RESENHA
Espiritualidade e qualidade de vida
Reseña del libro Espiritualidade e qualidade de vida
José Carlos SouzaI; Adelzira Sousa SoaresII
IPós-doutor; Psiquiatra; Professor, Faculdade Medicina de Lisboa; Professor, Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Campo Grande, MS
IITeóloga, psicopedagoga e aluna do 9º semestre de Psicologia, UCDB, Campo Grande, MS
Correspondência Correspondência José Carlos Souza Rua Theotônio Rosa Pires, 88, Vila Rosa Pires CEP 79004-340 - Campo Grande - MS Fone/Fax: (67) 325-0990 E-mail: josecarlossouza@uol.com.br
ESPIRITUALIDADE E QUALIDADE DE VIDA
Evilázio Francisco Borges Teixeira, Marisa Campio Müller, Juliana Dors Tigre da Silva (orgs.)
Porto Alegre, EDIPUCRS, 2004.
A obra Espiritualidade e qualidade de vida, organizada pelos autores Evilázio Francisco Borges Teixeira, Marisa Campio Müller e Juliana Dors Tigre da Silva está dividida em 17 capítulos, com um total de 224 páginas, elaborada com 24 colaboradores de diferentes áreas de atuação, na qual os autores procuram fazer o percurso histórico das teorias que se desenvolveram acerca do homem e que dão base ao paradigma vigente.
Os capítulos estão assim dispostos:
Capítulo I - A autora define espiritualidade como o "viver com espírito" e como específica do ser humano. Quando bem integrada, pode promover qualidade de vida.
Capítulo II - Aborda a espiritualidade conceituando-a na visão cristã.
Capítulo III - Perpassa historicamente, do pensamento medieval ao moderno, as concepções existentes acerca do conceito de pessoa e trindade, no qual tanto as pessoas humanas quanto a pessoa trinitária (Pai-Filho-Espírito Santo), são pessoas de relações, o que torna possível ao homem o encontro com o mistério.
Capítulo IV - Discorre sobre a consciência, sua natureza e quando começa a formar-se.
Capítulo V - O autor escreve sobre as interfaces da religiosidade com outras ciências.
Capítulo VI - A espiritualidade é uma dimensão essencial na vida do ser humano.
Capítulo VII - Pesquisas atuais sobre saúde, bem-estar espiritual e qualidade de vida e seus pressupostos teóricos.
Capítulo VIII - O retorno do conceito do sagrado na ciência.
Capítulo IX - Pesquisas atuais sobre o efeito da prece na promoção da cura.
Capítulo X - Pesquisas em psicologia sobre espiritualidade e qualidade de vida.
Capítulo XI - A universidade como lugar de produção, aprendizado, cultura, arte e espiritualidade.
Capítulo XII - A crença em Deus é subjetiva e pode influenciar e modificar respostas emocionais e comportamentais.
Capítulo XIII - A prática da oração e meditação provoca um alívio das tensões.
Capítulo XIV - Revisão da literatura sobre religiosidade, saúde e qualidade de vida.
Capítulo XV - Visão psicanalítica sobre espiritualidade e qualidade de vida.
Capítulo XVI - A educação em busca da inteireza do ser.
Capítulo XVII - Núcleo interdisciplinar de estudos transdisciplinares sobre qualidade de vida.
Os autores perpassam as visões de diversos filósofos e teólogos, bem como o que levou o mundo a ter uma visão fragmentada do homem, gerando uma dicotomia entre corpo e alma, no qual a ciência tinha o cuidado do corpo, e a filosofia, da alma. Essa concepção gerou muitos conflitos, e durante séculos seus efeitos foram sentidos. Somente agora, no limiar deste milênio, estamos vivenciando o interesse de uma aproximação entre ciência e religião, antes consideradas como antagônicas.
Segundo os autores, começam-se a ser vislumbrados no horizonte novos tempos. De um lado, os cientistas vêm realizando pesquisas sobre a importância da religião na vida do ser humano, confirmando a expressão de Einstein, em 1950, quando referiu que "um cientista podia ser efetivamente um homem religioso". Por outro lado, o Papa João Paulo II dá um grande passo no sentido de diminuir a distância entre fé e ciência, ao lançar a Carta Encíclica Fides et Ratio (Fé e Razão) em 1998, na qual postula que tanto a fé como a razão "constituem como que asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade"1. Ambas caminham lado a lado, e nenhuma se sobrepõe à outra.
A obra procura demonstrar que, apesar das dificuldades existentes no estudo da religiosidade, as pesquisas na área da saúde e da psicologia comprovam que a religião tanto pode ajudar como prejudicar o bem-estar de seus praticantes, dependendo de como é percebida e praticada.
A obra Espiritualidade e qualidade de vida traz, com simplicidade e clareza, a necessidade do entendimento e valorização da espiritualidade por parte do profissional que lida com a saúde e com o sofrimento humano no seu trabalho cotidiano. Portanto, ela possibilita a reflexão e comprova a cientificidade do estudo sobre o tema, para desmitificá-lo e construir um novo paradigma acerca do homem.
A pós-modernidade coloca o homem diante de uma crise de sentido de vida sem precedentes. Apesar de ter conseguido um alto grau de domínio tanto na técnica como na ciência, constatamos uma crise de valores, da moral e da ética, gerando dor, decepção e um crescente crescimento da violência. O homem contemporâneo valoriza a matéria, o ter, o poder, relegando ao segundo plano o espiritual, caindo em uma profunda crise de sentido de vida, apesar de ser notório o surgimento de uma forte tendência na busca da prática de valores que há muito tinham sido esquecidos, como é o caso da espiritualidade, que até então não fazia parte das preocupações do meio científico.
Atualmente, verifica-se um grande número de pesquisas relacionadas à espiritualidade, dando-lhe reconhecimento científico como fator importante para a cura, como também na prevenção e promoção da saúde do indivíduo. Esse movimento, ainda que tímido, constitui-se num passo significativo para o entrelaçamento entre os diversos campos do conhecimento.
A espiritualidade é uma característica exclusiva do ser humano. Segundo Dalai-Lama (apud Boff2), define-se por espiritualidade "aquilo que produz no ser humano uma mudança interior". Sendo assim, a espiritualidade equivale às "motivações maiores e últimas, seu ideal, sua utopia, sua paixão, a mística pela qual vive e luta e com a qual contagia"3.
Em Espiritualidade e qualidade de vida, os autores procuraram desenvolver a reflexão acerca da espiritualidade e a importância da mesma para a promoção da saúde daqueles que a praticam no seu cotidiano, possibilitando, assim, uma melhor qualidade de vida.
REFERÊNCIAS
1. João Paulo II. Carta encíclica Fides et Ratio: sobre as relações entre fé e razão. São Paulo: Paulus; 1998.
2. Boff L. Espiritualidade: um caminho de transformação. Rio de Janeiro: Sextante; 2001.
3. Casaldáliga DP. Nossa espiritualidade. São Paulo: Paulus; 1998.
Correspondência
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
22 Ago 2006 -
Data do Fascículo
Ago 2005
