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Ocorrência de Chiroderma doriae Thomas (Chiroptera, Phyllostomidae) no Estado de Sergipe, Brasil

Occurence of Chiroderma doriae Thomas, (Chiroptera, Phyllostomidae) in Sergipe State, Brazil

Resumos

O registro de Chiroderma doriae Thomas, 1891 no nordeste do Brasil é aqui relatado baseado em um espécime macho adulto coletado durante inventário da quirópterofauna da Estação Ecológica Serra de Itabaiana, Estado de Sergipe.

Distribuição; morcego; Mata Atlântica


The occurrence of Chiroderma doriae Thomas, 1891 in northeastern Brazil is reported here based on an adult male caught in mist net during a chiropteran survey at the Estação Ecológica Serra da Itabaiana, a fragment of Atlantic Forest in State of Sergipe.

Bat; distribution; Mata Atlântica


COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Ocorrência de Chiroderma doriae Thomas (Chiroptera, Phyllostomidae) no Estado de Sergipe, Brasil

Occurence of Chiroderma doriae Thomas, (Chiroptera, Phyllostomidae) in Sergipe State, Brazil

Jefferson S. MikalauskasI; Ricardo MoratelliII; Adriano L. PeracchiI

ILaboratório de Mastozoologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 23890-000 Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: jsimanas@hotmail.com; aperacchi@webdigital.com.br

IIDepartamento de Vertebrados, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. 20940-040 Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: rimoratelli@yahoo.com

RESUMO

O registro de Chiroderma doriae Thomas, 1891 no nordeste do Brasil é aqui relatado baseado em um espécime macho adulto coletado durante inventário da quirópterofauna da Estação Ecológica Serra de Itabaiana, Estado de Sergipe.

Palavras chave: Distribuição; morcego; Mata Atlântica.

ABSTRACT

The occurrence of Chiroderma doriae Thomas, 1891 in northeastern Brazil is reported here based on an adult male caught in mist net during a chiropteran survey at the Estação Ecológica Serra da Itabaiana, a fragment of Atlantic Forest in State of Sergipe.

Key words: Bat; distribution; Mata Atlântica.

O gênero Chiroderma Thomas, 1891 distribui-se pelas Américas Central e do Sul, ocorrendo desdo México até o sul do Brasil e Paraguai (KOOPMAN 1994, LÓPEZ-GONZÁLEZ et al. 1998), sendo reconhecidas, atualmente, cinco espécies: C. doriae Thomas, 1891, C. improvisum Baker & Genoways, 1986, C. salvini Dobson, 1978, C. trinitatum Oodwin, 1958 e C. villosum Peters, 1860. Para o Brasil, estão registradas C. villosum, amplamente distribuída, C. trinitatum, restrita à Amazônia (REIS & PERACCHI 1987, TADDEI et al. 1990, NOGUEIRA et al. 1999) e C. doriae, no sudeste e escassamente registrada no sul e centro-oeste (TADDEI 1979, COIMBRA et al.1982, KOOPMAN 1994, GREGORIN 1998).

Durante levantamento da quiropterofauna na Estação Ecológica Serra de Itabaiana, (10º40'S, 37º25'W), localizada entre os municípios de Areia Branca e Itabaiana, Estado de Sergipe, Brasil, um macho adulto de C. doriae foi coletado. Esse espécime foi capturado em 23 de janeiro de 2004 às 21:00 h, em rede de espera armada ao nível do solo em área de terreno arenoso recoberto por vegetação rasteira diversificada, incluindo gramíneas, ciperáceas e cactáceas. A Serra de Itabaiana é uma área fortemente antropizada, entre o litoral de Sergipe e a Caatinga da Bahia. A área possui cota altimétrica variando entre 200 e 670 m de altitude (AB'SABER 1967, VICENTE et al.1997). Manchas de " areias-brancas" (que deram nome à região) e relevo de morros em forma de " meia laranja" , caracterizam a região que se encaixa nos domínios morfoclimáticos da Mata Atlântica (AB'SABER 1967, VICENTE et al. 1997). A noroeste, em direção a cidade de Carira, a vegetação é de " agreste" até a Bahia, onde a Caatinga assume as características climáticas e fisionômicas principais. Atualmente, em função da exploração de madeiras, criação de áreas para plantações e incêndios, a área da Serra está reduzida a 10% de sua cobertura original, restando um mosaico de vegetação desestruturada, constituída por capoeiras e áreas antropicamente abertas (VICENTE et al. 1997). O exemplar foi coletado em área de " areias-brancas" , com altitude entre 200-300 m acima do nível do mar.

De acordo com TADDEI (1979) e KOOPMAN (1994), C. doriae distingue-se das demais espécies do gênero pelo seu tamanho relativamente grande (comprimento total do corpo variando entre 69 e 78 mm, comprimento do antebraço entre 49 e 56 mm e comprimento côndilo-basal entre 25 e 27 mm), primeiro pré-molar inferior com cúspide anterior bem desenvolvida, incisivos superiores internos finos e aguçados, em contato, exceto nas extremidades, orelhas curtas e arredondadas, marginadas de amarelo, listras faciais supra e infra-orbitais proeminentes e constituías por pêlos totalmente brancos e listra mediana dorsal constituída pelas extremidades brancas dos pêlos e disposta da região interescapular até a porção distal do dorso. Chiroderma villosum apresenta menores dimensões (comprimento total do corpo entre 66 e 72 mm, comprimento do antebraço entre 42 e 51 mm e comprimento côndilo-basal entre 22 e 24 mm), incisivos superiores internos pontudos, não em contato e paralelos e faixas dorsal e faciais pouco desenvolvidas (KOOPMAN 1994).

O espécime coletado na Serra da Itabaiana apresenta as seguintes medidas: comprimento total do corpo (Ct) 72,2; comprimento do antebraço (An) 50,2; comprimento total do crânio (Ctc) 27,40; comprimento côndilo-incisivo (Ci) 25,82; comprimento basal (B) 23,69; comprimento côndilo-canino (Cc) 24,98; comprimento da série de dentes superiores (M-C) 9,66; comprimento da série de dentes inferiores (m-c) 10,80; comprimento da mandíbula (Cm) 18,96; largura pós-orbitária (Lpo) 5,94; largura zigomática (Lz) 17,06; largura dos caninos (Lc) 5,84; largura dos molares (Lm) 12,72; largura da caixa craniana (Lcx) 11,62 e largura mastóidea (Lmt) 13,26.

Ao comparar essas medidas com aquelas disponibilizadas por TADDEI (1979), verifica-se que o espécime de Sergipe encontra-se abaixo da média e dos limites mínimos de variação em seis medidas (M-C, m-c, Cm, Lz, Lc e Lmt), abaixo da média e dentro dos limites de variação em sete medidas (Ct, An, Ctc, Cc, Lp, Lm e Lcx) e acima da média e dentro dos limites de variação em uma medida (B).

Baseados na sua área de distribuição restrita e ocorrência em habitats que vêm sofrendo severa pressão antrópica, diversos autores classificaram C. doriae como vulnerável à extinção (AGUIAR & TADDEI 1995, AGUIAR & PEDRO 1998, BERGALLO et al. 2000). O registro de C. doriae em Sergipe é a primeira ocorrência confirmada da espécie para o Estado. SOUZA et al. (2004) ao discorrerem sobre os mamíferos dos Brejos de Altitude da Paraíba e Pernambuco, assinalam, pela primeira vez, a ocorrência de C. doriae no nordeste brasileiro, ao referirem a material colecionado na floresta atlântica da Paraíba e Pernambuco e depositado nas coleções da Universidade Federal da Paraíba e Universidade Federal de Pernambuco.

Esse espécime encontra-se depositado em meio líquido na Coleção Mastozoológica Adriano Lúcio Peracchi, do Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (ALP 6445).

AGRADECIMENTOS

À administração do IBAMA da Serra de Itabaiana; à Chefia do Departamento de Biologia, UFS; a S.F. Gouveia, P.A. da Rocha, M.P.F. Vasconcelos e V.V. Silveira, C.M. de Carvalho e M.R. Nogueira. ã CAPES e CNPq pela concessão de bolsas para J.S. Mikalauskas e A.L. Peracchi (300265/80-8) respectivamente.

Recebido em 26.VIII.2005; aceito em 27.VI.2006.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Out 2006
  • Data do Fascículo
    Set 2006

Histórico

  • Recebido
    26 Ago 2005
  • Aceito
    27 Jun 2006
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