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Qualidade de vida na infância e na adolescência: orientações para pediatras e profissionais da saúde mental

RESENHA

Qualidade de vida na infância e na adolescência: orientações para pediatras e profissionais da saúde mental

Francisco Baptista Assumpção Jr. e Evelyn Kuczynski (orgs.)

Porto Alegre, Artmed, 2010, 424 páginas

Lizandra Alvares Félix BarrosI; José Carlos SouzaII

I Enfermeira. Especialista em Enfermagem de Terapia Intensiva. Mestranda em Psicologia, Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Campo Grande, MS.

II Psiquiatra. Pós-doutor em Saúde Mental. Professor, UCDB.

Correspondência Correspondência : José Carlos Souza, Rua Theotônio Rosa Pires, 88, Vila Rosa Pires, CEP 79004-340, Campo Grande, MS, Brasil. Tel./fax: (67) 3325.0990. E-mail: josecarlossouza@uol.com.br

Organizada pelos professores Francisco B. Assumpção Jr. e Evelyn Kuczynski, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e colaboradores, a obra constitui uma compilação da experiência e dos resultados de pesquisas realizadas na última década por diversos grupos de trabalho e pesquisadores brasileiros abordando a temática qualidade de vida na infância e adolescência (QVIA). O livro contém 424 páginas, distribuídas em 24 capítulos, divididos em três partes. Destina-se a pediatras e profissionais de saúde mental, com o objetivo de auxiliar na reflexão sobre qualidade de vida (QV). De forma clara e objetiva, o livro trata da temática QVIA, facilitando sua compreensão, mesmo por iniciantes no tema.

A parte 1, intitulada "Qualidade de vida: aspectos conceituais", é composta por sete capítulos. No primeiro, o Prof. Assumpção Jr. apresenta uma evolução histórica do conceito de QV, acompanhada de uma breve abordagem sobre estresse e QV na família e na escola. O capítulo seguinte, de autoria da Profa. Kuczynski, traz no título o assunto principal da obra, "Qualidade de vida na infância e adolescência", colocando-o como um novo campo de estudo, além de apresentar novas concepções para o conceito de saúde e uma nova discussão sobre QV e doença crônica na infância. No capítulo 3, de lavra das Dras. Andréa Kurashima e Érika Santos, são apresentados instrumentos para a aferição da QV em pediatria, com destaque para as características psicométricas dos instrumentos, sua tradução e adaptação transcultural e uma síntese sobre os principais instrumentos genéricos adaptados para o Brasil.

No capítulo 4, de autoria da terapeuta ocupacional e mestranda Marília Bernal, há a discussão sobre a avaliação da QVIA, relacionando as percepções da criança, da família e dos profissionais ligados a ela. No capítulo seguinte, as enfermeiras Dra. Andréa Kurshima e Ms. Sandra Shimoda abordam a temática "Qualidade de vida e internação", destacando o impacto emocional que a hospitalização tem na criança e em sua família e relevando estratégias que podem reduzir esse efeito. Acompanha esse capítulo, como anexo, a Resolução nº 41 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, que determina os direitos de crianças e adolescentes hospitalizados.

No 6º capítulo, intitulado "Qualidade de vida em unidades de terapia intensiva", a Dra. Sônia Baldini discorre sobre a evolução histórica das unidades de terapia intensiva pediátricas (UTIP) e sobre os diversos aspectos psicológicos relevantes para a criança e para a família em uma internação. Destacam-se, aqui, as diversas estratégias e técnicas para o aumento da QV na terapia intensiva pediátrica e neonatal, e a disponibilidade de uma proposta de questionário para avaliação dos pais na admissão do filho à UTIP. Finalizando a parte 1, a Dra. Sílvia Barbosa enfoca os cuidados paliativos em pediatria e a QV.

A parte 2, intitulada "Tópicos essenciais", inicia com uma abordagem sobre "Qualidade de vida nas leucemias", sob condução da Profa. Kuczynski, juntamente com os Drs. Vicente Odoni Filho e Lilian Cristofani. Os autores trabalham com um breve conceito da leucemia e seus diferentes tipos, com enfoque na QV, expondo diversos fatores relacionados e apresentando um importante estudo de comparação da QV em crianças e adolescentes portadores de leucemia linfoide aguda e portadores de artrite reumatoide juvenil. No capítulo seguinte, dos Drs. Claudio Len e Clovis Silva, intitulado "Qualidade de vida em artrite idiopática juvenil", discorre-se sobre o uso dos questionários genéricos Pediatrics Quality of Life Inventory, versão 4.0 (PedsQL 4.0), e Childhood Health Questionnaire (CHQ), como os mais usados em reumatologia pediátrica. Alguns questionários específicos também são abordados.

No capítulo 10, o Prof. Marcos Lopes e a Dra. Vera Koch apresentam uma discussão sobre QV em pacientes portadores de estomas urinários e sobre como a QV pode estar prejudicada, relacionando a interação dessas crianças e adolescentes com outras, principalmente ao brincar. No 11º capítulo, a Profa. Kuczynski, a Dra. Kette Valente e a neurologista Maria Souza discutem QV nas epilepsias da infância e demonstram que, com base em alguns estudos, é possível concluir que crianças e adolescentes com epilepsia têm sua QV muito prejudicada.

O capítulo seguinte, "Qualidade de vida e paralisia cerebral", é assinado pelos Drs. Carlos Silva e Nívea Morales. Os resultados dos estudos focados nesse tema merecem atenção especial e, conforme os diversos níveis de comprometimento motor, é possível obter mais esclarecimento com a utilização de instrumentos específicos de avaliação da QV. No capítulo 13, intitulado "Qualidade de vida e quadros degenerativos neuromusculares", a Dra. María Valdés e os fisioterapeutas Ms. Maria Bezerra e Egmar de Melo apresentam o estudo realizado com portadores de distrofia muscular de Duchenne e seus cuidadores.

Ainda com a assinatura das Dras. María Valdés e Mirna Frota e da psicomotricista Ms. Julliene Soares, o capítulo 14 aborda a temática da QV e deficiência intelectual, com uma breve explanação sobre a definição de deficiência intelectual e uma discussão relacionando o tema com QV. No 15º capítulo, o Prof. Assumpção Jr., juntamente com a psicóloga Ms. Alexsandra Elias, dedica-se ao tema "Qualidade de vida e autismo: um olhar além da síndrome", onde também é apresentado um estudo cujos resultados permitiram concluir, entre outras coisas, que as crianças autistas, quando avaliadas sob a perspectiva da percepção pessoal, apresentam índices de QV iguais aos de crianças normais. Ainda na temática do autismo, no capítulo seguinte, com a lavra dos Drs. Carlos Silva e Nívea Morales e da Ms. Mariza Cuvero, é abordado o tema QV em cuidadores de portadores de autismo.

Finalizando a parte 2, os mesmos autores do capítulo 13 (com exceção de Maria Bezerra), juntamente com a psicóloga Milena Bezerra, assinam o 17º capítulo do livro, que trata da QV no transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), contando com a descrição de um estudo de abordagem quantitativa e qualitativa que utilizou o instrumento Autoquestionnaire Qualité de Vie Enfant Imagé (AUQEI).

A parte 3, intitulada "Propostas de intervenção em qualidade de vida", apresenta uma grande contribuição, distribuída em quatro capítulos, com descrições de estratégias de intervenções em QV baseadas em experiências de profissionais qualificados. No capítulo 18, a Dra. Célia Costa discorre sobre o papel da psiquiatria e da psicologia hospitalar na QV na infância e na adolescência, baseando-se na experiência de um hospital oncológico, além de retomar conceitos relacionados à temática da QV. Já no capítulo seguinte, os autores, de forma brilhante, estabelecem uma discussão sobre psiquiatria de ligação e QV em pediatria, com destaque para os aspectos da doença crônica na infância, a psiquiatria de ligação e a interconsulta psiquiátrica.

No penúltimo capítulo, o Dr. Drauzio Viegas e a Profa. Marisa Laranjeira relatam a importância da brinquedoteca terapêutica no âmbito hospitalar, destacando seus objetivos, vantagens e os desafios envolvidos em sua implantação e funcionamento adequado. No último capítulo, os membros do grupo Doutores da Alegria, os atores Wellington Santos Jr. e Soraya Moura, juntamente com a psicóloga Morgana Masetti, relatam experiências da atuação do grupo em hospitais do Brasil e relevam a importância da formação de cada um dos membros, assim como a satisfação da equipe na execução desse trabalho esplêndido.

Embora cada capítulo seja independente, todos têm em comum a temática da QVIA, o que torna a obra extremamente útil para profissionais de saúde mental, pediatras, demais profissionais que trabalham com crianças e adolescentes, assim como estudantes interessados no campo amplo de pesquisa que a temática QV oferece. Finalmente, o livro é atual e fornece diversas referências como opção de consulta para os interessados em aprofundar mais seus conhecimentos acerca dos assuntos abordados.

Não foram declarados conflitos de interesse associados à publicação desta resenha.

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Recebido em 10/03/2010. Aceito em 08/04/2010.

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  • Publication Dates

    • Publication in this collection
      27 Sept 2011
    • Date of issue
      2011
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