto de países desenvolvidos favorece atos suicidas, principalmente entre os mais velhos.

2. A sabedoria perdida

Entre os gregos antigos, a idade adulta começava propriamente no período de vida que eles chamavam de acme, quando a pessoa se encontrava no auge do seu vigor físico e intelectual. A acme se dava por volta dos quarenta anos de idade. É nesse momento que uma sabedoria começava a ser vislumbrada. Era todo um processo de aquisição de conhecimentos práticos (vivência) e teóricos, que se iniciava aí e só se completava na velhice.

Podia-se ser sábio, por exemplo, seguindo-se os ensinamentos de Heráclito (c. 544-474 a.C.), um dos filósofos mais antigos que conhecemos. "Não é possível entrar duas vezes no mesmo rio", dizia o filósofo, numa das frases mais conhecidas da história da filosofia (Heráclito, 2012, p. 141). O rio passa e corre para o mar, deixando o tempo todo de ser o mesmo; e também nós, ao sairmos do rio, já não somos os mesmos, já fomos modificados. Tudo flui, tudo se transforma, sempre. Considerado o primeiro grande dialético pela tradição marxista,1 1 É o caso, por exemplo, de Leandro Konder (2002, p. 8), que afirma não só que Heráclito "foi sem dúvida" o "pensador mais radical da Grécia antiga", mas que o foi no "sentido moderno da palavra". Heráclito é aquele que dirige o pensamento para o fato de que tudo no mundo é transformação. Sábio é aquele que reconhece essa lei do mundo, a lei da transformação. Tudo muda, tudo se transforma, o tempo todo. Mas ser sábio envolve ainda algo mais do que isso: todas as transformações são regradas; elas não ocorrem de qualquer forma, a qualquer momento, motivo pelo qual o mundo não é caótico. Há uma lei, uma lógica das transformações; há aquilo que ele chama de logos. Que significa isso? Que, por exemplo, uma barra de ferro, no decorrer do tempo, transforma-se, não permanece a mesma, mas ela não se transforma numa borboleta ou num telefone celular. Dialeticamente, o mundo é transformação, mas precisamente por ser movido pelo lógos, podemos conhecer a história dessas transformações. Se é assim, os velhos estão mais aptos a adquirir essa sabedoria: tendo vivido grande parte de seu tempo de vida, o velho é aquele que viu tudo se transformar, que viu muita coisa perecer à sua volta, mas segundo uma lógica, segundo algo que permanece, que se conserva sempre, que é eterno, o lógos. Heráclito, contudo, alertaria os mais velhos contra uma tendência que está presente também entre idosos: o conservadorismo. É evidente que não há lugar para o conservadorismo no pensamento de Heráclito, já que isso se opõe precisamente à "lei do mundo", ao logos que determina estar tudo em processo de transformação.

Podia-se ser sábio também seguindo os passos de Sócrates (c. 469-399 a.C.), cujo principal ensinamento conhecemos: "Sei que nada sei". Ser sábio é reconhecer nossa ignorância. Mas não para permanecer ignorante. Pelo contrário: justamente para sair, cada vez mais, em busca de conhecimento. Sobretudo de autoconhecimento, pois sabemos que Sócrates um dia foi afetado pela frase inscrita do frontispício do pórtico do templo de Apolo Delfo: "Conhece-te a ti mesmo". Sócrates fez desses dois ensinamentos - sei que nada sei; conhece-te a ti mesmo - o valor máximo de sua vida, tornando-se sábio à sua maneira. Testemunho disso foi sua serenidade diante da morte por imposição do tribunal de Atenas, que o condenou precisamente por ensinar uma sabedoria considerada subversiva para os valores da cidade. Ora, quem melhor do que o idoso, que já viveu boa parte da vida que o constitui e que fez dele o que ele é, para reconhecer sua ignorância constitutiva e que, no entanto, o move para adquirir sempre mais conhecimento sobre si?

Ou, então, podia-se ser sábio à maneira de Epicuro, que viveu aproximadamente entre 341 e 270 a.C. Na Grécia antiga, Epicuro foi talvez o primeiro a fundar uma escola em que eram aceitos não só os homens, mas também as mulheres, os velhos, as crianças, os escravos e até os estrangeiros. Sua máxima filosófica era: "O prazer é princípio e fim da vida". Somos movidos pela busca do prazer. Mas ser sábio será buscar e encontrar o melhor prazer de todos. O que é o melhor prazer? Em Epicuro, é antes de tudo ausência de dor e de prazeres perturbadores (excessivos). Como é que se busca isso? Pelo filosofar, um "pensar sobre", que ele chamava de nêphôn logismos. O filósofo pergunta-se pela natureza do prazer (o que ele é) e pela qualidade do prazer (qual a melhor forma de prazer). Exercendo sua potência racional de pensar, o filósofo é também sábio quando, compreendendo que o prazer é "princípio e fim da vida", não dá, no entanto, assentimento imediato aos prazeres (como o faz o hedonista), buscando antes compreender sua natureza e perguntando-se sobre qual o melhor prazer para o humano. A maneira de fazer isso é o próprio ato de filosofar, e Epicuro descobre nesse ato o prazer por excelência. Eis por que a ética epicurista do prazer faz um elogio à filosofia como algo inseparável da sabedoria e da felicidade:

Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou já que passou a hora de ser feliz. (Epicuro, 2002EPICURO. Carta sobre a felicidade (a Meneceu). Tradução Á. Lorencini e E. Del Carratore. São Paulo: Ed. da Unesp, 2002., p. 21)

Aparece em Epicuro, possivelmente pela primeira vez, uma ideia que é a cara dos idosos: a de que o sábio é aquele que não teme a morte. Porque a morte, para o sábio, não é nada: quando ela chega, já não estamos; quando ainda estamos, ou somos, ela não chega. Ele afirmava que "todo mal e todo bem se encontram na sensibilidade: e a morte é privação de sensibilidade". Há em Epicuro um belo trecho que nos interessa aqui, particularmente:

Não é ao jovem que se deve considerar feliz e invejável, mas ao ancião que viveu uma bela vida. O jovem, na flor da juventude, é instável e é arrastado em todas as direções pela fortuna; pelo contrário, o velho ancorou na velhice como em um porto seguro e os bens que antes esperou cheio de ansiedade e de dúvida os possui agora cingidos com firme e agradecida lembrança. (Epicuro, 1973______. Antologia de textos. 1. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Col. Os pensa- dores; v. V.), p. 28)

Claro, toda a questão aqui é saber em que consiste exatamente uma "bela vida" e, sobretudo, como vivê-la antes que seja tarde demais. O importante é que a pergunta sobre como viver da melhor maneira possível - melhor para si e para o outro -, que está no centro das preocupações de todo aquele que busca a sabedoria, era o que movia o pensamento de muitos filósofos antigos, principalmente Epicuro.

A busca da sabedoria como elemento central do trabalho filosófico é o grande legado epicurista e encontra-se no cerne do trabalho dos chamados filósofos helenistas, dentre os quais se destacam os estoicos, como Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio, Lucrécio, Cícero e outros. Para eles, o cosmo e a natureza comportavam uma lógica, uma ordenação intrínseca do mundo. Sábio é aquele que segue a natureza e, com isso, segue sua própria natureza, pois esta é fruto imanente daquela. E ele faz isso através do uso da razão.

Nos estoicos, a razão é capaz de controlar aquilo que chamavam de doenças da alma: as paixões. Por exemplo, a natureza e a natureza do meu corpo são de tal forma que geram a necessidade, no meu corpo, de ingestão de certos alimentos. Quais alimentos, de que forma comê-los e em qual quantidade é algo que depende tanto da natureza das coisas quanto da do meu corpo. Mas é a paixão que gera na alma uma doença que faz com que eu deseje mais do que é necessário ou outras coisas que não me são necessárias. Esse desejo vai contra a natureza: ele é excessivo, de um lado, e equivocado, de outro, pois embora eu necessite de alimentos, não preciso nem de uma quantidade desmedida, nem de alimentos sofisticados. Quem combate essa doença? A razão, porque por ela eu conheço as coisas e a mim mesmo tal como elas são e tal como eu sou, levando-me a desejar somente o necessário.

Não interessa, aqui, investigar e analisar o quanto essas éticas - socrática, epicurista, estoica etc. - são ou não consistentes, ou o quanto elas seriam úteis, aplicáveis e exequíveis em nossa época. O que importa é frisar que elas marcaram um período da história em que o conhecimento era inseparável da busca de uma sabedoria de vida, da busca da melhor maneira possível de viver bem neste mundo, consigo mesmo e com o outro.

Esse caráter inseparável entre conhecimento e sabedoria ainda estava presente em muitos pensadores cristãos da Idade Média. Contudo, é o estatuto do conhecimento que muda, no período medieval. Ser sábio não será mais propriamente conhecer, nem alcançar aquele conhecimento que só uma experiência de vida pode proporcionar; será antes de tudo ter fé. A revelação bíblica torna-se o repositório de toda sabedoria, bastando crer para ser sábio. Crença em quê? Sobretudo numa salvação que só se completa após a morte, quando a alma está inteiramente liberta do corpo e do mundo pecaminoso que o abriga.

A sabedoria cristã será, portanto, uma sabedoria do além, do post mortem. A ideia de sabedoria dos antigos estava ligada a uma valorização da vida e desta vida, deste mundo, e por isso mesmo era importante saber viver, viver bem, êu zên. Já no cristianismo medieval, sabedoria se torna saber sofrer e saber morrer. Pode-se mesmo dizer que importava antes ser santo do que ser sábio, uma vez que a santidade encerrava uma ética piedosa (religiosa) capaz de oferecer a salvação do espírito. O que interessa, de fato, ao cristianismo, não é uma sabedoria de vida, mas uma salvação da alma que só pode se realizar de fato no além, num outro mundo, porque este mundo é, inerentemente, lugar de pecado.

É certo que estamos falando aqui de um cristianismo tradicional, no qual o mundo que realmente interessa é o do além, o reino de Deus, o reino dos céus. É aí que é preciso entrar e para isso se requer não certamente a antiga sabedoria, mas a sabedoria piedosa, do fiel, que rejeita esse mundo e esse corpo, porque o corpo e o mundo são lugares do pecado desde a queda de Adão. É, portanto, muito difícil falar em sabedoria no cristianismo. Mas se considerarmos que há uma "sabedoria cristã" do fiel que aprende a sofrer e aprende a morrer, então podemos dizer que também aqui os mais velhos levam vantagem: eles sabem melhor do que os jovens o quanto o mundo tem de sofrimento e morte, pois, mais do que eles, experimentaram o caráter inerentemente perecível das coisas e pessoas amadas com um amor incapaz de reter ad æternum o objeto amado.

3. A inflexão moderna: conhecimento, tecnologia e capitalismo

Os medievais, todavia, podiam sonhar com uma vida boa, tranquila e sábia, ainda que isso fosse uma recompensa adquirida somente após a morte, após a velhice. A modernidade vem trazer a quase impossibilidade de qualquer sabedoria, mesmo na idade avançada. Na modernidade ocorre algo inquietante no campo do saber. A entrada em cena do conhecimento científico vai determinar uma separação que antes não havia: a separação entre conhecimento e erudição, de um lado, e sabedoria, de outro, sendo que esta ocupará agora um lugar muito menor no universo cultural. É verdade que num filósofo moderno como Espinosa (1632-1677), no século XVII, podemos ainda encontrar, em sua "ética da felicidade", uma perfeita junção entre conhecimento rigoroso (matemático, geométrico) e sabedoria. Mas Espinosa é quase uma exceção moderna...

Antes dos modernos, a sabedoria era um valor maior, e todo conhecimento era buscado de maneira inseparável dela. Um alimentava o outro: quanto mais sábio, mais apto ao conhecimento; quanto mais conhecedor, mais perto da sabedoria. A modernidade separa as duas coisas. O conhecimento se fragmenta em especialidades, tornando-se igualmente mais técnico. Quando, a partir do Renascimento, a física se separa da cosmologia medieval, a astronomia se separa da astrologia; a matemática, da numerologia; a química, da alquimia etc., o campo do saber se divide em várias áreas especializadas e o conhecimento se torna cada vez mais assunto de cientistas alocados em diferentes métiers.

Não foi a especialização dos saberes, entretanto, o que mais determinou o fim ou pelo menos a quase impossibilidade de se pensar e praticar qualquer forma de sabedoria, a partir da modernidade. O fator mais decisivo veio de fora da esfera do saber: originou-se do campo econômico. O advento da modernidade não se deveu apenas ao trabalho de filósofos e cientistas empenhados em construir conhecimentos racionais e científicos libertos do jugo da teologia judaico-cristã. Ela é também, como sabemos, uma transformação no campo econômico. É o advento do capitalismo. É tão impensável conceber o estatuto do saber, na Idade Média, sem as influências do campo da religião e da ideologia judaico-cristã, quanto conceber o conhecimento, na modernidade, sem as determinações do campo econômico - vale dizer, do capitalismo. O capitalismo muda toda a história do saber, sobredeterminando aquela separação entre conhecimento e sabedoria.

Sabemos que o tipo de conhecimento que mais tem valor social e cultural, em nossa época, é o científico. Contudo, o que dá valor e legitimidade às ciências não é apenas seu grau de exatidão ou sua capacidade de previsão dos fenômenos naturais. Mais do que isso, talvez sejam os produtos práticos da ciência o que mais lhe confere valor social. Quando, da física, da química ou da biologia, derivam artefatos tecnológicos, elas ganham mais reconhecimento social. O desenvolvimento tecnológico é inseparável do trabalho científico porque as ciências dependem das comprovações empíricas de suas teorias. Precisamente do trabalho empírico de comprovação de teses e hipóteses derivam - às vezes por mera casualidade - as novas tecnologias. Ocorre que o capitalismo é igualmente inseparável do desenvolvimento tecnológico, como Marx nos mostrou. Há, portanto, uma ligação quase intrínseca entre capitalismo e ciência. Essa é a principal novidade moderna. E isso muda tudo.

Realmente, sabemos que Karl Marx mostrou que a causa real do lucro é a extração da mais-valia, o tempo de trabalho não pago ao trabalhador. Mostrou também que o capital se expande, antes de mais nada, através de duas formas de extração da mais-valia: a mais-valia absoluta e a relativa.2 2 Referimo-nos, aqui, a conceitos básicos da teoria marxista, hoje amplamente conhecidos nas ciências humanas, particularmente na Sociologia e no Serviço Social. Eximimo-nos, portanto, de explicitar aqui aquilo que Marx desenvolve nas seções III e IV do livro I, tomo 1, e nas seções IV (continuação) e V do livro I, tomo 2, de O capital. A edição que temos como referência é a de 1985 e a de 1988. A primeira encontra seus limites claros na própria condição psicofísica do trabalhador: não se pode aumentar indefinidamente o tempo de trabalho não pago, sob pena de extenuar as forças do trabalhador até sua morte. Mas a segunda parece não ter limites tão claros: a mais-valia relativa depende do desenvolvimento das forças produtivas, isto é, sobretudo da invenção de novas tecnologias que permitam produzir mais, muito mais, em menos tempo. O aumento das forças produtivas está, portanto, diretamente ligado ao desenvolvimento científico, já que a produção tecnológica é derivada dos novos conhecimentos adquiridos nos diferentes campos da ciência (química, física, biologia, astronomia etc.). E é antes de tudo nesse sentido que o conhecimento ganha valor na modernidade: na medida em que pode contribuir para o "progresso", para o desenvolvimento do capital. Resumindo, o valor do conhecimento é socialmente medido e apreciado não pelo grau de sabedoria que proporciona, mas pelo quantum de produtos fabricados pelas forças econômicas.

Conhecemos as consequências sociais desse aumento das forças produtivas do capital em conexão com o desenvolvimento científico. Tais consequências constituem o que chamamos de questão social. Resultado, em última análise, do grande conflito entre capital e trabalho, elas exprimem um mesmo problema, uma mesma questão, um mesmo conflito. Um mundo inundado cada vez mais de produtos, nos grandes países capitalistas, não suprime as expressões concretas da questão social, como a desigualdade, a pobreza, a exploração do trabalho ou a violência. Pelo contrário, as supõe, pois o capital só se desenvolve, seus ganhos de produtividade só aumentam, ampliando o conflito central entre capital e trabalho. Em outras palavras, os ganhos do capital só são possíveis com perdas dos trabalhadores, já que é no trabalho, na utilização da força de trabalho, que se encontra a origem do lucro. Resumidamente, não obstante todo o barulho ruidoso de um mundo abarrotado de mercadorias, a vida não tem se tornado melhor, no capitalismo, mas pior, porque do conflito central do capital derivam necessariamente certos problemas que o próprio modo de produção não pode conter: a desigualdade social, em primeiro lugar, mas em seguida tudo o que dela decorre ou que ela envolve, como a exclusão social, o desemprego, a fome, a violência, as várias formas de dominação de classe etc.

Uma desses problemas, dentre tantos outros, é o aumento das taxas de suicídio, particularmente nos países capitalistas mais desenvolvidos. Quando o problema do suicídio afeta também, e com frequência, sobretudo os idosos, isso é certamente um sintoma de que a vida não vai bem. Não só os idosos do nosso tempo não estão mais sábios, nem fazem da busca da sabedoria algo que pelo menos torne a vida melhor, mas muitos deles até preferem não mais viver. Como a violência, os conflitos sociais, a repressão policial etc., também os suicídios parecem indicar que há algo de podre no reino neoliberal das mercadorias...

4. Viver mais, viver pior, não mais viver: capitalismo e desejo de morte

À medida que o capitalismo contemporâneo foi se expandindo, um setor da produção de mercadorias também se desenvolveu, tornando-se um dos maiores ramos da produção industrial: a indústria farmacêutica. Ela mesma tributária do desenvolvimento científico e tecnológico, comporta atualmente as mais ricas e poderosas corporações do universo capitalista. Dentre as maiores empresas do mundo, pelo menos três delas pertencem ao ramo da indústria farmacêutica. Não é pouca coisa. A Johnson & Johnson, por exemplo, foi considerada a maior empresa do ramo farmacêutico, em 2015, embora seja mais conhecida entre nós como fabricante de cosméticos e produtos de higiene, e está entre as quarenta maiores empresas do mundo.

Como todo setor da produção capitalista, a indústria farmacêutica sempre buscou expandir-se, acumulando e reinvestindo seu capital; sempre buscou espalhar seus produtos pelos quatro cantos do planeta, investindo em pesquisa, tecnologia e aumento da produtividade, a fim de tornar seus produtos mais acessíveis ao maior número de consumidores possível. O resultado foi que vários países, em diversas partes do mundo, foram inundados com vacinas e medicamentos de todo tipo, particularmente antibióticos, antidepressivos e remédios contra o câncer.

Esse maior acesso aos medicamentos é apontado como uma das principais causas do aumento da expectativa de vida em muitos países. São várias as causas. Em todo caso, as pesquisas mostram que, não obstante todos os outros problemas sociais, as pessoas estão vivendo mais tempo. Mesmo no Brasil, um país, como sabemos, com sérios problemas sociais, a expectativa de vida aumentou mais de 60% nos últimos setenta anos. Passou de 45,5 anos, na década de 1940, para 75,5 anos em 2015, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Como a taxa de natalidade vem caindo nas últimas décadas, estima-se que no Brasil a população idosa será, já a partir de 2030, maior do que a de crianças com até catorze anos; e, a partir de 2055, será maior do que a população de crianças, jovens e adultos com até 29 anos. É a mesma tendência já observada em países desenvolvidos. No Japão, na Suíça, em Hong Kong e na Islândia, os idosos já vivem em média 84 anos. Nesses países, a categoria idosa também constitui uma proporção numerosa da população total.

E, no entanto, alguns indicadores sugerem que se vive mais, porém não melhor. Um bom exemplo, dentre esses indicadores, são os índices de suicídio. Trata-se de um problema social que não vem recebendo a devida atenção, nem das políticas públicas, nem dos cientistas sociais. No campo da medicina, já é visto como questão de saúde pública (considerando-se o problema em nível mundial).3 3 "A Organização Mundial de Saúde, em 2009, alertou para o fato de, em cada ano, existir quase um milhão de mortes por suicídio, o que corresponde aproximadamente a um suicídio em cada quarenta segundos. Para além da dimensão de sofrimento individual, o suicídio é assim um verdadeiro problema de saúde pública" (Sampaio e Telles-Correia, 2013, p. 1). Mas o fato é que o suicídio é um problema grave, e talvez não seja equivocado elencá-lo entre as expressões da questão social:

O suicídio entre pessoas idosas constitui hoje um grave problema para as sociedades das mais diversas partes do mundo. Estudo realizado pelo WHO/Euro Multicentre Study of Suicidal Behaviour em treze países europeus mostra que as taxas médias de suicídio entre pessoas com mais de 65 anos nessas sociedades chega a 29,3/100.000 e as de tentativas de suicídio, a 61,4/100.000. (Minayo e Cavalcante, 2010MINAYO, Maria C. de Souza; CAVALCANTE, Fátima G. Suicídio entre pessoas idosas: revisão da literatura. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 44, n. 4, ago. 2010., p. 1)

Alguns países apresentam taxas de suicídio maiores do que os índices de homicídios em países como o Brasil, onde, em 2015, a taxa de homicídio chegou a 40/100.000 habitantes. É o caso do Japão e alguns países europeus. Como afirmam Maria Cecília Minayo e Fátima Cavalcante, autoras da passagem acima citada: "No mundo como um todo, em números absolutos, os suicídios matam mais que os homicídios e as guerras juntos" (2010, p. 1). São cerca de 1,1 milhão de suicídios por ano; portanto, quase 3 mil pessoas por dia tiram a própria vida.4 4 "Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde, 2003, p. 7), todos os dias 60 mil pessoas tentam tirar a própria vida, e a cada trinta segundos alguém consegue. Se a cada dia 3 mil pessoas se matam no mundo, por ano acontecem um milhão e cem mil suicídios. E a estimativa é que em 2020, mais de um milhão e meio de pessoas morrerão desta forma. Um caso a cada vinte segundos. Em 2002 foram 887 mil casos. O aumento será de 74% em 18 anos" (Rosa, 2011, p. 50). No Brasil, as taxas são baixas, se comparadas às de outros países (aproximadamente de quatro a seis para cada 100 mil habitantes), mas os dados mostram que, entre os idosos, a taxa de suicídio é duas vezes maior do que os suicídios praticados em outras faixas etárias: "[...] no Brasil, onde, apesar de as taxas de suicídio serem relativamente baixas, as que se referem à população na faixa etária acima de sessenta anos são o dobro das que a população em geral apresenta, principalmente devido ao aumento crescente das taxas relativas ao grupo de homens idosos (Minayo e Cavalcante, 2010MINAYO, Maria C. de Souza; CAVALCANTE, Fátima G. Suicídio entre pessoas idosas: revisão da literatura. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 44, n. 4, ago. 2010., p. 1).

E se levarmos em conta que essa é a faixa etária que mais cresce, podemos projetar um agravamento do problema, no Brasil, num futuro não muito distante.5 5 Não é por acaso que, no Brasil, que tem um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo (em que pese todos os problemas do nosso Sistema Único de Saúde), foi lançado, já há dez anos, pelo Ministério da Saúde, uma "Estratégia nacional de prevenção do suicídio". Trata-se do reconhecimento público e político de um problema que tende a se agravar. Como afirmam Minayo e Cavalcante: "A população acima de sessenta anos é a que mais cresce no Brasil e na maior parte do mundo, o que justifica um olhar atento para os problemas sociais e de saúde que a afetam".

Toda a questão é: por que os idosos estão se matando mais e mais do que outros grupos etários? Por que, mesmo em países como o Brasil, onde as taxas são relativamente baixas, os idosos são os que mais praticam o suicídio? Dizer que é porque estão já perto do fim da vida não responde a questão: idosos, naturalmente, sempre estiveram mais próximos da morte, e nem sempre, historicamente, foram levados a adiantar o momento de morrer, pelo menos não em números tão expressivos. Defendido por muitos pesquisadores do campo da medicina, o argumento biológico, segundo o qual fatores psicológicos e biológicos predisporiam pessoas dessa faixa etária a cometer suicídio, tampouco explica o problema. Seria atribuir a um gesto pensado um determinismo psicofisiológico incompatível com o caráter propriamente voluntário do ato suicida.

Vamos admitir por um instante a hipótese de que o corpo do idoso, por estar naturalmente mais predisposto a contrair certas doenças físicas e psicológicas (desencadeadas por perdas, solidão, isolamento social), predisponha os mais velhos a cometerem o suicídio. Mas o corpo do idoso sempre foi historicamente mais propenso a contrair doenças, e, ademais, não era no passado acompanhado de cuidados médicos e farmacológicos como atualmente. Nem por isso os velhos se matavam tanto, como o fazem em nossa época. Roger Establet, que, junto com outro marxista, Christian Baudelot, realizaram uma segunda atualização de O suicídio,6 6 A primeira atualização havia sido feita por Maurice Halbwachs na década de 1930. de Durkheim, lembra um fato relativamente recente que impossibilita qualquer naturalização do suicídio entre os idosos:

Após os choques do petróleo e o longo período de subemprego que prossegue até hoje, o nível de suicídios voltou a subir. Contudo, esse aumento é dividido desigualmente entre as classes de idades. Mesmo entre 1975 e 1995, assistimos a um aumento das taxas de suicídio entre os jovens (20-40 anos) e a uma queda nas gerações mais velhas (50-80 anos) [...]. Durante um século pudemos constatar crescimento exponencial do suicídio com a idade, fato que nem Durkheim, nem Halbwachs tentaram explicar, apesar de terem utilizado essa estatística. O fato parecia muito "natural" para exigir explicações de uma ciência da "cultura" como a sociologia. O "peso do anos", com seu cortejo de perdas, doenças e solidão, era uma evidência que dispensava explicações. A partir de 1975, assistimos a uma elevação do suicídio e da precariedade entre os jovens em todos os países industrializados, ao passo que são relativamente poupadas as gerações idosas, melhor inseridas no trabalho, protegidas por um patrimônio, ainda que modesto, adquirido no período de prosperidade. (Establet, 2009ESTABLET, Roger. A atualidade de O suicídio. In: MASSELLA, A. B. et al. Durkheim: 150 anos. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2009., p. 127)

Em outras palavras, ainda que seguindo uma tendência secular de aumento (pelo menos desde o século XIX até meados da década de 1970), o suicídio entre idosos foi, nos países mais ricos, menor do que entre os jovens, mas precisamente durante um período de forte crise do capital, quando, segundo Establet, foram mais afetados do que os idosos, que haviam sido beneficiados no período de prosperidade que se seguira ao pós-guerra. Porém a relação entre altas taxas de suicídio - que voltaram a ser maior entre os idosos - e desenvolvimento capitalista (países ricos, industrializados) sugere que o modo de vida capitalista, sobretudo em tempos neoliberais, favorece o suicídio. Não é de modo algum por acaso que Durkheim, já no início do século XX, constatava aumentos expressivos das taxas de suicídio nos grandes países europeus. Ao contrário dos marxistas do século XX, entretanto, Durkheim, como se sabe, atribuía esse "fato social" à modernização das sociedades, que levava ao individualismo e à consequente anomia, dando lugar a "uma alarmante miséria moral" (Durkheim, 2000, p. 506). E, contudo, de Durkheim aos dias de hoje, o suicídio tem aumentado tanto quanto o capitalismo tem se expandido. Não é preciso muito esforço sociológico, portanto, para ver uma possível correlação entre as duas coisas (voltaremos a este ponto em nossa conclusão). O problema do suicídio é mais material do que moral.

Sem descartar a importância de fatores como enfermidades físicas e transtornos psicológicos (como a depressão), sugerimos que as causas profundas e complexas do suicídio entre os idosos estão também ligadas a fatores sociais e, portanto, ao nosso modo de vida capitalista. De qualquer forma, quando os índices de suicídio são maiores nos países mais desenvolvidos do capitalismo tardio, isso deve dizer algo sobre esse modo de produção; e quando eles são ainda maiores entre os idosos, isso deve ser um sintoma a indicar que, nesse sistema, nesse modo de produção, alcançada certa idade, é preferível não mais viver. Cercados de todo tipo de mercadorias, incluindo os mais eficazes medicamentos da indústria farmacêutica, os idosos não estão mais felizes ou satisfeitos. Do contrário não cometeriam tantos atos suicidas como o fazem atualmente.

Conclusão: A dialética do desejo

Os idosos do nosso tempo vivem um período maior. Mas não parecem mais felizes com sua existência. E são certamente menos dotados de sabedoria.

Sabedoria é sempre sabedoria de vida. Ensina a viver de maneira melhor, e o corolário disso é sem dúvida um certo gosto pela vida neste mundo. O mundo sempre teve problemas, mas aqueles que no passado buscavam sabedoria - e os idosos eram os mais aptos a isso - esforçavam-se justamente para encontrar uma forma de viver melhor, não obstante todos os problemas da existência e do contexto em que se encontravam. Taxas de suicídio expressivas indicam precisamente o contrário: perda do sentido e do gosto pela vida.

O suicídio é a antítese da sabedoria. É o desejo de morte contra o desejo de vida. Menos sábios, vivendo num mundo capitalista abarrotado de mercadorias, mas carente de sentido, e sob a sempre constante ameaça neoliberal do desemprego, da precarização e do fim da proteção social, muitos idosos, após toda uma vida de trabalho e consumo, não veem mais muitas razões para continuar existindo. Suicidam-se. Mas não o fazem por causa do capitalismo ou do neoliberalismo. Queremos insistir neste ponto. Entre o suicídio idoso e o capitalismo avançado não há uma relação causal direta, isto é, sem as mais diversas mediações possíveis: doenças físicas e psicológicas, perda de pessoas próximas, solidão etc. Seriam necessárias pesquisas que, apoiadas em dados empíricos sólidos, pudessem comprovar a relação entre as duas coisas. Entretanto, alguns dados, como vimos, sugerem haver uma relação entre contextos de países desenvolvidos e índices de suicídio idoso. O que estamos sugerindo, em suma, é que o modo de vida proporcionado pelos países mais desenvolvidos (do ponto de vista econômico) antes favorecem os atos suicidas e proporcionam menor possibilidade de sabedoria, a qual, de resto, poderia funcionar como um antídoto contra o ato suicida, já que é próprio da sabedoria encontrar maneiras de viver que permitam contornar os problemas da velhice, malgré tout.7 7 Tudo se passa como se as possibilidades de sabedoria em nossa época variassem numa proporção inversa aos índices de suicídio: haveria, assim, tanto mais suicídios entre idosos quanto menos sabedoria na velhice. Hipótese que, no contexto deste artigo, não pode ir além da especulação teórica, restando, contudo, como sugestão de pesquisa quanti e qualitativa.

A realidade, contudo, é sempre dialética. O suicídio é o gesto extremo da negação da vida. Ele é contraditório num sistema produtivo no qual se busca, entre outras coisas, meios para se viver mais tempo - sem que se saiba exatamente para quê... A contradição, porém, move o real. À negação seguem-se atos de afirmação de vida. Exemplo disso são os movimentos sociais de resistência, encabeçados sobretudo pelos mais jovens, que podem ser vistos em diversas partes do mundo. Embora seu número e tamanho nem sempre sejam expressivos, o fato de existirem mostra que, inerentemente contraditório, o capitalismo não pode deixar de engendrar as forças que o negam.

O filósofo holandês Baruch de Espinosa dizia que o homem é essencialmente desejo, e desejo de vida, pois está ontologicamente determinado a perseverar em sua própria existência, isto é, a esforçar-se por viver (2015, p. 339). Mas o desejo de vida é também desejo de viver da melhor maneira possível. Por isso a sabedoria está sempre no horizonte de nossa existência. No capitalismo, entretanto, parece haver pouco espaço para a sabedoria enquanto desejo e busca da melhor maneira de viver. Precisamente por esse motivo, em nossa época, talvez a nossa maior sabedoria possível esteja nos atos de negação do capital - atos nos quais se exprime o desejo de vida contra o desejo de morte.

  • 1
    É o caso, por exemplo, de Leandro Konder (2002, p. 8)KONDER, L. O que é dialética. 28. ed. São Paulo: Brasiliense, 2002., que afirma não só que Heráclito "foi sem dúvida" o "pensador mais radical da Grécia antiga", mas que o foi no "sentido moderno da palavra".
  • 2
    Referimo-nos, aqui, a conceitos básicos da teoria marxista, hoje amplamente conhecidos nas ciências humanas, particularmente na Sociologia e no Serviço Social. Eximimo-nos, portanto, de explicitar aqui aquilo que Marx desenvolve nas seções III e IV do livro I, tomo 1, e nas seções IV (continuação) e V do livro I, tomo 2, de O capital. A edição que temos como referência é a de 1985 e a de 1988.
  • 3
    "A Organização Mundial de Saúde, em 2009, alertou para o fato de, em cada ano, existir quase um milhão de mortes por suicídio, o que corresponde aproximadamente a um suicídio em cada quarenta segundos. Para além da dimensão de sofrimento individual, o suicídio é assim um verdadeiro problema de saúde pública" (Sampaio e Telles-Correia, 2013SAMPAIO, Daniel; TELLES-CORREIA, Diogo. Suicídio nos mais velhos: fundamental não esquecer. Acta Médica Portuguesa, Lisboa, v. 26, n. 1, p. 1-2., jan./fev. 2013. Disponível em: <http://bibliobase.sermais.pt:8008/BiblioNET/Upload/PDF3/002254.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2016.
    http://bibliobase.sermais.pt:8008/Biblio...
    , p. 1).
  • 4
    "Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde, 2003, p. 7), todos os dias 60 mil pessoas tentam tirar a própria vida, e a cada trinta segundos alguém consegue. Se a cada dia 3 mil pessoas se matam no mundo, por ano acontecem um milhão e cem mil suicídios. E a estimativa é que em 2020, mais de um milhão e meio de pessoas morrerão desta forma. Um caso a cada vinte segundos. Em 2002 foram 887 mil casos. O aumento será de 74% em 18 anos" (Rosa, 2011ROSA, Ana E. S. Klein. Suicídio e fragilidade social na velhice, uma triste realidade. Portal de Divulgação, n. 12, p. 49-61, jul. 2011. Disponível em: <http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php>. Acesso em: 11 fev. 2016.
    http://www.portaldoenvelhecimento.org.br...
    , p. 50).
  • 5
    Não é por acaso que, no Brasil, que tem um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo (em que pese todos os problemas do nosso Sistema Único de Saúde), foi lançado, já há dez anos, pelo Ministério da Saúde, uma "Estratégia nacional de prevenção do suicídio". Trata-se do reconhecimento público e político de um problema que tende a se agravar. Como afirmam Minayo e Cavalcante: "A população acima de sessenta anos é a que mais cresce no Brasil e na maior parte do mundo, o que justifica um olhar atento para os problemas sociais e de saúde que a afetam".
  • 6
    A primeira atualização havia sido feita por Maurice Halbwachs na década de 1930.
  • 7
    Tudo se passa como se as possibilidades de sabedoria em nossa época variassem numa proporção inversa aos índices de suicídio: haveria, assim, tanto mais suicídios entre idosos quanto menos sabedoria na velhice. Hipótese que, no contexto deste artigo, não pode ir além da especulação teórica, restando, contudo, como sugestão de pesquisa quanti e qualitativa.

Referências bibliográficas

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  • ROSA, Ana E. S. Klein. Suicídio e fragilidade social na velhice, uma triste realidade. Portal de Divulgação, n. 12, p. 49-61, jul. 2011. Disponível em: <http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php>. Acesso em: 11 fev. 2016.
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  • SAMPAIO, Daniel; TELLES-CORREIA, Diogo. Suicídio nos mais velhos: fundamental não esquecer. Acta Médica Portuguesa, Lisboa, v. 26, n. 1, p. 1-2., jan./fev. 2013. Disponível em: <http://bibliobase.sermais.pt:8008/BiblioNET/Upload/PDF3/002254.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2016.
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  • SCHOPENHAUER, A. Aforismo para a sabedoria de vida São Paulo: Martins Fontes, 2006.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2016

Histórico

  • Recebido
    10 Fev 2016
  • Aceito
    10 Mar 2016
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