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Câncer ano-reto-cólico: aspectos atuais II - câncer colorretal - fatores de riscos e prevenção

Anal canal and colorectal cancer: current features: II - colorectal cancer - risks factors and prevention

Resumos

O câncer colorretal é curável e passível de prevenção. A chave para o alcance desses objetivos é relativamente simples e pode ser aplicada em escala populacional. Basta, para tanto, que sejamos capazes de conscientizar os médicos, independente da sua área especial de atuação, e proporcionar às pessoas o mais fácil alcance às informações médicas expressas em termos simples sobre a profilaxia e o diagnóstico precoce dessa neoplasia maligna, sobretudo, destacando os fatores protetores e os de riscos, principalmente os que são suscetíveis de ser modificados.

Câncer colorretal; fatores de riscos; fatores protetores; prevenção


The colorectal cancer is susceptible to prevention and curable. The key for those purposes is relatively simple and it can be applied in demographic scale. For so much, it is enough that we are capable to become aware the doctors, independent of his special area of performance, and provide to the people easiest reach to medical information on prophylaxis way and precocious diagnosis of that malignant tumor, above all, detaching the protecting factors and the one of risks, mainly the ones that are subject to being modified.

Colorectal cancer; environmental risks factors; protective factors; prevention


OPINIÕES E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Câncer ano-reto-cólico: aspectos atuais II – câncer colorretal – fatores de riscos e prevenção

Anal canal and colorectal cancer: current features: II - colorectal cancer – risks factors and prevention

Júlio César M Santos Jr.

Membro Titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Júlio César M Santos Jr Av Min Urbano Marcondes, 110 12515-230 Guaratinguetá, SP E-mail: instmed@provale.com.br

RESUMO

O câncer colorretal é curável e passível de prevenção. A chave para o alcance desses objetivos é relativamente simples e pode ser aplicada em escala populacional. Basta, para tanto, que sejamos capazes de conscientizar os médicos, independente da sua área especial de atuação, e proporcionar às pessoas o mais fácil alcance às informações médicas expressas em termos simples sobre a profilaxia e o diagnóstico precoce dessa neoplasia maligna, sobretudo, destacando os fatores protetores e os de riscos, principalmente os que são suscetíveis de ser modificados.

Descritores: Câncer colorretal, fatores de riscos, fatores protetores, prevenção.

ABSTRACT

The colorectal cancer is susceptible to prevention and curable. The key for those purposes is relatively simple and it can be applied in demographic scale. For so much, it is enough that we are capable to become aware the doctors, independent of his special area of performance, and provide to the people easiest reach to medical information on prophylaxis way and precocious diagnosis of that malignant tumor, above all, detaching the protecting factors and the one of risks, mainly the ones that are subject to being modified.

Key words: Colorectal cancer, environmental risks factors, protective factors, prevention.

INTRODUÇÃO – ASPECTOS GERAIS

O câncer colorretal é importante problema de saúde da populacional. A cada ano, no mundo, são diagnosticados cerca de um milhão de novos casos, período em que há meio milhão de mortes, conseqüentes.

Nos Estados Unidos, é a mais freqüente forma de câncer na 8ª década da vida – são 106.680 casos novos por ano e, entre eles, 41930 cânceres são do reto; 55170 mortes/ano são atestadas devidas ao câncer colorretal - o que enseja maiores e mais constantes investigações epidemiológicas, bem como detalhados conhecimentos da história natural da doença no sentido de direcionar ações investigativas envolvendo medidas preventivas e estratégias de tratamento1 com subgrupos populacionais, pelo menos, três décadas mais jovens do que aquela da máxima incidência dessa neoplasia.

Embora seja uma doença de caráter universal, sua distribuição geográfica determina áreas que poderiam ser consideradas de maiores riscos (América do Norte, Europa e Austrália)2. Assim, talvez por causa dos mais apurados meios de notificações e de estudos estatísticos populacionais do que, exclusivamente, por características biológicas ou ambientais, a despeito da associação possível do caráter genético e das influências externas definidoras do estilo de vida das pessoas dos países ocidentais mais desenvolvidos. Fala a favor disso o fato de que 63% doentes com câncer do intestino grosso vivem em países desenvolvidos, com igual distribuição, entre sexos, para o câncer de cólon e com predominância do sexo masculino para o câncer de reto. Além disso, as populações que migram de países de mais baixo risco para câncer colorretal para regiões de alto risco, têm seus descendentes, de segunda e terceira gerações, com os mesmos riscos que os habitantes locais.2

No entanto, a acurácia dos valores obtidos em estudos epidemiológicos deve ser levada em consideração, mormente se tomarmos como exemplo a existência das falhas no sistema de "registro e comunicação".

Ora, no Brasil, como em outras regiões geopolíticas semelhantes, os dados obtidos da avaliação da saúde pública, colhidos em diferentes setores onde se exerce a medicina pública não são confiáveis, exceto nos hospitais de clínicas vinculados às escolas médicas e outras instituições semelhantes ao INCA, quando se trata da população diretamente relacionada com aquela instituição. Basta observar que, de região para região, a incidência populacional do câncer do intestino grosso pode ter variação de 10 vezes, de certo modo refletindo o perfil "mais organizado", pelo menos do ponto de vista bioestatístico, de alguns estados da federação. Desse modo, no território nacional a incidência do câncer colorretal varia de 0,36 a 28/100.000 habitantes3.

A história natural de uma doença abrange seu modo de apresentação, o subseqüente comportamento clínico, as complicações relacionadas com suas peculiaridades patológicas, seu perfil epidemiológico e todos os dados biológicos disponíveis oriundos do conhecimento de aspectos genéticos, bioquímicos, fisiopatológicos e, por fim, etiológicos. Esses elementos formam um universo, cuja inter-relação de circunstâncias pode subsidiar o maior ou menor domínio clínico da doença e os meios para sua erradicação. Contudo, a despeito da evolução do conhecimento registrada nos últimos 60 anos, isso não ocorre com todas as doenças intestinais e não ocorre, também, com o câncer do intestino grosso, dada a complexidade dos elementos envolvidos no contexto dessa moléstia.

Por esta razão e com os subsídios de estudos populacionais, podemos observar que vale, por enquanto, muito mais o esforço desprendido na prevenção do que o que se gasta com o tratamento. A razão disso se deve, também, ao fato de que os resultados dos métodos terapêuticos disponíveis nem sempre atingem os níveis esperados.4

McLeish e col.4 fizeram estudo de sobrevida, no câncer colorretal, em grupo de pacientes submetidos a tratamento curativo e em grupo de pacientes submetidos a tratamento paliativo, para intervalos de seguimento de 5 e 10 anos. Observaram sobrevida de 76% e 7%, no primeiro período e 73% e 7%, no segundo período para cada um dos grupos, respectivamente. Os autores concluíram que, sem levar em consideração a intenção do tratamento – se curativo ou paliativo – que não houve diferença de sobrevida em relação ao sexo e a idade. No grupo em que a intenção foi curativa, o único fator de prognóstico foi a diferenciação da lesão. Numa análise multivariada feita apenas no primeiro grupo (tratamento curativo), com ajuste simultâneo de todas as variáveis, o único prognosticador de sobrevida foi a estágio da lesão. Ou seja, pacientes com câncer Dukes C apresentavam maior risco que os pacientes com câncer Dukes A. Nem o local do tumor, ou o sexo, idade, o cirurgião e nem as terapêutica adjuvantes contribuíram de forma significativa, nesse modelo de estudo4.

No entanto, nas últimas décadas, os dados numéricos acumulados em outras investigações sobre o tratamento e a sobrevida de pacientes portadores de câncer colorretal são susceptíveis da interpretação de que tem havido significativo aumento da sobrevida, em 5 anos, o que não ocorreu quando as comparações foram feitas entre as décadas de 40 e 50 com as subseqüentes décadas, até o final dos anos 70.

Naqueles 40 anos, os benefícios anotados foram, muito mais, com relação à diminuição dos acidentes cirúrgicos e anestésicos que contribuíam para a morbi-mortalidade no pós-operatório imediato, incluindo a infecção hospitalar, do que para a "cura" do câncer, mesmo com os crescentes acréscimos das terapias coadjuvantes. Sob esse aspecto, é, no entanto, obrigatório acrescentar, sobretudo em relação ao câncer do reto, a significativa contribuição da técnica operatória proposta por RJ Heald,5-11 Quirke e colaboradores12, e publicadas a partir de 1982.

Os surpreendentes resultados obtidos por esses autores9 em termos de sobrevida e recidiva local incluíram, também, a diminuição da margem distal de segurança abrindo a mais freqüente oportunidade para o tratamento do câncer do reto com preservação esfincteriana, pois a diminuição daquela margem não comprometeu a sobrevida após a ressecção anterior do reto.4,9 Além disso, tendo em vista a baixa recidiva local, observada em seus resultados, os autores fizeram a suposição de que a radio e a quimioterapia teria pouco a acrescentar para com os resultados do tratamento do câncer do reto feito pela técnica cirúrgica da excisão total do mesorreto9.

A extensão da ressecção, o estágio de evolução e a maior ou menor diferenciação do tumor são fatores prognósticos relevantes13, de tal modo que as terapêutica adjuvantes ou neo-adjuvantes não estariam interferindo com a maior ou menor sobrevida ou taxa de recidiva local. Isto é, pouco contribuiriam para mobilizar um paciente do grupo em que o tratamento seria paliativo para o grupo em que o tratamento seria curativo14. Melhorou o controle local, mas não interferiu com a sobrevida global15.

Porém, em outros estudos foi possível observar que, de fato, a radioterapia pré-operatória melhorava significativamente a sobrevida global dependente especificamente do câncer comparado quando o procedimento terapêutico foi apenas a operação cirúrgica16-21, além de ter ampliado a chance de abordagens cirúrgicas menos radicais21

Contudo, a pequena magnitude do benefício14,15 aponta para uma maior preocupação no sentido da necessidade de se estabelecer critérios para identificar os pacientes que poderiam ser mais beneficiados com a radioterapia adjuvante14 ou, eventualmente, com procedimentos cirúrgicos mais conservadores22-26, com todos os riscos inerentes 14,22.

Por outro lado, é possível enfeixar nesse conjunto a tática operatória, não só sob o aspecto da "cura" objetivada como sob a sombra dos danos possíveis. Isto é, as mutilações, as disfunções, as opções contra-natura, as seqüelas físicas e psicológicas decorrentes de um plano de "tratamento" mais ou menos agressivo, sem excluir as complicações inerentes aos procedimentos observáveis no transoperatório e no pós-operatório imediato, eventualmente, associadas com a morte27-29.

Essas opiniões expõem a busca de definição ou da maior ou da melhor definição do que seja o tratamento ideal para o câncer colorretal, estabelecem os grupos de paciente que mais poderiam ser beneficiados com a neo-adjuvância - com destaque para casos em que essa modalidade de tratamento poderia ser exclusiva26 – sem perder de vista que, por ora, o objetivo maior vem amparado por propostas que direcionam esforços no sentido da prevenção e do diagnóstico mais precoce possível, até que novas descobertas possam estabelecer tipos de terapêuticas cujos resultados sejam a cura definitiva do câncer.

O alvo, desta feita, seria o câncer do intestino grosso, como um todo, por meio dos mais atingíveis que, dentre eles, são o câncer do reto e do câncer do sigmóide distal. Nessas localizações os sinais e os sintomas são mais precoces e as lesões mais facilmente acessíveis, embora se reconheça que há a tendência cronológica de mudança da distribuição anatômica do câncer do intestino grosso30,31, fato que pode implicar com os métodos de rastreamento e de prevenção, já que o aspecto "local anatômico de crescimento do tumor" marca diferentes características epidemiológicas sugerindo que elementos específicos a diferentes segmentos do intestino grosso poderiam estar presentes como determinantes daquelas diferenças32. De qualquer maneira, cerca de 60% de todos os adenocarcinomas do intestino grosso se localizam nos seus 20 cm terminais - sigmóide distal e reto e, nessa localização, 80% deles são passíveis de serem tocados.

Assim, o exame proctológico feito de forma sistemática pode ter influência no índice de morte por causa do câncer do reto33, e deve ser reforçado nas campanhas de prevenção do câncer, como parte fundamental na atividade do médico generalista. Essa figura pode ser observada num estudo retrospectivo feito em nosso meio com 330 pacientes com câncer do intestino grosso. Trata-se de um grupo de pacientes que procuraram assistência inicial na rede pública de saúde. Nesse grupo, observamos o seguinte: os pacientes procuraram atenção médica desde o aparecimento dos sinais e sintomas (variando de 2 a 18 meses; média de 4,8 meses), 78% foram orientados para tratamento de verminose ou de hemorróidas, sem que o médico consultado tivesse feito ou mencionado o exame proctológico; 75% dos pacientes não passaram pelo exame proctológico; 69% tinham câncer do reto e sigmóide distal; 82% dos tumores localizados no reto foram tocados, via anal. Esses pacientes foram posteriormente vistos em um hospital universitário ou em clínica privada. O retardo do tratamento definitivo foi de 8,5 meses, tempo suficiente para que a lesão crescesse em mais de um quarto da circunferência do intestino grosso34.

Os pronunciamentos populares, mediados e subsidiados por instituições médicas, são meio eficazes e devem ser implementados, visando, também, o médico, mesmo quando esse não dispõe de instrumental especial, já que mais de 80% dos tumores, que se localizam do terço distal do cólon sigmóide até o reto, podem ser diagnosticados por meio do toque retal. Mas, não deve ficar apenas nisso.

Nos Estados Unidos, o movimento popular de prevenção do câncer colorretal foi inaugurado em março de 2000, na presidência de B J Clinton e, no Brasil, movimento semelhante começou por diligente iniciativa da Profa. Angelita Habr-Gama e colaboradores, em 2003, posteriormente direcionada e incrementada com a criação, em 2004, da Abrapreci (Associação Brasileira de Prevenção do Câncer de Intestino)35.

Qualquer empreendimento feito no sentido de se antecipar à doença, principalmente quando se trata do câncer, terá significativo realce e se sobreporá aos tipos de tratamento já elencados e alvos permanentes de produndas considerações e longas discussões.

O nosso objetivo, no presente manuscrito, é chamar atenção para tópicos do conhecimento que poderão valorizar a intenção do médico no desenvolvimento da medicina preventiva, agora fugindo do campo apenas do saneamento básico - das doenças infecciosas e parasitárias - para ampliar os seus aspectos sociais, no mais amplo contexto do sentido da Medicina Preventiva e Social.

2. Aspectos etiológicos, fatores de riscos e fatores protetores.

Se nós conhecêssemos de fato a etiologia do câncer do intestino grosso, certamente, teríamos uma das chaves para equacionar o problema. Mas, nós conhecemos um conjunto de fatores – alguns por presunção e outros embasados cientificamente – uns que constituem os riscos para o aparecimento do câncer do intestino grosso e outros que são protetores.

Os "fatores de riscos" - alguns podem ser evitados e outros não – serão, em seguida, apresentados juntos com os fatores protetores.

I. Hereditariedade

a. Câncer colorretal não relacionada à polipose heredo-famliar - HNPCC

O câncer colorretal, como em muitas outras doenças, tem seu desenvolvimento resultante de uma complexa interação entre aspectos genéticos e ambientais.

Estima-se, virtualmente, que cerca de 5 a 10% de todas as neoplasias malignas têm etiologia primária vinculada à hereditariedade. O câncer o intestino grosso, não relacionado à polipose hereditária (HNPCC), fica dentro daquela estimativa, variando de 2 a 10%.

O HNPCC é uma doença autossômica que se caracteriza pelo desenvolvimento do câncer do intestino grosso e outros cânceres (endométrio, estômago, intestino delgado, retroperitônio, trato urinário, ovários e cerebro, etc.36,37. Trata-se de um fator de risco, por enquanto inevitável.

A doença pode se expressar por causa das mutações que ocorrem durante a duplicação celular envolvendo um dos quatros genes de reparo, hMSH2 e hMLH1(cromossomas 3p21-23 e 2p21), hPMS1 e hPMS2 (cromossomas 7p22.2; 2q31-q33 e 2q31.1), então responsáveis por até 70% do câncer familiar.38

A desordem é geneticamente heterogênea e complexa; além disso, a ela podem-se juntar outras mutações constitucionais resultando em doenças de fenótipos sobreponíveis39.40 , razões para que, aliadas à pouca importância que o médico, em geral, dá à história familiar, se perca a oportunidade de diagnóstico do câncer hereditário38.

Independente das dificuldades de acesso às técnicas de biologia molecular para investigação de seqüenciamento dos genes de reparo e às outras pesquisas de elementos marcadores para o diagnóstico e caracterização dos traços familiares, pode-se lançar mão da boa vontade, do tirocínio clínico e de critérios que devem ser do domínio do médico, com o objetivo de "proteger o pacientes". Esses critérios são os de Amsterdan, já bem definidos41,42, bem como o de Bethesda(2003), e bem divulgados43,44. Com maior interesse, pode-se, ainda, contar com a facilitação de aderência ao Registro Brasileiro de Câncer Colorretal Hereditário, proposto por Cutait45. A centralização das famílias em bancos de dados nacionais é de extrema relevância para investigação continuada dos membros familiares, bem como das características da doença, em nosso meio.

Além disso, o reconhecimento dos aspectos etiológicos e dos vínculos genéticos é de destacada importância no trabalho preventivo e de proteção às pessoas relacionadas por laços familiares às portadoras dos genes dessa síndrome, mas isso só pode ser bem direcionado a partir de registros nacionais, dado à facilidade para projetos mais aprofundados. São desses registros que evoluem os estudos sobre os riscos de câncer.

A maioria das estimativas sobre risco de câncer colorretal são provenientes de indagações minuciosas feitas com famílias coletadas em registros contidos em bancos de dados sobre HNPCC. Os valores de riscos para o câncer colorretal são, assim, estimados e varia entre 60 a 85%46,47, dentro da síndrome.

Há dados peculiares que são interessantes; por exemplo, o risco para câncer colorretal é significativamente mais baixo em mulheres portadoras do gene mutante do que em homens46,48, e o risco para desenvolver o câncer de endométrio varia entre 40 a 50%38,38,46-49. Conhecidas e reunidas, as famílias de portadores de genes mutantes poderão ser mais facilmente vigiadas o que certamente concorrerá para a prevenção do câncer afetando os índices de mortes, conseqüentes49, já que os defeitos MMR estão envolvidos nos estágios precoces do desenvolvimento dos adenomas e os pacientes portadores do defeito têm propensão para desenvolver adenomas e câncer no cólon proximal, portanto a busca precoce dessas lesões poderá ajudar na identificação dos HNPCC suspeitos, de maneira antecipada50, bem como para aqueles pacientes em que não houve destaque para o estudo familiar e que são portadores da forma atenuada da polipose, forma que preserva os segmentos distais do intestino grosso.50,51

Na oportunidade em que os métodos biológicos de caracterização dos elementos marcadores não são acessíveis, os critérios revisados para o HNPCC devem ser usados para orientação.

Nas tabelas 1 e 2 41,42,52-54, estão reunidos os dados dos critérios mencionados, que são relevantes no diagnóstico que define o câncer hereditário.

A facilidade e a objetividade desses critérios não são desprezíveis, embora em determinadas circunstâncias, que se aproxima de 20%, o uso exclusivo deles possa esconder famílias portadoras dos genes para o HNPCC55,56.

Independente disso, o reconhecimento dos aspectos etiológicos e dos vínculos genéticos, ainda que inevitável, é fundamental para trabalho preventivo e de proteção às pessoas que ainda não são portadoras do câncer, mas são relacionadas, por laços familiares, às portadoras dos genes dessa síndrome.

b. Câncer colorretal relacionado à polipose heredo-familiar (FAP) forma clássica e à polipose familiar atenuada (FAPA)

A polipose heredo-familar (FAP) clássica é uma síndrome poliposa (adenomas) comum transmitida por gene autossômico dominante. Caracteriza-se pelo aparecimento, na puberdade, de centenas de adenomas polipóides ou sésseis ao longo do intestino grosso, muito mais numerosos nos segmentos distais, com o potencial, se não tratados, para, em 100% dos casos, darem origem ao câncer do intestino grosso, na maioria das vezes ocorrendo entre os 35 e 40 anos de idade57.

Essa polipose é decorrente da mutação no gene APC (adenomatous polyposis coli), localizado no cromossoma 5, em duas bandas diferentes (5q21-q22) ou do gene MUTYH (mutY Homologo (E coli)) que é um gene humano com instruções para a produção celular de uma glicosilase (Mutyh glycosylases) que funciona no reparo do DNA, durante a replicação, com a função de remover ou reparar os "resíduos"de nucleotídeos com bases nitrogenadas quimicamente alteradas57. Cerca de 80% das pessoas com FAP pertencem a uma família reconhecidamente portadora da polipose, mas de 10 a 30% são "poliposes novas", não decorre de herança, mas sim de mutações, no "indivíduo".58,59

Atualmente, são reconhecidas mais de 1000 mutações distintas identificadas dentro do lócus do gene APC60.

Na replicação, o DNA é construído de tal forma que as bases adenina, timina, guanina e citosina estão sempre juntas formando os pares: adenina-timina (A-T) e guanina-citosina(G-C). Contudo, durante a replicação a guanina pode sofrer ação oxidativa (alteração oxidativa do DNA), num dos nitrogênios da base, de maneira que ela passa a formar par com adenina (G-A)61-66.

A Mutyh glycosylases fixa esse tipo de erro, num mecanismo que se chama "reparo por excisão de base" (BER – base excision repair), evitando que ele se acumule no DNA e, conseqüentemente, evitando o aparecimento do câncer.

O gene de MUTYH fica situado no braço curto (p) do cromossoma 1 entre posições 34.3 e 32.1.67-70. A mutação nesse gene, envolve, freqüentemente, um fenótipo de determinação recessiva – mutação em um único gene do par – cuja expressão é de múltiplos adenomas no intestino grosso (<100 polipos) – forma atenuada da FAP - ou dominante no caso em que a mutação afeta os dois alelos, cuja expressão é igual a polipose múltipla e há maior risco para o câncer colorretal.69

Os fatores que, geneticamente, determinam a FAP predispõem, também, o aparecimento de câncer no estômago e duodeno.71

Cistos de mandíbula, cistos sebáceos, osteomas e lesão pigmentada da retina (hipertrofia congênita pigmentada da retina) são outros sinais que podem ser relacionados à FAP.72,73

As síndromes de Gardner, Turcot e a polipose cólica atenuada (FAPA), outrora consideradas distintas da FAP, são reconhecidas como parte do seu espectro fenotípico.57,70,73

O gene APC é um supressor de tumor – a "proteína normal" delineada por esse gene promove a apoptose das células cólicas. A mais importante função dessa "proteina normal" parece ser impedir o efeito estimulatório de crescimento determinado por uma proteína chamada "b-catenin". Essa, no momento da replicação, ativa os genes associados ao crescimento. A função mais importante do gene supressor pode ser isolar o efeito estimulatório de crescimento incitado pela "b-catenin", proteína que, na replicação, estimula genes associados ao crescimento em combinação com fatores codificadores de tecido. Quando há mutação no gene APC a proteína codificada é não-funcionante, a apoptose é evitada e há acúmulo intracelular de "b-catenin", que, livremente, estimula o crescimento e a formação dos pólipos. Com a perda da função APC, o crescimento celular rápido aumentado favorece a possibilidade para outros eventos genéticos. Isto é, causa alteração na expressão de vários genes, e assim afeta a proliferação, a diferenciação, a migração e a apoptose celular, o que influi nas manifestações extra-cólicas da FAP, que é de alta incidência.74

Depois que os pólipos são formados, o passo seguinte é sua malignação – o fenômeno que permite essa transformação é genético e a chave esta na mutação ou inativação do APC, mas o mecanismo é idêntico ao que ocorre na seqüência adenoma(pólipo)-câncer, no câncer esporádico.57

A incidência mundial da FAP é mais ou menos constante e semelhante aos registros americanos variando de 1/8300 a 1/14025 nacidos vivos, afetando igualmente ambos os sexos e com distribuição homogênea na espécie humana75,76.

Entre as famílias com FAP podem ser encontrado até 8% das "famílias" com a forma atenuada da polipose familiar (FAPA) com mutações APC ou MUTYH (em um ou nos dois alelos). Baseado nesses aspectos, a pesquisa preventiva em parentes deve ser inicia precocemente na puberdade quando a mutação detectada for no gene APC e no início da terceira década (20 anos) quando a mutação detectada for exclusiva no gene MUTYH 77

II - Câncer colorretal esporádico (CCRE)

O câncer colorretal esporádico (CCRE) responde, anualmente, por 90% de todos os cânceres do intestino grosso e a maioria deles desenvolve de um pólipo adenomatoso, fase pré-maligna do adenocarcinoma reto-cólico. Os cânceres hereditários associados as síndrome poliposas são responsáveis, anualmente por 2% dos cânceres do intestino grosso e síndrome do câncer família (HNPCC) por 5 a 10%.78

As evidências de risco familiar para o câncer impõem um rastreamento mais precoce do que aquele preconizado para a população geral. A ACS (Câncer American Society) recomenda exame coloscópico para pessoas com um parente de primeiro grau com câncer colorretal ou adenoma diagnosticados antes dos 60 anos e para os que têm dois ou mais parentes com câncer 78. Esses rastreamentos devem ser feitos aos 40 anos de idade ou 10 anos mais cedo do que a idade em que o câncer foi diagnosticado no parente mais jovem. Se nenhuma lesão for encontrada, o exame deverá ser repetido a cada 5 anos ou antes, na dependência de sintomas ou sinais suspeitos.79,,80

A maioria das pessoas que desenvolve o câncer colorretal esporádico tem idade acima de 55-60 anos e em geral, não estão relacionadas a qualquer fator de risco conhecido (genéticos ou ambientais).

O exame preventivo periódico feito por meio do colonscópio pode reduzir o risco médio de morte por câncer colorretal em 90%. Além disso, a maioria dos tumores colorretais quando diagnosticados precocemente são completamente curados.

O CCRE tem distribuição anatômica bem conhecida – mais freqüente nos segmentos distais do intestino grosso, principalmente localizado no reto e cólon sigmóide, havendo, como já foi dito uma tendência de aumento do número de tumores diagnosticados no cólon direito30-32.

III - Fatores ambientais – hábitos e estilos de vida - associados ao maior risco para o desenvolvimento de câncer colorretal

Qualquer que seja o fator destacável que efetivamente contribua para o aparecimento mais freqüente do câncer, a dedução é que o sitio de ação seja a interferência que se estabelece no mecanismo da replicação do DNA, por uma mutação somática ou por uma mutação gênica.

Idade, sexo, pólipos, história clínica individual, história familiar, dieta, obesidade, estilos de vida – o tabaco, o alcoolismo - e diabetes são os tópicos mais freqüentemente destacados e insistentemente discutidos, embora alguns deles sejam polêmicos.

Parece fácil de entender que a idade, dentre os fatores de riscos, seja o mais destacável. O risco aumenta quanto mais velho ficamos e, portanto, o câncer é mais comum na população acima dos cinqüenta anos e, a cada década acima, a incidência aumenta, mas os jovens, entre outras doenças neoplásicas, também têm câncer colorretal esporádico.

O sexo parece ter pouca interferência. A incidência do câncer colorretal é semelhante nos homens e nas mulheres, porém com distribuição diferente com relação à sua localização no intestino grosso. Há nítida tendência das mulheres terem mais cânceres de cólon do que os homens e esses mais cânceres de reto do que as mulheres. Interferência significativa ocorre com algumas doenças tais como as doenças intestinais inflamatórias (retocolite ulcerativa e doença de Crohn), pois são fatores de riscos relevantes, mas é a população dos diabéticos onde há a maior incidência de câncer do intestino grosso. Os diabéticos têm risco de 30-40% para o desenvolvimento de câncer colorretal com maior índice (42%) de mortalidade, sem levar em consideração a maior chance de adquirir outras doenças que eventualmente podem estar associadas ao óbito81-83.

Há, também, observações pertinentes relativas à concorrência dos fatores ambientais sobre o estado de saúde das populações, sobretudo sobre a dieta, num contexto em que geralmente se inclui os estilos de vida das pessoas.

Em estudos ecológicos, observa-se que a morte ocasionada por vários tipos de doenças crônicas e potencialmente fatais – tais como o câncer, doenças cardiovasculares e diabetes - aumentaria de acordo com o aumento da latitude, isto é, quanto mais longe do equador maior seriam os índices de mortes por aquelas doenças. Este texto trata-se de citação introdutória feita por Autier e col.84 num artigo de revisão (metanálise) com respeito ao impacto da suplementação de vitamina D sobre o morte causada por câncer colorretal, câncer de mama, de pulmão e doenças cardiovasculares.

Por outro lado, em outros estudos ecológicos, têm se observado que a sobrevida de pacientes com câncer colorretal (ou com outras doenças tais como as já citadas) foi maior quando o diagnóstico foi feito no verão do que quando feito no inverno85,86 numa alusão à importância da exposição à luz solar, mais propriamente às ondas ultravioletas médias (UVB 280-320 mm), necessárias para a síntese de vitamina D.

A implicância desse fato está no reconhecimento de que as fontes endógenas (sintetizada na pele por ação de raios solares UVB) e exógenas (vários alimentos) devem prover o mínimo necessário de vitamina D para a ação biológica. Sob esse aspecto, reconhece-se, em primeiro lugar, a existência de receptores de vitamina D em vários órgãos e que a ativação desses receptores pelo 1-alfa,25 dihydroxivitamina D3 (vitamina D3 ou forma ativa da vitamina D ou calcitriol) induz a diferenciação celular e inibe a proliferação, o comportamento invasivo das células cancerosas, a angiogênese e seu potencial metastático87,88. Em segundo lugar, vários tecidos produzem a enzima 1-alfa-hidroxilase, de tal forma que, depois da 25-hidroxilação da vitamina D, pelo fígado, muitas células do organismo, numa função tanto autócrina como parácrina, seriam capazes de converter a 25-hidroxivitamina D em 1-alfa,25 dihidroxivitamina D3 (calcitriol), na dependência, é óbvio, da concentração sérica da 25-hidroxivitamina D.

Se houver consistência entre a ação biológica da vitamina D, o câncer, as doenças cardiovasculares e as metabólicas, (exemplo - o diabetes) - que juntos são, nos países industrializados, responsáveis por 60 a 70% dos óbitos entre pessoas com idade igual ou acima de 50 anos - a suplementação dietética da vitamina D estaria concorrendo para com a redução total dessas mortes. Isso, de fato, parece ocorrer segundo o que foi observado nos resultados da análise da literatura efetuada por Autier e col., contudo, como enfatizam os autores, "a relação entre concentração basal de vitamina D, as doses de suplementares e taxas de mortalidade totais permanecem por ser investigadas. Estudos populacionais casualizados, tendo como objetivo a mortalidade total, com uso de placebos, por um período de pelo menos 6 anos, envolvendo pessoas acima de 50 anos de idade, deveriam, então, ser elaborados para confirmar aqueles achados".

Ações especulativas semelhantes e com resultados promissores foram feitas no final da década de 60-70, no século passado, com a vitamina C, mas direcionadas para a terapêutica adjuvante do câncer colorretal89-91. Considerada como nutriente essencial na biossíntese do colágeno, L-carnitina e na conversão da dopamina em norepinefrina, ela tem função na elaboração e reforço do cemento intersticial, mecanismo pelo qual se cria o impedimento para a expansão da massa celular neoplásica e, por isso, foi considerada, em altas doses, com útil na terapia adjuvante do câncer colorretal.92 Por outro lado, com forte agente redutor, age provocando a quelação de radicais livres, potencialmente danosos para o organismo, produzidos pelo fenômeno da respiração celular.

O homem perdeu a capacidade que tem a maioria dos animais para sintetizar a vitamina C. O fato se estabelecu em decorrência de uma série de mutações inativantes do gene que codifica a gulonolactona-oxidase (GULO)93, enzima fundamental na via metabólica da biossíntese da vitamina C, o que proporcionou à espécie humana uma tendencia natural à deficiência de vitamina C.92-94

Estudos posteriores, casualizados, duplo-cego, feitos para testar o uso terapêutico de altas doses de vitamina C em pacientes com câncer colorretal, antes do uso da quimioterapia foram conclusivos no sentido de demonstrar que a aplicação da vitamina C nada mudava na evolução de massa tumoral95,96, contudo, o assunto, tão controvertido, permanece em aberto92,9, principalmente quando se faz a associação desse agente muito mais aos fatores protetores do que aos aspectos terapêuticos.

Albert Szent-Gyorgyi - citado por Li Y e col.92 – fez o seguinte comentário pertinente à suplementação de nutrientes essências: "A profissão médica, por si, adota às vezes uma visão muito estreita e errada sobre a carência de elementos essências. A falta de ácido ascórbico causa escorbuto, assim se não há escorbuto não há falta de ácido ascórbico. Nada poderia estar mais claro que isto. A única dificuldade, nesse aspecto, é que o escorbuto não é o primeiro sintoma da carência de vitamina C, mas um colapso final de uma síndrome pré-mortal, evidenciando a grande distância que há entre escorbuto e saúde plena"97. Esse comentário foi exarado na ocasião em que o fisiologista húngaro recebia, em 1937, o Premio Nobel de Medicina e Fisiologia por suas descobertas relacionadas aos processos biológicos de oxidação, com especial referência à vitamina C e à catálise do acido fumárico.

Assim, se a vitamina C foi em algum momento envolvida na terapêutica do câncer, mas a análise feita sobre os resultados de estudos bem conduzidos para testar essa ação terapêutica destacou conclusões contrárias, isso, de forma alguma, implica na impossibilidade da ação da vitamina com fator protetor, embora os trabalhos mais recentes reacendam a questão do potencial terapêutico das altas doses de vitamina C.97,98

As disputas em torno de questões que suscitam muitas divergências são profícuas, embora, algumas vezes, geradoras de contundentes e precipitadas conclusões.

Não menos diferente do que se discutiu acima são as postulações feitas sobre as dietas altamente calóricas, sobre a carne e a gordura, muitas delas semelhantes ao que foi dito, no final da década de 60, no século passado, sobre o efeito carcinogênico do ciclamato em decorrência da interpretação de resultados de estudos conduzidos em modelos experimentais inadequados.99,100 desconsiderados, mais tarde, e reintroduzido para o consumo humano101.

Estudo feito sobre uma população de 48835 mulheres com riscos incidentes para câncer - idade (50 a 79 anos) e estado hormonal (pós-menopausa) - com o objetivo de testar o efeito da dieta pobre em gordura (19541mulheres – 40%), contra o controle (29294 mulheres – 60%), no desenvolvimento do câncer, resultou a conclusão de que a dieta não reduziu o risco de câncer no período de duração do estudo (8,1 anos)102. Conclusões semelhantes foram obtidos para os cânceres de mama103 e de ovário104.

A dieta, de um modo geral, em estudos epidemiológicos105, tem sido implicada como possível fator de risco para o aparecimento de câncer colorretal. Contudo, são as dietas ricas em gorduras que têm sido envolvidas como maior fator de risco para o câncer do intestino grosso, mama, próstata e, possivelmente os cânceres de ovário, endométrio e pâncreas106,107.

Outras conclusões foram, também, retiradas de dados obtidos de estudos populacionais em países em que há elevado consumo de dieta rica em gordura comparado com o consumo de dieta pobre em gordura. Na primeira situação, há maior incidência de morte por câncer de mama e do colon, com substrancial, mas não conclusiva evidência de que a associação é mais forte quando se trata de gordura total do que para um tipo específico de gordura – isto é, se saturada, insaturada ou polinsaturada108.

Há indícios de relação positiva entre maior risco para câncer de mama com o uso alimentar de gordura saturada em mulheres acima de 50 anos109. Assim como, na mesma população, pode ser demonstrada a relação do aumento da ingestão de gordura total saturada e mono-insaturada com maior risco para o câncer de intestino grosso, mas não com o de mama110,111.

A história da dieta gordurosa tem paralelo com a dieta altamente calórica cujos substratos são os carboidratos, bem como com o grau de atividade física e os gastos energéticos. Os alimentos de alto teor energético (açucares e gorduras) poderiam ser relacionados à etiologia do câncer em função de seus requerimentos metabólicos e as disfunções conseqüentes envolvendo principalmente a resistência à insulina e a intolerância a glicose112,113.

Por esses mecanismos e vias metabólicas têm se tentado explicar o elevado índice e o maior risco de incidência de câncer e de óbitos câncer-dependente na população com diabete tipo II, entre os obsesos e os sedentários112-116, muito mais do que por ação epitelial direta de elementos constantes naqueles tipos de dieta com ou sem a participação ou interferência metabólica de microorganismos da flora intestinal.

Em relação aos alimentos gordurosos, a suspeita está alicerçada na verificação de que a freqüência de aparecimento do câncer colorretal é maior entre os povos em que 30-40% ou mais da caloria total ingerida foi proveniente de gordura, contrário ao que ocorre entre os que tiveram esse elemento como fonte de não mais de 10% do total da caloria ingerida117,118.

Os óleos vegetais, por sua vez, teriam efeito protetor como foi observado por Stoneham e col.119 em relação ao óleo de oliva pela influência exercida, na luz intestinal, sobre os ácidos biliares e metabolismo das poliaminas dentro dos enterócitos, inibindo a progressão da mucosa normal ao pólipo.

O excesso de carne estaria incriminado por causa das aminas heterocíclicas (AHCs). As carnes preparadas em altas temperaturas têm suas proteínas e seu conteúdo de creatinina desnaturadas pelo calor, dando origem às AHCs. Esses carcinógenos químicos – as AHCs - são vários e provêm dos aminoácidos, das proteínas e da creatinina quando são expostos a altas temperaturas. Sob esses aspectos, alimentação "saudável" seria rica em frutas, verduras e legumes, pobre em gordura animal carne e em carboidratos de alto teor energético; isto é, o conteúdo calórico proveniente das gorduras deveria estar abaixo de 10% do valor total de caloria ingerida, os carboidratos ingeridos deveriam ter baixo índice glicêmico e a ingestão de carne magra deveria ficar abaixo de 300g/semanais, constituindo-se principalmente de carne mal passada120,121.

A despeito das aparentes evidências e diversidades de hipóteses relativas aos diferentes tipos de dietas relacionadas ao câncer e a mortalidade decorrente, os resultados de estudos epidemiológicos de maior porte acumulam subsídios para a orientação de que outras investigações precisam ser feitas para dar confirmação consistente à relação dieta-câncer.122

O maior conhecimento dos fatores de riscos do grupo chamado de "fatores variáveis" está mais na possibilidade de sua modificação do que, pelo menos a princípio, na prova cabal do mecanismo de ação e da maior ou menor efetividade da ação, seja ela agressora ou a protetora. Por enquanto, para não cometer erros, o mais fácil é lembrar que em termos de dieta, excluindo as condições mórbidas que determinam a restrição absoluta ou relativa de determinados grupos de alimentos, o "veneno" está muito mais na quantidade do que na qualidade daquilo que é ingerido.

Ante a diversidade de fatores – de proteção ou de agressão – é possível estalecer um guia de orientação simples e concisco, dirigido para as medidas preventivas que, na pratica médica, para qualquer moléstia podem ser agrupadas nas seguintes categorias:

1. Medidas cientificamente provadas quanto à eficácia e à segurança ao longo do tempo.

2. Medidas que são efetivas, mas que ao longo do tempo provocam efeitos colaterais indesejáveis

3. Medidas que são provavelmente efetivas e seguras.

4. Medidas que são consideradas inefetivas e,

5. Medidas que não tem base cientiífica nem medida de efetividade e segurança.

Para a prevenção do câncer colorretal, o que está cientificamente provado quanto à eficácia e segurança é o exame periódico de coloscopia - acessorada pelo exame proctológico e pesquisa de sangue oculto nas fezes, para todas as pessoas acima de 50 anos de idade, para os menores de 50 anos com história familiar de câncer do intestino grosso ou com sintomas e sinais intestinais suspeitos e para as pessoas com doença intestinal inflamatória ou outros fatores de riscos reconhecidos.

Baseado na inibição das prostaglandinas – fator estimulador do crescimento dos pólipos - pelos antinflamatórios não esteroidais e alicerçados na sugestão de resultados de estudo experimentais e epidemiológicos humanos, de que a aspirina e outros antifinflamatórios não esteroidais poderiam ter efeito protetor contra o câncer colorretal, Thun e col123 programaram testar essa hipótese num estudo prospectivo sobre mortalidade numa população de 662500 adultos que usavam aspirina cronicamente. Concluíram da análise dos resultados, que o uso regular de baixas doses de aspirina pode reduzir o risco fatal do câncer colorretal. Esse tipo de informação faz parte da categoria 2.

O mais impressionante efeito de antiinflamatório na regressão de pólipos foi demonstrado com o uso do sulindac124, potente inibidor da síntese das prostaglandinas, via Cox-1 e Cox-2, regressão que parece independer da inibição Cox. Contudo, essa droga é contra-indicada numa série grande de situações clínicas, tem efeitos colaterais indesejáveis e freqüentes e, além disso, pouco tempo após suspensão do tratamento, os pólipos reaparecem124(categoria 2).

As medidas provavelmente efetivas e seguras, do item 3, reúnem as dietas "balanceadas" com uso limitado, não mais que 10% de gosduras saturadas como fonte energética, com o uso regrado de alimentos altamente calóricos (os carboidratos de um modo geral); com o aumento do consumo de frutas e vegetais, principalmente os ricos em fibras – evitando, se possível, os cereais – com a diminuição da ingestão de carne vermelha submetida a altas temperaturas; com a diminuição ou abolição do consumo de bebidas alcoólicas; com o abandono do hábito de fumar, inclusive na forma passiva; com o aumento das atividades físicas, de forma regular e com o controle do peso corporal.

Faz parte, mas são consideradas inefetivas (item 4) a suplementação vitaminica (inclui a vitamina C – apesar das controvérsias - o cálcio e a vitamina D). Nesses casos, se não acertarmos no câncer, estaremos acertando em outras doenças, principalmentes as cardiovasculares que matam tanto quanto ou mais que o câncer colorretal.

Por fim, para uso em casos especiais e com caráter individual, temos os testes genéticos para idendificação do risco de câncer hereditário e para o aconselhamento genético destinado às seguintes pessoas:

1. História familiar de câncer envolvendo parente com idade inferior a 50 anos;

2. Pessoas de família com polipose dos cólons;

3. Pessoas de famílias em que vários membros tenham tido câncer do intestino grosso;

4. Pessoas de família em que o câncer aparece em parentes jovens;

5. Pessoas de família com múltiplos cânceres (ovário, útero, mama, tireóide, sistema nervoso central etc.).

Estabelecidas todas essas regras, os conselhos gerais a serem difundidos seriam, para todos os tipos de doenças neoplásicas, os seguintes:

a. Dieta rica em vegetais e frutas, com baixo teor de gorduras saturadas (não mais que 10% do valor catórico total ingerido) e limitada quantidade de carboidratos de alto teor calóricos ("farinhas brancas" e açúcar, em geral)

b. Suplemento diário de cálcio, vitamina D e uso de polivitaminicos que contenha pelo menos 400 mg de acido fólico

c. Perder peso – mater o índice da massa corpórea igual ou inferior a 25

d. Atividade física regular como preparo físico para o desempenho das atividades civis e sociais

e. Abolir o cigarro e ostentar campanha contra o fumo em ambientes fechados lembrando que ala de fumante e ala de não fumantes em restaurantes não faz diferença alguma; lembrar que é proibido fumar em recintos fechados;

f. Aconselhar o paciente a se submeter aos programas de rastreamento de lesões pré-malignas de acordo com o que já está bem estabelecido (pesquisa anual de sangue oculto nas fezes, exame proctológico completo e, a cada 5 anos, a coloscopia.

Em suma, o câncer colorretal é prevenível e, também, curável; a chave para para o alcance desses objetivos é relativamente simples e pode ser aplicada em escala populacional, sobretudo se formos capazes de conscientizar cada médico, em particular, independente da sua área especial de atuação e proporcionar às pessoas o mais fácil alcance às inforamações médicas expressas em termos simples sobre a profilaxia e o diagnóstico precoce dessa neoplasia maligna.

Recebido em 10/10/2007

Aceito para publicação em 11/11/2007

Trabalho realizado na Seção de Coloproctologia do Departamento de Cirurgia do Hospital e Maternidade Frei Galvão de Guaratinguetá, SP.

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  • Endereço para correspondência:
    Júlio César M Santos Jr
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      29 Fev 2008
    • Data do Fascículo
      Dez 2007

    Histórico

    • Aceito
      11 Nov 2007
    • Recebido
      10 Out 2007
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