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Resistência à traça-do-tomateiro em plantas com altos teores de acilaçúcares nas folhas

Resistance to the South American tomato pinworm in tomato plants with high foliar acylsugar contents

Resumos

A traça-do-tomateiro foi constatada pela primeira vez no Brasil em 1980 estando hoje dentre as principais pragas da tomaticultura nacional. O controle desta praga é feito principalmente por inseticidas, sendo realizada em casos extremos, até três pulverizações semanais. Acessos silvestres de tomateiro como S. pennellii LA-716 possuem resistência a pragas, mediada pela presença de acilaçúcares nos folíolos. Os objetivos deste trabalho foram obter genótipos de tomateiro com características comerciais e altos teores foliares de acilaçúcares (AA), e avaliar seus níveis de resistência à traça do tomateiro Tuta absoluta. Os genótipos foram obtidos a partir de populações segregantes (F2) oriundas do cruzamento entre AF-8665 (linhagem elite com baixos teores de AA) e as linhagens BPX370E-30-275-11-7, BPX370E-30-275-11-8, BPX370E-30-380-68-6 e BPX370E-30-380-68-8 (linhagens pré-comerciais com altos teores, obtidas a partir do cruzamento interespecífico S. lycopersicum x S. pennellii LA-716). Plantas F2 previamente selecionadas com base nos teores de AA foram clonadas e em seguida testadas quanto à resistência à traça-do-tomateiro. Genótipos selecionados para altos teores de AA expressaram menor ovoposição da traça e níveis inferiores de danos causados à planta pela infestação do microlepidóptero do que genótipos (comerciais ou não) com baixos teores de AA. Embora genótipos com altos teores de AA tenham sido mais resistentes à traça do que os demais, seus níveis de resistência podem ser dependentes do background genotípico: clones BPX-410H (alto teor de AA) mostraram-se em geral ligeiramente mais resistentes do que o dos clones BPX-370G (também alto teor de AA). Os clones BPX-410H-01pl#281, BPX-410H-04pl#348 e BPX-410H-04pl#481 foram superiores nas avaliações de resistência à traça e são recomendados para a continuidade do programa de melhoramento.

Solanum pennellii; Solanum lycopersicum; Tuta absoluta; aleloquímico


The South American tomato pinworm was first detected in Brazil in 1980 and today it is among the major pests of tomato in Brazil. The control of this pest has been done primarily with the use of insecticides, and three sprays per week may be necessary in extreme cases. Wild tomato accessions such as S. pennellii LA-716 possess high levels of insect resistance, mediated by high foliar contents of acylsugars. The objectives of this study were obtain improved tomato genotypes with high contents of leaf acylsugars, and to assess their levels of resistance to the South American tomato pinworm Tuta absoluta. These genotypes were obtained from segregating (F2) populations from the cross between AF-8665 (an elite low AS tomato line) and lines BPX370E-30-275-11-7, BPX370E-30-275-11-8, BPX370E-30-380-68-6 and BPX370E-30-380-68-8 (pre-commercial high AS inbreds derived from an original interspecific cross between S. lycopersicum x S. pennellii LA-716). F2 plants selected for high AS contents were cloned and subsequently tested for pinworm resistance. The high AS genotypes showed smaller ovoposition counts and lower plant damage levels than low AS genotypes (commercial or not). Even though high AS genotypes were generally more resistant to the South American tomato pinworm than low AS genotypes, their actual levels of resistance may be background-dependent: high AS clones with BPX-410H background had slightly higher levels of resistance than high AS clones with BPX-370G background. Clones BPX-410H-01pl#281, BPX-410H-04pl#348 and BPX-410H-04pl#481 had the highest levels of pinworm resistance, and were recommended for further use in breeding programs.

Solanum pennellii; Solanum lycopersicum; Tuta absoluta; allelochemical


PESQUISA RESEARCH

Resistência à traça-do-tomateiro em plantas com altos teores de acilaçúcares nas folhas

Resistance to the South American tomato pinworm in tomato plants with high foliar acylsugar contents

Álvaro C Gonçalves NetoI; Vanisse de F SilvaI; Wilson Roberto MalufI; Gabriel M MacielI; Daniela AC NízioII; Luiz AA GomesI; Sebastião M de AzevedoIII

IUFLA-Depto. Agricultura, C. Postal 3037, 37200-000 Lavras-MG

IIUFLA-Depto. Biologia

IIISakata Sudamerica, Bragança Paulista-SP; alvarocgneto@gmail.com; vanissesilva@yahoo.com; wrmaluf@ufla.br; gmmufla@gmail.com; danielanizio@hotmail.com; laagomes@ufla.br; sebastiao.azevedo@sakata.com.br

RESUMO

A traça-do-tomateiro foi constatada pela primeira vez no Brasil em 1980 estando hoje dentre as principais pragas da tomaticultura nacional. O controle desta praga é feito principalmente por inseticidas, sendo realizada em casos extremos, até três pulverizações semanais. Acessos silvestres de tomateiro como S. pennellii LA-716 possuem resistência a pragas, mediada pela presença de acilaçúcares nos folíolos. Os objetivos deste trabalho foram obter genótipos de tomateiro com características comerciais e altos teores foliares de acilaçúcares (AA), e avaliar seus níveis de resistência à traça do tomateiro Tuta absoluta. Os genótipos foram obtidos a partir de populações segregantes (F2) oriundas do cruzamento entre AF-8665 (linhagem elite com baixos teores de AA) e as linhagens BPX370E-30-275-11-7, BPX370E-30-275-11-8, BPX370E-30-380-68-6 e BPX370E-30-380-68-8 (linhagens pré-comerciais com altos teores, obtidas a partir do cruzamento interespecífico S. lycopersicum x S. pennellii LA-716). Plantas F2 previamente selecionadas com base nos teores de AA foram clonadas e em seguida testadas quanto à resistência à traça-do-tomateiro. Genótipos selecionados para altos teores de AA expressaram menor ovoposição da traça e níveis inferiores de danos causados à planta pela infestação do microlepidóptero do que genótipos (comerciais ou não) com baixos teores de AA. Embora genótipos com altos teores de AA tenham sido mais resistentes à traça do que os demais, seus níveis de resistência podem ser dependentes do background genotípico: clones BPX-410H (alto teor de AA) mostraram-se em geral ligeiramente mais resistentes do que o dos clones BPX-370G (também alto teor de AA). Os clones BPX-410H-01pl#281, BPX-410H-04pl#348 e BPX-410H-04pl#481 foram superiores nas avaliações de resistência à traça e são recomendados para a continuidade do programa de melhoramento.

Palavras-chave:Solanum pennellii, Solanum lycopersicum, Tuta absoluta, aleloquímico.

ABSTRACT

The South American tomato pinworm was first detected in Brazil in 1980 and today it is among the major pests of tomato in Brazil. The control of this pest has been done primarily with the use of insecticides, and three sprays per week may be necessary in extreme cases. Wild tomato accessions such as S. pennellii LA-716 possess high levels of insect resistance, mediated by high foliar contents of acylsugars. The objectives of this study were obtain improved tomato genotypes with high contents of leaf acylsugars, and to assess their levels of resistance to the South American tomato pinworm Tuta absoluta. These genotypes were obtained from segregating (F2) populations from the cross between AF-8665 (an elite low AS tomato line) and lines BPX370E-30-275-11-7, BPX370E-30-275-11-8, BPX370E-30-380-68-6 and BPX370E-30-380-68-8 (pre-commercial high AS inbreds derived from an original interspecific cross between S. lycopersicum x S. pennellii LA-716). F2 plants selected for high AS contents were cloned and subsequently tested for pinworm resistance. The high AS genotypes showed smaller ovoposition counts and lower plant damage levels than low AS genotypes (commercial or not). Even though high AS genotypes were generally more resistant to the South American tomato pinworm than low AS genotypes, their actual levels of resistance may be background-dependent: high AS clones with BPX-410H background had slightly higher levels of resistance than high AS clones with BPX-370G background. Clones BPX-410H-01pl#281, BPX-410H-04pl#348 and BPX-410H-04pl#481 had the highest levels of pinworm resistance, and were recommended for further use in breeding programs.

Keywords: Solanum pennellii, Solanum lycopersicum, Tuta absoluta, allelochemical.

A traça-do-tomateiro (Tuta absoluta Meyr.) é atualmente uma das pragas mais importantes do tomateiro cultivado no Brasil. Espécies silvestres de tomateiro têm sido amplamente utilizadas como fonte de resistência a pragas e doenças no melhoramento de cultivares comerciais, particularmente a espécie Solanum pennellii. Os acessos de S. pennellii possuem altos níveis de resistência a um grande número de artrópodos-praga, inclusive à traça-do-tomateiro (Resende, 2003; Resende et al., 2006; Resende et al., 2008; Pereira et al., 2008). A resistência obtida a partir de S. pennellii tem sido associada à presença de aleloquímicos denominados de acilaçúcares (AA), que são ésteres de ácidos graxos. Estes aleloquímicos podem atuar impedindo a ovoposição, a alimentação ou, ainda, exercendo efeito deletério no desenvolvimento de determinadas fases de um artrópodo-praga. Ao contrário do S. pennellii, as cultivares de tomates comerciais atuais não apresentam níveis elevados de AA, enquanto plantas F1 do cruzamento entre S. lycopersicum x S. pennellii podem apresentar níveis moderados (Resende et al., 2002).

Resende (2003) trabalhou com plantas selecionadas para alto e baixo teor de AA na população F2 do cruzamento S. lycopersicum ('TOM-584') x S. pennelli 'LA-716' e na população F2 do primeiro retrocruzamento para S. lycopersicum. Estas plantas foram submetidas a ensaios de repelência ao ácaro Tetranychus evansi, de resistência à mosca-branca (Bemisia sp.) e à traça-do-tomateiro (T. absoluta Meyr.), juntamente com os genitores. Os resultados obtidos demonstraram o efeito dos AA na repelência ao ácaro. Com relação à mosca-branca, verificou-se menor número de ninfas e, com relação à traça, menores níveis de danos às plantas em genótipos com elevado teor de AA.

A obtenção de plantas com alto teor de AA nos folíolos e bons níveis de resistência às principais pragas do tomateiro é de grande interesse no manejo da cultura, na qual o controle de pragas tem sido realizado, basicamente, por meio de controle químico associado a outras práticas. Gonçalves et al. (2007) indicaram que altos teores de AA se devem à ação de um alelo recessivo, com dominância incompleta no sentido de altos teores. Em virtude da dominância ser incompleta, obter linhagens avançadas com altos teores foliares de AA poderia tornar possível a obtenção de híbridos resistentes a artrópodos-pragas mesmo entre linhagens com altos teores de AA e linhagens com baixos teores de AA, o que foi comprovado por Maluf et al. (2010). Este autor testando diferentes combinações híbridas entre linhagens com altos teores e linhagens com baixos teores de AA comprovou moderado nível de resistência ao ácaro (Tetranychus urticae) e níveis satisfatórios de resistência tanto para mosca branca (Bemisia argentifolii) quanto para a traça do tomateiro (T. absoluta Meyr.).

Embora a resistência a pragas em tomateiro mediada por AA derivados de S. pennellii seja bem documentada (Resende, 2003; Gonçalves et al., 2006; Resende et al., 2006; Saeidi et al., 2007; Maluf et al. (2010)), ainda não estão disponíveis no mercado tomateiros comerciais com níveis satisfatórios de resistência. Este trabalho teve por objetivos obter genótipos de tomateiro com altos teores foliares de AA, em diferentes backgrounds genotípicos com características comerciais e avaliar seus níveis de resistência à traça (Tuta absoluta Meyr.) relativamente às testemunhas comerciais, com baixos teores de AA.

MATERIAL E MÉTODOS

Obtenção e seleção de genótipos de tomateiro com altos teores de AA - Foi realizado um ensaio experimental no período de novembro de 2005 a fevereiro de 2006, em casa de vegetação aberta lateralmente na Estação Experimental de Hortaliças-HortiAgro Sementes Ltda, Fazenda Palmital, Ijaci-MG (21º14'16“de latitude sul e 45º08'00” de longitude, com 918 m de altitude). As avaliações foram realizadas no Laboratório de Química Orgânica, do Departamento de Química, da Universidade Federal de Lavras. Para a seleção de genótipos com altos teores de AA, utilizaram-se quatro populações segregantes (F2) oriundas do cruzamento entre AF-8665 (linhagem elite de crescimento determinado, com baixo teor de AA, pertencente à empresa Sakata Seed Corporation) e os genótipos BPX-370E-30-275-11-7, BPX-370E-30-275-11-8, BPX-370E-30-380-68-6 e BPX-370E-30-380-68-8 (genótipos pré-comerciais de crescimento indeterminado, com altos teores de AA, pertencentes à HortiAgro Sementes Ltda., e acessos do 2º retrocruzamento para S. lycopersicum 'TOM-584', a partir do cruzamento interespecífico original entre S. lycopersicum x S. pennellii LA-716). Estas populações F2 foram denominadas BPX-410H-01, BPX-410H-02, BPX-410H-03, e BPX-410H-04, respectivamente, e representam populações F2RC3 oriundas do terceiro retrocruzamento para S. lycopersicum, a partir do cruzamento original S. lycopersicum x S. pennellii 'LA-716'. Foram semeadas em bandejas de poliestireno expandido e posteriormente transplantadas para vasos de 500 mL totalizando 500 plantas, das quais 400 pertenciam às populações F2 (100 plantas de cada uma das quatro populações BPX-410H), 50 da testemunha para alto teor de AA (S. pennelli 'LA-716') e 50 da testemunha para baixo teor de AA (S. lycopersicum 'TOM-584'), uma linhagem de crescimento indeterminado de tipo comercial e background genotípico similar à cultivar Santa Clara. As plantas foram individualmente avaliadas quanto aos teores de AA nos folíolos, de acordo com metodologia para a determinação de açúcares redutores (Resende et al., 2002) em duas observações por planta, sendo o teor de AA estimado por meio da média das duas observações para cada planta. Dentre as quatro populações, as 30 plantas F2 que apresentaram teores mais elevados de AA foram preliminarmente selecionadas, e reavaliadas quanto ao teor de AA (média de seis observações repetidas para cada planta) seguindo a mesma metodologia. Foram selecionadas as quinze plantas que apresentaram teores mais elevados de AA, correspondentes a valores entre 65 e 97,4% do teor médio encontrado em folhas de S. pennellii LA-716 (em média, 75,3%) (Tabela 1). Estas plantas foram clonadas via enraizamento de brotações axilares com tamanhos homogêneos. Em seguida, os seis genótipos com altos teores de AA que disponibilizaram número suficiente (no mínimo quatro) de plantas clonadas: clones BPX-410H-01pl#281 (T9), BPX-410H-02pl#69 (T10), BPX-410H-03pl#345 (T11), BPX-410H-03pl#368 (T12), BPX-410H-04pl#348 (T13) e BPX-410H-04pl#481 (T14) foram incluídos no experimento para avaliação de resistência à traça do tomateiro (T. absoluta Meyr.). Foram também utilizados nos estudos outros clones disponíveis na HortiAgro Sementes Ltda., previamente selecionados para alto teor de AA: BPX-370G-30-380-68-08-02pl#192 (T1), BPX-370G-30-380-68-08-02pl#287 (T2), BPX-370G-30-380-68-08-04pl#269 (T3), BPX-370G-30-380-68-08-05pl#270 (T4) e BPX-370G-30-380-68-08-05pl#283 (T5), assim como três clones selecionados com baixos teores de AA, BPX-370G-30-380-68-0802pl#045 (T6), BPX-370G-30-380-68-08-04pl#036 (T7) e BPX-370G-30-380-68-08-05pl#120 (T8). Estes clones BPX-370G (tanto os de altos quanto os de baixos teores de AA) foram obtidos a partir de populações F2RC3 oriundas do terceiro retrocruzamento para S. lycopersicum a partir do cruzamento original S. lycopersicum x S. pennellii 'LA-716', em que o genitor recorrente S. lycopersicum 'TOM-584' possuía um background genotípico distinto da AF-8665. Os procedimentos adotados para a obtenção dos clones BPX-370G foram semelhantes aos empregados na obtenção dos clones BPX-410H. Todos os clones BPX-370G e BPX-410H selecionados possuíam características comparáveis a tomateiros comerciais, e eram portanto bastante distintos do acesso S. pennellii 'LA-716' usado originalmente no cruzamento interespecífico como fonte da característica alto teor de AA, e agronomicamente superiores a ele.

Reação de genótipos de tomateiro à infestação com a traça T. absoluta - Os genótipos selecionados em relação ao teor de AA foram avaliados quanto à resposta a infestação de traça-do-tomateiro (T. absoluta Meyr.) em experimento conduzido entre agosto de 2006 e novembro de 2006. Os materiais genéticos utilizados neste experimento foram: (a) seis clones com altos teores de AA selecionados na primeira etapa deste trabalho (T9, T10, T11, T12, T13 e T14); (b) cinco clones com altos teores de AA com outro background genotípico (T1, T2, T3, T4 e T5); (c) três clones com baixos teores de AA (T6, T7 e T8). Como testemunhas foram utilizados o genótipo 'LA-716'(T17), as linhagens comerciais TOM-584 (T15) e TOM-598 (T16) e o híbrido comercial Bônus F1 (baixo teor de AA) (T18).

As mudas dos genótipos-testemunha foram produzidas via sementes (sem a necessidade de utilização de estaquia). Para a infestação com T. absoluta, foi previamente estabelecida uma criação de traça-do-tomateiro em estufa telada, constituída por uma estrutura de proteção de 12 m2 (4 x 3 m), modelo capela, com cobertura de plástico transparente de 100 micras de espessura e laterais de tela antiafídica. A infestação na estufa telada foi efetuada com plantas visivelmente atacadas da cultivar suscetível Santa Clara, às quais se acrescentavam novas plantas suscetíveis a cada 15 dias, de modo a manter continuamente altas populações de inóculo dentro da estufa telada; contudo, a quantidade efetiva de adultos no inóculo inicial não foi determinada. Em agosto de 2006 foi realizada a semeadura das testemunhas (linhagens e híbrido) em bandejas de poliestireno com 128 células utilizando substrato Plantmax®. Em outubro de 2006 foi feito o transplantio das mudas dos clones (anteriormente obtidos via enraizamento de brotações axilares) e das testemunhas para vasos de 3,44 L. Decorridos quinze dias após o transplantio os diferentes tratamentos foram colocados na estufa telada previamente infestada com uma população de T. absoluta. Aos 14 dias após infestação, foi realizada avaliação da ovoposição, por meio da contagem do número de ovos com o auxílio de um microscópico estereoscópico binocular com aumento de 20 a 80 vezes (número de ovos em 2 cm2 de área foliar), a avaliação foi repetida após quatro dias, tomando como número total de ovos a média das duas contagens. Foram utilizados para as contagens apenas folíolos do terço superior da planta, previamente marcados com uma fita adesiva branca para posteriores avaliações no mesmo local amostrado. O delineamento utilizado foi inteiramente casualizado com uma planta (vaso) por parcela e quatro repetições por tratamento. A temperatura média e a umidade relativa do ar entre o período de infestação das plantas até o último dia de avaliação dos danos variaram de 18,5 a 27,4ºC e 84,5 a 100%, respectivamente. Iniciando-se aos 20 dias após a infestação, as plantas foram individualmente avaliadas quanto aos níveis de danos de acordo com escalas de notas de um (menor dano) a cinco (maior dano), propostas por Maluf et al. (1997) e Labory et al. (1999) para os seguintes parâmetros: lesões no folíolo (LF) e porcentagem de folíolos atacados (PFA) e danos gerais à planta (DP).

Análise dos dados - Foram feitas nove avaliações, uma a cada três dias, a partir do 20º dia após a infestação. As médias das notas (dados transformados ) e o número total de ovos foram submetidos à análise de variância utilizando o teste de agrupamento de Scott-Knott a 5% de probabilidade por meio do aplicativo estatístico SISVAR (Ferreira, 2000). Contrastes entre tratamentos de altos e baixos teores de AA foram estimados, de modo a obter melhores inferências sobre a relação entre teor de AA e os níveis de resistência à traça.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não houve diferenças significativas quanto à ovoposição da traça entre os clones T13 e T14 e a testemunha com alto teor de AA T17 (Tabela 2). Estes clones obtiveram menores números de ovos (menor preferência para ovoposição) do que os demais tratamentos analisados. Embora não tão resistentes quanto T17 e os clones T13 e T14, os níveis de resistência dos clones com alto teor de AA (T1, T2, T4, T5, T9, T10, T11 e T12) foram maiores do que os apresentados pelas testemunhas T15, T16, T18 e por dois (T7 e T8) dos três clones BPX-370G com baixos teores de AA (Tabela 2).

Entre os clones com altos teores de AA, o T3 apresentou maior ovoposição pela traça, ficando este no mesmo grupo das testemunhas para baixo teor de AA (T15, T16, T18) e dos clones T7 e T8, com número de ovos até mesmo maiores do que os do clone T6 que apresenta baixo teor de AA. Tal resultado pode ser explicado pela presença de outros possíveis aleloquímicos com efeito antagônico idêntico ao da resistência causada por AA, bem como por diferenças entre os backgrounds genotípicos envolvidos, e mesmo por deficiências de amostragem no presente experimento. No entanto, em termos gerais fica evidente que altos teores de AA nos folíolos levaram a uma menor ovoposição da traça (contrastes C2, C3 da Tabela 2), embora a intensidade desta menor ovoposição possa ser influenciada pelo background genotípico considerado, uma vez que as ovoposições observadas nos clones BPX-410H foram em geral ligeiramente inferiores, em média, aos de clones BPX-370G também com altos teores de AA (Tabela 2).

A relação entre maiores teores de AA e menores níveis de ovoposição foi clara nos resultados do presente ensaio, onde os clones com altos teores de AA testados correspondem ao terceiro retrocruzamento para S. lycopersicum a partir do cruzamento interespecífico original S. lycopersicum x S. pennellii 'LA-716'. Estes resultados contrastam com os encontrados por Resende et al. (2006) que testaram populações mais próximas do material silvestre LA-716. Tais autores avaliaram populações F2 (S. lycopersicum x S. pennellii "LA-716) e F2BC1 [S. lycopersicum 'TOM-584'x F2 (S. lycopersicum 'TOM-584' x S. pennellii 'LA716')] e não encontraram esta associação entre teores de AA e ovoposição do inseto. Por outro lado, essa associação entre menores ovoposições e maiores teores de AA também foram relatadas recentemente por Maluf et al. (2010), que, a exemplo do presente ensaio, também trabalhou com materiais provenientes de retrocruzamentos avançados. Isto indica uma associação entre maiores teores de AA e menores ovoposições da traça, embora esta associação possa ter sido mascarada nas primeiras gerações segregantes a partir do cruzamento interespecífico, provavelmente devido às grandes influências dos muitos “backgrounds” genotípicos existentes nestas gerações.

Foram detectadas diferenças significativas entre os tratamentos pelo teste Scott-Knott a 5% de probabilidade para lesões nos folíolos (LF), porcentagem de folíolos atacados (PFA) e danos nas plantas (DP). Genótipos com altos teores de AA apresentaram maior resistência à traça-do-tomateiro quando comparados com os genótipos com baixos teores de AA, para as três variáveis consideradas (contrastes C1, C2, C3, Tabela 3).

Tanto para lesão nos folíolos (LF) quanto para percentagens de folíolos atacados (PFA) e danos na planta (DP), todos os clones com altos teores de AA demonstraram níveis substancialmente mais altos de resistência (menores níveis de dano) quando comparados com as testemunhas (T15, T16 e T18), pelo teste Scott-Knott de agrupamento de médias (Tabela 3). Estas diferenças também existiram quando as comparações dos clones de altos teores de AA foram feitas com os clones BPX-370G com baixos teores de AA, mas foram menos nítidas em alguns casos: os clones T2 e T3, com altos teores de AA, não se apresentaram nitidamente distintos de alguns dos clones BPX-370G com baixos teores de AA com relação respectivamente, às variáveis PFA para o primeiro, e LF, PFA e DF para o segundo (Tabela 3). Estas pequenas discrepâncias relativas a comparações com os clones BPX-370G com baixos teores de AA não existiram quando os clones BPX-410H foram considerados, o que é indicativo, mais uma vez, da influência do background genotípico BPX-410H no sentido de potencializar os efeitos do alto teor de AA na resistência, relativamente ao efeito do background BPX-370G: os clones BPX-370G com altos teores de AA (T1, T2, T4 e T5), mesmo apresentando níveis de resistência mais elevados que os das testemunhas com baixo teor de AA, mostraram-se inferiores aos clones BPX-410H também com altos teores de AA (T9, T10, T13 e T14) (Tabela 3).

Dentre os clones com altos teores de AA, destacaram-se T9, T13 e T14, cujas médias foram significativamente menores que as dos demais clones testados. Estes clones foram apenas menos resistentes do que o T17 (S. pennellii), altamente resistente à T. absoluta. A maior resistência do T17 em relação à dos clones BPX-410H e BPX-370G selecionados para altos teores de AA pode ser atribuída tanto pela diferença nos teores de AA (os teores de AA no acesso silvestre são mais elevados), como por outros fatores de resistência, além dos AA, presentes em (S. pennellii), e não recuperados durante o processo de seleção, conforme sugerido por Maluf et al. (2010).

A associação entre níveis elevados de AA e a resistência à traça-do-tomateiro T. absoluta encontrada no presente ensaio com genótipos já com características agronômicas melhoradas, vêm sendo confirmada desde as gerações segregantes iniciais a partir do cruzamento interespecífico original S. lycopersicum x S. pennellii 'LA-716' (Resende et al., 2006; Pereira et al., 2008) até os retrocruzamentos mais avançados, com características agronômicas próximas das comerciais (Maluf et al. 2010).

Os dados deste trabalho reafirmam inferências de outros autores (Resende et al., 2003; Gonçalves et al., 2006; Resende et al., 2006; Saeidi et al., 2007; Maluf et al. 2010; Resende et al., 2008) de que os AA derivados de S. pennellii são o principal fator responsável pelos altos níveis de resistência a pragas e de que a seleção indireta para altos teores de AA é eficiente na obtenção de linhagens melhoradas de tomateiro com bons níveis de resistência. Por outro lado, AA podem não ser o único fator envolvido na resistência à traça em S. pennellii, uma vez que o acesso silvestre possui níveis de resistência mais elevados do que os genótipos selecionados para altos teores de AA, uma conclusão semelhante à de Maluf et al. (2010). Contudo, além de serem o componente mais importante da resistência, os AA têm uma herança simples (Resende et al., 2002; Gonçalves et al., 2007), essencialmente monogênica, o que torna particularmente fácil sua introdução em linhagens-elite de tomateiro. Este fato, aliado à recente descoberta de Maluf et al. (2010) de que híbridos heterozigotos resultantes do cruzamento entre linhagens com altos teores de AA e linhagens com baixos teores de AA apresentaram níveis satisfatórios de resistência a artrópodos-praga (T. absoluta, Bemisia argentifollii e Tetranychus urticae), trazem novas perspectivas para o melhoramento de tomateiro visando à resistência múltipla a pragas. Desta maneira, novos clones com altos teores de AA foram identificados, particularmente os clones BPX-410H-01pl#281, BPX-410H-04pl#348 e BPX-410H-04pl#481 são promissores para o programa de melhoramento genético em tomateiro visando resistência à T. absoluta Meyr., e provavelmente a outras pragas, podendo ser utilizados tanto para obtenção de novas linhagens de tomateiro resistentes, quanto para a obtenção de novos híbridos (também resistentes) por meio de sua combinação com outras linhagens que possuam baixos teores de AA.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FAPEMIG, CNPq/MCT, CAPES/MEC, UFLA, FAEPE (Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão), FUNDECC (Fundação de Desenvolvimento Científico e Cultural) e às empresas HortiAgro Sementes, Sakata Sudamerica e Sakata Seed Corporation (Japão) pelo auxílio financeiro, concessão de bolsas e disponibilização da infra-estrutura.

(Recebido para publicação em 13 de julho de 2009; aceito em 10 de maio de 2010)

(Received on July 13, 2009; accepted on May 10, 2010)

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Out 2010
  • Data do Fascículo
    Jun 2010

Histórico

  • Recebido
    13 Jul 2009
  • Aceito
    10 Maio 2010
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