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Larvas de nematóides de importância zoonótica encontradas em traíras (Hoplias malabaricus bloch, 1794) no município de Santo Antonio do Leverger, MT

Nematode larvae with zoonotical importance found in trairas (Hoplias malabaricus) in Santo Antonio do Leverger, Mato Grosso, Brazil

Resumo

In order to investigate the prevalence of nematode larvae with zoonotical importance in trairas (Hoplias malabaricus), necropsy exams were done 30 specimes from Santo Antonio do Leverger, Mato Grosso, Brazil. These fishes were collected during drought time and two different nematodes larvae were found - Contracaecum sp. and Eustrongylides sp. - presenting the following prevalence: Contracaecum sp., 73% and Eustrongylides sp., 33%.

fish; traíra; Hoplias malabaricus; Contracaecum; Eustrongylides; zoonosis; larva


fish; traíra; Hoplias malabaricus; Contracaecum; Eustrongylides; zoonosis; larva

peixe; traíra; Hoplias malabaricus; Contracaecum; Eustrongylides; zoonose; larva

COMUNICAÇÃO COMMUNICATION

Larvas de nematóides de importância zoonótica encontradas em traíras (Hoplias malabaricus bloch, 1794) no município de Santo Antonio do Leverger, MT

Nematode larvae with zoonotical importance found in trairas (Hoplias malabaricus) in Santo Antonio do Leverger, Mato Grosso, Brazil

L.A. BarrosI; J. Moraes FilhoII, III; R.L. OliveiraII, III

IFaculdade de Agronomia e Medicina Veterinária - UFMT Av. Fernando Correa da Costa s/n 78069-900, Cuiabá, MT

IIAluno de graduação - FAMV-UFMT – Cuiabá,MT

IIIBolsista PIBIC/CNPq

Palavras-chave: peixe, traíra, Hoplias malabaricus, Contracaecum, Eustrongylides, zoonose, larva

ABSTRACT

In order to investigate the prevalence of nematode larvae with zoonotical importance in trairas (Hoplias malabaricus), necropsy exams were done 30 specimes from Santo Antonio do Leverger, Mato Grosso, Brazil. These fishes were collected during drought time and two different nematodes larvae were found - Contracaecum sp. and Eustrongylides sp. - presenting the following prevalence: Contracaecum sp., 73% and Eustrongylides sp., 33%.

Keywords: fish, traíra, Hoplias malabaricus, Contracaecum, Eustrongylides, zoonosis, larva

A traíra (Hoplias malabaricus) é um peixe carnívoro, predador de ampla distribuição na América do Sul, encontrado em ambientes dulcícolas e de hábito preferencialmente noturno. É facilmente utilizado como fonte alimentar por aves piscívoras e também por mamíferos, incluindo o homem. Principalmente devido ao seu hábito alimentar, esta é uma espécie que atua como importante hospedeiro definitivo, intermediário e paratênico de helmintos, com destaque para larvas de nematóides. As baías do município de Santo Antônio do Leverger, MT, possuem um grande potencial como fonte dessa e de outras espécies de peixes, que são utilizados na alimentação humana da população regional, sem serem previamente submetidos a exame por inspeção sanitária, o que favorece o risco de transmissão de patógenos, principalmente quando por ingestão de pratos preparados à base de carne crua ou não submetidos à cocção adequada.

Embora ainda não haja registro de casos humanos no Brasil por larvas de nematóides transmitidos por pescado, é comprovada na literatura, a possibilidade de infecção natural e experimental de aves e mamíferos por nematóides anisakídeos e dioctophymatídeos, revelando importantes conseqüências clínicas para o organismo hospedeiro (Guerin et al., 1982; Shirazian et al., 1984; Pinto et al., 2004; Barros et al., 2004).

Este trabalho teve por objetivo investigar a presença de larvas de nematóides, com potencial zoonótico em traíras provenientes do município de Santo Antonio do Leverger, MT.

Foram examinadas 30 traíras durante os meses de outubro e novembro de 2003, provenientes de áreas inundadas pelo Rio Cuiabá durante a época de enchente e cheia. Essas áreas permanecem isoladas, sob forma de baías, durante a época seca. Os peixes foram capturados com uso de anzóis e acondicionados em recipientes sob refrigeração para transporte até o laboratório de parasitologia veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso. Durante o exame de necropsia, a cavidade celomática e as vísceras dos peixes capturados foram examinadas e posteriormente, a musculatura filetada para exame por uso de mesa de luz.

As larvas encontradas foram mantidas em placas de Petri, em solução de cloreto de sódio a 0,8% , sendo processadas segundo metodologia descrita por Amato et al. (1991) e, posteriormente submetidas à identificação taxonômica segundo Vicente et al. (1999).

Foram encontradas larvas de Contracaecum Railliet & Henry, 1912 (Nematoda: Anisakidae) e Eustrongylides Railliet, 1915 (Nematoda: Eustrongylidae), distribuídas na musculatura esquelética e nas vísceras dos peixes examinados, com as prevalências de 73% de Contracaecum sp. e de 33% de Eustrongylides sp. As larvas de Contracaecum sp. foram encontradas aderidas ao mesentério e à serosa que reveste o estômago, superfície parietal do fígado e intestinos, enquanto que as de Eustrongylides sp. foram encontradas na musculatura esquelética, no mesentério e na serosa que reveste o fígado.

Espécimes representativos das larvas encontradas foram depositados na coleção helmintológica do Instituto Oswaldo Cruz, com os seguintes números de depósito CHIOC 35346 (Contracaecum sp.) e CHIOC 35348 (Eustrongylides sp.).

Dados de referência bibliográfica semelhantes foram descritos por Eiras e Rego (1989), que ao examinaram traíras provenientes do Rio Cuiabá, encontraram larvas encistadas de Eustrongylides sp. apenas na musculatura dos peixes. Muller et al. (2004), ao estudarem traíras provenientes do estado de São Paulo, verificaram larvas de Contracaecum sp. no fígado e no ceco pilórico e larvas de Eustrongylides sp. na musculatura e na cavidade geral. Ainda, Martins et al. (2004), ao examinaram trairas provenientes do Estado do Maranhão, observaram apenas larvas de Contracaecum sp.

Considerando-se a importância da espécie Eustrongylides ignotus em infecções naturais de pacientes humanos, os resultados apresentados sugerem risco para a população regional consumidora. Este risco será maior ao se usar traíras no preparo de pratos à base de carne crua.

A ingestão de pescado infectado por anisakídeos, mesmo após cocção adequada, pode resultar em reações alérgicas de grau variável, descritas em pacientes hipersensíveis. A resposta imunológica é desencadeada pelo potencial antigênico das partículas parasitárias, existentes no pescado mesmo após a cocção. Esse dado é comprovado no caso de Anisakis simplex (Fernandez de Corres et al., 1996; Montoro et al. 1997). Embora conseqüências clínicas semelhantes ainda não tenham sido investigadas para Contracaecum multipapillatum, o potencial patogênico dessa espécie é comprovado em mamíferos infectados experimentalmente, justificando a necessidade de inspeção prévia deste pescado quando destinado ao consumo humano.

Recebido em 2 de junho de 2005

Aceito em 3 de janeiro de 2007

E-mail: labarros@terra.com.br

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Jul 2007
  • Data do Fascículo
    Abr 2007

Histórico

  • Aceito
    03 Jan 2007
  • Recebido
    02 Jun 2005
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