Acessibilidade / Reportar erro

Primeiro registro de Myiarchus tuberculifer (Lafresnaye & d'Orbigny) (Aves, Tyrannidae) para o Estado de Pernambuco, Brasil

Documented records of Myiarchus tuberculifer (d'Orbigny & Lafresnaye) (Aves, Tyrannidae) from Pernambuco State, Brazil

Resumos

No Brasil existem 210 species of Tyrannidae, incluindo quatro espécies do gênero Myiarchus Cabanis, 1844: M. tyrannulus (Müller, 1776), M. ferox (Gmelin, 1789), M. swainsoni Cabanis & Heine, 1859 e M. tuberculifer. A última espécie é reportada nesta pesquisa como o primeiro registro para o Estado de Pernambuco, em fragmentos de Floresta Atlântica (Reserva Estadual de Gurjaú, Cabo de Santo Agostinho e Estação Ecológica do Tapacurá, em São Lourenço da Mata). A identificação da espécie se deu através do registro de vocalizações.

Maria-cavaleira-pequena; Mata Atlântica


There are in Brazil 210 species of Tyrannidae, including four species of the genus Myiarchus Cabanis, 1844: M. tyrannulus (Müller, 1776), M. ferox (Gmelin, 1789), M. swainsoni Cabanis & Heine, 1859 and M. tuberculifer. This last species is for first time reported from Pernambuco State, in fragments of Atlantic forest (Reserve State of Gurjaú, Santo Agostinho Cape and Ecological Station of Tapacurá, in São Lourenço da Mata). The species identification was based on voices records.

Atlantic Forest; dusky-capped flycatcher


COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Primeiro registro de Myiarchus tuberculifer (Lafresnaye & d'Orbigny) (Aves, Tyrannidae) para o Estado de Pernambuco, Brasil

Documented records of Myiarchus tuberculifer (d'Orbigny & Lafresnaye) (Aves, Tyrannidae) from Pernambuco State, Brazil

Rachel M. de Lyra-NevesI; Wallace R. Telino-JúniorII; Manoel M. DiasIII; Severino M. de Azevedo JúniorI

IDepartamento de Biologia, Área de Zoologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Avenida Dom Manuel de Medeiros, Dois Irmãos, 52171-900 Recife, Pernambuco, Brasil. E-mail: rmlneves@msn.com, smaj@ufrpe.br

IIPNUD/IBAMA/CEMAVE. Rodovia BR 230, Km 10, Mata da Amem, 58300-000 Cabedelo, Paraíba, Brasil. E-mail: telinojr@msn.com

IIIDepartamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos. Caixa Postal 676,13565-905 São Carlos, São Paulo, Brasil

RESUMO

No Brasil existem 210 species of Tyrannidae, incluindo quatro espécies do gênero Myiarchus Cabanis, 1844: M. tyrannulus (Müller, 1776), M. ferox (Gmelin, 1789), M. swainsoni Cabanis & Heine, 1859 e M. tuberculifer. A última espécie é reportada nesta pesquisa como o primeiro registro para o Estado de Pernambuco, em fragmentos de Floresta Atlântica (Reserva Estadual de Gurjaú, Cabo de Santo Agostinho e Estação Ecológica do Tapacurá, em São Lourenço da Mata). A identificação da espécie se deu através do registro de vocalizações.

Palavras chave: Maria-cavaleira-pequena, Mata Atlântica.

ABSTRACT

There are in Brazil 210 species of Tyrannidae, including four species of the genus Myiarchus Cabanis, 1844: M. tyrannulus (Müller, 1776), M. ferox (Gmelin, 1789), M. swainsoni Cabanis & Heine, 1859 and M. tuberculifer. This last species is for first time reported from Pernambuco State, in fragments of Atlantic forest (Reserve State of Gurjaú, Santo Agostinho Cape and Ecological Station of Tapacurá, in São Lourenço da Mata). The species identification was based on voices records.

Key words: Atlantic Forest, dusky-capped flycatcher.

Os Tyrannidae estão entre os grupos mais diversificados de aves do mundo e são, no Brasil, os pássaros que mais se vêem e se ouvem (SICK 1997). Ocorrem em nossa fauna 210 espécies de Tyrannidae, entre as quais quatro espécies do gênero Myiarchus Cabanis, 1844: M. tyrannulus (Müller, 1776), M. ferox (Gmelin, 1789), M. swainsoni Cabanis & Heine, 1859 e M. tuberculifer (Lafresnaye & d'Orbigny, 1837), segundo RIDGELY & TUDOR (1994) e SICK (1997). Estes autores, além de LANYON (1978), referiram-se à dificuldade de identificação das espécies de Myiarchus com base em caracteres morfológicos.

O registro mais recente de M. tuberculifer próximo a Pernambuco é o de SILVEIRA et al. (2003) para a Usina Cachoeira, na mata do Bamburral II, Alagoas (9º26'S e 35º41'W).

De acordo com FARIAS et al. (2000), os levantamentos avifaunísticos para o Estado de Pernambuco iniciaram-se a partir de 1881 com o anatomista britânico W.H. Forbes, que listou 116 espécies. Posteriormente, vários pesquisadores contribuíram para o crescimento dessa listagem; entre eles, nomes importantes na história da Ornitologia brasileira, como: Olivério Pinto e Herbert Berla.

A partir de 1978 iniciaram-se trabalhos de marcação com anéis metálicos, na Estação Ecológica do Tapacurá, pelo pesquisador Thomas Gula e posteriormente por Arthur Galileu de M. Coelho e Severino M. de AZEVEDO-JÚNIOR. Entretanto, apesar dessa amostragem ser de grande representatividade para o subosque, não retratam as espécies existentes de uma forma geral, principalmente aquelas de difícil identificação, as quais são melhor detectadas por suas vocalizações.

LANYON (1978, 1985) realizou importante estudo taxonômico e filogenético sobre o gênero Myiarchus, com base em vozes e dados biométricos, o que facilita a identificação destas espécies no campo.

Myiarchus tuberculifer é reconhecível pelo tamanho reduzido (16-17cm) e píleo anegrado; ocorre no Brasil amazônico, na porção oriental de Alagoas e do sudeste da Bahia ao Rio de Janeiro (DUNNING 1987, RIDGELY & TUDOR 1994, SICK 1997, SILVEIRA et al. 2003). Para Pernambuco constavam três espécies de Myiarchus: M. tyrannulus, M. ferox e M. swainsoni, segundo FARIAS et al. (2000).

Os trabalhos de campo foram desenvolvidos em duas áreas de Mata Atlântica: Estação Ecológica do Tapacurá (ESEC) e Reserva Estadual de Gurjaú (RESG) (Fig. 1).


A ESEC Tapacurá (08º03'S e 35º13' W) está localizada no município de São Lourenço da Mata e é administrada pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Possui 382 hectares sendo: Mata do Camocim (282 ha) e Mata do Toró (100 ha). Esses fragmentos são separados pelo açude de Tapacurá e estão ilhados pela cana-de-açúcar (AZEVEDO JÚNIOR 1990).

A Reserva Estadual de Gurjaú (8º14'22"S e 35º03'00"W), com 1.077,10 ha, localiza-se nos municípios do Cabo de Santo Agostinho, Jaboatão dos Guararapes e Moreno. Insere-se em uma única propriedade, a qual pertence à Companhia de Abastecimento de Água e Esgoto do Estado de Pernambuco (COMPESA), onde existe uma Estação de Tratamento de Água (ETA Gurjaú). No interior da Reserva encontram-se três açudes (Gurjaú, Sucupema e São Salvador). De acordo com o Diagnóstico das Reservas Ecológicas da Região Metropolitana do Recife (2001) os fragmentos do Sistema Gurjaú encontram-se em bom estado de conservação. Entretanto, devido à exploração canavieira e ao uso indiscriminado por posseiros (plantação de hortas e bananais), essa área está sob forte pressão antrópica.

Os levantamentos foram realizados entre setembro de 2001 e fevereiro de 2003 na ESEC Tapacurá, compreendendo 10 dias mensais, dos quais cinco destinados ao inventário da Mata do Camocim e cinco à Mata do Toró. Para a Reserva de Gurjaú o período de pesquisa foi de agosto de 2002 a abril de 2003, compreendendo seis dias de amostragem.

A identificação e confirmação foram realizadas por meio da vocalização gravada e comparada àquela de VIELLIARD (1995), sendo, também, confirmada pelo ornitólogo Bret M. Whitney. A vocalização, analisada por meio do programa Cool Edit 2000, é uma série de assobios ligeiramente modulados, cada um com duração de c. 0,9 segs e freqüência média de c. 2.500 Hz (Fig. 2). A gravação será depositada no Arquivo Sonoro Elias Coelho, na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Myiarchus tuberculifer foi registrado na Estação Ecológica do Tapacurá, durante 18 meses de pesquisa e na Reserva Estadual de Gurjaú, nos nove meses em que se realizou o levantamento da avifauna local, com constância de 100% nas duas áreas.

A semelhança entre as espécies do gênero Myiarchus (SICK 1997) e a falta de levantamentos utilizando as vocalizações, provavelmente justificam a ausência de registros anteriores de M. tuberculifer não só para o Estado de Pernambuco, como também, para outros estados do nordeste, em que esta espécie não foi ainda registrada.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Jacques Vielliard e Jeremy Minns pelo auxílio na elaboração e interpretação do sonograma de M. tuberculifer, a Bret Whitney pela confirmação da identificação e a José Fernando Pacheco pelas valiosas sugestões dadas a este manuscrito.

Recebido em 01.X.2003; aceito em 27.V.2004

  • AZEVEDO-JÚNIOR, S.M. de. 1990. A Estação Ecológica do Tapacurá e suas aves. Anais do Encontro Nacional de Anilhadores de Aves, Recife, 4: 92-99.
  • DUNNING, J.S. 1987. South American birds. Pennsylvania, Harrowood Books, 364p.
  • FARIAS, G.B.; G.L. PACHECO & M.T. DE BRITO. 2002. Aves de Pernambuco e seus nomes populares. Recife, Editora Universidade Federal de Pernambuco, 55p.
  • LANYON, W.E. 1978. Revision of the Myiarchus flycatchers of South America. Bulletin of American Museum of Natural History, New York, 161 (4): 427-628.
  • _______. 1985. A phylogeny of the myiarchine flycatchers, p. 388-402. In: P.A. BUCKLEY; M.S. FOSTER; E.S. MORTON; R.S. RIDGLEY & F.G. BUCKLEY (Eds). Neotropical ornithology. Washington, D.C., American Ornithologists Union, Ornithological Monographs, XII+1041p.
  • RIDGELY, R. S. & G. TUDOR. 1994. The birds of South American: the suboscines passerines. Austin, University of Texas Press, II+814p.
  • SICK, H. 1997. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 912p.
  • SILVEIRA, L.F.; F. OLMOS & A. LONG. 2003. Birds in Atlantic Forest Fragments in northeastern, Brazil. Cotinga, Bedfordshire, 20: 32-46.
  • VIELLIARD, J.M.E. 1995. Guia sonoro das aves do Brasil. Manaus, Sonopress, 1 Compact Disc.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Ago 2004
    • Data do Fascículo
      Jun 2004

    Histórico

    • Aceito
      27 Maio 2004
    • Recebido
      01 Out 2003
    Sociedade Brasileira de Zoologia Caixa Postal 19020, 81531-980 Curitiba PR Brasil, Tel./Fax: +55 41 3266-6823, - Curitiba - PR - Brazil
    E-mail: sbz@bio.ufpr.br