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Periódicos lançados por editoras: o caso do Boletim de Ariel (1931-1939)

Periodicals released by publishers: the example of Boletim de Ariel (1931-1939)

Resumo

O artigo tem por objetivo analisar as práticas adotadas por editores para ampliar o circuito de difusão de livros, o que tanto poderia incluir a presença direta no varejo, por meio de livrarias, quanto a fundação de revistas. Utiliza-se o exemplo do Boletim de Ariel (1931-1939) para evidenciar a importância desse tipo de publicação, ainda pouco explorada pela historiografia, para a compreensão das tensões que atravessavam o mundo intelectual do período.

Palavras-chave:
Editores; livrarias; revistas; Boletim de Ariel

Abstract

The aim of this article is to analyze the practices adopted by publishers to broaden the circuit of diffusion of books, which could include the direct presence in the retail through bookstores as the foundation of magazines. The example of Boletim de Ariel (1931-1939) is useful to highlight the importance of this kind of publication, still little explored by the historiography, for the understanding of the tensions that crossed the intellectual world of the period.

Keywords:
Publishers; bookstores; magazines; Boletim de Ariel

O estudo do complexo mundo da edição de livros e periódicos tem evidenciado a importância dos editores e de seus catálogos, das livrarias e das redações, agregadoras de indivíduos que partilhavam projetos estéticos, políticos e proposta sobre o presente e o futuro. Veja-se a evocação de Machado de Assis a respeito do livreiro e editor Baptiste Louis Garnier, por ocasião de sua morte em 1893: “A livraria [Garnier] era um ponto de conversação e de encontro”, para logo emendar a respeito das tertúlias com José de Alencar: “ali travamos as nossas relações literárias. Sentados os dois, em frente à rua, quantas vezes tratamos daqueles negócios de arte e poesia, de estilo e imaginação que valem todas as canseiras deste mundo. Muitos outros iam ao mesmo ponto de palestra” (ASSIS, 1996ASSIS, Machado de. A Semana. Crônicas (1892-1893). Edição, introdução e notas de John Gledson. São Paulo: Hucitec, 1996. , p. 311-312).1 1 Para a trajetória da Garnier no Brasil, assim como para as demais editoras citadas, consultar o trabalho seminal de Hallewell (2005).

Quase meio século depois, em 1942, foi a vez de Graciliano Ramos discorrer sobre a José Olympio, que então completava oito anos de atividade no Rio de Janeiro:2 2 Sobre a trajetória pessoal de José Olympio e sua atuação no mercado livreiro e editorial, consultar: PEREIRA (2008), SOARES (2006), SORÁ (2010) e VILLAÇA (2001).

Move-se diariamente em redor daquelas mesas boa parte da literatura nacional. Fervilham as discussões, enchem a casa, às vezes se prolongam até que se fecha a porta. Das duas vitrinas da entrada aos bancos que se encostam às estantes que há no fundo do estabelecimento, formam-se e desmancham-se os grupos [...].

Há ali crentes e descrentes, homens de todos os partidos, em carne e osso ou impressos nos volumes que se arrumam nas mesas, muitos à esquerda, vários à direita, alguns no centro. O editor é liberal. Se tem simpatia para qualquer extremidade, oculta-a. Aparentemente está no meio: aceita livros de um lado e de outro, acolhe com amizade pessoas de cores diferentes ou sem nenhuma cor. [...] Todas as encrencas econômicas, sociais, políticas, zumbem na livraria do número 110. Aquilo é um mundo. E, para ser mundo completo encerra mulheres, naturalmente: Lúcia Miguel Pereira, Rachel de Queiroz, Adalgisa Néri, duas romancistas e uma poetisa (RAMOS, 1962RAMOS, Graciliano. Linhas tortas. São Paulo: Martins, 1962., p. 124-125).3 3 Texto publicado originalmente em 1942, na brochura Uma data do livro brasileiro, comemorativa do oitavo aniversário de inauguração da livraria, segundo informa Soares (2006, p. 176), que também reproduz o texto de Graciliano Ramos.

Os exemplos aludem à prática largamente dominante de associar as tarefas de livreiro e de editor, o que remete para um dado padrão de estruturação dessa atividade econômica no país, que perdurou desde os seus primórdios no século XIX até período bem avançado da centúria seguinte. Não por acaso, em diferentes cidades do país, encontram-se exemplos semelhantes, caso da Livraria do Globo, sediada na afamada Rua da Praia, em Porto Alegre, e que iniciou suas atividades ainda nos oitocentos como simples papelaria (AMORIM, 1999AMORIM, Sônia Maria de. Em busca de um tempo perdido. Edição de literatura traduzida pela Editora Globo (1930-1950). São Paulo: EDUSP/Com-Arte; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1999.; TORRESINI, 1999TORRESINI, Elisabeth Rochadel. Editora Globo: uma aventura editorial dos anos 30 e 40. São Paulo: EDUSP/Com-Arte; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1999.); da Livraria Central, fundada em 1910, em Florianópolis, responsável por importante ação no campo da produção livreira na ilha (MATOS, 2008MATOS, Felipe. Uma ilha de leitura: notas para uma história de Florianópolis através de suas livrarias, livreiros e livros (1830-1950). Florianópolis: Editora da UFSC, 2008., p. 80-84); da paulistana Martins Fontes, organizada em 1937 para atuar no ramo de importação de livros de luxo e cujos objetivos alteraram-se em 1940, quando a empresa expandiu sua ação para o campo editorial (BRITO, 1967BRITO, Mário da Silva. Breve história de uma editora ou memórias de um amigo do, da e dos Martins. In: Martins 30 anos. São Paulo: Martins, 1967. p. XV-XXXII.); e mesmo da poderosa Companhia Editora Nacional que, após adquirir em 1932 a Civilização Brasileira, sediada no Rio de Janeiro, abriu loja nesta cidade e em Lisboa.4 4 A respeito da trajetória da Companhia Editora Nacional, fundada por Monteiro Lobato e Octalles Marcondes Ferreira em meados da década de 1920, ver: BEDA (1987), KOSHIYAMA (2006), TOLEDO (2001). Sobre a aquisição da Civilização Brasileira, consultar o depoimento de Ênio Silveira (FERREIRA, 2003).

Evidencia-se o trânsito em diferentes sentidos e direções: vendedores de artigos de papelaria, importadores de livros, donos de tipografias tornavam-se, por vezes, editores, enquanto esses instalavam-se no mercado varejista. Cabe lembrar, ainda, o exemplo da Companhia Melhoramentos, conglomerado com múltiplos interesses - reflorestamento, produção de papel, atividades gráficas e editoriais, em sintonia com seu dístico “do pinheiro ao livro” -, que tampouco abriu mão de ter uma livraria, datada dos anos 1920 e rotineiramente visitada por José Mindlin:

É claro que eu não ia apenas aos sebos, e não procurava apenas livros raros. Meu interesse pelo livro de leitura corrente, brasileiro ou estrangeiro também existiu desde cedo, e eu frequentava as livrarias de livros novos, todas localizadas no centro de São Paulo. Na rua Libero Badaró havia várias: a Francisco Alves, onde comecei comprando os livros da Condessa de Ségur, O Robinson Suisso (sic), Coração, de Amicis, e, depois, creio que comprei lá meu primeiro exemplar de Os Sertões; a Livraria Melhoramentos, onde encontrei muitas vezes o Affonso Taunay, que numa delas me dedicou a História das Bandeiras Paulistas (MINDLIN, 2008MINDLIN, José. Uma vida entre livros: reencontros com o tempo. São Paulo: EDUSP/Companhia das Letras, 2008., p. 49).

Para a reconstituição desses espaços conta-se, além dos testemunhos memorialísticos, com as etiquetas utilizadas para identificar o vendedor e que se constituem em documentação preciosa, capaz de informar a respeito das transformações conhecidas pela atividade desde pelo menos 1830,5 5 Sobre a difusão e as transformações da etiqueta de livros no Brasil, consultar o cuidadoso levantamento de Machado (2003), a partir do qual fica patente a não especialização da atividade livreira nos seus primórdios, quando os volumes dividiam espaço com produtos variados – papel, tinta, perfumes, rapé, tecidos. Num outro registro, Carrión (2017) conduz o leitor por livrarias que ele visitou ao redor do mundo e compartilha cartões, apontamentos, fotografias e postais que reuniu ao longo de suas viagens. e também com instantâneos fotográficos, que revelam fachadas bem-cuidadas, nas quais sobressaía o nome da empresa; vitrines charmosas, interiores amplos e bem-iluminados, dominados por estantes que se erguiam até o teto; e mesas tomadas por volumes dispostos de maneira harmoniosa, cujos registros remontam à inauguração da nova loja dos irmãos Laemmert, em 1899, tipógrafos, editores e livreiros estabelecidos no Rio de Janeiro em fins do Primeiro Império, como o estudo de Machado (2012MACHADO, Ubiratan. História das livrarias cariocas. São Paulo: EDUSP, 2012.) sobre os pontos de vendas de livros na capital.

É certo que a legitimação no interior do mundo letrado dependia menos do requinte da loja do que dos nomes reunidos no catálogo e do rol de frequentadores assíduos, mas é digna de nota a disputa travada entre os principais estabelecimentos aglutinados na célebre Rua do Ouvidor. Hippolyte Garnier, instalado no número 71, bem em frente à nova sede da Livraria Universal dos Laemmert, localizada no número 68, respondeu aos concorrentes com a construção de um imponente edifício de quatro andares. Já nas décadas de 1930 e 1940, a rua ganhou novos moradores: em 1934 a Livraria José Olympio Editora, antes com sede em São Paulo, e a Livraria e Editora Guanabara, de Abrahão Koogan e Nathan Waissman; já em 1938 foi a vez da Civilização Brasileira transferir-se para o número 94.

Entretanto, a venda direta por intermédio de livraria própria não era a única forma de ampliar o circuito de difusão dos autores e das obras que os editores colocavam à disposição do público, como atestam os exemplos das revistas, objeto que se intende privilegiar nesse artigo.

Revistas de editoras

O lançamento de periódicos por parte de editores não se constitui em novidade. De fato, suas várias frentes de atuação poderiam incluir, além de negócios no campo da impressão e do comércio varejista, a fundação de revistas. Para ficar em dois exemplos paradigmáticos do Rio de Janeiro do século XIX, veja-se o “tipógrafo, litógrafo, poeta, contista, tradutor, jornalista, letrista” (RAMOS JÚNIOR, 2010RAMOS JÚNIOR, José de Paula; DEAECTO, Marisa Midori; MARTINS FILHO, Plínio. Paula Brito: editor, poeta e artífice das letras. São Paulo: EDUSP/Com-Arte, 2010., p. 10) Paula Brito, proprietário de livraria e de tipografia, editor de um rol diversificado de volumes e responsável pelos títulos Marmota na Corte (1849-1952), Marmota Fluminense (1852-1857) e A Marmota (1857-1861 e 1864), e, ainda, B. L. Garnier, que respondia pela Revista Popular (1852-1982), sucedida pelo Jornal das Famílias (1863-1878).

Na direção oposta, empreendimentos editoriais também se originavam a partir de revistas. Um exemplo significativo, pelo impacto que teve no mercado editorial brasileiro, é fornecido pela primeira fase da Revista do Brasil (1916-1925). Organizada no âmbito da redação do jornal O Estado de S. Paulo, o número inaugural veio a público em janeiro de 1916. Dois anos depois, em maio de 1918, o mensário foi adquirido por Monteiro Lobato, que soube utilizar a publicação para divulgar os autores e as obras que saíam com a chancela das Edições da Revista do Brasil, de pronto inaugurada com o seu Urupês, em julho do referido ano.

O negócio tomou grandes proporções e a Companhia Gráfico-Editora Monteiro Lobato tornou-se, no início dos anos 1920, uma das mais importantes do país, e o seu proprietário sinônimo de editor revolucionário, por introduzir práticas que alteravam o padrão vigente no mercado da época (KOSHIYAMA, 2006KOSHIYAMA, Alice Mitika. Monteiro Lobato: intelectual, empresário, editor. 2.ed. São Paulo: EDUSP/Com-Arte, 2006. ). A revista, por seu turno, desfrutava de grande prestígio nos meios intelectuais e, ainda que reservasse considerável espaço para as ações da editora (LUCA, 1999LUCA, Tania Regina de. A Revista do Brasil: um diagnóstico para a (n)ação. São Paulo: UNESP, 1999.), não se transformou em mera caixa de ressonância dela. É provável que a eficácia da simbiose residisse justamente no delicado equilíbrio entre o espaço concedido às ações editoriais de Lobato e o fato de o periódico nunca ter perdido as características que o distinguiam, ou seja, continuou a abrigar e debater os temas mais candentes do período, sem se transformar em revista de editora, em sentido estrito.

Não parece despropositado supor que o lançamento, em 5 de maio de 1922, de O Mundo Literário, mensário de literatura brasileira e estrangeira, capitaneado pela Livraria Editora Leite Ribeiro, tivesse por inspiração o exemplo da Revista do Brasil. Fundada em 1917, a empresa logo se tornou a maior e mais importante livraria da capital do país, instalada num suntuoso prédio no Largo da Carioca (HALLEWELL, 2005HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 2.ed. rev. e ampl. São Paulo: EDUSP, 2005., p. 417-419). Pode-se aproximar as ações de Carlos Leite Ribeiro e de Lobato na batalha em prol da difusão do que editavam, o que incluía a multiplicação dos pontos de venda (MACHADO, 2012MACHADO, Ubiratan. História das livrarias cariocas. São Paulo: EDUSP, 2012., p. 172-180), ainda que a comparação demande cuidado, pois Leite Ribeiro não se dedicou apenas ao livro, mas envolveu-se em vários outros negócios, tanto que em 1924 vendeu a livraria para Freitas Bastos. Antes disso, porém, houve uma fracassada tentativa de união comercial entre ele e Lobato em fins de 1922, segundo informou o escritor paulista em carta dirigida ao amigo Godofredo Rangel: “a projetada fusão com o Leite Ribeiro forçou-nos a muitos estudos e viagens ao Rio e afinal fracassou. Não nos convinha o negócio” (LOBATO, 1964LOBATO, Monteiro. A barca de Gleyre: quarenta anos de correspondência literária entre Monteiro Lobato e Godofredo Rangel. 11.ed. São Paulo: Brasiliense, 1964. v. 2. , v. 2, p. 246).

Ainda que as duas publicações guardassem proximidade - as capas exibiam exatamente o mesmo padrão, enquanto o formato e o projeto gráfico eram bastante semelhantes -, distanciavam-se pela origem: afinal, o prestígio adquirido pela Revista do Brasil constituiu-se no ponto de partida para a editora, enquanto O Mundo Literário surgiu como projeto de um livreiro-editor solidamente instalado no mercado, mas que não desfrutava de grande prestígio, a despeito de possuir instalações mais luxuosas que as concorrentes. O lançamento de uma revista literária, aberta a receber colaborações de todos os matizes - em diapasão bem diverso de Klaxon, cujo número inaugural veio a público apenas dez dias depois, em 15 de maio de 1922 -, também ganhava relevância frente à ausência, naquele momento, de publicações do gênero no Rio de Janeiro.6 6 Cabe lembrar que a revista Arvore Nova veio a público em agosto de 1922, mas não passou do sexto número.

Sérgio Buarque de Holanda, colaborador de O Mundo Literário, foi preciso ao pontuar as motivações para a organização do título, que circulou até 1926, sempre sob a direção de Théo-Filho, cujos romances eram um grande sucesso de público, e o introspectivo poeta simbolista Pereira da Silva, compondo um conjunto de quarenta e oito números:

A Garnier era antiga, tradicional. Mas em dimensões e em acervo a Leite Ribeiro era maior. De maneira que eles tinham capital para sustentar uma revista, mesmo com prejuízo. A livraria tinha interesse em mantê-la, porque lhe dava certa força. Queriam formar um ponto de reunião, um núcleo como a Garnier era e tinha sido tradicionalmente. A Livraria Leite Ribeiro era grande, enorme, tinha dois andares, ambos atopetados de livros. Assim, era livraria de grande movimento e girava com largo capital. O prejuízo que poderiam ter com a revista seria pequeno em confronto com os lucros. A revista foi um veículo de propaganda da Livraria (apud CHAVES, 1977CHAVES, Eneida Maria. O Mundo Literário: um periódico da década de 1920 no Rio de Janeiro. 1977. Dissertação (Letras Clássicas e Vernáculas) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 1977, 2 v. , v. 2, p. 354).

A confiar nos dados da própria publicação, a tiragem de dez mil exemplares foi aumentada para 15 mil em 1924, números expressivos para uma revista que, pelo menos em tese, era vendida, ainda que não se possa descartar a hipótese de que parte da edição fosse simplesmente distribuída a frequentadores e clientes da livraria, o que explicaria o prejuízo aludido por Sérgio Buarque.

A revista não se distinguiu por abraçar posturas estéticas ou políticas definidas, antes teve por marca o ecletismo e a heterogeneidade,7 7 Esse ponto é reiterado por José Geraldo Vieira, Murilo Araújo, Sérgio Buarque de Holanda (CHAVES, 1977, v. 2). além de carregar a pecha de pouco exigente - “não faziam muita escolha. Tinham as portas abertas para todo mundo”, como ressaltou Buarque de Holanda (apud CHAVES, 1977CHAVES, Eneida Maria. O Mundo Literário: um periódico da década de 1920 no Rio de Janeiro. 1977. Dissertação (Letras Clássicas e Vernáculas) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 1977, 2 v. , v. 2, p. 354) -, o que pode ser remetido à ausência de remuneração para os colaboradores.8 8 Em seu depoimento, José Geraldo Vieira afirma que os redatores eram remunerados, mas não os colaboradores. Frente aos renovados apelos, “O próprio interessado, após algumas semanas do convite e da insistência, acabava deixando na caixa o seu soneto, o seu conto, o seu ensaiozinho” (apud CHAVES, 1977, v. 2, p. 336). Já os diretores não desfrutavam de grande prestígio junto aos seus pares: pelo menos na memória dos contemporâneos, sobressai a figura de Agripino Grieco, no cargo de secretário entre os números seis e vinte e três, portanto em pouco menos de 40% dos exemplares. Segundo José Geraldo Vieira:

Do ponto de vista empreendimento cultural, a suposta redação (que nunca existiu como escritório) foi constituída por três elementos que não dispunham de capital nem de prática especializada: o poeta Pereira da Silva, [...], Théo Filho [...] e Agripino Grieco, funcionário do Ministério da Viação e possuidor de certo carisma pessoal por sua língua mordaz; ele próprio se chamava ‘O Aretino do Meyer’, ‘o Voltaire dos Subúrbios’. Se Théo-Filho com monóculo e tudo não frequentava as rodas literárias, muito mesmo podia influenciar nelas o boníssimo e santo Pereira da Silva; ambos dispunham, contudo, dum caixeiro-viajante ousado, que era o Grieco. Saindo este, de tarde, do Ministério na Praça 15, passava pelo Café Belas Artes [...], dirigia-se à Livraria Garnier, depois à Livraria Briguet e montava seu quartel general na Livraria Schettino.9 9 Vale lembrar que a Livraria Schettino, “quartel-general” de Grieco, também era uma editora, pela qual saiu o seu Fetiches e fantoches (1921). A respeito da importância desta casa nos anos 1920 e de seu declínio no início do decênio seguinte, consultar HALLEWELL (2005, p.419-420). Nesses locais é que ele encontraria os possíveis colaboradores para O Mundo Literário (apud CHAVES, 1977CHAVES, Eneida Maria. O Mundo Literário: um periódico da década de 1920 no Rio de Janeiro. 1977. Dissertação (Letras Clássicas e Vernáculas) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 1977, 2 v. , v. 2, p. 336-337).

A despeito dos senões e reparos que cercam a revista, o estudo de Chaves (1977CHAVES, Eneida Maria. O Mundo Literário: um periódico da década de 1920 no Rio de Janeiro. 1977. Dissertação (Letras Clássicas e Vernáculas) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 1977, 2 v. ) bem demonstrou a importância de se revisitar as páginas de O Mundo Literário, que, se não empunhou bandeiras, nem por isso deixou de atuar como espaço de aglutinação de tendências e sensibilidades, tanto que o núcleo originário de Terra do Sol, lançada em janeiro de 1924, e de Festa, cujo primeiro número saiu em outubro de 1927, encontrou abrigo na revista da Livraria Leite Ribeiro/Freitas Bastos. O exemplo alerta para a importância de se reconstituir as articulações entre as publicações, em lugar de tomá-las de modo isolado, o que colabora para a compreensão das estratégias mobilizadas num contexto marcado por debates acerbos sobre os rumos da literatura e da cultura, quando as revistas, vanguardista ou não, sucediam-se e, de modo mais ou menos velado, enfrentavam-se no espaço público.

O exemplo do Boletim de Ariel10 10 Aprofundam-se aqui algumas considerações preliminares apresentadas em Luca (2017).

O último exemplar de O Mundo Literário circulou em março de 1926, sem que se dessem explicações das razões que levaram Freitas Bastos a encerrar a revista. Três anos depois foi a vez de Henrique Bertaso, cujas edições ainda estavam circunscritas a autores do sul do país, lançar a Revista do Globo, que passou às mãos de Érico Veríssimo em 1931 e que também se constituía num instrumento propagandístico. Em texto autobiográfico, o escritor registrou a maneira bastante amadora pela qual a publicação era produzida, circunstância que se alterou quando Justino Martins tomou a frente da redação (AMORIM, 1999AMORIM, Sônia Maria de. Em busca de um tempo perdido. Edição de literatura traduzida pela Editora Globo (1930-1950). São Paulo: EDUSP/Com-Arte; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1999., p. 34-38; TORRESINI, 1999TORRESINI, Elisabeth Rochadel. Editora Globo: uma aventura editorial dos anos 30 e 40. São Paulo: EDUSP/Com-Arte; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1999., p. 58-81).

Interessa aqui destacar a persistência entre os editores da prática de fundar revistas, o que também aconteceu em relação à Editora Ariel Ltda., empreendimento de Agripino Grieco, o sócio principal, e Gastão Cruls, respectivamente, diretor e redator-chefe no Boletim de Ariel. Mensário crítico-bibliográfico. Letras, Artes, Ciências, lançado em outubro de 1931, no mesmo ano da fundação da editora. Ao contrário de Leite Ribeiro e de Henrique Bertaso, a Ariel não tinha livraria própria, fator que deve ter pesado na decisão de logo de saída investir num veículo de divulgação, ao que se pode acrescer a experiência acumulada por Grieco em O Mundo Literário.

Os escritores responsáveis, ambos nascidos no Estado do Rio de Janeiro em 1888, já haviam publicado várias obras quando se aventuraram no campo editorial. Gastão Cruls, médico de formação, estreou com livros de contos (Coivara, 1920; Ao embalo da rede, 1923), mas alcançou sucesso com o romance A Amazônia misteriosa (1925), tema ao qual voltou em A Amazônia que eu vi (1930) e Heléia Amazônica (1944). Incluído no movimento regionalista dos anos 1920 e considerado um descobridor da realidade brasileira, Cruls não se vinculou ao Modernismo.

Agripino Grieco, por sua vez, estreou como poeta (Ânforas, 1910) e contista (Estátuas mutiladas, 1913), tendo reunido sua colaboração em revistas em Fetiches e fantoches (1921). Abandonou a ficção para dedicar-se à crítica, que exerceu por décadas em vários órgãos da imprensa, dentre eles Gazeta de Notícias, O Jornal e o próprio Boletim de Ariel. Durante o período de circulação do Boletim, publicou oito obras, várias pela sua editora. Na avaliação de Alfredo Bosi (1994BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 37.ed. São Paulo: Cultrix, 1994., p.492-493), era temido pelo estilo sarcástico, “foi um dos mais atentos e vivos leitores críticos da nova literatura: [...] seus numerosos ensaios [...] renovam o estilo da crítica aliando o velho impressionismo a um juízo estético em geral seguro”, enquanto Lafetá (2000LAFETÁ, João Luiz. 1930: a crítica e o modernismo. 2.ed. São Paulo: Duas Cidades/Editora 34, 2000., p. 41) atribuiu sua importância ao fato de estar “sempre presente nas colunas de jornal e, dotado da agilidade mental e da versatilidade que caracterizam bem certo estilo de colunismo literário [...], influi de maneira ponderável no quadro geral das atividades de uma época”.11 11 Síntese do que o próprio Grieco entendia por crítica encontra-se em Senna (1996, p. 28-29).

A Ariel tornou-se uma empresa importante e, ainda que tivesse um catálogo variado, que incluía traduções, obras jurídicas e assuntos não literários, dedicou considerável atenção aos escritores brasileiros, compondo um catálogo bastante amplo. Entre os nomes publicados estavam: Jorge Amado; Gilberto Amado; José Maria Belo; Raul Bopp; Otávio de Faria; Murilo Mendes; Odilon Nestor; Lúcia Miguel Pereira; Cornélio Pena; Graciliano Ramos; Marques Rebelo e José Lins do Rego, que também compareciam nas páginas do Boletim. As belas capas, com desenhos atraentes e cores fortes, muitas de autoria do artista paraibano Tomás Santa Rosa Júnior,12 12 A respeito das múltiplas atividades de Tomás Santa Rosa Júnior como pintor, ilustrador, artista gráfico, decorador, figurinista, coreógrafo, gravador, professor e crítico, ver: BARSANTE (1993) e BUENO (2015). que pouco depois seria o principal ilustrador da José Olympio, tornaram-se marca da Ariel.

É relevante que outro escritor, Augusto Frederico Schmidt, também tenha se lançado no mercado, no mesmo ano que Agripino e Cruls, com a sua Livraria Schmidt Editora, o que mais uma vez confirma a junção da atividade de livreiro e editor. Devotada exclusivamente à edição de autores nacionais, foi responsável pela edição de um grupo seleto de estreantes - Marques Rebelo, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Lúcia Miguel Pereira e Gilberto Freyre, alguns dos quais depois passaram para o selo Ariel. O poeta lançou a Coleção Azul, que reuniu um conjunto representativo de reflexões sobre o momento então em curso: Brasil errado, de Martins de Almeida; Introdução à realidade brasileira, de Afonso Arinos de Melo Franco; O sentido do tenentismo, de Virgílio Santa Rosa; A gênese da desordem, de Alcindo Sodré, e Psicologia da revolução, de Plínio Salgado.13 13 Sobre a Coleção Azul ver: SECCO e DEAECTO (2004, p. 125-164), que apresenta dados diversos daqueles fornecidos por Hallewell (2005) no que tange aos títulos que integravam a coleção.

A década de 1930 marcou um momento de expansão da atividade dos críticos, que fundaram livrarias, editoras, lançaram periódicos e “passaram a influenciar de modo mais efetivo as tendências da produção editorial, à medida que as fronteiras entre uma e outra atividade se diluíam na ambiguidade de papéis” (FRANZINI, 2010FRANZINI, Fábio. À sombra das palmeiras: a coleção Documentos Brasileiros e as transformações da historiografia nacional (1936-1959). Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2010., p. 10). A eles deve-se creditar o fato de terem colocado à disposição do público autores novos, que logo ocupariam o centro da cena intelectual brasileira, o que pode ser tomado como indício da “profunda mudança nas relações de concorrência editorial-culturais” (SORÁ, 2001SORÁ, Gustavo. Livraria Schmidt: literatura e política. Gênese de uma oposição elementar na cultura brasileira. Novos Estudos CEBRAP, n. 61, p. 131-164, nov. 2001. , p. 134), da qual a Ariel e a Schmidt podem ser consideradas expressão.

O crescimento do setor, a um tempo causa e consequência dos novos projetos, acirrava a competição, o que tornava, do ponto de vista comercial, ainda mais justificável a existência de uma revista que atuasse como ponta de lança de uma editora sem livraria. A tiragem do Boletim de Ariel, na casa dos três mil exemplares, bem menor do que O Mundo Literário, estava longe de ser desprezível e parece mais em consonância com um periódico efetivamente vendido.

O fato de atuar como porta-voz de uma empresa, por si só, não determina necessariamente as características da publicação, ainda mais porque há que se considerar, para cada caso concreto, a natureza das relações de força, os pesos e contrapesos no interior do empreendimento e o contexto de circulação, o que alerta contra o afã classificatório. Porém, pode-se argumentar que por se tratar de um impresso que deveria ser adquirido por um público potencialmente interessado nos produtos e ações de uma editora e seus responsáveis, o tom polêmico e a capacidade de agregar indivíduos em função de compartilharem posições estéticas e políticas acabavam esmaecidos. Ainda mais porque quanto maior a força econômica e/ou simbólica do empreendimento-mecenas, também crescia a preocupação de preservar a imagem da marca frente ao público, o que ajuda a compreender a predominância de um ecletismo bem-comportado, que não feria suscetibilidades do gosto médio, aliás significativamente influenciado pela atividade crítica, que ungia e legitimava os aspirantes à glória no mundo letrado. De toda forma, importa marcar a distância entre esse tipo de revista e as de vanguarda que a antecederam, assim como em relação àquelas fundadas por grupos ideológicos bem-definidos como, por exemplo, a católica A Ordem (1922), as integralistas Anauê! (1935) e Panorama (1936), ou, ainda, as patrocinadas pelo regime, caso de Cultura Política (1941), sem dúvida o mais importante periódico no seu gênero.

O Boletim de Ariel, lembrado com saudades por Lúcia Miguel Pereira, que nele iniciou suas atividades literárias (SENNA, 1996SENNA, Homero de. República das letras: entrevistas com 20 grandes escritores brasileiros. 3.ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996., p. 14), trouxe no número inaugural apresentação de Gastão Cruls sob o título Conversa fiada... Nela o autor rememorou os tempos de mocidade, quando trabalhava na Assistência Municipal e integrava o pequeno grupo dos médicos atento às novidades literárias, conhecedor de autores, obras e cujos membros “não só deleitavam os companheiros, como até lhes ministravam ensinamentos e informações que, sem a conversa fiada dessas reuniões, eles só alcançariam à custa de muitos sacrifícios, com a aquisição dos aludidos livros, o tempo dedicado à sua leitura, etc, etc”. Os mais informados consideravam-se explorados e, em tom de pilhéria, passaram a exigir contribuições dos colegas para compartilhar seus conhecimentos. O longo introito pretendia resumir o espírito que orientou a fundação do mensário, revelado no parágrafo final e cuja pedra de toque residia no caráter amplo:

O Boletim de Ariel, embora com aspirações mais altas, pede muito menos a seus leitores. Na Assistência, contavam histórias e resumiam novelas alguns médicos de boa vontade, mas, pelo menos até aquela data, sem nenhuma projeção além do círculo de amigos. Aqui, se também prepondera o mesmo espírito do escorço rápido e da nota despretensiosa acerca do que mais interessante e significativo ocorrer no mundo das letras, das ciências e das artes, tanto no Brasil como no estrangeiro, tudo se valorizará pelo nome dos seus signatários, sempre colaboradores de realce, escolhidos entre o que de melhor houver nas nossas elites intelectuais (Boletim de Ariel, ano I, n. 1, p. 1, out. 1931).14 14 É curioso que no depoimento a SENNA (1996, p. 233-248), Cruls mencione o Boletim de Ariel apenas de passagem e, em nenhum momento, referira-se a sua experiência como diretor da publicação.

A publicação, com dimensões fixas (21,5 por 27,5 cm) e média de 20 a 30 páginas, não apresentou variações significativas nas capas, que estamparam as mesmas informações, ainda que nem sempre distribuídas da mesma forma e com padrão idêntico:15 15 A mudança no padrão foi anunciada no Boletim de Ariel, ano III, n. 12, p. 319, set. 1934, nos seguintes termos: “A partir do próximo número [...] o Boletim passará a circular com capa de padrão novo e em papel sempre da mesma cor.” dados essenciais acerca da publicação - nome, ano, número, mês, cidade, responsáveis, preço -, o símbolo da Ariel Editora (um ser alado, clara alusão ao personagem de Shakespeare), cuja localização e tamanho conheceu variações, e a relação dos colaboradores do número. A partir do terceiro ano de existência (outubro de 1933), o Boletim passou a contar com um conselho consultivo, que se manteve até o encerramento da publicação, composto por Gilberto Amado, Lúcia Miguel Pereira, Miguel Ozório de Almeida, Otávio de Faria e V. de Miranda Reis, que já se constituíam em colaboradores frequentes.16 16 No Boletim de Ariel, ano II, n. 12, p. 318, set. 1932, informa-se aos leitores o seguinte: “A partir do próximo número, com que se iniciará o terceiro ano de existência, essa revista, continuando sob a mesma direção e mantendo o seu atual redator chefe, contará com o prestigioso apoio e a esclarecida assistência de um conselho consultivo [...]. Nomes que dispensam encômios e são um penhor seguro dos altos desígnios a que aspira o Boletim de Ariel, há de ser também dos nossos leitores a justificada alegria com que lhes damos tão auspiciosa notícia”.

Na página inicial, o cabeçalho repetia os dados gerais já aludidos, enquanto todo o restante do espaço era ocupado por um texto de abertura, assinado por diferentes escritores(as) a cada número e que fazia às vezes de editorial. Abordavam-se assuntos relativos ao mundo das letras: autores e livros clássicos; prêmios; lançamentos importantes; produção literária; questão ortográfica, tema então candente; condição do intelectual e, mais raramente, considerações mais explicitamente relativas ao contexto sociopolítico, como foi o caso, por exemplo, do número de agosto de 1935, que abordou a questão da esquerda e direita literárias.17 17 Eis um trecho do longo editorial, assinado por integrante do conselho consultivo: “Ora, a literatura, que não pode ser exclusivamente a zona neutra da fantasia e do sonho, o país da evasão e da renúncia, da arte pela arte, das atitudes ensimesmadas, a literatura que é social por excelência, teve que definir-se (sic). Donde a esquerda e a direita literárias. [...] Impende-lhe [ao literato] verificar se é exato que, enquanto a esquerda insiste no primado do social, a direita sobrepõe ao sentido do social o sentido humano, que enquanto a esquerda prega misticamente a revolução, a direita descobre ‘a verdadeira mística’, que, enquanto a esquerda deblatera contra as desigualdades e as injustiças sociais, contra a exploração do homem pelo homem, a direita perscruta o ‘verdadeiro sentido da vida’ [...]. E que partido poderia tomar quem veio até aqui gauchement, por estas linhas tortas?” (REIS, V. de Miranda. A esquerda e a direita literárias. Boletim de Ariel, ano IV, n. 11, p. 289-290, ago. 1935.)

Seguiam-se ensaios, notas críticas e resenhas alentadas sobre autores, obras e/ou lançamentos nacionais e internacionais, às quais se mesclavam notícias mais ligeiras, com clara predominância da produção de cunho literário, ainda que não fossem raras as menções a obras de caráter didático, sociológico, político e religioso, o que denota o intento de fornecer um quadro o mais amplo possível do mundo do livro. A julgar pela correspondência de Graciliano Ramos, os escritores não só assinavam o Boletim como acompanhavam com interesse notícias e resenhas nele veiculadas a respeito de sua produção. Ao comentar com a esposa Heloisa a recepção de São Bernardo, o romancista afirmou: “Nenhum artigo novo no Sul, nem no Boletim de Ariel, que recebi ontem. Apenas os quatro ou cinco de que lhe falei” (RAMOS, 1981RAMOS, Graciliano. Cartas. Rio de Janeiro: Record, 1981., p. 145).

Novas iniciativas editoriais encontravam boa acolhida nas páginas do Boletim, patente nas referências às coleções que então começavam a ganhar fôlego - caso, por exemplo, da Terramarear (Nacional), dedicada a jovens e adolescentes - e nas constantes menções aos lançamentos - “Chegaram-nos três volumes magníficos da Livraria do Globo, de Porto Alegre...”; “A grande casa editora da Paulicéia [Cia Editora Nacional] continua a espalhar belos livros pelo país. Agora é...”, e ainda, “Excelentes as últimas edições lançadas pelo brilhante e infatigável José Olympio...”.18 18 Notícia sobre o surgimento da coleção em Boletim de Ariel, ano II, n. 9, p. 245, jun. 1933. Para a referência às editoras, consultar: Boletim de Ariel, ano VII, n. 12, p. 345, set. 1938 (Livraria do Globo) e p. 354 (Nacional e José Olympio).

Fiel ao tom de inventário, havia preocupação de registrar o aparecimento de novas revistas e de números recém-lançados, seja no Brasil ou no exterior, ainda que não se fosse muito além de uma breve nota. Em âmbito nacional, foram saudados periódicos tão diversos como A Ordem, Hierarquia (Madeira de Freitas, Rodolfo de Carvalho e Lourival Fontes),19 19 GRIECO, Agripino. Revistas. Boletim de Ariel, ano I, n. 1, p. 15, out. 1931. Literatura (Manuel Bandeira, Augusto Frederico Schmidt, Sabóia de Medeiros), Rumo (inicialmente publicada pela Casa do Estudante do Brasil e dirigida por Carlos Lacerda), Rio-Magazine (redator-chefe Jorge Amado),20 20 Boletim de Ariel, ano II, n. 11, p. 300, ago. 1933, sem assinatura. Revista Acadêmica (Murilo Mendes), Revista da Escola Militar (Nelson Werneck Sodré), Boletim Bibliográfico Brasileiro (SP, Menotti del Picchia, Cândido Mota Filho, Alcântara Machado, entre outros),21 21 Boletim de Ariel, ano III, n. 2, p. 36, nov. 1933, sem assinatura. Revista do Globo, Vanitas (SP, Nair de Mesquita), Idea (revista dos estudantes da Universidade do RJ), Festa, Revista Brasileira (Batista Pereira),22 22 Boletim de Ariel, ano IV, n. 5, p. 148, fev. 1935, sem assinatura. Panorama (elogiada com cuidadosa ressalva - “sem que isso importe em adesão aos seus propósitos políticos, visto como a finalidade partidária foge às preocupações da nossa revista bibliográfica, mando-nos a lealdade crítica reconhecer que Panorama, súmula do pensamento integralista, reúne uma brilhante colaboração”),23 23 Boletim de Ariel, ano V, n. 7, p. 187, abr. 1936, sem assinatura. entre várias outras.

Textos de caráter mais geral sobre pintura, cinema, literatura, curiosidades biográficas, além de excertos de capítulos, também compareciam com certa frequência, assim como notas sobre premiações, como as ofertadas pela Sociedade Felipe d’Oliveira ou o prestigioso Humberto de Campos, instituído em 1936 pela Editora José Olympio, que selecionava um livro inédito de contos por ano.24 24 Ver, por exemplo, Boletim de Ariel, ano V, n. 6, p. 141-142 e 159, mar. 1936, respectivamente. Entretanto, a produção literária propriamente dita foi incorporada ao Boletim tardiamente, a partir do sexto ano (outubro/1934 a setembro/1935), quando quatro páginas foram reservadas para os trabalhos ficcionais.25 25 Eis a integra da nota, publicada no Boletim de Ariel, ano V, n. 12, p. 313, set. 1936: “Com o presente número completa a nossa revista o seu quinto ano de existência e, a despeito das dificuldades que em nossa terra encontram todas as iniciativas de cultura, é-nos grato constatar que não tem faltado o apoio e a colaboração das nossas elites intelectuais. A partir do próximo número, sempre visando corresponder às exigências e, ao bom gosto do nosso público, o Boletim de Ariel terá o seu texto acrescido de mais quatro páginas, exclusivamente dedicadas a trabalhos de ficção, tanto de prosa como de poesia. Serão sempre da nossa preferência os trabalhos ainda inéditos e, entre esses, os pequenos contos, mas quando estes nos faltarem à nossa escolha, daremos páginas antológicas, onde se recordem os grandes escritores brasileiros.” Por vezes, parte do número era dedicada a autores específicos, em função de falecimento ou comemoração de centenários, como ocorreu, por exemplo, em relação a João Ribeiro e Goethe.

O material publicado no Boletim não era estruturado em seções fixas, devendo-se registrar que foi ao longo do quinto ano (outubro/1935 a setembro/1936) que surgiram espaços específicos destinados a música, artes plásticas, rádio, teatro, cinema e discos. Até então, apenas Memento Bibliográfico, presente em todos os números, configurava-se efetivamente como seção. Alocada na página final, sempre trazia o seguinte apelo: “O Boletim de Ariel pede aos Senhores editores ou autores que lhe remetam, senão um exemplar, ao menos a indicação das obras pelos mesmos publicadas, afim de que esta seção seja a mais informativa possível”.

No que tange à diagramação, observa-se a intenção de preencher completamente as páginas. Os eventuais espaços livres eram completados com pequenos poemas, frases de grandes pensadores e escritores, anúncio de colaborações futuras e, pelo menos nos anos iniciais, algumas poucas propagandas. Estas, pequenas e discretas, avolumaram-se e diversificaram-se com o decorrer do tempo: hotéis, lojas de roupas e acessórios, rádios e toca-discos, administradoras, seguradoras, cigarros e, sobretudo, livros das mais variadas editoras. Em várias oportunidades, convidou-se editores e autores a fazer uso das páginas da revista para a divulgação das novidades:

Srs. ESCRITORES,

Srs. LIVREIROS,

Srs. EDITORES:

BOLETIM DE ARIEL

é a revista literária de maior tiragem no Brasil...

BOLETIM DE ARIEL

é lido do Amazonas ao Rio Grande do Sul...

BOLETIM DE ARIEL

é o mensário de maior repercussão na literatura nacional

BOLETIM DE ARIEL

é o índice seguro pelo qual se guiam milhares de leitores na escolha de seus livros...

BOLETIM DE ARIEL

é, pois, o veículo mais eficiente para a divulgação e prestigio do livro.

- Anunciai vossas obras no -

BOLETIM DE ARIEL:

é a MELHOR propaganda que podeis fazer dos vossos livros.

Descontos e condições especiais para os livreiros e editores.26 26 Boletim de Ariel, Ano II, n. 6, p. 161, mar. 1933. Ou ainda: “Srs. Escritores, Livreiros e Editores: Anunciai no Boletim de Ariel: é a melhor propaganda que podeis fazer de vossos livros”. Boletim de Ariel, ano II, n. 7, abr. 1933, p. 168. De fato, várias livrarias e editoras anunciam nas páginas do Boletim, como a Livraria Católica e a Companhia Editora Nacional. Idem, Ano II, n. 8, p. 206 e 210, maio 1933, por exemplo.

De fato, é claramente perceptível o aumento do espaço destinado a noticiar autores, lançamentos de livros, próximas edições e coleções - como a Biblioteca Brasileira de Cultura, dirigida por Tristão de Ataíde; a Brasiliana, da Nacional; ou a Detetive, da José Olympio.27 27 Ver Boletim de Ariel, ano IV, n. 7, abr. 1935, p. 183; Idem, ano VI, n. 6, p. 137, fev. 1937 e Idem, ano V, n. 5, p. 129, fev. 1936, respectivamente. Transitou-se da pequena nota (Leiam: Gilberto Amado Dias e horas de vibração Preço 5$000)28 28 Este é um exemplo em dezenas, particularmente presente nos primeiros anos da publicação. Boletim de Ariel, ano II, n. 12, p. 323, set. 1933. para páginas inteiras, com reprodução de capas e listagens de dezenas de lançamentos, encimados pelo título “As novidades do mês”. Pela quantidade e volume destacavam-se a Companhia Editora Nacional e a Editora José Olympio. Indícios claros de que o negócio do livro se sofisticava e absorvia capitais crescentes provêm da comparação entre as modestas ofertas de trabalho individual (Ilustrações, capas de livros: Paulo Werneck - Tel...)29 29 Boletim de Ariel, ano 1, n. 9, p. 13, jun. 1932. ou de negócios de menor porte, como a Oficina Gráfica Renato Americano, com os reclames das paulistas Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais e Artes Gráficas em Geral, que alardeavam nas páginas do Boletim o fato de serem responsáveis pela impressão dos livros da Nacional, informação que pretendia legitimar, aos olhos de possíveis novos clientes, a excelência e profissionalismo dos serviços ofertados.

O Boletim de Ariel fornece, portanto, elementos para a reconstrução do movimento editorial assim como das características da produção intelectual e dos debates que dividiam o mundo letrado, num período particularmente agitado do ponto de vista político-institucional. Um bom exemplo é a questão do romance proletário, debatida em torno de Parque Industrial, de Patrícia Galvão, publicado sob o pseudônimo de Mara Lobo, e Cacau, de Jorge Amado.30 30 Ver: MENDES, Murilo. Notas sobre Cacau. Boletim de Ariel, ano II, n. 12, p. 317, set. 1933, que também se refere a Parque Industrial, e COSTA, Dias da. Cacau. Boletim de Ariel, ano 3, n. 2, p. 36, nov. 1933. Entrava na ordem do dia a função social da literatura, o papel do escritor, as relações entre literatura e política, além de referências mais ou menos veladas à censura, como a nota intitulada “Censura estrábica”, que investia contra a ação da polícia paulista:

O ato recente da polícia de São Paulo, mandando fechar violentamente o Teatro de Experiência, onde alguns rapazes de espírito procuravam fazer qualquer coisa em prol do nosso hipotético teatro, antes que à revolta leva-nos a um desalentador sentimento de tristeza. É que já nos supúnhamos a respirar numa atmosfera mais alta e de ar mais puro, quando de novo nos assalta a rajada da filáucia alarve e do carrancismo obsoleto. Ainda ontem aqui era o romance Cacau de Jorge Amado, que se pretendia apreender sob a pecha de literatura pornográfica; agora, na Paulicéia, é todo um grupo de intelectuais que vai ao torniquete dos inquisidores (Boletim de Ariel, ano III, n. 4, p. 92, jan. 1934).

O Boletim constituía-se no principal veículo para a divulgação dos produtos da Editora Ariel. Se é inegável que havia por parte dos redatores o propósito de fornecer um instantâneo o mais completo possível do cenário intelectual por intermédio da produção editorial, isso não impedia que a revista reproduzisse as críticas favoráveis aos seus livros, autores e editores31 31 A título de exemplo sobre Gastão Cruls, consultar: Boletim de Ariel, ano VII, n. 7, p. 216, abr. 1938; para Agripino Grieco: Boletim de Ariel, ano II, n. 9, p. 245, jun. 1933; para Lúcia Miguel Pereira, consultar: Boletim de Ariel, ano VI, n. 5, p. 137, fev. 1937. e noticiasse projetos e iniciativas, tais como: a venda de suas edições na Argentina e em Portugal por meio de acordo com livrarias daqueles países; o direito de distribuir com exclusividade as obras da editora e sociedade literária francesa Séquana32 32 Ver, respectivamente, Boletim de Ariel, ano IV, n. 7, p. 183, abr. 1925, e ano VI, n. 1, s/n, out. 1936, página de propaganda localizada no final da revista. e, ainda, o acordo com a Editora Civilização Brasileira, para que esta se tornasse distribuidora exclusiva da Ariel.33 33 Boletim de Ariel, ano VI, n. 2, p. 45, nov. 1936. Eis a íntegra da nota: “Temos a satisfação de comunicar aos nossos prezados leitores, fregueses e amigos do interior que estamos estudando e concluindo um convênio com a importante casa Civilização Brasileira S.A., desta capital, no sentido de tornar a mesma a distribuidora exclusiva das Edições Ariel. Num programa de ação em conjunto, visamos para o ano de 1937 desenvolver mais vivamente os nossos negócios”. No mesmo número, p. 41, comunicava-se a mudança dos escritórios da Ariel para o edifício da Civilização Brasileira. Considerável espaço era destinado à divulgação do catálogo da editora, em parte reproduzido nas páginas finais do periódico e organizado por temas, sob a denominação “Edições de Ariel”.34 34 Os exemplares consultados, pertencentes à biblioteca do IEB/USP e ao acervo da Profa. Dra. Ana Maria de Almeida Camargo, a quem registro meus agradecimentos, não contém as folhas finais, sem numeração e integralmente reservadas às propagandas, possivelmente descartadas quando da encadernação. A exceção fica por conta do ano VI, n. 1, out. 1936, pertencente ao IEB/USP, do qual as informações foram retiradas. A apresentação das obras por temas evidencia os vários campos de atuação da Ariel e, caso fosse possível, a consulta sistemática a essas páginas permitiria mapear todos os autores e títulos lançados.

Os leitores eram incentivados a colecionar o Boletim e, cada vez que a publicação completava mais um ano, anexavam-se os índices de autores e títulos e de assuntos e principais alusões, o que, de acordo com os editores, “muito facilitará a consulta, no caso em que alguém pense em conservá-la (a coleção) ou mesmo transformá-la em volume”, ideia que eles próprios logo trataram de colocar em prática. Assim, em abril de 1933, anunciava-se: “Aos nossos leitores e assinantes: Temos o prazer de comunicar que tanto na nossa redação como nas principais livrarias desta cidade, se encontram volumes belamente encadernados, reunindo os doze números do primeiro ano do Boletim de Ariel, e que podem ser adquiridos ao preço de R$ 30$000”, nota que reapareceria no início de cada novo ano.35 35 Boletim de Ariel, ano I, n. 12, p. 8, set. 1932; Idem, ano II, n. 1, p. 22-23, out. 1932; Idem, ano II, n. 7, p. 172, abr. 1933, respectivamente. Constantemente, os assinantes eram lembrados de que dispunham de serviço de reembolso postal para adquirir as obras sem custo adicional;36 36 Serviço de Reembolso. Boletim de Ariel, ano VI, n. 1, s/n, out. 1936. que desfrutavam de 20% de desconto sobre as edições da Editora Ariel adquiridas nos seus escritórios e 10% para as encomendadas do interior, correndo as das despesas de correio por conta da casa; além de contarem com serviço de consultas sobre disponibilidade e preço de obras nacionais e estrangeiras vendidas no Rio de Janeiro.37 37 Boletim de Ariel, ano II, n. 2, p. 35, nov. 1932 e Ano VI, n. 1, s/n, out. 1936.

O Boletim circulou pelo menos até fevereiro de 1939, o que perfaz 89 números38 38 Esta é a data do último exemplar encontrado na Fundação Casa de Rui Barbosa, não sendo possível estabelecer, com toda segurança, se foi efetivamente o último publicado. O Acervo do IEB/USP possui os números publicados entre outubro de 1931 e setembro de 1938. que contaram com a participação de um rol muito variado de colaboradores,39 39 Os índices publicados ao final de cada ano são de grande valia para caracterizar o perfil dos colaboradores. Pode-se afirmar que praticamente todos os que alcançaram destaque no cenário cultural fizeram-se presentes nas páginas do Boletim, o que torna pouco eficaz o longo arrolamento de nomes. sem que se contem com indícios sólidos da atuação do conselho editorial, presente a partir do terceiro ano de circulação, a não ser a presença constante de alguns de seus integrantes ao longo da existência do Boletim.40 40 Dentre os membros do conselho que também eram colaboradores ativos, merecem destaque: Alberto Ramos, Ademar Cavalcanti, A. J. de Sampaio, Alcides Bezerra, Antonio Torres, Augusto Frederico Schmidt, Edgard Cavalheiro, Francisco Venâncio Filho, Jorge Amado, Jorge de Lima, Luís da Câmara Cascudo, Valdemar Cavalcanti e Saul Borges. Nem sempre o tom de notícia rápida e leve, proposto na abertura do número inaugural, foi efetivamente seguido por todos os colaboradores.

É certo que tais características se fizeram presentes nos textos de Grieco, cujo perfil, como ensina Lafetá (2000LAFETÁ, João Luiz. 1930: a crítica e o modernismo. 2.ed. São Paulo: Duas Cidades/Editora 34, 2000., p. 52), seguia uma espécie de padrão fixo, ou seja, “informação biográfica, situando em poucas linhas o autor - com seu caráter, hábitos peculiares - e mais algumas linhas buscando encontrar analogias entre traços da obra e da personalidade”. E prossegue: “trata-se simplesmente de apresentar alguém, de tal maneira que interesse ao eventual leitor e o necessário é arranjar as informações numa forma amena, anedótica; e, portanto, é preciso não aprofundar, nada explicar, de preferência partir de uma informação conhecida...”, o que parece guardar grande sintonia com a declaração na abertura do Boletim de Ariel.

Porém, o mesmo Lafetá (2000LAFETÁ, João Luiz. 1930: a crítica e o modernismo. 2.ed. São Paulo: Duas Cidades/Editora 34, 2000., p. 227-250), ao analisar a produção crítica de Otávio de Faria no Boletim de Ariel, fornece outro quadro ao discutir o tom das colaborações que, apesar de pautadas por padrões antimodernos, ultrapassava o apego às analogias e ao circunstancial, tão caros a Grieco. Não é diversa a situação quando se trata das contribuições de Lúcia Miguel Pereira, que foram recolhidas em livro.41 41 A obra reúne contribuições provenientes d’A Ordem, Boletim de Ariel, Gazeta de Notícias, Lanterna Verde e Revista do Brasil (3a fase), com os quais colaborou de forma assídua no período citado (PEREIRA, 1992). Tais exemplos contribuem para matizar generalizações apressadas a respeito do perfil do material presente no mensário que, por sua própria natureza, tendia a incorporar visões variadas e fornecer um quadro geral do mundo intelectual e editorial do seu tempo. Circulando num momento em que as revistas de vanguarda já haviam fechado o seu ciclo, como bem atesta o tom da Revista Nova, que começou a circular em março de 1931 - portanto alguns meses antes do Boletim -, o periódico de Grieco e Cruls é reconhecido como “o órgão crítico por excelência da literatura moderna na década de 1930” (MARTINS, 1978MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira (1915-1933). São Paulo: Cultrix/Edusp, 1978. v. VI., p. 521).

A exemplo da Revista do Brasil, o Boletim também desapareceu com o encerramento dos negócios editoriais de Grieco e Cruls em 1939. Não foi diferente a sorte do poeta Augusto Frederico Schmidt, cuja livraria editora acabou absorvida, no mesmo ano, pela Zélio Valverde, da qual ele se tornou sócio. O fechamento das duas editoras que ocuparam lugar dos mais destacados no conturbado cenário da década de 1930 parece guardar forte relação com a atuação de José Olympio no Rio de Janeiro a partir de 1934. O mencionado acordo entre a editora de Grieco e Cruls com a Civilização Brasileira pode ser entendido como uma tentativa de contornar as dificuldades que, contudo, não frutificou, pois a segunda, pertencente à Companhia Editora Nacional, acabou por adquirir a primeira, que se transformou numa empresa dedicada exclusivamente à distribuição de livros (SORÁ, 2010SORÁ, Gustavo. Brasilianas: José Olympio e a gênese do mercado editorial brasileiro. São Paulo: EDUSP/Com-Arte, 2010. , p. 262).

Em poucos anos, o novo editor angariou inigualável prestígio e trouxe para o seu catálogo os principais romancistas brasileiros, antes vinculados à Ariel ou à Schmidt, como bem testemunham as próprias páginas do Boletim de Ariel, publicação que ultrapassou a condição de mera divulgadora dos produtos da editora homônima, constituindo-se em fonte rica e diversificada para a reconstituição dos embates políticos e culturais do seu tempo.

Referências

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  • BEDA, Ephraim de Figueiredo. Octalles Marcondes Ferreira: formação e atuação do editor. 1987. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Artes) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 1987.
  • BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 37.ed. São Paulo: Cultrix, 1994.
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  • CHAVES, Eneida Maria. O Mundo Literário: um periódico da década de 1920 no Rio de Janeiro. 1977. Dissertação (Letras Clássicas e Vernáculas) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 1977, 2 v.
  • FERREIRA, Jerusa Pires (Org). Editando o editor: Ênio Silveira. São Paulo: EDUSP/Com-Arte, 2003.
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  • MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira (1915-1933). São Paulo: Cultrix/Edusp, 1978. v. VI.
  • MATOS, Felipe. Uma ilha de leitura: notas para uma história de Florianópolis através de suas livrarias, livreiros e livros (1830-1950). Florianópolis: Editora da UFSC, 2008.
  • MINDLIN, José. Uma vida entre livros: reencontros com o tempo. São Paulo: EDUSP/Companhia das Letras, 2008.
  • RAMOS, Graciliano. Linhas tortas. São Paulo: Martins, 1962.
  • RAMOS, Graciliano. Cartas. Rio de Janeiro: Record, 1981.
  • RAMOS JÚNIOR, José de Paula; DEAECTO, Marisa Midori; MARTINS FILHO, Plínio. Paula Brito: editor, poeta e artífice das letras. São Paulo: EDUSP/Com-Arte, 2010.
  • PEREIRA, José Mário (Org.). José Olympio: o editor e sua casa. Rio de Janeiro: Sextante, 2008.
  • PEREIRA, Lúcia Miguel. A leitora e seus personagens: seleta de textos publicados em periódicos (1921-1943). Rio de Janeiro: Graphia Editorial, 1992.
  • SECCO, Lincolm; DEAECTO, Marisa Midori (Orgs.). Edgard Carone: leituras marxistas e outros estudos. São Paulo: Xamã, 2004.
  • SENNA, Homero de. República das letras: entrevistas com 20 grandes escritores brasileiros. 3.ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.
  • SOARES, Lucilia. Rua do Ouvidor 110: uma história da Livraria José Olympio. Rio de Janeiro: José Olympio/Fundação Biblioteca Nacional, 2006.
  • SORÁ, Gustavo. Livraria Schmidt: literatura e política. Gênese de uma oposição elementar na cultura brasileira. Novos Estudos CEBRAP, n. 61, p. 131-164, nov. 2001.
  • SORÁ, Gustavo. Brasilianas: José Olympio e a gênese do mercado editorial brasileiro. São Paulo: EDUSP/Com-Arte, 2010.
  • TOLEDO, Maria Rita de Almeida. Coleção Atualidade Pedagógica: do projeto político ao projeto editorial (1931-1981). 2001. Tese (Doutorado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de são Paulo, São Paulo, 2001.
  • TORRESINI, Elisabeth Rochadel. Editora Globo: uma aventura editorial dos anos 30 e 40. São Paulo: EDUSP/Com-Arte; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1999.
  • VILLAÇA, Antonio Carlos. José Olympio: o descobridor de escritores. Rio de Janeiro: Thex Editora, 2001.

Notas

  • 1
    Para a trajetória da Garnier no Brasil, assim como para as demais editoras citadas, consultar o trabalho seminal de Hallewell (2005).
  • 2
    Sobre a trajetória pessoal de José Olympio e sua atuação no mercado livreiro e editorial, consultar: PEREIRA (2008), SOARES (2006), SORÁ (2010) e VILLAÇA (2001).
  • 3
    Texto publicado originalmente em 1942, na brochura Uma data do livro brasileiro, comemorativa do oitavo aniversário de inauguração da livraria, segundo informa Soares (2006, p. 176), que também reproduz o texto de Graciliano Ramos.
  • 4
    A respeito da trajetória da Companhia Editora Nacional, fundada por Monteiro Lobato e Octalles Marcondes Ferreira em meados da década de 1920, ver: BEDA (1987), KOSHIYAMA (2006), TOLEDO (2001). Sobre a aquisição da Civilização Brasileira, consultar o depoimento de Ênio Silveira (FERREIRA, 2003).
  • 5
    Sobre a difusão e as transformações da etiqueta de livros no Brasil, consultar o cuidadoso levantamento de Machado (2003), a partir do qual fica patente a não especialização da atividade livreira nos seus primórdios, quando os volumes dividiam espaço com produtos variados – papel, tinta, perfumes, rapé, tecidos. Num outro registro, Carrión (2017) conduz o leitor por livrarias que ele visitou ao redor do mundo e compartilha cartões, apontamentos, fotografias e postais que reuniu ao longo de suas viagens.
  • 6
    Cabe lembrar que a revista Arvore Nova veio a público em agosto de 1922, mas não passou do sexto número.
  • 7
    Esse ponto é reiterado por José Geraldo Vieira, Murilo Araújo, Sérgio Buarque de Holanda (CHAVES, 1977, v. 2).
  • 8
    Em seu depoimento, José Geraldo Vieira afirma que os redatores eram remunerados, mas não os colaboradores. Frente aos renovados apelos, “O próprio interessado, após algumas semanas do convite e da insistência, acabava deixando na caixa o seu soneto, o seu conto, o seu ensaiozinho” (apud CHAVES, 1977, v. 2, p. 336).
  • 9
    Vale lembrar que a Livraria Schettino, “quartel-general” de Grieco, também era uma editora, pela qual saiu o seu Fetiches e fantoches (1921). A respeito da importância desta casa nos anos 1920 e de seu declínio no início do decênio seguinte, consultar HALLEWELL (2005, p.419-420).
  • 10
    Aprofundam-se aqui algumas considerações preliminares apresentadas em Luca (2017).
  • 11
    Síntese do que o próprio Grieco entendia por crítica encontra-se em Senna (1996, p. 28-29).
  • 12
    A respeito das múltiplas atividades de Tomás Santa Rosa Júnior como pintor, ilustrador, artista gráfico, decorador, figurinista, coreógrafo, gravador, professor e crítico, ver: BARSANTE (1993) e BUENO (2015).
  • 13
    Sobre a Coleção Azul ver: SECCO e DEAECTO (2004, p. 125-164), que apresenta dados diversos daqueles fornecidos por Hallewell (2005) no que tange aos títulos que integravam a coleção.
  • 14
    É curioso que no depoimento a SENNA (1996, p. 233-248), Cruls mencione o Boletim de Ariel apenas de passagem e, em nenhum momento, referira-se a sua experiência como diretor da publicação.
  • 15
    A mudança no padrão foi anunciada no Boletim de Ariel, ano III, n. 12, p. 319, set. 1934, nos seguintes termos: “A partir do próximo número [...] o Boletim passará a circular com capa de padrão novo e em papel sempre da mesma cor.”
  • 16
    No Boletim de Ariel, ano II, n. 12, p. 318, set. 1932, informa-se aos leitores o seguinte: “A partir do próximo número, com que se iniciará o terceiro ano de existência, essa revista, continuando sob a mesma direção e mantendo o seu atual redator chefe, contará com o prestigioso apoio e a esclarecida assistência de um conselho consultivo [...]. Nomes que dispensam encômios e são um penhor seguro dos altos desígnios a que aspira o Boletim de Ariel, há de ser também dos nossos leitores a justificada alegria com que lhes damos tão auspiciosa notícia”.
  • 17
    Eis um trecho do longo editorial, assinado por integrante do conselho consultivo: “Ora, a literatura, que não pode ser exclusivamente a zona neutra da fantasia e do sonho, o país da evasão e da renúncia, da arte pela arte, das atitudes ensimesmadas, a literatura que é social por excelência, teve que definir-se (sic). Donde a esquerda e a direita literárias. [...] Impende-lhe [ao literato] verificar se é exato que, enquanto a esquerda insiste no primado do social, a direita sobrepõe ao sentido do social o sentido humano, que enquanto a esquerda prega misticamente a revolução, a direita descobre ‘a verdadeira mística’, que, enquanto a esquerda deblatera contra as desigualdades e as injustiças sociais, contra a exploração do homem pelo homem, a direita perscruta o ‘verdadeiro sentido da vida’ [...]. E que partido poderia tomar quem veio até aqui gauchement, por estas linhas tortas?” (REIS, V. de Miranda. A esquerda e a direita literárias. Boletim de Ariel, ano IV, n. 11, p. 289-290, ago. 1935.)
  • 18
    Notícia sobre o surgimento da coleção em Boletim de Ariel, ano II, n. 9, p. 245, jun. 1933. Para a referência às editoras, consultar: Boletim de Ariel, ano VII, n. 12, p. 345, set. 1938 (Livraria do Globo) e p. 354 (Nacional e José Olympio).
  • 19
    GRIECO, Agripino. Revistas. Boletim de Ariel, ano I, n. 1, p. 15, out. 1931.
  • 20
    Boletim de Ariel, ano II, n. 11, p. 300, ago. 1933, sem assinatura.
  • 21
    Boletim de Ariel, ano III, n. 2, p. 36, nov. 1933, sem assinatura.
  • 22
    Boletim de Ariel, ano IV, n. 5, p. 148, fev. 1935, sem assinatura.
  • 23
    Boletim de Ariel, ano V, n. 7, p. 187, abr. 1936, sem assinatura.
  • 24
    Ver, por exemplo, Boletim de Ariel, ano V, n. 6, p. 141-142 e 159, mar. 1936, respectivamente.
  • 25
    Eis a integra da nota, publicada no Boletim de Ariel, ano V, n. 12, p. 313, set. 1936: “Com o presente número completa a nossa revista o seu quinto ano de existência e, a despeito das dificuldades que em nossa terra encontram todas as iniciativas de cultura, é-nos grato constatar que não tem faltado o apoio e a colaboração das nossas elites intelectuais. A partir do próximo número, sempre visando corresponder às exigências e, ao bom gosto do nosso público, o Boletim de Ariel terá o seu texto acrescido de mais quatro páginas, exclusivamente dedicadas a trabalhos de ficção, tanto de prosa como de poesia. Serão sempre da nossa preferência os trabalhos ainda inéditos e, entre esses, os pequenos contos, mas quando estes nos faltarem à nossa escolha, daremos páginas antológicas, onde se recordem os grandes escritores brasileiros.”
  • 26
    Boletim de Ariel, Ano II, n. 6, p. 161, mar. 1933. Ou ainda: “Srs. Escritores, Livreiros e Editores: Anunciai no Boletim de Ariel: é a melhor propaganda que podeis fazer de vossos livros”. Boletim de Ariel, ano II, n. 7, abr. 1933, p. 168. De fato, várias livrarias e editoras anunciam nas páginas do Boletim, como a Livraria Católica e a Companhia Editora Nacional. Idem, Ano II, n. 8, p. 206 e 210, maio 1933, por exemplo.
  • 27
    Ver Boletim de Ariel, ano IV, n. 7, abr. 1935, p. 183; Idem, ano VI, n. 6, p. 137, fev. 1937 e Idem, ano V, n. 5, p. 129, fev. 1936, respectivamente.
  • 28
    Este é um exemplo em dezenas, particularmente presente nos primeiros anos da publicação. Boletim de Ariel, ano II, n. 12, p. 323, set. 1933.
  • 29
    Boletim de Ariel, ano 1, n. 9, p. 13, jun. 1932.
  • 30
    Ver: MENDES, Murilo. Notas sobre Cacau. Boletim de Ariel, ano II, n. 12, p. 317, set. 1933, que também se refere a Parque Industrial, e COSTA, Dias da. Cacau. Boletim de Ariel, ano 3, n. 2, p. 36, nov. 1933.
  • 31
    A título de exemplo sobre Gastão Cruls, consultar: Boletim de Ariel, ano VII, n. 7, p. 216, abr. 1938; para Agripino Grieco: Boletim de Ariel, ano II, n. 9, p. 245, jun. 1933; para Lúcia Miguel Pereira, consultar: Boletim de Ariel, ano VI, n. 5, p. 137, fev. 1937.
  • 32
    Ver, respectivamente, Boletim de Ariel, ano IV, n. 7, p. 183, abr. 1925, e ano VI, n. 1, s/n, out. 1936, página de propaganda localizada no final da revista.
  • 33
    Boletim de Ariel, ano VI, n. 2, p. 45, nov. 1936. Eis a íntegra da nota: “Temos a satisfação de comunicar aos nossos prezados leitores, fregueses e amigos do interior que estamos estudando e concluindo um convênio com a importante casa Civilização Brasileira S.A., desta capital, no sentido de tornar a mesma a distribuidora exclusiva das Edições Ariel. Num programa de ação em conjunto, visamos para o ano de 1937 desenvolver mais vivamente os nossos negócios”. No mesmo número, p. 41, comunicava-se a mudança dos escritórios da Ariel para o edifício da Civilização Brasileira.
  • 34
    Os exemplares consultados, pertencentes à biblioteca do IEB/USP e ao acervo da Profa. Dra. Ana Maria de Almeida Camargo, a quem registro meus agradecimentos, não contém as folhas finais, sem numeração e integralmente reservadas às propagandas, possivelmente descartadas quando da encadernação. A exceção fica por conta do ano VI, n. 1, out. 1936, pertencente ao IEB/USP, do qual as informações foram retiradas. A apresentação das obras por temas evidencia os vários campos de atuação da Ariel e, caso fosse possível, a consulta sistemática a essas páginas permitiria mapear todos os autores e títulos lançados.
  • 35
    Boletim de Ariel, ano I, n. 12, p. 8, set. 1932; Idem, ano II, n. 1, p. 22-23, out. 1932; Idem, ano II, n. 7, p. 172, abr. 1933, respectivamente.
  • 36
    Serviço de Reembolso. Boletim de Ariel, ano VI, n. 1, s/n, out. 1936.
  • 37
    Boletim de Ariel, ano II, n. 2, p. 35, nov. 1932 e Ano VI, n. 1, s/n, out. 1936.
  • 38
    Esta é a data do último exemplar encontrado na Fundação Casa de Rui Barbosa, não sendo possível estabelecer, com toda segurança, se foi efetivamente o último publicado. O Acervo do IEB/USP possui os números publicados entre outubro de 1931 e setembro de 1938.
  • 39
    Os índices publicados ao final de cada ano são de grande valia para caracterizar o perfil dos colaboradores. Pode-se afirmar que praticamente todos os que alcançaram destaque no cenário cultural fizeram-se presentes nas páginas do Boletim, o que torna pouco eficaz o longo arrolamento de nomes.
  • 40
    Dentre os membros do conselho que também eram colaboradores ativos, merecem destaque: Alberto Ramos, Ademar Cavalcanti, A. J. de Sampaio, Alcides Bezerra, Antonio Torres, Augusto Frederico Schmidt, Edgard Cavalheiro, Francisco Venâncio Filho, Jorge Amado, Jorge de Lima, Luís da Câmara Cascudo, Valdemar Cavalcanti e Saul Borges.
  • 41
    A obra reúne contribuições provenientes d’A Ordem, Boletim de Ariel, Gazeta de Notícias, Lanterna Verde e Revista do Brasil (3a fase), com os quais colaborou de forma assídua no período citado (PEREIRA, 1992).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2017

Histórico

  • Recebido
    13 Out 2017
  • Aceito
    12 Nov 2017
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