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Um flâneur no sertão: Sylvio Floreal no Noroeste Paulista

A flâneur in the backcountry: Sylvio Floreal in the northwest of São Paulo

RESUMO

O jornalista e escritor paulista Domingos Alexandre, mais conhecido pelo pseudônimo Sylvio Floreal, foi um dos mais importantes cronistas da cidade de São Paulo nas primeiras décadas do século XX. Entretanto, sua biografia permanece em grande parte desconhecida, apesar do interesse crescente em sua obra. Este artigo tem como objetivo analisar a passagem de Sylvio Floreal pela cidade de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, entre os meses de maio e junho de 1926, ajudando a revelar o seu paradeiro profissional nos momentos que imediatamente antecederam a produção daquele que seria o seu último livro, O Brasil Trágico - impressões, visões e mistérios de Mato Grosso, publicado em 1928, o que permite, ao mesmo tempo, lançar alguma luz sobre os anos finais de sua vida.

Palavras-chave:
interior paulista; jornalismo; impressos; campo intelectual; redes de sociabilidade

ABSTRACT

Domingos Alexandre, journalist and writer from São Paulo and best known by the pseudonym Sylvio Floreal, was one of the city’s most important chroniclers in the first decades of the twentieth century. However, his biography still remains mostly unknown, despite the increasingly growing interest in his work. The present paper aims to analyze Sylvio Floreal's passage through the city of São José do Rio Preto, located in the countryside of São Paulo State, between May and June of 1926, helping to reveal his professional whereabouts immediately prior to the production of what would be his last book, O Brasil Trágico - impressões, visões e mistérios de Mato Grosso [The Tragic Brazil - impressions, visions and mysteries of Mato Grosso], published in 1928, which, at the same time, sheds some light on the final years of his life.

Keywords:
countryside of São Paulo; journalism; publications; intellectual field; sociability networks

I

No Brasil da década de 1920 os jornais e revistas ocupavam um papel importante na mediação das relações políticas, sociais e culturais. Jornalistas de formação prática, escritores, políticos e religiosos divulgavam nas páginas dos impressos suas opiniões sobre os mais diversos assuntos, colocando-se como forças influentes no processo de urbanização que avançava a passos largos no país. Especialmente no interior de São Paulo, o que se vê é uma efervescência da imprensa escrita, principalmente por meio dos jornais, que nasceram nas cidades que se encadeavam ao longo dos cinco grandes entroncamentos ferroviários os quais apontavam para praticamente todos os eixos do estado (Sorocabana, Paulista, Mogiana, Noroeste e Araraquarense). Ao mesmo tempo, ao redor dessas redações, grupos de letrados pensavam os periódicos como locais apropriados para a discussão dos seus problemas e dilemas, em uma temporalidade distinta, ora complementar, ora antagônica em relação às questões enfrentadas nos ambientes literário, político e jornalístico das grandes capitais.

Os anos iniciais do século XX foram especialmente importantes para a região noroeste paulista, a qual tinha as cidades de Araraquara, Jaboticabal e São José do Rio Preto como os centros de atração econômica e populacional. Foi um período de acentuado desenvolvimento estrutural, devido à expansão cafeeira, que se potencializou com a chegada dos trilhos. A Cia. Paulista alcançou Jaboticabal em 1892. Partindo da cidade de Araraquara, a recém fundada Estrada de Ferro Araraquara (EFA), como ficou mais conhecida, construiu seu primeiro trecho de 75 km até Taquaritinga em 1901, chegando a São José do Rio Preto em 1912 (MATOS, 1990MATOS, Odilon Nogueira de. Café e ferrovias: a evolução ferroviária de São Paulo e o desenvolvimento da cultura cafeeira. Campinas: Ed. Pontes, 1990. ). O ponto final desejado da EFA seria a localidade de Porto Taboado, atualmente parte do município de Rubinéia, almejando a divisa entre São Paulo e Mato Grosso (hoje Mato Grosso do Sul). Entretanto, este destino só seria alcançado definitivamente na década de 1950, e a tão esperada transposição do rio Paraná, por meio de uma ponte, deu-se somente em 1998, quase cem anos após o decreto original, expedido pelo governo paulista, que autorizou o início da construção da ferrovia.

O geógrafo Pierre Monbeig (1984MONBEIG, Pierre. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. Tradução Ary França e Raul de Andrade e Silva. São Paulo: Ed. Hucitec, 1984. ), em seu estudo sobre as franjas pioneiras, identificou a região noroeste do estado como uma zona em franca ascensão, movida pela vigorosa produção cafeeira e pela facilidade de comercialização possibilitada pela chegada dos trilhos nas décadas de 1910 e 1920; movimento que impulsionou o surgimento de novas cidades ao mesmo tempo em que consolidou o papel de Araraquara e São José do Rio Preto como referências regionais. Esta, de povoamento recente, mas com a vantagem de possuir terras ainda intocadas e férteis, características com forte apelo econômico e poder de atração, frente àquela, mais antiga, bastante (re)conhecida no ambiente político do interior paulista, com elites locais mais bem posicionadas e influentes* 1 Uma análise abrangente sobre a história, a vida política e a formação das elites em Araraquara pode ser encontrada no trabalho de Anna Maria Martinez Correia, Araraquara - 1720-1930 (2008). . Portanto, afora as suas diferenças, e considerando-se as suas semelhanças, pesquisas recentes revelam o incremento dos signos da vida urbana como reflexo da inserção dessas duas cidades nesse cenário de desenvolvimento.

No livro Fotografia e memória em Araraquara, Luiz Flávio de Carvalho Costa (2015COSTA, Luiz Flávio de Carvalho. Fotografia e memória em Araraquara. São Paulo: Cultura Acadêmica Editora, 2015. ) revela, por meio de imagens captadas tanto por profissionais quanto por amadores, como a cidade de Araraquara possuía uma variedade de espaços destinados à cultura, como cinemas e teatros, imersos em um cenário que se transformava rapidamente, impulsionado, em larga medida, pelo capital cafeeiro. Tais modificações resultam do empenho das elites locais em dialogar com os projetos de modernidade próprios do período, revelados, principalmente, por meio da remodelação do espaço público, emulando no interior do estado as intervenções urbanísticas e arquitetônicas já realizadas em diversas capitais do Brasil** 2 Para um estudo específico sobre essas modificações no Brasil, na virada do século XIX, em especial nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, e o “tumulto” e a “desordem” resultante dessas políticas marcadas por agressivas reformas urbanas, consultar Paulo César Garcez Marins (2006). . Nesse sentido, de acordo com Claudia Regina Vargas, “A moderna Araraquara deveria tornar-se símbolo de progresso, desenvolvimento cultural e salubridade” (VARGAS, 2000VARGAS, Cláudia Regina. As várias faces da cidade: Bento de Abreu e a modernização de Araraquara (1808-1916). 2000. Dissertação (Mestrado em História) - Faculdade de História, Direito e Serviço Social, Universidade Estadual Paulista, Franca, 2000. , p. 90).

De modo semelhante, São José do Rio Preto, que a partir de 1912 tornou-se, ainda que de forma inesperada, a última estação da Araraquarense, começou a sentir as benesses criadas exatamente por esta condição de ponta de trilhos*** 3 Entre os anos de 1912 e 1933, os trilhos da EFA ficaram estacionados na cidade de São José do Rio Preto, devido a problemas administrativos e financeiros enfrentados pela empresa que controlava a ferrovia. Sobre este tema, consultar: VIEIRA (1954). . Do pobre e acanhado povoado, ao final do século XIX, que mereceu a ironia de Euclides da Cunha durante sua breve passagem pela região em 1901: “Escobar, anteontem te escrevi dando notícias minhas e respondendo tua carta de 6. Escrevo-te hoje novamente antes de partir para S. José do Rio Preto (imagina!) em longa travessia” (CUNHA, 2009CUNHA, Euclides da. Obra Completa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 2009. v. II. 2v., p. 857), vê-se surgir uma cidade em crescimento na segunda década do século XX. Com uma população estimada em 28.000 pessoas em 1928, ante os 1.200 habitantes em 1912, o que se revela é um ambiente urbano em pleno processo de modernização. De acordo com Raquel Discini de Campos, Rio Preto contava, na década de 1920, com “dois grupos escolares, 10 colégios particulares e um ginásio, além de 3 cinemas, algumas casas de saúde, 16 hotéis, uma Santa Casa e um incipiente projeto de teatro (CAMPOS, 2004CAMPOS, Raquel Discini de. A “Princesa do Sertão” na modernidade republicana. São Paulo: Ed. Annablume, 2004. , p. 41-42). Além disso, dois jornais, O Município, criado em 1916, e A Notícia, fundado em 1924, compunham o principal do jornalismo impresso, reverberando, educando e festejando a tão aguardada chegada da “civilização” naquele distante sertão paulista.

Na verdade, O Município e A Notícia não foram os primeiros jornais da cidade. A escritora e jornalista Dinorath do Valle (1994VALLE, Dinorath do. Jornais de Rio Preto. São José do Rio Preto: Ed. A Notícia, 1994. ) e o historiador Lelé Arantes (2001ARANTES, Lelé. São José do Rio Preto de A a Z. São José do Rio Preto: Casa do Livro, 2001. ; 2008ARANTES, Lelé. Almanaque da História de São José do Rio Preto. São José do Rio Preto: THS Editora/Jornal Bom dia, 2008.), informam-nos sobre a existência de uma série de periódicos anteriores, muitos dos quais de vida efêmera, tais como O Semeador, Album de Rio Preto, A Onda, A Cidade e Norte Paulista. Entretanto, as publicações mais antigas em circulação foram a revista Cosmos, criada em 1901 pela Loja Maçônica local, mas cujo primeiro número, dos três únicos produzidos, foi distribuído somente no ano seguinte, após ser impresso pela tipografia Arnaldo Carnevali & Cia, em São Paulo; pouco depois surgiria o jornal O Porvir, cujo exemplar inicial data de 12 de julho de 1903. Este sim, bem mais longevo, circulou de forma ininterrupta até meados da década de 1920. Distribuído no formato 21x 31, com periodicidade semanal, ofertava ao leitor assinaturas semestrais ou anuais. Ao longo de sua história, o jornal franqueou, principalmente às elites letradas, um espaço para discussões e reflexões políticas, econômicas e culturais, além de acompanhar os fatos cotidianos daquele núcleo urbano que adentrava o século XX cheio de expectativas.

Após este momento inicial da história da imprensa rio-pretense, que pode ser considerado como um período de formação, o cenário encontrado pelos jornais O Município e A Notícia, na década de 1920, era bem diferente. Existia um ambiente urbano mais diversificado e o município crescia embalado na efervescência cafeeira e na ampliação do ambiente comercial, estimulado pelo crescente afluxo de migrantes e imigrantes. Do mesmo modo, estava à disposição da população letrada uma imprensa escrita atuante, inserida no cotidiano dos seus cidadãos, produzida por uma miríade de agentes (jornalistas, tipógrafos, literatos, políticos, ou simplesmente aventureiros), também preocupados em manter a sobrevivência econômica de seus empreendimentos. E foi este cenário em transformação que atraiu Sylvio Floreal até São José do Rio Preto no ano de 1926. Tratou-se de uma passagem, sem dúvida, fortuita, mas que acrescenta alguns dados à uma biografia em parte desconhecida, da mesma forma que favorece uma reflexão sobre as atividades e as formas de funcionamento da imprensa no interior de São Paulo no exato momento de sua consolidação e expansão.

II

A trajetória do jornalista Domingos Alexandre, o homem por detrás da persona Sylvio Floreal, ainda carece de informações mais detalhadas. Mesmo os trabalhos recentes sobre o autor, como os de Nelson Schapochnik (2002SCHAPOCHNIK, Nelson. Ronda Paulistana (Apresentação). In: FLOREAL, Sylvio. Ronda da meia noite - vícios, misérias e esplendores da cidade de São Paulo. São Paulo: Boitempo Editorial, 2002. p. 11-17.), Margareth Rago (2003RAGO, Margareth. Nas margens da Paulicéia (Apresentação). In: FLOREAL, Sylvio. Ronda da meia noite - vícios, misérias e esplendores da cidade de São Paulo. São Paulo: Paz e Terra, 2003. p. 3-7. ) e Rafael Rodrigo Ferreira (2018GOMES, Leonardo. Gente que ajudou a fazer Rio Preto uma grande cidade. São Paulo: Ed. Gráfica São José, 1975. ) são bastante econômicos no que diz respeito à sua biografia, que ainda precisa ser mais bem compreendida. Do mesmo modo, os dicionários de literatura brasileira apresentam poucos dados sobre sua vida, isto quando seu nome é lembrado**** 4 Mesmo a nova edição revista e ampliada da Enciclopédia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho e José Galante de Sousa (2001, p. 184), que se pretende uma das referências do gênero, traz um lacônico e incompleto verbete sobre Domingos Alexandre: “(Santos, SP? - São Paulo, SP, 1929) cronista, romancista, funcionário postal. Pseud. Silvio Floreal. Atitudes (1922); Ronda da Meia Noite (1925); Coragem de Amar; O rei dos caça dotes”. Já no prestigiado Pequeno Dicionário de Literatura Brasileira, organizado por José Paulo Paes e Massaud Moisés (1969), inexiste um verbete sobre Sylvio Floreal. Também o crítico literário Wilson Martins (1996, p. 251) refere-se exclusivamente ao livro Atitudes, apresentando como informação complementar, entre parênteses, somente a data da morte mais aceita - 1929 -, de Domingos Alexandre. . Esta carência de vestígios concretos acaba muitas vezes exigindo a formulação de hipóteses dos que se dedicam ao estudo do autor, suprindo as lacunas deixadas pelos documentos disponíveis: recurso utilizado por Cilza Carla Bignotto em suas análises sobre o “caso Sylvio Floreal”, quando examina, por exemplo, suas relações com Monteiro Lobato e Lourenço Filho na Revista do Brasil (2018BIGNOTTO, Cilza Carla. Figuras de autor, figuras de editor: as práticas editoriais de Monteiro Lobato. São Paulo: Editora Unesp, 2018. , p. 423). Diante de tais ressalvas, vamos aos fatos.

Sabemos que nasceu em berço de imigrantes italianos, em Santos, e que atuou na imprensa operária em sua cidade natal, para depois se inserir no cenário paulistano, fundando revistas e publicando ativamente em jornais da capital, onde morreu em 1928***** 5 Rafael Rodrigo Ferreira (2018), aponta o ano de 1928 como o da morte do autor, e não 1929, data mais comumente aceita. . Com precisão, temos as datas de publicação de seus quatro livros mais conhecidos: Attitudes, publicado pela Casa Duprat de São Paulo em 1922; A coragem de amar - O romance da nova raça, de 1924FLOREAL, Sylvio. A coragem de amar: o romance da nova raça. São Paulo: [s.n.], 1924. , indicando a cidade de São Paulo, mas sem informação da editora no exemplar original consultado; Ronda da meia noite - vícios, misérias e esplendores da cidade de São Paulo, pela Tipografia Cupolo de São Paulo em 1925; e, finalmente, O Brasil Trágico - impressões, visões e mistérios de Matto-Grosso, publicado em 1928, em São Paulo, pela Gráfica Rossetti. Dos quatro, sem dúvida os dois últimos foram os mais bem acabados do ponto de vista gráfico, o que revela um investimento substancial da editora que pode ter contado, também, com a ajuda financeira do próprio autor, fato não incomum à época****** 6 Segundo Bignotto (2018, p. 434), isto aconteceu pelo menos com o livro Atitudes, de 1922, custeado pelo próprio autor. .

O quadro mais vivo que temos sobre Sylvio Floreal foi desenhado por Brito Broca, que chegou a conhecer o autor sem pertencer, entretanto, ao seu círculo íntimo, descrevendo-o como uma figura por demais corpulenta, mas com “desenvoltura no porte”, que “andava geralmente de bengala”, revelando talvez um dos traços que levaram o próprio Broca a chamar o escritor santista de “o último boêmio”, fixando-lhe então uma imagem de flâneur já meio antiquada (BROCA, 1968BROCA, Brito. Memórias. Rio de Janeiro: José Olympio , 1968. , p. 178-9). Na mesma descrição encontramos o termo “literato ambulante” para definir Floreal, que Ferreira (2018GOMES, Leonardo. Gente que ajudou a fazer Rio Preto uma grande cidade. São Paulo: Ed. Gráfica São José, 1975. ) reemprega como uma forma de explicar e explicitar uma certa situação “marginal” ocupada pelo autor no ambiente literário da cidade de São Paulo, apesar de sua grande circulação por uma série de periódicos nas décadas de 1910 e 1920, sem que isto se tenha revertido em um capital simbólico consolidado, ou mesmo em uma posição central no mundo das letras do período.

Entretanto, o adjetivo “ambulante” insinua também um outro lado que, segundo Bignotto, “deixou poucos rastros” (BIGNOTTO, 2018BIGNOTTO, Cilza Carla. Figuras de autor, figuras de editor: as práticas editoriais de Monteiro Lobato. São Paulo: Editora Unesp, 2018. , p. 433), que é o de escritor viajante. Nesse sentido, alguns elementos permitem-nos recompor os passos do autor de Ronda da meia noite em busca de trabalho como “homem de letras” fora do eixo das capitais, oportunidade que pode ter se mostrado primeiramente ao autor a partir de suas experiências como vendedor de assinaturas da Revista do Brasil. De algum modo Floreal percebeu a existência de um espaço de oportunidades surgidas naquele momento de modernização dos meios impressos de comunicação, os quais permitiram sua expansão para além das capitais, consolidando-se e expandindo-se fortemente pelo interior do país (MARTINS; LUCA, 2006MARTINS, Ana Luiza; LUCA, Tania Regina de. Imprensa e Cidade. São Paulo: Ed. Unesp , 2006. ; CAMPOS, 2009 CAMPOS, Raquel Discini de. Mulheres e crianças na imprensa paulista (1920-1940): educação e história. São Paulo: Ed. Unesp, 2009.). É o que se pode inferir por meio da leitura de muitos de seus textos, como no artigo “Um grito no deserto”, publicado no livro Attitudes (1922FLOREAL, Sylvio. Attitudes. São Paulo: Casa Duprat, 1922. ), em que parece estar ciente do crescente desenvolvimento da impressa escrita nas cidades do interior paulista, ou mais claramente no livro O Brasil Trágico (1928 FLOREAL, Sylvio. O Brasil trágico: impressões, visões e mistérios do Mato-Grosso. São Paulo: Grafica Rossetti, 1928. ), repleto de relatos sobre a sua experiência como jornalista no Mato Grosso, apoiando-se em seus colegas pertencentes às elites letradas regionais.

Essa evidência, preservada nas fontes disponíveis, sobre um importante deslocamento para fora da cidade de São Paulo, ao longo da segunda metade da década de 1920, ganha força com a afirmação de Arantes (2001ARANTES, Lelé. São José do Rio Preto de A a Z. São José do Rio Preto: Casa do Livro, 2001. , p. 337), que aponta a existência de uma sociedade entre Sylvio Floreal e o jornalista português Abilio Abrunhosa Cavalheiro na fundação da revista A Flexa. Esta é uma informação relevante, pois, segundo Vinícius Vieira Silva (2019SILVA, Vinícius Vieira. O Álbum Ilustrado da Comarca de Rio Preto e a educação enunciada (1920-1929): histórias, memórias e identidades alentadas em verbo-visualidade. 2019. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2019. , p. 37-38), eles teriam ampliado esta parceria, participando juntos da elaboração e publicação do Album Ilustrado da Comarca de Rio Preto, produzido ao longo do ano de 1927 e editado ao final do ano de 1929 pela Editora Duprat-Mayença; trabalho que implicaria, certamente, em viagens para o interior paulista******* 7 Acompanhando essa mesma linha de raciocínio, não pode passar despercebido o fato da Editora Casa Duprat, pertencente aos irmãos Alfredo Duprat e Raimundo da Silva Duprat, que editou o Álbum da Comarca, em 1929, ter sido também a responsável pela publicação do primeiro livro de Sylvio Floreal, Attitudes, de 1922. . Essa hipótese pode ser reforçada ao acompanharmos a passagem do autor pela cidade de São José do Rio Preto, em 1926, documentada nas páginas do jornal O Município.

Em 6 de junho de 1926, este jornal anunciou, em sua primeira página, o festival literário, com destaque para a presença de Sylvio Floreal, a ser realizado no dia seguinte - portanto, 7 de junho -, nas dependências do Éden Parque, uma casa de espetáculos, bar, e mais tarde cinema, fundada originalmente em 1912 pelo comerciante Paschoal Bevilacqua. Em 1926, o jornal O Município e o Éden Parque eram comandados pela mesma pessoa, o imigrante português Gaudêncio Maia, que divulgava a agenda cultural local nas páginas de seu periódico. Nesta mesma época, um outro matutino, A Notícia, de propriedade do jornalista Nelson da Veiga, também anunciava eventos de lazer e entretenimento, estabelecendo uma concorrência que movimentou a vida cultural da cidade nos anos 1920******** 8 São de fundamental importância para a reconstrução dessa história política e cultural de São José do Rio Preto os trabalhos de Dinorath do Valle (1994), Leonardo Gomes (1975), Oswaldo Tonello (1998), Lelé Arantes (2001; 2006) e Agostinho Brandi (2002; 2012). . É neste contexto de disputa entre dois veículos de comunicação que o jornal O Município apresentou o seu mais novo convidado:

Realisa-se amanhã, conforme temos anunciado, o festival literário promovido pelo brilhante literato patrício Sylvio Floreal, que a dias acha-se em visita à nossa cidade.

Nessa festa de arte Sylvio Floreal dirá em seu formoso trabalho - gênero humorístico - sob o suggestivo título “a história de alguns contos de vigário”.

Em dita festa que se realisará no Eden Parque, tomarão parte diversos intellectuaes de nossa cidade, de sorte que a festa será, por certo, das mais encantadores para o nosso meio.

O distinto e apreciado beletrista será apresentado à plateia riopretana pelo senhor doutor Alceu de Assis, um dos mais brilhantes espíritos de nossa sociedade.

Seguir-se-á um “cabarét” literário em que tomarão parte os s.r.s dr. Floriano de Lemos, dr. Jacintho Angerami, dr. Jayme Peçanha, dr. Tavares de Almeida, prof. Dario de Jesus, Lourival de Oliveira M. dos Reis Araújo e prof. Alvaro Marcílio.

A segunda parte da noitada de arte será tomada pela conferencia de Sylvio Floreal que se subdividirá nos seguintes topicos: Ladrão versus Ladrão - a tragédia do bello rapaz - O arco-iris das promessas - os contos do vigário dos suicidas - Os contos do vigário da amizade - Trilogia do ridículo - A comedia dos cabotinos - Devoradores, devorados e carécas - O conto do vigário das mulheres e das modas - A mentira colaborando com a civilização - O conto do vigário dos conferencistas (O município, 1926aREALISA-SE amanhã, conforme temos anunciado. O Município, São José do Rio Preto, 6 jun. 1926a.)********* 9 Para respeitar o teor completo e singular da fonte, o autor escolheu manter a grafia original, inclusive na divisão entre letras maiúsculas e minúsculas, salvo quando se tratar de algum evidente equívoco tipográfico. .

A primeira questão a ser considerada refere-se à data provável de chegada e ao período de permanência do “ilustre convidado, uma vez que a nota reporta a sua presença já há algum tempo na cidade - “a dias” (sic) -, sem dúvida com o intuito de valorizar a boa vontade e a dedicação do escritor para com os seus anfitriões. À época, uma viagem por trilhos de São Paulo a São José do Rio Preto demorava, em média, pouco mais de um dia. Portanto, ele poderia ter chegado pela Estrada de Ferro Araraquara, depois de sair da capital utilizando a Cia Paulista, não muito antes de sua conferência. Entretanto, podemos acreditar que a passagem por Rio Preto não foi tão breve e teria servido como uma espécie de preparação para uma viagem muito maior, que levaria Sylvio Floreal em direção ao Mato Grosso; experiência que daria origem, mais tarde, ao livro O Brasil Trágico. Essa afirmação é possível ao seguirmos as pistas fornecidas pelo próprio autor ao longo desta que seria sua última obra publicada em vida.

Felizmente para o historiador, Sylvio Floreal não somente datou seus textos reunidos no livro de 1928LUCA, Tania Regina. A Ilustração (1884-1892): circulação de textos e imagens entre Paris, Lisboa e Rio de Janeiro. São Paulo: Ed. Unesp , 2018. , como também indicou, com precisão, os locais por ele visitados, o que nos permite criar uma cronologia verossímil de sua passagem por São José do Rio Preto. De certo modo, o livro O Brasil Trágico é um relato de viagem ao longo do território do Mato Grosso, cheio de narrativas pitorescas sobre o sertão, com início na cidade de Três Lagoas, em julho de 1926, passando por Campo Grande, Ponta Porã, Cuiabá, Corumbá, Aquidauana, Santa Rita do Araguaia, até se encerrar em Lageado, em 20 de julho de 1927. Já o primeiro texto do livro, em que o autor faz uma espécie de apresentação, intitulada Panno de boca do scenario da tragédia, traz como local e data a cidade de São Paulo e o dia 22 de dezembro de 1927, confirmando que Floreal já havia retornado à capital paulista ao final deste mesmo ano, depois de sua expedição ao Mato Grosso, portanto, pouco antes de sua morte.

Não obstante, o que nos interessa neste momento é a indicação de sua chegada na cidade de Três Lagoas: 5 de julho de 1926, conforme consta ao final do texto Os dois espelhos da saleta de espera (1928, p. 17) que dá início à narrativa de O Brasil Trágico. Neste capítulo, o próprio autor afirma ter chegado a Três Lagoas, o seu primeiro pouso no Mato Grosso, tendo partido de Araçatuba, uma das últimas cidades paulistas antes do limite imposto pelo Rio Paraná, a qual podia ser acessada via São José do Rio Preto por estrada de terra, uma vez que os trilhos estavam estacionados nesta cidade; na verdade, este seria o caminho mais fácil disponível ao viajante que quisesse chegar a Três Lagoas vindo pela EFA. Portanto, é bastante provável que, após os compromissos do dia 7 de junho, Floreal tenha continuado sua viagem. Ele teria, assim, algo em torno de vinte dias para deslocar-se até Três Lagoas, passando por Araçatuba; tempo suficiente para o traslado, mas muito breve e dispendioso para sugerir uma volta a São Paulo antes de um segundo retorno em direção ao Mato Grosso.

Em suma, é possível admitir, com base nas datas fornecidas pelo próprio autor, que os eventos culturais em São José do Rio Preto tenham sido programados para dar início à viagem que faria em direção a Cuiabá entre julho de 1926 e julho de 1927. Podemos também supor que algum tipo de pagamento pelo evento cultural no interior paulista possa ter existido, contribuindo para o sucesso da empreitada que, naquele instante, apenas começava.

Ainda em relação à estada do literato em São José do Rio Preto, que pode ter durado até duas semanas, cabe uma outra pergunta: quem teria sido o seu anfitrião? Se os pesquisadores Arantes (2001ARANTES, Lelé. São José do Rio Preto de A a Z. São José do Rio Preto: Casa do Livro, 2001. ) e Silva (2019SILVA, Vinícius Vieira. O Álbum Ilustrado da Comarca de Rio Preto e a educação enunciada (1920-1929): histórias, memórias e identidades alentadas em verbo-visualidade. 2019. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2019. ) estão corretos, Floreal tinha contatos com jornalistas envolvidos na preparação do Album Ilustrado da Comarca de Rio Preto (CAVALHEIRO, 1929CAVALHEIRO, Abilio Abrunhosa. Album ilustrado da Comarca de Rio Preto. São Paulo: Casa Editora Duprat-Mayença, 1929. ), que se tornaria uma obra de execução cara e complexa, com mais de mil páginas, e que consumiria, ao final, quase três anos de trabalho********** 10 Sobre os Álbuns e sua importância no cenário político e intelectual do interior paulista, ver: Mahl (2013); Campos (2009) e Silva (2019). . Esta suposta relação entre o escritor santista e os responsáveis pela produção do Album, em especial com o jornalista Abílio Abrunhosa Cavalheiro, referido na capa como “organizador” da obra, ao lado de Paulo Laurito e Theodoro Demonte, ainda carece de maiores análises, não podendo ser comprovada pelo expediente ou por outro indício existente no corpo da publicação*********** 11 Entretanto, Bignotto (2018, p. 434) confirma a relação profissional entre Floreal e Cavalheiro em outra oportunidade, por meio de uma inusitada parceria musical revelada no artigo “O sentimento da Guitarra”. . Feita a ressalva, e aceitando a dúvida, é possível conjecturar mais uma hipótese sobre a chegada do conferencista a São José do Rio Preto.

Entre os convidados do evento listados pelo jornal, consta a presença do médico e jornalista carioca Floriano de Lemos. Sua trajetória pessoal guarda muitas semelhanças com a do próprio Sylvio Floreal. Intelectual polígrafo, nascido no Rio de Janeiro em 1885, Lemos estabeleceu-se em São José do Rio Preto entre os anos de 1926 e 1930, tornando-se uma das figuras marcantes não somente no ambiente cultural da cidade - como jornalista, cronista e contista -, mas também como médico, especializado em puericultura. Segundo Campos, a sua chegada à cidade foi interpretada pelos jornais A Notícia e O Município como um “sopro de modernidade” que adentrava o sertão (CAMPOS, 2010 CAMPOS, Raquel Discini de. Um intelectual viajante: Floriano de Lemos no interior paulista (1926-1930). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 30, n. 60, p. 157-173, dez. 2010. , p. 163). Com contatos já estabelecidos na capital federal e em São Paulo, o letrado fluminense pode ter ajudado o colega não somente durante a sua estadia em São José do Rio Preto, como também na continuação de sua viagem em direção ao Mato Grosso, uma vez que, entre 1917 e 1920, o médico fixou residência em Cuiabá, onde exerceu a função de diretor da tipografia oficial e inspetor federal de ensino (CAMPOS, 2013 CAMPOS, Raquel Discini de. Floriano de Lemos no Correio da Manhã (1906-1965). História, Ciência e Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 1333-1352, nov. 2013. , p. 1338). Uma ajuda, sem dúvida, oportuna para um viajante em terras distantes, principalmente quando sabemos, com relativa segurança, da frágil condição financeira que rondou Sylvio Floreal durante toda a sua vida.

De todo modo, Sylvio Floreal parece ter desfrutado de uma calorosa recepção nas dependências do Éden Parque. Segundo nos informa a programação da noite cultural de 7 de junho de 1926, além da presença de Floriano de Lemos, o escritor santista seria recepcionado perante o público por Alceu de Assis, advogado, ex-prefeito e uma figura política de grande prestígio entre seus convivas. Ao seu lado estava o também advogado e homem de letras Antonio Tavares de Almeida, que alguns anos mais tarde, na vizinha Monte Aprazível, receberia o escritor Pedro Nava, em sua estada de quase três anos na região************ 12 Sobre a passagem de Pedro Nava pela região de São José do Rio Preto, entre os anos de 1931 e 1933, ver: (ESTEVES, 2008). Já os relatos do autor mineiro sobre a sua experiência pelo interior paulista foram publicados no volume VI de suas memórias, intitulado O Círio Perfeito (1983). . Almeida (1943ALMEIDA, Antonio Tavares. Oeste Paulista: a experiência etnográfica e cultura. Rio de Janeiro: Ed. Alba, 1943. ) também publicou, no ano de 1943, o livro “Oeste Paulista”, um estudo sociológico sobre àquela zona, trazendo uma importante quantidade de dados, informes estatísticos e análises étnico-sociais que se mostram, ainda hoje, de grande valia para os estudos sobre o noroeste paulista. Outro nome presente no evento foi o do jornalista Dario de Jesus, então redator do jornal O Município, mas com passagens por diversos outros periódicos da cidade, e figura ativa de seu ambiente cultural e político. Além disso, ele próprio lançava-se como escritor, tendo acabado de publicar, também em 1926, o livro “De pé no Chão...” uma espécie de ensaio ficcional sobre os modos de vida de personagens interioranos, inspirados em parte na experiência do autor em São Jose do Rio Preto************* 13 De pé no Chão... foi editado em São Paulo pela Casa Editorial Helios no ano de 1926. (JESUS, 1926JESUS, Dario de. De pé no chão. São Paulo: Editorial Helios, 1926. ).

Tal acolhida positiva, proporcionada pela benemerência das elites locais, talvez não se conformasse exatamente à posição oblíqua, ou mesmo periférica, ocupada pelo autor no mundo das letras da capital, realidade que parece ter ficado distante daquele espaço social, quando Sylvio Floreal foi recepcionado pelos seus anfitriões como um afamado homem das letras.

Por outro lado, um fato relevante parece fortalecer a hipótese de laços mais longínquos, ou ao menos uma familiaridade já existente entre Sylvio Floreal e São José do Rio Preto. Em 1º de junho de 1926, portanto seis dias antes do evento artístico que teria, segundo o diário, teria sido o ponto alto da passagem do literato pela cidade, foi publicado outro artigo de sua autoria, com o subtítulo “especial para O Município”, intitulado Um homem de acção e de Ideal em Marcha. Nele, vemos o lado mais pragmático do autor atuando diretamente no sentido de construir boas relações com membros das elites locais ao aproveitar o espaço de primeira página para enaltecer o já citado ex-prefeito de Rio Preto, Alceu de Assis.

Figura 1 -
Reprodução da primeira página do jornal O Município, com a chamada para o evento de 7 de junho. Sobressai, quase ao centro, um raro vislumbre de Sylvio Floreal, em que se insinua a figura “corpulenta” e elegante da qual nos fala Broca. É evidente também a baixa qualidade da imagem, o que confirma a dificuldade das oficinas gráficas do período para a impressão de fotografias; ainda um processo “laborioso, moroso e muito caro”, conforme salientam Cássio Loredano, Julia Kovensky e Paulo Roberto Pires (2019LOREDANO, Cássio; KOVENSKY, Julia; PIRES, Paulo Roberto (org.). J. Carlos: originais. São Paulo: IMS, 2019. , p. 7).

Além disso, é oportuno pensar sobre as condições de produção deste texto. Ele teria sido elaborado antes ou depois de seu desembarque, uma vez que foi veiculado seis dias antes do evento principal? Teria Sylvio Floreal escrito o artigo como uma forma de preparar positivamente a sua chegada - já se aproximando, por meio de um texto apologético, de uma das autoridades da cidade -, ou fora pensado já em solo interiorano? Supondo que esta última hipótese esteja correta, poderemos, então, especular que o autor poderia ter se deslocado bem mais cedo a São José do Rio Preto, conseguindo, assim, circular e conhecer minimamente as redes sociais que lhe receberiam. Por outro lado, considerando que a escrita seja anterior ao seu deslocamento, como conjectura a primeira possibilidade, certamente Sylvio Floreal já conhecera, em outras circunstâncias, o personagem agora louvado de forma tão exaltada************** 14 Raquel Discini de Campos (2009, p. 142-143) analisou uma segunda crônica de Sylvio Floreal, também publicada no jornal O Município em 30 de maio de 1926. Intitulada Variações sobre o exaggero das modas, ela não faz referência a temas ou personagens da cidade sendo, portanto, mais plausível que tenha sido escrita em outro momento e conjuntura. Entretanto, as duas hipóteses sobre as circunstâncias de produção desses artigos aqui levantadas servem também para este texto. . Em ambos os casos, alguém na redação serviu como contato para o autor, recebendo o artigo com antecedência ou possibilitando espaço de trabalho no local; talvez até a mesma pessoa que lhe ajudou a viabilizar a viagem. Seja como for, o que transparece é uma evidente proximidade com a trajetória pessoal e política de Alceu de Assis, sobre o qual não poupou elogios, com o arroubo nos adjetivos que lhe é peculiar:

Distante 100 kilometros desta boca do sertão repleta de imprevistos que é Rio Preto, ouve-se frequentemente, num diapazão esgremido ao léo das rosas de todos os ventos, pronunciar um nome: Alceu de Assis! Os que sabem que esse nome é a synthese de uma personalidade dotada de uma brava enfibratura, calam-se, numa reserva expectante. E os que pela primeira vez tiveram a oportunidade de o ouvir, como que chocados pela púas da curiosidade absorvente interrogam: Quem é Alceu de Assis!

E atravez dos azares da distancia, assim, vae esse nome passando pela inconstancia algida de alguns e vibrando calorosamente na solicitude affectuosa de muitos. E o éco desse nome, penetrando e vencendo, fluctua numa longa ressonância que evoca esperanças e prenuncia victorias.

Aos scepticos, aos homicidas da acção e aos tristes collecionadores de écos, e mais ainda, à corte dos incompetentes perpetuadores da inermidade e de todas as covardias, essa ressonância perde-se-lhes nos horizontes da indifferença. Mas, aos homens que apezar dos desânimos invasores, ainda acreditam na efficiencia do ideal e no milagre da acção, á esses, Alceu de Assis, reflecte as aspirações e os anseios dos que querem estabelisar um padrão de consciencia cívica.

A auréola que envolve os homens que distribuem acção e acalentam porfiozamente um ideal, sempre foi sugestiva e fascinante. E por isso, por onde passa uma dessas personalidade-força, que possue a magia de transfigurar a physionomia das coisas, empolgando a alma dos povos, no rastro da passagem dessa força, desdobra-se o progresso jovial e avassalante; e, do ardume desse enthusiasmo transfundido em acção benefica, germina e corporifica-se a civilização - flor maravilhosa, desabrochada na acção e alentada pelo ideal.

Quando o ideal marcha no flanco da acção, há uma garantia perene de triumphos e uma acentuada transladação de vontades ávidas que, movidas pela ansia incoersivel das realizações, tremem, numa unanime conjuncção de desejos e esperanças!

E o phenomeno da transfiguração opera-se assim, na esphera moral, tal como as realizações no âmbito material!

Depois deste preambulo, podemos afirmar, sem os estultos pavores que acusam, as vezes, as afirmações, de que o fenômeno acima mencionado, já se faz sentir em Rio Preto, graças à eficiente personalidade do Dr. Alceu de Assis, que consubstancia a acção que modifica o ideal que orienta.

E uma afirmação de novos valores, sulca audazmente o scenario onde permanecera por muito tempo uma velha politica...

E ao rebate dos milagres da acção e às efficiencias do ideal, a mocidade e os homens de boa vontade deste aceiro de sertão, num gésto coheso que traduz um profundo amor ao Paiz e ao Estado, espessaram fileiras em torno do nome do Dr Alceu de Assis, porque ele, sendo um homem de acção e de ideal, fará nestas plagas, onde sempre houve uma política de indecisões, uma outra eficiente, de trabalho e patriotismo.

Bem haja pois, a passagem desse homem por este Eldorado cerealifero!

Bem haja essa acção e esse ideal!

Parabéns aos rio-pretenses pelo ressurgimento que se affirma nos horizontes de todas as aspirações, devido a actuação da força dessa personalidade em marcha. (O Município, 1926cUM HOMEM de acção e de ideal em Marcha. O Município, São José do Rio Preto, 1 jun. 1926c.).

O uso abundante de exclamações confirma, sem embaraço, o tom exaltado e elogioso, resvalando, talvez, aos olhos do leitor contemporâneo, para a pura bajulação. Sem dúvida, Alceu de Assis possuía prestígio na vida política da cidade. Nascido no Rio de Janeiro, em 1884, era formado em Direito e exerceu cargos de vereador (legislaturas de 1923-1925; 1926-1928; 1936-1937) e prefeito de São José do Rio Preto (mandatos de 1925-1926; 1928). Em 1928, foi um dos fundadores do Partido Republicano Municipal e, em 1932, ajudou a estabelecer na cidade a Ordem dos Advogados do Brasil (ARANTES, 2006ARANTES, Lelé. Quem faz história em São José do Rio Preto. São José do Rio Preto: THS Editora, 2006.). Portanto, se o objetivo era se aproximar, ou mesmo reforçar os laços com alguém influente, a escolha foi correta. Entretanto, não podemos saber que tipo de benefícios Floreal angariou, se é que eles existiram.

De todo modo, o tom do artigo guarda semelhanças evidentes com o tipo de reflexão que marcaria os textos reunidos em O Brasil Trágico (Figura 2), produzidos ao longo de 1926 e 1927. Apresenta-se, nos dois casos, uma visão bastante crua, quase pessimista, francamente negativa sobre o sertão e seus vazios, perigos e obstáculos, que poderiam ser superados, com muito esforço, por meio do trabalho árduo feito por mãos redentoras - verdadeiros homens de ação -, tais como as projetadas pelo autor na figura de Alceu de Assis. Esta leitura do imenso interior do país, de sua natureza e de sua gente, imaginada por Sylvio Floreal, que localizava a figura do desbravador como um agente civilizador, foi projetada tanto em relação à “boca do sertão” do interior paulista quanto às terras “trágicas” do Mato Grosso. Fica evidente, portanto, que esse texto prenuncia e revela uma forma de interpretar esse Brasil profundo que agora se apresentava ao escritor em todos os seus contornos.

Figura 2 -
Na capa criada pelo artista francês J. G. Villin, que mais tarde trabalharia como ilustrador para Monteiro Lobato, a onça espreita o garimpeiro, prestes a dar início a mais uma tragédia no sertão, conforme as lentes de Sylvio Floreal.

A passagem do autor pela cidade do interior paulista ainda daria origem a mais um texto, publicado em 8 de junho de 1926. É o último registro desta etapa de sua viagem.

Realisou-se, conforme fôra annunciado, segunda feira, a conferencia do conhecido escritor paulista Sylvio Floreal.

Na primeira parte, foi o artista visitante apresentado pelo Sr. Alceu de Assis à culta platéa rio-pretense, que, num improviso, realçou o mérito de Sylvio Floreal como escriptor.

A seguir, o sr. Manoel dos Reis Araújo disse um soneto. O sr. Lourival do Oliveira um monologo e o sr. Dr. Jayme Peçanha uma optima poesia. Os tres amadores foram applaudidos, terminando a primeira parte por não terem comparecido, por motivo justificado, as outras pessoas de nome constante no programa.

Depois de um pequeno intervallo, iniciou a leitura de sua conferencia, o sr. Sylvio Floreal.

Começou por narrar o conhecido e banal conto do vigário, peregrinando por muitas outras modalidades do optimo thema escolhido, às vezes abusando de symbolos, e outro tanto com felicidade de construção, critica e muita observação.

Em conjunto, a sua conferencia é boa, porem não é propriamente uma conferencia humorística.

Ao nosso ver é antes uma conferencia critico-literaria, em que há felizes apanhados de crítica aos cabotinos, modas, politica, etc.

A assistencia, embora reduzidíssima, aplaudiu calorosamente o conferencista ao terminar a sua leitura.

Registramos aqui, a nota triste do dia: a conferencia de Sylvio Floreal, apezar de ser em parte em proveito do Hospital de Caridade, foi um fracasso.

Ao menos por esse fim achamos que devia ser concorrida. (O Município, 1926bREALISOU-SE, conforme fôra anunciado. O Município, São José do Rio Preto, 9 jun. 1926b. ).

Algumas questões podem ser apresentadas a partir da leitura desta avaliação, marcada por um tom melancólico. O autor da nota revela seu incômodo não somente com a baixa presença de público no evento, que evidentemente frustrou as expectativas dos anfitriões, mas também com a ausência de outros convidados esperados, uma vez que ele poderia ter simplesmente ignorado tal informação. Talvez ela tenha sido reportada exatamente para justificar as falas amadorísticas, que mesmo assim foram agraciadas com palmas, demonstrando a boa vontade do público daquela noite. É curiosa também a referência do jornalista à fala de Floreal. O comentário um pouco surpreso sobre o teor da conferência realizada - crítica-literária - permite-nos supor que os espectadores esperavam encontrar um outro tipo de exposição, chamada anteriormente, de forma um tanto quanto genérica, de humorística. Cabe a pergunta: será que os organizadores conheciam a obra de Sylvio Floreal? Que tipo de referências eles possuíam sobre o autor de Ronda da meia noite? Talvez houvesse uma expectativa de que o convidado pudesse apresentar uma leitura mais “leve”, descrevendo em tons graciosos um pouco da vida social e cultural da capital paulista, na qual o autor parecia se inserir, e que poderia despertar a curiosidade dos cidadãos rio-pretenses. Esta hipótese vai ao encontro do que se esperava para este tipo de evento, que, muito mais que uma conferência, era um momento mundano, com intensa interação social, estimulando jantares dançantes, encontros políticos e uma importante participação das elites locais. Segundo Broca, ao refletir sobre o que ele mesmo definiu como a “mania das conferências” no Brasil, esses eventos, tão comuns desde o final do século XIX, seguiam o caráter heterogêneo dos próprios convidados - médicos, senhoras da sociedade, políticos, literatos, estudantes -, o que exigia um certo nível de superficialidade nas falas, sob o risco de um aprofundamento maior levar o auditório à total incompreensão do que dizia um desavisado conferencista. Portanto, nestes cenários, tanto nas capitais quanto no interior do país, era necessário, essencialmente, “agradar a freguesia” (BROCA, 1960BROCA, Brito. A vida literária no Brasil - 1900. Rio de Janeiro: José Olympio, 1960. , p. 140).

O próprio artigo escrito em homenagem a Alceu de Assis demonstra que Sylvio Floreal estava muito bem-informado sobre a importância desses movimentos de aproximação e deferência para com este tipo de público e, consequentemente, de todas as vantagens que poderia angariar em um tempo de conformação do chamado campo literário, principalmente para alguém que, como ele, permanecia às margens deste mesmo campo*************** 15 Sobre a formação e consolidação dos campos literário e intelectual brasileiro, ver: Miceli (2001). De modo mais específico, Bignotto (2018. p. 434) refere-se aos vários campos literários - nacionais, regionais e municipais -, o que ajuda a compreender as diferentes posições ocupadas por Sylvio Floreal nestes espaços de convivência e de trocas de capital econômico, político e cultural. . Contudo, fica evidente, pelo tom da nota publicada pelo jornal O Município, que o evento não foi o sucesso que se esperava. A avaliação da “conferencia de Sylvio Floreal” - forma como se intitula a matéria -, deixa a impressão de um anticlímax, mesmo após o empenho do jornal e o envolvimento de várias personalidades da cidade na noite festiva de 7 de junho. Após esta data, Floreal desaparece das páginas do jornal local, para dar início à sua viagem para o Mato Grosso, abrindo um novo capítulo de sua vida profissional e literária, conforme nos demonstra Bignotto (2018BIGNOTTO, Cilza Carla. Figuras de autor, figuras de editor: as práticas editoriais de Monteiro Lobato. São Paulo: Editora Unesp, 2018. , p. 437), que acompanhou os debates em torno de suas subsequentes conferências mato-grossenses, ressaltando as opiniões favoráveis e a imagem positiva deixada pelo escritor na nova audiência.

III

A passagem do escritor Sylvio Floreal por São José do Rio Preto, entre os meses de maio e junho de 1926, apesar de breve, permite algumas considerações. Em primeiro lugar, por meio das informações relatadas pelos jornalistas do jornal O Município¸ é possível revelar um pouco mais sobre a biografia do autor santista, ainda repleta de lacunas. Até onde sabemos, esta viagem pela longínqua fronteira noroeste do estado permanecia desconhecida e só pôde ser revelada devido à preservação de uma valiosa coleção de impressos que, a despeito das dificuldades na manutenção e na conservação desse tipo de acervo, foi salva da deterioração e do desaparecimento**************** 16 Merece registro o trabalho e a dedicação da escritora Dirorath do Valle, que entre 1968 e 1996, atuando como diretora/fundadora da Casa de Cultura de São José do Rio Preto, foi a grande responsável pela formação e preservação da hemeroteca “Dário de Jesus”, que hoje guarda o acervo de uma vasta coleção de jornais da cidade, além de documentos com valor histórico e artístico. . Apesar das conjecturas e dúvidas apontadas ao longo deste artigo, temos algumas certezas: sabemos que tipo de atividade Floreal desempenhou na cidade, em quais datas específicas, quais as redes sociais que o acolheram e em quais condições ele encontrava-se para continuar seus compromissos no Mato Grosso a partir de junho de 1926.

Outro dado importante sobre sua viagem diz respeito à preservação dos títulos das falas que foram pronunciadas naquela noite de junho, nomeadas meticulosamente pelo autor da primeira nota jornalística já citada. São títulos desconhecidos até então, dos quais, infelizmente, não temos o conteúdo completo, mas que revelam similaridades com alguns dos textos publicados posteriormente, pelo menos quanto à temática. É o que ocorre quando comparamos o nome da conferência pronunciada no interior paulista, A história de alguns contos do vigário, com os textos O espertalhão caipora, O conto do vigário e a moda das mulheres e O homem que comprou dinheiro empacotado, ambos publicados em 1928 e compilados pelo pesquisador Ferreira (2018GOMES, Leonardo. Gente que ajudou a fazer Rio Preto uma grande cidade. São Paulo: Ed. Gráfica São José, 1975. ). Teria Sylvio Floreal reaproveitado papéis antigos, publicados na imprensa paulistana, para sua fala no interior, alterando pontos específicos, mas mantendo o essencial da narrativa? Ou estes trabalhos foram produzidos na expectativa de ser pronunciados em São José do Rio Preto em 1926, sendo depois reaproveitados em outros impressos? Questões que talvez sejam de difícil esclarecimento devido à falta de material comparativo, mas que sugerem, pelo menos nestas circunstâncias, um modus operandi do escritor, reelaborando e reescrevendo artigos já produzidos, como forma de atender uma demanda constante, própria de alguém que atuava em diversos jornais e revistas de forma contumaz.

Além disso, essa viagem de Sylvio Floreal permite compreender também a própria organização dos jornais das cidades do interior paulista nas primeiras décadas do século XX, quando o desenvolvimento econômico gerado pela expansão cafeeira, atrelado à pecuária e à crescente demanda por serviços gerava oportunidades únicas para os corajosos empreendedores do impresso. As redações, atreladas às suas gráficas, muitas vezes improvisadas, eram locais de sociabilidades, fomentadoras de uma vida intelectual e, também, de arraigadas, e não raro violentas, disputas políticas***************** 17 Dinorath do Valle narra a curiosa história da chegada a São José do Rio Preto da primeira oficina tipográfica completa; uma prensa a pedal da marca Marignoni, comprada por um proprietário de terras local e transportada de Jaboticabal, em 1902, até o seu destino, por meio de um carro de boi (1994, p. 2). . Os periódicos lucravam com anúncios, com a venda de espaço às prefeituras para atender às necessidades da publicidade estatal, além de atuarem como agentes culturais e artísticos em lugares, muitas vezes, ainda considerados, de forma pejorativa, como bocas de sertão. Ao mesmo tempo, devemos considerar a alta volubilidade desta imprensa, com empresas jornalísticas abrindo e fechando, passando, invariavelmente, pelas mãos de vários donos, que se sucediam seguindo as transformações políticas locais e as próprias variações econômicas, em um ciclo de falências e renascimentos que espelhavam a velocidade e o movimento que marcavam as relações nas novas franjas pioneiras que se alargavam pelo interior paulista (MONBEIG, 1984MONBEIG, Pierre. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. Tradução Ary França e Raul de Andrade e Silva. São Paulo: Ed. Hucitec, 1984. ).

Não obstante, fica evidente que uma interpretação desse ambiente empresarial/jornalístico como um espaço de atraso ou de isolamento perante as capitais deve ser relativizado. A existência de uma ampla e complexa malha ferroviária, especialmente no estado de São Paulo, permitia um trânsito relativamente fácil e seguro de pessoas entre as cidades do interior e a capital. Assim como Tania Regina de Luca (2018LUCA, Tania Regina. A Ilustração (1884-1892): circulação de textos e imagens entre Paris, Lisboa e Rio de Janeiro. São Paulo: Ed. Unesp , 2018. ) revelou a quase simultaneidade entre as revistas publicadas em Paris, Lisboa e Rio de Janeiro, ao final do século XIX, podemos afirmar que o contato entre jornalistas da capital e do interior era intenso, permitindo o compartilhamento de práticas jornalísticas, abordagens temáticas, imagens e informações, não somente de forma rápida como também permanente. Desse modo, a presença de Sylvio Floreal e de outros profissionais da impressa, como Floriano de Lemos, oriundos de várias capitais do Brasil, trazendo na bagagem uma larga experiência profissional para cidades como São José do Rio Preto, na década de 1920, não pode ser considerada exceção e provam como essas regiões estavam inseridas no amplo quadro da expansão capitalista que transformaria definitivamente os sertões paulistas.

Referências

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  • MARTINS, Ana Luiza; LUCA, Tania Regina de. Imprensa e Cidade São Paulo: Ed. Unesp , 2006.
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  • MATOS, Odilon Nogueira de. Café e ferrovias: a evolução ferroviária de São Paulo e o desenvolvimento da cultura cafeeira. Campinas: Ed. Pontes, 1990.
  • MICELI, Sergio. Intelectuais à brasileira São Paulo: Companhia das Letras , 2001.
  • MOISÉS, Massaud; PAES, José Paulo (orgs.). Pequeno dicionário de literatura brasileira São Paulo: Ed. Cultrix, 1969.
  • MONBEIG, Pierre. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo Tradução Ary França e Raul de Andrade e Silva. São Paulo: Ed. Hucitec, 1984.
  • NAVA, Pedro. O círio perfeito Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
  • RAGO, Margareth. Nas margens da Paulicéia (Apresentação). In: FLOREAL, Sylvio. Ronda da meia noite - vícios, misérias e esplendores da cidade de São Paulo São Paulo: Paz e Terra, 2003. p. 3-7.
  • SCHAPOCHNIK, Nelson. Ronda Paulistana (Apresentação). In: FLOREAL, Sylvio. Ronda da meia noite - vícios, misérias e esplendores da cidade de São Paulo São Paulo: Boitempo Editorial, 2002. p. 11-17.
  • SILVA, Vinícius Vieira. O Álbum Ilustrado da Comarca de Rio Preto e a educação enunciada (1920-1929): histórias, memórias e identidades alentadas em verbo-visualidade. 2019. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2019.
  • TONELLO, Oswaldo. Memórias de São José do Rio Preto - desde 1919 [S. l.: s.n.], 1998.
  • VALLE, Dinorath do. Jornais de Rio Preto São José do Rio Preto: Ed. A Notícia, 1994.
  • VARGAS, Cláudia Regina. As várias faces da cidade: Bento de Abreu e a modernização de Araraquara (1808-1916). 2000. Dissertação (Mestrado em História) - Faculdade de História, Direito e Serviço Social, Universidade Estadual Paulista, Franca, 2000.
  • VIEIRA, Flávio. Os Caminhos Ferroviários Brasileiros. In: I Centenário das Ferrovias Brasileiras. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1954.

Fontes primárias

  • REALISA-SE amanhã, conforme temos anunciado. O Município, São José do Rio Preto, 6 jun. 1926a.
  • REALISOU-SE, conforme fôra anunciado. O Município, São José do Rio Preto, 9 jun. 1926b.
  • UM HOMEM de acção e de ideal em Marcha. O Município, São José do Rio Preto, 1 jun. 1926c.

Notas

  • 1
    Uma análise abrangente sobre a história, a vida política e a formação das elites em Araraquara pode ser encontrada no trabalho de Anna Maria Martinez Correia, Araraquara - 1720-1930 (2008CORREIA, Anna Maria Martinez. Araraquara - 1720-1930: um capítulo da história do café em São Paulo. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2008.).
  • 2
    Para um estudo específico sobre essas modificações no Brasil, na virada do século XIX, em especial nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, e o “tumulto” e a “desordem” resultante dessas políticas marcadas por agressivas reformas urbanas, consultar Paulo César Garcez Marins (2006MARINS, Paulo César Garcez. Habitação e vizinhança: limites da privacidade no surgimento das metrópoles brasileiras. In: SEVCENKO, Nicolau (org.). História da vida privada no Brasil: república: da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. 3 v. ).
  • 3
    Entre os anos de 1912 e 1933, os trilhos da EFA ficaram estacionados na cidade de São José do Rio Preto, devido a problemas administrativos e financeiros enfrentados pela empresa que controlava a ferrovia. Sobre este tema, consultar: VIEIRA (1954VIEIRA, Flávio. Os Caminhos Ferroviários Brasileiros. In: I Centenário das Ferrovias Brasileiras. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1954. ).
  • 4
    Mesmo a nova edição revista e ampliada da Enciclopédia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho e José Galante de Sousa (2001COUTINHO, Afrânio; SOUSA, José Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global Editora; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional/DNL, Academia Brasileira de Letras, 2001. 2v., p. 184), que se pretende uma das referências do gênero, traz um lacônico e incompleto verbete sobre Domingos Alexandre: “(Santos, SP? - São Paulo, SP, 1929) cronista, romancista, funcionário postal. Pseud. Silvio Floreal. Atitudes (1922FLOREAL, Sylvio. Attitudes. São Paulo: Casa Duprat, 1922. ); Ronda da Meia Noite (1925 FLOREAL, Sylvio. Ronda da meia noite - vícios, misérias e esplendores da Cidade de São Paulo. São Paulo: Tipografia Cupolo, 1925. ); Coragem de Amar; O rei dos caça dotes”. Já no prestigiado Pequeno Dicionário de Literatura Brasileira, organizado por José Paulo Paes e Massaud Moisés (1969MOISÉS, Massaud; PAES, José Paulo (orgs.). Pequeno dicionário de literatura brasileira. São Paulo: Ed. Cultrix, 1969. ), inexiste um verbete sobre Sylvio Floreal. Também o crítico literário Wilson Martins (1996MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira (1915-1933). São Paulo: T. A. Queiroz Editor, 1996. v. VI., p. 251) refere-se exclusivamente ao livro Atitudes, apresentando como informação complementar, entre parênteses, somente a data da morte mais aceita - 1929 -, de Domingos Alexandre.
  • 5
    Rafael Rodrigo Ferreira (2018FERREIRA, Rafael Rodrigo. O “literato ambulante”: antologia e estudo da obra de Sylvio Floreal (1918-1928). 2018. Dissertação (Mestrado em Literatura Brasileira) -Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. ), aponta o ano de 1928 como o da morte do autor, e não 1929, data mais comumente aceita.
  • 6
    Segundo Bignotto (2018BIGNOTTO, Cilza Carla. Figuras de autor, figuras de editor: as práticas editoriais de Monteiro Lobato. São Paulo: Editora Unesp, 2018. , p. 434), isto aconteceu pelo menos com o livro Atitudes, de 1922, custeado pelo próprio autor.
  • 7
    Acompanhando essa mesma linha de raciocínio, não pode passar despercebido o fato da Editora Casa Duprat, pertencente aos irmãos Alfredo Duprat e Raimundo da Silva Duprat, que editou o Álbum da Comarca, em 1929, ter sido também a responsável pela publicação do primeiro livro de Sylvio Floreal, Attitudes, de 1922.
  • 8
    São de fundamental importância para a reconstrução dessa história política e cultural de São José do Rio Preto os trabalhos de Dinorath do Valle (1994VALLE, Dinorath do. Jornais de Rio Preto. São José do Rio Preto: Ed. A Notícia, 1994. ), Leonardo Gomes (1975GOMES, Leonardo. Gente que ajudou a fazer Rio Preto uma grande cidade. São Paulo: Ed. Gráfica São José, 1975. ), Oswaldo Tonello (1998)TONELLO, Oswaldo. Memórias de São José do Rio Preto - desde 1919. [S. l.: s.n.], 1998., Lelé Arantes (2001ARANTES, Lelé. São José do Rio Preto de A a Z. São José do Rio Preto: Casa do Livro, 2001. ; 2006ARANTES, Lelé. Quem faz história em São José do Rio Preto. São José do Rio Preto: THS Editora, 2006.) e Agostinho Brandi (2002BRANDI, Agostinho. São José do Rio Preto - 1852-1894: roteiro histórico do distrito. São José do Rio Preto: Casa do Livro , 2002.; 2012BRANDI, Agostinho. São José do Rio Preto - 1894-1907: o ciclo dos intendentes e a criação da Comarca. São José do Rio Preto: THS Editora : 2012. ).
  • 9
    Para respeitar o teor completo e singular da fonte, o autor escolheu manter a grafia original, inclusive na divisão entre letras maiúsculas e minúsculas, salvo quando se tratar de algum evidente equívoco tipográfico.
  • 10
    Sobre os Álbuns e sua importância no cenário político e intelectual do interior paulista, ver: Mahl (2013MAHL, Marcelo Lapuente. A expansão pioneira no Noroeste Paulista: os “Albuns Illustrados” como documentação para uma história ambiental da fronteira (1900-1930). In: SILVA, Sandro Dutra et al. Fronteira cerrado: sociedade e natureza no oeste do Brasil. Goiânia: PUC Goiás, 2013. p. 161-173. ); Campos (2009 CAMPOS, Raquel Discini de. Mulheres e crianças na imprensa paulista (1920-1940): educação e história. São Paulo: Ed. Unesp, 2009.) e Silva (2019SILVA, Vinícius Vieira. O Álbum Ilustrado da Comarca de Rio Preto e a educação enunciada (1920-1929): histórias, memórias e identidades alentadas em verbo-visualidade. 2019. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2019. ).
  • 11
    Entretanto, Bignotto (2018BIGNOTTO, Cilza Carla. Figuras de autor, figuras de editor: as práticas editoriais de Monteiro Lobato. São Paulo: Editora Unesp, 2018. , p. 434) confirma a relação profissional entre Floreal e Cavalheiro em outra oportunidade, por meio de uma inusitada parceria musical revelada no artigo “O sentimento da Guitarra”.
  • 12
    Sobre a passagem de Pedro Nava pela região de São José do Rio Preto, entre os anos de 1931 e 1933, ver: (ESTEVES, 2008ESTEVES, Antônio Roberto. A república letrada e o sertão: escritores visitam a região da alta araraquarense. In: FERREIRA, Antonio Celso; MAHL, Marcelo Lapuente. Letras e identidades: São Paulo no século XX, capital e interior. São Paulo: Ed. Annablume , 2008. p. 103-131. ). Já os relatos do autor mineiro sobre a sua experiência pelo interior paulista foram publicados no volume VI de suas memórias, intitulado O Círio Perfeito (1983NAVA, Pedro. O círio perfeito. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. ).
  • 13
    De pé no Chão... foi editado em São Paulo pela Casa Editorial Helios no ano de 1926.
  • 14
    Raquel Discini de Campos (2009 CAMPOS, Raquel Discini de. Mulheres e crianças na imprensa paulista (1920-1940): educação e história. São Paulo: Ed. Unesp, 2009., p. 142-143) analisou uma segunda crônica de Sylvio Floreal, também publicada no jornal O Município em 30 de maio de 1926. Intitulada Variações sobre o exaggero das modas, ela não faz referência a temas ou personagens da cidade sendo, portanto, mais plausível que tenha sido escrita em outro momento e conjuntura. Entretanto, as duas hipóteses sobre as circunstâncias de produção desses artigos aqui levantadas servem também para este texto.
  • 15
    Sobre a formação e consolidação dos campos literário e intelectual brasileiro, ver: Miceli (2001MICELI, Sergio. Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das Letras , 2001. ). De modo mais específico, Bignotto (2018BIGNOTTO, Cilza Carla. Figuras de autor, figuras de editor: as práticas editoriais de Monteiro Lobato. São Paulo: Editora Unesp, 2018. . p. 434) refere-se aos vários campos literários - nacionais, regionais e municipais -, o que ajuda a compreender as diferentes posições ocupadas por Sylvio Floreal nestes espaços de convivência e de trocas de capital econômico, político e cultural.
  • 16
    Merece registro o trabalho e a dedicação da escritora Dirorath do Valle, que entre 1968 e 1996, atuando como diretora/fundadora da Casa de Cultura de São José do Rio Preto, foi a grande responsável pela formação e preservação da hemeroteca “Dário de Jesus”, que hoje guarda o acervo de uma vasta coleção de jornais da cidade, além de documentos com valor histórico e artístico.
  • 17
    Dinorath do Valle narra a curiosa história da chegada a São José do Rio Preto da primeira oficina tipográfica completa; uma prensa a pedal da marca Marignoni, comprada por um proprietário de terras local e transportada de Jaboticabal, em 1902, até o seu destino, por meio de um carro de boi (1994, p. 2).

Editado por

Editores:

Karina Anhezini e André Figueiredo Rodrigues

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Mar 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    25 Set 2019
  • Aceito
    27 Jul 2020
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