CARTA AOS EDITORES
Eric R. Kandel MD.
Fernando Dias Campos Neto
Rio, 24/8/2003
Eu era estudante de psicanálise e fazia a minha análise pessoal. E sempre ouvia falar, mas não assumidamente, que a posição mais regressiva para um kleiniano era a catatônica, não a "esquizo-paranóide".
Durante anos, eu tentei elaborar um objeto-parcial matriz, útero materno, quando praticamente fui "abortado" nas minhas pretensões de ser o mais brilhante analista do mundo. O golpe militar expulsou-me do "colo" de forte transferência, fazendo-me esquecer o assunto. Perdi o meu "insigth", por anos a fio!
Hoje, modestamente aposentado como funcionário público, ocorreu-me pensar que os que se escandalizavam com o meu "surto" transferencial tinham razão. Não deve haver esse objeto parcial, essa zona pré-natal da libido. Mas não poderia haver um "engrama"?
Lembro-me de que na ocasião em que lutava com o único paciente que eu tinha para provar a minha teoria, aquele que Stekel apresentava às quartas-feiras nas reuniões do "comité secreto", ocorriam-me os mitos de Sigfred e Aquiles com os seus ônfalos mortais...
Hoje, o que foi em vão, como o tremendo esforço em torno da Regra Fundamental (a "free-association) , inclina-me pela neuropsicanálise, pois somente ela poderia restabelecer a ordem no caos que se torna a psicanálise pós-moderna.
Ela é ciência jovem! Para se impor, inclusive dentro das esperanças do seu criador o Dr. Sigmund Freud, necessita provar que o cérebro mais sadio é o que se comunica com uma civilizada franqueza. E que não desempenha, não "passa à ação", como temo se faça cada vez mais no mundo.
Ora, o artigo do Nobel Dr. Eric R. Kandel é excelente! Foi publicado pela revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul V 25, N. 1, JAN/ABR 2003.
Pensei até em escrever-lhe, num outro "surto" rankiano, sugerindo-lhe que centralize algumas pesquisas em torno do "Traumatismo do Nascimento", talvez um " engrama" do parto. Algo que estaria entre uma paralisia mínima e uma fonte de ansiedade psíquica, sonhos de passagens estreitas e angústias de separação, os pontos fracos de Aquiles e Siegfred.
Algo que se vincularia fortemente à livre associação como um benefício à mente conflitada e incapaz do "insight". Além da antipsiquiatria, apenas a antítese de uma conivência com sistemas socialmente injustos, não consigo encontrar livros de psiquiatria atualizados! Todos parecem da época de Krepelin e Bleuler, notaram? Mas já há a neuropsicanálise, muito promissora.
Esse artigo vale a pena ler. E consultar os "sites" sobre o assunto.
Dr. Fernando Dias Campos Neto
CRM RJ 10565-0
E-mail: dcfn@terra.com.br
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
13 Set 2005 -
Data do Fascículo
Ago 2003