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Aves anilhadas no Brasil em 1980 e suas recuperações

Aves anilhadas no Brasil em 1980 e suas recuperações

Paulo de Tarso Zuquim Antas; Susana de Moura Lara-Resende

Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, Departamento de Parques Nacionais e Reservas Equivalentes, Brasília, D.F

A presente nota dá continuidade à série iniciada com a apresentação no I Congresso Ibero-Americano de Ornitologia (Buenos Aires, 1979) do trabalho "Situação Atual do Anilhamento no Brasil" (Antas, 1979). Objetiva-se, com essa segunda nota, apresentar os progressos realizados pelo Centro de Estudos de Migrações de Aves - CEMAVE - na organização do anilhamento no país e sua aplicação durante o ano de 1980.

Conforme o Manual de Anilhamento (Leal, Antas & Lara-Resende, 1981), os dados de recuperação da anilha são de uso restrito do anilhador para fins de publicação em trabalhos científicos, de modo que aqui não são fornecidos maiores detalhes quanto às aves recuperadas. Interessa, para os fins dessa nota, o fato de a anilha ter sido encontrada e relatada ao Centro.

A organização do CEMAVE já foi anteriormente descrita em literatura (Antas, op. cit.). Suas primeiras anilhas, codificadas por letra para o diâmetro interno, e numeradas em séries de 100 anilhas, foram doadas pelo World Wildlife Fund/seção norte-americana, Fish and Wildlife Service dos Estados Unidos e Conselho Internacional para a Preservação das Aves/seção panamericana. Essas anilhas, elaboradas nos Estados Unidos por falta de fabricantes no país, foram distribuídas aos anilhadores portadores de permissão do CEMAVE em meados de abril de 1980 e começaram a ser utilizadas em maio do mesmo ano. Todas elas têm como impresso para devolução "AVISE CEMAVE - C.P. 34, Brasília - DF.". Nos tamanhos de C a G o aviso vem impresso no interior da anilha e nos demais, no exterior. Em qualquer dos casos, o código alfa-numérico é impresso no exterior da anilha.

Listamos na Tabela I as aves anilhadas no Brasil de maio a dezembro de 1980, segundo o relatório dos anilhadores.

O método mais utilizado foi o anilhamento de filhotes em ninhais, responsável por 3.310 aves anilhadas (70,41% do total). É de se destacar o anilhamento pioneiro de Zenaida auriculata (pomba-de-bando), iniciativa levada a efeito através de convênio entre o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) e a Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM) no pombal de Serra Dantas, município de Jaguaruana, CE. Esse anilhamento visa determinar os movimentos dessa ave na região Nordeste e fora dela. A pomba-de-bando vem sendo utilizada há vários anos como recurso natural renovável na região Nordeste (Aguirre, 1976). Entretanto, a sobre-utilização da ave vem causando quedas populacionais sensíveis, se bem que ainda não dimensionadas. Para proteger e conservar a espécie, é necessário conhecer sua biologia e movimentos, o que será possível através de anilhamentos sistemáticos de jovens em diversos ninhais de reprodução na área.

Além da pomba-de-bando, foram anilhados jovens de Plegadis chihi (Caraúna), Nycticorax nycticorax (Savacu) e Egretta thula (Garça-branca-pequena) na Estação Ecológica do Taim, município de Rio Grande, RS, em convênio entre o IBDF e o Núcleo Interdepartamental de Estudos Ecológicos (NIDECO) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (fig. 1).


Também em regime de convênio, dessa vez com a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, foram anilhados jovens de Ardea cocoi (Garça-moura), Casmerodius albus (Garça-branca-grande) e Ajaia ajaja (Colhereiro) no ninhal do Rio Capivari, município de Viamão, RS. Esses e outros locais de anilhamento estão representados no mapa n.º 1.


A outra técnica aplicada para o anilhamento das aves foi o uso de redes de captura de diversos tipos e tamanhos. Em 1980 a maioria dos anilhadores utilizaram essa técnica, sendo ela responsável pela grande diversidade de espécies anilhadas.

Em menor escala foram utilizadas armadilhas de tela de arame modelo proposto por C. C. Olrog e modificado por Flávio Silva (Flávio Silva, com. pess.). Essas armadilhas destinam-se basicamente à captura de marrecas (Anatidae), capturando também outras aves aquáticas.

Já a partir de maio de 1980 o CEMAVE começou a receber relatos de anilhas encontradas, principalmente no Nordeste e estado do Rio Grande do Sul (mapa n.º 1). Listamos na tabela 2, por espécie, as aves anilhadas em 1980 e recuperadas até a presente data.

Diluindo-se o número de aves recuperadas pelo total de aves anilhadas em 1980, temos uma porcentagem de 0,64% de aves encontradas. Embora baixa, essa porcentagem é razoável tendo em vista a pouca tradição do CEMAVE e a pequena divulgação do mesmo no país.

Visando aumentar esse índice de recuperação foi preparado e editado pelo CEMAVE em setembro de 1980, o folheto "Uma anilha devolvida - o que isso representa", distribuído aos recuperadores de anilhas. No folheto estão sintetizadas as informações básicas sobre anilhamento e migrações de aves, além de instruir os recuperadores sobre como proceder ao encontrar uma ave anilhada.

Conforme podemos concluir pelo mapa n.º 1 há uma concentração de recuperação nos locais de maior taxa de anilhamento. Todas as recuperações foram de aves não passeriformes, devido principalmente à atividade de caça legal ou furtiva. Para recuperações de Passeriformes, torna-se necessário ampliar-se o número de anilhadores no país usando redes de captura.

Embora seja impossível avaliar a quantidade de aves com anilhas encontradas e não relatadas ao CEMAVE, torna-se evidente, pelo número de recuperações existentes que há um interesse das pessoas em enviar a anilha ao Centro. Somente com o aumento de indivíduos anilhados e campanhas de divulgação em áreas com maior taxa de recuperação de anilhas será possível avaliar totalmente a resposta do público ao programa.

AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal - IBDF, pela oportunidade de apresentar essa comunicação no IX Congresso Brasileiro de Zoologia. Certamente tal nota não seria possível sem a colaboração dos anilhadores credenciados pelo CEMAVE ao submeterem seus relatórios de anilhamento em dia, bem como aos recuperadores ao remeterem as informações solicitadas pelo Centro. Agradecemos portanto, a todas essas pessoas.

  • Aguirre, A. C., 1976. Distribuição, costumes e extermínio da "Avoante" no Nordeste, Zenaida auriculata noronha Chubb, 35 pp. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro.
  • Antas, P. T. Z., 1979. Present situation of bird banding in Brazil. The Ring 101:96-98.
  • Leal, R. P., P. T. Z. Antas & S. M. Lara-Resende, 1981. Manual de anilhamento de aves, 106 pp. Brasil, Ministério da Agricultura, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, Brasília, D.F.

Fechas de Publicación

  • Publicación en esta colección
    28 Ago 2009
  • Fecha del número
    1982
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