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Isolamento de Mycobacterium bovis em cão

Mycobacterium bovis isolation in a dog

Resumo

This report describes the isolation of Mycobacterium bovis from a dog with a history of co-habitation with bufallos infected with Mycobacterium bovis. After necropsy, the microrganism was isolated from a mesenteric lymphatic node in Stonebrink media and bacterial identification was confirmed by biochemical tests.

Dog; tuberculosis; Mycobacterium bovis


Dog; tuberculosis; Mycobacterium bovis

Tuberculose; cão; isolamento; Mycobacterium bovis

COMUNICAÇÃO

[Communication]

Isolamento de Mycobacterium bovis em cão

[Mycobacterium bovis isolation in a dog]

P.M.P.C. Mota1, F.C.F. Lobato2, R.A. Assis2, A.P. Lage2, P.M. Parreiras1

1Laboratório Regional de Apoio Animal do Ministério da Agricultura (LARA/PL)

Caixa Postal 50

33600-000 – Pedro Leopoldo, MG

2Escola de Veterinária da UFMG

Recebido para publicação em 4 de abril de 2001.

Recebido para publicação, após modificações, em 18 de julho de 2001.

E-mail: flobato@vet.ufmg.br

A tuberculose humana constitui um grave problema mundial (Beneson, 1992), sendo o Mycobacterium tuberculosis o principal agente causador de morte ou incapacitação do indivíduo. O Mycobacterium bovis agente etiológico da tuberculose bovina é patogênico para praticamente todos os mamíferos, inclusive o homem. Informações sobre a doença no homem causada pelo M. bovis são escassas. Cosivi et al. (1998) estimam que aproximadamente 3% dos casos de tuberculose em humanos são devidos ao M. bovis. A infecção natural com M. tuberculosis e M. bovis no cão tem sido relatada por mais de um século (Snider, 1971). Cães são sensíveis ao M. bovis e ao M. tuberculosis, e podem se infectar quando viverem em estreita relação com bovinos ou homens doentes. A infecção por M. bovis ocorre principalmente pela via digestiva e por M. tuberculosis pela via aérea. Aproximadamente 75% dos casos em cães são causados pelo M. tuberculosis e somente 25% são devidos ao M. bovis (OPAS, 1989) e o diagnóstico da tuberculose em cães não é fácil de ser feito. Apesar de estarem associados à doença, debilidade, emagrecimento progressivo e caquexia não são sintomas observados na maioria dos animais. A prova de tuberculinização, principal arma de diagnóstico na espécie bovina, pode não ser eficiente em cães, apresentando resultados falso-positivo ou falso-negativo, dificultando o diagnóstico ante-mortem. O isolamento do agente constitui-se no principal critério para o diagnóstico definitivo da tuberculose, sendo considerado como "padrão-ouro" (Aranaz et al., 1996). O isolamento do M. bovis em cães já foi descrito em vários países (OIE, 1996), entretanto não existe nenhum relato no Brasil. O presente trabalho teve por objetivo descreve-lo pela primeira vez no Brasil, a partir de um cão que cohabitava com búfalos tuberculosos.

Por ocasião da realização de tuberculinização em um rebanho bubalino com prevalência de 20,4% de animais reagentes, decidiu-se fazer o teste também nos cães da fazenda, devido à estreita relação desses com os búfalos. Os cães eram alimentados com o leite das búfalas e esporadicamente eram vistos comendo carcaças de búfalos. O estudo foi realizado em cinco cães sem raça definida, três machos e duas fêmeas de aproximadamente sete anos de idade. Nenhum dos animais apresentava sintomatologia clínica característica de tuberculose. Empregou-se tuberculina PPD aviária e tuberculina PPD bovina, na concentração de 2500UI e 5000UI por dose, respectivamente. As tuberculinas foram aplicadas via intradérmica na região cervical, sendo a primeira de localização anterior à segunda, cerca de 10cm uma da outra, em locais previamente depilados. A leitura foi realizada 72 horas após a inoculação. Um dos animais apresentou grande reação à prova alérgica, sendo sacrificado para avaliação de achados macroscópicos e coleta de material para isolamento de micobactéria. Pela necropsia, encontrou-se um linfonodo mesentérico aumentado de volume, com aproximadamente 6x5cm, com aspecto granulomatoso e que rangia ao corte. Não foi observada nenhuma lesão no trato respiratório. Fragmentos desse linfonodo foram coletados e remetidos sob refrigeração ao setor de tuberculose do Laboratório Regional de Apoio Animal (LARA/PL) do Ministério da Agricultura e do Abastecimento para exame bacteriológico. Após processamento inicial segundo a técnica descrita por Mota et al. (1987), o material foi inoculado nos meios de Löwenstein-Jensen e Stonebrink (Kantor, 1988), e incubado a 37°C em aerobiose por 60 dias, fazendo-se controle semanal para registrar a velocidade de crescimento, forma e coloração de colônias suspeitas de micobactérias. Colônias sugestivas de micobactéria foram examinadas para a presença de bastonetes álcool-ácidos resistentes (BAAR) pela técnica de Ziehl-Neelsen e submetidas a testes bioquímicos (Grange et al., 1996).

Crescimento de colônias brancas, pequenas, com bordas irregulares e superfície granular típicas de M. bovis foram observadas a partir do 28o dia de incubação da amostra no meio Stonebrink. À coloração de Ziehl-Neelsen, observou-se presença maciça de BAAR. Por meio das provas bioquímicas, as colônias foram identificadas como pertencentes a M. bovis.

Segundo Grange et al. (1996), com base nas características culturais e pelo perfil bioquímico é possível diferenciar M. bovis de M. tuberculosis. M. bovis tem seu crescimento dificultado em meios que contenham glicerol, sendo essa uma característica importante para diferenciação entre os dois microrganismos. Desse modo, pelo fato de ter sido observado crescimento apenas no meio de Stonebrink, e principalmente pelos resultados positivos nas provas bioquímicas de niacina e de redução do nitrato (Grange et al., 1996), confirmou-se o isolamento de M. bovis. Pela ausência de lesões no trato respiratório, é provável que o cão tenha se contaminado por via oral, através da ingestão de leite ou carcaças de animais infectados.

O isolamento do M. bovis descrito neste trabalho demonstra a importância do cão na cadeia de transmissão da tuberculose bovina, podendo introduzir a doença em rebanhos livres.

Palavras-chave: Tuberculose, cão, isolamento, Mycobacterium bovis

ABSTRACT

This report describes the isolation of Mycobacterium bovis from a dog with a history of co-habitation with bufallos infected with Mycobacterium bovis. After necropsy, the microrganism was isolated from a mesenteric lymphatic node in Stonebrink media and bacterial identification was confirmed by biochemical tests.

Keywords: Dog, tuberculosis, Mycobacterium bovis

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • ARANAZ, A., LIÉBANA, E., PICKERING, X. et al. Use of polymerase chain reaction in the diagnosis of tuberculosis in cats and dogs. Vet. Rec., v.23, p.276-280, 1996.
  • BENESON, A.S. El control de las enfermidades transmisibles en el hombre. Washington: Organización Panamericana de la Salud, 1992. 538p.
  • COSIVI, O., GRANGE, J.M., DABORN, C.J. et al. Zoonotic tuberculosis due to Mycobacterium bovis in developing coutries. Synopses, v.4, p.59-60, 1998.
  • GRANGE, J.M., YATES, M.D., KANTOR, I.N. Guidelines for speciation within the Mycobacterium tuberculosis complex. World Health Organization. 2.ed. 1996. 23p.
  • KANTOR, I.N. Centro Panamericano de Zoonosis. Série de Monografias Científicas y Técnicas. Martinez, n.11, 1988. 69p.
  • MOTA, P.M.P.C., LANGENEGGER, J., LANGENEGGER, C.H. Micobactérias atípicas isoladas de nódulos da esofagostomose bovina. Pesq. Vet. Bras., v.7, p.7-10, 1987.
  • OIE. Office Internacional des Epizooties. Manual of standards for diagnostic tests and vaccines. Paris, 1996. 560p.
  • OPAS. Organización Panamericana de la Salud. Control de las tuberculosis: manual sobre metodos y procedimientos para los programas integrados. Washington, D.C, 1989. 498p.
  • SNIDER, W.R. Tuberculosis in canine and feline populations: Review of the literature. Am. Rev. Resp. Dis., v.104, p.877-887, 1971.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Jun 2002
  • Data do Fascículo
    Ago 2001

Histórico

  • Revisado
    18 Jul 2001
  • Recebido
    04 Abr 2001
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