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Uma pequena abelha com cabeça e mandíbulas excepcionais (Hymenoptera, Halictidae)

A bee with an exceptional head and mandibles, belonging to the Halictini (Hymenoptera, Halictidae)

Uma pequena abelha com cabeça e mandíbulas excepcionais (Hymenoptera, Halictidae)1 1 Contribuição número 1223 do Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná.

A bee with an exceptional head and mandibles, belonging to the Halictini (Hymenoptera, Halictidae)

Jesus Santiago Moure

Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná. Caixa Postal 19020, 81531-990 Curitiba, Paraná, Brasil. Bolsista do CNPq

ABSTRACT

A new genus and new species - Gnathalictus capitatus - is proposed for a small brassy coloured bee with a very large termitomorphic head, larger than mesosoma, with an enornous yellow mandibles attenuated and twisted distally,armed with a very large preapical tooth before medium on upper lateral border; a vaulted clypeus prolonged medially in a large semicircular projection after the underneath labral articulation and narrowly laterad to the malar areas; genae broadly rectangularly dilatated. Alar venation, legs and metasomal terga and sterna normal.

Key words:Gnathalictus capitatus, new genus and species, Neotropical Halictini

Recebi da Profa. Rosina Miyasaky, da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, um macho de Halictini de aspecto extremamente especializado, principalmente pela conformação da enorme cabeça termitiforme e desenvolvimento incomum das mandíbulas, a que dou o nome de Gnathalictus capitatus. Como o local decaptura não fica muito distante de Cuiabá e a vegetação é bastante uniforme nessa área, é possível que ocorra até mesmo no campus da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá. Seu posicionamento exato fica na dependência da descoberta da fêmea.

Abreviaturas usadas: (dp) diâmetro de ponto, (T) tergo; (E) esterno; os números colocados entre parênteses correspondem a centésimos de milímetro.

Gnathalictus gen. n.

Espécie tipo: Gnathalictus capitatus.

Palpos labiais com os dois primeiros segmentos semelhantes aos distais, mais curtos e um pouco mais grossos; sem pente estipital; a língua em ponta, sem flabelo. Olhos subparelos, glabros; alvéolos antenais afastados do clípeo por cerca de um diâmetro, com apenas uma sutura subantenal até a epistomal, levemente divergentes para cima; flagelo subcilíndrico com o flagelômero basal bem mais curto que o escapo. Venação normal sem adelgaçamento das veias limitantes 20m-cu e 10 e 20 r-m; com três células submarginais; ápice da célula marginal em ponta; estigma bem desenvolvido; esporões tibiais microciliados, curvados apicalmente. Tergos com depressões marginais fracas, sem faixas pilosas; T6 sem placa pigidial; esternos normais, sem recortes, o E6 levemente deprimido no meio. Mandíbulas enormes, com fortíssimo dente preapical, quando entrecruzadas em repouso sobressaindo ao contorno facial.

Etimologia. = mandíbula, e Halictus, gênero nominal dos Halicitini.

Gnathalictus capitatus sp. n.

Figs 1-2


Macho. Comprimento total aproximado 6,5 mm, da asa anterior 9,5 mm; largura máxima da cabeça 1,95 mm e do T2 = 1,5 mm.

De um colorido bronzeado-metálico brilhante; negros os dois terços apicais do clípeo e uma grande mancha nos cantos inferiores da área parocular sem entrar nos lados do clípeo, truncada obliquamente em direção ao terço inferior da órbita; escapo e pedicelo pretos, flagelo pardo ventralmente e mais escuro dorsal mente; genas com manchas mais para o ferrugíneo-claro, pouco definidas, sobre a cor bronzeada; mandíbulas amarelas na face externa com a parte apical pardacenta. Tégulas amarelento-translúcidas, brilhantes; asas hialino-irisadas com a venação normal, pardo-escura, o estigma mais para o pardo-ocráceo. Pernas pardo-ferrugíneas, o ferrugíneo mais claro nas artículações, os tarsos ocráceo-amarelentos. Propódeo e tergos bronzeado-metálicos, os estemos menos marcadamente.

Pilosidade escassa na maior parte da cabeça, muito curta; um pouco mais desenvolvida e curto-plumosa nas paroculares inferiores; quase nula no clípeo e aos lados até abaixo das órbitas, quase imperceptível na fronte (algumas cerdas mais longas até 150m na fronte); bastante mais escassa e curtíssima até quase nula nas genas e no hipóstoma; curta e curvada para baixo no vértice, com algumas cerdas eretas até 100 µ. Esbranquiçada e mais desenvolvida no tórax especialmente nos mesepisternos onde é mais plumosa, quase nula nos dois terços discais do mesoscuto e em todo o disco do escutelo. Nas pernas pálida. No propódeo a plumosidade branca dos pêlos mais evidente, estes mais longos atrás dos espiráculos até a articulação com o metasoma; branca e moderadamente longa nos lados dos tergos com a parte discal glabra; nos últimos tergos alguns pêlos plumosos chegam a 300 µ; nos esternos mais desenvolvida para o meio, para a base quase inteiramente glabros.

Pontuação relativamente fina, os pontos maiores um pouco deprimidos ou afundados, com um diâmetro de cerca de 20 µ na cabeça e no tórax. No clípeo os maiores mais concentrados no disco anterior (os intervalos próximos ao disco lisos com cerca de 2 a 3 dp); pouquíssimos nas projeções laterais inferiores; na supraclipeal mais esparsos para o meio; na fronte bastante esparsa no meio (cerca de 3 a 5 dp); ao longo do meio, cerca de 300 µ abaixo do ocelo médio, um ponto forte aprofundado seguido 120 µ abaixo por uma micro-carena frontal; a pontuação mais densa e mais forte, pilígera, nas áreas paroculares inferiores; para o meio da fronte mais esparsa, mais densa aos lados do ocelo médio até acima dos alvéolos antenais, bastante mais esparsa entre os alvéolos e as órbitas, nessa área descendo obliquamente para as órbitas; acima dos ocelos inicialmente quase nula, progressivamente mais densa para cima no alto vértice e na porção acima das órbitas, esparsa e mais grossa, pilígera; no vértice os intervalos lisos 3 a 4 dp, aos lados em direção aos ocelos mais densa; nas genas moderadamente grossa, mais densa (1-2 dp). No pronoto com rúgulas finas superficiais, transversas; no disco do mesoscuto com pontos grossos como os da cabeça, muito esparsos (3 a 5 dp), com alguns pontos menores intercalados, todos curto-pilígeros, bastante mais densa entre as parápsides e os lados (1 a 1,5 dp) deixando uma área longitudinal mais lisa entre a pontuação discal e a próxima às parápsides; o escutelo largamente liso no disco, aos lados do meio com pontos finos e alguns mais grossos para a frente, para trás e para os lados; no metanoto muito fina e maia densa; nos mesepisternos grossa, pilígera e moderadamente densa (2 a 3 dp). Quase nula na área basal do propódeo, com algumas carenas muito curtas na extremidade basal acompanhando a sutura metanotal; nos flancos do propódeo bastante densa na porção anterior, um pouco áspera, para trás muitíssimo esparsa e com micro-rúgulas; na face posterior os pontos um pouco mais frequentes; nos tergos pilígera, muito mais fina para a base, deixando a depressão marginal largamente lisa.

Cabeça muito grande, subquadrada (comprimento 230, largura 195); olhos de tamanho moderado (110:52), um pouco mais largos e fracamente divergentes para baixo (interorbitais 130:140); clípeo com longa projeção média, abobadada, em semicirculo, sutura epistomal visível acima das fóveas tentoriais depois dirigida invisível para os lados e aparecendo novamente entre as óbitas e a base das mandíbulas em forma de arco (a pilosidade das áreas paroculares não entrando nos lados estreitos do clípeo) entre essas suturas em arco os braços laterais do clípeo muito estreitos e a largura total inferior do clípeo atingindo 180 centésimos de mm; área malar (16) moderadamente desenvolvida. Mandíbulas enormes (180), cruzadas, sobressaindo ao controno facial e com um grande dente pré-apical servindo de apoio quando entrecruzadas, esse dente um pouco mais próximo da base do que da ponta da mandíbula (cerca de 80:100), a ponta atenuada e distalmente um pouco virada para fora obliquamente; labro translúcido, articulado por baixo antes da projeção média apical. Língua relativamente curta, cerca de um terço do comprimento do estípite (50:150); palpos labiais bastante pequenos, os dois basais mais grossos e mais curtos, os maxilares mais robustos (no exemplar tipo com os últimos artículos quebrados); genas, com a cabeça de perfil, formando um ângulo quase reto, com o vértice arredondado. Mesosoma como um todo, menor que a cabeça (cabeça 230:195 e o tórax incluindo o propódeo até a articulação como metasoma 200:180); pronoto estreito, um pouco deprimido no meio, os cantos umerais quase em ângulo reto de vértice pouco saliente, os lados alargando obliquamente para trás em linha levemente incurva, a superfície lisa e brilhante; o bordo anterior do mesoscuto em arco fracamente bilobado, sem cobrir o pronoto, o sulco médio deprimido, fino (40), os notaulos obsoletos, os sulcos parapsidais bem marcados (25); comprimento e largura do mesoscuto (90:115); escutelo muito suavemente abaulado, acompanhando o mesoscuto, um pouco mais longo que a metade da largura (70:40); axilas pouco destacadas; metanoto (comprimento 18) no plano do escutelo; os mesepisternos com o sulco pré-epistemal até em baixo, e o sulco escrobal bem marcado. Tégulas (35:28) translúcidas e brilhantes; asas hialino-irisadas (comprimento e largura 950:140); estigma (60:16) alargado até a origem do Rs e em arco na base da célula marginal; esta um pouco mais longa que duas vezes sua largura (95:44) com o ápice arredondado; comprimento das três células submarginais ao longo de M = 50:20:30, a segunda recebendo o 11m-cu a um décimo do ápice, e a terceira o 21 m-cu a um terço do ápice; a venação da 30 submarginal não enfraquecida; a célula média curtam ente pedunculada. Trocanteres anteriores pouco mais curtos que os fêmures (70:80); tíbia posterior um pouco mais curta que duas vezes o basitarso (120:70), os esporões micropectinados, curvos no terço apical, principalmente o esporão das tíbias médias; unhas bífidas, com as pontas agudas; arólios bem desenvolvidos. Propódeo com a área basal menos de duas vezes o comprimento do metanoto, em declive bastante convexo para a face posterior, com curtíssimas carenas espaçadas na extremidade basal (mais curtas que a metade do comprimento do metanoto), os intervalos suavemente micro-areolados, para os cantos posteriores e para trás mais lisa; os flancos normais, densamente pontuados e com pêlos curtamente plumosos, posteriormente os pontos mais grossos e bem mais esparsos (3-4dp), o sulco médio fino e deprimido; T1 em abóbada suavemente convexa, com a depressão basal curta e sem vestígios do grádulo pré-marginal, um pouco mais longo que T2; neste e nos seguintes as depressões marginais pouco marcadas; T7 curto, com o bordo posterior carenado, em árco rebaixado ("sarapanel"); os seis esternos normais sem recortes ou depressões, E2-3 com a margem reta e quase sem depressão marginal, E4 com a margem fracamente incurva; em E5 mais pronunciadamente, inteira, e o disco um pouco deprimido ao longo do meio e com uma franja apical fraca; o E6 bem desenvolvido, grande, plano e de bordo recurvo.

Holótipo macho. BRASIL, Mato Grosso: Nossa Senhora do Livramento, ("Baia dos Couveiros", aproximadamente 40 km a sudoeste de Cuiabá na estrada MT60 para Poconé, alt, 171 m); 28-IX-1988, Marinêz I. Marques leg. Depositado na Coleção de Entomologia Pe. J.S. Moure, Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná (DZUP).

AGRADECIMENTOS. Sou particularmente grato à Profa. Rosina Miyasaky, da Universidade Federal de Mato Grosso, pelo privilégio de descrever esta interessante espécie de Halictidae. Ao Prof. Albino Morimasa Sakakibara pelas fotos. À Profa. Danúncia Urban pela leitura crítica do manuscrito.

Recebido em 17.VIII.2000; aceito em 24.V.2001.

  • 1
    Contribuição número 1223 do Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Maio 2009
    • Data do Fascículo
      Jun 2001
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