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Desaparecimento in situ da matéria seca, proteína bruta e fração fibrosa das silagens de híbridos de sorgo (Sorghum bicolor (L). Moench)

In situ disappearance of dry matter, crude protein and fiber of sorghum silage(Sorghum bicolor (L) Moench)

Resumos

Avaliou-se a digestibilidade in situ de três variedades de sorgo, utilizando-se três bovinos machos, mestiços de Holandês × Zebu, fistulados no rúmen. Os períodos de incubação utilizados foram 6, 12, 24, 48, 72 e 96h. No período de incubação de 96h, o desaparecimento da matéria seca (MS) foi de 70,8, 66,1 e 67,9% para os híbridos BR303, BR601 e BR700, respectivamente. Nas outras frações o desaparecimento no período de 96h foi de: proteína bruta 73,4, 63,9 e 59,0%; fibra em detergente neutro 57,6, 53,8 e 52,7%; fibra em detergente ácido, 57,7, 53,0 e 53,0%; celulose, 64,0, 58,8 e 58,2%, hemicelulose, 57,4, 54,8 e 52,3%, respectivamente para os híbridos BR303, BR601 e BR700. Os maiores valores para o híbrido 303 provavelmente se devem à sua maior porcentagem de grãos na silagem. Esses resultados mostram que a maior participação de grãos na silagem influenciou positivamente no desaparecimento das frações fibrosa e protéica das silagens estudadas.

Silagem; sorgo; rúmen; degradabilidade in situ


Three Holstein-Zebu crossbred males ruminally cannulated were used for studying the in situ degradability of silage of three sorghum varieties. Incubation times were 6, 12, 24, 48, 72 and 96h. Dry matter disappearance at 96h incubation were 70.8, 66.1 and 67.9% for BR303, BR601 and BR700 varieties, respectively. Disappearances at 96h incubation were 73.4, 63.9 and 59.0% for CP, 57.6, 53.8 and 52.7% for NDF; 57.7, 53.0 and 53.0% for ADF; 64.0, 58.8 and 58.2% for cellulose; and 57.4, 54.7, 52.3% for hemicellulose, respectivelly for BR303, BR601 and BR700 varieties. These results have shown a positive influence of higher grain proportion in the silage on fiber and protein degradability.

Silage; sorghum; rumen; in situ digestibility


Desaparecimento in situ da matéria seca, proteína bruta e fração fibrosa das silagens de híbridos de sorgo (Sorghum bicolor (L). Moench)

[In situ disappearance of dry matter, crude protein and fiber of sorghum silage(Sorghum bicolor (L) Moench)]

M.V. Serafim1, I. Borges2* * Autor para correspondência E-mail: iran@vet.ufmg.br , L.C. Gonçalves2, N.M. Rodriguez2, J.A.S. Rodrigues3

1Curso de Mestrado em Zootecnia – EV-UFMG

2Escola de Veterinária da UFMG

Caixa Postal 567

30123-970 – Belo Horizonte, MG

3CNPMS - EMBRAPA - Sete Lagoas, MG

Recebido para publicação em 2 de fevereiro de 2000

RESUMO

Avaliou-se a digestibilidade in situ de três variedades de sorgo, utilizando-se três bovinos machos, mestiços de Holandês ´ Zebu, fistulados no rúmen. Os períodos de incubação utilizados foram 6, 12, 24, 48, 72 e 96h. No período de incubação de 96h, o desaparecimento da matéria seca (MS) foi de 70,8, 66,1 e 67,9% para os híbridos BR303, BR601 e BR700, respectivamente. Nas outras frações o desaparecimento no período de 96h foi de: proteína bruta 73,4, 63,9 e 59,0%; fibra em detergente neutro 57,6, 53,8 e 52,7%; fibra em detergente ácido, 57,7, 53,0 e 53,0%; celulose, 64,0, 58,8 e 58,2%, hemicelulose, 57,4, 54,8 e 52,3%, respectivamente para os híbridos BR303, BR601 e BR700. Os maiores valores para o híbrido 303 provavelmente se devem à sua maior porcentagem de grãos na silagem. Esses resultados mostram que a maior participação de grãos na silagem influenciou positivamente no desaparecimento das frações fibrosa e protéica das silagens estudadas.

Palavras-Chave: Silagem, sorgo, rúmen, degradabilidade in situ

ABSTRACT

Three Holstein-Zebu crossbred males ruminally cannulated were used for studying the in situ degradability of silage of three sorghum varieties. Incubation times were 6, 12, 24, 48, 72 and 96h. Dry matter disappearance at 96h incubation were 70.8, 66.1 and 67.9% for BR303, BR601 and BR700 varieties, respectively. Disappearances at 96h incubation were 73.4, 63.9 and 59.0% for CP, 57.6, 53.8 and 52.7% for NDF; 57.7, 53.0 and 53.0% for ADF; 64.0, 58.8 and 58.2% for cellulose; and 57.4, 54.7, 52.3% for hemicellulose, respectivelly for BR303, BR601 and BR700 varieties. These results have shown a positive influence of higher grain proportion in the silage on fiber and protein degradability.

Keywords: Silage, sorghum, rumen, in situ digestibility

INTRODUÇÃO

A cultura de sorgo para ensilagem vem crescendo e contribui com aproximadamente 10-15% da área total cultivada para silagem no Brasil. Parte desse crescimento advém da sua produção elevada, bom valor nutritivo, maior tolerância a estresses hídricos ocasionais (Pereira et al., 1989) e pela possibilidade de uma rebrota que pode atingir até 60% da produção de matéria seca do primeiro corte (Zago, 1991). Os sorgos podem ser do tipo granífero, com até 60% de grãos, de dupla finalidade, com 20 a 30% de grãos, e os tipos forrageiros que quase não produzem grãos (Silva et al., 1978). Segundo Zago (1991), à medida que se aumenta a proporção de grãos nas plantas de sorgo, diminui-se a proporção de caule e, conseqüentemente, a quantidade de constituintes da parede celular.

Rabelo (1997) estudou quatro silagens de híbridos de sorgo de porte médio com diferentes teores de tanino e suculência no colmo, utilizando quatro carneiros fistulados no rúmen e alimentados com 80% de feno de jaraguá e 20% de concentrado. O autor obteve às 72 horas os seguintes desaparecimentos médios in situ para os híbridos de sorgo H1 (colmo suculento e sem tanino), H2 (colmo seco e sem tanino), H3 (colmo suculento e com tanino) e H4 (colmo seco e com tanino): 71,1, 71,9, 68,9 e 62,9%, respectivamente. Não houve diferença entre os híbridos, exceto pelo H4 que apresentou a menor taxa de desaparecimento. Quanto às degradabilidades efetivas da PB para as taxas de passagem de 0,02, 0,05 e 0,08/h, o híbrido H2 apresentou os maiores valores (63,6, 56,6 e 53,4%), seguido pelo H1 (60,3, 53,4 e 50,7%), H3 (57,8, 48,4 e 44,5%) e H4 (55,3, 46,4 e 42,5%). Erasmus et al. (1990), estudando grãos de sorgo com ou sem tanino, encontraram as seguintes degradabilidades efetivas: grãos sem tanino 76, 60 e 51% e com tanino 69, 52 e 45%, para aquelas taxas de passagem. De acordo com Van Soest (1994), os coeficientes de digestibilidade são influenciados pelos teores de lignina, taninos, FDA e celulose e por suas interações. Segundo o tipo de sorgo, as silagens poderão apresentar variações no seu valor nutritivo. O objetivo deste trabalho foi o de determinar os desaparecimentos da matéria seca (MS), da proteína bruta (PB) e da fração fibrosa em três cultivares de sorgo.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento utilizou três bovinos machos fistulados no rúmen, castrados, mestiços de Holandês ´ Zebu, com peso aproximado de 350kg e idade entre 30 e 36 meses. As fístulas foram cirurgicamente implantadas no ano anterior.

O feno para a alimentação foi picado em picadeira de forragens, em partículas de aproximadamente 3cm. Houve um período pré-experimental de 15 dias, para adaptação dos animais ao regime alimentar.

A dieta dos animais era composta por feno picado de capim-jaraguá (Hyparrhenia rufa (Ness) Stapt) administrado à vontade e concentrado comercial para vaca leiteira com 22% de proteína bruta, na quantidade de 2,4 kg/animal/dia, além de suplementação mineral, adicionando-se 25g de uma mistura comercial junto ao concentrado. Os animais eram alimentados às 8 e 17 horas.

Foram estudadas as degradabilidades ruminais da matéria seca, proteína bruta e frações fibrosas das silagens de três cultivares de sorgo de porte baixo, médio e alto, produzidos pelo Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo (CNPMS/Embrapa), assim denominados: H1, BR303 (granífero); H2, BR601 (forrageiro); e H3, BR700 (duplo propósito – antigo CMSXS 756).

Os híbridos de sorgo foram plantados, colhidos e ensilados nas dependências do CNPMS/Embrapa. O plantio foi feito em 27 de dezembro e a colheita em 10 de abril do ano anterior ao experimento, quando as plantas estavam com 104 dias de idade.

Os sorgos foram cortados manualmente, rente ao solo, em estádio pastoso, sendo posteriormente picados e imediatamente ensilados. Utilizaram-se silos feitos de "PVC", com 10cm de diâmetro e 40cm de comprimento. A compactação foi feita com um soquete de madeira e o fechamento com tampas de "PVC", dotadas de válvulas tipo "Bunsen" lacrados com fita crepe.

O conteúdo dos silos, abertos após 56 dias de ensilagem, foi homogeneizado e as amostras colocadas em estufas de ventilação forçada a 60-65oC, por 72 horas. Posteriormente foram moídas utilizando-se peneira de 5mm e guardadas em vidros com tampa.

Foram utilizados sacos de náilon de 12 ´ 8cm e tamanho médio dos poros entre 40 e 60mm, e em cada um foram colocados 5g de cada forrageira a ser estudada. O conteúdo dos sacos foi previamente seco em estufa ventilada por 48 horas, e seus pesos registrados. Os sacos com amostras eram sorteados e atados com uma borracha elástica a um aro metálico (2cm de diâmetro), que por sua vez se prendia a uma presilha de contenção, que podia manter até 6 aros e, conseqüentemente, até 5 saquinhos. Duas presilhas estavam ligadas por uma corda de náilon (3mm de diâmetro e 20cm de comprimento) a um cilindro de 300 gramas de peso (8 ´ 3cm) que funcionava como âncora. O tamanho da corda de náilon que ligava a outra extremidade da âncora até o exterior era de 50cm.

Cada animal continha os tratamentos sob o mesmo tempo de incubação, de modo que todos os sacos em um mesmo rúmen fossem retirados de uma só vez. Colocavam-se quatro repetições de cada híbrido por animal, no mesmo horário. Os tempos de incubação utilizados foram 6, 12, 24, 48, 72 e 96 horas.

Imediatamente após retirados do rúmen, os sacos eram imersos em água fria e lavados manualmente em água corrente até que ela se mostrasse límpida. Após a lavagem, os sacos colocados em bandejas eram secados em estufa de ventilação forçada de ar por 48 horas, transferidos para dessecador durante 30 minutos e pesados. Descontando-se o peso dos sacos vazios e limpos, foi determinado o desaparecimento da matéria seca no rúmen. Após esse procedimento, o material restante nos sacos de um mesmo híbrido, animal e período de incubação foi juntado em um "pool" homogêneo, moído utilizando-se peneira de 1mm e armazenado em recipientes plásticos tampados, para análises posteriores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Pela Tab. 1 verifica-se que a silagem do híbrido granífero (H1) de porte baixo e colmo seco apresentou o maior teor de MS e o híbrido forrageiro (H2) de porte alto e colmo suculento o menor teor. Para serem consideradas de qualidade muito boa, as silagens devem ter de 30 a 35% de MS (Paiva, 1976) e, assim, favorecer a fermentação láctica (Van Soest, 1994). Borges (1995) encontrou resultados próximos a estes ao estudar sorgos de porte alto e com a mesma suculência de colmo (25,7 e 26,4%).

O maior teor de PB ocorreu no híbrido H1 provavelmente devido à maior participação de grãos no material ensilado.

Os valores de FDN foram semelhantes entre os híbridos. Os resultados de fibra em detergente ácido estão acima dos encontrados por Borges (1995) e por Nogueira (1995), que utilizaram sorgos de porte alto e baixo, respectivamente, e estão próximos aos obtidos por Gomide et al. (1987), White et al. (1991), Corrêa (1996) e Bernardino (1996), que trabalharam com híbridos de portes alto e baixo, alto, alto e médio e médio, respectivamente. Os valores de celulose foram superiores aos obtidos por Gomide et al. (1987), Borges (1995) e Nogueira (1995) para sorgos de portes alto e baixo, enquanto que Corrêa (1996) encontrou resultados maior e menor para sorgos de duplo propósito e resultado semelhante para o híbrido BR601. Os valores de hemicelulose foram semelhantes aos de Gomide et al. (1987), Nogueira (1995) e Corrêa (1996) e inferiores aos de Borges (1995) e Corrêa (1996), para os híbridos de porte alto e baixo, baixo, alto, alto e médio, respectivamente.

O desaparecimento da fração solúvel da matéria seca no tempo zero foi semelhante para os três híbridos estudados (cerca de 23%), conforme consta da Tab. 2. Com seis horas de incubação ruminal, o híbrido H1 (granífero) apresentou maior desaparecimento do que o H3 (duplo propósito), tendência que se manteve até 48 horas de incubação. O híbrido H2 (forrageiro) comportou-se de forma intermediária até 48 horas de incubação. A estabilização da curva ocorreu a partir das 72 horas para os três híbridos, e às 96 horas não houve diferença entre eles.

Ademais, os híbridos ajustaram-se ao modelo exponencial proposto por Orskov & McDonald (1979), apresentando coeficiente de determinação superior a 95%. Assim, a Tab. 2, que mostra o desaparecimento médio da MS, resultou em uma curva de degradação de H1 com valores superiores às demais e em curvas semelhantes para os outros dois híbridos de sorgo. Mais ainda, os três híbridos mostraram o mesmo padrão de desaparecimento, o que resultou em curvas similares, mostrando que o tempo de 96h foi suficiente para se conseguir a máxima degradação das silagens.

As equações para se obterem as curvas pelo modelo exponencial (Y=A–B´ EXP–ct) foram:

YH1= 88,50 - 62,19´ e-0,014 ´ t R2 = 95,8

YH2= 82,50 - 60,77´ e-0,014 ´ t R2 = 97,5

YH3= 87,37 - 68,26´ e-0,012 ´ t R2 = 95,6

Neste trabalho obtiveram-se valores para as frações solúveis (s), que correspondem à percentagem de desaparecimento no tempo zero, de 23,9, 23,8 e 23,3%, para os híbridos H1, H2 e H3, respectivamente.

A taxa de degradação da MS de H3 foi de 1,2%/h e para os demais 1,4%/h.

Forragens mais digestíveis devem apresentar valores altos de "A", mas também altos para "c", que indicam maior potencial de degradação em menor tempo. Para Sampaio (1988), taxa de degradação inferior a 2%/h é indicativa de alimento de baixa qualidade, já que necessita de um período longo no rúmen para que ocorra sua digestão.

A maior degradabilidade efetiva (DE) da MS foi encontrada no híbrido H1 de porte baixo, em todas as taxas de passagem consideradas (Tab. 3). Como era esperado, devido à maior percentagem de grãos na silagem, o híbrido de porte baixo e granífero apresentou a maior taxa de degradação. Já o de porte médio e de duplo propósito teve a menor taxa de degradação. Seus valores aproximaram-se mais do híbrido de porte alto.

Verifica-se pela Tab. 4 que o híbrido H3 apresentou o maior valor de desaparecimento de PB em t0, e o H2 o menor. A menor solubilidade da proteína bruta da silagem de sorgo forrageiro, provavelmente, deve-se à menor participação de grãos no material ensilado e, conseqüentemente, à maior proporção de nitrogênio ligado à fração fibrosa, a qual possui degradação mais lenta.

Nos diferentes tempos de incubação ruminal, H1 apresentou a maior taxa de degradação da PB, os demais não diferiram entre si. A estabilização do processo degradativo ocorreu às 72 horas para H1 e H2, enquanto que H3 somente atingiu o máximo de degradação após 96 horas de permanência no rúmen.

A degradação ruminal do nitrogênio para os três híbridos ajustaram-se ao modelo exponencial de Orskov & McDonald (1979). As curvas obtidas com as três silagens apresentaram a mesma característica, com baixa taxa de degradação (1,0%/h) e tendência de estabilização após 72 horas de incubação. As equações para se obterem as curvas pelo modelo exponencial foram:

YH1 = 95,61 - 50,00´ e-0,01 ´ t R2 = 89,0;

YH2= 88,48 - 61,83´ e-0,01 ´ t R2 = 91,1 e

YH3 = 78,32 - 50,00´ e-0,01 ´ t R2 = 74,4

O potencial de degradação da proteína bruta deste experimento é superior ao obtido por Martins et al. (1998). Estes altos valores de degradabilidade potencial poderiam ser explicados por uma possível inadequação ao modelo exponencial, apesar de terem apresentado elevado coeficiente de determinação para a maioria dos híbridos (H1 e H2, principalmente) e da conversão apresentada, talvez pela não homogeneidade na moagem a 5mm, uma vez que a proporção de panícula do material influencia positivamente a digestibilidade, conforme mencionou Silva (1997), e devido, também, à maior densidade do grão, que pode ter produzido um possível erro de amostragem no momento de preparação do material para ser submetido à incubação ruminal. Para Sampaio (1988), o parâmetro "c" da equação geralmente é de 2 a 6% para a maioria dos alimentos vegetais, acima dos aqui obtidos.

Similar ao ocorrido com a matéria seca, o híbrido de porte baixo (H1) apresentou a maior degradabilidade efetiva da PB (Tab. 5), sugerindo que a maior proporção de grãos influenciou a degradabilidade efetiva da proteína das silagens. De acordo com Silva (1997), os grãos apresentam maior digestibilidade que as folhas e colmos.

O desaparecimento da FDN no tempo zero foi semelhante em H1 e H2 e pouco maior em H3. Exceto no tempo de incubação de 72 horas, os três híbridos não diferiram quanto ao desaparecimento médio da FDN. Os valores de desaparecimento da FDA no tempo zero seguiram a mesma tendência observada da FDN. A diferença observada em t0 não pode ser explicada mas, provavelmente, foi causada por perda de material dos sacos no momento da lavagem, explicação que também é válida para FDN.

A estabilização do processo fermentativo ocorreu após 72 horas de incubação e seus resultados para o desaparecimento da FDN foram superiores aos encontrados por Rabelo (1997), para o desaparecimento dessa porção fibrosa após 72 h de incubação ruminal de silagens de sorgo de porte médio, porém, próximos aos relatados por Ruiz et al. (1990).

Os três híbridos não apresentaram diferenças no desaparecimento da FDA. Ao quantificar a degradabilidade de FDA no H3 pode ter havido alguma falha na determinação de seu valor em 24h, pois ele foi inferior àquele de 12 horas de permanência no rúmen. Isso pode ter sido decorrente da falta de homogeneidade da amostra incubada, já mencionada, o que não permitiu retratar a adequada proporção entre as partes da planta, quando elas foram moídas em moinhos com peneira de 5mm, ou ainda, mais remotamente, devido ao maior influxo de partículas do rúmen para o saco de náilon em relação ao fluxo de partículas do saco para o rúmen, o que refletiu no alto coeficiente de variação encontrado (21,15%). Esta última possibilidade seria decorrente do fato de tratar-se da fração menos solúvel do material incubado, por isso, somente foi verificado no estudo das fibras.

Aplicando-se o modelo exponencial para FDN, obteviveram-se as seguintes equações:

YH1 = 91,19 - 84,29´ e-0,01t R2=92,3;

YH2 = 85,31 - 80,23´ e-0,01t R2=94,5 e

YH3 = 82,55 - 77,22´ e-0,01t R2=91,10.

O potencial de degradação da FDN encontrados foi alto após 96 horas de incubação ruminal. Isso demonstra, juntamente com a baixa taxa de degradação ruminal (1,0%/h), que, apesar dos altos valores de R2 (91,1 a 94,5%), pode ter ocorrido uma possível inadequação ao modelo proposto, causado pela não homogeneidade da amostra, ou por características próprias das silagens de sorgo, ou seja, lenta taxa de degradação. Esta última parece mais provável.

Para FDA as equações foram:

Y1 = 90,68 - 81,69´ e-0,01t R2=91,3 ;

Y2 = 79,25 - 69,02´ e-0,01t R2=86,4 e

Y2 = 75,30 -60,94´ e-0,01t R2=61,3.

O potencial de degradação pode ser considerado elevado já que H1 alcançou 90,7%, H2 79,2% e H3 73,3% e a degradação máxima conseguida às 96 h foi de 57,7% para H1 (Tab. 6). Também a taxa de degradação foi muito baixa, ficando inferior ao proposto por Sampaio (1988) para alimentos de qualidade razoável. Esse fato provavelmente pode ser justificado pelos mesmos argumentos enumerados para FDN.

Verifica-se na Tab. 7 que a maior degradabilidade efetivas de FDN foi alcançada pelo híbrido granífero e de porte baixo (H1). Os valores para H2 e H3 foram próximos. Tais resultados demonstram a influência do teor dos grãos sobre a digestibilidade das silagens de sorgo. Quanto à FDA, registrou-se maior DE para a taxa de passagem de 0,02/h com H1 e menor com H2. O maior valor em H3 em relação ao H2 nas taxas de passagem de 0,05 e 0,08/h devem-se, provavelmente, a erros na mensuração do desaparecimento médio da FDA às 24 h de incubação.

CONCLUSÕES

A maior participação de grãos nas silagens influenciou positivamente no desaparecimento da fração fibrosa e protéica, de tal maneira que as maiores taxas de desaparecimento e degradabilidade efetiva da proteína bruta e da fibra em detergente neutro foram para o H1, cultivar granífero. As taxas de degradação foram baixas, sugerindo uma possível superestimativa do modelo exponencial, que pode ter sido causada pela falta de homogeneidade das amostras incubadas no rúmen.

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  • *
    Autor para correspondência
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      08 Fev 2001
    • Data do Fascículo
      Dez 2000

    Histórico

    • Recebido
      02 Fev 2000
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