Acessibilidade / Reportar erro

Sakagamilla affabra, gen. n. e sp. n. de Meliponinae (Hymenoptera, Apidae) de Rondônia

Sakagamilla affabra, gen. n. e sp. n. de Meliponinae (Hymenoptera, Apidae) de Rondônia1 1 Contribuição nº 675 do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná. Caixa Postal, 19020, 81504 Curitiba - PR, Brasil

Jesus S. Moure, CMF

Professor Emérito, bolsista do CNPq

ABSTRACT

A new genus and new especies of Meliponinae, Sakagamilla affabra, is described from Rondonia, Northwestern Brazil. This genus belongs in the complex Nannotrigona-Scaptotrigona by the apomorphic characters: notched strong preoccipital carina and deep longitudinal median fovea on the base of scutellum.

By general aspect due to dense minute puntures it remembers, at first sight, a small Scaptotrigona, but the remarkable yellow lateral and discal striae on mesoscutum makes it nearer to Nannotrigona.

Recebi do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA - alguns Meliponinae para estudo e, entre os mesmos, encontrei uma espécie muito interessante de um gênero, até certo ponto, intermédio entre Nannotrigona e Scaptotrigona que torna este complexo mais compacto e que denomino Sakagamilla affabra, em homenagem ao Prof. F. Schoichi Sakagami, da Universidade de Hokkaido, um dos mais laboriosos entomólogos que já estiveram em nosso Departamento, como Professor visitante, e que desenvolveu novas técnicas para o estudo do comportamento dos Meliponinae e, agora, está esclarecendo a sistemática dos grupos representantes deste complexo grupo de Apidae nas Regioes Oriental e Australiana. O aspecto geral de Sakagamilla lembra uma pequena Scaptotrigona ornada de desenhos amarelos no tórax.

SAKAGAMILLA GEN. N.

Espécie-tipo: Sakagamilla affabra sp. n.

Operária: Tegumento pálido-ocráceo, com desenhos amarelos na cabeça, tórax e abdôme: uma estria justa-orbital completa, alargada abaixo dos alvéolos e atingindo o tope do vértice e aí ligeiramente dilatada; uma estria a cada lado do mesoscuto separada do ponto amarelo axilar e duas listras discais incompletas.

A pilosidade no tórax e propódeo rala, como em Scaprotrigona; olhos glabros; área basal do propódeo glabra, fortemente destacada pelo sulco espiracular, microscopicamente reticulada, um pouco canaliculada longitudinalmente; no mesoscuto e escutelo fina e relativamente densa, cobrindo a pontuação, nos flancos do propódeo denso-afeltrada.

Cabeça volumosa, mais larga que longa, um pouco mais larga que o tórax, com distância interorbital superior maior que o comprimento do olho; vértice em vista anterior levemente convexo, um pouco mais elevado entre os ocelos; bordo ocipital com forte carena pós-ocipital, laminada, extendida para baixo após forte chanfro; genas de perfil mais largas que os olhos; lados da sutura epistomal inicialmente divergentes, dirigidos para baixo nas fóveas tentoriais depois em curva côncavo-convexa, seu canto inferior muito afastado da órbita. Distância interalveolar maior que o diâmetro do alvéolo, a área supraclipeal um pouco elevada sobre o plano facial e entrando em beiral sobre o limite do alvéolo; área malar aproximadamente tão longa como o diâmetro do flagelo. Escapo claramente mais curto que a distância entre o alvéolo e a tangente inferior do ocelo lateral; flagelômero basal tão longo como o pedicelo e ligeiramente mais longo que o segundo, este igual ao terceiro e um pouco mais curto que seu diâmetro. Labro simplesmente abaulado; mandíbulas mais estreitadas para o meio, bidentadas, os dentes pequenos e a sinuosidade entre eles moderada e um pouco inclinada. Sulco médio e prescutais do mesoscuto pouco impressos; escutelo parabolóide, um pouco mais longo que a metade de sua largura, sem emarginação apical, com pequena fóvea triangular basal. Asa anterior moderadamente longa, sobrepassando um pouco o ápice do abdôme; pterostigma moderadamente desenvolvido; célula marginal oblongo-lanceolada, pouco aberta no ápice; ângulo submarginal reto; veia M fortemente curvada na anastomose com a 1ª m-cu, terminando pouco além e depois projetada finamente até o bordo distal, bifurcaçao em M e Cu ligeiramente anterior à veia cúbito-anal; hâmulos na asa posterior 6. Tíbia III triangular, a corbicula ocupando os dois terços distais; penicilos, rastelo e cerdas corbiculares fortes; face interna plana, curto-argênteo-pilosa em toda a extensão; sem pelos plumosos ao longo do bordo posterior. Basitarso III mais estreito que a tíbia, naõ inchado, o bordo posterior recurvo aos dois quintos e projetado distalmente em ângulo agudo; face interna uniformemente cerdosa. Abdôme curto e robusto, de seção em setor; o grádulo recurvo do primeiro careniforme; nos pós-tergitos a superfície finamente pontuada, mate, com pilosidade densa, curta, na base do terceiro ao quinto com tomento densamente plumoso.

Este gênero pertence ao complexo Nannotrigona-Scaptotrigona assemelhando-se mais ao segundo pela densa pontuação obscurecida pela fina e curta pilosidade que a recobre, tirando todo o brilho do tegumento não só na cabeça e tórax mas também no dorso dos tergitos. Entretanto chama logo a atenção a presença das estrias amarelas ao longo das órbitas, aos lados e no disco do mesoscuto e axilas no que até certo ponto imita as pequenas Nannotrigona.

Parece-se bastante a Scaptotrigona limae (Brethes, 1920). É bem menor. Tem o clípeo extremamente plano, a fóvea basal do escutelo muito pequena, triangular, curta e lisa, sem trabéculas transversais. Os desenhos amarelos na caça e tórax a afastam do grupo, embora em Nannotrigona se observem as estrias laterais no mesoscuto e o ponto nas axilas. A face, o escutelo, a área basal do propódeo, a pontuação foveolada do tórax e o brilho dos primeiros tergos não permitem qualquer confusão. As sinapomorfias mais evidentes que estreitam entre si as relaçoes entre estes três grupos, são o desenvolvimento da carena preocipital com o fortíssimo chanfro que a interrompe superiormente, e a presença do sulco médio longitudinal basal no escutelo.

SAKAGAMILA AFFABRA SP. N.

Operária: Tamanho: Comprimento total aproximado 4,4 mm; da asa anterior 4,8 mm. Largura da cabeça 2.2 mm; do segundo segmento abdominal 2.0 mm.

Cor do tegumento: pardo-ocrácea muito escura. De um ocráceo-amareio mais vivo: o clípeo, a área supraclipeal, as estrias justa-orbitais ocupando toda a área parocular inferior, prolongadas até o tope do vértice e aí ligeiramente dilatadas para trás; o labro; as mandíbulas, fuscas no bordo apical e negras na base; a face anterior do escapo e inferior do flagelo, com o flagelômero basal mais amarelo; os lobos pronotais; uma estria a cada lado do mesoscuto, alargadas atrás das tégulas, encurtadas antes das axilas; duas estrias discais muito encurtadas anterior e posteriormente; as axilas; grande parte das penas anteriores e médias; grande parte dos fêmures e a base das tibias e os basitarsos exceto a extremidade basal negra; uma mancha vaga a cada lado dos dois primeiros tergos. A sutura epistomal negra; a área malar escurecida. As tégulas pardo-ocrácea-escuras; as asas lavadas de ocráceo claro, fracamente escurecidas para o ápice; as veias e o pterostigma méleos.

Pilosidade muito curta, relativamente densa e deitada, na fronte mais plumosa; formando tomento denso esbranquiçado no metanoto, nos flancos do propodeo e base dos postergitos imediatamente após os grádulos, fracamente no primeiro, quase nula do segundo, bem evidente nos tergos terceiro ao quinto, nestes em forma de faixa estreitada no meio.

Pontuação pilígera muito fina na cabeça, tórax e tergos; um pouco mais grossa e evidente no clípeo e nas áreas paroculares inferiores e na supraclipeal.

O clípeo muito plano, a supraclipeal um pouco elevada; o contorno do vértice fracamente convexo e um pouco elevado entre os ocelos; a face relativamente larga, com a distância introrbital superior um pouco maior que o comprimento do olho; a sutura epistomal aberta até as fóveas tentoriais, aí dirigida para baixo e depois em contra-curva côncavo-convexa nas extremidades laterais e muito afastadas das órbitas. O escapo um pouco curvo no terço distas e bem mais curto que a distância entre o alvéolo e o ocelo lateral correspondente. A fóvea basal do escutelo muito pequena, triangular, lisa, tornando-se cada vez mais superficial para o ápice, entrando apenas um sexto do comprimento do escutelo.

Compr./larg. da cabeça 180:220; do olho 135:43.

Dist. interrorbitais superior, máxima e inferior 145:156:130.

Compr./larg. e distância clipeocelar 60:105:115.

Área malar e distância clipeorbital 18:16.

Dist. interalveolar, alveolorbital, alveolocelar e diâm. alvéolo 22:40:92:20.

Dist. interocelar, ocelorbital e diâm. transversal do ocelo médio 44:36:19.

Compr./diâm. do escapo 80:14. Compr. do pedicelo + flagelo 170.

Compr. dos flagelômeros 1-3 e diâm. do terceiro 15:13:14:15.

Escutelo, comprimento/largura 56:92.

Tíbia II, basitarso (compr./larg.) e compr. dos distitarsos 120:80:35:80.

Tíbia III, compr. (anterior/posterior) e largura distal 160:175:68.

Basitarso III (compr./largura) e compr. dos distitarsos 95:50:80.

Comprimento máximo das cerdas, em micrômetros, no clípeo 30; no labro 140; no escapo 20; no vértice 100; no escutelo 10; marginais e corbiculares da tíbia III 500.

Tipo e localidade-tipo: Holótipo e três parátipos, operárias, de Igarapé Tracoazinho, Reg. Campo Novo, Rondônia-BRASIL, V. Py-Daniel e L. Aquino leg., 5-viii-1985. Um parátipo, operária, do Rio Candeias, Reg. Campo Novo, Rondônia-BRASIL, V. Py-Daniel e L. Aquino leg., 6-viii-1985. Depositados no MZUF-PR, e um parátipo no Museu do INPA.

  • 1
    Contribuição nº 675 do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná. Caixa Postal, 19020, 81504 Curitiba - PR, Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Ago 2009
    • Data do Fascículo
      1989
    Sociedade Brasileira de Zoologia Caixa Postal 19020, 81531-980 Curitiba PR Brasil, Tel./Fax: +55 41 3266-6823, - Curitiba - PR - Brazil
    E-mail: sbz@bio.ufpr.br