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A avaliação de qualidade de vida: guia para profissionais da saúde

RESENHA

A avaliação de qualidade de vida: guia para profissionais da saúde

José Carlos Rosa Pires de SouzaI; Neomar Herculano de Souza BarrosII

IPsiquiatra. Doutor em Saúde Mental, Universidade Campinas (UNICAMP), Campinas, SP. PhD, Faculdade Medicina de Lisboa, Lisboa, Portugal. Professor, Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Campo Grande, MS

IIPsicóloga. Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Mestre em Psicologia, UCDB. Professora, UCDB. Psicóloga clínica, Hospital Psiquiátrico Nosso Lar, Campo Grande, MS

Correspondência Correspondência: josecarlossouza@uol.com.br

Marcelo Pio de Almeida Fleck (org.)

Porto Alegre, Artmed, 2008

Dr. Marcelo Pio de Almeida Fleck - psiquiatra, professor adjunto do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Coordenador do Grupo WHOQOL no Brasil - nos presenteia com este tomo de extrema relevância para os estudos e pesquisas sobre a avaliação da qualidade de vida (QV), especialmente em relação aos conceitos e aplicações do questionário WHOQOL (World Health Organization Quality of Life), elaborado, criteriosamente, pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O livro possui 228 páginas, muito bem distribuídas em 20 capítulos, assinados por 25 eméritos pesquisadores da área de QV. O mesmo destina-se a estudantes, profissionais e pesquisadores da área da saúde e afins. Sua linguagem é clara e objetiva, facilitando a compreensão de seu conteúdo até mesmo pelos iniciantes no assunto da QV. Realmente os autores alcançaram, com esta obra, os seus objetivos de torná-la um "guia para profissionais da saúde". O livro está dividido em duas partes. A primeira com nove capítulos e a segunda com 11, sendo, inicialmente, tratado o conceito de QV e o Projeto WHOQOL; já na segunda parte, são apresentadas algumas aplicações do questionário WHOQOL em amostras clínicas e não-clínicas.

No capítulo 1, o professor Marcelo Fleck faz, inicialmente, uma abordagem retrospectiva desde os estudos de base epidemiológica sobre a felicidade e o bem-estar até os modelos teóricos e conceituais atuais de QV. O autor é enfático e correto ao afirmar que "a definição proposta pela OMS é a que melhor traduz a abrangência do construto qualidade de vida. O Grupo WHOQOL definiu qualidade de vida como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto de sua cultura e no sistema de valores em que vive em relação a suas expectativas, seus padrões e suas preocupações". Ainda acrescenta o autor que três aspectos são fundamentais sobre este construto: subjetividade, multidimensionalidade e dimensões positivas e negativas.

No capítulo 2, o psiquiatra Donald L. Patrick, professor da Universidade de Seattle, EUA, discute se a qualidade de vida pode ser medida e como. Argumenta as razões para se medir a QV e a questão da individualização das avaliações, assim como as suas propriedades psicométricas. Este tem sido um assunto muito discutido nas pesquisas dos programas de pós-graduação das universidades brasileiras que abrangem a área da QV.

No terceiro capítulo, o psiquiatra Somnath Chatterji e Jerome Bickenbach, professor e detentor do Queen's Research Chair do Departamento de Filosofia e Faculdade de Direito e Medicina da Queen's University, iniciam o seu texto até mesmo com referências bíblicas, relacionando com os estudos sobre a QV. Apresentam uma estrutura conceitual para a experiência da saúde e a mensuração do seu componente objetivo, assim como do bem-estar.

No capítulo seguinte, Mick Power, professor de Psicologia Clínica e consultor de pesquisa da OMS no Projeto WHOQOL, apresenta uma visão geral do que vem a ser o Projeto WHOQOL da OMS, desde o desenvolvimento do questionário WHOQOL original à sua versão breve, seus domínios e devidas facetas.

O professor Marcelo Fleck e o psiquiatra Eduardo Chachamovich discutem, detalhadamente, no quinto capítulo, como foi o desenvolvimento do questionário WHOQOL-100, dentro do modelo teórico da OMS, até a sua versão em português. Encerram disponibilizando este instrumento no site da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (www.ufrgs.br/psiq), com a sua sintaxe de análise em linguagem SPSS (Statistical Package of the Social Sciences). Este site é referência obrigatória para os estudiosos da QV.

No sexto capítulo, os mesmos autores do anterior abordam o desenvolvimento da versão abreviada do WHOQOL (WHOQOL-bref), a original e sua versão em português. Alertam que os cuidados básicos a serem atendidos na aplicação do WHOQOL-bref são semelhantes aos observados em relação ao WHOQOL-100.

No capítulo 7, o professor Marcelo Fleck e o psiquiatra Rogério Zimpel apresentam o desenvolvimento, a aplicação e a validação do WHOQOL-HIV, que se trata de um "instrumento genérico modificado, capaz de conciliar a necessidade de generalização e comparação com outros estudos e que, ao mesmo tempo, fosse específico o suficiente para essa situação".

No oitavo capítulo, o professor Fleck, a psiquiatra Neusa Sicada Rocha, a psicóloga Raquel Gehrke Panzini e a médica Joana Silveira Pargendler apresentam o desenvolvimento do módulo para avaliar espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais do WHOQOL (WHOQOL-SRPB). Até pouco tempo atrás, ciência, espiritualidade e religiosidade não eram discutidas tão conjuntamente; contudo, com o desenvolvimento do WHOQOL-SRPB, esta questão se amplia, e os dois temas tendem a se complementarem. A metodologia de desenvolvimento do módulo WHOQOL-SRPB seguiu a dos outros projetos do Grupo WHOQOL, inclusive com a participação do centro brasileiro.

O capítulo 9, "Desenvolvimento do instrumento WHOQOL-OLD", é assinado pelo professor Fleck, o psiquiatra Eduardo Chachamovich, a psicóloga Clarissa Marceli Trentini, a psicóloga Silke Schmidt e Mick Power, professor de Psicologia Clínica e consultor honorário de Psicologia Clínica do Royal Edinburgh Hospital. Este novo instrumento tem como objetivo "oferecer um conjunto de itens adicionais para a avaliação da QV em idosos, gerados a partir de uma metodologia transcultural que permita comparações fidedignas das medições em diferentes contextos culturais".

O décimo capítulo já faz parte da segunda metade do livro. O professor Fleck e a psiquiatra Ana Flávia Barros da Silva Lima apresentam uma comparação do uso do WHOQOL-bref e do SF-36 (Medical Outcomes Study Short Form 36) em dependentes do álcool.

No capítulo seguinte, é discutida a QV em pacientes deprimidos. Os autores são o professor Fleck, o psiquiatra e mestre Marcelo Berlim, a acadêmica de Medicina da UFGRS Juliana Brenner, o residente de Psiquiatria Marco Antonio Knob Caldieraro e a médica Joana Silveira Pargendler. A depressão é uma doença séria, considerada um problema de saúde pública, o qual necessita de extensos estudos, almejando uma melhor QV de seus portadores.

No capítulo 12, é discutida a QV em pacientes com ansiedade pela doutora em Bioquímica Gisele Gus Manfro e pela enfermeira doutora Elizeth Heldt. Da mesma forma que a depressão, os transtornos ansiosos merecem cada vez mais estudos longitudinais.

A QV dos pacientes bipolares é discutida no capítulo 13, pelo psiquiatra Fernando Kratz Gazalle e pelo psiquiatra doutor Flávio Kapczinski. Embora com muitas pesquisas básicas e experimentais, os pacientes bipolares necessitam maior assistência de melhoria da sua QV.

No próximo capítulo, o professor Fleck e a professora doutora Luciane Carniel Wagner discutem a avaliação da QV na esquizofrenia.

O psiquiatra e mestre Rogério Zimpel, juntamente com o professor Fleck, apresenta no 15º capítulo um estudo brasileiro sobre a QV em pacientes com HIV/AIDS.

No capítulo 16, o professor Fleck e o psiquiatra Jacques José Zimmermann apresentam uma discussão sobre a "Recordação dos cuidados parentais e QV na idade adulta".

Os mesmos autores do capítulo 8 (com exceção de Joana Pargendler), juntamente com a psicóloga doutora Denise Bandeira, discutem "Espiritualidade, religiosidade e QV", inclusive com pesquisas brasileiras, no capítulo 17.

O 18º capítulo, "QV em cardiopatia isquêmica", é assinado pelo professor Fleck, a psiquiatra doutora Luciane Nascimento Cruz e a professora cardiologista Carisi Anne Polanczyk. A integração da psiquiatria com outras especialidades tem proporcionado grandes avanços nos estudos de QV.

O capítulo 19 tem os mesmos autores do capítulo 18 e discorre sobre a QV em insuficiência renal crônica.

No último capítulo, é discutida a QV em idosos, por Fleck, a psicóloga professora Clarissa Trentini e o psiquiatra mestre Eduardo Chachamovich.

Este tomo repercutirá, positivamente, em todos os centros de pesquisa de QV de língua portuguesa, tornando-se referência obrigatória para todos os iniciantes e experientes estudiosos desta área.

  • Correspondência:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Dez 2008
    • Data do Fascículo
      Abr 2008
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