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Linfoma primário de cólon: relato de caso

Primary colorectal lymphoma: case report

Resumos

O linfoma colorretal primário é uma doença rara (0.2 a 0.6% de todas as neoplasias colônicas), apresentando pior prognóstico quando comparado com o linfoma gástrico primário ou com o adenocarcinoma do cólon. É uma doença com sintomatologia inespecífica, o que dificulta o diagnóstico precoce. O objetivo deste relato é mostrar um caso de linfoma primário do cólon, revisar critérios diagnósticos e tratamento.

Linfoma colônico primário; neoplasia colônica; linfoma gastrointestinal


The primary colorectal lymphoma is a rare disease (0.2 to 0.6% of all colonic neoplasias), that has a worse prognosis than primary gastric lymphoma or colon adenocarcinoma. The poor signals makes the early diagnosis difficult. The objectives of this report is to describe a case of primary colon lymphoma, revise diagnosis criteria and treatment.

Primary colonic lymphoma; colon neoplasia; gastrointestinal lymphoma


RELATO DE CASOS

Linfoma primário de cólon: relato de caso

Primary colorectal lymphoma: case report

Rafael Luís LuporiniI; Antonio Carlos Roma JúniorII; Elaine Cristina Henrique AlmeidaIII; Marcelo Rodolfo MarcianoIV; Luiz Vagner SiprianiV; Francisco de Assis Gonçalves FilhoVI; Alexandre Lopes de CarvalhoVII; Marcelo Maia Caixeta MeloVIII; Luís Sérgio RonchiIX; Geni Satomi CunrathX; João Gomes NetinhoXI

IMédico residente em Coloproctologia - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) / Disciplina de Coloproctologia FSBCP

IIMédico Cirurgião Geral - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP)

IIIMédica Coloproctologista - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) / Disciplina de Coloproctologia FSBCP

IVMédico residente em Coloproctologia - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) / Disciplina de Coloproctologia HB-FAMERP, São José do Rio Preto, SP, FSBCP

VMédico residente em Coloproctologia - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) / Disciplina de Coloproctologia – FSBCP

VIMédico Coloproctologista - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) / Disciplina de Coloproctologia Titulo de especialista pela SBCP / ASBCP

VIIMédico Coloproctologista - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) / Disciplina de Coloproctologia. Titulo de especialista pela SBCP / ASBCP

VIIIMédico Coloproctologista - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) / Disciplina de Coloproctologia. Titulo de especialista pela SBCP e CBCD / ASBCP. Mestre em ciências da saúde pela FAMERP. Médico da disciplina de coloproctologia da FAMERP

IXFaculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) / Disciplina de Coloproctologia. Título de especialista pela SBCP e CBCD / ASBCP. Médico contratado da disciplina de coloproctologia da FAMERP

XMédico Coloproctologista - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) / Disciplina de Coloproctologia. Título de especialista pela SBCP e CBCD / TSBCP. Mestre em ciências da saúde pela FAMERP. Sub-chefe da disciplina de coloproctologia da FAMERP

XIMédico Coloproctologista - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) / Disciplina de ColoproctologiaTítulo de Especialista SBCP e AMB / TSBCP. Mestre em Ciencias da Saúde FAMERP. Doutor em Cirurgia UNICAMP. Chefe da Disciplina de Coloproctologia HB / FAMERP. Vice Mestre do CBC Regional Noroeste do ESP

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Rafael Luís Luporini Rua 15 de Novembro, 3426 São Carlos – SP CEP:13569-220 Telefone: (16) 3372-1183 / (17) 8111-5500 E-mail: rafaelluisluporini@yahoo.com.br

RESUMO

O linfoma colorretal primário é uma doença rara (0.2 a 0.6% de todas as neoplasias colônicas), apresentando pior prognóstico quando comparado com o linfoma gástrico primário ou com o adenocarcinoma do cólon. É uma doença com sintomatologia inespecífica, o que dificulta o diagnóstico precoce. O objetivo deste relato é mostrar um caso de linfoma primário do cólon, revisar critérios diagnósticos e tratamento.

Descritores: Linfoma colônico primário, neoplasia colônica, linfoma gastrointestinal.

ABSTRACT

The primary colorectal lymphoma is a rare disease (0.2 to 0.6% of all colonic neoplasias), that has a worse prognosis than primary gastric lymphoma or colon adenocarcinoma. The poor signals makes the early diagnosis difficult. The objectives of this report is to describe a case of primary colon lymphoma, revise diagnosis criteria and treatment.

Key words: Primary colonic lymphoma, colon neoplasia, gastrointestinal lymphoma.

INTRODUÇÃO

Os linfomas normalmente apresentam-se de forma disseminada, podendo, no entanto aparecer no trato gastrointestinal em formas localizadas, principalmente no estômago e intestino delgado, sendo os linfomas primários do cólon raros1,2. Apresentam sistemas de classificação e diagnósticos diferentes do adenocarcinoma de cólon3, possuindo também desfecho clínico mais grave do que esta patologia2, sendo necessário um alto nível de suspeição clínica para a realização de um diagnóstico precoce. O correto estadiamento permite predizer o prognóstico e direcionar a terapêutica, sendo a chance de cura, uma cirurgia para ressecção tumoral em estadios precoces2,3,4.

RELATO DE CASO

FPB, 65 anos, sexo feminino, admitida com queixa de dor em fossa ilíaca direita e abaulamento local há 2 meses, associado a hiporexia, constipação e emagrecimento de 5 kg no período. Há 4 dias da admissão referia febre diária não aferida, sendo encontrada ao exame físico massa endurecida e fixa em fossa ilíaca direita.

Realizada tomografia computadorizada de abdômen que demonstrou espessamento concêntrico do cólon ascendente, com imagem irregular, heterogênea, hipodensa, entremeada por áreas hipoatenuantes e com gás em seu interior.

A colonoscopia evidenciou lesão ulcerada de bordas elevadas ocupando toda luz cólica direita, sendo realizada biópsia que evidenciou colite crônica ulcerativa inespecífica.

Paciente foi submetida a laparotomia exploradora dada a lesão sugerir tratar-se de neoplasia sendo identificada massa em cólon ascendente. Realizada ressecção em bloco do transverso proximal, cólon ascendente, ceco (figura 1), 30 cm de íleo terminal e parte da parede pélvica com confecção de ileotransversoanastomose. Paciente recebeu alta no 3º pós-operatório.


O exame anátomo-patológico da peça demonstrou neoplasia maligna pouco diferenciada, sugestiva de linfoma. (figura 2). Realizada imunohistoquimímica que demonstrou linfoma difuso de grandes células (WHO 2001), revelando imunofenótipo B (CD 20+), variante morfológica anaplásica e índice de proliferação celular de 70%. Estadio I de Ann Arbor modificado por Mussheff and Schimidt Volmer.


Paciente apresentou boa evolução, sendo submetida a tratamento quimioterápico com esquema R-CHOP (rituximabe, ciclofosfamida, doxorrubicina, vincristina e prednisolona), estando assintomática e sem evidências de recidiva em dois anos de acompanhamento.

DISCUSSÃO

Os linfomas primários do cólon correspondem a 0,2 a 0,6% de todas as neoplasias cólicas, sendo seu pico de incidência entre 50 e 70 anos1. É mais predominante em homens, tendo igual incidência entre os sexos quando se considera apenas adultos2. São lesões mais comuns no ceco, fato talvez explicado pela maior quantidade de linfonodos neste local3. A maioria trata-se de uma lesão única. Os fatores de risco são: colite ulcerativa, doença de Chron, radioterapia prévia, transplante renal, ureterossigmoidostomia, corticoterapia e HIV (o que pode explicar o aumento na incidência)3.

Os sintomas mais comuns são dor abdominal crônica inespecífica, perda de peso, massa palpável e alteração do hábito intestinal, (semelhantes ao apresentados inicialmente pela paciente), podendo também apresentar-se com náuseas, vômitos, febre, sangramento gastrointestinal ou abdome agudo1,2,3,4. Os critérios de Dawson são usados para o diagnóstico2. (tabela 1)

Os exames de imagem ajudam o diagnóstico e no estadiamento, no entanto o diagnóstico definitivo é feito apenas através da análise da biópsia, podendo esta ser feita por colonoscopia ou por análise histológica da peça obtida na ressecção cirúrgica2 . No caso apresentado a biópsia realizada pela colonoscopia mostrou apenas a reação inflamatória no cólon.

A maioria dos linfomas de cólon são provenientes das células B2,3,4, sendo este o tipo encontrado no caso apresentado. Para o estadiamento o sistema mais usado é o de Ann Arbor, inicialmente proposto para estadiamento dos linfomas de Hodgkin. Foi modificado por Mussheff and Schimidt Volmer para ser mais bem aplicado aos linfomas gastrointestinais3,5. (tabela 2)

O tratamento é eminentemente cirúrgico, podendo ser realizado tanto por via aberta ou laparoscópica2, com taxas de morbidade e mortalidade menores neste. O uso da quimioterapia adjuvante é controverso1,4,5,6,7, sendo que alguns autores a usam em todos os casos e outros apenas em tumores de pior prognóstico (tabela 3), podendo-se também usar a radioterapia em casos de linfoma de reto1,2.

CONCLUSÃO

Embora raro, o linfoma primário de cólon é uma patologia que merece todo o cuidado, pois é mais agressivo que o tumor de cólon2 e a sua cura depende principalmente de um diagnóstico nos estádios precoces, pois o melhor tratamento é a ressecção radical2,3,4, sendo isto difícil devido aos sintomas pouco específicos no início da doença. A quimioterapia adjuvante vem demonstrando bons resultados3, 5,7 . Devido à raridade do caso se faz necessário a descrição de relatos para conhecimento médico dos aspectos clínicos, diagnósticos e terapêuticos da patologia.

Recebido em 22/09/2009

Aceito para publicação em 12/11/2009

Trabalho realizado no Hospital de Base / Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) / Disciplina de Coloproctologia – Departamento de Cirurgia

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  • Endereço para correspondência:

    Rafael Luís Luporini
    Rua 15 de Novembro, 3426
    São Carlos – SP
    CEP:13569-220
    Telefone: (16) 3372-1183 / (17) 8111-5500
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Nov 2010
    • Data do Fascículo
      Set 2010

    Histórico

    • Aceito
      12 Nov 2009
    • Recebido
      22 Set 2009
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