COMUNICAÇÃO COMMUNICATION
Nutrição enteral precoce com glutamina em cães com gastrenterite hemorrágica pelo parvovirus canino
Early enteral nutrition with glutamine in dogs with hemorrhagic gastroenteritis by canine parvovirus
P.R.S. Costa; L.G. Conceição; M.A.F. Lopes
Departamento de Veterinária - UFV Av. P. H. Rolfs, s/n 36570-000 Viçosa, MG
Palavras-chave: cão, parvovirose, gastrenterite hemorrágica, glutamina
ABSTRACT
The effect of the addition of glutamine aminoacid in a solution to early enteral nutrition in dogs with hemorrhagic gastroenteritis by parvovirus (GEHV) was evaluated in a prospective study with 20 dogs. The animals were randomly separated in two groups of treatment. Animals in group 1 did not receive glutamine and in group 2 received glutamine by enteral solution. The mortality rate was 20% in group 1 and 10% in group 2, but difference was not statistically significative. The addition of glutamine in a solution to enteral nutrition did not change mortality rate.
Keywords: dog, parvovirosis, hemorrhagic gastroenteritis, glutamine
A parvovirose canina é a causa mais frequente de diarreia hemorrágica de origem infecciosa em cães até os seis meses de idade (Hoskins, 1997). No Brasil, a doença é frequente e responsável por alta taxa de mortalidade em cães jovens. O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos da nutrição enteral enriquecida com glutamina sobre a evolução clínica de cães naturalmente acometidos pela parvovirose. Para tal, realizou-se um estudo prospectivo em cães com gastrenterite hemorrágica viral (GEHV) pelo parvovirus canino de ocorrência natural utilizando-se 20 animais provenientes da casuística de atendimento clínico em um hospital veterinário, entre os anos de 2005 e 2006. Entraram no estudo os animais que atenderam os seguintes critérios: idade entre dois a seis meses, presença de diarreia hemorrágica, leucopenia ao hemograma, resultado positivo no teste de detecção do parvovirus fecal pelo Elisa1 1 Snap Parvoâ - BioBrasil São Paulo, Brasil. e concordância do proprietário em internar o animal até a alta hospitalar. Dez receberam o protocolo de tratamento 1 (grupo 1) e os outros 10, o protocolo de tratamento 2 2 Pedialyte solução Abbott São Paulo, Brasil. (grupo 2). A única diferença entre os protocolos de tratamento foi a adição do aminoácido glutamina na solução de nutrição enteral para os animais do grupo 2. A decisão de qual protocolo terapêutico a ser utilizado em cada grupo foi definida por sorteio.
O protocolo terapêutico comum a ambos os grupos foi constituído pela administração de fluidos intravenosos, antibióticos, antieméticos, antiparasitários e nutrição enteral com a infusão de pequenas quantidades de nutrientes por sonda nasoesofágica.
Para nutrição enteral, foi empregada uma solução comercial reidratante isosmolar2, contendo eletrólitos e glicose. Nos animais do grupo 2, foi adicionado a essa solução o aminoácido glutamina3 3 Glutamina em pó Mendicamentus farmácia de manipulação Viçosa, Brasil. , na dose de 500mg/kg. A administração foi realizada por uma sonda nasoesofágica conectada ao equipo e frasco contendo a solução. Como sonda nasoesofágica foi adaptada uma sonda uretral4 4 Sonda uretral descartável siliconizada Mark Méd. Bragança Paulista, Brasil. número 4 ou 6 conforme o tamanho do animal. A colocação da sonda foi feita diariamente de forma alternada em cada narina. Antes da introdução da sonda, foi instilada 0,5ml de lidocaína5 5 Lidojet União Química São Paulo, Brasil. na narina escolhida com objetivo de minimizar o desconforto da passagem da sonda. Para o posicionamento correto no esôfago distal, o comprimento da sonda foi estimado externamente a partir da distância da narina até o 10º espaço intercostal. A fixação da sonda foi feita com ponto de sutura na pele da face do animal, e o local do ponto de sutura recebeu anestesia prévia com lidocaína.
A solução para nutrição enteral foi infundida à velocidade de 0,25mL/kg/hora realizada por oito horas a cada 24 horas. Para controle da baixa velocidade de infusão, foi utilizada uma bomba de infusão6 6 LF 2001 Lifemed. . A administração da nutrição enteral foi mantida durante todo o período de internação.
Para analisar o efeito da adição de glutamina na nutrição enteral, foram confrontados as taxas médias de mortalidade, a tempo de internação e o percentual de ganho de peso entre os animais dos grupos 1 e 2. Os resultados foram comparados pelo teste exato de Fisher ao nível de significância de 5%.
A taxa de mortalidade foi de 20% no grupo 1 e 10% no grupo 2. Pelo teste exato de Fisher, o valor de P foi 1,00 e a 5% de significância não houve diferença entre os dois grupos em relação à taxa de mortalidade. A não existência de diferença significativa entre os grupos pode ser explicada por algumas hipóteses. Primeiramente, o protocolo de tratamento intensivo realizado em ambos os grupos foi bastante semelhante, e a única diferença foi o acréscimo do aminoácido glutamina. A presença de nutrientes no intestino estimulou o sistema imune local a secretar IgA, aumentou a produção de muco e manteve a massa intestinal funcional, reduzindo a permeabilidade intestinal e o potencial de translocação bacteriana conforme sugeriram Devey e Crowe (2000) e Mohr et al. (2003). Portanto, é possível que a presença de glicose e eletrólitos na luz intestinal tenha contribuído, de maneira similar à glutamina, para a manutenção da função intestinal.
Vários estudos em medicina humana e com animais de laboratório têm demonstrado que a glutamina melhora a função da barreira intestinal, diminuindo a permeabilidade e aumentando a cicatrização da mucosa (Souba, et al. 1990; Li et al., 1994; Remillard et al., 2000). Desse modo, neste trabalho não foi possível demonstrar o efeito benéfico da suplementação de glutamina na alimentação enteral. É possível que o efeito não ocorreu em razão do pequeno volume administrado na nutrição enteral, no entanto, esse volume não pode ser aumentado, pois pode exacerbar o vômito e a diarreia.
AGRADECIMENTOS
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo apoio financeiro para a execução do presente trabalho.
Recebido em 26 de fevereiro de 2008
Aceito em 6 de agosto de 2009
E-mail: prenato@ufv.br
Apoio: FAPEMIG, MG
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
23 Nov 2009 -
Data do Fascículo
Out 2009