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Adaptação transcultural multicêntrica da sexta versão da Escala de Gravidade de Dependência (ASI6) para o Brasil

CARTA AOS EDITORES

Adaptação transcultural multicêntrica da sexta versão da Escala de Gravidade de Dependência (ASI6) para o Brasil

Felix KesslerI; John CacciolaII; Sibele FallerI; Maria Lucia Souza-FormigoniIII; Marcelo CruzIV; Sílvia BrasilianoV; Flavio PechanskyI

ICentro de Pesquisa de Droga e Álcool, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS

IIDepartamento de Psiquiatria, University of Pennsylvania, Filadélfia, EUA

IIIDepartamento de Psicobiologia, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP

IVInstituto de Psiquiatria, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ

VInstituto de Psiquiatria, Escola de Medicina, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP

Correspondência Correspondência : Felix Henrique Paim Kessler Rua Itaqui, 89/103 CEP 90460-140, Porto Alegre, RS

Prezados Editores,

O primeiro passo na avaliação de usuários de álcool e drogas é a obtenção de uma meticulosa e fiel avaliação diagnóstica biopsicossocial, promovendo o adequado desenvolvimento de um plano terapêutico. Embora tal conceito seja claro para profissionais brasileiros que trabalham no campo da dependência química, existe uma escassez de instrumentos de pesquisa e clínica com bom perfil psicométrico para a avaliação desses indivíduos - especialmente escalas que abordem a vasta gama de problemas encontrados em usuários de álcool e drogas1.

Nesse contexto, a sexta versão do Addiction Severity Index (ASI6) ou Escala de Gravidade de Dependência foi escolhida para ser adaptada e validada no Brasil em um estudo multicêntrico. O ASI já foi traduzido para mais de 20 idiomas2, demonstrando completa evidência de sua confiabilidade e validade3-5. Trata-se de uma entrevista semi-estruturada, planejada para obter informação sobre o perfil do abuso de substâncias e aspectos da vida relacionados com o uso de álcool e drogas nas seguintes áreas: médica, emprego/sustento, aspectos legais, sociofamiliar e psiquiátrica. Os entrevistadores, geralmente, levam de 45 a 90 minutos para concluir a aplicação do instrumento.

A última versão do instrumento (ASI6) foi desenvolvida para aperfeiçoar o conteúdo sobre problemas relacionados ao abuso de substâncias e abordar as principais limitações que estiveram presentes na sua versão anterior (ASI5)2.

Estudos estão sendo conduzidos nos EUA para validar a sexta versão do ASI, e os autores da escala original participaram ativamente, durante 2 anos, do desenvolvimento e adaptação do instrumento brasileiro, por meio de reuniões em ambos os países e correio eletrônico. O método de tradução e adaptação consistiu nas etapas mostradas na Figura 1.


Sendo o ASI um complexo questionário que exige treinamento específico, foi desenvolvido, em paralelo com o processo de adaptação do instrumento, um vídeo de treinamento e o manual do ASI6, onde foram fornecidas orientações sobre todos os itens, além de descrições e explicações detalhadas. A primeira versão brasileira do ASI6, com manual e vídeo, está disponível nos sites do Observatório Brasileiro de Informação sobre Drogas (OBID, www.obid.senad.gov.br) e do Centro de Pesquisas de Álcool e Drogas (CPAD, www.cpad.org.br). O download pode ser feito gratuitamente.

Este é o primeiro estudo conduzido na América Latina com o objetivo de adaptar e validar o ASI6. O trabalho envolveu esforços de pesquisadores de várias regiões do Brasil (Sul, Sudeste e Nordeste), originando também uma parceria para outros estudos nessa importante área da saúde pública. Com a adaptação do ASI6 será possível treinar profissionais da saúde para obter melhor visualização dos problemas dos usuários de drogas, com fins de planejamento terapêutico, bem como para o seguimento de cada caso. Além disso, ela abre caminho para o desenvolvimento de outras versões do instrumento no Brasil, tais como a ASI "Lite", a ASI "follow-up" e uma versão informatizada. Uma iniciativa importante para testar o ASI6 no Brasil está em curso, de modo a validar o instrumento em um estudo multicêntrico no qual as propriedades psicométricas do instrumento (em amostras de usuários de álcool e/ou drogas de ambulatórios e internações de quatro estados do Brasil) serão investigadas.

Recebido em 29/08/2007.

Aceito em 30/08/2007.

Financiamento: Este estudo foi apoiado pela Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), GPPG-HCPA nº 05-460). Aprovado pelo Comitê de Ética.

  • 1. Formigoni MLOS, Castel S. Escalas de avaliação de dependência de drogas: aspectos gerais. Rev Bras Psiquiatr. 1999;26(1):5-31.
  • 2. Thomas McLellan A, Cacciola JC, Alterman AI, Rikoon SH, Carise D. The addiction severity index at 25: origins, contributions and transitions. Am J Addict. 2006;15(2):113-24.
  • 3. Senoo E, Ogai Y, Haraguchi A, Kondo A, Ishibashi Y, Umeno M, et al. Reliability and validity of the Japanese version of the Addiction Severity Index (ASI-J). Nihon Arukoru Yakubutsu Igakkai Zasshi. 2006;41(4):368-79.
  • 4. Scheurich A, Muller MJ, Wetzel H, Anghelescu I, Klawe C, Ruppe A, et al. Reliability and validity of the German version of the European Addiction Severity Index (EuropASI). J Stud Alcohol. 2000;61(6):916-9.
  • 5. Gerevich J, Bácskai E, Kó J, Rózsa S. Reliability and validity of the Hungarian version of the European Addiction Severity Index. Psychopathology. 2005;38(6):301-9.
  • Correspondência

    :
    Felix Henrique Paim Kessler
    Rua Itaqui, 89/103
    CEP 90460-140, Porto Alegre, RS
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      31 Mar 2008
    • Data do Fascículo
      Dez 2007
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